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Uma vez que foram revisados a estrutura geral dos músculos e o processo pelo qual geram força, a atenção irá agora recair mais especificamente sobre a função muscular durante o exercício. Força, resistência e velocidade durante o exercício dependem muito da capacidade dos músculos de produzir energia e força. Tipos de fibras musculares Nem todas as fibras são iguais. Um único músculo esquelético contém fibras que apresentam diferentes velocidades de encurtamento e habilidade de gerar força máxima: fibras de contração lenta, ou tipo I, e fibras de contração rápida, ou tipo II. As fibras do tipo I levam aproximadamente 110 ms para atingir a tensão de pico quando estimuladas. Por outro lado, as fibras do tipo II podem atingir a tensão de pico em cerca de 50 ms. Embora os termos “de contração lenta” e “de contração rápida” continuem a ser utilizados, atualmente os cientistas preferem usar a terminologia “tipo I” e “tipo II”, assim como será feito neste livro. Embora tenha sido identificada apenas uma forma de fibra do tipo I, as fibras do tipo II podem sofrer subclassificações. Nos seres humanos, as duas classificações principais de fibras do tipo II são as de contração rápida do tipo a (tipo IIa) e as de contração rápida do tipo x (tipo IIx). As fibras do tipo IIx nos seres humanos são aproximadamente o equivalente das fibras do tipo IIb em animais. Características das fibras dos tipos I e II Tipos diferentes de fibras musculares desempenham papéis diferentes na atividade física. Isso se deve em grande parte a diferenças em suas características. ATPase As fibras dos tipos I e II diferem nas velocidades com as quais realizam a contração. Essa diferença é basi- camente resultante das diferentes formas da enzima mio-sina ATPase. É importante lembrar que a miosina ATPase decompõe o ATP a fim de liberar energia, que promove a contração. As fibras do tipo I possuem uma forma lenta de miosina ATPase, enquanto as fibras do tipo II possuem uma forma rápida. Em resposta à estimulação nervosa, o ATP é decomposto mais rapidamente nas fibras do tipo II, em comparação com o que ocorre nas fibras de tipo I. Como resultado, as pontes cruzadas completam seus ciclos mais rapidamente nas fibras do tipo II. Retículo sarcoplasmático As fibras do tipo II possuem um RS mais altamente desenvolvido do que as fibras do tipo I. Assim, quando estimuladas, as fibras do tipo II têm maior capacidade de liberar o cálcio no interior da célula muscular. Acredita-se que essa capacidade contribua para uma maior velocidade na contração (Vo II. Em média, as fibras do tipo II do homem têm uma Vo ) das fibras do tipo que é 5 a 6 vezes mais rápida que a das fibras do tipo I. Embora a quantidade de força (Po ) gerada pelas fibras dos tipos I e · s-1 ) de II com o mesmo diâmetro seja aproximadamente a mesma, a potência calculada (μN · comprimento da fibra-1 uma fibra do tipo II é de 3 a 5 vezes maior do que aquela de uma fibra do tipo I por causa da velocidade de encurtamento mais rápida. Unidades motoras Uma unidade motora é formada por um motoneurônio alfa e pelas fibras por ele inervadas. Aparentemente é o motoneurônio alfa que determina se as fibras são do tipo I ou do tipo II. O motoneurônio alfa em uma unidade motora do tipo I possui um corpo celular menor e inerva um grupo de 300 fibras musculares ou menos. Por outro lado, o motoneurônio alfa em uma unidade motora do tipo II possui um corpo celular maior e mais axônios, inervando 300 fibras musculares ou mais. Essa diferença no tamanho das unidades motoras significa que, quando um único motoneurônio alfa do tipo I estimula suas fibras, ocorre contração de um número muito menor de fibras musculares em comparação com o que ocorre quando um único motoneurônio alfa do tipo II estimula suas fibras. Em consequência, as fibras motoras do tipo II atingem a tensão de pico mais rapidamente e, juntas, geram mais força do que as fibras do tipo I.2. Distribuição dos tipos de fibras As porcentagens de fibras dos tipos I e II não são as mesmas em todos os músculos do corpo. Em geral, os músculos dos braços e das pernas de uma pessoa exibem composições de fibras semelhantes. Um atleta de resistência com predominância de fibras do tipo I nos músculos das pernas provavelmente apresentará um elevado porcentual de fibras do tipo I também nos músculos dos braços. Há uma relação semelhante no que se refere às fibras do tipo II. Porém, há algumas exceções. O músculo sóleo (embaixo do gastrocnêmio na panturrilha), por exemplo, é composto de um porcentual bastante elevado de fibras do tipo I em todas as pessoas. Tipo de fibra e exercício Em virtude das diferenças entre as fibras dos tipos I e II, seria possível pensar que esses tipos de fibras também tivessem funções diferentes. De fato, é isso o que ocorre. Fibras do tipo I Em geral, as fibras musculares do tipo I apresentam um elevado nível de resistência aeróbia. O vocábulo “aeróbio” significa “em presença de oxigênio” e, assim, a oxidação é um processo aeróbio. As fibras do tipo I são muito eficientes na produção do ATP com base na oxidação de carboidratos e gorduras – tópico que será discutido no Capítulo 2. Lembre-se de que o ATP é necessário para que haja a geração da energia para a contração e o relaxamento das fibras musculares. Desde que a oxidação ocorra, as fibras do tipo I continuarão a produzir ATP, permitindo que as fibras do tipo I permaneçam ativas. A capacidade de manter a atividade muscular por períodos prolongados é conhecida como resistência muscular e, assim, as fibras do tipo I apresentam uma alta resistência aeróbia. Por causa disso, essas fibras são recrutadas com maior frequência durante eventos de resistência de baixa intensidade (p. ex., corrida de maratona) e na maioria das atividades cotidianas, em que as necessidades de força muscular são baixas (p. ex., caminhar). Fibras do tipo II Por outro lado, as fibras musculares do tipo II apresentam uma resistência aeróbia relativamente pequena em comparação com as fibras do tipo I. Essas fibras são mais adequadas para o desempenho anaeróbio (sem oxigênio). Isso significa que, na ausência de um suporte adequado de oxigênio, o ATP se forma por meios anaeróbios, e não por meios oxidativos (esses meios serão discutidos em mais detalhes no Cap. 2). As unidades motoras do tipo IIa geram uma força consideravelmente maior que as unidades motoras do tipo I, mas entram em fadiga com mais facilidade por causa de sua limitada resistência. Assim, aparentemente as fibras do tipo IIa constituem o principal tipo de fibra utilizado durante eventos de resistência mais curtos e de maior intensidade, como a corrida de 1 milha (1.600 m) ou o nado de 400 m. Embora não tenha sido ainda elucidado por completo o significado das fibras do tipo IIx, elas aparentemente não são ativadas com facilidade pelo sistema nervoso. Por causa disso, são utilizadas de maneira bastante incomum nas atividades normais de baixa intensidade, mas com predominância em eventos de alta explosão, como na prova de 100 m rasos ou na prova de nado livre de 50 m. Determinação do tipo de fibra As características das fibras musculares parecem ser determinadas no início da vida, talvez nos primeiros anos. Estudos envolvendo gêmeos idênticos demonstraram que, na maioria dos casos, o tipo de fibra muscular é determinado geneticamente, pouco mudando da infância até a meia-idade. Esses estudos revelam que gêmeos idênticos possuem composições das suas fibras praticamente idênticas, enquanto os gêmeos fraternos diferem em seus perfis de tipo de fibra. Os genes que os indivíduos herdam de seus pais determinam quais motoneurônios alfa inervam suas fibras musculares individuais. Depois de ter sido estabelecida a inervação,as fibras musculares se diferenciam (i. e., tornam--se especializadas) de acordo com o tipo de motoneurônio alfa que as estimula. Recrutamento de fibras musculares Quando um motoneurônio alfa transporta um potencial de ação até as fibras musculares na unidade muscular, todas as fibras na unidade desenvolvem força. Somente a ativação de mais unidades motoras produzirá mais força. Quando há necessidade de pouca força, apenas poucas unidades motoras são estimuladas a atuarem. Aqui, é necessário que o leitor se lembre que as unidades motoras dos tipos IIa e IIx contêm mais fibras musculares que as unidades motoras do tipo I. A contração do músculo esquelético envolve o recrutamento progressivo de unidades motoras do tipo I e, em seguida, do tipo II, dependendo das necessidades da atividade que está sendo realizada. Conforme a intensidade da atividade aumenta, o número de fibras recrutadas aumenta na seguinte ordem, de maneira aditiva: tipo I → tipo IIa → tipo IIx. Em geral, as unidades motoras são ativadas com base em uma ordem de recrutamento de fibras fixa. Isso é conhecido como princípio do recrutamento ordenado, em que as unidades motoras dentro de determinado músculo parecem estar ordenadas. Tomando o músculo bíceps braquial como exemplo, assumamos que esse músculo apresente um total de 200 unidades motoras, que estão ordenadas em uma escala de 1 até 200. Para uma ação muscular extremamente delicada que necessite de pouquíssima produção de força, seria recrutada a unidade motora classificada como número 1. À medida que a necessidade de produção de força fosse aumentando, seriam recrutadas as unidades motoras de números 2, 3, 4 etc., até uma contração muscular máxima que ativaria quase todas, senão todas, as unidades motoras. Para a produção de uma determinada força, são recrutadas as mesmas unidades motoras a cada vez e na mesma ordem. Um mecanismo que pode explicar em parte o princípio do recrutamento ordenado é o princípio do tamanho. Esse princípio afirma que a ordem de recrutamento das unidades motoras está diretamente ligada ao tamanho de seu motoneurônio. As unidades motoras com motoneurônios menores serão recrutadas em primeiro lugar. Tendo em vista que as unidades motoras do tipo I possuem motoneurônios menores, são as primeiras unidades recrutadas em um movimento gradativo (que avança desde graus muito baixos de produção de força até os muito altos). Em seguida, as unidades motoras do tipo II são recrutadas à medida que vai aumentando a necessidade da força para a realização do movimento.
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