Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS DA FÍSICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA II Caro(a) aluno(a), A Faculdade Anísio Teixeira (FAT), tem o interesse contínuo em proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento. Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construtor melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente da Faculdade Anísio Teixeira (FAT). Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Setor Pedagógico Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 3 SUMÁRIO A FÍSICA CLÁSSICA DE CABEÇA PARA BAIXO: COMO EINSTEIN DESCOBRIU A TEORIA DA RELATIVIDADE ESPECIAL ..............................................................................5 UMA CONVERSA EM MAIO ...................................................................................................6 PROBLEMAS DE FRONTEIRA DA FÍSICA CLÁSSICA .....................................................10 A FASE DA EXPERIMENTAÇÃO .........................................................................................12 A FASE DA TEORIZAÇÃO .....................................................................................................16 A FASE DA REFLEXÃO .........................................................................................................18 O INÍCIO DE UMA REVOLUÇÃO .........................................................................................22 O MODELO PADRÃO DA FÍSICA DE PARTÍCULAS ........................................................25 1. O MODELO PADRÃO DA FÍSICA DE PARTÍCULAS .....................................................25 2. O VÁCUO NÃO É VAZIO ...................................................................................................28 3. PARTÍCULAS NUAS E VESTIDAS ...................................................................................29 4. O CAMPO E O BÓSON DE HIGGS ....................................................................................30 5. O QUE É MASSA AFINAL? ................................................................................................32 6. A ANTIMATÉRIA ................................................................................................................34 7. A SIMETRIA CPT ................................................................................................................35 8. EDQ & CDQ ..........................................................................................................................36 9. A MATÉRIA ESCURA .........................................................................................................37 10. O VENTO ESCURO ...........................................................................................................38 11. NEUTRINOS OSCILANTES .............................................................................................40 SUPERCONDUTIVIDADE: UM SÉCULO DE DESAFIOS E SUPERAÇÃO ....................46 1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................46 2. A DESCOBERTA DA SUPERCONDUTIVIDADE ............................................................47 3. O EFEITO MEISSNER .........................................................................................................48 4. AS EQUAÇÕES DE LONDON ............................................................................................49 5. AS EQUAÇÕES DE GINZBURG-LANDAU ......................................................................52 - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 4 6. A TEORIA BCS ....................................................................................................................56 7. O EFEITO JOSEPHSON .......................................................................................................60 8. OS MATERIAIS SUPERCONDUTORES ...........................................................................61 9. APLICAÇÕES DOS SUPERCONDUTORES ......................................................................65 10. OS LAUREADOS COM O NOBEL ...................................................................................65 11. A TEORIA DA RESSONÂNCIA NÃO-SINCRONIZADA DAS LIGAÇÕES COVALENTES .........................................................................................................................67 PLASMAS – O ESTADO FÍSICO DO UNIVERSO VISÍVEL ..............................................76 ENFIM, O QUE É O PLASMA? ...............................................................................................84 DESCOBERTA E APLICAÇÕES ............................................................................................87 HISTÓRICO DAS APLICAÇÕES DO PLASMA ................................................................88 DIVERSIDADE DE PLASMAS ...............................................................................................89 PLASMAS NA NATUREZA E DE LABORATÓRIO .........................................................89 O PLASMA É UM GÁS IONIZADO ...................................................................................90 O QUARTO ESTADO DA MATÉRIA .................................................................................91 REFERÊNCIAS CONSULTADAS ...........................................................................................92 - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 5 A FÍSICA CLÁSSICA DE CABEÇA PARA BAIXO: COMO EINSTEIN DESCOBRIU A TEORIA DA RELATIVIDADE ESPECIAL1 Jürgen Renn Instituto Max Planck para a História da Ciência, Berlin, Alemanha De acordo com a teoria da relatividade especial, relógios e réguas que se movem em relação a um referencial inercial, comportam-se de maneira diferente daqueles que se encontram em repouso em relação a este mesmo referencial. Relógios em movimento funcionam mais devagar e réguas se encolhem ao longo da direção do movimento. Enquanto que na física clássica, espaço e tempo fornecem, em cada teoria ou experimento, um alicerce absoluto e imutável de qualquer processo físico, na teoria especial este alicerce depende do sistema de referência no qual um processo físico particular é medido e, na teoria geral, ele depende até mesmo da distribuição de massa e energia no universo. Mas a mudança dos conceitos de espaço e tempo já na teoria especial contradiz nossas experiências dodia-a-dia. No entanto, foi apenas através desta mudança que foi possível a Einstein reconciliar dois princípios que, em função de uma longa história, haviam se mostrado irrefutáveis: o princípio da relatividade e o princípio da constância da velocidade da luz. O princípio da relatividade diz que toda lei física não muda quando se passa de um laboratório em repouso para outro que se mova de maneira retilínea e uniforme com relação ao primeiro. O princípio da constância da velocidade da luz é uma lei deste tipo; ela diz que a velocidade da luz é igual em todos os sistemas inerciais, ou seja, um raio de luz emitido de um trem que se move com velocidade v terá, em relação a uma pessoa parada na plataforma da estação, uma velocidade c e não uma velocidade v + c. Só através de uma revolucionária mudança dos conceitos clássicos de espaço e tempo esta contradição pode ser solucionada. 1Este artigo é a versão resumida de uma palestra proferida pelo autor em 15 de janeiro de 2004 no âmbito dos Seminários Einstein da Universidade de Ulm [1], e será publicado em sua versão completa na forma de livro. Na presente forma foi publicado na revista Physik Journal 3, 49 (2004) da Sociedade Alemã de Física, com o título Die klassische Physik vom Kopf auf die Füße gestellt. Wie Einstein die Spezielle Relativitätstheorie fand. Tradução de Sílvio R. Dahmen, Instituto de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Artigos de Einstein e ensaios sobre sua obra, publicados em Rev. Bras. Ensino Fís. v.27 n.1 São Paulo jan./mar. 2005, endereço: http://dx.doi.org/10.1590/S1806-11172005000100004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172005000100004&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 14 fev. 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 5 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 6 UMA CONVERSA EM MAIO Após a conclusão da licenciatura em física na Escola Politécnica de Zurique, Einstein vivia e trabalhava desde 1902 em Berna. E foi ali que, numa bela manhã de maio, ele se levantou e, como podemos depreender de relatos posteriores [3], foi visitar seu amigo e colega do Escritório de Patentes, Michelle Besso, para com ele discutir novamente a respeito de seu assunto favorito: a eletrodinâmica dos corpos em movimento, uma área aparentemente remota da física de então e essencialmente voltada para os problemas das cargas em movimento e da interação entre campos elétrico e magnético. Besso, que não era físico, mas engenheiro, era, no entanto um leigo interessado em problemas da física e fazia parte de um grupo de companheiros de discussão pelo qual Einstein tinha um especial apreço. Como podemos imaginar este encontro entre Einstein e Besso? Einstein não se cansa de mais uma vez explicar detalhadamente a seu amigo seu problema da eletrodinâmica dos corpos em movimento. Ele admite que está prestes a desistir. Apesar disto ele se motiva a mais uma vez descrever sua situação sem saída. Quem sabe Besso tenha uma ideia. "Eu o amo pela sua inteligência afiada e sua simplicidade", escreveu certa vez Einstein a sua esposa Mileva [4]. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 6 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 7 Besso segue, como sempre paciente e atencioso, as explicações de Einstein, mesmo que muitos dos detalhes estejam além de seu horizonte de leigo. Mas desta vez Besso interrompe Einstein continuamente com perguntas, mais do que de costume, a ponto da discussão proceder num vai-e-vem e retornar sempre ao ponto de partida. Eles discutem o comportamento de corpos em sistemas inércias que se movem um com relação ao outro e tecem considerações sobre quais mudanças nas grandezas elétricas e magnéticas poder-se-ia medir em tais sistemas inerciais. Einstein não acredita, por questões de princípio, que o movimento relativo e uniforme entre dois observadores possa ser detectado por medidas de manifestações eletromagnéticas ou ópticas. Porém a criação de uma teoria onde qualquer processo físico fosse em princípio equivalente para todos os sistemas em movimento relativo mostra-se uma tarefa extremamente árdua. Não que para isto faltasse uma teoria convincente que explicasse, para todos os referenciais em movimento relativo uniforme, praticamente todos os processos eletromagnéticos ou ópticos conhecidos, muito pelo contrário. Havia a teoria desenvolvida desde a década de 80 do século XIX pelo holandês e grande mestre da física Hendrik Antoon Lorentz, a qual, porém não satisfazia a concepção de Einstein a respeito da equivalência dos referenciais inerciais para processos eletromagnéticos. Justamente por isto a teoria de Lorentz tem um importante papel na conversa entre Einstein e Besso naquele decisivo dia de maio de 1905. Mesmo nas explanações de Einstein, que a esmiuçou nos mínimos detalhes, a teoria era tão complexa que Besso a todo o momento o desafiava com perguntas. O que significa esta ou aquela grandeza exatamente? Pode- se medi-la diretamente? Perguntas aparentemente ingênuas, como esta, eram típicas de Besso. Foi ele também que, durante os anos compartilhados em Zurique, chamou a atenção de Einstein para a obra do físico, filósofo e historiador da ciência Ernst Mach, que pretendia excluir da física todo conceito que não fosse baseado na experiência empírica [5]. E o que também se pode dizer de positivo a respeito da bem sucedida teoria de Lorentz é que ela não era pobre na quantidade destes conceitos. Em particular nela se podia encontrar aquele obscuro conceito do éter, imaginado como sendo o portador dos fenômenos eletromagnéticos e deste modo também da luz, em analogia aos meios portadores das ondas de som ou ondas no mar; havia também uma variável auxiliar para o tempo, o chamado tempo local, não diretamente acessível à verificação experimental e necessária em um teorema - e com o auxílio da qual era possível calcular os - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 7 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 8 fenômenos magnéticos em corpos em movimento. Havia também a hipótese de um estranho encurtamento no comprimento de corpos na direção de seu movimento em relação ao éter. Essas hipóteses tiveram que ser incorporadas por Lorentz à sua teoria para que ele assim pudesse explicar o motivo pelo qual o famoso experimento de Michelson e Morley não era capaz de fornecer a menor indicação do movimento da Terra pelo éter. Einstein e Besso conversavam à exaustão. Repentinamente, uma luz se fez no semblante de Einstein, mas ele se cala e parte, com uma desculpa esfarrapada. Besso suspira, desconcertado, mas ele conhece seu amigo o suficiente para não tomar aquela atitude como uma ofensa pessoal. No dia seguinte, Einstein retorna com um sorriso maroto e, antes de cumprimentá-lo, diz laconicamente: "- Graças a você solucionei completamente meu problema". Aproximadamente cinco semanas depois, no dia 30 de junho de 1905, Einstein submeteu aos Annalen der Physik o artigo que, sob o título "Acerca da eletrodinâmica dos corpos em movimento", inauguraria uma era e fundaria a teoria especial da relatividade. O trabalho não traz quaisquer referências - apenas um agradecimento a seu fiel amigo e colega do Escritório de Patentes, Michelle Besso [6]. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 8 Este módulo deverá serutilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 9 Infelizmente, relatos históricos que narrem o momento da criação da teoria da relatividade de maneira tão plástica não existem. Mas mesmo que fosse possível reconstruir em detalhes, tal conversa, quem sabe talvez dos relatos de uma empregada, em que contribuiria tal narrativa para nossa compreensão de uma revolução científica como foi a teoria da relatividade? Neste trabalho procuraremos tornar essa revolução científica compreensível através de uma abordagem que, partindo de fontes de conhecidos detalhes biográficos, coloca-a dentro do contexto de mudanças dos sistemas de conhecimento, como o fazemos no Instituto Max Planck para a História da Ciência. Tais sistemas de conhecimento mudam tipicamente numa escala de tempo de longa duração, nos quais não apenas o conhecimento científico mas também outros níveis do conhecimento participam. Neste cenário a pergunta a respeito da criação da teoria da relatividade deixa de ser apenas uma pergunta sobre as circunstâncias da "Eureka" de Einstein naquele maio de 1905, mas sim uma pergunta sobre como os insights teóricos de Einstein se relacionam com os outros níveis de conhecimento, em particular com aquele nível que determina nossa compreensão diária dos conceitos de tempo e espaço. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 9 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 10 PROBLEMAS DE FRONTEIRA DA FÍSICA CLÁSSICA Mas como teria sido possível que uma conversa entre Einstein e Besso naquele maio de 1905 possa ter dado início a um processo de consequências tão amplas para a mudança dos sistemas de conhecimento? Naturalmente tal conversa representou apenas um ponto final de um longo processo. Einstein havia se envolvido praticamente desde sua juventude com problemas da eletrodinâmica - afinal sua família fabricava equipamentos elétricos. Já com dezesseis anos o jovem Albert escreve um texto acerca do éter como intermediador dos fenômenos eletromagnéticos e ópticos [7]. No ano seguinte ele se pergunta como uma onda de luz pareceria para um observador que se movesse ele próprio com a velocidade da luz na direção da propagação desta onda [8]. Deveria se observar uma espécie de onda estacionária, mas algo assim parecia não existir. EsteGedankenexperiment juvenil traz também à tona a questão a respeito de qual seria a velocidade da luz medida por tal observador. A resposta a esta pergunta parecia depender basicamente do modelo adotado como base para o éter. Em um éter em repouso, ou seja, que não fosse arrastado pelo sistema em movimento e pelo observador, a velocidade da luz relativa ao sistema em movimento deveria sempre mudar. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 10 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 11 Este Gedankenexperiment deixa claro que os problemas com os quais Einstein se ocupou eram de um tipo muito especial e estavam relacionados com a estrutura interna dos sistemas de conhecimento da física clássica. Problemas como o da propagação de ondas em referenciais em movimento se encontram - como na verdade os problemas da eletrodinâmica de corpos em movimento - na região fronteiriça entre a eletrodinâmica e a mecânica e pertencem assim à classe de problemas com os quais a mudança da física clássica para a moderna se concretizou. A física clássica divide-se primordialmente em três áreas, cada qual com conceitos próprios: a mecânica, a teoria do calor e o eletromagnetismo. Nas fronteiras entre estas áreas encontravam-se aqueles problemas nos quais diferentes conceitos básicos se sobrepunham. Só através do estudo destes problemas de fronteira é que se poderia saber até que ponto os diferentes conceitos das três diferentes áreas eram coerentes entre si. Por outro lado, o descobrimento de incoerências conceituais quando associado a um problema concreto funciona, tipicamente, como motor de inovações científicas, pois toda tentativa de resolver um problema concreto obriga concomitantemente a que repensemos os conceitos envolvidos e pode, pela transformação destes conceitos ou de teorias inteiras, abrir novos horizontes. Por este motivo os problemas de fronteira da física clássica puderam se tornar os pontos de partida para a superação destas mesmas fronteiras. O problema da radiação térmica do corpo negro em equilíbrio, no qual Max Planck houvera trabalhado, era um problema desta natureza por se encontrar na fronteira entre a teoria do calor e a teoria da radiação do eletromagnetismo. Este problema tornou-se um dos cernes da mecânica quântica, em grande parte, devido ao fato de estar ele no centro de um trabalho publicado por Einstein de 1905 além de seus outros três trabalhos revolucionários [9]. O problema do movimento browniano, este também objeto de um trabalho de Einstein no seu annus mirabilis [10], encontrava-se na fronteira entre a mecânica e a teoria do calor e veio a ser um ponto de partida da moderna mecânica. Finalmente a eletrodinâmica dos corpos em movimento, o brinquedo preferido de Einstein, engloba, como já mencionado, problemas de fronteira entre a mecânica e o eletromagnetismo, e dela desenvolveu- se a teoria da relatividade. Em outras palavras, todas as mudanças conceituais importantes da física do início do século XX tiveram sua origem em problemas nas fronteiras da física clássica. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 11 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 12 Do surgimento da teoria da relatividade especial pode-se vislumbrar um exemplo de como tal mudança se concretiza como resultado da interação entre o conhecimento disponível da física de então com o ponto de vista individual de um pesquisador. Independente do que a perspectiva de Einstein em pontos específicos possa ter determinado, ela necessariamente contribuiu para que sua atenção fosse desviada para aqueles problemas de fronteira da física clássica. Esta perspectiva se desenvolve, como mostraremos a seguir, em três etapas: Fase da experimentação Fase da teorização Fase da reflexão Em certo sentido todas as três fases foram revolucionárias. As duas primeiras, no caso de Einstein especialmente, foram na verdade apenas subjetivas, ao passo que somente a terceira fase, a fase da reflexão, foi motivo de uma revolução na história do conhecimento na física. A FASE DA EXPERIMENTAÇÃO A fase da experimentação foi marcada, sobretudo pelos incessantes esforços de Einstein em corroborar, experimentalmente, o movimento da Terra pelo éter, contribuindo assim com um ambicioso espírito de pioneirismo em uma área então no estado da arte da pesquisa. Isto é um fato, embora o material disponível não permita que tiremos conclusões sobre estes experimentos. Já no verão de 1899 ele planejou experimentos sobre radiação com seu antigo professor Conrad Wüest em Aarau, um dos pioneiros na pesquisa dos raios-X na Suíça [11]. Destes experimentos, em parceria com Wüest, Einstein esperava primeiramente obter uma resposta à pergunta sobre qual das duas grandes correntes da teoria da eletricidade de então correspondia à realidade física: a interpretação atomística da eletricidade, como era amplamente difundida no continente, ou a visão calcada na tradição maxwelliana que tinha por base a existência de um meio contínuo da eletricidade. A realização dos experimentosplanejados foi, no entanto postergada. O diretor da Escola de Aarau, o reitor Wüest, tinha aparentemente outras prioridades [12]. Mas logo, no final do verão de 1899, Einstein teve uma ideia acerca de um estudo: determinar a influência que o movimento relativo de corpos com relação ao éter luminífero teria - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 12 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 13 sobre a velocidade de propagação da luz em corpos transparentes [13]. Um forte argumento a favor do repouso deste éter luminífero era o fenômeno da chamada aberração (Fig. 5). Quando se observa a posição de uma estrela ao longo do ano de diferentes posições ao longo da órbita de nosso planeta, constata-se que ela sofre oscilações regulares. Se a estrela observada está muito distante, estas flutuações em sua posição aparente não podem ser resultado da paralaxe, quer dizer da variação do ângulo sob o qual ela é observada. Ela poderia sim, como já houvera notado Bradley no início do século XVIII, estar muito mais relacionada à composição da velocidade da luz emitida pela estrela com a velocidade do movimento da Terra, de modo que a velocidade da luz da estrela pareceria vir de diferentes direções em função do movimento terrestre [14]. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 13 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 14 Em uma análise mais pormenorizada do problema da aberração surgem, no entanto duas dificuldades: primeiro, se por hipótese toma-se a luz como sendo um movimento ondulatório num meio como o éter, a adição de velocidades vale somente se for feita a hipótese adicional de que este meio luminífero se encontra em repouso - caso contrário, surgem várias complicações. Einstein lembrar-se-á mais tarde que considerações sobre o problema da aberração o acompanharam em seu caminho até a teoria da relatividade especial [15]. De qualquer maneira elas estavam em concordância com sua convicção, expressa em uma carta no verão de 1899, de que não fazia sentido falar sobre um movimento do éter [16]. A segunda dificuldade para se compreender a aberração surge do fato que, em se considerando que para observar estrelas é necessário recorrer ao uso de telescópios, é necessário levar em conta não apenas a propagação da luz num pressuposto éter, mas também em um meio óptico transparente como, por exemplo, no vidro. Porém, em tais meios, a luz se propaga com uma velocidade menor que no éter, de modo que assim o efeito da aberração deveria sofrer alterações quando um meio transparente entrasse no processo. As observações, contudo mostravam que a aberração era totalmente independente do fato da luz ter ou não atravessado um meio. Este fato já havia sido explicado em 1818 por Fresnel com a hipótese de que meios que se movem com a Terra pelo éter em repouso, arrastam este junto consigo com certa fração de sua velocidade. Mas qual o significado exatamente deste "arrasto do éter" para um meio em movimento? Seria talvez possível verificar diretamente este fato ou seria ele apenas uma compensação hipotética para explicar a ausência das flutuações na aberração normal? Esta pergunta guarda uma estreita relação com o experimento de Einstein acerca da influência que o movimento de corpos em relação ao éter luminífero tem na velocidade de propagação da luz em corpos transparentes. Um experimento como o planejado por Einstein poderia provavelmente produzir evidências diretas deste arrasto. Tal experimento fora já, no entanto feito algumas décadas antes, em 1851, por Fizeau e confirmado, de maneira aproximada, a existência do coeficiente de arrasto de Fresnel. Não sabemos o quão familiarizado Einstein estava com estes desenvolvimentos e se era sua pretensão ele mesmo refazer os experimentos de Fizeau de maneira mais precisa ou utilizando uma variante deste. Einstein não se deixa abater pelas dificuldades e debruça-se, com entusiasmo, - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 14 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 15 sobre um artigo de revisão de Wilhelm Wien, no qual se discute os mais importantes experimentos a respeito da questão da participação do éter luminífero no movimento dos corpos [17]. Até aproximadamente o outono de 1901 há evidências a respeito dos esforços experimentais de Einstein. Não há aqui praticamente quaisquer resultados empíricos dignos de nota, mas é provável que isto tenha reforçado nele a crença de que a eletrodinâmica dos corpos em movimento continuava, como antes, uma área com muitas questões em aberto, em particular no que tangia ao duvidoso papel o éter, cujo movimento em relação à Terra aparentemente não era experimentalmente corroborável. Ao final de sua fase de experimentação, Einstein se tornou ciente que todos os fatos empíricos necessários a uma eletrodinâmica de corpos em movimento encontravam-se sobre a mesa. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 15 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 16 A FASE DA TEORIZAÇÃO Ao final de sua fase de experimentação, Einstein sentiu-se encorajado a pensar em uma eletrodinâmica sem o éter. Com este objetivo inicia-se a sua segunda fase de envolvimento com a eletrodinâmica dos corpos em movimento, a fase da teorização. A postura de Einstein é caracterizada nesta fase pela procura de uma fundamentação conceitual de toda a física, que ele espera encontrar com o auxílio de uma espécie de atomismo interdisciplinar [18]. Muitas das suas elucubrações, que nos chegaram através de suas cartas, são na realidade baseadas em tentativas de abordagens microscópicas que expliquem a interrelação de fenômenos físicos aparentemente díspares como, por exemplo, a relação entre as condutividades térmica e elétrica dos metais. O atomismo interdisciplinar de Einstein o leva, entre os anos de 1900 e 1905, a romper radicalmente com a tradição da óptica e da eletrodinâmica do século XIX. Este rompimento, porém não pode ser ainda comparado à revolução causada pelos trabalhos de 1905. Ele representa acima de tudo a tentativa de concluir uma caminhada dentro do âmbito conceitual da física clássica que havia sido em grande parte já percorrida na fase anterior, mas que fora interrompida. Einstein decidiu-se por trabalhar numa teoria corpuscular da radiação, análoga àquela que Newton havia criado no século XVII - não obstante as evidências indiscutíveis que desde o começo do século XIX apontavam para uma teoria ondulatória da luz. A teoria corpuscular de Einstein para a radiação parecia conter a chave para um grande número de fenômenos com os quais ele se ocupara durante seus tempos de estudante, entre eles os processos de geração e transformação da luz, para os quais novos resultados experimentais estavam disponíveis. Ela coincide também com uma época na qual a questão "onda ou partícula" se apresentava sob nova roupagem - na realidade não necessariamente em relação à luz, mas, por exemplo, para os recém-descobertos processos radioativos como a radiação de Röntgen [19]. De qualquer maneira para Einstein deve ter sido um argumento contundente o fato que uma teoria corpuscular da luz permitiria olhar simultaneamente um grande número de problemas por um novo ângulo, entre eles o problema da radiação do corpo negro para oqual Planck houvera proposto sua fórmula e que, sem dúvida, representava "o problema" da fronteira entre a teoria do calor e a teoria da radiação eletromagnética. Partindo da hipótese que a radiação na - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 16 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 17 cavidade do corpo negro pudesse ser encarada, sob a ótica da teoria corpuscular, como um apanhado de partículas de luz, então o equilíbrio termodinâmico desta radiação poderia ser determinado pela teoria cinética dos gases de maneira a se obter um espectro de radiação que concordasse, com um altíssimo grau de precisão, com os resultados experimentais. A teoria corpuscular especulativa de Einstein para a luz foi, na realidade, a base heurística comum aos seus trabalhos sobre a hipótese do quantum de luz e a sua eletrodinâmica dos corpos em movimento. Foi graças ao seu interesse na possibilidade de se construir pontes entre áreas específicas da física por meio do atomismo que seus trabalhos do miraculoso ano de 1905 sobre o movimento browniano e a determinação de dimensões moleculares devem sua existência. Também a eletrodinâmica dos corpos em movimento ganha uma nova face quanto olhada sob esta perspectiva, pois era de se esperar que para esta nova teoria corpuscular da luz as leis da mecânica, em particular o princípio da relatividade de Galileu e a conhecida composição de velocidades continuassem válidas. A teoria corpuscular proporcionava também a explicação mais simples imaginável para a aberração como consequência da composição das velocidades da luz e da Terra, sem necessidade de recorrer à hipótese da existência de um éter, sobre cujo movimento poder-se-ia quando muito apenas especular. Em uma teoria corpuscular da luz, construída sobre os fundamentos da mecânica, a velocidade da luz não pode ser mais uma constante como na teoria do éter em repouso, mas deveria ser uma função da velocidade da fonte da mesma maneira que a velocidade de um projétil depende da velocidade do canhão que o dispara. Porém, ao passo que a teoria do éter em sua forma lorentziana explicava praticamente todos os fenômenos ópticos e eletromagnéticos, a teoria corpuscular encontrava-se, quando muito, no berço e, já quando confrontada com problemas simples como a reflexão da luz por um espelho, se via obrigada a lançar mão das mais estranhas premissas. Em outras palavras, também nesta segunda fase de seu trabalho Einstein se encontrava num caminho sem saída. Enquanto o resultado principal da primeira fase fora o de que todos os fatos experimentais relevantes estavam dispostos sobre a mesa, o resultado da segunda fase era que, de certa maneira, o mesmo se poderia dizer com relação aos insights teóricos para uma eletrodinâmica - e estes levavam por um caminho que não passava pela teoria de Lorentz. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 17 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 18 A FASE DA REFLEXÃO No centro da terceira e decisiva fase do nascimento da teoria da relatividade especial se encontra a reinterpretação da teoria de Lorentz por Einstein. Tecnicamente não havia praticamente nada em que essa teoria pudesse ser melhorada. Até mesmo aquelas transformações com as quais os fenômenos em um referencial em movimento podem ser deduzidos a partir das conhecidas leis num referencial em repouso já tinham sido obtidas por Lorentz, primeiramente em 1895 de maneira aproximada e então em 1899 de maneira exata. Em 1904 Lorentz finalmente apresentou uma teoria sistemática e abrangente e pôde, com a ajuda de suas transformações, explicar em princípio todos os fenômenos da eletrodinâmica de corpos em movimento [21]. O matemático francês Henri Poincaré chamou estas, que se tornariam posteriormente uma das peças centrais da teoria da relatividade, de transformações de Lorentz. Em sua formulação, a teoria de Lorentz abrangia uma série de estranhos fenômenos, pelos quais a teoria da relatividade é hoje conhecida: a contração do comprimento bem como a retardação de processos como função do sistema inercial do observador, e até mesmo o aumento da massa de um corpo com sua velocidade. No entanto, Lorentz associou a suas transformações uma interpretação que difere fundamentalmente daquela da futura teoria da relatividade. Para Lorentz não se tratavam de transformações que tinham por objetivo garantir que as leis que valessem num referencial fixo também valessem num que se movesse com velocidade uniforme, fazendo assim justiça ao princípio da relatividade clássica. Para ele valiam ainda, acima de tudo, as transformações de Galileu da física clássica, que, porém só garantem o princípio da relatividade na mecânica. As transformações criadas por Lorentz eram, para ele, de maneira alguma uma alternativa às transformações clássicas, mas um complemento a estas. Elas pertenciam primordialmente à eletrodinâmica e eram parte de um teorema por ele chamado teorema dos estados correspondentes, o qual permitia, através da introdução de certas grandezas auxiliares, a predição de processos eletrodinâmicos para corpos em movimento. Segundo Lorentz, estes processos estavam sujeitos a leis completamente diferentes daquelas que os mesmos processos obedeciam num éter em repouso. Através da introdução de suas sofisticadas grandezas auxiliares lhe foi possível, porém achar uma explicação do motivo pelo qual estas outras leis não se refletiam em - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 18 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 19 fenômenos observáveis, como por exemplo no experimento de Michelson e Morley. Lorentz considerava que estas grandezas auxiliares - como, por exemplo, o tempo local - não eram diretamente observáveis. A teoria de Lorentz se sobressai não apenas pelo seu excepcional sucesso empírico com também pela sua complexidade e argumentação labiríntica, razões de seu sucesso. Ela propiciou assim um ponto de partida natural para um processo de reflexão, que sempre se observa em momentos decisivos da história da ciência, e que forma o cerne da terceira fase do desenvolvimento de Einstein. Este processo permite que elementos periféricos de uma estrutura de conhecimento complexa e marcada por tensões internas se tornem pontos de partida de uma reconstrução que, embora levando ao estabelecimento de uma nova e ampla estrutura, ainda está assentada sobre fundamentos já antes disponíveis - de maneira análoga a que vemos na história da arquitetura ou das construções. Usando uma metáfora histórico-filosófica pode-se caracterizar este processo como um "colocar de cabeça para baixo" ou - numa metáfora histórico-científica - podemos descrevê-lo como um processo coperniano, pois processos de ruptura conceitual se completam de maneira semelhante à revolução de Copérnico, que também criou um novo sistema de mundo a partir da colocação, no centro, de uma estrela antes periférica, o Sol, mas que para isto fez uso do complexo maquinário da astronomia já então desenvolvido ao invés de iniciar por uma tabula rasa. Para a teoria lorentziana o éter era um conceito central e as novas variáveis para o tempo e o espaço apenas grandezas auxiliares. Na teoria da relatividade, ao contrário, o éter não desempenha qualquer papel, ao passo que as variáveis auxiliares de Lorentz tornam-se os novos e fundamentais conceitos de tempo e espaço. O maquinário dedutivo, em particular as transformações de Lorentz entresistemas inercias, em movimento uniforme relativo, permaneceram intocados por esta mudança do centro conceitual. Embora para uma geração mais jovem seja mais fácil completar este processo de reflexão, não necessariamente o processo está ligado a uma mudança de gerações. Em todo caso ele estabelece uma mudança de perspectiva. Einstein tinha a seu dispor tal perspectiva nova, principalmente pelo seu envolvimento com os problemas acima mencionados da fronteira da física clássica. Pelo seu trabalho com o problema da radiação térmica ele chegou neste caso á conclusão de que a hipótese de um éter contínuo era incondizente com a existência de um equilíbrio térmico da radiação. Este insight teve duas - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 19 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 20 consequências revolucionárias: ele legitimou uma teoria quântica da luz, inicialmente desenvolvida por Einstein de forma apenas especulativa e transformou sua negação do conceito do éter, a princípio também especulativa, em uma condição indispensável do seu modo de pensar. A teoria da relatividade especial de 1905 nasceu do encontro dos pontos de vista únicos de Einstein acerca da crise dos fundamentos da física clássica com a abrangente resposta de Lorentz ao problema da eletrodinâmica de corpos em movimento. Pela perspectiva de Einstein a situação era muito mais crítica que pela de Lorentz. Enquanto para Einstein o éter como portador dos fenômenos eletromagnéticos não era mais uma questão a ser tratada, faltava a ele ainda - ao contrário de Lorentz - não apenas uma base para a interpretação física das grandezas auxiliares de Lorentz como também a fundamentação da premissa decisiva de que a velocidade da luz no éter era uma constante. Por outro lado a - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 20 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 21 aberração e o experimento de Fizeau legitimavam o uso de um tempo local, introduzido por Lorentz, como algo fundamentalmente correto. A perspectiva einsteniana deslocou justamente para o centro da sua atenção estes elementos que guardavam a chave para uma solução final. Diferentemente de Lorentz, para Einstein o princípio da relatividade e a constância da velocidade da luz eram igualmente importantes, embora não fossem naquele momento reconciliáveis - ao menos enquanto se tomasse a adição clássica de velocidades como base da teoria. Os elementos da teoria de Lorentz que se mostraram particularmente problemáticos tinham em comum o fato de terem uma origem cinemática. Do ponto vista de Einstein isso torna uma mudança de nível plausível - da eletrodinâmica para a cinemática. Quais eram assim as implicações da eletrodinâmica de Lorentz no comportamento cinemático de corpos em movimento? Evidentemente dela poderia se concluir que corpos e processos em um referencial em movimento uniforme comportar-se-iam de maneira diferente de quando estivessem em repouso. Se fosse possível explicar este comportamento estranho não mais em nível da eletrodinâmica, mas sim da cinemática, talvez estivesse aí a chave para o problema. Até este ponto praticamente cada etapa do raciocínio de Einstein foi resultado obrigatório do encontro de seu ponto de vista especial com a teoria eletrodinâmica de Lorentz. Mas agora uma fase de reflexão que fosse substancialmente além desta teoria se fazia necessária ou, melhor dizendo, retrocedesse para antes dela. Pois agora se trata de lidar com a questão de como é possível, em primeiro lugar, verificar este comportamento estranho de corpos e processos em referencias móveis. "Como se comportam então escalas e relógios em tais sistemas? ". "O que significa exatamente quando se diz que um evento acontece simultaneamente a outro evento ou como se pode determinar isto? ". É bem possível que tenha sido Besso quem tenha feito essas astutas perguntas de criança para Einstein, naquela manhã de maio de 1905. Tais perguntas permitiram a Einstein reconhecer no problema da simultaneidade de eventos em dois sistemas em movimento relativo o passo fundamental para a solução de seu problema. Estas perguntas encontraram ressonância em suas leituras sobre filosofia, em particular nos escritos de David Hume e Ernst Mach, os quais ele havia anteriormente estudado de maneira intensiva com seus amigos da Academia Olímpia, um grupo de leitura e discussão fundado por Einstein em Berna. Do pano de fundo destas leituras torna-se claro que o conceito de tempo não é uma coisa que possa ser vista com algo pré-estabelecido, mas é antes de tudo - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 21 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 22 uma construção complexa - e a determinação da simultaneidade de eventos em diferentes lugares requer uma definição baseada num método prático. O método descoberto por Einstein - a sincronização por sinais de luz de relógios espacialmente separados - tinha inicialmente pouco a ver com o complicado problema físico com o qual ele se deparava. Ele é antes de tudo um método coerente com nossa visão diária de medidas de tempo e de intervalos temporais e era até uma prática comumente utilizada então, como Einstein bem o sabia de suas leituras de revistas de popularização da ciência [22]. O recurso a este método prático expõe uma certa arbitrariedade na determinação da simultaneidade em referenciais que se movem uniformemente entre si. Pois o método pensado por Einstein valia inicialmente apenas dentro de um referencial - estivesse ele parado ou se movendo. Partindo deste background torna-se assim pela primeira vez concebível pensar até que ponto o comportamento de relógios e réguas poderia depender do movimento relativo de um referencial, como parecia dizer a teoria de Lorentz. A arbitrariedade na relação entre as definições de tempo em diferentes referenciais, da qual Einstein se tornou desta maneira ciente, poderia ser dirimida apenas de duas maneiras. Poder-se-ia introduzir a hipótese que a determinação da simultaneidade pelo método de Einstein deveria levar ao mesmo resultado, independentemente do estado cinemático do referencial - e assim concluir pelo caráter absoluto do tempo, como na física clássica - ou poder-se-ia introduzir a hipótese que não o tempo, mas a velocidade da luz, independentemente do movimento do referencial, deveria permanecer a mesma, uma hipótese a qual Einstein privilegiou em função do sucesso da eletrodinâmica de Lorentz, apesar de suas consequências não intuitivas. Pois, aceitando esta última hipótese, tem-se como resultado a relatividade da simultaneidade como função do movimento do referencial e todas as consequências intrigantes da teoria especial da relatividade. O INÍCIO DE UMA REVOLUÇÃO A partir do pano de fundo desta reconstrução pode ser que, ao final, a conversa de Einstein com Besso, em maio de 1905, tenha sido realmente o momento decisivo da criação da teoria especial da relatividade. Ela pode ter ajudado Einstein nas reflexões cruciais pelas quais - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 22 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 23 ele conseguiu unificar dois níveis do conhecimento - o teórico e o prático - de uma forma inovadora. Pois como pudemos ver suas cogitações sobre os fundamentosdo conceito de tempo ligaram sim um modelo fundeado no conhecimento prático sobre a medida de tempo em diferentes locais com uma previsão teórica sobre a propagação da luz, cujas bases se encontravam em estudos especializados da eletrodinâmica de corpos em movimento. Foi apenas depois desta ligação que estes estudos retroagiram sobre nosso conceito de tempo e espaço e os trabalhos de Einstein de 1905 tornaram-se o ponto de partida de uma revolução científica que não se restringiu a sua área específica nas ciências. A emergência desta revolução a partir da interação entre dois níveis de conhecimento explica também sua especificidade histórica, ou seja, a razão pela qual a reflexão sobre o tempo por um Hume ou até mesmo um Aristóteles não levou ao reconhecimento da relatividade da simultaneidade. Pois o postulado da constância da velocidade da luz, sobre o qual está baseado o conceito de tempo einsteniano, foi fruto de um desenvolvimento de longa duração dos sistemas de conhecimento da física clássica e representam a quintessência da eletrodinâmica do século XIX e de seus problemas na fronteira com a mecânica. *8. Nota do Tradutor O tradutor gostaria de expressar seu agradecimento ao autor pelo apoio à iniciativa desta tradução e a disponibilização de seu trabalho na rede mundial de computadores, tornando-o assim acessível a um amplo público de língua portuguesa. Os artigos [23,24,25,26,27], constantes ao final da bibliografia, são aqueles não explicitamente citados ao longo do texto mas que serviram, nas palavras do autor, de importante estímulo ao seu trabalho. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 23 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 24 REFERÊNCIAS DESTE TEXTO [1] Programa no sítio www.physik.uni-ulm.de/dpg-tagung2004/veinstein.html [ Links ] [2] Citações referem-se a J. Stachel et al. (eds.), Collected Papers of Albert Einstein (CPAE), v. 1: The Early Years 1897-1902; v. 2: The Swiss Years: Writings 1900-1909 (Princeton University Press, Princeton, 1987 e 1989). [ Links ] [3] Palestra de Einstein em Kyoto no dia 14 de dezembro de 1922, cf. também a nota editorial em CPAE 2, p. 253- 274. [ Links ] [4] A. Einstein para Mileva Maric, 30 de agosto ou 6 de setembro de 1900, em: CPAE 1, Doc. 74, p. 258; [ Links ]cf. J. Renn e R. Schulmann (eds.), Albert Einstein/Mileva Maric. As cartas de amor 1897-1903 (Piper, Munique, 1994). [ Links ] [5] Michelle Besso para Aurel Stodola, 22 de agosto de 1941, Biblioteca Central ETH Zurique, Hs. 496:5. [ Links ] [6] A. Einstein, Annalen der Physik 17 (1905). Em: CPAE 2, Doc. 23, p. 275-317. [ Links ] [7] A. Einstein, Verão(?) 1895, em: CPAE 1, Doc. 5, p. 6-9. [ Links ] [8] A. Einstein , Notas Autobiográficas (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982). [ Links ] [9] A. Einstein, Annalen der Physik 17 (1905), em: CPAE 2, Doc. 14, p. 149-169. [ Links ] [10] A. Einstein, Annalen der Physik 17 (1905), em: CPAE 2, Doc. 16, p. 223-236. [ Links ] [11] Albert Einstein para Julia Niggli, 28 de julho de 1899, em: CPAE 1, Doc. 48, p. 218-219. [ Links ] Veja também de Albert Einstein para Mileva Maric, 10(?) de agosto de 1899, em: CPAE 1, Doc. 52, p. 225- [ Links ] [12] Albert Einstein para Mileva Maric, 28(?) de setembro de 1899, em: CPAE 1, Doc. 57, p. 233. [ Links ] [13] Albert Einstein para Mileva Maric, 10 de setembro de 1899, em: CPAE 1, Doc. 54, p. 229-231. [ Links ] [14] Também para o que segue M. Janssen e J. Stachel, The Optics and Electrodynamics of Moving Bodies, em: John Stachel Going Critical, Kluwer, Dordrecht (no prelo). [15] "Mas também... o fenômeno da aberração levou-me..." Mensagem de Albert Einstein para R.S. Shankland, em: CPAE 2, p. 253-274. [ Links ] [16] Albert Einstein para Mileva Maric, 10(?) de agosto de 1899, em: CPAE 1, Doc. 52, p. 226. [ Links ] [17] W. Wien, Ann. d. Phys. u. Chem. 65 (1898), n. 3 (Beilage), p. xvii. [ Links ] [18] Albert Einstein para Marcel Grossmann, 14 de abril de 1901, em: CPAE 1, Doc. 100, p. 290-291. [ Links ] Veja também J. Renn, Einstein's Controversy with Drude and the Origin of Statistical Mechanics, em: D. Howard and J. Stachel (eds.), Einstein: The Formative Years 1897-1909 (Birkhäuser, Boston 2000).[ Links ] [19] B.R. Wheaton, The Tiger and the Shark, Empirical Roots of Wave-Particle Dualism (Cambridge University Press, Cambridge 1983), p. 17. [ Links ] [20] J. Renn, Einstein as a Disciple of Galileo: A Comparative Study of Concept Development in Physics, em: M. Beller, R.S. Cohen and J. Renn (eds.), Einstein in Context (Science in Context, v. 6), Cambridge University Press, Cambridge, 1993, p. 311-341. [ Links ] Veja também J. Büttner, J. Renn and M. Schemmel, Stud. Hist. Phil. Mod. Phys. 34, 37 (2003). [ Links ] [21] M. Janssen e J. Stachel, The Optics and Electrodynamics of Moving Bodies, em: John Stachel Going Critical, Kluwer, Dordrecht (no prelo). Veja também M. Janssen, PhD Dissertation, Univ. of Pittsburgh (1995) [ Links ] [22] A. Bernstein, Naturwissenschaftliche Volksbücher (Livros Populares de Ciências Naturais) (Wohlfeile Gesammt-Ausgabe, Bd. 4, Duncker, Berlin, 1869), 3a. ed., p. 88-98. Bernstein descreve a sincronização eletromagnética de relógios através de um "Relógio Mestre" que envia sinais elétricos (p. 91), trazendo à tona a questão da simultaneidade de acontecimentos em locais diferentes (em particular p. 94 e p. 96). Einstein leu os livros populares de Bernstein entre os anos de 1892 e 1894: CPAE 1, p. 1xi-1xiii, em particular Nota 54. [ Links ] [23] M. Wertheimer, Produktives Denken (Kramer, Frankfurt/Main, 1957). [ Links ] [24] R. Rynasiewicz, The Construction of the Special Theory: Some Questions and Considerations, em: D. Howard and J. Stachel (eds.), Einstein - The Formative Years, 1879-1909 (Einstein Studies v. 8), (Birkhäuser, Boston, 2000), p. 159-202. [ Links ] [25] J. Stachel, What Song the Syrens Sang: How Did Einstein Discover Special Relativity?, em: John Stachel,Einstein from "B" to "Z" (Einstein Studies v. 9) (Birkhäuser, Boston, 2002), p. 157-171. [ Links ] [26] P. Gallison, Einstein's Clocks, Poincaré's Maps. Empires of Time (W.W. Norton and Co., New York, 2003). [ Links ] [27] J.D. Norton, Einstein's Investigation of Galilean Covariant Electrodynamics prior to 1905 (preprint). - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 24 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 25 O MODELO PADRÃO DA FÍSICA DE PARTÍCULAS2 Marco Antonio Moreira1 Instituto de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil 1. O MODELO PADRÃO DA FÍSICA DE PARTÍCULAS O chamado Modelo Padrão das partículas elementares não é propriamente um modelo, é uma teoria. E das melhores que temos. Aliás, na opinião de muitos físicos, a melhor de todas sobre a natureza da matéria. Por exemplo, segundo Gordon Kane [1], um físico teórico da Universidade de Michigan: ...o Modelo Padrão é, na história, a mais sofisticada teoria matemática sobre a natureza. Apesar da palavra "modelo" em seu nome, o Modelo Padrão é uma teoria compreensiva que identifica as partículas básicas e especifica como interagem. Tudo o que acontece em nosso mundo (exceto os efeitos da gravidade) resulta das partículas do Modelo Padrão interagindo de acordo com suas regras e equações. (p. 58). De acordo com o Modelo Padrão, léptons e quarks são partículas verdadeiramente elementares,no sentido de não possuírem estrutura interna. Partículas que têm estrutura interna são chamadas de hádrons; são constituídas de quarks: bárions quando formadas por três quarks ou três antiquarks, ou mésons quando constituídas por um quark e um antiquark.2 Há seis léptons (elétron, múon, tau, neutrino do elétron, neutrino do múon e neutrino do tau) e seis quarks [quark up (u) quark down (d), quark charme (c), quark estranho (s), quark bottom (b) e quark top (t)]. Porém, os quarks têm uma propriedade chamada cor3 e podem, cada um, apresentar três cores (vermelho, verde e azul). Há, portanto, 18 quarks. Contudo, como a cada partícula corresponde uma antipartícula,4 existiriam no total 12 léptons e 36 quarks. O elétron é o lépton mais conhecido e o próton e o nêutron os hádrons mais familiares. A estrutura interna do próton é uud, ou seja, dois quarks u e um d; a do nêutron é udd, isto é, 2 Texto publicado na Rev. Bras. Ensino Fís. vol.31 no.1 São Paulo Apr. 2009. No seguinte endereço:http://dx.doi.org/10.1590/S1806-11172009000100006 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-11172009000100006&script=sci_arttext. Acesso em: 16 fev. 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 25 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 26 dois quarks d e um u. O méson π+ é formado por um antiquark d e um quark u, o méson π- é constituído por um antiquark u e um quark d. E assim por diante, ou seja, a grande maio- ria das chamadas partículas elementares são hádrons e estes são formados por três quarks ou três antiquarks (bárions) ou por um quark e um antiquark (mésons). Em princípio, a teoria dos quarks, a Cromodinâmica Quântica, nãoproíbe a existência de partículas com estrutura mais complexa do que três quarks, três anti-quarks ou um par quark- antiquark. Todavia, apenas recentemente [2] físicos experimentais têm apresentado evidências de partículas com cinco quarks, ou seja, pentaquarks, como o teta mais, formado por quatro quarks e um antiquark. Mas isso ainda depende de resultados experimentais adicionais. Uma característica peculiar dos quarks é que eles têm carga elétrica fracionária, (+ 2/3 e) para alguns tipos e (-1/3 e) para outros. No entanto, quarks nunca foram detectados livres, estão sempre confinados em hádrons, de tal modo que a soma algébrica das cargas dos quarks que constituem um determinado hádron é sempre um múltiplo inteiro de e. O próton, por exemplo, é formado por dois quarks de carga (+2/3 e) e um quark de carga (-1/3 e) de modo que sua carga é (2/3, +2/3, -l/3) e, ou, simplesmente, e. Quer dizer, o quan- tum da carga elétrica continua sendo e (1,6 x 10-19 C). Resumindo, segundo o Modelo Padrão a grande quantidade de partículas elementares até hoje detectadas, cerca de 300, em aceleradores/colisores de partículas ou em raios cósmicos, pode ser agrupada em léptons, quarks e hádrons ou em léptons e hádrons, visto que os quarks são constituintes dos hádrons ou, ainda, em léptons, bárions e mésons, pois os hádrons podem ser divididos em bárions e mésons. Mas como foi dito no início, o Modelo Padrão é uma teoria compreensiva que identifica as partículas básicas e especifica como elas interagem. Vamos então às interações. Há na natureza quatro tipos de interações fundamentais: gravitacional, eletromagnética, forte5 e fraca. Cada uma delas é devida a uma propriedade fundamental da matéria: massa (interação gravitacional), carga elétrica (interação eletromagnética), cor (interação forte) e carga fraca (interação fraca). Se chamarmos cada uma dessas propriedades de carga teremos quatro cargas: carga massa, carga elétrica, carga cor e carga fraca. Assim sendo, há também quatro forças fundamentais na natureza: força gravitacional, força eletromagnética, força cor6 e força fraca. Todas aquelas forças que parecem ser distintas - - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 26 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 27 como forças elásticas, forças de atrito, forças intermoleculares, interatômicas, interiônicas, forças de viscosidade, etc. - são casos particulares ou resultantes dessas quatro forças fundamentais. Mas como se dá a interação? Quem "transmite a mensagem" da força entre as partículas interagentes? Isso nos leva às partículas mediadoras ou partículas de força ou, ainda, partículas virtuais. As interações fundamentais ocorrem como se as partículas interagentes "trocassem" outras partículas entre si. Essas partículas mediadoras seriam os fótons na interação eletromagnética, os glúons na interação forte, aspartículas W e Z na interação fraca e os grávitons (ainda não detectados) na interação gravitacional. Quer dizer, partículas eletricamente carregadas interagiriam trocando fótons, partículas com carga cor interagiriam trocando glúons, partículas com carga fraca trocariam partículas W e Z enquanto partículas com massa trocariam grávitons. As partículas mediadoras podem não ter massa, mas têm energia,7 ou seja, são pulsos de energia. Por isso, são chamadas de virtuais. Dos quatro tipos de partículas mediadoras,8 as do tipo W e Z têm massa, mas é comum chamá-las todas de partículas virtuais. Poder-se-ia, então, dizer que as partículas de matéria ou partículas reais9 (léptons, quarks e hádrons) interagem trocando partículas virtuais (fótons, glúons, W e Z, e grávitons). Aqui é preciso levar em conta que as partículas de matéria podem ter mais de uma carga, de modo que experimentariam várias interações e forças, mas o âmbito da interação pode variar muito, a tal modo que em um determinado domínio uma certa interação seja irrelevante. A força gravitacional, por exemplo, é negligenciável no domínio subatômico. Quer dizer, embora existam quatro interações fundamentais, quatro cargas e quatro forças isso não quer dizer que todas as partículas tenham as quatro cargas e experimentem as quatro interações. Mas faltam os campos! Os quatro campos. Sabemos que, na gravitação de Newton, um corpo com massa cria em torno de si um campo gravitacional, um campo de força que exerce uma força sobre outro corpo massivo e vice-versa. Analogamente, um corpo carregado eletricamente, cria um campo eletromagnético (se estiver em repouso, percebe-se apenas seu componente elétrico, se estiver em movimento manifesta-se também o componente magnético) e exerce uma força eletromagnética sobre outro corpo eletrizado e vice-versa. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 27 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 28 Da mesma forma, há o campo da força forte eo campo da força fraca. Ou seja, há quatro campos fundamentais: o eletromagnético, o forte, o fraco e o gravitacional.10 As partículas mediadoras são os quanta dos campos correspondentes: os fótons são os quanta do campo eletromagnético, os glúons são os quanta do campo forte, as partículas W e Z do campo fraco e os grávitons seriam os quanta do campo eletromagnético. Em outras palavras, os quatro campos fundamentais são o campo de fótons (eletromagnético), o de glúons (forte), o de partículas W e Z (fraco) e o de grávitons (gravitacional). O problema nessa bela simetria de quatro cargas, quatro interações, quatro forças, quatro tipos de partículas mediadoras e quatro campos é que nenhum gráviton foi ainda detectado e a gravidade, em si, não encaixa bem nessa teoria que se convencionou chamar de Modelo Padrão. Este assuntoserá retomado mais adiante. 2. O VÁCUO NÃO É VAZIO Na seção anterior falamos de partículas virtuais, como os fótons e os gluóns, ou seja, partículas sem massa. Pois bem, quando a incerteza11 na energia é mais que o dobro da massa do elétron (tal como ocorre a uma distância de aproximadamente 10-11 cm) algo muito estranho pode ocorrer no vácuo: a produção de um par de partículas consistindo de um elétron e um pósitron. Se, de alguma forma, houver um suprimento de energia de fora do vácuo esse par tornar-se-á um par de partículas reais, sem violar a conservação da energia. Se não acontecer isso, o par desaparecerá tão rápido quanto foi produzido. Ou seja, o par elétron-pósitron é virtual, mas isso significa então que o vácuo está cheio de um grande número (essencialmente infinito) de pares elétron-pósitron virtuais. [5, p. 146]. Então, além de fótons e glúons há também elétrons e pósitrons virtuais, e outras partículas como múons e antimúons virtuais. De um modo geral, uma partícula virtual é uma "partícula que não aconteceu": não tem massa e existe apenas durante um curto período de tempo em uma pequena região do espaço. As relações de incerteza são responsáveis pelo aparecimento - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 28 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 29 de partículas virtuais na física (ibid.). Elas têm importância em distâncias muito pequenas, mas são irrelevantes na física macroscópica. Por exemplo, podemos supor que o vácuo está cheio de pares virtuais de múons e antimúons que normalmente não são detectados. Porém, em um experimento de aniquilação de um elétron e um pósitron (reais) em um acelerador/colisor de partículas aparecem múons reais que são observados nos detectores de partículas. De onde vieram? Um par múon-antimúon virtual recebeu a energia resultante da aniquilação e deixou a região (muito pequena) onde ocorreu a interação, como um par de múons reais. O interessante de tudo isso é que o vácuo então não é vazio. O que parece tão simples macroscopicamente é um sistema muito complicado na teoria quântica. Na verdade, identificar vácuo com espaço não ocupado por alguma coisa é uma concepção errônea inclusive no domínio da física clássica, pois, mesmo quando não há matéria em uma região do espaço ela continua preenchida e percorrida por campos e ondas. Não é desprovido de qualidades o espaço onde estão e se movem objetos ou sistemas e, ainda que possamos dizer que um objeto se desloca no vácuo quando não encontra outras partículas em seu trajeto, o espaço clássico nunca é literalmente vazio [6, p. 89]. Mas não se trata do velho conhecido éter que físicos de outras épocas propuseram como preenchendo todo o espaço e servindo de meio de propagação da luz e de outras ondas eletromagnéticas. Isso deverá ficar claro nas próximas seções. 3. PARTÍCULAS NUAS E VESTIDAS Suponhamos que um elétron fosse colocado no vácuo. Poder-se-ia pensar que nada aconteceria, porém como o vácuo está cheio de pares elétron-pósitron virtuais, o elétron sendo negativo repeliria todos os elétrons virtuais e atrairia todos os pósitrons virtuais dos pares existentes na região do vácuo em torno de si. O elétron ficaria, assim, envolto por uma nuvem de pósitrons virtuais. O vácuo ficaria então polarizado pelo elétron [5, p. 148]. Qual o efeito disso? A carga do elétron fica parcialmente blindada pela nuvem do pósitrons virtuais. De longe não faz diferença. O que se "vê" é o elétron e a nuvem como um todo e não se pode distinguir que parte da carga do elétron é dele mesmo e que parte é da nuvem - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 29 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 30 polarizadora. É o elétron físico, conhecido, que gera corrente nos fios e que tem carga -e. É o elétron do "dia-a-dia": o elétron "vestido", ou seja, com a nuvem. Um elétron sem a nuvem de pósitrons virtuais é chamado de "elétron nu". Em altas energias, o efeito da polarização pode ser percebido: a medida que o elétron vai sendo "despido", sua carga elétrica aumenta. Ou seja, a carga elétrica do "elétron nu" é maior do que a do elétron "vestido" (o velho conhecido elétron), o que explica porque a lei de Coulomb não vale para dois elétrons a uma distância inferior a 10-11cm. Quer dizer, em distâncias dessa ordem a força entre dois elétrons é um pouco maior do que aquela que se esperaria a partir da lei de Coulomb (ibid). Interessante como as coisas mudam no domínio do muito pequeno: as partículas virtuais violam a conservação da energia, mas por muito pouco tempo (se não há um aporte de energia para que uma partícula virtual vire partícula real ela logo desaparece); a lei de Coulomb não dá o resultado esperado porque nesse domínio o elétron pode "ficar nu" e sua carga aumenta porque diminui o efeito da polarização. Assim como na eletrodinâmica quântica os elétrons estão envolvidos por uma nuvem de pósitrons virtuais, na cromodinâmica quântica os quarks estão envoltos em as partículas (massivas) W e Z, o problema passou a uma nuvem de glúons (o vácuo também está cheio de ser a detecção do bóson de Higgs, o que até agora, pasglúons, partículas igualmente virtuais). Pode- se, então, passados mais de quarenta anos, ainda não aconteceu, mas falar também de quarks "nus" e quarks "vestidos" ou de um modo geral, em "partículas nuas" e "vestidas". 4. O CAMPO E O BÓSON DE HIGGS Teoricamente, o vácuo é preenchido não só pelas partículas virtuais (fantasmas?) e pelos quatro campos fundamentais, mas também por outro campo fundamental, chamado campo de Higgs e, consequentemente, por uma partícula mediadora que seria o bóson12 de Higgs [7]. Bósons de Higgs são partículas previstas teoricamente, em 1964, pelo físico escocês Peter Higgs e usadas, posteriormente, por Steven Weinberg (1967) e Abdus Salam (1968) para explicar porque outras partículas, os bósonsWe Z, têm massa. Havia na teoria eletrofraca, formulada em 1962 por Sheldon Glashow, um paradoxo envolvendo as partículas W e Z. Por um lado, a debilidade das interações fracas requereria que tais partículas tivessem massas - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 30 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 31 relativamente elevadas. Por outro, a simetria da teoria que dava conta dessas interações exigia que suas massas fossem nulas. Tal contradição desapareceria se as massas dos bósons W e Z fossem aparentes. Quer dizer, se suas massas fossem "dadas" por outras partículas: os bósons de Higgs. De acordo com o chamado mecanismo de Paradoxalmente, a massa, uma propriedade tão fami-Higgs13, as partículas W e Z se chocariam incessantemente com outras partículas presentes em todo o espaço, as partículas de Higgs, que explicariam suas massas. Ou seja, a massa das partículas W e Z seria dada pela massa das partículas com as quais estariam permanentemente chocando-se. Existiria um campo de Higgs, fundamentalmente diferente dos demais campos pois, segundo a teoria, o estado de energia mínima desse campo ocorreria não quando se anulasse (como é o caso, por exemplo, do campo eletromagnético) mas em um determinado valor específico distinto de zero [1]. Consequentemente, um campo de Higgs não-nulo permeia o universo, e as partículas estão sempre interagindo com ele, deslocando-se através dele como pessoas vadeando na água. Essa interação lhes dá sua massa, sua inércia (ibid., p. 62). Hoje, o mecanismo de Higgsé considerado como a origem da massa de todas as partículas elementares, mas o paradoxo teórico envolvendo as partículas W e Z foi identificado antes que as próprias partículas tivessem sido detectadas. Então, uma vez detectadas as partículas (massivas) W e Z, o problema passou a ser a detecção do bóson de Higgs, o que até agora, passados mais de quarenta anos, ainda não aconteceu, mas que se espera que aconteça antes de 2010. Isso porque as máquinas, ou seja, os aceleradores/colisores/detectores de partículas até hoje construídos não foram capazes de alcançar uma energia suficiente para criar/detectar bósons de Higgs. Contudo, espera-se que uma máquina chamada LHC (Large Hadron Collider ) em construção no CERN (Laboratório Europeu para Física de Partículas), cujo funcionamento está previsto para 2009,14 seja capaz de "descobrir" bósons de Higgs (ou o bóson de Higgs, pois há uma teoria que prevê a existência de um único bóson de Higgs). Ou, então, outra máquina, chamada Tevatron, existente no Fermilab nos Estados Unidos poderá também, por suas peculiaridades, permitir a detecção do Higgs. Aparentemente, ninguém duvida da existência do bóson de Higgs. Parece ser uma questão de tempo e lugar. Quando? Onde? Ah!, e quem? Ganhará o Nobel quem descobrir o bóson de Higgs? Ou deverá ir para Peter Higgs que o previu há quarenta anos? - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 31 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 32 E se não for detectado? Será necessário modificar o modelo padrão? Fazer nova(s) hipótese(s) auxiliar (es)? 5. O QUE É MASSA AFINAL? Paradoxalmente, a massa, uma propriedade tão familiar da matéria, é um dos assuntos mais pesquisados na física de partículas. Os físicos querem explicar essa propriedade, querem explicar por que as partículas têm massa. Isso tem a ver com o bóson de Higgs e melhorará e estenderá o Modelo Padrão. Nesta seção, esse assunto será explorado um pouco mais. Mas antes, vejamos o que hoje se considera concepções alternativas (misconceptions) sobre massa, na visão de Okun [8, p. 12-13]. "Massa de repouso" e "massa relativística" é uma terminologia antiga, do início do século XX, para manter a relação newtoniana entre momentum, massa e velocidade (p = mv). No entanto, a relação correta é a expressão relativística p = mv= de modo que levando em conta que F = dp=dt, a expressão F = ma é válida apenas no limite não-relativista onde v=c << 1. Na mecânica relativista, a "massa de repouso" não é nem a massa inercial (i:e:, o coeficiente de proporcionalidade entre força e aceleração) nem a massa gravitacional (i:e:, o coeficiente de proporcionalidade entre o campo gravitacional e a força gravitacional atuando em um corpo). A atração gravitacional não é determinada pela "massa de repouso", pois um fóton é refletido pelo campo gravitacional apesar de ter massa nula. Como a atração gravitacional sobre um fóton aumenta com a energia do fóton somos tentados a aceitar que pelo menos nesse caso tem sentido falar em massa relativística, ou massa de movimento, mas isso não é correto. Uma teoria consistente do movimento de um fóton (ou qualquer outro objeto movendo-se com velocidade comparável à da luz) em um campo gravitacional mostrará que a energia de um corpo não é equivalente a sua massa gravitacional. Outro exemplo dessa desafortunada terminologia é a falsa afirmação de que na física de altas energias e na física nuclear é possível transformar energia em matéria e matéria em energia. A energia se conserva. A energia não se transforma em coisa alguma, são apenas distintas - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 32 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 33 partículas que se transformam umas em outras. Ou seja, a energia se conserva, mas os portadores de energia, e a forma em que ela aparece, de fato, mudam. Concluindo, os termos "massa de repouso" e "massa relativística" (ou "massa de movimento") não devem ser mais usados e massa deve significar sempre a massa relativisticamente invariante da mecânica de Einstein (op. cit.). Massa é, então, simplesmente massa, uma propriedade intrínseca de certas partículas elementares. Os quarks, por exemplo, têm massa. Os fótons e outras partículas virtuais não têm massa. Mas a gravidade atua também em fótons, ou seja, atua sobre energia, não só sobre massa. Energia e massa estão relacionadas pela equação de Einstein E = mc2, mas isso não significa que a massa seja dependente da velocidade. Este assunto está muito bem discutido no artigo E = mc2: origem e significados [9]. Mas por que têm massa as partículas que têm massa? Como se explica a massa? Este é um problema que o Modelo Padrão espera resolver com o campo e o bóson de Higgs. A aquisição de massa por uma partícula poderia ser explicada da seguinte maneira: o campo de Higgs estaria permeando todo o espaço; a partícula mediadora desse campo seria o bóson de Higgs. Uma partícula real nesse espaço interagiria com o campo e ficaria polarizada com bósons de Higgs que lhe dariam então massa. Haveria uma nuvem de bósons de Higgs associada à partícula dando-lhe massa. Metaforicamente seria análogo ao que aconteceria com uma pessoa muito importante, ou muito conhecida, que chegasse a uma festa, ou seja, a um "campo de pessoas", e imediatamente muitas outras pessoas viessem cumprimentá-la e permanecessem ao redor dela onde ela fosse. Ou o que aconteceria com um vendedor de sorvete que passasse por um "campo de crianças" [1]. Note-se que, a rigor, o que daria massa às partículas seria o campo de Higgs, caso contrário seria necessário outro mecanismo para explicar a massa do bóson de Higgs. Um único campo de Higgs seria suficiente para explicar a massa das partículas, mas poderia haver outros tipos de campos de Higgs. Aliás, o Modelo Padrão Supersimétrico (uma extensão do Modelo Padrão) prevê a existência de cinco bósons de Higgs (op. cit., p. 34). Até agora nenhum foi detectado, mas no LEP (Large Electron-Positron Collider) já foram obtidas evidências experimentais indiretas de que eles existem. Sua detecção, como já foi dito, parece ser uma questão de tempo. E de máquina! - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 33 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 34 6. A ANTIMATÉRIA A antipartícula de uma dada partícula tem a mesma massa e spin dessa partícula, porém carga elétrica oposta, assim como opostos o número bariônico,15 o número leptônico, e assim por diante. Para cada partícula existe uma antipartícula. Assim, a antimatéria é constituída de antiprótons, antinêutrons, antielétrons (chamados pósitrons), antiléptons, antiquarks. Partículas neutras como os fótons são iguais as suas antipartículas [5]. (Grávitons também seriam iguais as suas antipartículas.) No início dos anos trinta, parecia que a matéria era constituída de prótons, nêutrons e elétrons, e a interação eletromagnética explicava porque os elétrons (negativos) ficavam ligados aos núcleos (positivos) nos áo durou muito porque para explicar átomos. Mas isso não estabilidade do núcleo foi preciso postular uma nova interação fundamental, a interação forte, e para uma descrição do elétron que satisfizesse a teoria quântica e à teoria da relatividade foi necessário prever a existência de antipartículas. Isso foi feito por Paul Dirac e, logo depois, em 1933, Carl Anderson detectou em raios cósmicos a antipartícula do elétron (antielétron ou
Compartilhar