Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Equação de Bernoulli e Aplicações Matemática Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) 46 pag. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE NOVA ANDRADINA CURSO DE MATEMÁTICA CRISTIANO DA SILVA DOS ANJOS EQUAÇÃO DE BERNOULLI E APLICAÇÕES Nova Andradina-MS 2008 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE NOVA ANDRADINA CURSO DE MATEMÁTICA CRISTIANO DA SILVA DOS ANJOS EQUAÇÃO DE BERNOULLI E APLICAÇÕES Trabalho apresentado ao curso de Matemática de Licenciatura Plena, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade de Nova Andradina, como requisito final para a obtenção da referida graduação sob a orientação do Professor Luiz Oreste Cauz. Nova Andradina-MS 2008 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark EQUAÇÃO DE BERNOULLI E APLICAÇÕES CRISTIANO DA SILVA DOS ANJOS Trabalho apresentado ao curso de Matemática de Licenciatura Plena, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade de Nova Andradina, como requisito final para a obtenção da referida graduação sob a orientação do Professor Luiz Oreste Cauz . COMISSÃO EXAMINADORA Luiz Oreste Cauz Presidente Marcio Demetrius Martinez Membro Otavio J. N.T.N. dos Santos Membro Nova Andradina-MS, 24 de Novembro, 2008 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark À Deus. Aos meus pais. Aos meus amigos. Dedico Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Se clamares por entendimento, e por inteligência alcançares a tua voz; se como a prata a bus- cares e como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria: da sua boca vem o conhecimento e o entendimento. Provérbios 2:3-6 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Agradecimentos Primeiramente a Deus, que em nome de Jesus Cristo me concedeu sabedoria para conclusão da graduação. À meu orientador, Profo.MSc.Luiz Oreste Cauz, pela amizade e paciêcia, pelo aux́ılio que contribuiu para a elaboração deste trabalho. À minha famı́lia, principalmente aos meus pais, João Francisco do Anjos e Quitéria da Silva dos Anjos, que mesmo em momentos de dificuldades sempre me incentivou à estudar. A todos os meus amigos de graduação, que ajudaram na realização desse trabalho. A todos os professores que estiveram presentes durante minha graduação, pelos ensina- mentos, pelas cobranças e pelos conselhos dados em aulas. Aos meus amigos da Falcão Tratores, em especial ao Marcos Cesar de Paula, Ivaldo Vanin e André Roberto Loyer, que estiveram contribuindo de forma indireta, durante minha graduação. Aos meus amigos da Igreja do Evangelho Quadrangular, principalmente ao Pr.Valdir Aparecido dos Santos, que sempre me ajudou com seus conselhos, mostrando que Deus é a principal fonte de sabedoria. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Resumo Neste trabalho apresentamos um estudo sobre a Equação de Bernoulli e algumas aplicações. Para isto, inicialmente fizemos um estudo geral sobre as equações diferenciais, onde aspectos como linearidade, ordem e tipos de equações diferenciais foram abordados. Além disso, estivemos analisando o número de soluções para uma equação diferencial ordinária. Também foi feito um estudo sobre os métodos de soluções de alguns tipos clássicos de equações diferen- ciais de primeira ordem. Em seguida, estudamos a Equação de Bernoulli, que é uma equação diferencial não linear que pode ser transformada em uma equação linear. Finalmente, apresen- tamos algumas aplicações ligados à f́ısica e à biomatemática nas quais a modelagem matemática leva a uma equacão diferencial na forma da Equação de Bernoulli. Palavras-chave: Equação de Bernoulli, Aplicações, Equação Diferencial Ordinária, Equação Diferencial Linear. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Abstract This work presents a study on the Bernoulli’s equation and some applications. For this, initially made a general study on the differential equations, where issues such as linearity, order and types of equations differentials have been addressed. Moreover, were analyzing the number of solutions to an ordinary differential equation. Too was done a study on methods for solutions of some types classical differential equations of the first order. Then, studied the Bernoulli’s equation, which is an equation nonlinear differential that can be transformed into an equation linear. Finally, we present some applications related to physical and Biomathematics in which the mathematical modeling leads to a differential equation in the form of Bernoulli’s equation. Keywords: Bernoulli’s Equation, Applications, Ordinary Differential Equation, Linear Differential Equation. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Sumário Lista de Figuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 Introdução 11 1 Equações Diferenciais Ordinárias 13 1.1 Ordem e Grau de uma Equação Diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1.2 Equação Diferencial Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1.3 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.4 Problema de Valor Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 1.5 Solução Expĺıcita e Impĺıcita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2 Equações Diferenciais de Primeira Ordem 21 2.1 Equações Lineares de Primeira Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.2 Equações com Coeficientes Constantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.3 Métodos de Solucão de uma Edo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.4 Fator Integrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.5 Equações de Variáveis Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2.6 Equações Homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.7 Equações Exatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.8 Equação de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 2.9 Aplicações da Equação de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Conclusão 45 Referências Bibliográficas 46 9 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermarkLista de Figuras 1.1 Solução particular para a EDO dy dx = 4x. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.2 Solução do PVI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1.3 Circunferência de raio 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 1.4 Famı́lia de soluções de x dy dx + y = 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.1 Solução do PVI (2.20). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 10 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Introdução As equações que envolvem taxas de variação são chamadas de diferenciais. A taxa de variação de uma quantidade é determinada pela diferença entre seus valores em dois tempos próximos. Mais precisamente, uma Equação Diferencial é uma equação que contém as derivadas de uma função procurada ou sua diferencial. Resolver uma equação diferencial significa encontrar uma função que dependa da variável independente x e que satisfaça a equação diferencial dada. As equações diferenciais têm grandes aplicações em engenharia, f́ısica, matemática apli- cada, biologia, etc. Vários fenômenos do mundo real são estudados modelando-os matemati- camente por meio de equações diferenciais. Podemos estudar por exemplo, a posição de um objeto, a variação da temperatura de um material, a concentração de um agente qúımico, a concentração de poluentes ou nutrientes em um meio, a umidade do ar, o número de habitantes de um páıs, a densidade de massa de um gás, etc. Neste trabalho, fizemos um estudo sobre equações diferenciais de primeira ordem. Dare- mos uma atenção especial sobre uma equação conhecida como Equação de Bernoulli. Embora essa equação seja não linear, podemos transformá-la em uma equação linear por meio de uma substituição de variáveis. A equação diferencial da forma dy dx + P (x)y = f(x)yn é chamada de Equação de Bernoulli. Esta equação é devido a Jacques Bernoulli (1654-1705). A famı́lia Bernoulli é com- posta por oito cientista súıços que se destacaram nas áreas da metemática, f́ısica, Astrono- mia em que a história datam do século XVI ao século XX. Entre eles Jacques Bernoulli, Jean Bernoulli e Daniel Bernoulli, juntamente com Gottfried Wilhelm Leibniz, deram grandes contribuições para o desenvolvimento das equações diferenciais. No caṕıtulo 1, fizemos um estudo geral sobre equações diferenciais de primeira ordem onde conceitos como ordem, grau e a linearidade de uma Equação Diferencial foram abordados. A seguir, estudamos os tipos de soluções para uma Equação Diferencial Ordinária (EDO); solução expĺıcita, impĺıcita e solução de uma EDO com problema de valor inicial. No caṕıtulo 2, estudamos as equações diferenciais de primeira ordem, onde apresenta- mos alguns métodos de solução para uma EDO e procedimentos de solução para as seguintes 11 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark equações diferenciais: com coeficientes constantes, lineares, de variáveis separáveis, homogêneas e exatas. Ao final desse caṕıtulo apresentamos a equação de Bernoulli e algumas aplicações da mesma. Este trabalho foi baseado nas referências [1], [2], [3], [4], [5], [6] e [7]. 12 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Caṕıtulo 1 Equações Diferenciais Ordinárias As palavras diferencial e equações obviamente sugerem a resolução de algum tipo de equação envolvendo derivadas. Tais equações podem envolver derivadas ordinárias ou derivadas parciais. Neste trabalho, estudaremos apenas as equações que envolvam somente derivadas ordinárias (EDOs). Definição 1.1. Uma Equação Diferencial Ordinária (EDO) é uma equação da forma F ( x, y, dy dx , ... , dny dxn ) = 0 (1.1) envolvendo uma função incógnita y = y(x) e suas derivadas ou suas diferenciais em que x é a variável independente, y é a variável dependente e o śımbolo dny dxn denota a derivada de ordem n da função y = y(x). Exemplo 1.1. d2y dx2 + 3 dy dx + 6y = sen(x) ( d2y dx2 )3 + 3 dy dx + 6y = tg(x) d2y dx2 + 3 y dy dx = ex dy dx − 5y = 1 xdy − ydx = 0 13 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 1.1 Ordem e Grau de uma Equação Diferencial Definição 1.2. (Ordem de uma EDO) A ordem da equação diferencial ordinária é a ordem da mais alta derivada que aparece na equação. Definição 1.3. (Grau de uma EDO) O grau de uma equação diferencial ordinária é o valor do expoente para a derivada mais alta da equação. Exemplo 1.2. d2y dx2 + 3 dy dx + 6y = sen(x), tem ordem 2 e grau 1 ( d2y dx2 )3 + 3 ( dy dx )10 + 6y = tg(x), tem ordem 2 e grau 3 dy dx − 5y = 1 e 4xdy dx + y = x, tem ordem 1 e grau 1 1.2 Equação Diferencial Linear Definição 1.4. (EDO linear) Uma equação diferencial de ordem n é linear quando pode ser escrita na forma: an(x) dny dxn + an−1(x) dn−1y dxn−1 + ... + a1(x) dy dx + a0(x)y = g(x). (1.2) As equações diferenciais lineares são caracterizadas por duas propriedades: • A variável dependente y e todas as suas derivadas são do primeiro grau, isto é, a potência de cada termo envolvendo y é 1. • ai(x) (i = 1, 2, 3, ..., n) e g(x), só dependem da variável independente x. Definição 1.5. (EDO não linear) As equações diferenciais ordinárias que não podem ser colocadas na forma da equação (1.2) são chamadas de não-lineares. As equações xdy + ydx = 0 d2y dx2 − 2dy dx + y = 0 x3 d3y dx3 − x2 d 2y dx2 + 3x dy dx + 5y = ex são equações diferenciais ordinária lineares de primeira, segunda e terceira ordens, respectiva- mente. 14 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Por outro lado, y d2y dx2 − 2dy dx = x d3y dx3 + y2 = 0 são equações diferenciais ordinária não-lineares de segunda e terceira ordens, respectivamente. Uma equação diferencial de n-ésima ordem da forma (1.2) com g(x) = 0 é chamada homogênea, enquanto que, se g(x) não é identicamente nula, a equação é chamada de não-homogênea. A palavra homogênea neste contexto não se refere aos coeficientes como sendo funções homogêneas. Um estudo desse caso será feito na seção (2.6). 1.3 Solução de uma Equação Diferencial Ordinária Qualquer função f definida em algum intervalo I, que, quando substitúıda na equação diferencial (1.1), reduz a equação a uma identidade, é chamada de solução para a equação no intervalo. Em outras palavras, uma solução para uma equação diferencial ordinária (1.1) é uma função f que possui pelo menos n devivadas e satisfaz a equação, isto é F (x, f(x), f ′(x), ..., fn(x)) = 0, para todo x no intervalo I. Dependendo do contexto, I pode representar um intervalo aberto (a, b), um intervalo fechado [a, b], um intervalo infinito (0,∞) e assim por diante. Quando resolvemos uma equação diferencial de n-ésima ordem (1.1), esperamos uma famı́lia a n-parâmetros de soluções G(x, y, c1, c2, ..., cn) = 0. (1.3) Uma solução para uma equação diferencial que não depende de parâmetros arbitrários é chamada de solução particular. Uma maneira de obter uma solução particular é escolher valores espećıficos para o(s)parâmetro(s) na famı́lia de soluções. Se toda solução para (1.1) no intervalo I pode ser obtida de (1.3) por uma escolha apropriada dos ci, i = 1, 2, ..., n, dizemos que a famı́lia a n-parâmetros é uma solução geral, ou completa, para a equação diferencial. 15 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Geometricamente, a solução geral de uma equação diferencial representa uma famı́lia de curvas (curvas integrais), que também podem ser chamadas de primitivas da equação diferencial dada. Uma solução para uma equação diferencial que é identicamente nula em um intervalo I é em geral referida como solução trivial. Às vezes, uma equação diferencial possui uma solução que não pode ser obtida especifi- cando-se os parâmetros em uma famı́lia de soluções. Tal solução é chamada de solução singular. Exemplo 1.3. A solução da equação diferencial dy dx = 4x é y = 2x2 + C, onde C é uma constante, que representa uma famı́lia de curvas: uma curva para cada valor da constante C. Podemos verificar uma solução particular, tomando C = 2, na figura (1.1). Figura 1.1: Solução particular para a EDO dy dx = 4x. Exemplo 1.4. Considere a equação y′(x) − y(x) = 0 A função y = ex é uma solução particular para a equação linear. Para isso calculamos y′(x) = (ex)′ = ex, observe que y′(x) − y(x) = ex − ex = 0 para todo x real. 16 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Exemplo 1.5. Sabe-se que num movimento retiĺıneo uniformemente variado, a aceleração a = dv dt é constante. Supondo que o movimento parte do repouso e sabendo que v(t) = ds dt , vamos determinar s(t). Como dv dt = a, pode ser resolvida por integração direta, então v(t) = ∫ adt + c1 = at + c1 sendo t ≥ 0 e c1 constante. Na expressão de v(t), fazendo t = 0, obtemos v(0) = c1, como o movimento começa do repouso, segue que c1 = 0 e portanto v(t) = at. Assim, v(t) = ds dt = at então s(t) = ∫ at + c2 = 1 2 at2 + c2 sendo t ≥ 0 e c2 constante. Tomando t = 0 na expressão de s(t), teremos s(0) = c2. Logo, s(t) = 1 2 at2 + s(0). 1.4 Problema de Valor Inicial O problema dy dx = f(x, y) y(x0) = y0 (1.4) é chamado problema de valor inicial (PVI). Uma solucão do problema de valor inicial em um intervalo I, é uma funcão y(x) que está definida neste intervalo, tal que a sua derivada também está definida em I e satisfaz (1.4). Exemplo 1.6. A equação dy dx = e3x 17 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark pode se resolvida por integração direta, temos y(x) = ∫ e3xdx = e3x 3 + c, que é a solução geral da equação diferencial dada. Vamos determinar a solução do PVI dy dx = e3x y ( 1 3 ) = e 3 Substituindo x = 1 3 e y = e 3 na solução geral encontrada, obtemos c = 0. Assim a solução do PVI é y = e3x 3 , válida para −∞ < x < ∞, que é o maior intervalo em que a solução e suas derivadas estão definidas (fig. 1.2). Figura 1.2: Solução do PVI. A seguir vamos enunciar o teorema de existência e unicidade para o problema de valor inicial, cuja demonstração foge do propósito deste trabalho e pode ser encontrada, na referência [7]. Teorema 1.1. (Existência de uma Única Solução) Seja R uma região retangular no plano xy definida por a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d, que contém o ponto (x0, y0) em seu interior. Se f(x, y) e ∂f ∂y são cont́ınuas em R, então existe um intervalo I centrado em x0 e uma única função y(x) definida em I que satisfaz o problema de valor inicial (1.4). 18 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Exemplo 1.7. O teorema (1.1) garante que existe um intervalo contendo x = 1 3 no qual y = e3x 3 é a única solução para o PVI do exemplo (1.6): dy dx = 3y y(1 3 ) = e 3 Isso segue do fato de que f(x, y) = 3y e ∂f ∂y = 3 são cont́ınuas em todo o plano xy. A solução está definida no intervalo de (−∞,∞). 1.5 Solução Expĺıcita e Impĺıcita Uma solução para uma equação diferencial ordinária (1.1) que pode ser escrita na forma y = f(x) é chamada de solução expĺıcita. No exemplo (1.4) temos que y = ex é uma solução expĺıcita de y′(x) − y(x) = 0. Dizemos que uma relação G(x, y) = 0 é uma solução implicita de uma equação diferen- cial ordinária (1.1) em um intervalo I, se ela define uma ou mais solução expĺıcita em I. Uma equação diferencial geralmente possui um número infinito de soluções. Por substi- tuição direta, podemos verificar que qualquer curva, isto é, função, da famı́lia a um parâmetro y = cex, em que c é uma constante arbitrária, satisfaz a equação diferencial do exemplo (1.4). A solução trivial é um membro dessa famı́lia de soluções, correspondente a c = 0. Exemplo 1.8. Para −2 < x < 2, a relação x2 + y2 − 4 = 0 (fig. 1.3) é uma solução impĺıcita para a equação diferencial dy dx = −x y . Segue, por derivação impĺıcita, que d dx (x2) + d dx (y2) − d dx (4) = 0 2x + 2y dy dx = 0 ou dy dx = −x y . A relação x2 + y2 − 4 = 0, define duas funções diferenciais expĺıcitas: y = √ 4 − x2 e y = − √ 4 − x2 no intervalo (−2, 2). 19 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Figura 1.3: Circunferência de raio 2. Exemplo 1.9. Para qualquer valor de c, a função y = c x + 1 é uma solução da equação diferencial de primeira ordem x dy dx + y = 1, no intervalo (0,∞). Temos dy dx = − c x2 , então x dy dx + y = x ( − c x2 ) + ( c x + 1 ) = 1. Variando o parâmetro c, podemos gerar uma infinidade de soluções. Em particular, fazendo c = 0, obtemos uma solução constante y = 1. Veja a figura (1.4). A função y = c x +1 é uma solução da equação diferencial em qualquer intervalo que não contenha a origem, pois y não é diferenciável em x = 0. Figura 1.4: Famı́lia de soluções de x dy dx + y = 1. 20 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Caṕıtulo 2 Equações Diferenciais de Primeira Ordem Neste caṕıtulo, fizemos um estudo sobre equações diferenciais de primeira ordem. Apre- sentamos alguns métodos de soluções das seguintes equações diferenciais: com coeficientes constantes, lineares, de variáveis separáveis, homogêneas e exatas. O objetivo principal deste caṕıtulo será estudar as equações de Bernoulli, que embora não sejam lineares, podem ser transformadas em equações lineares através de uma simples mudança de variáveis. 2.1 Equações Lineares de Primeira Ordem Da definição (1.2) uma equação diferencial de primeira ordem tem a seguinte forma: a1(x) dy dx + a0(x)y = g(x). (2.1) A equação (2.1) pode ser escrita na seguinte forma dy dx + p(x)y = q(x), (2.2) onde p(x) = a0(x) a1(x) e q(x) = g(x) a1(x) . Observe que p(x) e q(x) estão bem definidas se a1(x) 6= 0. 21 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 2.2 Equações com Coeficientes Constantes Se p(x) = a e q(x) = b, onde a e b são constantes, então a equação(2.2) tem a forma dy dx + ay = b, (2.3) e esta é chamada equação linear de primeira ordem com coeficientes constantes. Vamos analisar os seguintes casos: 1. Se a = b = 0 a equação (2.3) se transforma em dy dx = 0, cuja solução geral é dada por y = c, onde c é uma constante. 2. Se a 6= 0 e b = 0, temos que (2.3) tem a seguinte forma dy dx + ay = 0, cuja solução geral é da forma y = ce−ax, onde c é uma constante. A equação (2.3) é chamada equação linear de primeira ordem com coeficientes constantes homogênea. 3. Se a = 0 e b 6= 0, a equação (2.3) é dada por dy dx = b, cuja solução geral é da forma y = bx + c, onde c é uma constante. 4. Se a 6= 0 e b 6= 0, temos a equação (2.3), que é chamada equação linear de primeira ordem com coeficientes constantes não-homogênea. Vamos encontrar a solução desta equação. De fato, dy dx + ay = b dy dx = −ay + b = −a(y − b a ) dy dx y − b a = −a. Integrando ambos os lados da última equação, temos ln ∣ ∣ ∣ ∣ y − b a ∣ ∣ ∣ ∣ = −ax + c1 ∣ ∣ ∣ ∣ y − b a ∣ ∣ ∣ ∣ = ce−ax y = b a + ce−ax, onde c é constante. 22 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Exemplo 2.1. A equação diferencial ordinária de primeira ordem linear com coeficientes constantes dy dx + 2y = 3, tem solução geral da forma y(x) = 3 2 + ce−2x, onde c é constante. 5. Se a é constante e b = f(x), temos a equação (2.3), da seguinte forma dy dx + ay = f(x). (2.4) Multiplicando ambos os membros de (2.4) por eax, que é conhecido como fator integrante (um estudo detalhado sobre fator integrante será visto na seção 2.4), obtemos eax dy dx + ayeax = eaxf(x) ou d dx [yeax] = eaxf(x) (2.5) pois, d dx [yeax] = eax dy dx + ayeax. Como f é cont́ınua em I, eaxf(x) admite primitiva em I. Da equação (2.5) segue que yeax é da forma yeax = C + ∫ eaxf(x)dx ou y = Ce−ax + e−ax ∫ eaxf(x)dx, (2.6) com C uma constante. Portanto as funções da forma (2.6) são soluções de (2.4). Exemplo 2.2. Considere a equação dy dx + y = x + 1 Vamos encontar a solução geral, temos (a = 1 e f(x) = x + 1), assim y = C1e −x + e−x ∫ ex(x + 1)dx. Como ∫ ex(x + 1)dx = xex + C2, logo y = Ce−x + x, onde C = C1 + C2. 23 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 2.3 Métodos de Solucão de uma Edo 1o Método de solução: Vamos supor que y(x) = u(x)v(x), onde as funções u e v são também desconhecidas. Substituindo na equação (2.2) temos du dx v + u dv dx + p(x)uv = q(x), logo v ( du dx + p(x)u ) + u dv dx = q(x). Se escolhermos a função u de forma que ela satisfaça a equação du dx + p(x)u = 0 então, u dv dx = q(x) ou equivalentemente dv dx = q(x) u(x) . Mas a equação acima tem um segundo membro que só depende de x. Então, y(x) = u(x) ( ∫ g(x) u(x) dx + c1 ) . Resta-nos então o problema de resolver a equação du dx + p(x)u = 0, podemos reescrevê-la, como du dx u = −p(x), mas sabemos que d dx ln |u(x)| = du dx u , onde por ln |u(x)| entende-se o logaritmo natural de |u(x)|. Segue então que d dx ln |u(x)| = −p(x), mas esta equação tem um segundo membro que só depende de x. Assim sendo, ln |u(x)| = − ∫ p(x)dx + c3 |u(x)| = e(− ∫ p(x)dx+c3) = (ec3) [ e− ∫ p(x)dx ] , 24 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark como c3 é uma constante de integração então c2 = e c3 também é uma constante. Assim, u(x) = c2e (− ∫ p(x)dx). Logo, y(x) = c2.e (− ∫ p(x)dx) [ ∫ q(x) u(x) dx + c1 ] y(x) = e(− ∫ p(x)dx) ∫ q(x) u(x) dx + ce(− ∫ p(x)dx), onde c = c1c2. Não aparece constante no primeiro termo pois a expressão de u envolve a constante c2. Vamos definir a função w(x) como sendo w(x) = ∫ q(x) u(x) dx. Segue então que y(x) = u(x)w(x) + u(x). Observe ainda que d dx [u(x)w(x)] = du(x) dx w(x) + u(x) dw(x) dx = −p(x) u(x) w(x) + q(x). Logo, a função u.w é uma solução particular da equação linear. Além disso, podemos ver que a solução geral da equação linear é a soma da solução geral da equação homogênea com uma solução particular da equação não-homogênea. Este resultado é caracteŕıstico das equações lineares em geral. Exemplo 2.3. Através do 1o Método, vamos determinar a solução geral da equação diferencial y′(x) = 2xy(x) + x. Consideremos em primeiro lugar a equação homogênea du(x) dx = 2xu(x) cuja solução é u(x) = c1e ∫ 2xdx = c1e x2 , 25 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark pelo 1o Método, temos dv(x) dx = xe−x 2 c1 . Logo, v(x) = 1 c1 ∫ xe−x 2 dx = −e −x2 2c1 + c2. Então, y(x) = u(x)v(x) = c1e x2 ( −e−x2 2c1 + c2 ) = −1 2 + cex 2 onde c = c1c2. 2o Método de solução: Vamos resolver a equação diferencial dada por y′(x) = −y(x) + x3. Em primeiro lugar, consideremos a equação homogênea du dx = −u cuja solução é u(x) = c1e −x. Consideremos agora w(x) = γ(x)e−x, onde tomamos a solução da equação homogênea e em vez de uma constante consideramos uma função de x, a qual devemos determinar. Substituindo w(x) na equação dada, obtemos γ′(x)e−x − γ(x)e−x = −γ(x)e−x + x3. Segue então que dγ(x) dx = x3ex e portanto, γ(x) = ∫ x3exdx, 26 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark integrando por partes, obtemos γ(x) = x3ex − 3x2ex + 6xex − 6ex + c2. A solução geral y(x) da equação dada é tal que y(x) = u(x) + w(x) = c1e −x + x3 − 3x2 + 6x − 6 + c2e−x = ce−x + x3 − 3x2 + 6x − 6 onde fizemos c = c1 + c2. Este método de encontrar uma solução particular da equação completa é chamado de método da variação das constantes. 2.4 Fator Integrante Um bom método geral para resolver uma equação da forma y′ + p(x)y = g(x), (2.7) é multiplicar todos os membros da equação por um fator integrante, que é uma função µ = µ(x) tal que µ(x)y′(x) + µ(x)p(x)y(x) = µ(x)g(x) de tal maneira que o termo da esquerda da nova equação seja exatamente a derivada da função µ(x)y(x), isto é d dx [µ(x)y(x)] = µ(x)y′(x) + µ(x)p(x)y(x). Mas, para que isso ocorra, devemos exigir que µ = µ(x) satisfaça µ(x)y′(x) + µ′(x)y(x) = µ(x)y′(x) + µ(x)p(x)y(x). Assim, basta tomar µ′(x)y(x) = µ(x)p(x)y(x). Admitindo que y = y(x) não seja identicamente nulo, obtemos µ′(x) = µ(x)p(x). 27 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Desse modo, devemos primeiramente resolver esta última equação diferencial, para obter uma solução como µ(x) = e ∫ p(t)dt, observamos que a variável de integração foi alterada para evitar erros na obtenção de tal função. Para simplificar, tomaremos P (x) = ∫ p(t)dt para podermos escrever o fator integrante µ = µ(x), como µ(x) = e[P (x)]. Multiplicando os membros da equação (2.7) por µ(x) = e[P (x)], obteremos eP (x) y′ + p(x) eP (x)y(x) = g(x) eP (x). (2.8) Note que o membro da esquerda da equação (2.8) é a derivada da função y(x) e[P (x)] em relação à variável x. Então escrevendo (2.8) como d dx (y(x)e[P (x)]) = g(x) e[P (x)] e calculando a integral indefinida em ambos os lados da igualdade, obteremos y(x) e[P (x)] = ∫ g(x) e[P (x)]dx+ C. Dessa forma, teremos uma expressão para y = y(x) dada por y(x) = e[−P (x)] [ ∫ g(x) e[P (x)]dx + C ] Exemplo 2.4. Para a equação y′(x) + 2xy = x, p(x) = 2x e g(x) = x, assim, a solução depende de P (x) = x2 e y(x) = e−x 2 [ ∫ ex 2 x dx + C ] , logo y(x) = e−x 2 [ 1 2 ex 2 + C ] = 1 2 + C e−x 2 . 28 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark 2.5 Equações de Variáveis Separáveis Uma equação diferencial da forma dy dx = g(x) h(y) , é chamada de separável ou tem variáveis separáveis. Observe que uma equação separável pode ser escrita como h(y) dy dx = g(x). (2.9) Quando h(y) = 1, é imediato que (2.9) se reduz a dy dx = g(x). Agora, se y = f(x) denota uma solução para (2.9), temos h(f(x)) f ′(x) = g(x). Logo ∫ h(f(x)) f ′(x) dx + c1 = ∫ g(x) dx + c2. (2.10) Mas dy = f ′(x) dx, assim a equação (2.10) é a mesma que ∫ h(y) dy = ∫ g(x) dx + c, (2.11) onde c = c2 − c1. A equação (2.11) indica o procedimento na resolução para equações diferenciais separáveis. Exemplo 2.5. Vamos encontar a solução geral da equação dy dx = x2 y2 . Podemos reescrever a equação dada como y2 dy = x2 dx. Através do procedimento (2.11), temos ∫ y2 dy = ∫ x2 dx y3 3 = x3 3 + c1 y(x) = (x3 + c) 1 3 , onde c é uma constante arbitrária. 29 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Exemplo 2.6. Dada a equação dy dx = ex−y, podemos reescrevê-la como ey dy = ex dx. Integrando cada termo independente, teremos ∫ ey dy = ∫ ex dx + c ⇒ ey = ex + c ⇒ y = ln(ex + c). 2.6 Equações Homogêneas Antes de considerar o conceito de equação diferencial homogênea de primeira ordem e seu método de solução, vamos examinar a natureza de uma função homogênea. Definição 2.1. Se uma função f sastifaz f(tx, ty) = tnf(x, y) para algum número real n, então dizemos que f é uma função homogênea de grau n. Exemplo 2.7. f(x, y) = x2 + y2 é homogênea de grau 2 f(x, y) = 3 √ x2 + y2 é homogênea de grau 2 3 h(x, y) = x3 + y3 + 1 não é homogênea, pois h(tx, ty) 6= t3h(x, y)) f(x, y) = x 2 y2 é homogênea de grau 0 Propriedade 2.1. Se f(x, y) for uma função homogênea de grau n, temos f(x, y) = xn f ( 1, y x ) e f(x, y) = yn f ( x y , 1 ) , em que f ( 1, y x ) e f ( x y , 1 ) são ambas homogêneas de grau zero. Exemplo 2.8. f(x, y) = x2 + 3xy + y2 é homogênea de grau dois, logo f(x, y) = x2 [ 1 + 3 (y x ) + y2 x2 ] = x2 f ( 1, y x ) f(x, y) = y2 [ x2 y2 + 3 ( x y ) + 1 ] = y2 f ( x y , 1 ) 30 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Uma função diferencial homogênea de primeira ordem é definida em termos das funções homogêneas. Definição 2.2. Uma equação diferencial da forma M(x, y) dx + N(x, y) dy = 0 (2.12) é chamada de equação homogênea se ambos os coeficientes M e N são funções homogêneas do mesmo grau. Ou seja, (2.12) é homogênea se M(tx, ty) = tn M(x, y) e N(tx, ty) = tnN(x, y) Uma equação diferencial homogenea da forma (2.12) pode ser resolvida por meio de uma substituição algébrica. Especificamente, a substituição y = uv ou x = vy, em que u e v são as novas variáveis independentes, transformará a equação em uma equação diferencial primeira ordem separável. Sendo assim, tomando y = ux e substituindo sua diferencial dy = udx + xdu em (2.12) temos M(x, ux) dx + N(x, ux) [udx + xdu] = 0 Agora pela propriedade (2.1), podemos escrever xnM(1, u)dx + xnN(1, u)[udx + xdu] = 0 ou [M(1, u) + uN(1, u)]dx + xN(1, u)du = 0. Assim, dx x + N(1, u)du M(1, u) + uN(1, u) = 0. Exemplo 2.9. Seja (x2 + y2)dx + (x2 − xy)dy = 0. Tanto M(x, y) quanto N(x, y) são homogeneas de grau dois. Se fizermos y = ux, segue-se que (x2 + u2x2)dx + (x2 − ux2)[udx + xdu] = 0 x2(1 + u)dx + x3(1 − u)du = 0 1 − u 1 + u du + dx x = 0 [ −1 + 2 1 + u ] du + dx x = 0. 31 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Depois de integrar a última linha, obtemos −u + 2 ln |1 + u| + ln |x| = ln |c| substituindo u = y x , temos −y x + 2 ln ∣ ∣ ∣ 1 + y x ∣ ∣ ∣ + ln |x| = ln |c| Usando propriedades de logaritmo, podemos escrever a equação anterior como ln ∣ ∣ ∣ ∣ (x + y)2 cx ∣ ∣ ∣ ∣ = y x , logo (x + y)2 = cxe y x . 2.7 Equações Exatas Embora a equação ydx + xdy = 0 seja separável e homogênea, podemos ver que ela é também equivalente à diferencial do produto de x e y, isto é ydx + xdy = d(xy) = 0 Por integração, obtemos imediatamente a solução impĺıcita xy = c. Se z = f(x, y) é uma função com derivadas parciais cont́ınuas em uma região R do plano xy, então sua diferencial total é dz = ∂f ∂x dx + ∂f ∂y dy. (2.13) Agora, se f(x, y) = c, segue-se de (2.13) que ∂f ∂x dx + ∂f ∂y dy = 0. Em outras palavras, dada uma famı́lia de curvas f(x, y) = c, podemos gerar uma equação diferencial de primeira ordem, calculando a diferencial total. 32 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Definição 2.3. Uma equação diferencial M(x, y)dx + N(x, y)dy (2.14) é uma diferencial exata em uma região R do plano xy se ela corresponde à diferencial total de alguma função f(x, y). Uma equação diferencial da forma M(x, y)dx + N(x, y)dy = 0 é chamada de uma Equação Exata se a expressão (2.14) é uma diferencial exata. Teorema 2.1. Sejam M(x, y) e N(x, y) funções cont́ınuas com derivadas parciais cont́ınuas em uma região retangular R definida por a < x < b, c < y < d. Então, uma condição necessária e suficiente para que (2.14) seja uma diferencial exata é ∂M ∂y = ∂N ∂x . Demonstração. Vamos mostrar inicialmente que a condição do teorema (2.1) é necessaria. Sendo assim, vamos supor que M(x, y) e N(x, y) tenham derivadas parciais de primeira ordem cont́ınuas em todo plano (x, y). Se a expressão M(x, y)dx + N(x, y)dy é exata, existe alguma função f tal que M(x, y)dx + N(x, y)dy = ∂f ∂x dx + ∂f ∂y dy, para todo (x, y) em R. Logo, M(x, y) = ∂f ∂x , N(x, y) = ∂f ∂y dy, e ∂M ∂y = ∂ ∂y ( ∂f ∂x ) = ∂2f ∂y∂x = ∂ ∂x ( ∂f ∂y ) = ∂N ∂x A igualdade das derivadas parciais mistas é uma consequência da continuidade das derivadas parciais de primeira ordem de M(x, y) e N(x, y). Também temos que a condição do teorema (2.1) é suficiente, mas para isso devemos mostrar que existe uma função f , tal que ∂f ∂x = M(x, y) e ∂f ∂x = N(x, y). A construção de tal função reflete um procedimento básico na resolução para equações exatas. Método de Solução: Dada a equação ∂f ∂x dx + ∂f ∂y dy = 0 33 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Devemos primeiramente mostrar que ∂M ∂y = ∂N ∂x . Depois supor que ∂f ∂x = M(x, y), dáı podemos encontrar f integrando M(x, y) com relação a x, considerando y constante. Escrevemos, f(x, y) = ∫ M(x, y)dx + g(y), (2.15) em que a função arbitrária g(y) é a constante de integração. Agora, derivando (2.15) com relação a y e supondo ∂f ∂y = N(x, y): ∂f ∂y = ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx + g′(y) = N(x, y). Assim, g′(y) = N(x, y) − ∂ ∂y ∫ M(x, y)dx. (2.16) Finalmente,calculamos a integral de (2.16) com relação a y e substituimos o resultado em (2.15). A solução para a equação será f(x, y) = c. Exemplo 2.10. Vamos resolver a equação 2xydx + (x2 − 1)dy = 0. Como M(x, y) = 2xy e N(x, y) = x2 − 1, temos ∂M ∂y = 2x = ∂N ∂x . Logo, a equação é exata e, pelo teorema (2.1), existe uma função f(x, y), tal que ∂f ∂x = 2xy e ∂f ∂y = x2 − 1. Da primeira dessas equações, obtemos, depois de integrar, f(x, y) = x2y + g(y). Derivando a última expressão com relação a y e igualando a N(x, y), temos ∂f ∂y = x2 + g′(y) = x2 − 1. 34 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Segue-se que g′(y) = −1 e g(y) = −y. A constante de integração não precisa ser inclúıda, pois a solução é f(x, y) = c. A solução para a equação não é f(x, y) = x2y − y. Antes, a solução é f(x, y) = c ou f(x, y) = 0, se uma constante é usada na integração de g′(y). 2.8 Equação de Bernoulli A equação diferencial dy dx + P (x)y = f(x)yn, (2.17) em que n é um número real qualquer, é chamada de Equação de Bernoulli . Para n = 0 e n = 1, a equação (2.17) é linear em y. Agora, se y 6= 0, (2.17) pode ser escrita como y−n dy dx + P (x)y1−n = f(x). (2.18) Se fizermos w = y1−n, n 6= 0, n 6= 1, então dw dx = (1 − n)y−n dy dx . Com essa substituição, (2.18) transforma-se na equação linear dw dx + (1 − n)P (x)w = (1 − n)f(x). (2.19) Resolvendo (2.19) e depois fazendo y1−n = w, obtemos uma solução para (2.17). Exemplo 2.11. Vamos encontar a solução para a seguinte equação de Bernoulli, dy dx + 1 x y = xy2. Em (2.17), identificamos P (x) = 1 x , f(x) = x e n = 2. Logo, a mudança de variável w = y−1 nos dá dw dx − 1 x w = −x. O fator de integração para essa equação linear em, digamos, (0,∞) é e(− ∫ dx x ) = e− ln |x| = x−1, 35 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark assim d dx [x−1w] = −1. Integrando essa última forma, obtemos x−1w = −x + c ou w = −x2 + cx. Como w = y−1, então y = 1 w ou y = 1 −x2 + cx. Para n > 0, note que a solução trivial y = 0 é uma solução para (2.17). No exemplo (2.11), y = 0 é uma solução singular para a equação dada. Exemplo 2.12. Vamos resolver o seguinte problema de valor inicial dy dx − 2y = y3 y(0) = 1 (2.20) Notemos que a equação dada é de Bernoulli, com n = 3. Se fizermos w = y−2, teremos dw dx + 4w = −2, (2.21) cujo fator integrante é e4x. Portanto, ao multiplicarmos (2.21) por este fator ela se torna d dx [e4xw] = −2e4x, ou seja, e4xw(x) = −2 ∫ e4xdx = −1 2 e4x + c. Portanto, a solução geral de (2.20) é w(x) = −1 2 e4x + c e4x = −1 2 + ce−4x. Voltando à variável inicial, temos y−2 = 1 2 + ce−4x. Como y(0) = 1, devemos tomar c = 1 2 , logo, y−2 = 1 2 (1 + e−4x), portanto y = ± [ 1 2 (1 + e−4x) ]− 1 2 . 36 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Como y(0) = 1 > 0, a solução do problema de valor inicial (2.20) é y = [ 1 2 (1 + e−4x) ]− 1 2 cujo gráfico é mostrado na figura (2.1) Figura 2.1: Solução do PVI (2.20). 2.9 Aplicações da Equação de Bernoulli A seguir, apresentaremos algumas aplicações onde as equações a serem estudadas são Equações de Bernoulli. Não serão feitas as modelagens de tais equações pois, aspectos de modelagem não fazem parte dos objetivos deste trabalho e, além disso, para modelar tais equações precisaŕıamos conceitos de f́ısica e de biologia. Queda de um Corpo num Meio com Atrito Suponha que um corpo esteja caindo no ar e que a força de atrito deste seja proporcional ao quadrado da velocidade com que o corpo se move no mesmo. Então, a força resultante será mv dv dx = mg − γv2, onde g é a aceleração da gravidade, m é a massa do corpo, v e x são respectivamente velocidade e posição do corpo em relação ao tempo t. Observe ainda que mv dv dx = m dx dt dv dx = m dv dt . A sua velocidade obedece a seguinte equação diferencial de primeira ordem dv dx + γ m v = gv−1, (2.22) que é uma equação de Bernoulli e também de variáveis separáveis. 37 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Exemplo 2.13. Supondo que v(0) = v0, vamos mostrar que v(x) = √ √ √ √mg γ + ( v20 − mg γ ) e − 2γ m x . (2.23) Em geral, se a força de atrito for da forma −γ|v|n, o procedimento acima nos leva a uma equação de variáveis separáveis. Se multiplicarmos por v ambos os lados da equação (2.22), obtemos v dv dx + γ m v2 = g. Se fizermos w = v2, então dw dx = 2v dv dx , com essa substituição a equação (2.22) se transforma em dw dx + 2 γ m w = 2g, (2.24) cujo fator integrante será e 2γ m x . Portanto ao multiplicarmos (2.24) por esse fator, teremos d dx e 2γ m x w = 2ge 2γ m x ou seja, e 2γ m x w = ∫ 2ge 2γ m x dx. Sendo assim, a solução geral da equação (2.24) é w(x) = mg γ + ce − 2γ m x , voltando à variável inicial, temos v2 = mg γ + ce − 2γ m x . Como v(0) = v0, devemos tomar c = v 2 0 − mg γ , logo v2 = mg γ + ( v20 − mg γ ) e − 2γ m x . Portanto a solução do valor inicial será dado pela equação (2.23). 38 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Crescimento de peixes (von Bertalanffy) O modelo de Von Bertalanffy, é um caso de EDO de Bernoulli, em que podemos resolver a equação através de uma substituição nas variáveis, que transforma a equação do modelo em uma equação diferencial linear de primeira ordem. Exemplo 2.14. A pesca sempre foi um elemento importante para a sobrevivência de muitas raças. Com o desenvolvimento de materiais sofesticados e muitas vezes predatórios, o estoque de peixes diminuiu muito, até mesmo causando o perigo de extinção de algumas espécies. O controle de pesca, na maioria dos casos, é feita com base no peso, por exemplo, no pantanal mato-grossense o pacu só pode ser pescado se estiver com peso superior a 3 kg. Atualmente existem leis internacionais que definem a maneira como a pesca deve ser efetuada, impondo controle sobre o tamanho das redes, tamanho das malhas e peŕıodos de aprisionamento. Os modelos matemáticos podem ser utilizados para se medir o efeito de tais controles e estabelecer em que condições o peixe pode ser capturado. O peso p(t) de cada espécie é dado pela equação de von Bertalanffy: dp dt = αp 2 3 − βp (2.25) a qual pelo prinćıpio da alometria, temos que: que o aumento do peso de um peixe é propor- cional à área de sua superf́ıcie externa (anabolismo), e o decaimento é proporcional à energia consumida (catabolismo). • α é a constante de anabolismo, representando a taxa de śıntese de massa por unidade de superf́ıcie do animal. • β é a constante de catabolismo, representando a taxa de diminuição da massa por unidade de massa. A equação (2.25) é uma equação de Bernoulli com n = 2 3 , isto é dp dt + βp = αp 2 3 . Fazendo a substituição w = p1− 2 3 = p 1 3 , dw dt = 1 3 p− 2 3 dp dt = 1 3 (α − βp 13 ), então dw dt + β 3 w = α 3 . (2.26) 39 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark O fator integranteé e( β 3 ), multiplicando (2.26) por este fator, temos d dx [ e βt 3 w ] = α 3 e β 3 t e βt 3 w = α 3 ∫ e β 3 t, assim a solução geral da equação (2.25), será w = α β + Ce −βt 3 . Portanto p(t) = ( α β )3 ( 1 + Cβ α e −βt 3 )3 . Quando t = 0, o valor de p é insignificante. Considerando p(0) ∼= 0, temos ( α β )3 ( 1 + Cβ α )3 = 0, então ( 1 + Cβ α ) = 0 ou C = −α β . Assim, p(t) = ( α β )3 ( 1 − e−βt3 )3 . (2.27) Quando t tende a infinito, o limite de p(t) é lim t→0 p(t) = lim t→0 ( α β )3 ( 1 − e−βt3 )3 = ( α β )3 . Portanto, o peso máximo (p∞) do peixe é p∞ = ( α β )3 , tomando, k = β 3 e substituindo o valor de p∞ na equação (2.27), temos p(t) = P∞(1 − e−kt)3, (2.28) que fornece o peso do peixe em cada instante t. A equação (2.28) é chamada de von Bertalanffy, para o aumento de peso do peixe. 40 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Epidemiologia A epidemiologia é uma ciência que estuda quantitativamente a distribuição dos fenômenos de saúde-doença, e seus fatores condicionais, nas populações humanas. A pesquisa epidemiológica é responsável pela produção de conhecimento sobre o processo saúde-doença por meio de estudos de frequência e distribuição das doenças na população humana com iden- tificação de seus fatores determinantes. Devido a relevância deste assunto, vários pesquisadores vêm desenvolvendo modelos matemático que possam contribuir para a compreensão e erradicação de doenças infecciosas. Esta área denominada epidemiologia matemática, foi desenvolvida inicialmente por Daniel Bernoulli na última metade do século XVIII, quando fez trabalhos sobre a vaŕıola. Os estudos de Daniel Bernoulli, tinha como objetivo avaliar a eficácia de um programa controverso de vacinação contra vaŕıola, que era, na época, uma grande ameaça à saúde pública. Seu modelo pode ser aplicado, igualmente bem, a qualquer doença que, se uma pessoa a contrai e sobrevive, tem imunidade para o resto da vida. Exemplo 2.15. Suponha que uma determinada população pode ser dividida em duas partes: os que têm a doença e podem infectar outros e os que não a têm, mas são suscet́ıveis. Sejam x a proporcção de indiv́ıduos suscet́ıveis e y a proporção dos indiv́ıduos infectados; então x + y = 1. Suponha que a doença espalha-se através do contato entre elementos doentes e sãos da população, e que a taxa de dissiminação dy dt é proporcional ao número de tais contatos. Além disso, suponha que elementos de ambos os grupos move-se livremente entre si, de modo que o número de contatos é proporcional ao produto de x e y. Como x = 1 − y, obtemos o problema de valor inicial dy dt = αy(1 − y) y(0) = y0 (2.29) onde α é um fator de proporcionalidade positiva e y0 é a população inicial de indiv́ıduos infec- tados em relação ao tempo (t). Notemos que a equação dada em (2.29) é uma equação de Bernoulli, com n = 2, isto é dy dt − αy = −αy2. Fazendo a substituição, w = y−1, então dw dt = −y−2dy dt , 41 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark então dw dt + αw = α. (2.30) O fator integrante é µ(t) = eαt, multiplicando (2.30) por este fator, temos d dt [ eαtw ] = eαtα eαtw = α ∫ e−αt + C w = 1 + Ce−αt. Voltando à variável inicial, temos, y(t) = 1 1 + Ce−αt Como y(0) = y0, devemos tomar C = ( 1 − y0 y0 ) Portanto, a solução do problema de valor inicial será y(t) = y0 y0 + (1 − y0)e−αt Quando t tende a infinito, o limite y(t) é lim t→∞ y(x) = lim t→∞ y0 y0 + (1 − y0)e−αt = 1 Logo, y(t) → 1, o que significa que, certamente, a doença se espalhará por toda a população. Exemplo 2.16. Considere o grupo de indiv́ıduos nascido em um determinado ano (t = 0) e seja n(t) o número de sobreviventes, t anos depois, entre esses indiv́ıduos. Seja x(t) o número de elementos desse grupo que não tiveram vaŕıola até o ano t e que são, portanto, suscet́ıveis. Seja β a taxa segundo a qual os indiv́ıduos suscet́ıveis contraem vaŕıola e seja v a taxa segundo a qual as pessoas que contráıram vaŕıola morrem da doença. Finalmente, seja µ(x) a taxa de mortes de todas as outras causas, exceto a vaŕıola. Então, dx dy , a taxa segundo a qual o número de indiv́ıduos suscet́ıveis decresce, é dada por dx dt = −[β + µ(x)]x; (2.31) a primeira parcela na expressão entre colchetes na equação (2.31) é a taxa segundo a qual os indiv́ıduos suscet́ıveis contraem vaŕıola, enquanto a segunda é a taxa de mortalidade de todas 42 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark as outras causas. Temos, também, dn dt = −vβx − µ(x)n, (2.32) onde dn dt é a taxa de mortalidade de todo o grupo e as duas parcelas na expressão à direita do sinal de igualdade corresponde às taxas de mortalidade devido à vaŕıola e a todas as outras causas, respectivamente. Tomando z = x n , vamos mostar que z, satisfaz o problema de valor inicial dz dt = −βz(1 − vz) z(0) = 1 (2.33) Como z = x n , então dz dt = d dt [x n ] = dx dt n − dn dt x n2 , substituindo (2.31) e (2.32), obtemos dz dt = −βz − µ(t)z + vβz2 + µ(t)z, como o problema de valor inicial (2.33), não depende de µ(t), então dz dt = −βv + vβz2 = −βz(1 + vz). Vamos encontar z(t), resolvendo a Equação de Bernoulli (2.33) Como n = 2, se fizermos w = z−1, teremos dw dt = −z−2dz dt = −z−2(−βz + βvz2) = βz−1 − βv então dw dt − βw = −βv (2.34) O fator integrante é e−βt, multiplicando (2.34) por este fator, temos d dt [ e−βw ] = −e−βtβv e−βtw = ve−βt + c w = v + ceβt. 43 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Voltando à variável inicial, temos z(t) = 1 v + ceβt . Como z(0) = 1, devemos tomar c = 1 − v, logo a solução do problema de valor inicial (2.33) será z(t) = 1 v + (1 − v)eβt . Bernoulli estimou que v = β = 1 8 , através desses valores, vamos determinar a proporção de pessoas com 20 anos que não tiveram vaŕıola. Sendo assim, temos z(20) = 1 1 8 + ( 1 − 1 8 ) e 20 8 = 0, 0927. 44 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Conclusão Equações diferenciais ordinárias nem sempre podem ser resolvidas através de uma integração direta das mesmas. Na maioria das vezes, precisamos identificar o tipo de EDO para que possamos aplicar o melhor método para encontrar a solução da equação desejada. Essas soluções podem ser numéricas ou anaĺıticas. Quanto mais alta a ordem de uma EDO, maior é a dificuldade em se obter uma solução. Além disso, caracteŕısticas como não linearidade podem dificultar a resolução de tais equações. Quando a EDO é de primeira ordem a solucão é mais simples. Em grande parte das equações de primeira ordem, podemos apresentar soluções anaĺıticas utilizando-se algum método espećıfico para a resolução das mesmas. No caso da Equação de Bernoulli, que é uma equação diferencial ordinária não linear de primeira ordem, através de uma substituição de variável conseguimos transformá-la em uma EDO linear, e assim resolvê-la, com apoio de algum método de solução como por exemplo, o fator integrante. Com relação as aplicações, como a Equação de Bernoullié uma EDO linear, isso faz que a mesma seja uma das ferramentas utilizadas na modelagem de problemas ligados à ciência, en- genharia, f́ısica, enfim. Tal equação é utilizada em diversos modelos matemáticos desde o século XVI, como por exemplo os estudos de Daniel Bernoulli, no controle de doenças epidêmicas. Através dessa equação, encontramos solução para o modelo do problema da queda de um corpo num meio com atrito (fonômeno f́ısico), e também para o modelo de von Bertalanffly, onde estuda-se o controle do peso de cada espécie de peixe. 45 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Referências Bibliográficas [1] ZILL D. G.; CULLEN M.R. Equações Diferenciais. São Paulo, Makron Books, 2001. [2] LEITHOLD L. O Cálculo com Geometria Anaĺıtica. São Paulo, Editora Harba,1994. [3] BOYCE W. E.; DIPRIMA R. C. Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno. Rio de Janeiro, Editora LTC, 2002. [4] BASSANEZI, R.C. Modelagem Matemática. São Paulo, Editora Contexto, 2002. [5] GUIDORIZZI, H. L. Cálculo. Rio de Janeiro, Editora LTC, 2001, v.1 e v.2. [6] GUIDORIZZI, H. L. Cálculo. Rio de Janeiro, Editora LTC, 2002, v.4. [7] OLIVEIRA, E. C.; TYGEL M. Métodos Matemáticos para Engenharia. Rio de Janeiro, SBM, 2005. 46 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: sidney-cavalcante (segundo2sidney@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark
Compartilhar