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ASTROFÍSICA Caro(a) aluno(a), A Faculdade Anísio Teixeira (FAT), tem o interesse contínuo em proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento. Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construtor melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente da Faculdade Anísio Teixeira (FAT). Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Setor Pedagógico Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 3 SUMÁRIO ASTROFÍSICA ..............................................................................................................................3 1609: DA ASTRONOMIA TRADICIONAL AO NASCIMENTO DA ASTROFÍSICA ..........4 CONCEITOS E EPISTEMOLOGIA DA ASTROFÍSICA .........................................................9 A VIA-LÁCTEA .......................................................................................................................13 SISTEMA DE COORDENADAS .............................................................................................15 COORDENADAS EQUATORIAIS ......................................................................................15 COORDENADAS GALÁTICAS ..........................................................................................17 DETERMINAÇÃO DE DISTÂNCIAS EM ASTRONOMIA ..................................................18 PARALAXE TRIGONOMÉTRICA ......................................................................................19 COSMOLOGIA ...........................................................................................................................21 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO COSMOLÓGICO E O NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA ...............................................................................................................................21 A COSMOLOGIA ARISTOTÉLICA ....................................................................................21 A CRISE DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO E A REVOLUÇÃO COPERNICANA ..23 GALILEU E KEPLER: O NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA ..............................26 A MECÂNICA E A TEORIA DA GRAVITAÇÃO DE NEWTON .....................................31 A ASTRONOMIA NOVA E A ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DE KEPLER ............35 O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DAS DUAS PRIMEIRAS LEIS ....................................39 A HIPÓTESE VICÁRIA .......................................................................................................39 A LEI DAS DISTÂNCIAS ....................................................................................................41 A HIPÓTESE DAS SUPERFÍCIES ......................................................................................44 O TESTE DO AXIOMA PLATÔNICO ................................................................................48 O TESTE DA ÓRBITA OVAL .............................................................................................49 A OBTENÇÃO DA PRIMEIRA LEI ....................................................................................50 FORÇA ...................................................................................................................................52 O CARÁTER EXPLICATIVO DAS HIPÓTESES ASTRONÔMICAS ..................................54 O SOL ...........................................................................................................................................61 O VENTO SOLAR ....................................................................................................................63 RADIAÇÃO QUILOMÉTRICA AURORAL-AKR .................................................................67 ECLIPSES ....................................................................................................................................70 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................74 - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 4 ASTROFÍSICA 1609: DA ASTRONOMIA TRADICIONAL AO NASCIMENTO DA ASTROFÍSICA1 Anastasia Guidi Itokazu2 O ano de 1609 foi decisivo na formação da imagem que hoje temos do universo. Foi nesse ano que Galileu apontou uma luneta para os céus dando início a uma série de observações que colocaram em xeque o geocentrismo tradicional. Foi também nesse ano que Kepler publicou sua Astronomia nova, inaugurando uma nova física celeste onde a Terra passava a ser, de fato, encarada como um planeta. A astronomia surgiu como uma ciência voltada a atividades práticas. Ainda na pré- história, o domínio da agricultura dependeu da compreensão do ciclo das estações do ano, determinado pelo movimento aparente do Sol. Esse tipo de conhecimento, indispensável na identificação do momento ideal para a preparação da terra, o plantio ou a colheita, aparece cristalizado nos monumentos de pedra de diversas culturas, de Stonehenge, na Grã-Bretanha, à pedra Intihuatana em Machu Picchu, no Peru. O tema é tratado pelo poeta grego Hesíodo (Séc. VI a.C.) na obra Os trabalhos e os dias (1), na qual, a exemplo do que se observa em textos da antiga Babilônia, o poeta associa cada tarefa agrícola a uma determinada posição do Sol em seu percurso anual ao longo do zodíaco. O conhecimento do movimento do Sol também tinha implicações práticas para os habitantes das cidades: na antiga Roma, esperava-se que um cidadão educado fosse capaz de planejar a construção de sua casa tendo em vista a incidência do Sol, de modo a obter conforto térmico ao longo do ano. Além do ciclo anual determinado pelo movimento do Sol, há também o ciclo percorrido pela Lua a cada 29 dias. É certo que a posição da Lua não afeta as condições climáticas, mas a evidente sucessão das fases lunares constituiu, desde muito cedo, uma importante forma de se marcar o tempo. Originalmente, os meses correspondiam a um ciclo completo da Lua, e as semanas que o compõem a cada fase lunar. Há, porém, dificuldades de conciliação entre os 1Texto publicado na Revista Ciência e cultura (Cienc. Cult. vol.61 no.4 São Paulo 2009). Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252009000400014&script=sci_arttext&tlng=es. Acesso em: 17 fev. 2013. 2 Anastasia Guidi Itokazu é física e bolsista Fapesp de pós-doutorado no Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 3 Este módulo deverá ser utilizado apenas comobase para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 5 ciclos do Sol e da Lua, pois o número de revoluções lunares completadas a cada ano não é um número inteiro. Esse problema matemático garantiu o ganha-pão de gerações de astrônomos, até que Júlio César, em 46 d.C., dissociasse os meses do ano do movimento da Lua com a introdução do calendário juliano. Quanto aos planetas, estes eram conhecidos como estrelas errantes devido à complexidade de seus percursos aparentes no céu. A descrição de seus movimentos ao redor da Terra tinha implicações para a astrologia e constituía um importante problema teórico, que não seria satisfatoriamente resolvido até o século II d.C. com o trabalho de Cláudio Ptolomeu (2;3;4). Alguns séculos antes, no tratado Sobre o céu (c. 350 a.C.), Aristóteles (5) havia proposto uma visão sobre a região celeste que dominaria o pensamento ocidental até o Renascimento. No livro, a Terra esférica ocupa o centro de um mundo organizado em camadas esféricas concêntricas, em uma estrutura semelhante a uma cebola. Cada astro estaria ligado a uma esfera ou, mais precisamente, a um conjunto de esferas. Essas esferas invisíveis seriam constituídas da mesma matéria que os astros, o éter, quinto elemento perfeito e incorruptível do qual era feita a região celeste. A teoria pressupunha um contraste rígido entre a região terrestre, onde corpos formados de combinações de água, fogo, terra e ar encontram-se em perpétua mudança - e não podem, de maneira alguma, ser submetidos a cálculos precisos - e a região celeste - onde corpos perfeitos e imutáveis feitos de éter descrevem seus movimentos periódicos e acessíveis à matemática com total regularidade. Aristóteles não nos legou uma teoria matemática dos movimentos celestes, mas sua cosmologia, com a organização do céu em esferas concêntricas e feitas de éter, exerceria uma enorme influência sobre a astronomia subsequente. Ao longo de toda sua história, a astronomia grega foi influenciada pela astronomia da Babilônia, e esse contato se intensificou especialmente a partir da invasão da região por Alexandre o Grande, em 331 a.C. A astronomia babilônica era então bastante desenvolvida do ponto de vista do registro de observações e da predição de regularidades nos movimentos dos astros, mas empregava, sobretudo, métodos aritméticos, que não se relacionavam com considerações sobre a estrutura do cosmos ou a matéria da qual seria feita a região celeste (6). Os gregos incorporaram os métodos matemáticos da astronomia da Babilônia à sua visão geométrica do cosmos, e, graças ao acesso a um amplo conjunto de observações, passaram a desenvolver - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 4 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 6 teorias cada vez mais refinadas nas quais composições de movimentos circulares eram empregadas para reproduzir os movimentos dos astros. Nesse cenário, as estrelas funcionavam como um sistema de referência. Chamadas fixas, porque suas posições relativas não se alteram com o tempo (pelo menos até onde podem detectar as observações feitas a olho nu), as estrelas constituíam o fundo estável com relação ao qual eram observados e registrados os movimentos da Lua, do Sol e dos planetas. Na cosmologia grega, as estrelas fixas encontravam-se presas à esfera mais externa do universo e, na verdade, descreviam um movimento simples, a rotação dos céus completada a cada 24 horas, que hoje atribuímos à Terra. Essa esfera também funcionava como limite do universo, e para além dela, segundo Aristóteles, não poderia haver nada, nem mesmo o vazio. No centro da esfera das estrelas fixas encontrava-se em repouso a Terra, centro do mundo, e no espaço intermediário o Sol, a Lua e os planetas, corpos de que, de fato, ocupava-se a astronomia, descreviam seus movimentos. É importante ressaltar que o arranjo geocêntrico corresponde exatamente àquilo que observamos na nossa experiência cotidiana: a Terra parada sob nossos pés e os astros girando à nossa volta. Cláudio Ptolomeu exerceu sua vida profissional na Escola Platônica de Alexandria. Sabe-se que ele teve acesso ao enorme acervo da biblioteca mais célebre da Antiguidade, inclusive a trabalhos astronômicos gregos que não chegaram até nós. O título de sua grande obra dedicada à astronomia, o Almagesto, deriva da tradução para o árabe do grego Megalé syntaxis, que significa Grande compilação. Ironicamente, o enorme sucesso do Almagestofoi indiretamente responsável pelo desaparecimento de trabalhos mais antigos, que deixaram de ser copiados uma vez que o livro de Ptolomeu resumia e ultrapassava todos os resultados obtidos anteriormente pelos astrônomos gregos. Com efeito, embora já houvesse teorias razoavelmente precisas para os movimentos do Sol e da Lua, atribuídas a Hiparco de Nicéia (Séc. II a.C.), foi somente com Ptolomeu que tornou-se possível calcular com precisão também os movimentos dos cinco planetas visíveis a olho nu e conhecidos à época: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno - vale lembrar que a Terra não era considerada um planeta, mas algo inteiramente distinto dos corpos celestes. A astronomia ptolomaica baseava-se em modelos geométricos, combinações de círculos que reproduziam os movimentos celestes observados e possibilitavam o cálculo das posições do Sol, da Lua e dos planetas em qualquer instante no tempo. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 5 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 7 O estudo da região celeste na tradição aristotélico-ptolomaica desdobrava-se, assim, em dois níveis: de um lado havia as explicações causais em termos da natureza da região celeste, que seria constituída de esferas concêntricas dispostas ao redor da Terra. Essas esferas, como os astros por elas transportados, eram formadas a partir de um quinto elemento, o éter, diferente de toda a matéria encontrada na região terrestre e naturalmente dotado de movimento circular. Por outro lado, havia os modelos ptolomaicos, constituídos de círculos que nem sempre tinham a Terra em seu centro e que, embora claramente procurassem expressar as revoluções das esferas celestes, acabavam por desviar-se dos preceitos de Aristóteles para corresponder, mais precisamente, às observações. O Almagesto permaneceu como a mais importante obra astronômica através de toda a Idade Média, ainda que seu elevado grau de detalhe tenha impedido sua utilização como livro- texto na universidade medieval. No mundo árabe, porém, o Almagesto foi meticulosamente estudado a partir do século IV d.C., criando-se um extenso debate em torno da relação entre as esferas da cosmologia aristotélica e os círculos da astronomia de posição ptolomaica. No Renascimento, o livro inspirou novas gerações de astrônomos, dentre os quais podemos destacar os defensores do heliocentrismo, Nicolau Copérnico e Johannes Kepler. Nicolau Copérnico provocou aquela que é provavelmente a maior revolução científica da história da humanidade ao propor que os movimentos dos planetas não são, na verdade, dispostos em torno da Terra, mas em torno do Sol, que no seu sistema ocupa o centro da esfera das estrelas fixas. Copérnico defende que a Terra se move ao redor do Sol completando uma rotação completa a cada ano, além de girar em torno de seu próprio eixo com um período de 24 horas. Essa ideia já havia sido proposta na Grécia Antiga, nos atesta Arquimedes no Contador de areia, por Aristarco de Samos. Não existe, no entanto, nenhuma evidência textual de que Copérnico tenha tido acesso às ideias de Aristarco,de modo que é impossível decidir se o seu trabalho influenciou ou não o sistema copernicano. A astronomia copernicana demorou para ser aceita, em parte porque entrava em conflito com alguns trechos das Escrituras, mas sobretudo porque era incompatível com a física da época. Se a Terra movia-se através dos céus, como explicar que não sentimos qualquer efeito desse movimento? Como explicar que as nuvens e os pássaros, embora soltos no ar, deslocam-se igualmente em qualquer direção, e que os projéteis lançados para leste ou para oeste alcançam a - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 6 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 8 mesma distância? Os defensores da astronomia tradicional argumentavam que se a Terra, de fato, se movesse seríamos todos lançados no espaço, e um vento fortíssimo sopraria na direção leste- oeste como consequência do movimento diário de rotação. Para que a Terra perdesse o seu posto no centro do universo seria necessária a criação de uma nova física, compatível com o sistema heliocêntrico, e, para isso, contribuíram enormemente dois eventos ocorridos no ano de 1609. Na Itália, Galileu Galilei teve a ideia de apontar uma luneta náutica em direção ao céu, fazendo uma série de observações absolutamente inéditas que trariam grandes dificuldades para os defensores da visão tradicional do cosmos. As recém-descobertas luas de Júpiter descreviam seus movimentos em torno de um centro que, claramente, não era a Terra, e os vales e montanhas de nossa Lua contestavam a visão tradicional de um céu perfeito e distinto da região terrestre. Kepler, de sua parte, desenvolveu um trabalho teórico a partir das observações mais precisas da astronomia pré-telescópia, feitas por Tycho Brahe ao longo de duas décadas no observatório de Uraniburgo, na Dinamarca. No heliocentrismo físico de Kepler as explicações da cosmologia de Aristóteles, em termos da rotação de esferas concêntricas feitas de éter, são substituídas por explicações baseadas na ação de forças físicas. Na Astronomia nova, a ideia de que uma certa força solar é responsável pelos movimentos dos planetas é fundamental para a descoberta da forma elíptica das órbitas planetárias e da lei das áreas, duas das mais importantes contribuições do astrônomo. Sabemos que Kepler correspondeu-se com Galileu, tendo mesmo chegado a compor um tratado justificando teoricamente as observações feitas com o telescópio. Porém, a colaboração entre os dois defensores de Copérnico não haveria de durar muito, o que se deve, ao menos em parte, às concepções científicas diversas sustentadas pelos dois autores. Kepler acreditava que a explicação dos movimentos planetários no sistema heliocêntrico deveria ser análoga àquela de fenômenos similares observados na Terra, os fenômenos magnéticos. A força solar, como a força dos imãs, era capaz de agir à distância, movimentando os corpos dos planetas com velocidades que variavam com a proximidade do Sol. Esse tipo de explicação parecia arbitrária e obscura para Galileu, que tinha como centro de sua campanha a instauração de uma nova ciência dos corpos em movimento, livre das entidades impossíveis de serem observadas que, na sua opinião, entravavam a ciência de seu tempo. Mesmo trabalhando independentemente, - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 7 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 9 os dois autores foram capazes de derrubar a antiga visão de mundo, abrindo caminho para a mecânica celeste de Isaac Newton e para os desenvolvimentos científicos e filosóficos que marcaram o século XVII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Hesiod. Theogony, works and days. Harvard University Press. 2006. 2. Dreyer, J. L. E. A history of astronomy from Thales to Kepler. Nova Iorque: Dover, 1953. 3. Gingerich, O. The eye of the heaven: Ptolomy, Copernicus, Kepler. Nova Iorque: American Institute of Physics. 1993. 4. Hoskin, M. The Cambridge concise history of astronomy. Cambridge: University Press. 1999. 5. Aristotle. The caelo. Clarendon Press. 1966. 6. Evans, J. The history and practice of ancient astronomy. Oxford: University Press. 1998. CONCEITOS E EPISTEMOLOGIA DA ASTROFÍSICA De acordo com publicação da Wikipedia3 a Astrofísica é o ramo da Astronomia que lida com a Física do Universo, incluindo suas propriedades físicas (luminosidade, densidade, temperatura, composição química) de objetos astronômicos como estrelas, galáxias e meio interestelar, e também das suas interações. Na prática, pesquisas astronômicas modernas envolvem uma quantia substancial da Física teórica e experimentos práticos. Ainda de acordo com o mesmo site, a Astrofísica não deve ser confundida com a Cosmologia, esta se ocupa da estrutura geral do universo e das leis que o regem num sentido mais amplo, embora sob muitos aspectos ambas seguem um caminho paralelo, algumas vezes considerado redundante. Noutrossim, conforme publicação no Blog Astrofísica, de Luis Jurno (Ph.D em Astrofísica pela Caltech), encontrado em outro endereço da Internet: http://mundodaastrofisica.blogspot.com.br/2011/05/mas-afinal-o-que-e-astrofisica.html (Acesso em 17 fev. 2013), a Astrofísica é o ramo da Astronomia que lida com a Física do Universo, incluindo suas propriedades físicas (luminosidade, densidade, temperatura, composição química) de objetos astronômicos como estrelas, galáxias e meio interestelar, e também das suas 3 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Astrof%C3%ADsica. Acesso em: 17 fev 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 8 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 10 interações. Na prática, pesquisas astronômicas modernas envolvem uma quantia substancial da Física teórica e experimentos práticos. A Astrofísica não deve ser confundida com a Cosmologia, esta se ocupa da estrutura geral do universo e das leis que o regem num sentido mais amplo, embora sob muitos aspectos ambas seguem um caminho paralelo, algumas vezes considerado redundante. A Astrofísica além de determinar as constantes universais, é o ramo da física que demonstra a natureza dos corpos celestes através de instrumentação científica. A razão da determinação de parâmetros tem fundamental importância sobre a busca do conhecimento a todos os eventos universais. Não se pode dissociar o espaço-tempo em tempo e espaço, da matéria e da energia, e estes sim são mensuráveis. Noutro endereço (http://astronomianasa.blogspot.com.br/2011/03/o-que-e- astrofisica.html. Acesso em: 17 fev. 2013) encontramos o conceito de Astrofísica como sendo esta, a parte da Astronomia que procura estudar os astros aplicando, para isso, os conceitos de física, química etc. descobertos em laboratório. Em outras palavras, a Astrofísica é a Ciência que usa, como laboratório, todo o Universo. A Astrofísica utiliza, para seu trabalho, de diversos aparelhos astronômicos: telescópios, lunetas, espectrômetros, polarímetros, fotômetros, radiotelescópios, telescópios espaciais etc. Continuando nossa empreitada na busca pela definição de Astrofísica, encontramos a Astrofísica Nuclear, tratada no texto de Mahir Saleh Hussein, Astrofísica nuclear, disponível em: (http://www.iea.usp.br/textos/astrofisicanuclearhussein.pdf). Acesso em 17 fev. 2013. Nele, o autor descreve a Astrofísica nuclear como a ciência de interface entre astrofísica e física nuclear. Afirma ser ela, a ciênciaresponsável por tentar trazer respostas a questões tais como: Como o Sol, o sistema solar, as estrelas, as galáxias se formaram e como eles evoluem? Como se deu a origem dos elementos que fez a vida na Terra possível? Ou ainda, o nosso universo um dia vai se colapsar ou continuará a se expandir para sempre? Respostas a essas questões podem ser obtidas do estudo de como os elementos foram e são formados no universo primordial e no meio estelar, que é exatamente o objeto de investigação da astrofísica nuclear. Em outras palavras, podemos dizer então que a astrofísica nuclear estuda a síntese dos elementos e sua relação com a evolução das estrelas e do universo. Os elementos leves foram - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 9 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 11 formados no universo primordial e os mais pesados foram e ainda continuam sendo formados tanto no meio intergaláctico como nas estrelas. A formação e síntese dos elementos se dão através de reações nucleares. Podemos então dizer que são as reações nucleares as responsáveis pela produção de energia e síntese dos elementos nos vários entes astrofísicos. Sendo assim, são as reações nucleares que tem um papel determinante na existência e evolução dos entes astrofísicos, do pacato sol às espetaculares explosões de Novas e Supernovas. O estudo das reações nucleares envolvidas nos processos astrofísicos faz parte do que chamamos Astrofísica Nuclear e o processo de formação dos elementos é chamado de nucleossíntese. Para responder as questões sobre a origem e formação dos elementos e das estrelas e como isso definiu a evolução do universo e como isso define a evolução de uma estrela, o que os cientistas fazem é construir modelos teóricos de como se deu a origem do universo e de como se formaram os primeiros elementos e de como ocorre o processo de evolução das estrelas. Esses modelos não são puramente teóricos e em geral envolvem uma grande quantidade de parâmetros que são obtidos de experiências realizadas em laboratórios de Física Nuclear. Por fim, esses modelos devem ainda ser corroborados com as observações dos eventos estelares. Existe enfim uma sinergia entre medidas precisas de processos nucleares realizados em laboratórios de física nuclear e observações dos eventos estelares feitas por observatórios terrestres como, os grandes telescópios Keck e ESO (European Southern Observatory) ou ainda pelos observatórios espaciais como o Hubble Space Telescope e o Chandra X-Ray Observatory. A cada dia novos equipamentos vêm sendo construídos e desenvolvidos e medidas novas e mais precisas estão sendo realizadas, permitindo com que os modelos de evolução estelar e formação dos elementos se tornem mais elaborados e que os aspectos da Física Nuclear desses fenômenos fiquem em uma base mais segura. Devido ao fato de ser o Sol a estrela mais próxima da Terra e da qual depende a nossa própria existência, ele sempre foi objeto de especulação e curiosidade. Em 1930, Bethe e Von Weizsacker propuseram que a energia do Sol e o brilho da estrelas viriam da energia de reações nucleares, já que nenhum outro processo, químico ou gravitacional, poderia produzir a luminosidade que observamos do Sol nos seus 4.6 bilhões de anos de existência. Hoje sabemos que é a diferença de massa entre núcleos antes e depois de se fundirem que se transforma em energia. Energia essa que é dada pela famosa fórmula de Einstein (E=mc2), onde m seria essa - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 10 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 12 diferença de massa. Em 1957 Burbidge, Burbidge, Fowler e Hoyle, conhecido como grupo B2FH, escreveram um famoso artigo descrevendo como deveria ser a produção da energia do Sol e como seria a nucleossíntese dos elementos no início de evolução de estrelas. Eles propuseram que essa conversão se daria em ciclos. Nesses ciclos, quatro núcleos de Hidrogênio (prótons) se convertem em um núcleo de Hélio (núcleo com dois prótons e dois nêutrons, também conhecido como partícula alfa). Essa conversão se daria em etapas formando ciclos e gerando energia. Na primeira etapa dois prótons se fundem formando um núcleo de Deutério, liberando uma quantidade enorme de energia na forma de fótons, além de pósitrons e neutrinos. A seguir dois núcleos de Deutério se fundem formando o núcleo de Hélio. De fato, a evolução natural de estrelas como o Sol é, em seu estágio inicial, transformar núcleos de Hidrogênio (prótons) em Hélio. Esse processo é bastante lento principalmente devido ao fato da reação de fusão desses dois prótons para se transformar num núcleo de Deutério ocorre através da ação da força fraca, que transforma um dos prótons em nêutron, e de tunelamento quântico entre essas partículas. Por causa dessa reação levaria 10 bilhões de anos para que todo Hidrogênio no Sol se transforme eventualmente em Hélio. Como produto extra da reação de fusão de dois prótons em deutério, temos também a geração de outras partículas mais exóticas como pósitrons (elétrons com carga positiva) e neutrinos. Os neutrinos são partículas sem carga elétrica e muito rápidas, e exatamente por isso eles atravessam toda a extensão do Sol quase que sem nenhuma interação. Os neutrinos chegam a Terra como uma chuva dessas partículas. Assim, uma evidência importante que corroboraria o modelo padrão de geração de energia do Sol seria a observação desses neutrinos solares na Terra. Desde os anos 60, físicos procuram detectar estes neutrinos solares, mas foi apenas na década de 90, graças a construção de gigantescos detectores como o Super-Kamiokande, construído numa montanha no Japão, é que essas partículas puderam ser detectadas com sucesso. Atualmente há evidências suficientes para que possamos afirmar que o modelo proposto pelo grupo B2FH seja o cenário que ocorre em estrelas como o Sol. De qualquer forma, de acordo com o autor, estudar astrofísica nuclear é entender como a formação dos elementos ocorre nos diversos entes astrofísicos e como essa formação define a evolução desses entes. Sabemos, por exemplo, que os elementos leves como o Hidrogênio, Hélio - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 11 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 13 e Lítio se formaram alguns minutos depois do Big-bang (nucleossíntese primordial). Já os elementos um pouco mais pesados (até o Ferro) são sintetizados nas estrelas. Para síntese de elementos mais pesados que o ferro é preciso que ocorram processos explosivos e mais sofisticados que envolvam mais energia tais como explosões de Novas e Supernovas. A VIA-LÁCTEA4 Em noites claras e sem lua, longe das luzes artificiais das áreas urbanas, pode-se ver claramente no céu uma faixa nebulosa atravessando o hemisfério celeste de um horizonte a outro. Chamamos a essa faixa Via Láctea, devido à sua aparência, que lembrava aos povos antigos um caminho esbranquiçado como leite. Sua parte mais brilhante fica na direção da constelação de Sagitário, sendo melhor observável no Hemisfério Sul durante as noites de inverno. No início do século XVII, Galileo Galilei (1564-1642), ao apontar seu telescópio para a Via Láctea, descobriu que ela consistia de uma multitude de estrelas. No final do século XVIII, o astrônomo alemão William Herschel (1738-1822), que já era famoso por ter descoberto o planeta 4 (O texto foi extraídoquase que em sua integra de: http://www.if.ufrgs.br/ast/index.html). Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/~mgp/notas/ast_extragal/galax_dist.pdf. Acesso em: 18 fev. 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 12 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 14 Urano, mapeou a Via Láctea e descobriu tratar-se de um sistema achatado. O Mesmo observou que a distribuição de estrelas aumentava quando se aproximava da Via-Láctea, concluindo desta forma que se tratava de um disco. Segundo seu modelo, o sol ocupava uma posição central na galáxia, mas hoje sabemos que essa conclusão estava errada. A primeira estimativa do tamanho da Via Láctea foi feita no início do século XX, pelo astrônomo holandês Jacobus Kapteyn (1851- 1922). Na segunda década do século, Harlow Shapley (1885-1972), estudando a distribuição de sistemas esféricos de estrelas chamados aglomerados globulares, determinou o verdadeiro tamanho da Via Láctea e a posição periférica do Sol nela. Shapley descobriu que os cúmulos globulares (150 deles), que formam um halo em volta na nossa galáxia, estavam concentrados em uma direção; nenhum deles era visto na direção oposta. Ele concluiu que o Sol não está no centro de nossa galáxia. Assumindo que o centro do halo formado pelos cúmulos globulares coincide com o centro de nossa galáxia, ele deduziu que estamos a 30 mil anos luz do centro da Via Láctea, que está na direção da constelação do Sagitário. Distribuição de Aglomerados glubulares na Galáxia O maior cúmulo globular da nossa Galáxia chama-se NGC2419, localizado na constelação do Lince e tem mais de um milhão de estrelas e um diâmetro de 1800 anos-luz. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 13 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 15 As regiões escuras na figura a seguir são conhecidas como nuvens moleculares e são formadas por: CaII, NI, SiO4, etc. Já as partes brilhantes representam as regiões de formação estelar (regiões H II) e são formadas principalmente por H I. A banda nebulosa da Via-Láctea, em todo o céu. Os pontos claros acima do disco galáctico são os aglomerados globulares. SISTEMA DE COORDENADAS COORDENADAS EQUATORIAIS Este sistema (coordenadas equatoriais (α, δ)) adapta-se ao movimento natural das estrelas. Usa a mesma ideia das coordenadas geográficas, latitude e longitude. Imagine a esfera celeste "contendo" a esfera terrestre. O equador terrestre, projetado para o firmamento, gera o equador celeste. O eixo de rotação da Terra, prolongado, forma os polos celestes. A linha no céu que vai do polo norte ao polo sul celeste e que passa sobre a cabeça de um determinado observador, constitui o meridiano local deste observador (o Sol está no meridiano ao meio-dia, em latim meridies - daí o nome). Podemos entender o meridiano como a projeção da linha da longitude local sobre o firmamento. Em Geografia aprendemos que a definição da latitude é fácil, conhecendo-se polos e Equador. Para a origem da longitude, no entanto, foi necessário estabelecer, por convenção, a longitude de Greenwich como longitude 0°. No céu estabelece-se um determinado ponto entre as estrelas, chamado ponto vernal ou ponto gama (γ - gama), como origem. Esse ponto corresponde - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 14 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 16 a intersecção do Sol com o Equador celeste no instante em que o mesmo passa do hemisfério sul para o norte celeste. Define-se como declinação (δ - delta) de uma estrela, o ângulo entre o equador celeste e a estrela, medido sobre o meridiano desta. As declinações do hemisfério norte são positivas e as do hemisfério sul são negativas. No equador δ= 0°. Define-se como ascensão reta (α- alfa) o ângulo entre o ponto gama e o meridiano da estrela medido sobre o equador celeste, no sentido para o leste. Coordenadas Equatoriais A definição de ascensão reta e declinação na esfera celeste vista "por fora" é fácil de entender. Um pouco mais difícil é entender a situação do observador situado no interior da esfera celeste, em seu centro. Para este observador todos os meridianos, em especial o meridiano local e o meridiano da estrela em estudo passam por um mesmo ponto, o polo celeste. Ascensão reta e declinação podem ser imaginadas da maneira como são ilustrados na figura. Ascensão reta e declinação de uma estrela variam pouquíssimo à medida que passa o tempo. Esta variação somente pode ser detectada com modernos instrumentos de precisão; na antiguidade as estrelas eram chamadas de estrelas fixas por esta razão. No entanto as coordenadas equatoriais dos planetas, do Sol e da Lua variam muito, fato também já conhecido na antiguidade (planeta significa viajante). - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 15 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 17 RESUMINDO: Ascensão reta (α ou AR): ângulo medido sobre o equador, com origem no meridiano que passa pelo ponto Áries, e extremidade no meridiano do astro. A ascensão reta varia entre 0h e 24h (ou entre 0° e 360°) aumentando para leste. 0h≤α≤24h O Ponto Áries, também chamado Ponto Gama ( γ ), ou Ponto Vernal, é um ponto do equador, ocupado pelo Sol no equinócio de primavera do hemisfério norte (mais ou menos em 22 de março de cada ano). Declinação ( δ ): ângulo medido sobre o meridiano do astro, com origem no equador e extremidade no astro. A declinação varia entre -90º e +90° −90° ≤ δ ≤ +90° O sistema equatorial celeste é fixo na esfera celeste e, portanto, suas coordenadas não dependem do lugar e instante de observação. A ascensão reta e a declinação de um astro permanecem praticamente constantes por longos períodos de tempo. COORDENADAS GALÁTICAS O sistema de coordenadas equatoriais é o sistema comumente mais utilizado na astronomia. Mas o Sistema de coordenadas galácticas (l, b) às vezes se torna útil, por que nos permite ver como os objetos estão distribuídos no plano galáctico, ou seja caso desejemos obter o gradiente de abundância galáctico por exemplo este sistema de coordenadas será útil. Para estudos da Via-Láctea o plano de referência mais natural é o plano da Via-Láctea. Como o Sol se encontra bem próximo ao plano, podemos pôr a origem no Sol. Desta vez o plano de referência é o plano do disco da Via-Láctea. A longitude galáctica (l), contada ao longo do plano do disco, tem origem na direção ao centro da Galáxia. Note que é difícil definir o centro da Via-Láctea, o que torna este sistema sujeito a revisões mais frequentes do que os anteriores. A longitude galáctica é medida no sentido anti-horário (como a ascensão reta) a partir da direção do centro da Via-Láctea (Sagitário α =17h42.4min; δ=−28°55' ). A latitude galáctica (b) é usualmente denotada pela letra b, podendo, assim como a declinação, assumir valores entre -90° < b < 90°. A direção ao centro da Galáxia (ou seja, l=0°) situa-se na constelação de Sagitário, ao passo que o polo norte galáctico (ou seja, b = +90°) fica na constelação da Cabeleira de Berenice. Este sistema de coordenadas é mais aplicado em estudos que envolvem a distribuição de objetos dentro da Via-Láctea. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 16 Este módulo deverá ser utilizadoapenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 18 Equações de conversão de coordenadas equatoriais para galácticas e vice-versa: De coordenadas equatoriais para galácticas: cos b cos(l −33o) = cos δcos (α−282.25o) cos b sin(l −33o) = cos δsin (α −282.25o) cos 62.6o + sin δsin 62.6o sin b = sin δcos 62.6o−cos δsin (α−282.25o) sin 62.6o De coordenadas galácticas para coordenadas equatoriais: sin δ= cos b sin (l −33o) sin 62.6o+ sin b cos 62.6o cos δsin (α −282.25o) = cos b sin (l−33o) cos 62.6o−sin b sin 62.6o Nota: Deve-se usar o equinócio de 1950. RESUMINDO: A longitude galática (l): é a medida de 0-360° sobre o plano galáctico. A latitude galática (b): é medida de (polo sul) -90° a +90° (polo norte) DETERMINAÇÃO DE DISTÂNCIAS EM ASTRONOMIA Uma tarefa aparentemente fácil é a determinação de distâncias. De um modo geral dizer o quão distante está uma cidade da outra é fácil, desde que tenhamos uma maneira de determiná- la. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 17 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 19 Entretanto na astronomia esta tarefa pode ser bem árdua, pois a única maneira de obtermos informações a respeito de um astro é através da luz por ele emitida ou refletida (lua e planetas). PARALAXE TRIGONOMÉTRICA Um método eficaz de se medir grandes distâncias vem sendo usado há milênios: observar um objeto a partir de dois pontos diferentes, determinando a distância ao objeto através do uso da trigonometria. O objeto, ao ser visto de pontos diferentes, parecerá mudar de posição com relação às coisas que estão ainda mais distantes e que compõem o fundo sobre o qual o objeto está projetado. O deslocamento angular, chamado de paralaxe, é um ângulo de um triângulo e a distância entre os dois pontos de observação, bem como a distância ao objeto, são lados do mesmo triângulo. Relações trigonométricas básicas entre os lados de um triângulo e os seus ângulos são então usadas para calcular todos os elementos do triângulo. Este é o método da paralaxe trigonométrica. Na figura abaixo está esquematizado, como exemplo, a maneira de medir a distância de uma árvore localizada do outro lado de um rio, sem atravessá-lo, utilizando apenas noções de trigonometria. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 18 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 20 Tomando a árvore como um dos vértices, construímos os triângulos semelhantes ABC e DEC. BC é a linha de base do triângulo grande, AB e AC são os lados, que são as direções do objeto (a árvore) vistas de cada extremidade da linha base. Logo: AB = BC x DE EC Como posso medir BC, DE e EC, posso calcular o lado AB e então, conhecer a distância da árvore. Vemos que a direção da árvore, vista de B, é diferente da direção da árvore vista de C. Esse deslocamento aparente na direção do objeto observado devido à mudança de posição do observador chama-se paralaxe. Os astrônomos, no entanto, medem o dobro desse deslocamento. Pela trigonometria, sabemos que tan (p) = D d Como p é conhecido ( p = A1 + A2), 2 e D também é conhecido, podemos medir a distância d. Para ângulos pequenos, a tangente do ângulo é aproximadamente igual ao próprio ângulo medido em radianos. Se p ≤ 4°, tan p ≈ p (rad). Então: D = D P(rad) Como p é medido em radianos, d terá a mesma unidade de D. REFERÊNCIAS G.B. Rybicki, A.P. Lightman (2004) Radiative Processes in Astrophysics, WILEY-VCH. K. Rohlfs, T.L. Wilson (1996) Tools of Radio Astronomy, 2nd edition, Springer. G.L. Verschuur, K.I. Kellermann (1988) Galactic and Extragalactic Radio Astronomy, Springer-Verlag. James Rich, (2001) Fundamentals of Cosmology, Springer-Verlag Berlin Heidelgerg. Vincent J Martinez, Enn Saar (2001) Statistics of the Galaxy Distribution, Chapman&Hall/CRC Vejamos, a seguir o surgimento e evolução do pensamento cosmológico e o nascimento da ciência moderna que permite o estudo da Astrofísica e seus componentes. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 19 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 21 COSMOLOGIA A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO COSMOLÓGICO E O NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA5 C.M. PortoI,1; M.B.D.S.M. PortoII IDepartamento de Física, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, Brasil IIInstituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil A COSMOLOGIA ARISTOTÉLICA Durante todo o período que se estendeu desde seu aparecimento, no século IV a.C., até o século XVI d.C., a física e a cosmologia de Aristóteles permaneceram como os únicos pensamentos sistemáticos formulados a respeito dos fenômenos físicos e da estrutura do Universo. No entanto, diferentemente da forma quantitativa, expressa por relações matemáticas, que a física moderna adquiriu a partir da Revolução Científica do século XVI, a ciência de Aristóteles possuía um caráter puramente qualitativo. A ciência Aristotélica era perfeitamente integrada ao seu sistema filosófico [4]. Assim, por exemplo, como para Aristóteles a ideia de vácuo, isto é, da existência do nada, era contraditória em si, para ele o Universo era completamente preenchido por matéria. Por outro lado, uma vez que a sua filosofia também rejeitava como absurda a existência de uma extensão material infinita, sua cosmologia caracterizava-se por um Universo finito. Nesse Universo finito era possível identificar um centro estático, onde Aristóteles posicionou a Terra. A concepção aristotélica do Cosmos era profundamente impregnada da noção de ordem. Seu Universo formava um todo, onde cada constituinte possuía seu lugar próprio, estabelecido conforme sua natureza: o elemento terra, mais pesado, posicionava-se no centro desse Universo, enquanto os elementos mais leves, água, ar e fogo, iam formando "camadas" concêntricas em torno. Assim, segundo a física aristotélica, os corpos, deixados por si, ou seja, na ausência de 5Texto publicado pela Revista Brasileira de Ensino de Física (Rev. Bras. Ensino Fís. vol.30 no.4 São Paulo out./dez. 2008), disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172008000400015&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 18 fev. 2013. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 20 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 22 forças aplicadas sobre eles, realizariam espontaneamente movimentos buscando retornar às posições que lhes são apropriadas: os elementos mais pesados, a terra e a água, movendo-se em direção ao centro do Universo, enquanto os mais leves, o ar e o fogo, movendo-se para cima, afastando-se do centro. A queda dos corpos sólidos abandonados no ar encontrava sua explicação na naturalidade deste movimento em direção ao centro do Universo. Outro aspecto fundamental da filosofia aristotélica era sua distinção radical entre o mundo terrestre e o celeste. À Terra, domínio da matéria sujeita a toda espécie de mudanças e transformações, opunham-seos corpos celestes, imutáveis, esferas perfeitas, formadas, não como a matéria terrestre, dos quatro elementos mencionados, terra, água, fogo e ar, mas de um outro elemento, incorruptível, denominado éter ou quintessência. A esses corpos imutáveis eram concedidos apenas movimentos circulares naturais em torno da Terra. Essa consideração de que a natureza dos corpos celestes era imutável assentava-se na experiência humana; afinal em todos os tempos os homens haviam visto o céu da mesma forma. Por conseguinte, a experiência parecia induzir a que se concluísse que o céu não era passível de transformações outras que o simples deslocamento físico de seus astros. A ele não se aplicavam as ideias aristotélicas de geração e corrupção; não fora criado, como ocorre com as coisas terrestres, nem tampouco deixaria de existir. E se existe algo de eternamente movido, nem mesmo isso pode ser movido segundo a potência, senão de um ponto ao outro (como justamente movem-se os céus). E nada impede que exista uma matéria própria deste tipo de movimento. Por isso, o Sol, os astros e todo o céu estão sempre em ato; e não se deve temer que esses, num certo momento, parem, como temem os físicos. [5] Aristóteles mantinha a crença de que os corpos celestes estavam presos a esferas cristalinas centradas na Terra, que, ao girarem, arrastavam-nos, fazendo com que descrevessem movimentos circulares. Aristóteles atribuía o movimento das esferas celestes a Inteligências, hierarquicamente inferiores a uma Primeira e Suprema Inteligência. Entretanto, a acumulação de dados relativos aos corpos celestes pelos astrônomos gregos obrigou à construção de modelos astronômicos cada vez mais elaborados, com a inclusão de novas esferas celestes (ao ponto que Aristóteles teve de afirmar a existência de cinquenta e cinco inteligências motoras) [4], cujos movimentos se compunham. O resultado dessa - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 21 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 23 composição era que os movimentos dos corpos celestes se tornavam cada vez mais complexos. Além disso, esses novos dados mostravam variações na intensidade do brilho dos planetas ao longo do ano indicando que, ou suas distâncias à Terra variariam com o tempo, derrubando a tese de que descreveriam trajetórias circulares centradas em nosso planeta, ou então suas luminosidades realmente variariam ao longo do tempo, o que se confrontava com a crença na imutabilidade da substância celeste. No século II d.C. Cláudio Ptolomeu construiu um modelo astronômico geocêntrico, compatível com os dados experimentais disponíveis então, em que adotava uma série de hipóteses a respeito do movimento dos planetas, admitindo para cada planeta a composição de um movimento de revolução (epiciclo) em torno de um certo ponto, que, por sua vez, descrevia uma trajetória circular (deferente) em torno de um outro centro. Ptolomeu admitiu ainda que a Terra não se situava no centro do círculo deferente dos planetas. Em que pese a crescente complexidade adotada pela descrição do Universo ptolomaico e a flexibilização de algumas teses centrais do pensamento cosmológico aristotélico, como por exemplo, a ideia de que as esferas a que pertenciam os planetas eram todas centradas na Terra, o modelo de Ptolomeu obteve uma enorme aceitação, pelo sucesso na explicação dos dados experimentais disponíveis. A CRISE DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO E A REVOLUÇÃO COPERNICANA O modelo cosmológico de Aristóteles e Ptolomeu prevaleceu durante quase quatorze séculos. O pensamento medieval ocidental, de natureza cristã, adotou sua estrutura, porém transformando o Universo de eterno em criado pela Vontade Divina. Contudo, o próprio processo que levou ao apogeu desse pensamento medieval trouxe dentro de si os elementos de sua própria contestação. A reação à Filosofia Escolástica produziu o nominalismo de Guilherme de Ockham, filosofia de caráter fortemente empirista, transmitida aos estudiosos parisienses, como por exemplo Nicolau d'Autrecourt, Jean Buridan e Nicolau Oresme [6]. A crítica derivada do pensamento ochkamista caminhou da metafísica e da teologia para o domínio da física aristotélica. Enquanto Buridan propunha sua teoria do impetuspara explicar, de uma forma fundamentalmente diferente da concepção aristotélica, a persistência dos movimentos que aquele classificava como "não naturais", como por exemplo o de uma pedra lançada para - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 22 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 24 cima, Oresme sustentava em seu livro Tratado do Céu e do Mundo que "não se poderia provar por nenhuma experiência que o Céu seja movido de um movimento diário e a Terra não" [7]. A despeito dos questionamentos e reformulações propostos pelo movimento ochkamista, podemos dizer que o primeiro grande marco no processo de desconstrução da concepção cosmológica de Aristóteles, processo este que iria resultar na Revolução Científica do século seguinte, situa-se no século XV, já sob a influência dos ventos da Renascença. A filosofia do cardeal alemão Nicolau de Cusa produziu um abalo significativo na ciência aristotélica ao afirmar que o Universo não possuía qualquer centro e que, portanto, contrariamente ao que afirmava acerca da Terra o pensamento de Aristóteles, nenhum corpo ocuparia posição privilegiada nesse Universo: Consequentemente, se considerarmos os diversos movimentos dos orbes celestes, constataremos que é impossível para a máquina do mundo possuir qualquer centro fixo e imóvel, seja esse centro a terra sensível, o ar, o fogo ou qualquer outra coisa. [8] Segundo Nicolau de Cusa, todos os corpos estariam em movimento e as afirmações sobre estar em repouso ou em movimento dependeriam exclusivamente do observador. Tanto um observador situado na Terra como outro situado no Sol estariam corretos ao afirmar que estão no centro do Universo e que tudo mais gira ao seu redor. Mas, para nós está claro que esta Terra realmente se move, ainda que ela não nos pareça fazê-lo, pois só apreendemos o movimento em comparação com alguma coisa fixa. Assim, se um homem em um bote, no meio de uma corrente, não soubesse que a água corria e não visse a margem, como apreenderia que a embarcação se movia? Consequentemente, como sempre parecerá ao observador, esteja ele na Terra, no Sol ou em outro astro, que ele se encontra no centro quase imóvel e que todas as outras coisas estão em movimento, ele certamente determinará os polos deste movimento com relação a si mesmo. [9] O abalo definitivo do modelo cosmológico aristotélico-ptolomaico veio no século seguinte, com a teoria heliocêntrica proposta por Nicolau Copérnico. Segundo Copérnico, o Sol passava a ocupar o centro do Universo, enquanto a Terra e os demais planetas giravam ao seu redor. Copérnico, no entanto, manteve, ainda sob influência do antigo modelo cosmológico, a ideia de um Universo finito, fechado por esferas, onde os planetas descreviam órbitas circulares perfeitas. Sua teoria heliocêntrica ainda estava fundamentada em critérios de valor. Segundo seu - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 23 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 25 ponto de vista, parecia ser irracional mover um corpo tão grande como o Sol, em vez de outro tão pequeno como a Terra. Além disso, Copérnico atribuía ao Sol, fonte de luz e de vida, uma condição superior em nobreza. Portanto, ele seria maismerecedor do estado de repouso, sinônimo de estabilidade, do que a Terra, que assim permaneceria em constante movimento. Mas no centro de tudo situa-se o Sol. Quem, com efeito, nesse esplêndido templo colocaria a luz em lugar diferente ou melhor do que aquele de onde ela pudesse iluminar ao mesmo tempo todo o templo? (...) Assim, como que repousando no trono real, o Sol governa a circundante família de astros. [10] Ao colocá-la como um planeta como os outros, Copérnico rompeu a separação essencial entre a Terra e o céu, presente no pensamento de Aristóteles. Com sua hipótese heliocêntrica, Copérnico construiu um modelo capaz de calcular e explicar com precisão resultados astronômicos, de uma forma mais simples do que aquela empregada pelo modelo ptolomaico. Vários problemas particulares que desafiavam a interpretação baseada no modelo de Ptolomeu, cujas soluções contribuíram para seu grau crescente de artificialidade e obscuridade, foram mais naturalmente explicados por Copérnico. Por exemplo, as irregularidades observadas nos movimentos planetários eram agora atribuídas ao fato de esses movimentos estarem sendo observados do ponto de vista da Terra, ela própria em movimento. Ao contrário, do ponto de vista de alguém que estivesse em repouso em relação ao Sol, a simplicidade circular dos movimentos planetários estaria preservada. A teoria copernicana não obteve imediatamente uma aceitação total. Pelo contrário, encontrou reservas entre pensadores e estudiosos como o filósofo Francis Bacon e o astrônomo Tycho Brahe. Teve, por outro lado, grandes adeptos como Giordano Bruno, Johannes Kepler e Galileu Galilei, personagens que muito contribuíram para toda a revolução do pensamento científico. Fervoroso adepto da teoria heliocêntrica, Giordano Bruno deu um passo à frente na revolução iniciada por Copérnico, rompendo com a ideia de um Universo finito. Inspirado no atomismo grego de Demócrito e Leucipo [11], Bruno proclamava a realidade de um Universo infinito e, como tal, homogêneo, por conseguinte, sem centro, limites ou quaisquer posições diferenciadas ou privilegiadas. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 24 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 26 A um corpo de dimensão infinita não se pode atribuir nem centro nem limites. Pois quem fala do vazio ou do éter infinito não lhe atribui nem peso, nem leveza, nem movimento, nem distingue ali região superior, inferior ou intermediária; supõe, ademais, que haja nesse espaço inúmeros corpos como nossa Terra e outras terras, nosso Sol e outros sóis, todos os quais executam revoluções nesse espaço infinito, através de espaços finitos e determinados, ou em torno de seus próprios centros. Assim, nós na Terra dizemos que a Terra está no centro; e todos os filósofos, antigos e modernos e de quaisquer credos, proclamam sem prejuízo para seus próprios princípios que aqui se encontra verdadeiramente o centro. [12] De fato, o Universo de Giordano Bruno se encaixava perfeitamente na descrição atomista do Cosmos. O atomismo postulava a existência de um universo constituído de minúsculas partículas indivisíveis, que se moviam livremente em um infinito vazio e, através de colisões e combinações, originavam todos os fenômenos. Neste vazio, todas as posições eram equivalentes e neutras. Da mesma forma, no Universo de Giordano Bruno tínhamos uma Terra em movimento através de um espaço neutro, sem centro, imensamente povoado e infinito. GALILEU E KEPLER: O NASCIMENTO DA CIÊNCIA MODERNA Mesmo entre os adeptos do heliocentrismo, a questão da finitude do Universo permaneceu alvo de controvérsias. Ao contrário de Bruno, Kepler acreditava veementemente em um Universo finito. Essa ideia traz consigo não sei que horror secreto, oculto; com efeito, uma pessoa se sente errando por essa imensidade, a que são negados centro, limites e, portanto, todo lugar determinado. [13] Kepler e Galileu acreditavam que o Universo estava matematicamente organizado e que a ciência se fazia comparando-se hipóteses com dados observados experimentalmente. Galileu, segundo Alexander Koyré "o homem a quem a ciência moderna deve mais do que a qualquer outro" [14], argumentava que, para se fazerem julgamentos exatos da Natureza, deveriam se considerar apenas as "qualidades" que fossem mensuráveis. Somente através de uma análise quantitativa poderíamos conhecer o mundo com segurança. Com este pensamento, Galileu advogava o experimento quantitativo como teste final das hipóteses. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 25 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 27 Defensor do experimentalismo, Galileu acabou por inventar e aprimorar uma série de instrumentos: lentes, telescópios, microscópios, termômetros e bússolas. Alguns destes instrumentos possibilitaram a observação detalhada do Sol e da Lua. Essas observações permitiram a constatação de que esses astros não possuíam a forma esférica perfeita atribuída por Aristóteles, representando um novo abalo nas fundamentações metafísicas da concepção aristotélica de Universo. O uso dos instrumentos desenvolvidos por Galileu deu ao empirismo uma nova dimensão e acabou por golpear de forma definitiva a física aristotélica. Através da observação do fenômeno, Galileu concluiu que, contrariamente ao que afirmava Aristóteles, os corpos levariam o mesmo tempo em queda livre a partir de uma mesma altura, independentemente de suas massas, e, através de análises matemáticas, acabou por formular a teoria do movimento uniformemente acelerado para os corpos em queda. A física aristotélica sustentava também que nenhum corpo se movimentava de modo não natural sem uma força externa aplicada constantemente. Galileu desenvolveu, pelo contrário, a ideia decisiva da inércia: do mesmo modo que um corpo em repouso tende a ficar em repouso, um corpo em movimento tende a ficar em movimento, a menos que seja desviado de seu estado original por um agente externo. Galileu refutou ainda um dos principais argumentos da física aristotélica contra a ideia da Terra em movimento: um projétil lançado para cima cairia forçosamente em outro ponto, já que a Terra teria andado. Como este fenômeno não era observado, os aristotélicos continuavam acreditando que a Terra era estacionária. Galileu, através do conceito de inércia, mostrou que todos os objetos que se encontram sobre a Terra, bem como os observadores nela situados, estão automaticamente dotados do movimento do próprio planeta e, portanto, este movimento seria imperceptível para qualquer desses observadores. Apesar de toda a sua brilhante contribuição, Galileu não aplicou corretamente a ideia de inércia, tal como a compreendemos hoje, para os movimentos planetários. Para ele, os movimentos inerciais descritos por esses corpos eram de natureza circular (com velocidade de módulo constante). Assim sendo, continuou sustentando a noção da naturalidade dos movimentos celestiais como orbitas circulares centradas no Sol. A compreensão mais aprofundada desses movimentos, suas formas e suas causas, teve de aguardar a obra de Kepler. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 26 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 28 Kepler, profundamente influenciado por concepções místico-filosóficas, sobretudo de natureza cristã e platônica, identificou na teoria copernicana a intuição de verdades mais amplas do que a simples adoção do sistema heliocêntrico. Acreditouque o modelo de Copérnico seria um prenúncio de uma nova teoria, capaz de descrever matematicamente um Universo ordenado e harmonioso. Assim, baseado em inúmeros dados astronômicos coletados por Tycho Brahe, Kepler constatou que os dados referentes às órbitas planetárias se ajustavam a uma forma matemática elíptica. Diferentemente dos movimentos circulares uniformes, não se podia atribuir às formas elípticas das orbitas ideia da naturalidade. Para explicar essa forma orbital, Kepler propôs que o Sol fosse uma fonte de movimento no Universo. Inspirado no trabalho de William Gilbert [15], que havia descoberto recentemente o magnetismo da Terra, Kepler estendeu essa propriedade a todos os astros e planetas e sugeriu que a força motora do Sol era um resultado da interação entre os magnetismos dos corpos envolvidos. Esta força motora seria a responsável pelas órbitas elípticas. Surgia assim a primeira ideia do Sistema Planetário como sistema autogovernado, sem necessidade de qualquer recurso a causas exteriores ao próprio sistema. Com Kepler também surgiu pela primeira vez a ideia de uma força atrativa entre os corpos. No prefácio de seu livro Astronomia Nova, Kepler afirma que a teoria da gravidade deve se fundar sobre o axioma da atração mútua entre os corpos: por exemplo, a Terra atrai uma pedra tanto quanto essa pedra a atrai. Também a Terra e a Lua atraem-se mutuamente, de forma que uma outra ação é necessária para explicar o permanente afastamento entre elas. No entanto, para Kepler, a atração se dava apenas entre corpos que de alguma forma possuíssem certo "parentesco" (Kepler empregou o termo em latim "cognata"); essa "afinidade" existiria entre a Terra e a Lua, mas não, por exemplo, entre a Terra e os demais planetas. Podemos dizer que havia ainda no pensamento kepleriano um elemento aristotélico, manifesto, nesse caso, no papel físico, de certo modo determinante, atribuído às essências (naturezas) dos corpos (noção de afinidade ou parentesco). A atração concebida por Kepler não tinha, pois, o caráter universal que lhe atribuiria posteriormente a teoria newtoniana. Assim, vemos bem: o que impede Kepler de formular a lei da gravitação universal é a persistência nele de uma concepção qualitativa do Universo. Inversamente, a fim de que - e antes que - essa lei pudesse ser formulada, foi preciso que essa concepção fosse substituída por outra, - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 27 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 29 segundo a qual o ser material é, em todos os lugares, perfeitamente e absolutamente homogêneo. É somente a esse preço que a atração pode-se estender a todo o Universo e se identificar com a gravitação. Ora, não é a Kepler, é a Galileu e a Descartes e, ainda, aos atomistas e materialistas do século XVII, Gassendi e Boyle, que nós devemos essa concepção unitária do ser físico [16] A ideia do Cosmos como um sistema dinâmico autogovernado, já apontada na teoria de Kepler, foi definitivamente reforçada pelo pensamento mecanicista de Descartes. Segundo Descartes, a Natureza era rigorosamente ordenada e impessoal, regida pela Matemática, e composta por um número infinito de partículas que colidiam e podiam se agregar. O movimento destas partículas era governado por leis mecânicas e o desafio do homem era descobrir estas leis. A despeito da negação cartesiana do vazio e da indivisibilidade da matéria, o Universo cartesiano, em sua abordagem mecanicista, tinha importantes semelhanças com o Cosmos atomístico [17]. Questionando-se sobre como seria o movimento de uma única partícula num universo infinito, sem direções absolutas, Descartes concluiu que um corpo em repouso permaneceria em repouso e que um corpo em movimento continuaria a se movimentar em linha reta, com a mesma velocidade, a menos que um agente externo sobre ele agisse, formulando de maneira mais perfeita a Lei da Inércia, ao falar do caráter retilíneo do movimento. Descartes concluiu ainda que, como todo movimento no Universo é de origem mecânica, quaisquer desvios de suas tendências retilíneas naturais deviam ser consequência das colisões com outros corpos. Aplicando suas concepções ao problema do movimento dos planetas, Descartes eliminou os últimos vestígios da física aristotélica: o caráter natural das órbitas circulares. Segundo ele, a menos que houvesse uma força inibidora, o movimento inercial dos planetas necessariamente tenderia a impeli-los em uma linha tangencial para fora da curva da órbita em torno do Sol. Porém, como o movimento consistia de orbitas fechadas em torno do Sol, era evidente que algo forçava os planetas a uma "queda" em direção ao Sol. A física cartesiana, por outros argumentos, caminhava ao encontro da concepção de Kepler, no que se refere a necessidade de atuação de uma força como causa da forma dos movimentos planetários. Entretanto, a verdadeira natureza dessa força ainda estava por ser descoberta. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 28 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 30 Há muito tempo já se especulava a respeito de uma força de atração entre todos os corpos materiais. Esta força já havia sido aventada por alguns gregos e sábios medievais para explicar a queda dos corpos, como alternativa a concepção aristotélica dos movimentos naturais. Ao final do século XVII Robert Hooke, examinando a trajetória descrita por uma pequena esfera que pendia da extremidade de um pêndulo cônico, constatou que o que forçava a esfera a descrever aquela trajetória era uma força do tipo central, ou seja, dirigida para um centro de força, que permanecia imóvel, enquanto a esfera se movia em um determinado plano. Se esta força não existisse, a tendência natural do movimento seria retilínea. Hooke conduziu uma série de experiências demonstrativas na Sociedade Real de Ciências da Grã Bretanha mostrando que a massa presa ao pêndulo cônico descrevia trajetórias elípticas ou circulares, conforme o impulso inicial que lhe fosse dado. O objetivo de Robert Hooke era buscar uma analogia entre esse problema e os movimentos planetários. Prosseguindo em sua análise, Hooke concluiu que os movimentos dos corpos celestes revelavam a existência de uma força de atração entre os corpos. Hooke apresentou suas conclusões através de uma conferência proferida na Academia Real de Ciências, em 1670, onde declarou: Eu explicarei um sistema do mundo que difere em muitos aspectos de todos os outros e que responde em tudo às regras ordinárias da mecânica. Ele se funda sobre três suposições: 1º Que todos os corpos celestes, sem qualquer exceção, possuem uma atração ou uma gravitação dirigida a seus próprios centros, pela qual, não somente eles atraem suas próprias partes e as impedem de se afastar, como nós o vemos na Terra, mas também atraem todos os outros corpos celestes que estão na esfera de sua atividade; que, por consequência, o Sol e a Lua têm influência sobre o corpo e o movimento da Terra, e a Terra uma influência sobre o Sol e a Lua, mas também que Mercúrio, Vênus, Marte e Saturno têm, por sua força atrativa, uma influência considerável sobre o movimento da Terra, como também a atração recíproca da Terra tem uma influência sobre esses planetas. 2º Que todos os corpos que receberam um movimento simples e direto continuam a se mover em linha reta, até que por qualquer outra força efetiva sejam desviados e forçados a descrever um círculo, uma elipse ou qualquer outra curva mais complicada. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 29 Este módulo deverá serutilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 31 3º Que essas forças atrativas são tão mais poderosas em sua ação quanto mais próximos de seus centros estiverem os corpos sobre os quais elas agem. [18] Ao final dos anos de 1670, Hooke formulou pela primeira vez a ideia de uma lei de atração gravitacional entre os corpos, com intensidade proporcional ao inverso do quadrado da distância entre eles. No entanto, tendo chegado a esse ponto, aparentemente não foi capaz de dar a sua concepção o desenvolvimento matemático apropriado. Este foi obra de Isaac Newton. A MECÂNICA E A TEORIA DA GRAVITAÇÃO DE NEWTON A grande síntese da ciência moderna, estabelecendo as leis físicas do movimento através de equações matemáticas e respondendo todas as questões surgidas com a cosmologia de Copérnico, foi obra de Isaac Newton [19]. Através de suas leis do movimento, Newton formulou da maneira exata o problema fundamental da mecânica: a trajetória descrita por qualquer corpo é determinada a partir do conhecimento das forças que sobre ele agem e de certas condições iniciais, representadas por sua posição e sua velocidade em qualquer instante. Uma vez conhecidos esses elementos, somos capazes de determinar esta trajetória de forma absolutamente unívoca. Dotada deste instrumento, a física adquiria então um caráter de previsibilidade capaz de impressionar profundamente o homem moderno. A evolução do pensamento científico, iniciada por Galileu e Descartes, em direção à concepção de uma Natureza descrita por leis matemáticas chegava assim a seu grande desabrochar. Com Newton, os problemas do movimento dos planetas e da queda dos corpos nas proximidades da superfície da Terra encontraram uma explicação unificada na ideia de uma força gravitacional, já delineada, mas não completamente formalizada por Hooke. As leis do movimento planetário, enunciadas por Kepler, e do movimento dos projéteis terrestres tornaram- se exemplos de aplicação dos princípios básicos da teoria newtoniana, representados pelas três leis da mecânica e pela existência de uma força de ação a distância, através da qual dois corpos se atraem mutuamente com uma intensidade proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que os separa. - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 30 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 32 Newton mostrou que corpos sob a ação de uma força inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles e o corpo que os atrai descrevem órbitas que têm a forma de curvas cônicas. Quando as órbitas são fechadas, elas têm a forma elíptica. Estava solucionado então o problema das órbitas elípticas de Kepler. Os êxitos da teoria newtoniana na explicação de uma grande variedade de fenômenos com base em poucos princípios fundamentais foram extraordinários. A mecânica de Newton forneceu, por exemplo, a resposta para o problema da forma do planeta Terra. Newton explicou que se a Terra não possuísse um movimento de rotação em torno de seu eixo ela teria a forma esférica. No entanto, devido a esse movimento de rotação, existem forças inerciais que fazem com que ela seja achatada nos polos e alongada no equador. Newton também explicou a razão da chamada "precessão dos equinócios". Com efeito, Copérnico havia descoberto que o eixo de rotação da Terra faz um ângulo de 23,5ºcom a normal ao plano da órbita em torno do Sol. Embora este ângulo se mantenha constante, o eixo de rotação gira em torno dessa normal, descrevendo um cone completo a cada 26000 anos. Esse fenômeno é chamado de "precessão dos equinócios", pelo fato de alterar, a cada ano, o instante em que a duração dos dias iguala a das noites (equinócios). Newton foi capaz de explicar o motivo deste movimento: pelo fato da Terra ser achatada nos polos, as atrações gravitacionais produzidas pela Lua e pelo Sol produziriam um torque, responsável pela precessão. Newton, em seus escritos, foi ainda mais longe, calculando a taxa de precessão e encontrando o resultado de 50" por ano, em excelente concordância com a experiência. Newton mostrou ainda que a explicação para a causa das marés oceânicas e para o fato de ocorrerem duas marés altas a cada dia está na força gravitacional exercida pela Lua e, com menos intensidade, pelo Sol. A porção de oceano situada bem em frente à Lua sofre uma atração mais acentuada do que a parte sólida do planeta que se encontra logo abaixo do oceano, o que provoca maré alta. A porção diametralmente oposta, no entanto, também terá maré alta porque a parte sólida do planeta, agora situada mais próximo da Lua do que a porção de oceano acima dela, sofrerá uma atração gravitacional lunar mais intensa e se deslocará em direção ao satélite mais do que a massa de água adjacente. Façamos, por fim, uma consideração a respeito da concepção newtoniana da força da gravidade. A ideia de ação a distância presente na força gravitacional foi rejeitada como absurda - 0800 282 8812 | 75 3604.9950 - FAT Pró Saber - www.fatprosaber.com.br - 31 Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 33 por muitos dos contemporâneos de Newton, que a associaram, inclusive, a concepções mágicas, características do pensamento pré-científico. Em verdade, em que pese sua formulação da gravitação universal, o próprio Newton possuía sólidas reservas em relação a ideia de um corpo agir sobre outro a uma certa distância. Escreveu-o claramente em uma carta a Richard Bentley: É inconcebível que a matéria bruta inanimada, sem mediação de alguma outra coisa que não seja material, possa atuar sobre uma outra matéria e afetá-la sem contato mútuo, como deveria acontecer se a gravitação, no sentido de Epicuro, lhe fosse essencial e inerente. E essa é uma razão pela qual desejaria que não me atribuísseis a gravidade inata. Que a gravidade seja inata, inerente e essencial à matéria, de modo que um corpo possa agir sobre o outro a distância através de um vácuo, sem a mediação de qualquer outra coisa pela qual essa ação e essa força seja comunicada de um a outro, é para mim absurdo tão grande que creio que nenhum homem, por menos versado que seja em assunto de filosofia, possa jamais sucumbir a ele. [20] Poderíamos dizer, portanto, que a concepção da gravidade como uma propriedade primária da matéria se consolidou à sua revelia. Falais às vezes da gravidade como essencial e inerente à matéria. Rogo-vos não atribuir a mim essa noção, pois a causa da gravidade é coisa que não pretendo conhecer e, portanto, gostaria de considerar mais a fundo. [21] Em outras palavras, a teoria newtoniana não forneceu uma "explicação" da gravidade como um fenômeno derivado de causas a serem determinadas. Forneceu uma descrição matematicamente formalizada da maneira como sua atuação, considerada como puro fato experimental, se dá na Natureza. A despeito de qualquer estranhamento inicial, a construção monumental presente na obra de Newton tornou-se logo objeto de imensa admiração por parte dos estudiosos. Sua ciência consistia na dedução matemática de uma grande variedade de resultados a partir de alguns poucos princípios, inferidos da experiência. Essa reunião de uma sólida estrutura lógico- dedutiva, cujo modelo paradigmático foi fornecido pela Geometria de Euclides, com um elemento empírico que lhe assentava as bases tornou-se modelo de construção do pensamento científico. Enfim, a obra de Newton representou para a sua época, bem como para as subsequentes, o triunfo da razão humana sobre o desconhecimento. - 0800 282 8812
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