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Supervisão e Orientação Pedagógica 1º Edição / Setembro / 2010 São Paulo - SP Erlinda Martins Batista AULA 2 1 A Participação na administração escolar Os profissionais atuantes na escola, sejam eles professores ou funcionários técnicos, são chamados atualmente à participação na administração escolar. Sobre esse assunto, Perrenoud (2000) questiona: Solicita-se de fato aos professores a sua participação na administração escolar? Os professores têm interesses por essa participação? Embora o referido autor veja logicidade na clareza das respostas às questões do gestor levantadas, ele considera relevante na busca das respostas a apreciação de quatro ações básicas. Em sua visão o gestor deve primeiramente criar, “negociar um projeto da instituição”, administrar os recursos da escola (p.96). 3 O autor citado argumenta que modos de gestão “arcaicos, burocráticos” (idem), assentados na desconfiança e na falta de autonomia são responsáveis por sistemas educativos desmantelados. Nesse pensamento requer-se do gestor competência para definir objetivos gerais que propiciam o controle efetivo, a “transparência das escolhas e a prestação obrigatória de contas” (ibidem). O funcionamento burocrático adequado do sistema educativo envolve profissionalismo, responsabilidade, participação, autonomia da gestão, projetos institucionais e cooperação. Sobre a gestão participativa, Fernandes (2010) corrobora afirmando estar essa contemplada na Lei LDB, em seu item VIII, que regulamenta: gestão democrática do ensino público na forma desta lei e das legislações dos sistemas de ensino. Vale destacar que: (...) a questão da participação, um dos princípios basilares da democracia ainda não é exequível. As decisões ainda são verticalizadas e centralizadas. As instâncias de participação ainda são monopólios: “Diretores, professores e funcionários, com prevalência dos primeiros, ainda monopolizam os foros de participação”. Os usuários ainda veem a escola como propriedade do 4 governo, o professor é o dono da sala de aula e o diretor é o guardião dessa concepção enraizada nas mentalidades, apesar da legislação ter sido colocada como mecanismo regulador para mudar essa situação. (MENDONÇA, 2000, p. 6, apud Fernandes, 2010: p. 22) Outras pesquisas, como a de Veiga e Batista (2008, 2009), também confirmaram as discussões sobre a verticalização e centralização encontrada na instância gestora de escola pública municipal. Para a solução dos problemas apontados, pesquisadores nacionais como Paro (1990, 1997), Almeida (2005) e estrangeiros como Perrenoud (2000), têm apresentado em seus estudos a constatação da necessidade de se preparar os gestores no sentido de que eles desenvolvam habilidades e competências para o exercício da administração escolar. Para Perrenoud, (2000), a previsão de mudanças nos contextos de gestores deve ocorrer na “junção de dois procedimentos complementares: de um lado, uma adesão progressiva dos atores a novos modelos; de outro, a construção, igualmente progressiva, dos saberes e das competências capazes de fazê-los funcionarem na prática”. (p. 96) A construção de novas competências no espaço da gestão escolar deve abranger todos os sujeitos atuantes no sistema educacional: Os professores, os técnicos, os diretores, os gestores, a fim de que eles possam aprender a “delegar, pedir contas, conduzir, suscitar, caucionar ou negociar projetos, fazer e interpretar balanços, incitar sem impor, dirigir sem privar” (idem). Os procedimentos de formação dos sujeitos inseridos no 5 sistema educacional, afins ao cotidiano escolar, devem ir além da formação e do processo reflexivo. É preciso que nesses processos de mudanças e de preparação os gestores sejam levados à construção de sua identidade. Considera-se esse processo mais complexo do que a simples formação para delegar, é um processo de construção em que o sujeito se constitui em função de uma nova identidade, a identidade de gestor. Constituir-se gestor, portanto, faz parte de um processo de construção identitária do gestor. 2 O trabalho pedagógico na escola: dimen- são política e técnica da educação infan- til e do ensino fundamental O trabalho pedagógico na escola, em sua dimensão política passa pela necessidade de investimentos de seus gestores, no sentido de preparar professores e equipá-los tecnicamente para a docência nos diversos níveis de escolarização, abrangendo entre eles os níveis: infantil e fundamental. Os estudos de Nunes (2001) mostraram que a formação e a profissão d o p rofessor m erecem uma retomada de visão para se compreender a prática pedagógica do professor tido como um “mobilizador de saberes profissionais”. (p. 27) Fonte: http://www.moodle.ufba. br/file.php/8857/inclusao_2.gif 6 A autora afirma que o professor constrói e reconstrói os seus saberes a partir de suas práticas, das necessidades, das dificuldades que vivencia nelas, dos seus cursos de formação e dos conhecimentos que vão sendo adquiridos ao longo de todos esses caminhos. Mencionando Tardif (2000), essa pesquisadora confirma que nos contextos de pesquisas educacionais brasileiras, os estudos e temáticas sobre os saberes docentes são relativamente recentes e se dão em diferentes enfoques teóricos. Em suas pesquisas sobre a origem desses estudos, encontrou-se que eles se iniciam com o viés da associação entre prática e formação apenas na década dos anos de 1990. Antes disso, as pesquisas dessas temáticas na área educacional brasileira ocorriam sempre dentro de uma abordagem que separava as práticas pedagógicas da formação e dos saberes epistemológicos que embasam o trabalho dos conteúdos. Após os anos de 1990, reafirma Nunes (2001), as temáticas das pesquisas envolvem novas abordagens veiculadoras da preocupação com uma formação docente que privilegie o profissional professor com saberes que extrapolem os conteúdos acadêmicos, e o preparem tanto para a sala de aula quanto para sua vida organizacional, pessoal e profissional. Essa autora cita também as pesquisas de Nóvoa (1995), em particular as suas ideias sobre pesquisas anteriores, que mostravam uma formação docente valorizadora do desenvolvimento de competências e técnicas, em detrimento de uma focalização na profissionalização do professor, de modo mais completo e mais favorável a esse profissional. As novas pesquisas sobre o profissional docente, a partir dos anos de 1990, passaram a destacar a importância de se preparar professores que sejam valorizados para além de suas práticas pedagógicas e que se leve em conta a sua constituição histórica, integrando-se nela os aspectos: individual e profissional. 7 Nunes (2001) cita também os estudos de Fiorentini (1998), que mostram as tendências das pesquisas recentes e tornam os estudos dos saberes docentes na formação de professores relevantes. Ela aponta que esse pesquisador traz um levantamento das características das formações de professores desde a década de 1960. Naquela data, a formação docente quase que exclusivamente preocupava-se em preparar o professor para o domínio dos conteúdos de sua disciplina. O que foi alterado nos anos de 1970, quando se deu maior destaque para uma formação mais voltada aos aspectos didático-metodológicos permeados pela utilização de recursos tecnológicos em detrimento do domínio dos conteúdos. A partir dos anos de 1980, a formação docente e as práticas pedagógicas são influenciadas pelo discurso educacional dominado pela dimensão sócio-política e ideológica da prática pedagógica. Nesse contexto os saberes escolares, as epistemologias, ficam relegados a um segundo plano, menos valorizados, predominando assim a atenção para a questão política da prática pedagógica. A partir dos anos de 1990, Nunes (2001) evidencia que as pesquisas educacionais se voltam para as temáticas dos saberes docentes, numa contextualização desses saberes com uma formação que privilegie não apenas o desenvolvimento de saberes,de competências, mas que ressalte também o papel da constituição docente em suas práticas pedagógicas. A valorização das experiências, somada aos domínios de conteúdos, pode transformar o perfil do docente, fazendo-o integrado em sua identidade e dotado de um saber original. Essa autora afirma que as pesquisas mais recentes desse campo da educação mostram que a tendência atual tem caminhado para novos paradigmas, considerando haver muitas mudanças nas escolas e nos sujeitos que nela vivenciam as práticas pedagógicas. 8 Esse fato tem mostrado, ainda, uma identificação de pesquisadores brasileiros com estudos internacionais. Nesse sentido, Tardif (1991), afirma que os saberes escolares têm se revelado mais complexos ao longo dos tempos em função do desenvolvimento da formação e das sistematizações dos saberes. Em seus estudos, Tardif (1991) e outros pesquisadores concluem que há uma pluralidade e heterogeneidade do saber docente, destacando a importância dos saberes provenientes da experiência com a docência. (apud Nunes, 2001: p. 32) Além do estudo acima de Tardif (1991), Nunes (2001) menciona que esse mesmo autor, em estudos realizados no ano de 1999, analisou a questão da profissionalização docente a partir do movimento de profissionalização docente. Nessas análises, ele revela que o docente deve ter algumas características recorrentes, entre outras, como: formação e especialização, estudos a partir da universidade, tendência pragmática voltada para a solução de problemas, um processo de reflexão, capacidade de adaptação a situações novas, o que exige uma formação contínua a fim de acompanhar sua própria evolução. Essas considerações são corroboradas com as pesquisas de Gauthier (1998), que define os saberes em: saberes sem ofícios, ofícios feitos de saberes e ofícios sem saberes. Ofício sem saber abrange a falta de sistematização de um saber próprio de um saber do docente, envolvendo experiência, bom senso e intuição. Enquanto os saberes sem ofício se dão pela formalização do ensino, reduzindo sua complexidade e reflexão docente, não condizendo com a realidade. Essa categoria contribui para o enfraquecimento da profissão docente. E o ofício feito de saberes caracteriza um 9 docente possuidor de vários saberes, mobilizado por sua prática, e preocupado com os saberes: — disciplinares; — curriculares; — das ciências da Educação; — os saberes profissionais específicos; — tradição pedagógica; — experiência; e — com ação pedagógica que se refere ao saber experiencial, tornado público e testado para os fins educacionais. Assim, no ofício de saberes proposto por Gauthier (1998), está uma nova proposta de prática pedagógica e fundamentação da profissão docente. Esses saberes podem contribuir para o aperfeiçoamento da prática docente. A relevância das experiências, do bom senso e da intuição é inquestionável, porém há que se preparar o professor, dotá-lo dos conteúdos e metodologias que deve dominar, além de formá-lo para a compreensão de seu papel na sociedade em que vive. A clareza da ideia de sua ação pedagógica como não neutra e, portanto, veiculadora de uma ideologia e função política, deve nortear a constituição do sujeito professor. Consciente da importância de sua ação, de sua participação política e social por meio da prática pedagógica é que pode o professor sentir-se conduzido e valorizado. A formação docente e o desenvolvimento de saberes, compondo uma ação de preparação contínua e ao longo da vida, acredita-se, é o caminho para uma educação mais efetiva no país. Para tanto, é necessário que as políticas públicas viabilizem programas de formação docente e desenvolvimento de saberes aos 10 profissionais da área educacional. A partir dessas políticas e do comprovado envolvimento dos profissionais da educação, pode-se esperar a médio e longo prazo uma educação que realmente venha resolver os problemas básicos escolares e estruturais da sociedade brasileira. Uma política de educação que propicie as condições para se resolver os problemas básicos escolares, deve começar sua ação com investimentos voltados para a educação infantil e ensino fundamental. Primeiramente, é preciso formar os professores como já citado por Nunes (2001) e Gauthier (1998), entre outros, e, em segundo lugar, aplicar recursos na escola básica, no sentido de garantir salas de aulas bem estruturadas e equipadas, além de um corpo técnico escolar e gestores também preparados. O bom trabalho pedagógico na escola pode alterar o panorama da educação infantil, fundamental e do ensino médio no Brasil. 11