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Aula 02 - Farmacocinética

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DEFINIÇÃO
O conceito de farmacocinética foi proposto por Dost em 1951 para descrever o 
movimento da droga pelo organismo, desde a hora que entra até a hora que é expulso. 
-
A Farmacocinética é o ramo da farmacologia que estuda o caminho percorrido pelo 
fármaco no organismo e as variáveis que podem afetar a sua concentração nos diversos 
tecidos do corpo. 
-
ETAPAS DA FARMACOCINÉTICA
Abreviadas pela sigla ADME-
Absorção: passagem do fármaco de seu local de administração para o plasma 
sanguíneo. 
-
Distribuição: disseminação da droga nos tecidos e células do corpo-
Metabolismo: implica na conversão do fármaco em outra entidade química-
Eliminação: refere-se ao processo pelo qual um fármaco ou seu metabólito é eliminado 
do organismo. 
-
COMO OS FÁRMACOS ENTRAM NO ORGANISMO
Para produzir os efeitos desejados, os fármacos precisam estar na concentração 
adequada em seus locais de ação
-
Entretanto, até chegar a seu destino, a maioria dos fármacos precisa percorrer um longo 
caminho e atravessar várias barreiras físicas, químicas e biológicas (ex: mucosa, pele). 
-
Fármacos lipossolúveis, apolares, sem carga e sem peso molecular têm maior 
capacidade de atravessar essas barreiras por meio do processo de difusão simples. 
-
Fármacos que não possuem essas características citadas acima conseguem atravessar as 
barreiras por meio de difusão facilitada. 
-
As proteínas transportadoras não são "exclusivas" para os fármacos. Elas atuam 
transportando diversas moléculas do corpo. Se o fármaco for estruturalmente 
semelhante à essa proteína, ocorrerá o transporte. 
-
Se o fármaco não for semelhante a nenhuma proteína disponível, ele não será absorvido 
nessa via em questão. 
Exemplos:
Penicilina G (benzetacil), não é absorvida pela via oral, apenas a penicilina V. 
Benzetacil só é absorvido via intramuscular profunda.
-
Insulina não é absorvida pela via oral, além de ser destruída no estômago e 
intestino por enzimas. Sua via de administração é parenteral subcutânea. 
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-
Barreiras do Organismo:
Pele: é estratificada, ou seja, composta por diversas camadas de células. Além 
disso, possui queratina, que é um forte isolante, tornando ainda mais difícil 
atravessá-la. 
-
Mucosa da boca: também é estratificada, assim como a da pele, entretanto não 
possui queratina
-
Via Respiratória: -
Intestino: possui apenas uma camada de células. Para atravessar essa barreira o 
fármaco precisa apenas passar pelo enterócito.
-
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FATORES QUE AFETAM A DIFUSÃO
Barreiras e Transportes: 
Na ausência de outros fatores, um fármaco penetrará numa célula até que as 
concentrações intracelular e extracelular deste fármaco sejam iguais. 
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Lei de Difusão de Fick
𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜 = (𝐶2 − 𝐶1) . (Á𝑟𝑒𝑎 . 𝑃𝑒𝑟𝑚𝑒𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒)
𝐸𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑀𝑒𝑚𝑏𝑟𝑎𝑛𝑎
-
-
Difusão: passagem da 
molécula do meio de 
maior concentração 
pro de menor 
concentração
Aula 02 - Farmacocinética
quarta-feira, 26 de maio de 2021 10:00
 
𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜 = (𝐶2 − 𝐶1) . (Á𝑟𝑒𝑎 . 𝑃𝑒𝑟𝑚𝑒𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒)
𝐸𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑀𝑒𝑚𝑏𝑟𝑎𝑛𝑎
⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯
O transporte por difusão segue essa lei-
C1 e C2 são as concentrações intracelular e extracelular-
O fluxo é diretamente proporcional à concentração de moléculas, área e 
permeabilidade e inversamente proporcional à espessura da membrana
-
Diferença entre as barreiras do corpo
Barreira hematoencefálica
Em grande parte dos tecidos, os vasos sanguíneos possuem orifícios 
que facilitam o trânsito do fármaco. 
-
Os vasos sanguíneos do cérebro são "blindados" pela barreira 
hematoencefálica, em que:
Não há espaço intercelular-
Membrana basal recobre as células endoteliais-
Astrócitos ficam na superfície da membrana basal-
-
O objetivo da barreira hematoencefálica é dificultar que as substâncias 
que circulam no sangue entrem facilmente em contato com os 
neurônios, pois muitas delas podem ser prejudiciais para o sistema 
nervoso.
-
A maioria dessas substâncias não conseguem atravessar a barreira e se 
difundir no líquido cerebral, apenas moléculas pequenas, apolares, sem 
carga e lipossolúveis ou que possuem transportador celular. 
-
-
Barreira placentária: separa o sangue que circula da mãe do sangue que 
circula no feto e impede que diversas substâncias passem para o feto
-
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In vivo, há fatores complicantes para a difusão efetiva de um fármaco, como carga 
elétrica, gradientes iônicos e gradiente de pH
-
Carga Elétrica: quando a carga elétrica do fármaco é oposta a carga do interior da 
célula, sua absorção é favorecida. Quando ambos possuem a mesma carga elétrica, 
ocorre repulsão. 
-
Gradientes de pH
O pH refere-se a quantidade de prótons H+ presentes no meio, que podem torná-
lo ácido ou básico. 
-
A depender do pH do meio onde está, o ácido irá dissociar ou ficar na forma 
neutra. 
Quando um ácido é colocado em um meio ácido, ele não se dissocia, ficando 
neutro, pois já há excesso de H+ no meio.
-
Quando um ácido é colocado em um meio básico, ele se dissocia, fornecendo 
H+ para o meio e adquirindo cargas elétricas. 
-
-
O pH influencia na absorção pois o fármaco pode ser ácido ou básico e a depender 
do meio ele irá ficar neutro ou se polarizar. Entretanto, apenas fármacos apolares 
entram facilmente na membrana plasmática. 
-
Exemplos:
O Ácido Acetilsalicílico (AS) pode ser encontrado de duas formas, no 
estômago, que possui pH ácido, ele está neutro, conseguindo difundir-se 
mais facilmente pela membrana. Por outro lado, o pH do intracelular é 
básico, fazendo com que o AS dissocie-se e adquira cargas elétricas. Isso 
dificulta com que ele atravesse novamente a membrana, ficando "preso" no 
interior da célula, em um processo chamado de Sequestro por pH. 
-
Anestésicos locais não funcionam em tecidos inflamados, porque esses 
fármacos têm pH básico e os tecidos possuem pH ácido. Dessa forma, a 
molécula dissocia-se e não consegue passar pela membrana da célula, por 
causa de sua carga elétrica (ele fica protonado). 
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CASO CLÍNICO 1 
Em certo dia, o papai João percebeu que os seus dois filhos estavam com febre, então ele 
resolveu medicar os dois com um antitérmico. Entretanto percebeu que só existia um 
comprimido disponível na casa. Procurando melhor, ele encontrou o mesmo medicamento 
em xarope, porém, com apenas uma dose restante. Dessa forma, ele concluiu que poderia 
 
em xarope, porém, com apenas uma dose restante. Dessa forma, ele concluiu que poderia 
dar o comprimido para um e o xarope para outro. Quem ficará livre da febre primeiro? Em 
qual dos dois a febre voltará primeiro?
Resolução: o filho que ingeriu o medicamento em xarope ficará livre da febre primeiro, 
pois na forma líquida esse fármaco já consegue interagir com a membrana das células e 
ser absorvido. O comprimido, pelo contrário, precisará se dissolver primeiro, levando 
mais tempo para poder ser absorvido. A febre voltará primeiro também no filho que 
ingeriu xarope, porque ele será absorvido todo de uma vez tanto pelas células, quanto 
pelo fígado para ser degradado, enquanto o comprimido é absorvido aos poucos, 
prolongando o efeito por mais tempo. 
-
ABSORÇÃO DOS FÁRMACOS
Representa a passagem do fármaco de seu local de administração para o plasma 
sanguíneo. Essa passagem é necessária quando se quer um tratamento com efeito 
sistêmico.
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Dependendo da via de administração e da forma farmacêutica, a droga apresentará 
uma maior ou menor facilidade para a absorção. A quantidade de fármaco que alcança 
a circulação sanguínea nem sempre é igual à que foi administrada. 
Via intravenosa: possui maior concentração plasmática de fármaco, pois ele é 
administrado diretamente na corrente sanguínea. Entretanto, esse valor despenca 
rapidamente porque a metabolização é mais rápida.
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Via intramuscular: o fármaco será absorvido (passa para corrente sanguínea) 
rapidamente.
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Via subcutânea: a absorção ocorre de forma lenta-
Via oral: a absorção ocorre deforma lenta. A concentração plasmática do fármaco 
aumenta gradativamente ao longo de horas. 
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A velocidade de absorção pode ser uma vantagem ou desvantagem a depender do 
objetivo do tratamento. Uma absorção mais lenta permite que o fármaco tenha 
uma ação prolongada. Já uma absorção rápida permite um efeito imediato. 
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Biodisponibilidade: percentual da droga administrada que chega no local de ação 
de forma intacta, sem sofrer metabolização. 
𝐵𝑖𝑜𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = 
𝑄𝑡𝑑. 𝑑𝑒 𝑓á𝑟𝑚𝑎𝑐𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑎𝑙𝑐𝑎𝑛ç𝑎 𝑎 
𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑚𝑖𝑐𝑎
𝑄𝑡𝑑. 𝑑𝑒 𝑓á𝑟𝑚𝑎𝑐𝑜 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑛𝑖𝑠𝑡𝑟𝑎𝑑𝑜
⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯
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Cinética de Absorção
Inclui o estudo da velocidade de absorção e da quantidade absorvida. Esses dois 
parâmetros dependem da constante de absorção (Ka) e da concentração do 
fármaco dissolvido no local de absorção
Constante de Absorção (Ka): refere-se a probabilidade que uma molécula 
tem para ser absorvida em determinada unidade de tempo. 
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A cinética de absorção pode ser de primeira ordem ou de ordem zero 
Cinética de primeira ordem: a velocidade de absorção é diretamente 
proporcional a quantidade de fármaco na área de absorção (velocidade de 
absorção varia com o tempo)
Na maioria das vezes a velocidade de absorção varia, sendo rápida no 
começo e diminuindo ao longo das horas. Isso ocorre porque no início 
há uma grande diferença de concentração de fármaco dentro e fora da 
célula e quanto maior a diferença entre o gradiente de concentração, 
maior o fluxo das moléculas. Logo, o fármaco entra na célula. Ao longo 
das horas, a diferença de concentração dentro e fora da célula passa a 
diminuir, consequentemente a velocidade de absorção também 
diminui. 
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Cinética de ordem zero: o número de moléculas absorvidas por unidade de 
tempo permanece constante durante toda ou maior parte do processo de 
absorção (velocidade de absorção constante)
Quando proteínas transportadoras ficam saturadas pelo fármaco a 
cinética é de ordem zero, ou seja, a velocidade de absorção permanece 
constante por um tempo. Contudo, à medida que a quantidade de 
-
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constante por um tempo. Contudo, à medida que a quantidade de 
moléculas a serem absorvidas diminuem a velocidade de absorção 
delas passa a diminuir também, caracterizando uma cinética de 
primeira ordem. 
Fármacos que têm sua absorção retardada, como adesivos 
transdérmicos, também se encaixam na cinética de ordem zero, pois 
ele é dissolvido em taxas constantes.
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Fatores que alteram a absorção:
Propriedades físico-químicas do fármaco: tamanho da molécula, 
lipossolubilidade, pKa.
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Característica da preparação farmacêutica: líquida, sólida, semissólida, gasosa. -
Características do local de absorção: área de absorção, qualidade e quantidade 
das barreiras, fluxo sanguíneo local, pH local.
Inflamação: há aumento da absorção por conta do aumento do fluxo 
sanguíneo.
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Aumento do débito cardíaco: há aumento da absorção por conta do 
aumento do fluxo sanguíneo.
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Lesões (ex.: queimadura): aumenta a absorção porque diminui a barreira -
-
Eliminação pré-sistêmica e efeito de primeira passagem: destruição do fármaco 
no local da administração, como no epitélio do TGI (acidez), no fígado ou nos 
pulmões.
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Fatores fisiológicos: idade, sexo, presença de alimento, débito cardíaco-
Fatores patológicos: vômito, diarreia, inflamação, hipertermia, alterações no 
trânsito intestinal, insuficiência cardíaca
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Fatores iatrogênicos: interações medicamentosas com alimentos ou outras 
substâncias
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DISTRIBUIÇÃO DOS FÁRMACOS
Refere-se a disseminação do fármaco para células, líquido intersticial e tecidos. -
A depender das suas características moleculares, o fármaco tem atração por um 
determinado tipo de tecido e diferentes afinidades ao sangue. 
Ex.: fármacos lipossolúveis tendem a se acumular mais no tecido adiposo, 
enquanto fármacos hidrossolúveis acumulam-se no tecido muscular.
-
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Transporte dos fármacos no sangue: uma vez no sistema circulatório, os fármacos 
podem ser transportados pelo sangue de três formas gerais:
Forma livre: promove efeito rápido e intenso. A concentração plasmática aumenta 
rapidamente, mas decai rapidamente também. 
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Ligados às proteínas plasmáticas 
Albumina, lipoproteína, glicoproteína e globulinas alfa, beta e gama-
As proteínas do sangue possuem diversos sítios de ligação para os fármacos, 
que se ligam a elas por meio de uma ligação eletrostática (fraca). Dessa 
forma, o fármaco tende a se desprender da proteína quando passa para os 
tecidos, por meio da difusão, de acordo com o gradiente de concentração. 
-
Enquanto o fármaco está no sangue ele está protegido de ser metabolizado 
pelo fígado e rins. Logo, fármacos que estão ligados às proteínas são 
metabolizados lentamente, tendo, portanto, um efeito menos intenso, 
porém mais duradouro
-
Em pacientes com desnutrição proteica, o tempo de meia-vida dos 
medicamentos é menor 
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Ligados às células sanguíneas -
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Fatores que alteram a distribuição dos fármacos
Propriedades físico-química do fármaco-
Grau de ligação às proteínas plasmáticas-
Disponibilidade de proteínas no sangue-
Fluxo sanguíneo local-
Presença de fenestrações nos vasos-
Características teciduais -
-
 
Características teciduais -
Volume de Distribuição 
Volume de Distribuição Real: representa o volume líquido corporal no qual o 
fármaco se distribuiu, levando-se em conta todos os compartimentos. 
-
Volume de Distribuição Aparente ou Relativo: representa o volume de líquido 
necessário para conter a quantidade total do fármaco absorvido no corpo, numa 
concentração uniforme à do plasma. 
= 
𝐷𝑜𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑛𝑖𝑠𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎
𝐶𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑜 𝑓á𝑟𝑚𝑎𝑐𝑜 𝑛𝑜 𝑝𝑙𝑎𝑠𝑚𝑎
⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯
Quanto menor a concentração do fármaco no plasma, maior terá sido a 
distribuição dele pelos tecidos do corpo. 
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Alteração do volume de distribuição
Fatores que alteram o volume de distribuição influenciam a concentração 
máxima que é atingida, após uma dose única ou uma dose inicial 
-
Fatores que alteram o volume real: edema, ascite, obesidade, mudanças do 
fluxo sanguíneo, alterações no pH, lesões em barreiras naturais
-
Fatores que alteram a união às proteínas plasmáticas: diversos fatores 
fisiológicos, como idade ou patológicos como hipoalbuminemia, assim como 
a interação entre fármacos 
-
Fatores que alteram a união aos tecidos: redução de proteínas teciduais ou 
de lipídeo nas células adiposas.
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-
CASO CLÍNICO 2
J.O.S, 32 anos, solteira, residente em Salvador-BA, está em tratamento para dor secundária 
ao câncer de mama. Faz uso de uma morfina 2x/dia. Após sintomas de tontura, dor de 
cabeça e vertigem, foi atendida na UPA, onde se constatou que a mesma apresentava 
hipertensão com uma pressão arterial de 200x130mmHg. Foi medicada e fará tratamento 
crônico com os anti-hipertensivos Losartana e Hidroclorotiazida. Duas semanas após iniciar o 
tratamento com os novos medicamentos, percebeu que as dores surgiram mais 
precocemente após o uso de morfina, ou seja, a morfina já não apresentava o mesmo tempo 
de duração. Pode ser um caso de interação medicamentosa? Caso sim, quais as 
possibilidades?
Resolução: Sim. A interação entre a morfina e os anti-hipertensivos causou uma disputa 
pelas proteínas do sangue. Dessa forma, a morfina passou a se ligar a menos proteínas e 
muitas moléculas desse fármaco ficaram de forma livre no sangue, causando efeito 
rápido e intenso, entretanto também sendo metabolizado na mesma velocidade, o que 
encurtou o tempo de meia vida da morfina. 
-
METABOLISMO DOS FÁRMACOS
É o processo de biotransformação, isto é, alterações por reações químicas, que o 
fármaco sofre principalmente no fígado, com o objetivo de facilitar sua eliminação. 
A biotransformação dos fármacos pode alterá-los de quatro maneiras 
importantes:
Um fármaco ativo pode ser convertido em fármaco inativo -
Um fármaco ativopode ser convertido em um metabólito ativo ou tóxico
(ex.: paracetamol)
-
Um pró-fármaco inativo pode ser convertido em fármaco ativo -
Um fármaco não-excretável pode ser convertido em metabólito passível de 
excreção (aumentando a depuração renal ou biliar) 
Fármacos apolares e lipossolúveis não são excretados facilmente, pois 
são facilmente filtrados e reabsorvidos, além de não serem bem 
dissolvidos na urina.
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-
-
Etapas do Metabolismo
Fase I: oxidação ou redução
Envolve enzimas associadas a membranas, que são expressas no retículo 
endoplasmático (RE) dos hepatócitos
-
Tipicamente, as reações de oxidação transformam o fármaco em metabólitos -
-
-
 
Tipicamente, as reações de oxidação transformam o fármaco em metabólitos 
mais hidrofílicos ao adicionar um grupamento OH ou apenas um oxigênio
-
O fármaco não necessariamente irá perder sua função após ser oxidado. A 
cortisona, por exemplo, fica mais potente quando hidroxilada, virando 
hidrocortisona.
-
As enzimas que catalisam essas reações de fase I são tipicamente oxidases-
Enzimas de Oxidação
Sistema de monooxigenase do citocromo P450 (CYP 450): enzimas 1A2, 
2C9, 2C19, 2D6 e 3A4 (metaboliza a maioria dos fármacos). 
-
Sistema de monooxigenase continente de flavina -
Álcool desidrogenase-
Aldeído desidrogenase-
Monoamina oxidase-
Co-oxidação por peroxidases-
-
Fase II: conjugação
União do fármaco com outra molécula capaz de alterar sua estrutura, no 
hepatócito. 
-
Envolvem enzimas citosólicas ou do retículo endoplasmático (RE) dos 
hepatócitos
-
Os substratos dessas reações incluem compostos que já contêm grupos 
químicos apropriados para conjugação, como hidroxila (-OH), amina (-NH2) 
ou carboxila (-COOH). 
-
Para sofrer conjugação o fármaco não precisa, necessariamente, ter passado 
pela oxidação/redução, basta ter algum dos substratos. 
-
Na maioria dos casos, o processo de conjugação torna o fármaco mais polar 
e, quase sempre, farmacologicamente inativo. 
-
-
Enzimas de Conjugação Moléculas de Conjugação
Metil-transferase D-metila
Glutationa S-transferase D-glutationa
Sulfotransferases D-sulfato
N-acetiltransferases D-acetato
Aminoácido N-aciltransferases D-glicina
UDP-glucoronil transferase D-glicuronato
Indução e inibição do metabolismo
Embora algumas enzimas P450 sejam constitutivamente ativas, algumas podem 
ser induzidas (aumento da transcrição ou diminuição da degradação) ou inibidas 
por diferentes compostos, através de ligação direta à enzima. 
-
Indução:
Fármaco induz maior produção de enzimas, acelerando o metabolismo-
Fármaco pode aumentar seu próprio metabolismo -
Um fármaco pode aumentar o metabolismo de outro fármaco 
coadministrado
-
Pode resultar na produção de níveis tóxicos dos metabólitos reativos dos 
fármacos 
-
-
Inibição: ocorre inibição da enzima, de forma reversível ou irreversível. -
Interação medicamentosa e citocromo P450
Exemplo: paciente que faz uso de ciclosporina (imunossupressor para que 
não ocorra rejeição em transplante de órgãos), começa a tomar outro 
medicamento. A depender do medicamento, efeitos diferentes serão 
causados:
Imunossupressor (ciclosporina) + Antibiótico (rifampicina): 
rifampicina induz o citocromo P450, na enzima 3A4. Dessa forma, a 
ciclosporina é metabolizada mais rapidamente, tendo seu efeito 
-
-
-
-
 
ciclosporina é metabolizada mais rapidamente, tendo seu efeito 
diminuído. Logo, esse paciente corre risco de ter rejeição do órgão. 
Imunossupressor (ciclosporina) + Antifúngico (itraconazol): o 
itraconazol inibe o citocromo P450, mais especificamente a enzima 
3A4. Portanto, a ciclosporina não será metabolizada na velocidade que 
deveria e começa a se acumular. Por ser nefrotóxica, pode causar 
danos nos rins recém-transplantados do paciente.
-
Fatores que alteram o metabolismo dos fármacos
Idade: os extremos da idade apresentam grande influência sobre o metabolismo. 
Na criança, por uma imaturidade no sistema de enzimas e no idoso, por uma 
redução do fluxo sanguíneo hepático. 
-
Fatores genéticos e sexo: certas populações exibem polimorfismo ou mutações 
em determinados genes envolvidos ao metabolismo. Existem variações 
metabólicas em relação ao sexo (etanol, benzodiazepínicos, salicilatos e 
estrogênio).
-
Estado patológico: cirrose, hepatite, esteatose, câncer, hipertireoidismo-
Interações com alimentos e com outros fármacos: indução ou inibição enzimática 
por alimentos ou fármacos. Competição pela enzima de degradação e influência 
sobre a flora digestiva. 
-
-
CASO CLÍNICO 3
J.B.L, 24 anos, estudante de odontologia, solteira, residente em Recife. Faz uso do 
anticoncepcional Ciclo 21 há 3 anos. No mês passado, apresentou uma infecção urinária onde 
foi receitado um antibiótico para o tratamento da infecção. Porém, no mês seguinte a sua 
menstruação atrasou. Preocupada, ela comprou um teste rápido de gravidez, o que lhe 
informou que ela seria mãe. O que ocorreu? 
Resolução: ocorreu uma interação medicamentosa entre os dois fármacos que a 
paciente estava tomando, em que o antibiótico acelerou o metabolismo do 
anticoncepcional, diminuindo seu tempo de ação no organismo. 
-
ELIMINAÇÃO DOS FÁRMACOS
A eliminação dos fármacos refere-se ao processo pelo qual um fármaco ou metabólito é 
eliminado do organismo. 
-
Os fármacos e seus metabólitos são, em sua maioria, eliminados do corpo através da 
excreção renal (mais comum) e biliar. 
-
Muitos fármacos de administração oral sofrem absorção incompleta pelo TGI e são 
eliminados por excreção fecal. 
-
Também pode haver quantidades mínimas de eliminação através das vias respiratória, 
dérmica, pela saliva, leite, suor e lágrimas. 
-
Para o fármaco ser eliminado pelos rins, ele precisa estar na forma hidrossolúvel. 
Quando o fármaco é lipossolúvel, ele irá depender da metabolização hepática para 
tornar sua molécula hidrossolúvel, facilitando a excreção na urina. 
-
Os fármacos eliminados mais rapidamente são aqueles que não têm atração por algum 
tecido ou proteína do sangue.
-
Excreção Renal
A taxa de eliminação dos fármacos através dos rins depende do equilíbrio das 
taxas de filtração, secreção e reabsorção de um fármaco
-
A maioria das substâncias, exceto quando altamente ligadas às proteínas 
plasmáticas ou maiores que 20.000mg/mol atravessa livremente o filtrado 
glomerular
-
Muitas substâncias, particularmente ácidos fracos e bases fracas, são ativamente 
secretadas no túbulo e, por conseguinte, são excretadas mais rapidamente (ex.: 
penicilina)
-
As substâncias lipossolúveis sofrem reabsorção passiva por difusão através do 
túbulo, de modo que não são excretadas eficazmente na urina 
-
Várias substâncias importantes são removidas predominantemente por excreção 
renal e tendem a causar toxicidade em indivíduos idosos e pacientes com doença 
renal 
-
-
Problemas hepáticos interferem não 
só na metabolização do fármaco, 
mas também na eliminação.
 
renal 
Devido à partição do pH, os ácidos fracos são excretados na urina alcalina, e vice 
versa. Isso ocorre porque ácidos fracos tendem a ionizar em pH alcalino, ou seja, 
dissociar e adquirir carga, tendo, portanto, uma tendência menor de sofrer 
reabsorção 
-
Excreção Biliar
Os mecanismos que transportam estas substâncias para o interior das vias biliares 
são semelhantes aos mecanismos de transporte existente nos rins 
-
Muitas substâncias conjugadas nas reações do tipo II, principalmente os 
conjugados com compostos glicuronídeos, são eliminados por essa via 
-
Na luz do intestino delgado, o fármaco pode ser reabsorvido e formar uma 
circulação enterohepática da droga. Esses fármacos têm seu efeito prolongado no 
organismo. 
-
A morfina, o cloranfenicol e o etinilestradiol são exemplos de drogas excretadas de 
forma conjugada através da bile 
-
O vercurônio, que é bloqueador neuromuscular competitivo, é excretado 
principalmente através da bile e forma inalterada
-
-
Cinética de Eliminação
Depuração 
É a taxa de eliminaçãode um fármaco do corpo em relação à concentração 
plasmática do fármaco
-
Ex.: se um fármaco possui taxa de depuração de 100mL/min, significa que a 
cada minuto, 100mL desse sangue fica sem o fármaco. 
-
É calculada a partir da concentração plasmática (Cp), da concentração 
urinária (Cur) e da velocidade do fluxo de urina (Vur)
𝐶𝐿 = 
𝐶 . 𝑉
𝐶
⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯
-
A depuração total é a soma da depuração de outras vias de eliminação-
-
Meia-vida de eliminação
Tempo durante o qual a concentração do fármaco no corpo é reduzida à 
metade
-
Quanto maior o tempo de meia vida, mais tempo o fármaco passa no 
plasma. 
-
O conhecimento da meia-vida de eliminação de um fármaco permite calcular 
a frequência de doses necessárias para manter a concentração plasmática do 
fármaco dentro da faixa terapêutica. 
-
-
Tipos de Cinética de Eliminação
Cinética de primeira ordem: a velocidade de eliminação é diretamente 
proporcional a quantidade de fármaco presente no organismo. 
-
Cinética de ordem zero: o número de moléculas eliminadas por uma unidade 
de tempo permanece constante durante toda ou a maior parte do processo 
de eliminação. 
-
-
-
Fatores que alteram a eliminação dos fármacos
Fatores que alteram a distribuição e o metabolismo: a eliminação dos fármacos 
pode ser afetada principalmente por fatores que alteram a distribuição e 
metabolismo dos fármacos, como inibição enzimática e mudança da quantidade 
de proteínas plasmáticas
-
Patologias hepáticas e renais: o fígado e os rins são os principais órgãos de 
eliminação. 
-
-
Quantidade de sangue que fica sem 
o fármaco a cada minuto. 
Volume de plasma limpo pelo rim 
por unidade de tempo

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