Prévia do material em texto
ASTROFÍSICA Caro(a) aluno(a), A Faculdade Anísio Teixeira (FAT), tem o interesse contínuo em proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento. Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construtor melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente da Faculdade Anísio Teixeira (FAT). Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Setor Pedagógico Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 3 SUMÁRIO ASTROFÍSICA ..............................................................................................................................3 1609: DA ASTRONOMIA TRADICIONAL AO NASCIMENTO DA ASTROFÍSICA ..........4 CONCEITOS E EPISTEMOLOGIA DA ASTROFÍSICA .........................................................9 A VIA-LÁCTEA .......................................................................................................................13 SISTEMA DE COORDENADAS .............................................................................................15 COORDENADAS EQUATORIAIS ......................................................................................15 COORDENADAS GALÁTICAS ..........................................................................................17 DETERMINAÇÃO DE DISTÂNCIAS EM ASTRONOMIA ..................................................18 PARALAXE TRIGONOMÉTRICA ......................................................................................19 COSMOLOGIA ...........................................................................................................................21 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO COSMOLÓGICO E O NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA ...............................................................................................................................21 A COSMOLOGIA ARISTOTÉLICA ....................................................................................21 A CRISE DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO E A REVOLUÇÃO COPERNICANA ..23 GALILEU E KEPLER: O NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA ..............................26 A MECÂNICA E A TEORIA DA GRAVITAÇÃO DE NEWTON .....................................31 A ASTRONOMIA NOVA E A ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DE KEPLER ............35 O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DAS DUAS PRIMEIRAS LEIS ....................................39 A HIPÓTESE VICÁRIA .......................................................................................................39 A LEI DAS DISTÂNCIAS ....................................................................................................41 A HIPÓTESE DAS SUPERFÍCIES ......................................................................................44 O TESTE DO AXIOMA PLATÔNICO ................................................................................48 O TESTE DA ÓRBITA OVAL .............................................................................................49 A OBTENÇÃO DA PRIMEIRA LEI ....................................................................................50 FORÇA ...................................................................................................................................52 O CARÁTER EXPLICATIVO DAS HIPÓTESES ASTRONÔMICAS ..................................54 O SOL ...........................................................................................................................................61 O VENTO SOLAR ....................................................................................................................63 RADIAÇÃO QUILOMÉTRICA AURORAL-AKR .................................................................67 ECLIPSES ....................................................................................................................................70 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................74 - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 4 ASTROFÍSICA 1609: DA ASTRONOMIA TRADICIONAL AO NASCIMENTO DA ASTROFÍSICA1 Anastasia Guidi Itokazu2 O ano de 1609 foi decisivo na formação da imagem que hoje temos do universo. Foi nesse ano que Galileu apontou uma luneta para os céus dando início a uma série de observações que colocaram em xeque o geocentrismo tradicional. Foi também nesse ano que Kepler publicou sua Astronomia nova, inaugurando uma nova física celeste onde a Terra passava a ser, de fato, encarada como um planeta. A astronomia surgiu como uma ciência voltada a atividades práticas. Ainda na pré- história, o domínio da agricultura dependeu da compreensão do ciclo das estações do ano, determinado pelo movimento aparente do Sol. Esse tipo de conhecimento, indispensável na identificação do momento ideal para a preparação da terra, o plantio ou a colheita, aparece cristalizado nos monumentos de pedra de diversas culturas, de Stonehenge, na Grã-Bretanha, à pedra Intihuatana em Machu Picchu, no Peru. O tema é tratado pelo poeta grego Hesíodo (Séc. VI a.C.) na obra Os trabalhos e os dias (1), na qual, a exemplo do que se observa em textos da antiga Babilônia, o poeta associa cada tarefa agrícola a uma determinada posição do Sol em seu percurso anual ao longo do zodíaco. O conhecimento do movimento do Sol também tinha implicações práticas para os habitantes das cidades: na antiga Roma, esperava-se que um cidadão educado fosse capaz de planejar a construção de sua casa tendo em vista a incidência do Sol, de modo a obter conforto térmico ao longo do ano. Além do ciclo anual determinado pelo movimento do Sol, há também o ciclo percorrido pela Lua a cada 29 dias. É certo que a posição da Lua não afeta as condições climáticas, mas a evidente sucessão das fases lunares constituiu, desde muito cedo, uma importante forma de se marcar o tempo. Originalmente, os meses correspondiam a um ciclo completo da Lua, e as semanas que o compõem a cada fase lunar. Há, porém, dificuldades de conciliação entre os 1Texto publicado na Revista Ciência e cultura (Cienc. Cult. vol.61 no.4 São Paulo 2009). Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252009000400014&script=sci_arttext&tlng=es. Acesso em: 17 fev. 2013. 2 Anastasia Guidi Itokazu é física e bolsista Fapesp de pós-doutorado no Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 3 Este módulo deverá ser utilizado apenas comobase para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 5 ciclos do Sol e da Lua, pois o número de revoluções lunares completadas a cada ano não é um número inteiro. Esse problema matemático garantiu o ganha-pão de gerações de astrônomos, até que Júlio César, em 46 d.C., dissociasse os meses do ano do movimento da Lua com a introdução do calendário juliano. Quanto aos planetas, estes eram conhecidos como estrelas errantes devido à complexidade de seus percursos aparentes no céu. A descrição de seus movimentos ao redor da Terra tinha implicações para a astrologia e constituía um importante problema teórico, que não seria satisfatoriamente resolvido até o século II d.C. com o trabalho de Cláudio Ptolomeu (2;3;4). Alguns séculos antes, no tratado Sobre o céu (c. 350 a.C.), Aristóteles (5) havia proposto uma visão sobre a região celeste que dominaria o pensamento ocidental até o Renascimento. No livro, a Terra esférica ocupa o centro de um mundo organizado em camadas esféricas concêntricas, em uma estrutura semelhante a uma cebola. Cada astro estaria ligado a uma esfera ou, mais precisamente, a um conjunto de esferas. Essas esferas invisíveis seriam constituídas da mesma matéria que os astros, o éter, quinto elemento perfeito e incorruptível do qual era feita a região celeste. A teoria pressupunha um contraste rígido entre a região terrestre, onde corpos formados de combinações de água, fogo, terra e ar encontram-se em perpétua mudança - e não podem, de maneira alguma, ser submetidos a cálculos precisos - e a região celeste - onde corpos perfeitos e imutáveis feitos de éter descrevem seus movimentos periódicos e acessíveis à matemática com total regularidade. Aristóteles não nos legou uma teoria matemática dos movimentos celestes, mas sua cosmologia, com a organização do céu em esferas concêntricas e feitas de éter, exerceria uma enorme influência sobre a astronomia subsequente. Ao longo de toda sua história, a astronomia grega foi influenciada pela astronomia da Babilônia, e esse contato se intensificou especialmente a partir da invasão da região por Alexandre o Grande, em 331 a.C. A astronomia babilônica era então bastante desenvolvida do ponto de vista do registro de observações e da predição de regularidades nos movimentos dos astros, mas empregava, sobretudo, métodos aritméticos, que não se relacionavam com considerações sobre a estrutura do cosmos ou a matéria da qual seria feita a região celeste (6). Os gregos incorporaram os métodos matemáticos da astronomia da Babilônia à sua visão geométrica do cosmos, e, graças ao acesso a um amplo conjunto de observações, passaram a desenvolver - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 4 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 6 teorias cada vez mais refinadas nas quais composições de movimentos circulares eram empregadas para reproduzir os movimentos dos astros. Nesse cenário, as estrelas funcionavam como um sistema de referência. Chamadas fixas, porque suas posições relativas não se alteram com o tempo (pelo menos até onde podem detectar as observações feitas a olho nu), as estrelas constituíam o fundo estável com relação ao qual eram observados e registrados os movimentos da Lua, do Sol e dos planetas. Na cosmologia grega, as estrelas fixas encontravam-se presas à esfera mais externa do universo e, na verdade, descreviam um movimento simples, a rotação dos céus completada a cada 24 horas, que hoje atribuímos à Terra. Essa esfera também funcionava como limite do universo, e para além dela, segundo Aristóteles, não poderia haver nada, nem mesmo o vazio. No centro da esfera das estrelas fixas encontrava-se em repouso a Terra, centro do mundo, e no espaço intermediário o Sol, a Lua e os planetas, corpos de que, de fato, ocupava-se a astronomia, descreviam seus movimentos. É importante ressaltar que o arranjo geocêntrico corresponde exatamente àquilo que observamos na nossa experiência cotidiana: a Terra parada sob nossos pés e os astros girando à nossa volta. Cláudio Ptolomeu exerceu sua vida profissional na Escola Platônica de Alexandria. Sabe-se que ele teve acesso ao enorme acervo da biblioteca mais célebre da Antiguidade, inclusive a trabalhos astronômicos gregos que não chegaram até nós. O título de sua grande obra dedicada à astronomia, o Almagesto, deriva da tradução para o árabe do grego Megalé syntaxis, que significa Grande compilação. Ironicamente, o enorme sucesso do Almagestofoi indiretamente responsável pelo desaparecimento de trabalhos mais antigos, que deixaram de ser copiados uma vez que o livro de Ptolomeu resumia e ultrapassava todos os resultados obtidos anteriormente pelos astrônomos gregos. Com efeito, embora já houvesse teorias razoavelmente precisas para os movimentos do Sol e da Lua, atribuídas a Hiparco de Nicéia (Séc. II a.C.), foi somente com Ptolomeu que tornou-se possível calcular com precisão também os movimentos dos cinco planetas visíveis a olho nu e conhecidos à época: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno - vale lembrar que a Terra não era considerada um planeta, mas algo inteiramente distinto dos corpos celestes. A astronomia ptolomaica baseava-se em modelos geométricos, combinações de círculos que reproduziam os movimentos celestes observados e possibilitavam o cálculo das posições do Sol, da Lua e dos planetas em qualquer instante no tempo. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 5 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 7 O estudo da região celeste na tradição aristotélico-ptolomaica desdobrava-se, assim, em dois níveis: de um lado havia as explicações causais em termos da natureza da região celeste, que seria constituída de esferas concêntricas dispostas ao redor da Terra. Essas esferas, como os astros por elas transportados, eram formadas a partir de um quinto elemento, o éter, diferente de toda a matéria encontrada na região terrestre e naturalmente dotado de movimento circular. Por outro lado, havia os modelos ptolomaicos, constituídos de círculos que nem sempre tinham a Terra em seu centro e que, embora claramente procurassem expressar as revoluções das esferas celestes, acabavam por desviar-se dos preceitos de Aristóteles para corresponder, mais precisamente, às observações. O Almagesto permaneceu como a mais importante obra astronômica através de toda a Idade Média, ainda que seu elevado grau de detalhe tenha impedido sua utilização como livro- texto na universidade medieval. No mundo árabe, porém, o Almagesto foi meticulosamente estudado a partir do século IV d.C., criando-se um extenso debate em torno da relação entre as esferas da cosmologia aristotélica e os círculos da astronomia de posição ptolomaica. No Renascimento, o livro inspirou novas gerações de astrônomos, dentre os quais podemos destacar os defensores do heliocentrismo, Nicolau Copérnico e Johannes Kepler. Nicolau Copérnico provocou aquela que é provavelmente a maior revolução científica da história da humanidade ao propor que os movimentos dos planetas não são, na verdade, dispostos em torno da Terra, mas em torno do Sol, que no seu sistema ocupa o centro da esfera das estrelas fixas. Copérnico defende que a Terra se move ao redor do Sol completando uma rotação completa a cada ano, além de girar em torno de seu próprio eixo com um período de 24 horas. Essa ideia já havia sido proposta na Grécia Antiga, nos atesta Arquimedes no Contador de areia, por Aristarco de Samos. Não existe, no entanto, nenhuma evidência textual de que Copérnico tenha tido acesso às ideias de Aristarco,de modo que é impossível decidir se o seu trabalho influenciou ou não o sistema copernicano. A astronomia copernicana demorou para ser aceita, em parte porque entrava em conflito com alguns trechos das Escrituras, mas sobretudo porque era incompatível com a física da época. Se a Terra movia-se através dos céus, como explicar que não sentimos qualquer efeito desse movimento? Como explicar que as nuvens e os pássaros, embora soltos no ar, deslocam-se igualmente em qualquer direção, e que os projéteis lançados para leste ou para oeste alcançam a - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 6 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 8 mesma distância? Os defensores da astronomia tradicional argumentavam que se a Terra, de fato, se movesse seríamos todos lançados no espaço, e um vento fortíssimo sopraria na direção leste- oeste como consequência do movimento diário de rotação. Para que a Terra perdesse o seu posto no centro do universo seria necessária a criação de uma nova física, compatível com o sistema heliocêntrico, e, para isso, contribuíram enormemente dois eventos ocorridos no ano de 1609. Na Itália, Galileu Galilei teve a ideia de apontar uma luneta náutica em direção ao céu, fazendo uma série de observações absolutamente inéditas que trariam grandes dificuldades para os defensores da visão tradicional do cosmos. As recém-descobertas luas de Júpiter descreviam seus movimentos em torno de um centro que, claramente, não era a Terra, e os vales e montanhas de nossa Lua contestavam a visão tradicional de um céu perfeito e distinto da região terrestre. Kepler, de sua parte, desenvolveu um trabalho teórico a partir das observações mais precisas da astronomia pré-telescópia, feitas por Tycho Brahe ao longo de duas décadas no observatório de Uraniburgo, na Dinamarca. No heliocentrismo físico de Kepler as explicações da cosmologia de Aristóteles, em termos da rotação de esferas concêntricas feitas de éter, são substituídas por explicações baseadas na ação de forças físicas. Na Astronomia nova, a ideia de que uma certa força solar é responsável pelos movimentos dos planetas é fundamental para a descoberta da forma elíptica das órbitas planetárias e da lei das áreas, duas das mais importantes contribuições do astrônomo. Sabemos que Kepler correspondeu-se com Galileu, tendo mesmo chegado a compor um tratado justificando teoricamente as observações feitas com o telescópio. Porém, a colaboração entre os dois defensores de Copérnico não haveria de durar muito, o que se deve, ao menos em parte, às concepções científicas diversas sustentadas pelos dois autores. Kepler acreditava que a explicação dos movimentos planetários no sistema heliocêntrico deveria ser análoga àquela de fenômenos similares observados na Terra, os fenômenos magnéticos. A força solar, como a força dos imãs, era capaz de agir à distância, movimentando os corpos dos planetas com velocidades que variavam com a proximidade do Sol. Esse tipo de explicação parecia arbitrária e obscura para Galileu, que tinha como centro de sua campanha a instauração de uma nova ciência dos corpos em movimento, livre das entidades impossíveis de serem observadas que, na sua opinião, entravavam a ciência de seu tempo. Mesmo trabalhando independentemente, - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 7 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 9 os dois autores foram capazes de derrubar a antiga visão de mundo, abrindo caminho para a mecânica celeste de Isaac Newton e para os desenvolvimentos científicos e filosóficos que marcaram o século XVII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Hesiod. Theogony, works and days. Harvard University Press. 2006. 2. Dreyer, J. L. E. A history of astronomy from Thales to Kepler. Nova Iorque: Dover, 1953. 3. Gingerich, O. The eye of the heaven: Ptolomy, Copernicus, Kepler. Nova Iorque: American Institute of Physics. 1993. 4. Hoskin, M. The Cambridge concise history of astronomy. Cambridge: University Press. 1999. 5. Aristotle. The caelo. Clarendon Press. 1966. 6. Evans, J. The history and practice of ancient astronomy. Oxford: University Press. 1998. CONCEITOS E EPISTEMOLOGIA DA ASTROFÍSICA De acordo com publicação da Wikipedia3 a Astrofísica é o ramo da Astronomia que lida com a Física do Universo, incluindo suas propriedades físicas (luminosidade, densidade, temperatura, composição química) de objetos astronômicos como estrelas, galáxias e meio interestelar, e também das suas interações. Na prática, pesquisas astronômicas modernas envolvem uma quantia substancial da Física teórica e experimentos práticos. Ainda de acordo com o mesmo site, a Astrofísica não deve ser confundida com a Cosmologia, esta se ocupa da estrutura geral do universo e das leis que o regem num sentido mais amplo, embora sob muitos aspectos ambas seguem um caminho paralelo, algumas vezes considerado redundante. Noutrossim, conforme publicação no Blog Astrofísica, de Luis Jurno (Ph.D em Astrofísica pela Caltech), encontrado em outro endereço da Internet: http://mundodaastrofisica.blogspot.com.br/2011/05/mas-afinal-o-que-e-astrofisica.html (Acesso em 17 fev. 2013), a Astrofísica é o ramo da Astronomia que lida com a Física do Universo, incluindo suas propriedades físicas (luminosidade, densidade, temperatura, composição química) de objetos astronômicos como estrelas, galáxias e meio interestelar, e também das suas 3 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Astrof%C3%ADsica. Acesso em: 17 fev 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 8 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 10 interações. Na prática, pesquisas astronômicas modernas envolvem uma quantia substancial da Física teórica e experimentos práticos. A Astrofísica não deve ser confundida com a Cosmologia, esta se ocupa da estrutura geral do universo e das leis que o regem num sentido mais amplo, embora sob muitos aspectos ambas seguem um caminho paralelo, algumas vezes considerado redundante. A Astrofísica além de determinar as constantes universais, é o ramo da física que demonstra a natureza dos corpos celestes através de instrumentação científica. A razão da determinação de parâmetros tem fundamental importância sobre a busca do conhecimento a todos os eventos universais. Não se pode dissociar o espaço-tempo em tempo e espaço, da matéria e da energia, e estes sim são mensuráveis. Noutro endereço (http://astronomianasa.blogspot.com.br/2011/03/o-que-e- astrofisica.html. Acesso em: 17 fev. 2013) encontramos o conceito de Astrofísica como sendo esta, a parte da Astronomia que procura estudar os astros aplicando, para isso, os conceitos de física, química etc. descobertos em laboratório. Em outras palavras, a Astrofísica é a Ciência que usa, como laboratório, todo o Universo. A Astrofísica utiliza, para seu trabalho, de diversos aparelhos astronômicos: telescópios, lunetas, espectrômetros, polarímetros, fotômetros, radiotelescópios, telescópios espaciais etc. Continuando nossa empreitada na busca pela definição de Astrofísica, encontramos a Astrofísica Nuclear, tratada no texto de Mahir Saleh Hussein, Astrofísica nuclear, disponível em: (http://www.iea.usp.br/textos/astrofisicanuclearhussein.pdf). Acesso em 17 fev. 2013. Nele, o autor descreve a Astrofísica nuclear como a ciência de interface entre astrofísica e física nuclear. Afirma ser ela, a ciênciaresponsável por tentar trazer respostas a questões tais como: Como o Sol, o sistema solar, as estrelas, as galáxias se formaram e como eles evoluem? Como se deu a origem dos elementos que fez a vida na Terra possível? Ou ainda, o nosso universo um dia vai se colapsar ou continuará a se expandir para sempre? Respostas a essas questões podem ser obtidas do estudo de como os elementos foram e são formados no universo primordial e no meio estelar, que é exatamente o objeto de investigação da astrofísica nuclear. Em outras palavras, podemos dizer então que a astrofísica nuclear estuda a síntese dos elementos e sua relação com a evolução das estrelas e do universo. Os elementos leves foram - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 9 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 11 formados no universo primordial e os mais pesados foram e ainda continuam sendo formados tanto no meio intergaláctico como nas estrelas. A formação e síntese dos elementos se dão através de reações nucleares. Podemos então dizer que são as reações nucleares as responsáveis pela produção de energia e síntese dos elementos nos vários entes astrofísicos. Sendo assim, são as reações nucleares que tem um papel determinante na existência e evolução dos entes astrofísicos, do pacato sol às espetaculares explosões de Novas e Supernovas. O estudo das reações nucleares envolvidas nos processos astrofísicos faz parte do que chamamos Astrofísica Nuclear e o processo de formação dos elementos é chamado de nucleossíntese. Para responder as questões sobre a origem e formação dos elementos e das estrelas e como isso definiu a evolução do universo e como isso define a evolução de uma estrela, o que os cientistas fazem é construir modelos teóricos de como se deu a origem do universo e de como se formaram os primeiros elementos e de como ocorre o processo de evolução das estrelas. Esses modelos não são puramente teóricos e em geral envolvem uma grande quantidade de parâmetros que são obtidos de experiências realizadas em laboratórios de Física Nuclear. Por fim, esses modelos devem ainda ser corroborados com as observações dos eventos estelares. Existe enfim uma sinergia entre medidas precisas de processos nucleares realizados em laboratórios de física nuclear e observações dos eventos estelares feitas por observatórios terrestres como, os grandes telescópios Keck e ESO (European Southern Observatory) ou ainda pelos observatórios espaciais como o Hubble Space Telescope e o Chandra X-Ray Observatory. A cada dia novos equipamentos vêm sendo construídos e desenvolvidos e medidas novas e mais precisas estão sendo realizadas, permitindo com que os modelos de evolução estelar e formação dos elementos se tornem mais elaborados e que os aspectos da Física Nuclear desses fenômenos fiquem em uma base mais segura. Devido ao fato de ser o Sol a estrela mais próxima da Terra e da qual depende a nossa própria existência, ele sempre foi objeto de especulação e curiosidade. Em 1930, Bethe e Von Weizsacker propuseram que a energia do Sol e o brilho da estrelas viriam da energia de reações nucleares, já que nenhum outro processo, químico ou gravitacional, poderia produzir a luminosidade que observamos do Sol nos seus 4.6 bilhões de anos de existência. Hoje sabemos que é a diferença de massa entre núcleos antes e depois de se fundirem que se transforma em energia. Energia essa que é dada pela famosa fórmula de Einstein (E=mc2), onde m seria essa - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 10 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 12 diferença de massa. Em 1957 Burbidge, Burbidge, Fowler e Hoyle, conhecido como grupo B2FH, escreveram um famoso artigo descrevendo como deveria ser a produção da energia do Sol e como seria a nucleossíntese dos elementos no início de evolução de estrelas. Eles propuseram que essa conversão se daria em ciclos. Nesses ciclos, quatro núcleos de Hidrogênio (prótons) se convertem em um núcleo de Hélio (núcleo com dois prótons e dois nêutrons, também conhecido como partícula alfa). Essa conversão se daria em etapas formando ciclos e gerando energia. Na primeira etapa dois prótons se fundem formando um núcleo de Deutério, liberando uma quantidade enorme de energia na forma de fótons, além de pósitrons e neutrinos. A seguir dois núcleos de Deutério se fundem formando o núcleo de Hélio. De fato, a evolução natural de estrelas como o Sol é, em seu estágio inicial, transformar núcleos de Hidrogênio (prótons) em Hélio. Esse processo é bastante lento principalmente devido ao fato da reação de fusão desses dois prótons para se transformar num núcleo de Deutério ocorre através da ação da força fraca, que transforma um dos prótons em nêutron, e de tunelamento quântico entre essas partículas. Por causa dessa reação levaria 10 bilhões de anos para que todo Hidrogênio no Sol se transforme eventualmente em Hélio. Como produto extra da reação de fusão de dois prótons em deutério, temos também a geração de outras partículas mais exóticas como pósitrons (elétrons com carga positiva) e neutrinos. Os neutrinos são partículas sem carga elétrica e muito rápidas, e exatamente por isso eles atravessam toda a extensão do Sol quase que sem nenhuma interação. Os neutrinos chegam a Terra como uma chuva dessas partículas. Assim, uma evidência importante que corroboraria o modelo padrão de geração de energia do Sol seria a observação desses neutrinos solares na Terra. Desde os anos 60, físicos procuram detectar estes neutrinos solares, mas foi apenas na década de 90, graças a construção de gigantescos detectores como o Super-Kamiokande, construído numa montanha no Japão, é que essas partículas puderam ser detectadas com sucesso. Atualmente há evidências suficientes para que possamos afirmar que o modelo proposto pelo grupo B2FH seja o cenário que ocorre em estrelas como o Sol. De qualquer forma, de acordo com o autor, estudar astrofísica nuclear é entender como a formação dos elementos ocorre nos diversos entes astrofísicos e como essa formação define a evolução desses entes. Sabemos, por exemplo, que os elementos leves como o Hidrogênio, Hélio - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 11 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 13 e Lítio se formaram alguns minutos depois do Big-bang (nucleossíntese primordial). Já os elementos um pouco mais pesados (até o Ferro) são sintetizados nas estrelas. Para síntese de elementos mais pesados que o ferro é preciso que ocorram processos explosivos e mais sofisticados que envolvam mais energia tais como explosões de Novas e Supernovas. A VIA-LÁCTEA4 Em noites claras e sem lua, longe das luzes artificiais das áreas urbanas, pode-se ver claramente no céu uma faixa nebulosa atravessando o hemisfério celeste de um horizonte a outro. Chamamos a essa faixa Via Láctea, devido à sua aparência, que lembrava aos povos antigos um caminho esbranquiçado como leite. Sua parte mais brilhante fica na direção da constelação de Sagitário, sendo melhor observável no Hemisfério Sul durante as noites de inverno. No início do século XVII, Galileo Galilei (1564-1642), ao apontar seu telescópio para a Via Láctea, descobriu que ela consistia de uma multitude de estrelas. No final do século XVIII, o astrônomo alemão William Herschel (1738-1822), que já era famoso por ter descoberto o planeta 4 (O texto foi extraídoquase que em sua integra de: http://www.if.ufrgs.br/ast/index.html). Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/~mgp/notas/ast_extragal/galax_dist.pdf. Acesso em: 18 fev. 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 12 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 14 Urano, mapeou a Via Láctea e descobriu tratar-se de um sistema achatado. O Mesmo observou que a distribuição de estrelas aumentava quando se aproximava da Via-Láctea, concluindo desta forma que se tratava de um disco. Segundo seu modelo, o sol ocupava uma posição central na galáxia, mas hoje sabemos que essa conclusão estava errada. A primeira estimativa do tamanho da Via Láctea foi feita no início do século XX, pelo astrônomo holandês Jacobus Kapteyn (1851- 1922). Na segunda década do século, Harlow Shapley (1885-1972), estudando a distribuição de sistemas esféricos de estrelas chamados aglomerados globulares, determinou o verdadeiro tamanho da Via Láctea e a posição periférica do Sol nela. Shapley descobriu que os cúmulos globulares (150 deles), que formam um halo em volta na nossa galáxia, estavam concentrados em uma direção; nenhum deles era visto na direção oposta. Ele concluiu que o Sol não está no centro de nossa galáxia. Assumindo que o centro do halo formado pelos cúmulos globulares coincide com o centro de nossa galáxia, ele deduziu que estamos a 30 mil anos luz do centro da Via Láctea, que está na direção da constelação do Sagitário. Distribuição de Aglomerados glubulares na Galáxia O maior cúmulo globular da nossa Galáxia chama-se NGC2419, localizado na constelação do Lince e tem mais de um milhão de estrelas e um diâmetro de 1800 anos-luz. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 13 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 15 As regiões escuras na figura a seguir são conhecidas como nuvens moleculares e são formadas por: CaII, NI, SiO4, etc. Já as partes brilhantes representam as regiões de formação estelar (regiões H II) e são formadas principalmente por H I. A banda nebulosa da Via-Láctea, em todo o céu. Os pontos claros acima do disco galáctico são os aglomerados globulares. SISTEMA DE COORDENADAS COORDENADAS EQUATORIAIS Este sistema (coordenadas equatoriais (α, δ)) adapta-se ao movimento natural das estrelas. Usa a mesma ideia das coordenadas geográficas, latitude e longitude. Imagine a esfera celeste "contendo" a esfera terrestre. O equador terrestre, projetado para o firmamento, gera o equador celeste. O eixo de rotação da Terra, prolongado, forma os polos celestes. A linha no céu que vai do polo norte ao polo sul celeste e que passa sobre a cabeça de um determinado observador, constitui o meridiano local deste observador (o Sol está no meridiano ao meio-dia, em latim meridies - daí o nome). Podemos entender o meridiano como a projeção da linha da longitude local sobre o firmamento. Em Geografia aprendemos que a definição da latitude é fácil, conhecendo-se polos e Equador. Para a origem da longitude, no entanto, foi necessário estabelecer, por convenção, a longitude de Greenwich como longitude 0°. No céu estabelece-se um determinado ponto entre as estrelas, chamado ponto vernal ou ponto gama (γ - gama), como origem. Esse ponto corresponde - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 14 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 16 a intersecção do Sol com o Equador celeste no instante em que o mesmo passa do hemisfério sul para o norte celeste. Define-se como declinação (δ - delta) de uma estrela, o ângulo entre o equador celeste e a estrela, medido sobre o meridiano desta. As declinações do hemisfério norte são positivas e as do hemisfério sul são negativas. No equador δ= 0°. Define-se como ascensão reta (α- alfa) o ângulo entre o ponto gama e o meridiano da estrela medido sobre o equador celeste, no sentido para o leste. Coordenadas Equatoriais A definição de ascensão reta e declinação na esfera celeste vista "por fora" é fácil de entender. Um pouco mais difícil é entender a situação do observador situado no interior da esfera celeste, em seu centro. Para este observador todos os meridianos, em especial o meridiano local e o meridiano da estrela em estudo passam por um mesmo ponto, o polo celeste. Ascensão reta e declinação podem ser imaginadas da maneira como são ilustrados na figura. Ascensão reta e declinação de uma estrela variam pouquíssimo à medida que passa o tempo. Esta variação somente pode ser detectada com modernos instrumentos de precisão; na antiguidade as estrelas eram chamadas de estrelas fixas por esta razão. No entanto as coordenadas equatoriais dos planetas, do Sol e da Lua variam muito, fato também já conhecido na antiguidade (planeta significa viajante). - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 15 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 17 RESUMINDO: Ascensão reta (α ou AR): ângulo medido sobre o equador, com origem no meridiano que passa pelo ponto Áries, e extremidade no meridiano do astro. A ascensão reta varia entre 0h e 24h (ou entre 0° e 360°) aumentando para leste. 0h≤α≤24h O Ponto Áries, também chamado Ponto Gama ( γ ), ou Ponto Vernal, é um ponto do equador, ocupado pelo Sol no equinócio de primavera do hemisfério norte (mais ou menos em 22 de março de cada ano). Declinação ( δ ): ângulo medido sobre o meridiano do astro, com origem no equador e extremidade no astro. A declinação varia entre -90º e +90° −90° ≤ δ ≤ +90° O sistema equatorial celeste é fixo na esfera celeste e, portanto, suas coordenadas não dependem do lugar e instante de observação. A ascensão reta e a declinação de um astro permanecem praticamente constantes por longos períodos de tempo. COORDENADAS GALÁTICAS O sistema de coordenadas equatoriais é o sistema comumente mais utilizado na astronomia. Mas o Sistema de coordenadas galácticas (l, b) às vezes se torna útil, por que nos permite ver como os objetos estão distribuídos no plano galáctico, ou seja caso desejemos obter o gradiente de abundância galáctico por exemplo este sistema de coordenadas será útil. Para estudos da Via-Láctea o plano de referência mais natural é o plano da Via-Láctea. Como o Sol se encontra bem próximo ao plano, podemos pôr a origem no Sol. Desta vez o plano de referência é o plano do disco da Via-Láctea. A longitude galáctica (l), contada ao longo do plano do disco, tem origem na direção ao centro da Galáxia. Note que é difícil definir o centro da Via-Láctea, o que torna este sistema sujeito a revisões mais frequentes do que os anteriores. A longitude galáctica é medida no sentido anti-horário (como a ascensão reta) a partir da direção do centro da Via-Láctea (Sagitário α =17h42.4min; δ=−28°55' ). A latitude galáctica (b) é usualmente denotada pela letra b, podendo, assim como a declinação, assumir valores entre -90° < b < 90°. A direção ao centro da Galáxia (ou seja, l=0°) situa-se na constelação de Sagitário, ao passo que o polo norte galáctico (ou seja, b = +90°) fica na constelação da Cabeleira de Berenice. Este sistema de coordenadas é mais aplicado em estudos que envolvem a distribuição de objetos dentro da Via-Láctea. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 16 Este módulo deverá ser utilizadoapenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 18 Equações de conversão de coordenadas equatoriais para galácticas e vice-versa: De coordenadas equatoriais para galácticas: cos b cos(l −33o) = cos δcos (α−282.25o) cos b sin(l −33o) = cos δsin (α −282.25o) cos 62.6o + sin δsin 62.6o sin b = sin δcos 62.6o−cos δsin (α−282.25o) sin 62.6o De coordenadas galácticas para coordenadas equatoriais: sin δ= cos b sin (l −33o) sin 62.6o+ sin b cos 62.6o cos δsin (α −282.25o) = cos b sin (l−33o) cos 62.6o−sin b sin 62.6o Nota: Deve-se usar o equinócio de 1950. RESUMINDO: A longitude galática (l): é a medida de 0-360° sobre o plano galáctico. A latitude galática (b): é medida de (polo sul) -90° a +90° (polo norte) DETERMINAÇÃO DE DISTÂNCIAS EM ASTRONOMIA Uma tarefa aparentemente fácil é a determinação de distâncias. De um modo geral dizer o quão distante está uma cidade da outra é fácil, desde que tenhamos uma maneira de determiná- la. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 17 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 19 Entretanto na astronomia esta tarefa pode ser bem árdua, pois a única maneira de obtermos informações a respeito de um astro é através da luz por ele emitida ou refletida (lua e planetas). PARALAXE TRIGONOMÉTRICA Um método eficaz de se medir grandes distâncias vem sendo usado há milênios: observar um objeto a partir de dois pontos diferentes, determinando a distância ao objeto através do uso da trigonometria. O objeto, ao ser visto de pontos diferentes, parecerá mudar de posição com relação às coisas que estão ainda mais distantes e que compõem o fundo sobre o qual o objeto está projetado. O deslocamento angular, chamado de paralaxe, é um ângulo de um triângulo e a distância entre os dois pontos de observação, bem como a distância ao objeto, são lados do mesmo triângulo. Relações trigonométricas básicas entre os lados de um triângulo e os seus ângulos são então usadas para calcular todos os elementos do triângulo. Este é o método da paralaxe trigonométrica. Na figura abaixo está esquematizado, como exemplo, a maneira de medir a distância de uma árvore localizada do outro lado de um rio, sem atravessá-lo, utilizando apenas noções de trigonometria. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 18 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 20 Tomando a árvore como um dos vértices, construímos os triângulos semelhantes ABC e DEC. BC é a linha de base do triângulo grande, AB e AC são os lados, que são as direções do objeto (a árvore) vistas de cada extremidade da linha base. Logo: AB = BC x DE EC Como posso medir BC, DE e EC, posso calcular o lado AB e então, conhecer a distância da árvore. Vemos que a direção da árvore, vista de B, é diferente da direção da árvore vista de C. Esse deslocamento aparente na direção do objeto observado devido à mudança de posição do observador chama-se paralaxe. Os astrônomos, no entanto, medem o dobro desse deslocamento. Pela trigonometria, sabemos que tan (p) = D d Como p é conhecido ( p = A1 + A2), 2 e D também é conhecido, podemos medir a distância d. Para ângulos pequenos, a tangente do ângulo é aproximadamente igual ao próprio ângulo medido em radianos. Se p ≤ 4°, tan p ≈ p (rad). Então: D = D P(rad) Como p é medido em radianos, d terá a mesma unidade de D. REFERÊNCIAS G.B. Rybicki, A.P. Lightman (2004) Radiative Processes in Astrophysics, WILEY-VCH. K. Rohlfs, T.L. Wilson (1996) Tools of Radio Astronomy, 2nd edition, Springer. G.L. Verschuur, K.I. Kellermann (1988) Galactic and Extragalactic Radio Astronomy, Springer-Verlag. James Rich, (2001) Fundamentals of Cosmology, Springer-Verlag Berlin Heidelgerg. Vincent J Martinez, Enn Saar (2001) Statistics of the Galaxy Distribution, Chapman&Hall/CRC Vejamos, a seguir o surgimento e evolução do pensamento cosmológico e o nascimento da ciência moderna que permite o estudo da Astrofísica e seus componentes. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 19 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 21 COSMOLOGIA A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO COSMOLÓGICO E O NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA5 C.M. PortoI,1; M.B.D.S.M. PortoII IDepartamento de Física, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, Brasil IIInstituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil A COSMOLOGIA ARISTOTÉLICA Durante todo o período que se estendeu desde seu aparecimento, no século IV a.C., até o século XVI d.C., a física e a cosmologia de Aristóteles permaneceram como os únicos pensamentos sistemáticos formulados a respeito dos fenômenos físicos e da estrutura do Universo. No entanto, diferentemente da forma quantitativa, expressa por relações matemáticas, que a física moderna adquiriu a partir da Revolução Científica do século XVI, a ciência de Aristóteles possuía um caráter puramente qualitativo. A ciência Aristotélica era perfeitamente integrada ao seu sistema filosófico [4]. Assim, por exemplo, como para Aristóteles a ideia de vácuo, isto é, da existência do nada, era contraditória em si, para ele o Universo era completamente preenchido por matéria. Por outro lado, uma vez que a sua filosofia também rejeitava como absurda a existência de uma extensão material infinita, sua cosmologia caracterizava-se por um Universo finito. Nesse Universo finito era possível identificar um centro estático, onde Aristóteles posicionou a Terra. A concepção aristotélica do Cosmos era profundamente impregnada da noção de ordem. Seu Universo formava um todo, onde cada constituinte possuía seu lugar próprio, estabelecido conforme sua natureza: o elemento terra, mais pesado, posicionava-se no centro desse Universo, enquanto os elementos mais leves, água, ar e fogo, iam formando "camadas" concêntricas em torno. Assim, segundo a física aristotélica, os corpos, deixados por si, ou seja, na ausência de 5Texto publicado pela Revista Brasileira de Ensino de Física (Rev. Bras. Ensino Fís. vol.30 no.4 São Paulo out./dez. 2008), disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172008000400015&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 18 fev. 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 20 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 22 forças aplicadas sobre eles, realizariam espontaneamente movimentos buscando retornar às posições que lhes são apropriadas: os elementos mais pesados, a terra e a água, movendo-se em direção ao centro do Universo, enquanto os mais leves, o ar e o fogo, movendo-se para cima, afastando-se do centro. A queda dos corpos sólidos abandonados no ar encontrava sua explicação na naturalidade deste movimento em direção ao centro do Universo. Outro aspecto fundamental da filosofia aristotélica era sua distinção radical entre o mundo terrestre e o celeste. À Terra, domínio da matéria sujeita a toda espécie de mudanças e transformações, opunham-seos corpos celestes, imutáveis, esferas perfeitas, formadas, não como a matéria terrestre, dos quatro elementos mencionados, terra, água, fogo e ar, mas de um outro elemento, incorruptível, denominado éter ou quintessência. A esses corpos imutáveis eram concedidos apenas movimentos circulares naturais em torno da Terra. Essa consideração de que a natureza dos corpos celestes era imutável assentava-se na experiência humana; afinal em todos os tempos os homens haviam visto o céu da mesma forma. Por conseguinte, a experiência parecia induzir a que se concluísse que o céu não era passível de transformações outras que o simples deslocamento físico de seus astros. A ele não se aplicavam as ideias aristotélicas de geração e corrupção; não fora criado, como ocorre com as coisas terrestres, nem tampouco deixaria de existir. E se existe algo de eternamente movido, nem mesmo isso pode ser movido segundo a potência, senão de um ponto ao outro (como justamente movem-se os céus). E nada impede que exista uma matéria própria deste tipo de movimento. Por isso, o Sol, os astros e todo o céu estão sempre em ato; e não se deve temer que esses, num certo momento, parem, como temem os físicos. [5] Aristóteles mantinha a crença de que os corpos celestes estavam presos a esferas cristalinas centradas na Terra, que, ao girarem, arrastavam-nos, fazendo com que descrevessem movimentos circulares. Aristóteles atribuía o movimento das esferas celestes a Inteligências, hierarquicamente inferiores a uma Primeira e Suprema Inteligência. Entretanto, a acumulação de dados relativos aos corpos celestes pelos astrônomos gregos obrigou à construção de modelos astronômicos cada vez mais elaborados, com a inclusão de novas esferas celestes (ao ponto que Aristóteles teve de afirmar a existência de cinquenta e cinco inteligências motoras) [4], cujos movimentos se compunham. O resultado dessa - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 21 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 23 composição era que os movimentos dos corpos celestes se tornavam cada vez mais complexos. Além disso, esses novos dados mostravam variações na intensidade do brilho dos planetas ao longo do ano indicando que, ou suas distâncias à Terra variariam com o tempo, derrubando a tese de que descreveriam trajetórias circulares centradas em nosso planeta, ou então suas luminosidades realmente variariam ao longo do tempo, o que se confrontava com a crença na imutabilidade da substância celeste. No século II d.C. Cláudio Ptolomeu construiu um modelo astronômico geocêntrico, compatível com os dados experimentais disponíveis então, em que adotava uma série de hipóteses a respeito do movimento dos planetas, admitindo para cada planeta a composição de um movimento de revolução (epiciclo) em torno de um certo ponto, que, por sua vez, descrevia uma trajetória circular (deferente) em torno de um outro centro. Ptolomeu admitiu ainda que a Terra não se situava no centro do círculo deferente dos planetas. Em que pese a crescente complexidade adotada pela descrição do Universo ptolomaico e a flexibilização de algumas teses centrais do pensamento cosmológico aristotélico, como por exemplo, a ideia de que as esferas a que pertenciam os planetas eram todas centradas na Terra, o modelo de Ptolomeu obteve uma enorme aceitação, pelo sucesso na explicação dos dados experimentais disponíveis. A CRISE DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO E A REVOLUÇÃO COPERNICANA O modelo cosmológico de Aristóteles e Ptolomeu prevaleceu durante quase quatorze séculos. O pensamento medieval ocidental, de natureza cristã, adotou sua estrutura, porém transformando o Universo de eterno em criado pela Vontade Divina. Contudo, o próprio processo que levou ao apogeu desse pensamento medieval trouxe dentro de si os elementos de sua própria contestação. A reação à Filosofia Escolástica produziu o nominalismo de Guilherme de Ockham, filosofia de caráter fortemente empirista, transmitida aos estudiosos parisienses, como por exemplo Nicolau d'Autrecourt, Jean Buridan e Nicolau Oresme [6]. A crítica derivada do pensamento ochkamista caminhou da metafísica e da teologia para o domínio da física aristotélica. Enquanto Buridan propunha sua teoria do impetuspara explicar, de uma forma fundamentalmente diferente da concepção aristotélica, a persistência dos movimentos que aquele classificava como "não naturais", como por exemplo o de uma pedra lançada para - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 22 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 24 cima, Oresme sustentava em seu livro Tratado do Céu e do Mundo que "não se poderia provar por nenhuma experiência que o Céu seja movido de um movimento diário e a Terra não" [7]. A despeito dos questionamentos e reformulações propostos pelo movimento ochkamista, podemos dizer que o primeiro grande marco no processo de desconstrução da concepção cosmológica de Aristóteles, processo este que iria resultar na Revolução Científica do século seguinte, situa-se no século XV, já sob a influência dos ventos da Renascença. A filosofia do cardeal alemão Nicolau de Cusa produziu um abalo significativo na ciência aristotélica ao afirmar que o Universo não possuía qualquer centro e que, portanto, contrariamente ao que afirmava acerca da Terra o pensamento de Aristóteles, nenhum corpo ocuparia posição privilegiada nesse Universo: Consequentemente, se considerarmos os diversos movimentos dos orbes celestes, constataremos que é impossível para a máquina do mundo possuir qualquer centro fixo e imóvel, seja esse centro a terra sensível, o ar, o fogo ou qualquer outra coisa. [8] Segundo Nicolau de Cusa, todos os corpos estariam em movimento e as afirmações sobre estar em repouso ou em movimento dependeriam exclusivamente do observador. Tanto um observador situado na Terra como outro situado no Sol estariam corretos ao afirmar que estão no centro do Universo e que tudo mais gira ao seu redor. Mas, para nós está claro que esta Terra realmente se move, ainda que ela não nos pareça fazê-lo, pois só apreendemos o movimento em comparação com alguma coisa fixa. Assim, se um homem em um bote, no meio de uma corrente, não soubesse que a água corria e não visse a margem, como apreenderia que a embarcação se movia? Consequentemente, como sempre parecerá ao observador, esteja ele na Terra, no Sol ou em outro astro, que ele se encontra no centro quase imóvel e que todas as outras coisas estão em movimento, ele certamente determinará os polos deste movimento com relação a si mesmo. [9] O abalo definitivo do modelo cosmológico aristotélico-ptolomaico veio no século seguinte, com a teoria heliocêntrica proposta por Nicolau Copérnico. Segundo Copérnico, o Sol passava a ocupar o centro do Universo, enquanto a Terra e os demais planetas giravam ao seu redor. Copérnico, no entanto, manteve, ainda sob influência do antigo modelo cosmológico, a ideia de um Universo finito, fechado por esferas, onde os planetas descreviam órbitas circulares perfeitas. Sua teoria heliocêntrica ainda estava fundamentada em critérios de valor. Segundo seu - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 23 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 25 ponto de vista, parecia ser irracional mover um corpo tão grande como o Sol, em vez de outro tão pequeno como a Terra. Além disso, Copérnico atribuía ao Sol, fonte de luz e de vida, uma condição superior em nobreza. Portanto, ele seria maismerecedor do estado de repouso, sinônimo de estabilidade, do que a Terra, que assim permaneceria em constante movimento. Mas no centro de tudo situa-se o Sol. Quem, com efeito, nesse esplêndido templo colocaria a luz em lugar diferente ou melhor do que aquele de onde ela pudesse iluminar ao mesmo tempo todo o templo? (...) Assim, como que repousando no trono real, o Sol governa a circundante família de astros. [10] Ao colocá-la como um planeta como os outros, Copérnico rompeu a separação essencial entre a Terra e o céu, presente no pensamento de Aristóteles. Com sua hipótese heliocêntrica, Copérnico construiu um modelo capaz de calcular e explicar com precisão resultados astronômicos, de uma forma mais simples do que aquela empregada pelo modelo ptolomaico. Vários problemas particulares que desafiavam a interpretação baseada no modelo de Ptolomeu, cujas soluções contribuíram para seu grau crescente de artificialidade e obscuridade, foram mais naturalmente explicados por Copérnico. Por exemplo, as irregularidades observadas nos movimentos planetários eram agora atribuídas ao fato de esses movimentos estarem sendo observados do ponto de vista da Terra, ela própria em movimento. Ao contrário, do ponto de vista de alguém que estivesse em repouso em relação ao Sol, a simplicidade circular dos movimentos planetários estaria preservada. A teoria copernicana não obteve imediatamente uma aceitação total. Pelo contrário, encontrou reservas entre pensadores e estudiosos como o filósofo Francis Bacon e o astrônomo Tycho Brahe. Teve, por outro lado, grandes adeptos como Giordano Bruno, Johannes Kepler e Galileu Galilei, personagens que muito contribuíram para toda a revolução do pensamento científico. Fervoroso adepto da teoria heliocêntrica, Giordano Bruno deu um passo à frente na revolução iniciada por Copérnico, rompendo com a ideia de um Universo finito. Inspirado no atomismo grego de Demócrito e Leucipo [11], Bruno proclamava a realidade de um Universo infinito e, como tal, homogêneo, por conseguinte, sem centro, limites ou quaisquer posições diferenciadas ou privilegiadas. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 24 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 26 A um corpo de dimensão infinita não se pode atribuir nem centro nem limites. Pois quem fala do vazio ou do éter infinito não lhe atribui nem peso, nem leveza, nem movimento, nem distingue ali região superior, inferior ou intermediária; supõe, ademais, que haja nesse espaço inúmeros corpos como nossa Terra e outras terras, nosso Sol e outros sóis, todos os quais executam revoluções nesse espaço infinito, através de espaços finitos e determinados, ou em torno de seus próprios centros. Assim, nós na Terra dizemos que a Terra está no centro; e todos os filósofos, antigos e modernos e de quaisquer credos, proclamam sem prejuízo para seus próprios princípios que aqui se encontra verdadeiramente o centro. [12] De fato, o Universo de Giordano Bruno se encaixava perfeitamente na descrição atomista do Cosmos. O atomismo postulava a existência de um universo constituído de minúsculas partículas indivisíveis, que se moviam livremente em um infinito vazio e, através de colisões e combinações, originavam todos os fenômenos. Neste vazio, todas as posições eram equivalentes e neutras. Da mesma forma, no Universo de Giordano Bruno tínhamos uma Terra em movimento através de um espaço neutro, sem centro, imensamente povoado e infinito. GALILEU E KEPLER: O NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA Mesmo entre os adeptos do heliocentrismo, a questão da finitude do Universo permaneceu alvo de controvérsias. Ao contrário de Bruno, Kepler acreditava veementemente em um Universo finito. Essa ideia traz consigo não sei que horror secreto, oculto; com efeito, uma pessoa se sente errando por essa imensidade, a que são negados centro, limites e, portanto, todo lugar determinado. [13] Kepler e Galileu acreditavam que o Universo estava matematicamente organizado e que a ciência se fazia comparando-se hipóteses com dados observados experimentalmente. Galileu, segundo Alexander Koyré "o homem a quem a ciência moderna deve mais do que a qualquer outro" [14], argumentava que, para se fazerem julgamentos exatos da Natureza, deveriam se considerar apenas as "qualidades" que fossem mensuráveis. Somente através de uma análise quantitativa poderíamos conhecer o mundo com segurança. Com este pensamento, Galileu advogava o experimento quantitativo como teste final das hipóteses. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 25 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 27 Defensor do experimentalismo, Galileu acabou por inventar e aprimorar uma série de instrumentos: lentes, telescópios, microscópios, termômetros e bússolas. Alguns destes instrumentos possibilitaram a observação detalhada do Sol e da Lua. Essas observações permitiram a constatação de que esses astros não possuíam a forma esférica perfeita atribuída por Aristóteles, representando um novo abalo nas fundamentações metafísicas da concepção aristotélica de Universo. O uso dos instrumentos desenvolvidos por Galileu deu ao empirismo uma nova dimensão e acabou por golpear de forma definitiva a física aristotélica. Através da observação do fenômeno, Galileu concluiu que, contrariamente ao que afirmava Aristóteles, os corpos levariam o mesmo tempo em queda livre a partir de uma mesma altura, independentemente de suas massas, e, através de análises matemáticas, acabou por formular a teoria do movimento uniformemente acelerado para os corpos em queda. A física aristotélica sustentava também que nenhum corpo se movimentava de modo não natural sem uma força externa aplicada constantemente. Galileu desenvolveu, pelo contrário, a ideia decisiva da inércia: do mesmo modo que um corpo em repouso tende a ficar em repouso, um corpo em movimento tende a ficar em movimento, a menos que seja desviado de seu estado original por um agente externo. Galileu refutou ainda um dos principais argumentos da física aristotélica contra a ideia da Terra em movimento: um projétil lançado para cima cairia forçosamente em outro ponto, já que a Terra teria andado. Como este fenômeno não era observado, os aristotélicos continuavam acreditando que a Terra era estacionária. Galileu, através do conceito de inércia, mostrou que todos os objetos que se encontram sobre a Terra, bem como os observadores nela situados, estão automaticamente dotados do movimento do próprio planeta e, portanto, este movimento seria imperceptível para qualquer desses observadores. Apesar de toda a sua brilhante contribuição, Galileu não aplicou corretamente a ideia de inércia, tal como a compreendemos hoje, para os movimentos planetários. Para ele, os movimentos inerciais descritos por esses corpos eram de natureza circular (com velocidade de módulo constante). Assim sendo, continuou sustentando a noção da naturalidade dos movimentos celestiais como orbitas circulares centradas no Sol. A compreensão mais aprofundada desses movimentos, suas formas e suas causas, teve de aguardar a obra de Kepler. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 26 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 28 Kepler, profundamente influenciado por concepções místico-filosóficas, sobretudo de natureza cristã e platônica, identificou na teoria copernicana a intuição de verdades mais amplas do que a simples adoção do sistema heliocêntrico. Acreditouque o modelo de Copérnico seria um prenúncio de uma nova teoria, capaz de descrever matematicamente um Universo ordenado e harmonioso. Assim, baseado em inúmeros dados astronômicos coletados por Tycho Brahe, Kepler constatou que os dados referentes às órbitas planetárias se ajustavam a uma forma matemática elíptica. Diferentemente dos movimentos circulares uniformes, não se podia atribuir às formas elípticas das orbitas ideia da naturalidade. Para explicar essa forma orbital, Kepler propôs que o Sol fosse uma fonte de movimento no Universo. Inspirado no trabalho de William Gilbert [15], que havia descoberto recentemente o magnetismo da Terra, Kepler estendeu essa propriedade a todos os astros e planetas e sugeriu que a força motora do Sol era um resultado da interação entre os magnetismos dos corpos envolvidos. Esta força motora seria a responsável pelas órbitas elípticas. Surgia assim a primeira ideia do Sistema Planetário como sistema autogovernado, sem necessidade de qualquer recurso a causas exteriores ao próprio sistema. Com Kepler também surgiu pela primeira vez a ideia de uma força atrativa entre os corpos. No prefácio de seu livro Astronomia Nova, Kepler afirma que a teoria da gravidade deve se fundar sobre o axioma da atração mútua entre os corpos: por exemplo, a Terra atrai uma pedra tanto quanto essa pedra a atrai. Também a Terra e a Lua atraem-se mutuamente, de forma que uma outra ação é necessária para explicar o permanente afastamento entre elas. No entanto, para Kepler, a atração se dava apenas entre corpos que de alguma forma possuíssem certo "parentesco" (Kepler empregou o termo em latim "cognata"); essa "afinidade" existiria entre a Terra e a Lua, mas não, por exemplo, entre a Terra e os demais planetas. Podemos dizer que havia ainda no pensamento kepleriano um elemento aristotélico, manifesto, nesse caso, no papel físico, de certo modo determinante, atribuído às essências (naturezas) dos corpos (noção de afinidade ou parentesco). A atração concebida por Kepler não tinha, pois, o caráter universal que lhe atribuiria posteriormente a teoria newtoniana. Assim, vemos bem: o que impede Kepler de formular a lei da gravitação universal é a persistência nele de uma concepção qualitativa do Universo. Inversamente, a fim de que - e antes que - essa lei pudesse ser formulada, foi preciso que essa concepção fosse substituída por outra, - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 27 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 29 segundo a qual o ser material é, em todos os lugares, perfeitamente e absolutamente homogêneo. É somente a esse preço que a atração pode-se estender a todo o Universo e se identificar com a gravitação. Ora, não é a Kepler, é a Galileu e a Descartes e, ainda, aos atomistas e materialistas do século XVII, Gassendi e Boyle, que nós devemos essa concepção unitária do ser físico [16] A ideia do Cosmos como um sistema dinâmico autogovernado, já apontada na teoria de Kepler, foi definitivamente reforçada pelo pensamento mecanicista de Descartes. Segundo Descartes, a Natureza era rigorosamente ordenada e impessoal, regida pela Matemática, e composta por um número infinito de partículas que colidiam e podiam se agregar. O movimento destas partículas era governado por leis mecânicas e o desafio do homem era descobrir estas leis. A despeito da negação cartesiana do vazio e da indivisibilidade da matéria, o Universo cartesiano, em sua abordagem mecanicista, tinha importantes semelhanças com o Cosmos atomístico [17]. Questionando-se sobre como seria o movimento de uma única partícula num universo infinito, sem direções absolutas, Descartes concluiu que um corpo em repouso permaneceria em repouso e que um corpo em movimento continuaria a se movimentar em linha reta, com a mesma velocidade, a menos que um agente externo sobre ele agisse, formulando de maneira mais perfeita a Lei da Inércia, ao falar do caráter retilíneo do movimento. Descartes concluiu ainda que, como todo movimento no Universo é de origem mecânica, quaisquer desvios de suas tendências retilíneas naturais deviam ser consequência das colisões com outros corpos. Aplicando suas concepções ao problema do movimento dos planetas, Descartes eliminou os últimos vestígios da física aristotélica: o caráter natural das órbitas circulares. Segundo ele, a menos que houvesse uma força inibidora, o movimento inercial dos planetas necessariamente tenderia a impeli-los em uma linha tangencial para fora da curva da órbita em torno do Sol. Porém, como o movimento consistia de orbitas fechadas em torno do Sol, era evidente que algo forçava os planetas a uma "queda" em direção ao Sol. A física cartesiana, por outros argumentos, caminhava ao encontro da concepção de Kepler, no que se refere a necessidade de atuação de uma força como causa da forma dos movimentos planetários. Entretanto, a verdadeira natureza dessa força ainda estava por ser descoberta. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 28 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 30 Há muito tempo já se especulava a respeito de uma força de atração entre todos os corpos materiais. Esta força já havia sido aventada por alguns gregos e sábios medievais para explicar a queda dos corpos, como alternativa a concepção aristotélica dos movimentos naturais. Ao final do século XVII Robert Hooke, examinando a trajetória descrita por uma pequena esfera que pendia da extremidade de um pêndulo cônico, constatou que o que forçava a esfera a descrever aquela trajetória era uma força do tipo central, ou seja, dirigida para um centro de força, que permanecia imóvel, enquanto a esfera se movia em um determinado plano. Se esta força não existisse, a tendência natural do movimento seria retilínea. Hooke conduziu uma série de experiências demonstrativas na Sociedade Real de Ciências da Grã Bretanha mostrando que a massa presa ao pêndulo cônico descrevia trajetórias elípticas ou circulares, conforme o impulso inicial que lhe fosse dado. O objetivo de Robert Hooke era buscar uma analogia entre esse problema e os movimentos planetários. Prosseguindo em sua análise, Hooke concluiu que os movimentos dos corpos celestes revelavam a existência de uma força de atração entre os corpos. Hooke apresentou suas conclusões através de uma conferência proferida na Academia Real de Ciências, em 1670, onde declarou: Eu explicarei um sistema do mundo que difere em muitos aspectos de todos os outros e que responde em tudo às regras ordinárias da mecânica. Ele se funda sobre três suposições: 1º Que todos os corpos celestes, sem qualquer exceção, possuem uma atração ou uma gravitação dirigida a seus próprios centros, pela qual, não somente eles atraem suas próprias partes e as impedem de se afastar, como nós o vemos na Terra, mas também atraem todos os outros corpos celestes que estão na esfera de sua atividade; que, por consequência, o Sol e a Lua têm influência sobre o corpo e o movimento da Terra, e a Terra uma influência sobre o Sol e a Lua, mas também que Mercúrio, Vênus, Marte e Saturno têm, por sua força atrativa, uma influência considerável sobre o movimento da Terra, como também a atração recíproca da Terra tem uma influência sobre esses planetas. 2º Que todos os corpos que receberam um movimento simples e direto continuam a se mover em linha reta, até que por qualquer outra força efetiva sejam desviados e forçados a descrever um círculo, uma elipse ou qualquer outra curva mais complicada. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 29 Este módulo deverá serutilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 31 3º Que essas forças atrativas são tão mais poderosas em sua ação quanto mais próximos de seus centros estiverem os corpos sobre os quais elas agem. [18] Ao final dos anos de 1670, Hooke formulou pela primeira vez a ideia de uma lei de atração gravitacional entre os corpos, com intensidade proporcional ao inverso do quadrado da distância entre eles. No entanto, tendo chegado a esse ponto, aparentemente não foi capaz de dar a sua concepção o desenvolvimento matemático apropriado. Este foi obra de Isaac Newton. A MECÂNICA E A TEORIA DA GRAVITAÇÃO DE NEWTON A grande síntese da ciência moderna, estabelecendo as leis físicas do movimento através de equações matemáticas e respondendo todas as questões surgidas com a cosmologia de Copérnico, foi obra de Isaac Newton [19]. Através de suas leis do movimento, Newton formulou da maneira exata o problema fundamental da mecânica: a trajetória descrita por qualquer corpo é determinada a partir do conhecimento das forças que sobre ele agem e de certas condições iniciais, representadas por sua posição e sua velocidade em qualquer instante. Uma vez conhecidos esses elementos, somos capazes de determinar esta trajetória de forma absolutamente unívoca. Dotada deste instrumento, a física adquiria então um caráter de previsibilidade capaz de impressionar profundamente o homem moderno. A evolução do pensamento científico, iniciada por Galileu e Descartes, em direção à concepção de uma Natureza descrita por leis matemáticas chegava assim a seu grande desabrochar. Com Newton, os problemas do movimento dos planetas e da queda dos corpos nas proximidades da superfície da Terra encontraram uma explicação unificada na ideia de uma força gravitacional, já delineada, mas não completamente formalizada por Hooke. As leis do movimento planetário, enunciadas por Kepler, e do movimento dos projéteis terrestres tornaram- se exemplos de aplicação dos princípios básicos da teoria newtoniana, representados pelas três leis da mecânica e pela existência de uma força de ação a distância, através da qual dois corpos se atraem mutuamente com uma intensidade proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que os separa. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 30 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 32 Newton mostrou que corpos sob a ação de uma força inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles e o corpo que os atrai descrevem órbitas que têm a forma de curvas cônicas. Quando as órbitas são fechadas, elas têm a forma elíptica. Estava solucionado então o problema das órbitas elípticas de Kepler. Os êxitos da teoria newtoniana na explicação de uma grande variedade de fenômenos com base em poucos princípios fundamentais foram extraordinários. A mecânica de Newton forneceu, por exemplo, a resposta para o problema da forma do planeta Terra. Newton explicou que se a Terra não possuísse um movimento de rotação em torno de seu eixo ela teria a forma esférica. No entanto, devido a esse movimento de rotação, existem forças inerciais que fazem com que ela seja achatada nos polos e alongada no equador. Newton também explicou a razão da chamada "precessão dos equinócios". Com efeito, Copérnico havia descoberto que o eixo de rotação da Terra faz um ângulo de 23,5ºcom a normal ao plano da órbita em torno do Sol. Embora este ângulo se mantenha constante, o eixo de rotação gira em torno dessa normal, descrevendo um cone completo a cada 26000 anos. Esse fenômeno é chamado de "precessão dos equinócios", pelo fato de alterar, a cada ano, o instante em que a duração dos dias iguala a das noites (equinócios). Newton foi capaz de explicar o motivo deste movimento: pelo fato da Terra ser achatada nos polos, as atrações gravitacionais produzidas pela Lua e pelo Sol produziriam um torque, responsável pela precessão. Newton, em seus escritos, foi ainda mais longe, calculando a taxa de precessão e encontrando o resultado de 50" por ano, em excelente concordância com a experiência. Newton mostrou ainda que a explicação para a causa das marés oceânicas e para o fato de ocorrerem duas marés altas a cada dia está na força gravitacional exercida pela Lua e, com menos intensidade, pelo Sol. A porção de oceano situada bem em frente à Lua sofre uma atração mais acentuada do que a parte sólida do planeta que se encontra logo abaixo do oceano, o que provoca maré alta. A porção diametralmente oposta, no entanto, também terá maré alta porque a parte sólida do planeta, agora situada mais próximo da Lua do que a porção de oceano acima dela, sofrerá uma atração gravitacional lunar mais intensa e se deslocará em direção ao satélite mais do que a massa de água adjacente. Façamos, por fim, uma consideração a respeito da concepção newtoniana da força da gravidade. A ideia de ação a distância presente na força gravitacional foi rejeitada como absurda - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 31 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 33 por muitos dos contemporâneos de Newton, que a associaram, inclusive, a concepções mágicas, características do pensamento pré-científico. Em verdade, em que pese sua formulação da gravitação universal, o próprio Newton possuía sólidas reservas em relação a ideia de um corpo agir sobre outro a uma certa distância. Escreveu-o claramente em uma carta a Richard Bentley: É inconcebível que a matéria bruta inanimada, sem mediação de alguma outra coisa que não seja material, possa atuar sobre uma outra matéria e afetá-la sem contato mútuo, como deveria acontecer se a gravitação, no sentido de Epicuro, lhe fosse essencial e inerente. E essa é uma razão pela qual desejaria que não me atribuísseis a gravidade inata. Que a gravidade seja inata, inerente e essencial à matéria, de modo que um corpo possa agir sobre o outro a distância através de um vácuo, sem a mediação de qualquer outra coisa pela qual essa ação e essa força seja comunicada de um a outro, é para mim absurdo tão grande que creio que nenhum homem, por menos versado que seja em assunto de filosofia, possa jamais sucumbir a ele. [20] Poderíamos dizer, portanto, que a concepção da gravidade como uma propriedade primária da matéria se consolidou à sua revelia. Falais às vezes da gravidade como essencial e inerente à matéria. Rogo-vos não atribuir a mim essa noção, pois a causa da gravidade é coisa que não pretendo conhecer e, portanto, gostaria de considerar mais a fundo. [21] Em outras palavras, a teoria newtoniana não forneceu uma "explicação" da gravidade como um fenômeno derivado de causas a serem determinadas. Forneceu uma descrição matematicamente formalizada da maneira como sua atuação, considerada como puro fato experimental, se dá na Natureza. A despeito de qualquer estranhamento inicial, a construção monumental presente na obra de Newton tornou-se logo objeto de imensa admiração por parte dos estudiosos. Sua ciência consistia na dedução matemática de uma grande variedade de resultados a partir de alguns poucos princípios, inferidos da experiência. Essa reunião de uma sólida estrutura lógico- dedutiva, cujo modelo paradigmático foi fornecido pela Geometria de Euclides, com um elemento empírico que lhe assentava as bases tornou-se modelo de construção do pensamento científico. Enfim, a obra de Newton representou para a sua época, bem como para as subsequentes, o triunfo da razão humana sobre o desconhecimento. - 0800 282 8812| 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 32 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 34 REFERÊNCIAS [1] Brasil, Parâmetros Curriculares do Ensino Médio, Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, Parte III (MEC, Brasília, 2000). [ Links ] [2] H.F. Cohen, The Scientific Revolution (Chicago University Press, Chicago, 1994); [ Links ] I.B. Cohen,The Newtonian Revolution (Cambridge University Press, Cambridge, 1985) e E. [ Links ]J. Dijksterhuis, The Mechanization of the World Picture (Princeton University Press, Princeton, 1986). [ Links ] [3] B. Pascal, Pensamentos (Martins Fontes, São Paulo, 2005), p. 86. [ Links ] [4] G. Reale, História da Filosofia Antiga (Loyola, São Paulo, 1994), v. 2. [ Links ] [5] Aristóteles, Metafísica, Θ8, 1050, b 20-27, na Ref. [4], p. 384. [ Links ] [6] E. Gilson, A Filosofia na Idade Média (Martins Fontes, São Paulo, 1995). [ Links ] [7] N. Oresme, Tratado do Céu e do Mundo, citado na Ref. [6], p. 850. [ Links ] [8] N. Cusa, A Douta Ignorância, livro II, cap. 2, p. 99, citado na Ref. [14], p. 14. [ Links ] [9] Ref. [8], livro II, cap. 12, p. 103, citado na Ref. [14], p. 19. [ Links ] [10] N. Copérnico, Das Revoluções dos Orbes Celestes, livro I, cap. X, citado na Ref. [14], p. 30. [ Links ] [11] C. Bailey, The Greek Atomists and Epicurus (Claredon Press, Oxford, 1928); ver Ref. [4], v. 1. [ Links ] [12] G. Bruno, Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos (Madras, São Paulo, 2007). [ Links ] [13] J. Kepler, De stella nova in pede Serpentarii, cap. XXI, p. 687 (Opera omnia, ed. Frisch, v. II, Frankofurti et Erlangae, 1859), citado por A. Koyré, Do Mundo Fechado ao Universo Infinito (Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2006), 4ª ed., p. 56. [ Links ] [14] A. Koyré, Do Mundo Fechado ao Universo Infinito (Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2006), 4ª ed. [15] W. Gilbert, De Magnete, Londres, 1600. [ Links ] [16] A. Koyré, in Études Newtoniennes (Gallimard, Paris, 1968), p. 13. [ Links ] [17] T. Kuhn, A Revolução Copernicana (Edições 70, Lisboa, 1989). [ Links ] [18] R. Hooke, An attempt to prove the motion of the Earth by Observation, Londres, 1674, pp. 27-28, republicado em Gunther, Early Science in Oxford, v. VIII. [ Links ] [19] I. Newton, Princípios Matemáticos da Filosofia Natural (Nova Cultural, São Paulo, 2000). [ Links ] [20] Four letters from Sir Isaac Newton to the Reverend Dr. Bentley, carta III (25.2.1692/1693), Londres, 1756, p. 211. [ Links ] [21] Ref. [20], carta II (17.1.1692/1693), p. 210. [ Links ] [22] Ver Ref. [16] [ Links ]. [23] G. Berkeley, De motu (1721) [ Links ] [24] C.M. Porto e M.B.D.S.M. Porto, Revista Brasileira de Ensino de Física 30, 1603 ( 2008 ). [ Links ] - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 33 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 35 A ASTRONOMIA NOVA E A ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DE KEPLER6 Escrever sobre a metodologia kepleriana é arriscar-se profundamente ao erro e ao engano. Isto se explica, fundamentalmente, pela dificuldade de tal trabalho. Excetuando-se a obra Apologia de Tycho, que versa sobre o estatuto epistemológico do uso de hipóteses na astronomia, e algumas passagens isoladas de suas obras, nas quais Kepler apresenta algumas etapas de seu procedimento, Kepler pouco escreveu diretamente acerca das questões metodológicas. Em particular, nada escreveu sobre como obteve as suas leis dos movimentos planetários ou de suas conquistas na óptica. Tudo que escreveu em astronomia e óptica corresponde a extensos relatos de suas descobertas importantes nesses domínios. O que ele apresenta ao leitor de suas obras é todo o processo, todas as etapas que percorreu para obter os seus resultados, mas sem refletir sobre o procedimento (o método) que o guiava. Por exemplo, em sua principal obra astronômica, Astronomia nova, onde são formuladas as duas primeiras leis dos movimentos planetários, Kepler apresenta seu percurso por meio de um relato mostrando erros e acertos, sem derivar qualquer regra metodológica. Assim, não temos em Kepler uma discussão preliminar tal como fizeram Descartes e Bacon, para apresentar como pretendiam construir o conhecimento científico, para explicitar as regras admitidas que devem acompanhar toda empreitada de obtenção do conhecimento. Kepler, diferentemente, apresenta um extenso relato de todas as etapas que o conduziram à descoberta das duas primeiras leis dos movimentos planetários e é nessa extensa descrição que se deve encontrar o que serviu de guia a Kepler. Podemos, seguindo a própria descrição de Kepler, reconstruir o caminho empreendido, objetivando extrair as regras metodológicas subjacentes para o caso das duas primeiras leis ao relato contido na Astronomia nova.1 A obra Astronomia nova, de Kepler, é escrita com o propósito de mostrar que não há equivalência entre as hipóteses, na medida em que as hipóteses copernicanas da centralidade do 6 Trecho retirado do texto O método da astronomia segundo Kepler de Claudemir Roque Tossato (Professor de Filosofia da Ciência, Universidade Federal de São Paulo, Brasil) e Pablo Rubén Mariconda (Professor Titular de Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência, Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo, Brasil). Publicado na Scientiae Studia, Sci. stud. vol.8 no.3 São Paulo set. 2010, versão impressa ISSN 1678-3166. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678- 31662010000300003&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 17 fev. 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 34 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 36 Sol e do movimento da Terra estão melhor adequadas às aparências, pois explicam por que essas aparências se dão, e não são meramente representativas dos fenômenos tomados em si. Em outras palavras, as hipóteses astronômicas eram entendidas na época de Kepler como pertencentes à astronomia descritiva, na qual as hipóteses são matemáticas, pois servem somente para o cálculo das posições dos planetas. Kepler modifica esse estatuto das hipóteses e as trata como pertencentes à astronomia explicativa, entendidas, agora, como hipóteses físico- matemáticas. O que Kepler exige da astronomia é que o caráter explicativo torne-se parte integrante da teoria dos movimentos planetários, pois as explicações sobre os aspectos físicos dos movimentos planetários é um requisito da posição copernicana. A Astronomia nova de Kepler é composta de uma introdução e de cinco partes. A introdução trata de dois assuntos. O primeiro é sobre os objetivos da obra e a apresentação de alguns procedimentos - que podemos entender como metodológicos - utilizados por Kepler para dar conta dos problemas envolvidos na determinação dos movimentos planetários. O segundo assunto é uma pequena teoria da gravidade e das marés, assunto que não trataremos neste artigo. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 35 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 37 O objetivo de Kepler com a Astronomia nova é "o de reformular a teoria astronômica (especialmentepara o movimento de Marte) em todas as suas três formas de hipóteses [ptolomaica, copernicana e brahiana], de modo que se possa construir tabelas que correspondam aos fenômenos celestes" (Kepler, 1937 [1609], p. 20). Ou seja, temos uma preocupação prática, a necessidade de tabelas mais confiáveis e, para obtê-las, investigar qual das hipóteses astronômicas é adequada para tanto. Mas o texto continua e lemos: Eu inquiro sobre as causas físicas e naturais dos movimentos (dos planetas). O resultado eventual dessas considerações é a formulação de argumentos claros que mostram que a opinião de Copérnico sobre o mundo (sofrendo pequenas alterações) é a verdadeira, e que as outras duas são falsas (p. 20). Para Kepler, o copernicanismo é o verdadeiro modelo de universo, e as razões disso são de ordem física.2 Aqui temos a exposição de que Kepler não trata a astronomia somente como descritiva, aceitando a equivalência das três hipóteses, mas que a consideração das "causas físicas e naturais dos movimentos" conduzem-no à verdade da hipótese de Copérnico. Isto posto, Kepler explicita a hipótese da centralidade física do Sol: Ora, o primeiro passo em direção à determinação das causas físicas [dos movimentos dos planetas] está em demonstrar que os planos de todos os excêntricos somente podem intersectar-se no centro do corpo solar (e não em algum ponto aproximado), contrário ao que pensavam Copérnico e Brahe (p. 20). Para Kepler, essa é uma nova maneira de tratar a astronomia, que mostra sua independência com relação aos dois autores que mais o influenciaram, Copérnico, de quem toma o modelo cosmológico, e Brahe, de quem utiliza os dados observacionais sobre Marte. Pode parecer estranha a referência a Copérnico, mas o cônego polonês não posicionava o centro dos movimentos no corpo do Sol, mas nas proximidades e fez isso em vista do respeito ao axioma platônico de movimentos circulares e uniformes. Kepler é que irá, como veremos mais à frente, retirar a primazia do axioma platônico, transformando-o em uma hipótese, que deve ser testada por sua correspondência com as observações. Kepler tem consciência da novidade que propõe para a astronomia; daí o sentido do título da obra Astronomia nova, uma nova astronomia, ou seja, uma astronomia praticada com - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 36 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 38 um novo método que visa a determinação da verdade das hipóteses; portanto, visa a obtenção de explicações. Kepler inicia a primeira parte da Astronomia nova escrevendo sobre os problemas da astronomia de sua época, em particular dos movimentos dos planetas; os principais são duas irregularidades (desigualdades) que notamos quando observamos os movimentos planetários ao longo do zodíaco - a não-uniformidade entre arcos e tempos (primeira desigualdade), e a retrogradação (segunda desigualdade) (cf. Kepler, 1937 [1609], cap. 1). A seguir, Kepler apresenta os três modelos cosmológicos desse período, o ptolomaico, no qual a Terra está no centro dos movimentos e o Sol gira ao seu redor; o copernicano, a Terra é um planeta como outro qualquer e gira ao redor do Sol; e o brahiano, um modelo misto, em que a Terra é o centro do sistema e a Lua e o Sol giram ao seu redor, enquanto que os outros planetas giram ao redor do Sol. Kepler argumenta que eles são equivalentes sob o ponto de vista da determinação dos posicionamentos planetários, isto é, todos eles conseguem, utilizando artifícios distintos (Copérnico e Brahe usam o concêntrico com epiciclos,3 enquanto Ptolomeu utiliza o equante), obter dados relativamente satisfatórios para a determinação dos posicionamentos planetários. Porém, todos eles pecam por não tratar a astronomia sob o ponto de vista físico (cf. Kepler 1937 [1609], caps. 2-6). Contudo, a primeira parte do livro somente apresenta o problema. A estratégia de Kepler, no restante da obra, será mostrar que, se os modelos em questão são equivalentes sob o ponto de vista descritivo matemático, apenas o copernicano, que sofrerá algumas alterações (o deslocamento do centro matemático para o centro físico), explica as irregularidades dos movimentos dos planetas, o que Ptolomeu e Brahe não conseguem explicar. Apenas o heliocentrismo é que permitirá uma aplicação metodológica explicativa, físico-matemática. A quinta parte trata das latitudes, na qual Kepler comenta algumas observações dos astrônomos antigos acerca dos movimentos dos planetas, relacionando a essas os resultados a que chegou às outras partes da Astronomia nova. A seguir, trataremos da segunda, terceira e quarta partes da Astronomia nova, que contêm a formulação das duas primeiras leis dos movimentos planetários, na tentativa de compreender o novo procedimento adotado por Kepler para a astronomia. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 37 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 39 O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DAS DUAS PRIMEIRAS LEIS Levando em conta o relato contido nas três partes que tratam da descoberta da primeira e da segunda leis, Kepler realiza o seguinte itinerário: (I) trata a astronomia à "maneira dos antigos", isto é, sem tratar das causas físicas dos movimentos, considerando as hipóteses sob o ponto de vista instrumentalista (que está na segunda parte da obra, Astronomia nova, caps. 7 a 21). (II) modifica o seu enfoque, assume a hipótese compernicana, e considera as causas físicas, chegando à segunda lei (na terceira parte da obra, caps. 22 a 40). (III) elabora hipóteses intermediárias para chegar à determinação da forma da órbita, que demonstra ser a elíptica (na quarta parte da obra, caps. 41-60). A HIPÓTESE VICÁRIA Kepler adota inicialmente uma postura, como ele próprio diz, "semelhante aos antigos" (Kepler, 1937 [1609], cap. 16), ou seja, aceita incontestavelmente o axioma platônico de que os movimentos planetários são circulares e uniformes ou compostos de movimentos circulares e uniformes, considerando que é suficiente a adequação da representação geométrica desses movimentos dos planetas. A hipótese é tomada, assim, como mera hipótese matemática, sem a consideração de causas físicas. A perspectiva é, assim, explicitamente descritiva. Essa etapa é marcada pela utilização da hipótese vicária, também chamada de "hipótese suplementar", entendida como um recurso cinemático, sem qualquer consideração da ação física do Sol. O objetivo da investigação é a de conjugar as observações de Brahe com a descrição correta da forma orbital do planeta Marte, tal como entendido pela hipótese matemática copernicana; para tanto, é necessário admitir que: (1) é o corpo do Sol que está no centro, aderindo assim ao copernicanismo; (2) as órbitas são circulares e uniformes, assumindo, dessa forma, o axioma platônico. Para descrever a órbita do planeta Marte, Kepler tinha que encontrar os seguintes elementos: - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 38 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 40 (a) a posição da linha das apsides (que passa pelos pontos em que Marte está mais afastado e mais próximo do Sol); (b) o valor da excentricidade; (c) a anomalia mediana para qualquer posição de Marte em seu trajeto ao redor do Sol. O primeiro passo de Kepler consiste na elaboração da hipótese vicária4 (cf. Kepler, 1937 [1609], caps. 16-21). Uma das marcas fundamentais da hipótese vicária era assumir o ponto equante ptolomaico para adequaras irregularidades (as trajetórias excêntricas e as diferenças de velocidades) ao axioma platônico. Em suma, a hipótese vicária representa os movimentos irregulares do planeta Marte a partir do equante ptolomaico, um ponto matemático fictício utilizado para determinar os valores da anomalia mediana (tempo) e as posições em que o planeta está mais afastado e mais próximo do equante; o que permite finalmente saber qual é a taxa pela qual o equante se afasta do centro, sendo essa taxa entendida como o valor da excentricidade. Assumida a hipótese vicária, Kepler toma, então, quatro oposições de Marte catalogadas por Brahe5 nos anos de 1587, 1591, 1593 e 1595, obtendo triangulações entre cada uma dessas oposições com o centro. O resultado final de Kepler foi que o valor da excentricidade não era fixo, isto é, variava ao longo do trajeto do planeta. Mais tarde, quando Kepler chegar à forma elíptica, abandonará a hipótese vicária. A demonstração de Kepler pode ser sinteticamente apresentada por meio de uma figura, na qual D, G, F e E são as quatro oposições do planeta Marte; B é o centro do excêntrico BG; C é o equante; A é o Sol; HI a linha das apsides. O problema de Kepler era o de posicionar as oposições de Marte (D, E, F e G) sobre o excêntrico BG, de forma que B, C e A estejam posicionadas sobre a linha das apsides de uma maneira tal que os valores (das excentricidades) sejam constantes e, consequentemente, possibilitem a computação dos ângulos HCF e HAF (anomalia mediana e verdadeira, respectivamente) para qualquer posição de Marte. Em outras palavras, para determinar qualquer posição de Marte sobre o zodíaco, era necessário encontrar um valor fixo para a excentricidade - para, dessa maneira, elaborar tabelas sobre os posicionamentos do planeta. Para tanto, Kepler precisou ajustar as quatro oposições de Marte, de modo que AB fosse igual a BC; isso foi dado através do ajustamento das oposições - uma por vez para, em seguida, relacionar todas com todas. Kepler foi obrigado a fazer várias tentativas, do tipo ensaio e erro, aproximando os dados e tentando - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 39 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 41 construir esse excêntrico. Por exemplo, no ponto F, o ângulo FAH, anomalia verdadeira, é dado pelas observações de Brahe e, dessa forma, o ângulo FCH também o é. Assim, a partir de F pode-se localizar C na linha das apsides, de uma forma provisória. Após isso, deve-se localizar os outros pontos (G, D e E) de maneira que a posição de C seja igual para todos; isto é, CB tenha o mesmo valor em relação a cada oposição; após isso, BA também tem que ter o mesmo valor de C (CB = BA). Kepler obteve os resultados finais de que a longitude no afélio é de 28º 48'55" de Leão; com o valor de BA = 11332, e CB = 7232, sendo o raio avaliado como igual a 100.000 (cf. Tossato, 1997, p. 63-4). Tendo obtido essas relações, Kepler investiga se o centro do círculo excêntrico liga-se ou não à linha AB, mas, para que isso ocorra, deve-se alterar ou assumir outra direção de HI e dos ângulos HBF e HAF. Com a hipótese vicária, na linha das apsides, a margem de erro chegou à casa de 2' de arco; contudo, nos octantes (135º e 225º), chegava a 8' de arco. Mas Kepler não aceita o erro de 8', procurando, após a aplicação da hipótese vicária, uma expressão mais satisfatória. A LEI DAS DISTÂNCIAS Após tratar da hipótese vicária, Kepler mostra que os movimentos da Terra, tal como nos outros planetas, também têm uma excentricidade sem um valor fixo; excentricidade que fica estabelecida para o conjunto dos planetas (cf. Kepler, 1937 [1609], caps. 22-27). Passa, então, para as suas especulações dinâmicas, que lhe permitiram chegar à lei das distâncias. A formulação dessa lei encontra-se no capítulo 33 da Astronomia nova. A lei expressa que as - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 40 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 42 velocidades são proporcionais às distâncias do planeta ao Sol. Contudo, essa lei só se apresenta como válida na linha das apsides, onde se tem a distância mínima do planeta (periélio), e a distância máxima (afélio) ao Sol; nas longitudes, contudo, ela se mostra inadequada. Kepler assume, então, o equante ptolomaico como demonstração de que as velocidades dos planetas são proporcionais a suas distâncias ao centro, que é computado pelas uniformidades dos planetas, isto é, o equante ptolomaico determina a proporcionalidade entre as distâncias e os tempos dele ao planeta. Kepler passa a transferir essa relação do equante ptolomaico para o Sol, enquanto centro físico dos movimentos. Algo importante é que Kepler, quando utiliza o equante, bissecta a excentricidade, isto é, posiciona na linha das apsides dois centros, que são, na verdade, dois focos: um é o centro físico (que, como Kepler é copernicano, representa o corpo físico do Sol), o outro, um centro matemático. Seu raciocínio pode ser compreendido com o auxílio da seguinte figura: Ora, eu próprio afirmo que υχ, assim designada como o arco de tempo (como apontou Ptolomeu) está para o arco δψ, o qual o planeta percorre, aproximadamente como αδ, a distância do arco δψ a partir do centro do mundo, está para δβ, a distância mediana dos pontos π e ρ a partir de α. E, igualmente, o arco de tempo τ está para o arco do movimento do planeta εω, aproximadamente como αε, a distância do arco εω a partir do centro do mundo α, está - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 41 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 43 para εβ e απ, a distância mediana do centro do mundo, a qual pode ser encontrada pelos pontos π e ρ (Kepler, 1937 [1609], p. 234). A figura mostra basicamente o movimento real do planeta (caso o percurso seja circular), representado pelo círculo contínuo, e o movimento excêntrico, dado pela circunferência tracejada; α representa o centro do mundo, isto é, o centro físico dos movimentos; γ é o equante, o ponto fictício que determina os arcos de tempo χυ e φτcomo iguais, isto é, esses arcos são uniformes, pois seus tempos de percurso são idênticos. Kepler demonstra, mediante a teoria geral da proporcionalidade, que os arcos de tempos obtidos pelo equante -χυ no afélio (ou apogeu) e φτ no periélio (ou perigeu) - são proporcionais aos arcos das distâncias computadas a partir do centro físico dos movimentos, ψδ no afélio e εω no periélio; e isso ocorre em razão da relação entre a excentricidade dada pelo centro do mundo e o centro físico (lembrando que a excentricidade foi bissectada), αβ. Assim, a relação seria: υχ : δψ :: αδ : δβ, para as posições no afélio; e τ : εω :: αε : εβ, no periélio. Essa proporcionalidade indica que o planeta percorre arcos de tempos desiguais conforme ele esteja mais próximo ou mais afastado do centro físico dos movimentos. Kepler infere, a partir dessa relação (e por uma série de cálculos que não vem ao caso nos remetermos a eles) que essa oscilação de tempo se dá pela ação do centro físico α nos arcos de tempo, considerando que essa ação é determinada pela distância do planeta ao centro dos movimentos. Entretanto, Kepler generaliza erroneamente essa relação entre o centro físico com o afélio e o periélio para todas as distâncias orbitais do planeta, formulando a lei que ficou conhecida como lei das distâncias, expressa, segundo Kepler, como "(...) que a rapidez no periélio e a lentidão no afélio são proporcionais,o mais que possível, às linhas unidas do centro do mundo ao planeta" (Kepler, 1937 [1609], p. 233-4). Em outras palavras, as várias distâncias entre o planeta e o centro físico dos movimentos fazem o planeta perder ou ganhar velocidade, diminuindo ou aumentando o tempo de percurso dos arcos de tempo (entendendo-se esses arcos de tempo como o trajeto de uma posição a outra, que podem ser computadas mediante o cálculo entre as anomalias medianas e verdadeiras e a equação ótica). - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 42 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 44 Assim, Kepler utiliza o equante ptolomaico para obter as relações entre os tempos de percurso; após isso, transfere o problema para o centro físico dos movimentos, que é o que de fato interessa na procura de explicar os deslocamentos desiguais dos arcos percorridos pelos planetas em seus movimentos. Para explicar essa relação entre tempos e distâncias, Kepler postula o seu conceito de força, iniciando a pesquisa acerca da causa física que gera o comportamento irregular dos planetas. A HIPÓTESE DAS SUPERFÍCIES O próximo passo dado por Kepler consiste na admissão da hipótese das superfícies, a qual se constitui na segunda lei dos movimentos planetários.6 Tal hipótese admite a proporcionalidade entre as áreas e os tempos percorridos durante o trajeto de um planeta ao redor do Sol. Na formulação da hipótese das superfícies, Kepler substitui o ângulo formado pela anomalia mediana por uma área percorrida em um certo tempo. Seu procedimento é basicamente o seguinte: Na figura, seja A o Sol, B o centro da órbita, CD a linha das apsides, G a posição de Marte após a sua passagem por C (afélio). O ângulo CBG é a anomalia excêntrica; o ângulo CAG é a anomalia verdadeira; e à diferença entre esses ângulos, que é o ângulo BGA, Kepler chama de equação ótica. Tendo esses elementos, Kepler precisava encontrar a equação excêntrica (que seria, dada a aceitação da circularidade do axioma platônico, a equação que determinaria o valor da excentricidade para a descrição de uma órbita circular), que é a diferença entre a anomalia mediana e a verdadeira. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 43 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 45 Para encontrar a anomalia mediana, Kepler utiliza a hipótese da superfície. A área CAG é medida em graus, sendo que esses graus dariam o tempo gasto pelo planeta para cruzar o arco CG. Com qualquer ângulo conhecido após a passagem do planeta pelo afélio, por exemplo, o ângulo da anomalia excêntrica CBG, e conhecendo-se o valor da excentricidade AB, pode-se, pela hipótese das superfícies, saber o valor do tempo em graus da área ABG (área que Kepler denomina de equação física), obtendo, assim, o valor da anomalia mediana. Para determinar a anomalia verdadeira, basta subtrair trigonometricamente o ângulo CBG do ângulo BGA. Na utilização da hipótese das superfícies, Kepler altera o procedimento ptolomaico, objetivando encontrar a anomalia mediana na forma de áreas percorridas, computadas como o tempo de percurso dessa área, enquanto que na formulação ptolomaica, era considerado o tempo do arco, e não da área. Conhecendo-se a anomalia mediana e a anomalia verdadeira, poder-se-ia encontrar a equação excêntrica, determinando o valor em que a excentricidade seria constante na órbita circular. Assim, os cálculos empreendidos por Kepler na elaboração da sua hipótese das superfícies foram obtidos em função da conjugação dos valores da anomalia mediana a partir do centro físico dos movimentos para, em seguida, relacioná-los às distâncias percorridas pelo planeta no trajeto correspondente a essa anomalia. Dessas pesquisas, Kepler obteve como resultado final que os raios vetores, que unem o planeta ao Sol, percorrem áreas iguais em tempos iguais, que é o que afirma a segunda lei dos movimentos planetários. Cabe notar que, para chegar à formulação da lei das áreas, Kepler modifica o tratamento tradicional de obtenção da anomalia mediana. Em Ptolomeu, a anomalia mediana era computada a partir do equante, - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 44 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 46 tomado a partir de um ponto fictício; na formulação kepleriana, entretanto, essa anomalia é calculada por um equante tomado no centro físico dos movimentos, que no caso é o Sol. Após esse raciocínio, Kepler procura uma demonstração geométrica para a forma circular da órbita por meio de uma decomposição em áreas (superfícies). Divide a circunferência em triângulos, tentando equacionar as distâncias das linhas extremas desses triângulos. Vejamos com detalhe como procede Kepler: Seja AB a linha das apsides, A o Sol (ou a Terra para Ptolomeu); B o centro do excêntrico CD; todo o semicírculo CD deve ser dividido em qualquer número de partes iguais, CG, GH, HE, EI, IK, KD, e sejam os pontos A e B conectados com os pontos de divisão. Portanto, AC é a distância maior, enquanto que AD é a distância menor, e as outras, em ordem, são AG, AH, AE, AI, AK. E visto que os triângulos sobre alturas iguais estão entre si como as suas bases,7 os setores, ou triângulos, CBG, GBH e assim todos têm a mesma altura, os lados iguais BC, BG, BH, eles são, portanto, todos iguais. Mas todos os triângulos estão contidos na área CDE, e todos os arcos ou bases estão contidos na circunferência CED. Portanto, por composição,8 como a área CDE está para o arco CED, assim a área CBG está para o arco CG, e, alternando,9 como o arco CED está para CG, CH e o resto pela ordem, assim, está a área CDE para as áreas CBG, CBH e o restante pela ordem. Portanto, nenhum erro é introduzido se as áreas forem tomadas pelos arcos desse modo, substituindo as áreas CGB, CHB pelos ângulos da anomalia excêntrica CBG, CBH (Kepler, 1937 [1609], p. 264). Na passagem acima, Kepler apresenta inicialmente os dados do problema. Em AB, a linha das apsides, A é o Sol, B o centro excêntrico. Divide, em seguida, o semicírculo CD em - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 45 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 47 partes iguais, unindo cada ponto ao centro B e ao Sol A, formando vários triângulos. Aplica a esses triângulos a teoria da proporcionalidade dos Elementos de Euclides, estabelecendo proporções entre os arcos e as áreas computadas a partir do centro, B, do excêntrico; dessa maneira, temos: (1) Os triângulos CBG, GBH, e os demais, têm a mesma altura; assim, pela proposição 6 do livro 1 dos Elementos de Euclides, temos que os lados BC, BG, BH e os demais são todos iguais; (2) Como todos os triângulos estão contidos na área CDE e todos os arcos ou bases estão contidos na circunferência CED, portanto, pela definição 14 do livro 5 dos Elementos, temos que: área CDE: arco CED: área CBG: arco CG; (3) E, alternando, pela definição 12 do livro 5 dos Elementos: arco CED: arcos CG, CH e os demais: área CDE: áreas CBG, CBH e as demais (as áreas vão se acumulando). Até aqui, Kepler associou as áreas com os arcos (ângulos) da anomalia excêntrica. Em seguida, Kepler estabelece a proporção entre as áreas percorridas a partir do centro do excêntrico e as áreas percorridas a partir do centro físico, utilizando para isso as semelhanças dos triângulos construídos;demonstra que todos esses triângulos estão sobre a mesma área, o que possibilita reunir todas as distâncias que compõem a área. Kepler passa então a relacionar áreas e tempos: Portanto, a partir disso, como a área CDE está para a metade do tempo periódico, que designamos por 180º, assim também as áreas CAG, CAH estarão para o tempo percorrido sobre CG e CH. Assim, a área CGA torna-se uma medida de tempo ou anomalia mediana, correspondendo ao arco do excêntrico CG, visto que a anomalia mediana mede o tempo (Kepler, 1937 [1609], p. 265). Kepler associa as áreas parciais percorridas com os tempos parciais percorridos, juntamente com a área total do semicírculo com o tempo para seu percurso, que fica assim: Área CDE: Tempo Total (semicírculo): áreas CAG, CAH: tempo CG, CH. A anomalia mediana CGA, no caso do arco CG, é a medida de tempo para a computação do percurso dado pela área CGA (o mesmo valendo para as outras áreas). Em outras palavras, Kepler obteve que o planeta percorre áreas iguais em tempos iguais, computadas a partir do centro físico de movimentos, A, que representa o Sol. Aqui, já temos a formulação da segunda lei, mas Kepler não a reconhecia ainda como tal. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 46 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 48 É importante lembrar que, neste ponto do relato, Kepler ainda se mantém no plano das questões relativas a uma astronomia descritiva, pois utiliza a parte ótica, o ângulo BGA, como o excesso que produz a anomalia mediana. Todas essas questões serão deixadas de lado quando Kepler reconhecer a sua hipótese das superfícies como uma lei dos movimentos planetários. Toda a elaboração da hipótese das superfícies será, na quarta parte da Astronomia nova, de capital importância para a ruptura com a crença no axioma platônico, pois a hipótese das superfícies tem como fundamento a aceitação de um centro físico de movimento, o Sol, para uniformizar os tempos com as áreas percorridas. A impossibilidade de uma órbita circular adequar-se a essa relação levará Kepler, entre outros motivos, a rejeitar o princípio da circularidade exigida pelo axioma platônico dos movimentos planetários, como ele diz no início do capítulo 40 - escrito, provavelmente, quando já tinha obtido as suas duas primeiras leis, tendo definitivamente rompido, portanto, com a circularidade e a uniformidade. Nesse capítulo 40, Kepler inicia seu trajeto para a obtenção da primeira lei afirmando: Meu primeiro erro foi supor que o caminho do planeta é um círculo perfeito, uma suposição que era totalmente alicerçada na autoridade dos filósofos, mais convincente para a metafísica em particular. Em segundo lugar, admitir que o caminho do planeta era um excêntrico perfeito, pois na teoria do Sol a soma pela qual ele difere do caminho oval é imperceptível (Kepler, 1937 [1609], p. 263). Os erros a que Kepler se refere impediram que ele reconhecesse a hipótese das superfícies, quando a formulou, como sendo uma lei, pois a admissão do axioma platônico impossibilitava outra trajetória que não a circular. O TESTE DO AXIOMA PLATÔNICO Determinada a hipótese das superfícies, Kepler passa a testar as hipóteses acerca da forma da órbita de Marte (cf. Tossato, 2003) tendo como instrumentos de trabalho os dados de Brahe, a hipótese vicária, a lei das distâncias e a hipótese das superfícies. Todo esse processo, contido na quarta parte da Astronomia nova, conduzirá à descoberta da primeira lei. Primeiramente, Kepler testa a órbita circular, não encontrando correspondência entre ela e os dados de Brahe. O axioma platônico de movimentos circulares e uniformes torna-se a partir - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 47 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 49 daqui uma hipótese. Kepler foi o primeiro astrônomo a pôr em dúvida esse princípio norteador da astronomia, submetendo-o ao teste da correspondência com as observações. A principal razão para isso é devida à impossibilidade de representar matematicamente a órbita circular quando consideramos o centro de movimentos não estando em um ponto geométrico fictício, mas em um corpo físico que, no caso do copernicanismo, é o Sol. O teste da circularidade e da uniformidade encontra-se nos capítulos 40 a 44 da Astronomia nova. Kepler nos diz, no capítulo 42, acerca dos resultados obtidos pelo teste da órbita circular: Podeis ver, leitor, que devemos começar por um outro caminho. Pois podeis perceber que as três posições excêntricas de Marte e o mesmo número de distâncias do Sol, quando a lei do círculo foi aplicada a elas, rejeitaram o afélio encontrado acima (com uma pequena invariabilidade). Nisso está a fonte de nossa suposição de que o caminho do planeta não é um círculo. Sob essa suposição não é possível determinar as três distâncias em relação às outras. Portanto, a distância para qualquer lugar particular deve ser deduzida a partir de nossas próprias observações, especialmente aquelas no afélio e no periélio (Kepler, 1937 [1609], p. 275). Dois pontos devem ser comentados na passagem acima. O primeiro é que as três posições a que se refere Kepler foram dadas por Brahe, com um grau de precisão jamais obtido até então. O segundo ponto refere-se à parte final, a de que devemos deduzir a forma da órbita do planeta Marte pelas "nossas próprias observações", isto é, negado o axioma platônico, devemos procurar elaborar hipóteses que correspondam às observações; devemos encontrar qual é a forma real da órbita de Marte sem qualquer princípio a priori que nos conduza nessa empreitada. O TESTE DA ÓRBITA OVAL Negada a órbita circular e livre das restrições impostas pelo axioma da circularidade, Kepler considera a forma oval mediante a investigação do movimento em epiciclo. Postulando a elipse auxiliar como forma da órbita, chega ao resultado de que a órbita circular erra por excesso, enquanto que a órbita oval (elipse auxiliar) erra por falta. Cabe lembrar que esta é a primeira utilização da forma elíptica por Kepler (cf. 1937 [1609], cap. 47). Mas, nesse estágio, ela era um instrumento de trabalho, para tentar representar uma órbita que Kepler já sabia não ser circular. O problema era o de determinar o tipo de oval e a elipse surge como um instrumento nessa - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 48 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 50 determinação. A primeira lei, a forma elíptica real da trajetória planetária, só se dará no capítulo 58, quando Kepler consegue representar satisfatoriamente os movimentos pela elipse e, principalmente, quando a elipse se mostrar como uma representação que corresponde aos movimentos observados de libração (oscilação), que Kepler tentará explicar pelo conceito de força magnética. A primeira utilização da elipse por parte de Kepler ocorre no seio de uma série de cálculos, nos quais Kepler obtém o resultado que entre o excêntrico e a órbita oval de Marte existe uma pequena área, chamada por ele de lúnula, a qual é calculada como tendo um valor igual a 858 unidades, quando o raio da órbita tem o valor de 100.000 unidades. Kepler nota que em direção ao afélio a figura oval apresenta-se mais larga, e em direção ao periélio ela se apresenta mais estreita (cf. Kepler, 1937 [1609], cap. 47). O problema do astrônomo era, agora, representar essa figura oval de modo que desse conta das irregularidades observadas entre o afélio e o periélio de Marte. É na tentativade resolver esse problema que Kepler emprega a elipse como um expediente geométrico de aproximação. No capítulo 47, a elipse não tem ainda a função de representar, sob o ponto de vista realista, a forma da órbita de Marte. Ela se liga à tentativa de compreensão da forma oval, que se explica pelo motivo de que a oval não é uma curva estritamente geométrica, que obedeça a parâmetros de construção geométrica, como se pode fazer com o círculo, a elipse, a hipérbole ou a parábola. A OBTENÇÃO DA PRIMEIRA LEI Nos capítulos 50 a 55 da Astronomia nova, Kepler esforça-se para alcançar seus objetivos. Esses capítulos apresentam uma série de fracassos; porém Kepler obtém alguns resultados que serão de grande importância no desenvolvimento da Astronomia nova. Um dos mais relevantes é a descoberta de que a largura da lúnula obtida com o valor de 858, mediante a elipse auxiliar, apresentava-se muito larga, ela é, por isso, dividida. Kepler utiliza 22 observações diferentes de Brahe e confirma o resultado de que a largura da lúnula, aplicada mediante a elipse auxiliar, deve ser de 432 (cf. Kepler, 1937 [1609], cap. 53); na realidade o valor é de 429, mas Kepler despreza essa pequena diferença. Com isso, ele percebe que o valor - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 49 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 51 obtido é muito pequeno, quando comparado às observações de Brahe, considerando, consequentemente, que a utilização da órbita oval leva a negar a órbita circular, mas que, principalmente, ainda não obtém uma representação satisfatória para a órbita de Marte por meio da hipótese da trajetória oval. Assim, nos capítulos 54 e 55, Kepler considera que, dados os resultados alcançados até agora, as distâncias calculadas pela hipótese circular tornam-se muito grandes, isto é, erram por excesso, quando comparadas aos dados de Brahe; em contrapartida, as distâncias calculadas pela hipótese oval, mediante a elipse auxiliar, erram por falta, por serem muito pequenas (cf. Kepler, 1937 [1609], p. 345). Todo o processo que envolve a parte final da obtenção da primeira lei de Kepler é algo que escapa aos domínios deste artigo.10 Sigamos um resumo de Koyré para o procedimento dado por Kepler para a obtenção da primeira lei dos movimentos dos planetas. Pela figura abaixo, Koyré escreve que: Para determinar a posição de Marte em relação ao Sol, Kepler começa traçando a linha das apsides e o círculo excêntrico que Marte teria percorrido, se sua órbita fosse circular (mas que, de fato, ele não percorre); nesse caso, Marte, encontrando-se em um momento dado no ponto M, estaria à distância MS do Sol. Ora, sabemos que isso não é o caso, e que essas distâncias devem ser encurtadas e diminuídas pelo valor da oscilação efetuada pelo planeta sobre o diâmetro de seu epicíclo (fictício) (...) Ele estará, portanto, na distância SM1 (e não na distância SM) do Sol. Ora, entretanto, onde se encontra Marte? Kepler estima que ele deve demorar-se sobre o raio do círculo excêntrico (CM), portanto, no ponto M2, de modo que SM1 = SM2. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 50 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 52 As observações não confirmaram seu raciocínio, Marte se encontraria no ponto M3, à direita da posição calculada (...) não se tem nenhuma razão para afirmar que o planeta se encontraria sobre o raio (fictício) do círculo excêntrico que ele não percorre (Koyré, 1961, p. 262-3). Porém, faltava relacionar essa curva elíptica com a libração do planeta. Kepler percebeu que a órbita elíptica pode ser produzida pela teoria da libração, se o planeta não estiver localizado sobre o raio do excêntrico, mas sobre a perpendicular a partir da posição sobre o excêntrico na linha das apsides, o que levou Kepler a afirmar que "eu pensava que a oscilação sobre o diâmetro não poderia ser gerada pela elipse. Foi como uma pequena revelação para mim, quando percebi que a oscilação pode gerar uma elipse" (1937 [1609], p. 366). Desse modo, Kepler obtém a sua primeira lei. O movimento de libração do planeta ao longo de seu trajeto mostra que o planeta tem um movimento elíptico e esse movimento está em correspondência com as posições observadas (dados de Brahe) do planeta Marte e, além disso, determina as distâncias de Marte ao Sol. Kepler conclui que a verdadeira forma da órbita de Marte está a meio caminho entre o círculo e a elipse auxiliar. Com isso, percebe-se o papel desempenhado nas pesquisas astronômicas pela interpretação realista dada às hipóteses astronômicas visando a descrição e a explicação do comportamento observado dos planetas ao longo de seus trajetos no céu. FORÇA Mas a questão que pôs Kepler para si mesmo é: o que move os planetas? Tal pergunta é necessária, pois Kepler não está mais no plano meramente da representação matemática (descritivo) dos movimentos, mas trabalha, agora, no plano da explicação, do que efetivamente acontece. Kepler adota o copernicanismo e admite que os movimentos devem ser computados em função do centro físico dos movimentos, que é o Sol real e não um ponto matemático fictício. Como vimos, isto conduz à recusa da circularidade e da uniformidade, ao abandono do chamado axioma platônico. Se a órbita não é circular, mas elíptica, o que faz o planeta percorrer uma tal trajetória? É evidente como opera a explicação causal de Kepler. Parte da hipótese de que as forças magnéticas do Sol são a causa eficiente do movimento dos planetas, permitindo explicar precisamente os efeitos observados, ou seja, as desigualdades observadas dos movimentos - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 51 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 53 planetários. Entretanto, os efeitos observados são explicados por uma causa física (a ação magnética do Sol) inobservável. A tentativa de resposta de Kepler está assentada em seu conceito de força. É uma força magnética exercida pelo Sol nos planetas que faz com que eles percorram velocidades e tempos proporcionais de acordo com o aumento ou a diminuição das suas distâncias ao Sol. Kepler utiliza o magnetismo, muito conhecido e investigado em sua época. A filosofia (hipótese) magnética foi formulada principalmente por William Gilbert (1540-1603), em seu famoso De magneto. Kepler utiliza o magnetismo por intermédio de uma analogia posta para aproximar-se da explicação de como o Sol age sobre os planetas. A analogia refere-se a um barco no meio da ação de correntezas que produzem movimentos em turbilhão, redemoinhos: o barco, com um remador em seu interior, sofre a ação do centro do redemoinho, que o atrai; o remador, por sua vez, procurará conduzir o barco para fora da ação do redemoinho; a analogia está em que o Sol é o centro do redemoinho, e os planetas representam o barco (cf. Kepler, 1937 [1609], p. 349). Kepler considera falha essa analogia, pois a ação do rio é material, ou melhor, observável, enquanto que a ação do Sol nos planetas, apesar de natural e física, é inobservável (cf. p. 349- 50). Assim, a ação do Sol, a força exercida por ele nos planetas, que tem como efeito os movimentos dos mesmos, é um inobservável, tal como o é a ação do magneto. Segundo o próprio Gilbert: A união de corpos que estão separados um do outro, e que são naturalmente parecidos, atraem-se por um outro grupo de movimentos, se eles forem livres para moverem-se. A terrela envia sua força para fora em todas as direções,segundo a sua energia e qualidade. Mas se o ferro ou outro corpo magnético de tamanho apropriado cair sob sua esfera de influência, ele será atraído; com efeito, quanto mais próximo estiver do imã, maior será a força com a qual é atraído para ele. Tais corpos tendem para o imã, não como para um centro, nem para o seu centro: eles apenas o fazem como seus polos, isto é, quando aquilo que é atraído e o polo do imã, assim como seu centro, estão em linha reta. (...) Nos polos a linha é reta. Quanto mais próximo forem as partes do círculo equinocial, maior obliquidade da atração dos corpos magnéticos, mas as partes mais próximas dos polos atraem mais diretamente; nos próprios polos, a atração se dá em linha reta. Todo imã semelhante, seja esférico ou oblongo, tem o mesmo modo de voltar-se para - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 52 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 54 os polos do mundo; mas isso é mais fácil de experimentar com os oblongos (...). Assim, o imã e a Terra se conformam com os movimentos magnéticos (Gilbert, 1958 [1600], p. 121-2). Para Gilbert, as forças magnéticas têm uma maior intensidade nos polos, sendo que elas diminuem nas partes equatoriais. Kepler utiliza o que Gilbert fez para os imãs e para a própria Terra, nos movimentos dos planetas (cf. Kepler, 1937 [1609], p. 350). Note-se que Kepler utilizará a hipótese magnética de Gilbert, segundo a qual a Terra é um enorme magneto, para afirmar que também o Sol é um grande magneto, que atrai a Terra e os planetas, de modo que há uma variação na intensidade da ação. Kepler adiciona a variação nas distâncias, o que lhe permite postular que a ação do Sol diminui conforme as distâncias aumentam, e essa ação se fortalece quando as distâncias diminuem, gerando uma velocidade maior e um tempo menor quando o planeta está próximo ao Sol (pois este o está mais intensamente atraindo), e uma velocidade menor e tempo maior quando o planeta está mais afastado do Sol (pois o planeta sofre uma ação menos intensa da força magnética do Sol). Isso traz a questão para as forças naturais, pois como Kepler mesmo escreve: Finalmente, em nenhum desses casos vistos, a mente, através de suas faculdades animais, as quais agiriam sobre a constante direção do eixo magnético, tem a condição de inclinar o eixo na continuação dos séculos. Mas se em nenhum desses casos isso ocorre, nem mesmo a ideia geral de mente pode ocorrer, então contentemo-nos com a natureza, a qual está em conformidade com todos os outros efeitos (Kepler, 1937 [1609], p. 364). O raciocínio de Kepler é que, como é possível encontrar uma proporcionalidade para as relações dos movimentos planetários, é possível determinar racionalmente uma causa natural. Kepler afasta-se, assim, das hipóteses animistas, tais como o recurso a inteligências planetárias ou faculdades animais e outros termos semelhantes. O CARÁTER EXPLICATIVO DAS HIPÓTESES ASTRONÔMICAS A partir da apresentação do processo de elaboração kepleriano para as duas primeiras leis dos movimentos planetários, algumas perguntas podem ser sugeridas. Em primeiro lugar, que tipo de concepção de ciência está subjacente a esse processo? Que estatuto Kepler dá para os elementos de que ele dispunha; ou seja, qual é o papel das observações, das hipóteses de - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 53 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 55 trabalho, das concepções teóricas e das teses axiológicas e metafísicas por ele aceitas? Finalmente, como ele trata metodologicamente todos esses elementos? Como resposta a essas questões, apresentamos as principais teses envolvidas no trabalho de obtenção das duas primeiras leis dos movimentos dos planetas. Podemos listar, a partir dos resultados dados na segunda seção deste artigo, as "ferramentas" utilizadas por Kepler nesse processo de elaboração de suas leis: (1) Em primeiro lugar, está a aceitação das hipóteses copernicanas de centralidade do Sol e de movimento da Terra; (2) a seguir, temos o uso dos dados observacionais de Brahe, que serviram como base para o teste de hipóteses; (3) o método kepleriano, que se concentra nos seguintes aspectos: (a) estipulação de hipóteses de caráter físico, isto é, que não sejam apenas hipóteses no sentido instrumentalista (artifícios para adequar os dados ao axioma platônico), mas que remetam às características físicas e dinâmicas presentes nos movimentos dos planetas, bem como o teste das hipóteses sobre a verdadeira forma das órbitas planetárias; (b) utilização de analogias como modo de dar plausibilidade à hipótese física da centralidade do Sol, sendo a mais importante o uso da força magnética, proposta anteriormente por Gilbert, para postular a ação da força exercida pelo Sol nos planetas; (4) uso dos artifícios geométricos (apenas durante o processo de obtenção das leis, isto é, como recursos que foram importantes para a aproximação com o modelo final de astronomia física), tais como o equante, o epiciclo, o deferente etc.; (5) estipulação de hipóteses de trabalho (hipóteses auxiliares): hipótese vicária, lei das distâncias; hipótese das superfícies e elipse auxiliar; (6) aceitação de que a astronomia pode considerar os aspectos físicos e dinâmicos envolvidos. Um exame atento desses aspectos mostra-nos o modo kepleriano de construir a ciência e conduz-nos a pensar algumas coisas. Inicialmente, podemos caracterizar a explicação de Kepler alicerçada nas seguintes teses: (1) os movimentos planetários são causados pela ação de uma força magnética central; (2) a causalidade se resume à causa eficiente; - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 54 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 56 (3) o universo físico é racional (isto é, o mundo físico - distintamente do platonismo - é objeto de pesquisa, pois não se deve vê-lo como objeto que transcende a capacidade humana de compreensão); (4) a astronomia deve ser tanto explicativa quanto preditiva; (5) o universo deve ser interpretado realisticamente. A partir disso, as principais teses epistemológicas keplerianas são: (1) as faculdades cognitivas humanas (a razão natural) podem compreender e expressar o mundo celeste, seja sob o ponto de vista físico (explicação), seja sob o ponto de vista matemático (descrição); (2) a experiência é básica para a obtenção do conhecimento, pois os dados observacionais são uma parte, uma expressão, da estrutura real do universo; contudo, devem ser entendidos mediante a análise conceitual das regularidades operada pela razão; E, finalmente, temos a seguinte tese metodológica: (1) visto que o intelecto e a experiência mantêm uma relação (isto é, o conhecimento é um conjunto composto pela parte empírica, que determina os dados, e esses devem ser entendidos pelo intelecto), os meios para obter conhecimento devem ser o de formulação de hipóteses, as quais têm um estatuto realista e não instrumentalista, ou seja, são hipóteses acerca das causas físicas dos movimentos. Assim, chegamos ao ponto principal deste artigo: o método kepleriano para a astronomia alicerça-se no processo de elaboração de hipóteses. Kepler sempre teve como meta a descrição da realidade do mundo celeste, e a ordenação copernicana é o sistema que expressa essa realidade; porém, o seu realismo não é de cunhoapriorista, mas o conhecimento constrói-se de acordo com as informações que as observações determinam. Acerca do estatutodas hipóteses astronômicas, Kepler comenta o prefácio do De revolutionibus de Copérnico, prefácio escrito, como mostrou Kepler, por Osiander: Eu conheço a opinião de que as hipóteses não são artigos sobre os fatos, mas bases para cálculos, de maneira que, mesmo que elas forem falsas, não se deve rejeitá-las, desde que elas concordem com os movimentos aparentes. (...) Parece-me que nessas palavras do autor ocorre um claro equívoco sobre a palavra "hipótese". Pois, algumas hipóteses descritas acima são, assim falando, pequenas alterações, sendo errado considerá-las como hipóteses, sendo que outras são - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 55 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 57 verdadeiramente hipóteses astronômicas. Assim, quando no exemplo de Osiander, nos determinamos e relatamos a parte do círculo planetário a qual está ligada à metade do círculo do zodíaco, é errado considerá-la como hipótese e ela não pode ser verdadeira ou falsa. Mas, quando procuramos um método para calcular a ascensão ou descensão de um planeta nas partes desiguais, podemos chegar a isso de várias formas e, assim, construímos hipóteses com o propósito de determinar o que é primeiro: uns localizando o centro do círculo no centro do mundo, outros colocando um epiciclo em um concêntrico. Mas essas, de fato, não são hipóteses astronômicas, mas, sim, geométricas. Portanto, se algum astrônomo diz que o caminho [órbita] da Lua tem uma forma oval, temos uma hipótese astronômica. Mas, por outro lado, quando ele procura construir essa forma através de círculos, ele está se utilizando de hipóteses geométricas (...). Nenhuma dessas coisas [a opinião de Osiander] pode ser tomada seriamente quando nós conhecemos a natureza e diversidade das hipóteses (Kepler apudJardine, 1979, p. 164-5). As hipóteses astronômicas não são geométricas, mas físicas (cf. Tossato, 2008). Isso fica claro quando recorremos ao processo de obtenção das leis descrito na segunda seção deste artigo. Kepler, após ter obtido a segunda lei, não utiliza a circularidade e a uniformidade como um axioma, mas toma essas qualidades como uma suposição e as nega quando as predições dos movimentos dos planetas, feitas a partir da circularidade e uniformidade, não concordam com a pequena margem de erros dos dados de Tycho Brahe. Isto é, o processo é hipotético e o caráter da hipótese vai depender do objetivo a que serve essa hipótese. Assim a hipótese é matemática quando o objetivo é simplesmente calculatório ou representacional (descritivo) e a hipótese é física quando o objetivo é explicativo. As hipóteses físicas na astronomia, Kepler denomina hipóteses astronômicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DESTE TEXTO Aiton, E. J. Kepler's second law of planetary motion. Isis, 205, p. 75-90, 1969. [ Links ] ______. Infinitesimals and the area law. Vistas in Astronomy, 18, p. 585-6, 1975. [ Links ] ______. Kepler's path to the construction and rejection of his first oval orbit for Mars. Annals of Science, 39, p. 173- 90, 1978. [ Links ] Caspar, M. Kepler. New York: Dover Publications, 1959. [ Links ] Caspar, M. & von Dick, W. (Ed.). Gesammelte Werke. Munich: C. H. Beck'sche Verlagsbuchhandlung, 1937-1975. 23 v. [ Links ] Dreyer, J. L. E. A history of astronomy from Thales to Kepler. New York: Dover Publications, 1953. [ Links ] Euclides. The thirteen books of the elements. Tradução T. L. Heath. New York: Dover Publications, 1956. 3 v. Gilbert, W. On the loadstone and magnetic bodies. New York: Dover Publications, 1958 [1600] [ Links ]. Jardine, N. The forging of modern realism: Clavius and Kepler against the sceptics. Studies in History and Philosophy of Science, 10, 2, p. 141-73, 1979. [ Links ] - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 56 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 58 Kepler, J. Astronomia nova. In: Caspar, M. & von Dick, W. (Ed.). Gesammelte Werke. Munich: C. H. Beck'sche Verlagsbuchhandlung, 1937 [1609]. v. 3. [ Links ] ______. Mysterium cosmographicum, In: Caspar, M. & von Dick, W. (Ed.). Gesammelte Werke. Munich: C. H. Beck'sche Verlagsbuchhandlung, 1938 [1596]. v. 1, p. 1-80. [ Links ] Koyré, A. La révolution astronomique. Paris: Hermann, 1961. [ Links ] Lorenzano, P. & Miguel, H. (Ed.). Filosofia e historia de la ciencia en el cono sur. Buenos Aires: Editorial CCC Educando, 2008. [ Links ] Martens, R. Kepler's philosophy and the new astronomy. Princeton: Princeton University Press, 2000. [ Links ] Simon, G. Kepler, astronome astrologue. Paris: Gallimard, 1979. [ Links ] Small, R. An account of the astronomical discoveries of Kepler. Madison: The University of Wisconsin Press, 1963. Stephenson, B. Kepler's physical astronomy. New York: Springer Verlag, 1987. [ Links ] Tossato, C. R. O processo de elaboração das duas primeiras leis keplerianas dos movimentos planetários. São Paulo, 1997. Dissertação (Mestrado em Filosofia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. [ Links ] _______. Os primórdios da primeira lei dos movimentos planetários na carta de 14/12/1604 de Kepler a Mästlin.Scientiae Studia, 1, 2, p. 195-206, 2003. [ Links ] ______. Discussão cosmológica e renovação metodológica na carta de 09/12/1599 de Brahe a Kepler. Scientiae Studia, 2, 4, p. 537-65, 2004. [ Links ] ______. O realismo kepleriano das hipóteses astronômicas. In: Lorenzano, P. & Miguel, H. (Ed.). Filosofia e historia de la ciencia en el cono sur. Buenos Aires: Editorial CCC Educando, 2008. p. 525-33. [ Links ] Voelkel, J. R. The composition of Kepler's "Astronomia nova". Princeton: Princeton University Press, 2001. Wilson, C. Kepler's derivation of elliptical path. Isis, 59, p. 5-25, 1968. [ Links ] ______. How did Kepler discover his first two laws? Scientific American, 226, p. 92-106, 1972. [ Links ] ______. Kepler's ellipse and area rule - their derivation from fact and conjecture. Vistas in Astronomy, 18, 1975. Notas: 1 O leitor interessado no processo de elaboração das duas primeiras leis de Kepler poderá consultar, principalmente, Small (1963), que representa umas das primeiras tentativas de reconstrução do itinerário kepleriano; Caspar (1959), Dreyer (1953), Koyré (1961) e Simon (1979) são clássicos, que muito influenciaram na compreensão do pensamento de Kepler no século xx; destacam-se também os diversos trabalhos de Aiton (1969, 1975, 1978) e de Wilson (1968, 1972, 1975) que, com riqueza de detalhes, mostram-nos os aspectos técnicos envolvidos na elaboração da primeira e da segunda leis; recentemente, temos os trabalhos de Stephenson (1987), Martens (2000) e Voelkel (2001) e estes são somente alguns dos comentadores que tratam dessa questão. 2 Já no Mysterium cosmographicum de 1596, Kepler defendia o copernicanismo dando vários argumentos a seu favor, como, por exemplo, "Minha confiança foi primeiramente estabelecida pela magnífica concordância de tudo que é observado nos céus com a teoria de Copérnico; visto que ela não apenas derivou movimentos passados (...), mas também previu movimentos futuros (...). Entretanto, o que é mais importante é que daquilo que os outros nos ensinaram como sendo milagre, apenas Copérnico deu-nos a explicação." (Kepler, 1938 [1596], p. 14-5). Porém, de- ve-se ressaltar que em 1596 Kepler não dispunha dos dados de Brahe, a quem só conhecerá pessoalmente em 1600. Os dados de Brahe, os mais precisos até então, permitirão a Kepler, naobra de 1609, defender o copernicanismo de modo muito mais contundente. 3 O leitor encontrará no final deste artigo um pequeno glossário dos termos astronômicos aqui referidos. 4 O significado da palavra "vicária" é aquele que faz as vezes de outrem ou de outra coisa. Por essa significação, pode-se entender que a hipótese vicária faz-se passar por outra, isto é, pela hipótese física, a segunda lei dos movimentos planetários. 5 Brahe foi extremamente importante para Kepler. Ele não só forneceu dados mais precisos, sem os quais dificilmente Kepler chegaria às duas primeiras leis, como deixou clara, por contraste, a concepção de método que estipula o conhecimento pelos efeitos e não pelas causas (cf. Tossato, 2004). 6 A hipótese das superfícies tem uma história particular. Inicialmente, Kepler a calcula respeitando o axioma platônico, o que gera desvios apreciáveis; porém, quando ela é aplicada à forma elíptica, isto é, quando Kepler obtém, após a segunda lei, a primeira lei, esses desvios desaparecem. 7 "Os triângulos e paralelogramos, que têm a mesma altura, estão entre si como suas bases" (Euclides, 1956, v. 2, p. 191, Livro 6, proposição 1). - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 57 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 59 8 "Composição de uma razão significa tomar o antecedente juntamente com o consequente como um em relação ao consequente em si mesmo" (Euclides, 1956, v. 2, p. 134-5, Livro 5, definição 14). 9 "Razão alternada significa tomar o antecedente com relação ao antecedente e o consequente com relação ao consequente" (Euclides, 1956, v. 2, p. 132, Livro, definição 12). Aplica-se a definição 12 na proposição 16, do mesmo livro: "Se quatro magnitudes forem proporcionais, também serão proporcionais alternadamente" (p. 164-5). 10 A prova de que as órbitas são elípticas contém uma riqueza de detalhes e de demonstrações geométricas. O capítulo 59 da Astronomia nova que apresenta a prova contém 15 proposições voltadas para a prova geométrica de que a elipse é a forma do movimento de Marte e dos outros planetas (cf. Koyré, 1961; Tossato, 1997). Também é importante ressaltar que a hipótese das superfícies adquire o estatuto de lei na proposição 15 do capítulo 59. GLOSSÁRIO ASTRONÔMICO A seguir, são apresentados alguns dos termos mais importantes dentro do processo de obtenção das duas primeiras leis dos movimentos planetários, tal como exposto neste artigo. Anomalia (Excêntrica e Verdadeira): Ângulos que permitiam calcular as posições de um astro em movimento em função dos pontos característicos da linha das apsides. Na figura 3, A é o Sol, B é a excentricidade e G é um planeta; o ângulo CBG é a anomalia excêntrica e o ângulo GAC é a anomalia verdadeira. Anomalia mediana: É uma antiga medida de tempo que determina o ângulo formado pelo trajeto do corpo planetário ao longo do círculo excêntrico; isto é, um ângulo formado pela posição do planeta em relação à linha das apsides e ao centro do sistema. Na figura 3, a anomalia mediana é o ângulo AGB. Apsides, Linha das: Linha que contém os pontos mais extremos das órbitas. Na figura 3, CD é a linha das apsides. Equante (ou Punctum aequans): objetivava determinar ângulos iguais em tempos iguais, isto é, o planeta realizaria um movimento uniforme não mais sobre o centro do deferente, ou sobre o centro do círculo excêntrico, mas sobre o equante. Na figura 4, O é a Terra, C o centro do deferente, E o equante. A é o apogeu, II é o perigeu, K é o centro do epiciclo, P é um planeta. P perfaz um movimento uniforme e circular, salvando conjuntamente a primeira e a segunda desigualdades fazendo movimentos epicíclicos, tendo como centro do movimento o ponto E, que é um ponto fictício (geométrico). Desta forma, tendo E como centro, o planeta move-se com velocidade angular constante. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 58 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 60 Epiciclo com Deferente: Artifícios matemáticos destinados a explicar as irregularidades dos movimentos planetários. O planeta realiza movimento circular ao longo do epiciclo, cujo centro realiza movimento circular sobre o círculo deferente, o qual contém o centro dos movimentos. Por esse mecanismo, pode-se representar todas as irregularidades e ajustá-las ao axioma platônico (cf. figura 5). Excentricidade: Distância entre o centro físico de movimentos e o ponto em que é medida a circularidade e uniformidade. Na figura 3, é a distância AB. Excentricidade bissectada: Excêntrico que contém um equante. Latitude: Coordenada eclíptica de um ponto da esfera celeste; distância angular desse ponto à eclíptica. Longitudes heliocêntricas: pontos (posições) dos planetas durante o seu percurso ao redor do Sol. Oposição: Ocorre quando dois corpos celestes estão a 180º um do outro, vistos da Terra, por exemplo, Marte está em oposição ao Sol quando entre eles está a Terra. Primeira desigualdade (ou primeira irregularidade): Irregularidade constatada observacionalmente, que mostra a inconstância dos períodos nos percursos dos corpos celestes. Por exemplo, a variação na intensidade de luz de um planeta, a inconstância nos períodos das estações etc. A primeira desigualdade expressa a não uniformidade dos movimentos dos planetas. Quadrante: O círculo excêntrico é dividido em quatro partes, a partir da excentricidade, cada parte é um quadrante. Quando se divide em oito partes, cada parte chama-se Octante. Segunda desigualdade (ou segunda irregularidade; movimento retrógrado): Irregularidade constatada observacionalmente, que mostra as inconstâncias nas trajetórias dos corpos celestes, isto é, os movimentos de retrogradação dos planetas. A segunda irregularidade expressa a não circularidade dos movimentos planetários. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 59 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 61 O SOL7 O Sol é a nossa fonte de energia e luz. Pela proximidade com a Terra, ele se torna a estrela de interesse mais imediato para nós e a de mais fácil estudo. De uma forma geral, é uma esfera gigante de gás incandescente, alimentada por reações termonucleares que ocorrem no núcleo. A Fig.1 mostra de forma esquemática as principais regiões solares. A fotosfera (photosphere) possui cerca de 400 km de espessura e temperatura da ordem de 5800 K, sendo a camada mais visível. Abaixo da fotosfera se encontra a zona convectiva (convection zone), compreendendo cerca de 15% do raio solar. Abaixo da zona convectiva se localiza a zona de radiação (radiative zone) onde, como o próprio nome já diz, a energia é transportada por radiação. A energia solar é produzida no núcleo (core) por reações termonucleares, a 107 K. Logo acima da fotosfera está a cromosfera (chromosphere), de cor avermelhada e visível apenas durante eclipses. Essa camada se estende por 104 km acima da fotosfera e sua temperatura aumenta da base para o topo, apresentando um valor médio de 15000 K. Por fim, acima da cromosfera se encontra a coroa (corona), que se estende por aproximadamente dois raios solares [5,6]. A fotosfera possui uma aparência granulada, fenômeno conhecido como granulação fotosférica. Os grânulos refletem os topos das colunas convectivas de gás quente que se formam na região convectiva. As zonas mais escuras entre os grânulos são regiões onde o gás mais frio e mais denso escoa para baixo [2]. Nessa região também são formadas as manchassolares, regiões que se mostram mais escuras que o restante da camada. As manchas estão associadas a intensos campos magnéticos e seguem um ciclo de aproximadamente 11 anos, onde sua ocorrência varia entre máximos e mínimos [2,6,7]. 7 Trecho de um texto científico, publicado na Revista do Ensino de Física (Rev. Bras. Ensino Fís. vol.33 no.4 São Paulo out./dez. 2011), O vento solar e a atividade geomagnética. Autoria de E. Costa Jr. (Instituto Federal de Minas Gerais, Ouro Preto, MG, Brasil), F.J.R. Simões Jr. (Departamento de Física, Fundação Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil), F.R. Cardoso e M.V. Alves (Laboratório Associado de Plasma, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, SP, Brasi). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172011000400001&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 19 fev. 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 60 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 62 Por emitir radiação muito mais fraca que a fotosfera, a cromosfera não é visível a olho nu, a não ser durante eclipses solares totais, onde o intenso brilho da fotosfera é ofuscado pela Lua. Possui uma aparência ondulada por causa da presença de estruturas chamadas espículas, jatos de gás que se elevam a até 104 km acima da borda e duram poucos minutos. As temperaturas nessa camada variam entre cerca de 4300 K na base e mais de 40000 K no topo [5]. Acredita-se que a fonte de energia para esse aumento de temperatura sejam campos magnéticos variáveis formados na fotosfera e transportados para a coroa por correntes elétricas, perdendo parte de sua energia na cromosfera. Acima se encontra a coroa, que possui temperaturas da ordem de 106 K. A fonte de energia da coroa provavelmente é a mesma da cromosfera; transporte de energia por correntes elétricas induzidas por campos magnéticos variáveis. Nessa região se encontram os buracos coronais, regiões mais escuras da coroa e que estão associados a linhas de campo "abertas", semelhantes às regiões polares da Terra. Em épocas de baixa atividade solar os buracos coronais - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 61 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 63 se confinam em regiões de altas latitudes, enquanto em períodos ativos ocorrem também em latitudes menores. Dessas regiões emana o vento solar rápido [8]. Sabe-se que a potência emanada do Sol é de cerca de 4 x 1024 Watts.2 Já no século IXX os astrônomos sabiam que essa energia não poderia ser gerada por combustão. Em 1937 Hans Albrecht propôs a fonte aceita para a energia do Sol, as reações termonucleares, onde basicamente quatro prótons são fundidos em um núcleo de hélio, liberando energia. O Sol possui hidrogênio para alimentar essas reações por bilhões de anos e, à medida que diminui a quantidade de hidrogênio no núcleo, aumenta a quantidade de hélio [5, 6]. O VENTO SOLAR O vento solar é um fluxo de partículas ionizadas, predominantemente núcleos de hélio ionizados e elétrons. É resultado da enorme diferença de pressão entre a coroa solar e o espaço interplanetário, sendo empurrado para longe do Sol apesar da grande atração gravitacional que sofre. Como o gradiente de pressão decresce com o inverso da distância radial, mais lentamente que a atração gravitacional que decresce com o inverso do quadrado da distância, o vento é acelerado a velocidades muito altas, da ordem de centenas de quilômetros por segundo [2]. Por possuir uma origem muito complexa e pela inexistência de medidas in situ, ainda restam muitas lacunas a serem preenchidas sobre a geração do vento solar. Diferente de outras áreas da física, o conhecimento de suas propriedades é mais baseado em observações do que em fundamentação teórica. Porém, na órbita da Terra suas características são bem conhecidas. Sua velocidade e densidade médias nessa região são de 400 km/s e 5 partículas/cm3, aproximadamente. Apresenta um campo magnético de cerca de 5 nano Tesla (nT) com uma configuração espiralada [1]. Devido à sua constante expansão, suas características são bastante variáveis a depender da região do espaço sob análise. Por exemplo, as colisões entre íons e elétrons na região da coroa são bastante comuns, enquanto no espaço interplanetário elas são extremamente raras. Além disso, suas características variam muito de acordo com a atividade solar e de acordo com a região do Sol de onde os feixes são provenientes [6]. Em relação à região geradora, o vento pode ser dividido em vento solar rápido e vento solar lento. O vento rápido é originado nos buracos coronais, regiões mais frias e menos densas - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 62 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 64 da coroa solar, podendo atingir picos de velocidade da ordem de 900 km/s. Estão associados a linhas de campo magnético "abertas", semelhantes às de um polo magnético, facilitando assim o escapamento das partículas carregadas. Já o vento lento se origina em regiões de baixas latitudes, mais próximas ao equador do Sol, atingindo velocidades da ordem de 300 km/s. Em geral o vento solar lento é mais denso e apresenta um comportamento mais irregular [9]. Sendo o vento solar um plasma altamente condutor, ele transporta consigo as linhas de campo magnético do Sol. Esse fenômeno é conhecido como "congelamento" das linhas de campo magnético. Para entendê-lo melhor, consideremos a seguinte equação que descreve a variação temporal de um campo magnético no interior de um plasma onde u é a velocidade média das partículas do plasma e ηm é a viscosidade magnética, dada por ηm = 1/μoσ0, sendo μ0 a permeabilidade magnética do vácuo e σ0 a condutividade elétrica do meio. Essa equação pode ser obtida combinando-se a equação da lei de Ohm generalizada com as equações das leis de Faraday e da lei de Ampère em sua forma reduzida (sem o termo da corrente de deslocamento), além da identidade vetorial O primeiro termo do segundo membro da Eq. (1) é chamado termo de fluxo do campo magnético, enquanto o segundo termo é conhecido como termo de difusão. Para comparar qual desses termos e mais importante em cada tipo de plasma, consideremos a análise dimensional de cada um deles, aproximadamente onde L denota algum comprimento característico para a variação dos parâmetros envolvidos. A razão entre o termo de fluxo e o termo de difusão é chamado número magnético de Reynolds e é dado por - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 63 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 65 Em muitos tipos de plasmas Rm é muito grande ou muito pequeno se comparado à unidade. Se Rm << 1o termo de difusão domina e a Eq. (1) se reduz à equação de difusão do campo magnético Nos plasmas onde Rm >> 1o movimento relativo entre o campo e as partículas é completamente diferente. Nesse caso, o termo de fluxo é dominante em relação ao termo de difusão e a Eq. (1) se reduz a Essa equação significa que em um plasma de alta condutividade as linhas de campo magnético se movem juntamente com o fluido, "congeladas", ao invés de simplesmente se difundirem pelo plasma como no caso da Eq. (5). Assim, o campo magnético interplanetário nada mais é do queuma expansão do campo magnético solar. Devido a esse "congelamento" e ao fato do Sol apresentar uma rotação diferenciada em relação a diferentes latitudes, o aspecto do campo magnético se torna espiralado, como mostrado na Fig. 2. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 64 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 66 Entretanto, em sua viagem o vento solar encontra localmente obstáculos à sua propagação, que não chegam a influenciar sua dinâmica global. Campos magnéticos que se manifestam na forma de magnetosferas planetárias funcionam como escudos à sua penetração [3]. No caso específico da Terra, a interação vento solar-magnetosfera deforma a configuração normal do campo magnético terrestre, criando várias regiões distintas de plasma e gerando várias perturbações em seu interior na forma de atividades magnéticas. Essas atividades são reflexo da maior ou menor entrada de partículas/energia na magnetosfera, se manifestando na forma de tempestades e subtempestades magnéticas, por exemplo [8]. AURORAS Vários fenômenos celestes têm sido observados e admirados ao longo da história humana, mas poucos causaram tanta fascinação, espanto e medo como as auroras. Também chamadas de luzes do norte e luzes polares, certamente estão entre os fenômenos mais espetaculares da natureza e, por serem visíveis a olho nu, constituíram a primeira manifestação constatada da interação vento solar-magnetosfera. São a assinatura óptica da precipitação de partículas carregadas e suas interações com os constituintes atmosféricos [2, 6]. A maior incidência das auroras acontece nas regiões chamadas ovais aurorais, que são duas regiões de formato oval em volta dos polos geomagnéticos. As partículas características que produzem as auroras possuem energias de menos de 100 eV a algumas centenas de keV, penetrando na atmosfera e causando excitação e ionização das partículas atmosféricas. Próximo à Terra, essas partículas são encontradas principalmente em latitudes magnéticas maiores que 55°, em ambos os hemisférios [11]. Durante períodos de baixa atividade solar as auroras se concentram em maiores latitudes, enquanto que em períodos muito ativos elas ocorrem também em latitudes medias. O espectro gerado pelas auroras e constituído por várias linhas e bandas de emissão, com comprimentos de onda do ultravioleta ao infravermelho. As partículas que se precipitam perdem parte da energia cinética através de colisões, excitando os constituintes atmosféricos. Quando esses constituintes decaem para estados menos energéticos, ou para o estado fundamental, a diferença de energia entre os dois estados envolvidos na transição e liberada na forma de fótons, gerando assim radiação no visível, infravermelho e ultravioleta. Dessa forma, as - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 65 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 67 linhas e bandas de emissão geradas pelas auroras podem ser usadas para o estudo das partículas atmosféricas, uma vez que cada átomo ou molécula diferente possui espectros de emissão diferentes [2, 6, 8]. Em geral, a radiação de uma aurora e proporcional à energia das partículas que se precipitam, enquanto a altura em que as auroras ocorrem e relacionada às energias e também ao ângulo de arremesso das partículas,5 além de depender também da composição atmosférica [8,12]. Estudos feitos já na década de 50 mostraram que as auroras ocorrem predominantemente entre 95 e 105 km de altura, embora algumas aconteçam até mesmo a mais de 500 km acima da superfície do planeta. Em média, as auroras diurnas se dão em alturas entre 100 e 200 km maiores que as auroras noturnas [2]. Isso se deve ao fato do maior bloqueio imposto pelo campo magnético no lado diurno, dificultando uma penetração mais profunda na atmosfera. RADIAÇÃO QUILOMÉTRICA AURORAL-AKR A magnetosfera da Terra é um emissor natural de ondas eletromagnéticas. Emissões intensas de ondas de rádio ocorrem em aproximadamente algumas centenas de kHz. Uma vez que o comprimento de onda dessa radiação e da ordem de quilômetros, foi chamada inicialmente de Radiação Quilométrica Terrestre (TKR, do inglês Terrestrial Kilometric Radiation), recebendo posteriormente a denominação Radiação Quilométrica Auroral (AKR, do inglês Auroral Kilometric Radiation), por estar intimamente relacionada à aceleração de elétrons na região auroral [16, 17]. A radiação só foi descoberta nas últimas décadas, pois suas frequências são blindadas pela ionosfera, só podendo ser detectada por satélites ou espaçonaves. Apesar de ser a mais intensa, a AKR não e a única emissão de ondas da magnetosfera. Devido às várias regiões distintas, caracterizadas por condições particulares de campo magnético, temperatura de plasma, densidade de partículas etc., a magnetosfera terrestre possui várias outras emissões de ondas, tanto eletrostáticas quanto eletromagnéticas [16]. A AKR é gerada por elétrons que se precipitam na parte noturna da magnetosfera terrestre, a distâncias relativamente pequenas da Terra, ocorrendo em rajadas que duram por - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 66 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 68 períodos de meia hora até várias horas. A sua ocorrência está relacionada com a ocorrência de auroras [18, 19]. Ambos os fenômenos, AKR e auroras, se originam da interação entre o vento solar e a magnetosfera, representando as etapas finais de um processo de liberação explosiva de energia acumulada na cauda geomagnética. De uma forma geral, a radiação se origina em altitudes não muito grandes, provavelmente a distâncias radiais que não ultrapassam três raios terrestres, com frequências entre aproximadamente 20 e 800 kHz e atinge picos de intensidade em frequências próximas a 250 kHz. As fontes são mais comumente encontradas por volta de 22 MLT6(hora magnética local) e 70° de latitude, tanto no hemisfério norte quanto no sul [20,21]. A potência total estimada que e liberada pela AKR atinge picos da ordem de 109 W, sendo comparada com a máxima potência dissipada pela precipitação de partículas aurorais, da ordem de 1011 W. Isso indica uma eficiência de conversão de energia da ordem de 1%, fazendo da mesma uma emissão extremamente intensa [17]. Por essa razão, a blindagem proporcionada pela ionosfera e providencial, uma vez que uma fonte de rádio com uma potência equivalente à de uma grande usina hidroelétrica dirigida diretamente para a superfície terrestre comprometeria de forma drástica as comunicações no intervalo de frequências de rádio em todo o planeta. REFERÊNCIAS [1] G.K. Parks, Physics of Space Plasmas: An Introduction (Addison-Wesley Company, Cambridge, 1991). [2] M.G. Kivelson and C.T. Russell, Introduction to Space Physics (Cambridge University Press, Cambridge, 1995). [3] E. Echer, Revista Brasileira de Ensino de Física 32, 2301 (2010). [ Links ] [4] W.H. Campbell, Introduction to Geomagnetic Fields (Cambridge University Press, Cambridge, 1997). [5] K.S. Oliveira Filho and M.F. Saraiva, Astronomia e Astrofísica (Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000). [ Links ] [6] S.I. Akasofu and S. Chapman, Solar Terrestrial Physics (Oxford University Press, Oxford, 1997). [ Links ] [7] L.F. Burlaga, Interplanetary Magnetohydrodynamics (Oxford University Press, Oxford, 1995). [ Links ] [8] J.K. Hargreaves, The Upper Atmosphere andSolar-Terrestrial Relations (Van Nostrand Reinhold Co. Ltd, Edinburgh, 1979). [ Links ] [9] C.T. Russell, Solar Wind and Interplanetary Magnetic Fields: A Tutorial, disponível em http://www- spc.igpp.ucla.edu/ssc/tutorial/solwind_interact_magsphere_tutorial.pdf. Acesso em 19/10/2009. [ Links ] [10] G.K. Parker, Parker Spiral, disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Parker_spiral . Acesso em 6/11/2009. [11] C.T. Russell, The Solar Wind Interaction with the Earth Magnetic Field, disponível em http://www- spc.igpp.ucla.edu/ssc/tutorial/solwind_interact_magsp\here_tutorial.pdf. Acesso em 4/11/2009. [ Links ] [12] W.D. Gonzalez, B.T. Tsurutani and A.L. Gonzalez, Space Science Reviews 88, 529 (1999). [ Links ] [13] R.J. Strangeway, R.E. Ergun, C.W. Carlson, J.P. Mc-fadden, G.T. Delory and D.L. Pritchett, Journal of Geophysical Research 26, 145 (2001). [ Links ] [14] T.N. Davis and M. Sugiura, Journal of Geophysical Research 7, 785, (1966). [ Links ] [15] A. Morioka, Y. Miyoshi, T. Seki, F. Tsushiya, H. Misawa, H. Oya, H. Matsumoto, K. Kashimoto, T. Mukai, K. Yumoto and T. Nagatsuma, Journal of Geophysical Research bf 108, 309 (2003). [ Links ] - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 67 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 69 [16] P. Zarka, Journal of Geophysical Research 82, 20159 (1998). [ Links ] [17] D.A. Gurnett, Journal of Geophysical Research 79, 4227 (1974). [ Links ] [18] D.L. Gallagher and N. D'Angelo, Geophysical Research Letters 8, 1087 (1981). [ Links ] [19] K. Liou, C.I. Meng, A.T.Y. Lui and P.T. Newell, Journal of Geophysical Research, 1005, 25,325 (2000). [20] R. Ergun, C.W. Carlson, J.P. Mcfadden, G.T. Delory, R.J. Strangeway and P.L. Pritchett, The Astrophysical Journal 538, 456 (2000). [ Links ] [21] G.R. Voots, D.A. Gurnett and S.I. Akasofu, Journal of Geophysical Research 82, 2259 (1977). [ Links ] [22] B.T. Tsurutani and W.D. Gonzalez, Planetary and Space Science 35, 405 (1987). [ Links ] [23] W.D. Gonzalez, B.T. Tsurutani and A.L.C. Gonzalez, Planetary and Space Science 35, 1101 (1987). [24] E. Costa Jr., F.R. Cardoso, F.J.R. Simoães Jr. e M.V. Alves, Revista Brasileira de Ensino de Física 33, 2302 (2011). NOTAS: 2 Essa energia corresponde à energia liberada por 40.000.000.000.000.000.000.000! lâmpadas de 100 W ligadas ao mesmo tempo (4 x 1022 lâmpadas). 3 A velocidade característica do meio interplanetário é a velocidade magnetosônica, dada pela expressão , onde VA é a velocidade de Alfvén e VS é a velocidade do som. A velocidade de Alfvén é dada por sendo B a magnitude do campo magnético ambiente, μo; a permeabilidade magnética do vácuo e pm a densidade de massa do plasma. 4 Sistema de correntes que flui nas camadas D e E da ionosfera auroral. 5 Ângulo de arremesso α- ângulo entre a velocidade da partícula e o campo magnético ambiente. Em função das componentes perpendicular e paralela da velocidade da partícula em relação ao campo magnético, pode ser expresso por α = arcsen(v┴/v) = arctan(v┴/v║). Menores valores de α implicam em maior probabilidade da partícula se precipitar, escapando do efeito de garrafa magnetica imposta pelo campo geomagnético. 6 MLT - Magnetic Local Time é baseada no sistema de longitude magnética, que não rotaciona com a Terra. 12 MLT é definida pelo meridiano magnético que recebe a maior quantidade de radiação solar. Os meridianos magnéticos se encontram nos polos magnéticos, ao contrário dos meridianos geográficos, que se encontram nos polos geográficos. 7 Ondas de Alfvén são ondas transversais que se propagam em magnetoplasmas. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 68 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 70 ECLIPSES OS ECLIPSES DO SOL E DA LUA8 Palavra de origem grega que significa “obscurecimento”, em Astronomia o eclipse é um fenômeno em que um astro deixa de ser visível, totalmente ou em parte, pela interposição de um outro astro entre ele e o observador, ou porque, não tendo luz própria, deixa de ser iluminado ao colocar-se no cone de sombra de outro astro. Em seu movimento orbital ao redor da Terra, a Lua, de vez em quando, projeta a sua sombra sobre a superfície da Terra. Este fenômeno é denominado de eclipse solar. Em outras ocasiões a sombra da Terra é interceptada pela Lua. Ocorre então o eclipse lunar. Como tanto a Terra como a Lua são menores que o Sol, as sombras projetadas por esses corpos têm a forma de cones. A parte mais escura da sombra é chamada de umbra. A parte menos escura da sombra é denominada de penumbra. REGIÕES DE SOMBRA: UMBRA E PENUMBRA A umbra é definida pelas tangentes diretas às superfícies do Sol e da Lua, no caso do eclipse solar, ou às superfícies do Sol e da Terra, no caso do eclipse lunar. A penumbra é definida pelas tangentes transversais às superfícies do Sol e da Lua, ou às superfícies do Sol e da Terra, nos eclipses solar e lunar, respectivamente. Figura 1a: Geometria do eclipse solar (fora de escala). 8 Trecho extraído de um texto publicado no site: http://www.ensinodefisica.net/astronomia.htm. Acesso em: 19 fev. 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 69 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 71 Figura 1b: Geometria do eclipse lunar (fora de escala). Como se pode observar, o eclipse solar ocorre somente quando é Lua Nova e o eclipse lunar ocorre somente quando é Lua Cheia. Mas os eclipses não ocorrem toda vez que é Lua Nova ou Lua Cheia. Devido à inclinação do plano orbital da Lua, de cerca de 5°, em relação ao plano da eclíptica, nem sempre ocorre o alinhamento Terra-Lua-Sol quando a Lua cruza o plano da eclíptica. Nessa configuração, desfavorável à ocorrência dos eclipses, a sombra da Lua na fase Nova não incide diretamente sobre a Terra e o eclipse solar não é observado. Nessas mesmas condições, na época da Lua Cheia, o eclipse lunar não ocorre, pois a Lua não se encontra dentro do cone de sombra da Terra. As figuras 2a e 2b a seguir ilustram algumas possíveis configurações do sistema Terra- Lua-Sol. Para um eclipse ocorrer, a linha de interseção do plano da órbita da Lua com o plano da eclíptica deve estar ao longo da linha Terra-Sol. Esta condição adicional reduz drasticamente o número de eclipses que pode ocorrer no período de um ano. Figura 2a: Configurações desfavorável e favorável, respectivamente, à ocorrência de eclipses. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 70 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 72 Figura 2b: Configurações desfavorável e favorável, respectivamente, à ocorrência de eclipses. OS ECLIPSES TOTAL, PARCIAL E ANULAR Diferentemente do eclipse lunar, que é simultaneamente visível de todas as partes da face da Terra em que é noite, o eclipse solar só pode ser visto de uma pequena região da face da Terra em que é dia. Somente as pessoas na Terra, que se encontram exatamente na região da umbra, observam o eclipse total. Figura 3: Eclipse total do Sol. Na região da penumbra, o eclipse é parcial e a parte obscurecida do Sol é cada vez menor, quantomais distante da região da umbra se encontra o observador. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 71 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 73 Figura 4: Eclipse parcial do Sol. Se a Lua se encontra muito distante da Terra no momento do eclipse, a umbra não alcança a Terra e não há região de totalidade. Nesse caso, um fino anel de luz pode ser observado ao redor da Lua. Este fenômeno é denominado eclipse anular. Figura 5: Eclipse anular. O eclipse lunar também pode ser parcial. Este fenômeno ocorre quando o alinhamento do Sol, Terra e Lua faz com que a sombra da Terra não cubra completamente a Lua. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 72 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 74 REFERÊNCIAS ALPERS, S. A arte de descrever. São Paulo, Edusp, 1999. BURTT, E. As bases metafísicas da ciência moderna. Brasília, Editora da UnB, 1983. BUTTERFIELD, H. As origens da ciência moderna. Lisboa, Edições 70, 1949. CASPAR, M. Kepler. Nova Iorque, Dover Publications, 1993. COPÉRNICO, N. As revoluções dos orbes celestes. Lisboa, Gulbenkian, 1984. COHEN, I. B. O nascimento de uma nova física. São Paulo, Edart, 1967. GALILEI, G. Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo, ptolomaico e copernicano. Trad., introd. e notas de P. R. Mariconda. São Paulo, Discurso Editorial/Fapesp, 2001. GLEISER, M. A dança do universo – dos mitos de criação ao Big-Bang. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. HALL, A. R. A revolução na ciência. Lisboa, Edições 70, 1983. KOESTLER, A. Os sonâmbulos. São Paulo, Ibrasa, 1961. KOYRÉ, A. La révolution astronomique. Paris, Hermann, 1961. _______. Do mundo fechado ao universo infinito. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1986a. _______. Estudos galilaicos. Lisboa, Dom Quixote, 1986b. MOURÃO, R. R. F. Dicionário enciclopédico de astronomia e astronáutica. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995. SIMAAN, A. & FONTAINE, J. A imagem do mundo dos babilônios a Newton. São Paulo, Companhia das Letras, 2003. VERDET, J. P. Uma história da astronomia. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1991. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 73