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Gestão pedagógica: supervisão e orientação Erlinda Martins Batista 1º Ed. / Setembro / 2010 Impressão em São Paulo - SP Editora Gestão pedagógica: supervisão e orientação Coordenação Geral Nelson Boni Coordenador de Projetos Leandro Lousada Professora Responsável Erlinda Martins Batista Coordenadora Pedagógica de Cursos EaD Profª. Me. Maria Rita Trombini Garcia Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Priscila Wu Temer Revisão Ortográfica Nádia Fátima de Oliveira Carlos Beltrão 1º Edição: Setembro de 2013 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD Know How 2013 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 B333g Batista, Erlinda Martins. Gestão pedagógica: supervisão e orientação. / Erlinda Martins Batista. – São Paulo : Know How, 2010. 150 p. : 21 cm. : il. Inclui bibliografia ISBN : 978-85-63092-74-8 1. Gestão pedagógica. 2. Orientação educacional. 3. Processos educativos. I. Título. CDD – 371.2 Apresentação Cara (o) Acadêmica (o), Parabéns!!! Você está recebendo o livro-texto da disciplina de Gestão pedagógica: supervisão e orientação. Ele foi elaborado e pensado especificamente para esse curso, baseado na especificidade de sua atuação, no seu perfil e nas competências e habilidades que a sua formação deve contemplar. O objetivo geral desse livro é oportunizar aos acadêmicos da EAD, teorias, conceitos e exercícios referentes aos principais temas da Gestão Pedagógica, Supervisão e Orientação Educacional, no âmbito da educação nacional. Esse material tem sido constantemente atualizado e melhorado, e nesse sentido você pode auxiliar, encaminhando suas opiniões, críticas, sugestões e apontando melhorias, via monitor, tutor ou professor. A sua participação e ajuda é muito importante nesse contexto. Lembre-se! A sua vivência nessa disciplina será acompanhada pelo Sistema de Ensino EaD Know How, seja pelo correio postal, por fax, ao telefone, com o e-mail ou no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Sempre que houver dúvida ou dificuldade, entre em contato com a sua Equipe EaD Tupy. Participe dos bate-papos (chats) agendados e poste suas dúvidas no Tira-Dúvidas. Toda a equipe está à sua disposição!!! O desenvolvimento de suas potencialidades, capacidades, habilidades intelectual e profissional é o nosso maior objetivo. Acredite no seu potencial e tenha bons estudos!!! Equipe EaD Know How S 5 UNIDADE 1 Gestão pedagógica UNIDADE 2 Orientação educacional UNIDADE 3 Desenvolvimento Cognoscitivo e as metodologias do ensino e da aprendizagem UNIDADE 4 Supervisão UNIDADE 5 Os processos educativos escolares UNIDADE 6 A educação e a sociedade Referências 19 S u m á r i o 41 57 87 109 123 136 7 Carta do professor Caro(a) acadêmico(a), O campo da administração e gestão da educação foi agraciado com a avaliação crítica das teorias e das práticas de organização e administração adotadas na educação após os debates que ocorreram entre os anos de 1970 e 1980, objetivando criar uma concepção ou uma teoria crítica de educação e de gestão. Essas discussões dos pressupostos epistemológicos tiveram como base “os fatores econômicos e sociais determinantes da administração/gestão escolar”, que “discutiu o caráter conservador dos modelos tradicionais e a possibilidade de uma prática administrativa democrática comprometida com a transformação social e a melhoria da qualidade da educação” (SANDER, 2008, p. 2, apud FERNANDES, 2010: p.07). Para Fernandes (2010): Baseado na crítica da neutralidade da educação e dado o caráter autoritário e burocrático característicos da administração tradicional, consolidou-se a tese, de que a gestão da educação é uma prática essencialmente política. E foi no bojo dessa crítica que surgiram perspectivas de inspiração fenomenológica1 e o movimento2 para a 1 Mais informações podem ser consultadas em WITTMANN (1983). 2 O movimento: O Fórum Nacional de Educação em Defesa da Escola Pública é um dos exemplos que se mostrou relevante como um veículo de comunicação e reivindicações da educação no período da Constituinte. O Fórum reuniu várias instituições e sua ação possibilitou a transformação do parlamento num espaço de luta sobre o qual se conseguiu alguns “ganhos” para a educação nacional. 8 democratização da gestão da educação. No movimento para a democratização da gestão, passaram a vigorar os conceitos de ação colegiada, co-gestão e autogestão, com adoção de práticas descentralizadoras como a constituição de conselhos escolares, participação da comunidade e eleição de diretores. Tendo sido garantido como princípio na Constituição Federal de 1988 (artigo 206, inciso VI) a gestão democrática. (p. 07). Nessa contextualização percebe-se que a gestão democrática surgiu dos embates frequentes entre os interesses da sociedade política e econômica e dos sujeitos que compunham o cenário da educação. Mais precisamente da luta daqueles que detinham a responsabilidade da gestão e da administração escolar que conviviam com os obstáculos dessa prática. Assim, o sistema educacional brasileiro requer gestores empenhados no fazer a gestão democrática, orientadores e supervisores educacionais que exerçam suas atividades de forma a somar à gestão e que sejam conscientes de seu papel de transformação no interior da escola. Há que se preparar profissionais comprometidos com a qualidade da educação e, principalmente, responsáveis pelas propostas de atuação democrática, cônscios de suas atribuições, competências e habilidades, não apenas no cotidiano escolar, mas educadores com ânsia de mudanças na sociedade em que se inserem. Os conteúdos desse livro foram organizados de forma a abranger, ainda que de forma sucinta, os vários aspectos do trabalho e das funções dos gestores, orientadores e supervisores escolares. O texto foi desenvolvido na perspectiva do método 9 materialista histórico e dialético, e espera-se que a metodologia buscada, ancorada no paradigma crítico, se torne um referencial para a formulação do pensamento científico, contribuindo tanto para a formação de cidadãos conscientes quanto para o preparo de educadores compromissados com a educação e com a nação. Sejam bem-vindas (os)!!!! Professora Erlinda Martins Batista 10 11 Plano de estudos As Bases de Dados Para os estudos dos conteúdos sugere-se que suas leituras sejam realizadas primeiramente nesse livro e depois sejam feitas as leituras complementares que podem ser tanto na literatura impressa, relacionada aos assuntos da Gestão Pedagógica, da Orientação Educacional e Supervisão Escolar, quanto na rede de Internet, em sites de periódicos como o da CAPES, do Scielo e outros. Tais pesquisas e leituras deverão subsidiar o presente material. A compreensão dos conteúdos deve ser buscada também nas interações e mediações com os tutores, com professores e colegas. Os conteúdos de abordagem sócio-histórica requerem do(a) acadêmico(a): autonomia, visão crítica e análises críticas no método da dialética. Assim, após as leituras e estudos, procure compartilhar com os colegas (seus pares) as ideias estudadas, ouvir as opiniões contrárias (entender sua razão) e sanar as dúvidas na procura do debate epistemológico. São também disponibilizadas as sugestões de páginas na internet (WEB), para as consultas, bem como uma bibliografia com material que poderá dar o suporte teórico no sentido de equipá-lo(a) e habilitá-lo(a) para as discussões, com o objetivo de expandir o conhecimento dos conteúdos aqui trabalhados. Das Competências e Habilidades a serem desenvolvidas Espera-se que, com o estudo das três unidades apresen-tadas nesse volume, você desenvolva aptidões, competências 12 e habilidades a fim de identificar as questões políticas, econômicas e culturais inerentes à gestão escolar, à orientação pedagógica e à supervisão. Os objetivos da disciplina terão sido alcançados se, ao final de todas as unidades trabalhadas, você tiver obtido conhecimentos para intervir nas situações de orientação pedagógica, de supervisão e de gestão escolar. Outras habilidades que devem ser desenvolvidas são: a elaboração de projetos didáticos para execução em sala de aula e a contextualização das teorias apresentadas no trabalho dessa disciplina, bem como as técnicas para a execução de projetos de aprendizagem no âmbito do ensino institucionalizado. Conhecer as regulamentações legais sobre a gestão, a orientação e a supervisão, se constituem também objetivos que você deverá desenvolver ao longo de seus estudos para essa disciplina. IMPORTANTE!!! Leia com atenção os documentos: Plano Nacional de Educação, sancionado pela Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Você pode encontrar esses textos no link do Ministério da Educação – MEC, informado no endereço do portal abaixo: Portal do MEC (http://portal.mec.gov.br/), na coluna à esquerda, clique em “Legislação”, ou: http://portal. mec.gov.br/index.php?option=com_content&view= article&id=12907:legislacoes&catid=70:legislacoes 13 DESTAQUE PARA OS ARTIGOS 2º E 3º DA LDBN: O art. 2º - título II – dos Princípios e Fins da Educação Nacional, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN que regulamenta: “a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação do trabalho”. No Art. 3º a Lei determina que o ensino deva ser ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público na forma desta lei e das legislações dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extra-escolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. 14 Os itens dos artigos acima regulamentam a direção da educação que se deve realizar no país. Com base no artigo segundo da LDBN, a educação que se busca alcançar tem como finalidade o desenvolvimento da criança, seu preparo para o exercício de cidadania e qualificação para o trabalho. Com esse norte, o cidadão brasileiro tem na educação o espaço para o desenvolvimento de suas potencialidades, de suas habilidades e qualificações para compor e atender a sociedade em que está inserido. A educação, na modalidade a distância, requer do estudante autonomia para a organização e utilização do tempo. Procure elaborar um cronograma pessoal de estudos, independentemente do cronograma sugerido nesse material. Estabeleça um horário determinado para os dias da semana e outro para os finais de semana. Coloque metas de estudos em sua rotina de curso. Na figura a seguir é mostrado um modelo simples de cronograma. Aproveite o modelo!!! Fonte : http ://4.bp.blog spot.com/_4zDzNftnpDo/SUvj9xT XdMI/ AAAAAAAAABc/43AAuuQWQHs/s400/fotolia_4149106.jpg 15 Atividades Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Construção de um blog Eleição dos melhores textos da turma e divulgação no Blog Leitura dos melhores trabalhos pelos seus autores e possível edição em livro Concurso de poesia ou prosa, utilizando as TIC nos vários processos de desenvolvimento “Texto pela Rádio” - Leitura na rádio da escola, durante os intervalos de testos e poemas proibidos antes do 25 de Abril Dinamização do PNL no Blog com actividades promotoras de leitura: livro da quinzena e novidades na caminha amarela Utilização de computadores portáteis no âmbito do projecto: “PraTiCandopara recolha, tratamento de informação e apresentação dos trabalhos das várias disciplinas Videoconferência mediada pela internet entre os alunos de 2 escolas do 1º ciclo do Agrupamento de escolas de Montemor- oVelho Projecto “Eu não sou Pirata” - prentende- se chamar atenção dos alunos e de toda a comunidade educativa sobre todas as formas de pirataria seja na música, livros ou internet Construção de um catálogo bibliotecário e disponibilização online Efectuar pesquisas de autores que integram o PNL Construção de um email para cada um dos alunos e também uma caixa de correio para o blog 16 Belloni (2001) afirma que a Educação a Distância requer estudantes com um perfil de autogestão e auto-organização. Desenvolva em você essa capacidade de autogerência e autoorganização!!! Você é responsável pelo seu tempo!!! Utilize-o de forma adequada e verá que as unidades e atividades propostas não serão tão extensas quanto parecem!!! Busque utilizar todos os recursos dos ambientes online e não virtuais que estão à sua disposição! Questione, e lembre-se sempre que: Mais importante do que ter respostas é ter perguntas!!!! Questione, tire suas dúvidas junto aos seus tutores e aproveite os fóruns de discussões!!! Utilize a réplica e a tréplica nos fóruns durante os debates com seus colegas, com os professores e com os tutores!!! No recurso da réplica e tréplica você tem a oportunidade de refletir com seus pares!!!! Estudos de Batista (2002, 2006, 2007) já mostraram em seus resultados a importância da utilização do fórum online em cursos a distância. Acesse um artigo online sobre o uso do fórum e saiba mais sobre a sua utilização e como potencializar o uso desse recurso no endereço: http://www.cinted.ufrgs.br/ciclo9/artigos/8cErlinda.pdf ou em: http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/issue/view/4/ showToc Faça desse curso, e dessa disciplina, os melhores momentos de estudos de seu dia e da sua vida hoje!!! Bons Estudos!!! Abraços, Erlinda. Gestão pedagógica Gestão pedagógica 1Gestão pedagógica 21 1. Introdução – Conceitos de “Gestão” Tratar o assunto da gestão pedagógica requer, antes de tudo, definir os termos que compõem o nome da disciplina: Gestão Pedagógica: Supervisão e Orientação. Desmembrando esse nome, pergunta-se: “O que é gestão?” Completando a pergunta: “O que é gestão pedagógica?” No contexto pedagógico, é preciso compreender o conceito dos demais termos da nomenclatura citada: “Qual o conceito de supervisão?” e qual o significado do termo: “orientação”, no âmbito da realidade escolar e das práticas pedagógicas? A palavra gestão é conceituada segundo Ferreira (1999), como: “o ato de gerir; gerência; administração” (p.985). No sentido da gestão pedagógica, pode-se afirmar que seu significado é a gerência ou a administração da profissão ou prática de ensinar, compreendendo mais especificamente o ato de gerir o conjunto de doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um objetivo prático. 22 Utilizando-se dos dicionários online, tem-se o mesmo significado, como pode ser conferido no conceito do termo abaixo: Gestão s. f. Gerência; administração. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal= gest%u00e3o+pedag%u00f3gica ou Gestão: s.f. Ação de gerir. / Gerência, administração. // Gestão de negócios, diz-se quando uma pessoa administra os negócios de outra, por eles se responsabilizando solidariamente, mas sem autorização legal. Disponível em: http://www.dicionariodoaurelio.com/dicionario.php?P=Gestao Um exemplo simples de gestão cotidiana muito próxima de você: o professor em sala de aula pode ser visto como um gestor de suas aulas, porque ele administra a sua sala e as suas aulas. Fonte: http://aldoadv.files.wordpress.com/2008/09/j-borges-2.jpg 23 Quanto ao termo: “supervisão”, seu significado na opinião do autor citado é “ação ou efeito de supervisionar ou supervisar”, e supervisar é conceituada como “dirigir, orientar ou inspecionar em plano superior” (p.1906). Outra definição encontrada no dicionário online traduz a palavra supervisão como: s.f. Ato ou efeito de supervisar. / Visão superior. Disponível em: http://www.dicionariodoaurelio.com/dicionario. php?P=Supervisao Quanto ao termo “orientação”, se a prática se volta para a educação, então a palavra é seguida dos qualificativos “escolar” ou “educacional”. Sobre a orientação escolar ou educacional, Ferreira (1999) conceitua: “Processo intencional e metódico destinado a acompanhar, segundo técnicas específicas, o desenvolvimento intelectual e a formação integral da personalidade dos estudantes, sobretudo adolescentes” (p. 1456). Fonte: http://piripiri40graus.com/fotos/zoom-faculdade- chrisfapi-novas-turmas-de-pos-graduacao-655.jpg 24 A partir das conceituações oferecidas, relacionando-se ao nome da disciplina: “Gestão Pedagógica: Supervisão e Orientação” deduz-se que seu objeto corresponde às ações de gerência e administração das doutrinas, princípios e métodos da educação de forma dirigida, orientada e inspecionada com a intencionalidade de propiciar, no meio educativo, o desenvolvimento dos estudantes, inclusive dos adolescentes. A figura do gestor da escola é dada pelo diretor ou direção da escola na maior parte das instituições educacionais. Esse gestor deve possuir além da formação que concerne aos pressupostos da administração escolar, também a formação pedagógica porque em suas atribuições ele deverá demonstrar habilidades e competências para gerir os princípios, processos e métodos da educação, além de orientar, inspecionar e dirigir o corpo administrativo e pedagógico da escola. 1.2 As pesquisas sobre a Gestão Educacional no Brasil nos últimos 50 anos Pesquisadores, entre outros Fernandes (2010), têm Fonte: http://limeira.apaebrasil.org.br/ foto.phtml/106095/ 25 conceituado a gestão a partir de seus estudos, sendo também o caso da definição de Gestão de Sistemas Educacionais dada por Gracindo e Kenski (2001, p.203). Esses a denominam como o “espaço para a análise da administração da educação na ótica das políticas, planejamentos e estratégias de gestão”. O sistema de ensino é o campo onde se dão as articulações, os planejamentos, a implantação e a execução das políticas educacionais que irão caracterizar as Redes de Ensino. PRASSEN (1999) afirma que o sistema de ensino é a esfera educacional responsável por baixar normas relativas à organização e funcionamento que promovem a organicidade do conjunto de escolas, órgãos e instituições educacionais, cada um com funções distintas, porém interdependentes. Apresenta-se aqui uma das mais recentes investigações realizadas por Fernandes (2010), em que essa pesquisadora mostra os estudos científicos produzidos no período de 1997 a 2008. Sua pesquisa constatou – de acordo com as tabelas 01 e 02 abaixo – que aproximadamente 464 objetos, distribuídos em 09 eixos temáticos, têm sido produzidos nos últimos 10 anos, incluindo livros, artigos apresentados em eventos, em revistas, nas bases de dados do Scielo e da Capes como é o caso das teses e dissertações. Tabela 01 – Panorama da Produção Levantada sobre Gestão da Educação: 1997-2008. Livros Capítulos de livros Artigos em revistas ANPED Base Scielo Teses/ Capes Dissertações/ Capes TOTAL 05 07 26 56 23 65 282 464 Fonte: Estado da Arte de FERNANDES (2010). A tabela acima exibe uma produção de 464 objetos científicos envolvendo livros, capítulos de livros, artigos, 26 dissertações e teses sobre a gestão da Educação no período de 1997 a 2008. Esses dados comprovam o interesse da sociedade científica por estabelecer diretrizes para a questão da gestão educacional. Desses artigos apresentados em revistas, se extrai as complexidades e problemáticas vivenciadas na realidade escolar, tanto da escola pública quanto privada no país. Verifica-se nas análises de alguns desses artigos e dissertações que a problemática continua, caracterizando o contexto do sistema educacional como um lócus carente de recursos humanos preparados e de recursos físicos tecnológicos para um trabalho educacional qualitativo que eleve o patamar da nação brasileira no contexto da educação mundial. A tabela 02, mostrada a seguir, apresenta um fato: os estudos da gestão de escolas – processos gerais de gestão e processos de democratização da gestão – se sobressaem em relação aos estudos da gestão de sistemas, na medida em que apresentam 205 objetos científicos tratando aquele assunto, contra 139 tratando deste. Observa-se nesses dados que a gestão específica dos processos escolares e da democratização da gestão tem merecido a atenção dos profissionais e estudantes em todos os níveis da educação, como comprova a tabela 02 a seguir. Eixo temático Produção Total de eixo Teses Dissertações Artigos Trabalhos ANPED Gestão de sistemas 20 82 18 19 139 Tabela 02 - Número de Produções por Eixo Temático. 27 Gestão de Escolas: processos gerais de gestão e processos de democratização da gestão 29 132 17 27 205 Democracia 03 06 04 05 18 Concepções teóricas 04 02 03 1 10 Função, perfil e papel do Gestor 1 26 - - 27 Políticas de Formação e capacitação de Gestores - 14 01 - 15 Público e Privado na educação 03 05 05 04 17 Descentralização e Municipalização 02 08 01 - 11 Gestão da Qualidade Total na educação 03 07 - - 10 Total 65 282 49 56 452 Fonte: Estado da Arte de FERNANDES (2010). A tabela 02 acima comunica que os estudos da função, do perfil e papel do gestor ocupam o terceiro lugar com 27 produtos científicos encontrados. Esse dado revela que as gestões dos sistemas, acompanhadas da gestão de escolas em seus processos gerais e democráticos, seguida dos requisitos e atribuições requeridos do gestor, abrangem 371 estudos, representando 82,08% da produção científica coletada nos últimos 10 anos. Os resultados da pesquisa mostrada nas tabelas 01 e 02 evidenciam que os estudos sobre a gestão dos sistemas educacionais têm aumentado na última década quando se compara esses resultados com os números apontados pela pesquisa de Gouveia, realizada em 1976. 28 Essa pesquisadora demonstrou preocupação em relação às temáticas que estavam sendo investigadas no período de 1970 a 1976. Seus levantamentos mostraram que em algumas áreas3 a pesquisa educacional progredia, mas nas inquirições que incluíam as temáticas relacionadas às “análises organizacionais de sistemas ou unidades escolares” esse avanço não se constatava, como se pode observar por sua análise a seguir: O mesmo não se poderá dizer da área onde se incluiria estudos da escola como organização social e dos sistemas administrativos em que a escola se insere. Esta se apresenta, a nosso ver, como um dos flancos mais desguarnecidos da pesquisa educacional no Brasil. Na categoria que, com pouco refinamento, se convencionou chamar de “Análises Organizacionais”, registram-se apenas duas das noventa e seis comunicações apresentadas na Reunião da SBPC em 1976 e um dentre os cento e quarenta e três projetos financiados pelo INEP no período de 1972-76. Em termos numéricos, pesquisas de tal natureza são tão pouco expressivas quanto as de Economia da Educação (categoria 15) (GOUVEIA, 1976, p. 79). Os dados mostrados por essa autora refletem o contexto político que vivia o país na década de 1970. A autora reconhece que a pesquisa iniciava-se nas universidades, pois a criação dos primeiros programas de pós-graduação nas universidadesocorrera 10 anos antes, isto é, no final da década de 1960. Esses aspectos, entre outros, sugerem a possível razão de tão poucos trabalhos científicos sobre as organizações educacionais terem 3 Para Gouveia, 1976, as pesquisas referentes às características de alunos, estudos de psicologia educacional, elaboração de currículos ou programas e a investigação sobre métodos de ensino predominavam na época pesquisada e citada. 29 sido apresentados na XXVII reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC de 1976, realizada em Brasília. Outro estudo, mostrando uma situação bem diferente da demonstrada por Gouveia na década de 1970, foi apresentado pela Associação Nacional de Política e Administração da Educação - ANPAE relativo ao período de 1991 a 1997. Esse trabalho, intitulado: O Estado da Arte em Política e Gestão da Educação no Brasil 1991 a 1997, investigou um total de 922 pesquisas que tratavam política e gestão educacional (WITTMANN e GRACINDO, 2001, p.17). Verificou-se uma mudança significativa no número de produções – de 02 trabalhos apresentados na SBPC de 1976 para 922 produtos científicos – divulgados pela ANPAE no período de 1991 a 1997. As análises do trabalho de Gouveia (1976), da ANPAE (1991-1997) e de Fernandes (2010), evidenciam: embora o número de trabalhos tenha aumentado nos últimos 10 (dez) anos, esse campo continua a demandar investigações, a fim de que as gestões educacionais apresentem efetivas mudanças que alterem o panorama de gestão desses sistemas na atualidade, contribuindo para uma gestão adequada ao mundo globalizado. Dos 922 produtos científicos mostrados pela ANPAE, 62 versavam sobre a gestão de sistemas educacionais, 134 tratavam a gestão de escolas e 60 a respeito da municipalização e da gestão municipal. Destaca-se que esses estão “distribuídos entre dissertações de mestrados, tese de doutorado e pesquisas de docentes, sendo que 80% (oitenta por cento) delas tiveram como foco a gestão relacionada ao setor público” (idem, ibid., 2004, p. 204 apud Fernandes, 2010: p.06). Essa autora afirma ainda que: 30 “esse crescimento significativo da área se deve a alguns fatores como: a criação da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) em 1961, ao processo de redemocratização da sociedade brasileira e também a institucionalização da pesquisa em educação no espaço das universidades brasileiras com a criação dos cursos de pós-graduação”. (idem) Para Fernandes (2010) a criação da ANPAE e a ampla discussão do processo de democratização da sociedade brasileira são aspectos que influenciaram a efetivação de estudos significativos no campo da gestão. Observa-se no artigo 3º, em seu item VIII da LDB que a gestão do ensino público e dos sistemas de ensino (aqui esse item se estende aos outros tipos de gestão diversos do público), deve ser democrática na forma da Lei e das Legislações que regem os sistemas de ensino. Fernandes (2010) argumenta que “com a regulamentação da LDB de 1996 estabeleceu-se que os sistemas de ensino criariam normas para o desenvolvimento da gestão democrática nas escolas públicas de educação básica”, sendo essas normas em acordo com as particularidades de cada sistema educacional. 1.3 A Participação na administração escolar Os profissionais atuantes na escola, sejam eles professores ou funcionários técnicos, são chamados atualmente à participação 31 na administração escolar. Sobre esse assunto, Perrenoud (2000) questiona: Solicita-se de fato aos professores a sua participação na administração escolar? Os professores têm interesses por essa participação? Embora o referido autor veja logicidade na clareza das respostas às questões do gestor levantadas, ele considera relevante na busca das respostas a apreciação de quatro ações básicas. Em sua visão o gestor deve primeiramente criar, “negociar um projeto da instituição”, administrar os recursos da escola (p.96). O autor citado argumenta que modos de gestão “arcaicos, burocráticos” (idem), assentados na desconfiança e na falta de autonomia são responsáveis por sistemas educativos desmantelados. Nesse pensamento requer-se do gestor competência para definir objetivos gerais que propiciam o controle efetivo, a “transparência das escolhas e a prestação obrigatória de contas” (ibidem). O funcionamento burocrático adequado do sistema educativo envolve profissionalismo, responsabilidade, participação, autonomia da gestão, projetos institucionais e cooperação. Sobre a gestão participativa, Fernandes (2010) corrobora afirmando estar essa contemplada na Lei LDB, em seu item VIII, que regulamenta: gestão democrática do ensino público na forma desta lei e das legislações dos sistemas de ensino. Vale destacar que: (...) a questão da participação, um dos princípios basilares da democracia ainda não é exequível. As decisões ainda são verticalizadas e centralizadas. As instâncias de participação ainda são monopólios: “Diretores, professores e funcionários, com prevalência dos primeiros, ainda monopolizam os foros de participação”. Os usuários ainda veem a escola como propriedade do 32 governo, o professor é o dono da sala de aula e o diretor é o guardião dessa concepção enraizada nas mentalidades, apesar da legislação ter sido colocada como mecanismo regulador para mudar essa situação. (MENDONÇA, 2000, p. 6, apud Fernandes, 2010: p. 22) Outras pesquisas, como a de Veiga e Batista (2008, 2009), também confirmaram as discussões sobre a verticalização e centralização encontrada na instância gestora de escola pública municipal. Para a solução dos problemas apontados, pesquisadores nacionais como Paro (1990, 1997), Almeida (2005) e estrangeiros como Perrenoud (2000), têm apresentado em seus estudos a constatação da necessidade de se preparar os gestores no sentido de que eles desenvolvam habilidades e competências para o exercício da administração escolar. Para Perrenoud, (2000), a previsão de mudanças nos contextos de gestores deve ocorrer na “junção de dois procedimentos complementares: de um lado, uma adesão progressiva dos atores a novos modelos; de outro, a construção, igualmente progressiva, dos saberes e das competências capazes de fazê-los funcionarem na prática”. (p. 96) A construção de novas competências no espaço da gestão escolar deve abranger todos os sujeitos atuantes no sistema educacional: Os professores, os técnicos, os diretores, os gestores, a fim de que eles possam aprender a “delegar, pedir contas, conduzir, suscitar, caucionar ou negociar projetos, fazer e interpretar balanços, incitar sem impor, dirigir sem privar” (idem). Os procedimentos de formação dos sujeitos inseridos no 33 sistema educacional, afins ao cotidiano escolar, devem ir além da formação e do processo reflexivo. É preciso que nesses processos de mudanças e de preparação os gestores sejam levados à construção de sua identidade. Considera-se esse processo mais complexo do que a simples formação para delegar, é um processo de construção em que o sujeito se constitui em função de uma nova identidade, a identidade de gestor. Constituir-se gestor, portanto, faz parte de um processo de construção identitária do gestor. 1.4 O trabalho pedagógico na escola: dimen- são política e técnica da educação infan- til e do ensino fundamental O trabalho pedagógico na escola, em sua dimensão política passa pela necessidade de investimentos de seus gestores, no sentido de preparar professores e equipá-los tecnicamente para a docência nos diversos níveis de escolarização, abrangendo entre eles os níveis: infantil e fundamental. Os estudos de Nunes (2001) mostraram que a formação e a profissão do professor merecem uma retomada de visão para se compreender a prática pedagógica do professor tido como um “mobilizador de saberes profissionais”. (p. 27) Fonte: http://www.moodle.ufba. br/file.php/8857/inclusao_2.gif 34 A autora afirma que o professor constróie reconstrói os seus saberes a partir de suas práticas, das necessidades, das dificuldades que vivencia nelas, dos seus cursos de formação e dos conhecimentos que vão sendo adquiridos ao longo de todos esses caminhos. Mencionando Tardif (2000), essa pesquisadora confirma que nos contextos de pesquisas educacionais brasileiras, os estudos e temáticas sobre os saberes docentes são relativamente recentes e se dão em diferentes enfoques teóricos. Em suas pesquisas sobre a origem desses estudos, encontrou-se que eles se iniciam com o viés da associação entre prática e formação apenas na década dos anos de 1990. Antes disso, as pesquisas dessas temáticas na área educacional brasileira ocorriam sempre dentro de uma abordagem que separava as práticas pedagógicas da formação e dos saberes epistemológicos que embasam o trabalho dos conteúdos. Após os anos de 1990, reafirma Nunes (2001), as temáticas das pesquisas envolvem novas abordagens veiculadoras da preocupação com uma formação docente que privilegie o profissional professor com saberes que extrapolem os conteúdos acadêmicos, e o preparem tanto para a sala de aula quanto para sua vida organizacional, pessoal e profissional. Essa autora cita também as pesquisas de Nóvoa (1995), em particular as suas ideias sobre pesquisas anteriores, que mostravam uma formação docente valorizadora do desenvolvimento de competências e técnicas, em detrimento de uma focalização na profissionalização do professor, de modo mais completo e mais favorável a esse profissional. As novas pesquisas sobre o profissional docente, a partir dos anos de 1990, passaram a destacar a importância de se preparar professores que sejam valorizados para além de suas práticas pedagógicas e que se leve em conta a sua constituição histórica, integrando-se nela os aspectos: individual e profissional. 35 Nunes (2001) cita também os estudos de Fiorentini (1998), que mostram as tendências das pesquisas recentes e tornam os estudos dos saberes docentes na formação de professores relevantes. Ela aponta que esse pesquisador traz um levantamento das características das formações de professores desde a década de 1960. Naquela data, a formação docente quase que exclusivamente preocupava-se em preparar o professor para o domínio dos conteúdos de sua disciplina. O que foi alterado nos anos de 1970, quando se deu maior destaque para uma formação mais voltada aos aspectos didático-metodológicos permeados pela utilização de recursos tecnológicos em detrimento do domínio dos conteúdos. A partir dos anos de 1980, a formação docente e as práticas pedagógicas são influenciadas pelo discurso educacional dominado pela dimensão sócio-política e ideológica da prática pedagógica. Nesse contexto os saberes escolares, as epistemologias, ficam relegados a um segundo plano, menos valorizados, predominando assim a atenção para a questão política da prática pedagógica. A partir dos anos de 1990, Nunes (2001) evidencia que as pesquisas educacionais se voltam para as temáticas dos saberes docentes, numa contextualização desses saberes com uma formação que privilegie não apenas o desenvolvimento de saberes, de competências, mas que ressalte também o papel da constituição docente em suas práticas pedagógicas. A valorização das experiências, somada aos domínios de conteúdos, pode transformar o perfil do docente, fazendo-o integrado em sua identidade e dotado de um saber original. Essa autora afirma que as pesquisas mais recentes desse campo da educação mostram que a tendência atual tem caminhado para novos paradigmas, considerando haver muitas mudanças nas escolas e nos sujeitos que nela vivenciam as práticas pedagógicas. 36 Esse fato tem mostrado, ainda, uma identificação de pesquisadores brasileiros com estudos internacionais. Nesse sentido, Tardif (1991), afirma que os saberes escolares têm se revelado mais complexos ao longo dos tempos em função do desenvolvimento da formação e das sistematizações dos saberes. Em seus estudos, Tardif (1991) e outros pesquisadores concluem que há uma pluralidade e heterogeneidade do saber docente, destacando a importância dos saberes provenientes da experiência com a docência. (apud Nunes, 2001: p. 32) Além do estudo acima de Tardif (1991), Nunes (2001) menciona que esse mesmo autor, em estudos realizados no ano de 1999, analisou a questão da profissionalização docente a partir do movimento de profissionalização docente. Nessas análises, ele revela que o docente deve ter algumas características recorrentes, entre outras, como: formação e especialização, estudos a partir da universidade, tendência pragmática voltada para a solução de problemas, um processo de reflexão, capacidade de adaptação a situações novas, o que exige uma formação contínua a fim de acompanhar sua própria evolução. Essas considerações são corroboradas com as pesquisas de Gauthier (1998), que define os saberes em: saberes sem ofícios, ofícios feitos de saberes e ofícios sem saberes. Ofício sem saber abrange a falta de sistematização de um saber próprio de um saber do docente, envolvendo experiência, bom senso e intuição. Enquanto os saberes sem ofício se dão pela formalização do ensino, reduzindo sua complexidade e reflexão docente, não condizendo com a realidade. Essa categoria contribui para o enfraquecimento da profissão docente. E o ofício feito de saberes caracteriza um 37 docente possuidor de vários saberes, mobilizado por sua prática, e preocupado com os saberes: — disciplinares; — curriculares; — das ciências da Educação; — os saberes profissionais específicos; — tradição pedagógica; — experiência; e — com ação pedagógica que se refere ao saber experiencial, tornado público e testado para os fins educacionais. Assim, no ofício de saberes proposto por Gauthier (1998), está uma nova proposta de prática pedagógica e fundamentação da profissão docente. Esses saberes podem contribuir para o aperfeiçoamento da prática docente. A relevância das experiências, do bom senso e da intuição é inquestionável, porém há que se preparar o professor, dotá-lo dos conteúdos e metodologias que deve dominar, além de formá-lo para a compreensão de seu papel na sociedade em que vive. A clareza da ideia de sua ação pedagógica como não neutra e, portanto, veiculadora de uma ideologia e função política, deve nortear a constituição do sujeito professor. Consciente da importância de sua ação, de sua participação política e social por meio da prática pedagógica é que pode o professor sentir-se conduzido e valorizado. A formação docente e o desenvolvimento de saberes, compondo uma ação de preparação contínua e ao longo da vida, acredita-se, é o caminho para uma educação mais efetiva no país. Para tanto, é necessário que as políticas públicas viabilizem programas de formação docente e desenvolvimento de saberes aos 38 profissionais da área educacional. A partir dessas políticas e do comprovado envolvimento dos profissionais da educação, pode-se esperar a médio e longo prazo uma educação que realmente venha resolver os problemas básicos escolares e estruturais da sociedade brasileira. Uma política de educação que propicie as condições para se resolver os problemas básicos escolares, deve começar sua ação com investimentos voltados para a educação infantil e ensino fundamental. Primeiramente, é preciso formar os professores como já citado por Nunes (2001) e Gauthier (1998), entre outros, e, em segundo lugar, aplicar recursos na escola básica, no sentido de garantir salas de aulas bem estruturadas e equipadas, além de um corpo técnico escolar e gestores também preparados. O bom trabalho pedagógico na escola pode alterar o panorama da educação infantil, fundamental e do ensino médio no Brasil. 39 Reflexões da Unidade I Reflita e responda as seguintes questões: 1) Qual a sua concepção de gestão pedagógica? 2) Qual a distinção entre gestão pedagógica e sistemas de gestão?3) Quais os tipos de gestão pedagógica que estão disponíveis para a escola atual? 4) Que modelo de gestão escolar você sugere para uma instituição escolar cuja intencionalidade é servir à sociedade? 5) O que é gestão participativa? 6) Quais suas conclusões a partir dos resultados mostrados pelas pesquisas sobre a gestão educacional dos últimos 50 anos? 7) Reflita sobre a dimensão política e técnica da educação infantil e do ensino fundamental. Orientação vocacional Orientação vocacional 2Orientação vocacional Orientação vocacional 43 Orientação vocacional 2.1 Introdução - O termo: “Orientação Educacional” De acordo com pesquisa no link da Wikipédia; http:// pt.wikipedia.org/wiki/Orienta%C3%A7%C3%A3o_educacional, a expressão “orientação educacional”, que já abordamos antes, é conceituada como: (...) uma especialidade do pedagogo, que pode ser obtida através de cursos de habilitação, incorporada ou não à licenciatura em pedagogia, ou através de especialização. O orientador educacional atua junto ao corpo discente das instituições de ensino, acompanhando as atividades escolares, bem como o desempenho do estudante, seja em termos de rendimento ou de comportamento. (Último acesso: Julho/2010) Perrenoud (2000) afirma que “as instituições de formação inicial e contínua precisam de referenciais para orientar seus programas, e os orientadores servem-se deles para avaliar os professores em exercício e pedir-lhes contas” (p.12). Os referenciais para a orientação pedagógica devem ser preparados levando-se em conta a linha de pensamento adotada pela instituição. Esses referenciais devem ser conhecidos pelos professores da instituição com clareza e precisão. A adoção de um programa de formação continuada para os professores pode ser uma alternativa que mantém professores, supervisores, orientadores e diretores atualizados e preparados para o exercício de suas competências. 44 Segundo Perrenoud (2000), “os professores devem dominar os saberes” que deverão ensinar, “ser capazes de dar aulas, de administrar uma turma e de avaliar” (p.13). Esse pesquisador argumenta que “o ofício de professor consiste também, por exemplo, em administrar a progressão das aprendizagens” ou em “envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho”. (idem) 2.2 A relação entre o ensinar e o aprender Paulo Freire (2003), em sua obra “Pedagogia da Autonomia – saberes necessários à prática educativa”, afirma que ensinar exige: — Rigorosidade metódica; — pesquisa; — respeito aos saberes dos educandos; — criticidade; — estética e ética; — corporeificação das palavras pelo exemplo; — risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; — reflexão crítica sobre a prática; — o reconhecimento e a assunção da identidade cultural; — consciência do inacabamento; — reconhecimento de ser condicionado; — respeito à autonomia do ser do educando; — bom senso; — humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores; entre outras habilidades e competências. 45 Na obra citada, Freire (2003) conclui, no terceiro capítulo, que ensinar é uma especificidade humana. Uma questão se levanta quando se observa a realidade da educação no país. Uma questão que não quer calar diante de tantas críticas à educação brasileira: Sendo uma especificidade humana, e sendo os educadores nacionais pessoas “humanas”, por que a educação no Brasil é tão elementar e tem ficado em patamares nada animadores diante dos gráficos e rankings internacionais? Na página seguinte é mostrado um gráfico com os rankings internacionais do programa de avaliação internacional dos estudantes, realizado em 2006, mas, divulgados em 2007 pela Folha online, a partir de informações da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). O gráfico mostra a posição dos países no ranking mundial de educação. Nele, é mostrada a posição do melhores alunos no ensino da matemática, sendo os primeiros lugares reservados para os estudantes da Finlândia, Coreia do Sul e Canadá. O Brasil fica com a antepenúltima posição, isto é, só ficou na frente de dois últimos países: Colômbia e Tunísia. O gráfico mostra que o Brasil foi reprovado em matemática e leitura, tendo obtido a 53ª posição entre 57 países. Essa avaliação dá ao Brasil o resultado de péssimo na avaliação PISA (Sigla em Inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos) dos conhecimentos de ciências, matemática e leitura. 46 47 48 Para Freire (2003), ensinar exige comprometimento. Exige ainda saber escutar e compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo. Para intervir no mundo é preciso ter percepção do mundo. E a educação é o lugar onde se percebe o mundo. Para ensinar a percepção do mundo, é preciso que educadores percebam, observem o universo e tenham domínio do conhecimento. Para que o educador possa ensinar é necessário antes que ele conheça os processos do aprender. Como se dá o aprender na criança? Para tratar a relação entre o ensinar e o aprender, utiliza- se uma interlocução com o pensamento de Vigotsky (2003), apresentado em sua obra: “O desenvolvimento psicológico na infância”. O assunto foi subdividido pelo autor citado em 6 capítulos, que tratam o desenvolvimento da percepção, da memória, dos pensamentos, das emoções, da imaginação e o problema da vontade na infância. No próximo item discute-se o aspecto da percepção no desenvolvimento psicológico na infância. 2.3 O desenvolvimento da percepção na criança O estudo da percepção na criança é apresentado por Vigotsky (2003), a partir de uma comunicação oral elaborada para uma conferência sobre esse tema. Nessa conferência ele afirmou que não houve antes de seu estudo nenhum outro campo em que se contrapusessem de maneira tão convincente, novas concepções e novos métodos experimentais aos velhos pensamentos associacionistas. 49 No breve resumo introdutório ele apresenta a psicologia associacionista com a ideia de mostrar os resultados dos seus estudos sobre o desenvolvimento da percepção na infância. A psicologia associacionista parte da lei da associação das ideias como uma lei geral fundamental. Nessa lei, a memória se constitui a função central, pois permite a conexão entre os elementos isolados da vida psíquica e a construção e interpretação de todas as outras funções. Na psicologia associacionista; a percepção era vista como o conjunto associativo de sensações. Nessa ideia, a percepção se constituía da soma das sensações isoladas, que se associam entre si. Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_bE3QTnBTgZU/S_LH3qH1GjI/ AAAAAAAAAIk/ti7BHdAIO_w/s400/Crian_as_ao_redor_do_ mundo.jpg 50 Inicialmente, a psicologia associacionista foi aceita. Mas, a psicologia estrutural atacou o ponto de vista associativo e demonstrou o nascimento estrutural integral da vida psíquica das pessoas no contexto da percepção. No pensamento dessa psicologia, da psicologia estrutural, a percepção do conjunto ocorre antes da percepção das partes isoladas. A percepção não ocorre a partir de excitações isoladas, mas da soma das sensações isoladas, díspares, dispersas, e de seu substrato fisiológico. A psicologia estrutural, partindo de pesquisas experimentais, tem como pressuposto que a vida psíquica não se constitui de sensações ou ideias isoladas, que se associam umas às outras, mas, por formações integrais isoladas que foram denominadas estruturas ou imagens, ou gestalts. Fonte: http://www.sedentario.org/wp-content/uploads/2008/05/dollblackwhite.jpg 51 Vigotsky (2003) relata os experimentos de Kohler com galinhas, demonstrando que elas percebiam um par de cores não como uma união associativa, mas como a relação entre essas cores, isto é, a percepção de todo um campo luminoso precede a percepção de partes isoladas e determina essas partes. Tais experimentos foram transpostos para os macacos antropóides e destes para as crianças, com algumas modificações. As observaçõesdesses experimentos evidenciaram que a percepção na criança surge como um processo integral. A ideia que se destaca sobre a percepção é dada pela afirmação de Vigotsky (2003): “ (...) as pesquisas (...) mostraram que durante o desenvolvimento da criança, emergem constantemente novos sistemas, dentro dos quais age a percepção. Nesses sistemas, a percepção adquire novas características, que não são inerentes a ela, à margem do sistema de desenvolvimento” (p.26). Fonte: figuras do word 52 Simultaneamente à formação de novas conexões interfuncionais, no decorrer do processo de desenvolvimento, a percepção se emancipa, se liberta de uma série de conexões características dela nas fases iniciais do desenvolvimento. Os resultados das pesquisas esclarecem que, nas fases iniciais do desenvolvimento, a percepção está relacionada à motricidade, e “constitui apenas um dos momentos do processo sensório- motor integral” e que gradativamente, “com os anos começa a adquirir independência e a libertar-se dessa conexão parcial com a motricidade (p.27). Vigotsky (2003) concorda com a expressão de Lewin, em que o mesmo argumenta que, somente com o passar dos anos, a percepção da criança adquire uma expressão dinâmica entre uma série de processos internos. Esse pesquisador verificou que com a libertação, e com a percepção diferencial desta forma de processo psicomotor integral, é possível a conexão da percepção com o pensamento visual (idem). Vigotsky (2003) menciona também outros pesquisadores da escola de Leipzig, entre outros, Volkelt e Krueger, que mostraram ser a percepção inseparável, tanto do processo sensório- motor quanto da reação emocional. As pesquisas de Krueger evidenciaram que, com o passar do tempo, a percepção se liberta gradativamente da conexão com o afeto imediato, isto é, com a emoção imediata da criança. 2.4 O desenvolvimento da memória na infância Para Vigotsky (2003) o fenômeno da memória foi 53 amplamente discutido e explicado pelas teorias idealistas e materialistas. Ele argumenta que o desenvolvimento da memória na infância se dá tanto na psicologia descritiva quanto na explicativa, embora seja mais adequadamente tratado na linha de pensamento materialista. O autor mencionado destaca que a teoria, que buscava explicar os fenômenos da memória por meio do estabelecimento de contatos entre os neurônios, foi abandonada. E ressalta que as teorias mais aceitas em sua época partem das formulações de que não se pode realmente obter explicações completas da memória sem compreender as funções do cérebro, sem relacioná-las com o substrato material. Citando Hering, um pesquisador de linha idealista, Vigotsky (2003) lembra que memória é uma propriedade geral de toda matéria organizada (p.30). Ele se refere ainda aos estudos de Bergson em que esse apresenta uma visão diferenciada da teoria mecanicista, segundo a qual a memória é um processo em que se pode descobrir a relação real entre a matéria e o espírito. Em seu material de pesquisa Bergson incluiu material real e material patológico. Analisou fenômenos de amnésia e afasia, perda de memória e alterações da linguagem nas lesões cerebrais. Para Bergson, existem 2 aspectos diferentes de memória, irredutíveis um ao outro, ou seja, existem duas memórias: 1) Memória análoga a uma função do cérebro na criança. Memória que consiste em uma atividade espiritual e que se desenvolve paralelamente (as representações) (p.31). 2) Memória motora, sendo motora porque sua estrutura está relacionada ao treinamento, às repetições (p.32). 54 Algumas pesquisas realizadas por Vigotsky (2003) apresentavam a memorização e a atividade da memória, submetidas às mesmas leis estruturadas da percepção. No próximo item, são trazidas algumas ideias de Vigotsky (2001) sobre a relação dos aspectos percepção e memória diante das categorias do cultural e do social no desenvolvimento infantil. 55 Reflexões da Unidade II 1) Que reflexão você faz sobre o papel da orientação educacional? 2) Em sua opinião, que relação existe entre o ensinar e o aprender? 3) Como se dá o desenvolvimento da percepção na criança? 4) Quais suas reflexões sobre o desenvolvimento da memória na infância? Desenvolvimento metodologias
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