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• É o estudo do movimento de uma substância química, em particular, um fármaco no interior de um organismo vivo; • Processos farmacocinéticos: - Absorção; - Distribuição; - Biotransformação; - Excreção. Transferência de um fármaco desde o seu local de administração até a circulação sanguínea; A velocidade e a eficiência da absorção vai depender entre outros fatores da via de administração; - Quando você injeta um fármaco diretamente na corrente sanguínea (via intravenosa e via intra-arterial), não gera absorção e por isso sua ação é mais rápida; A forma farmacêutica influencia na absorção do fármaco. Um exemplo é a forma líquida que já está diluída e não precisará se desintegrar para ser absorvida como acontece em cápsulas e drágeas. Sendo assim, a forma líquida terá uma velocidade de absorção mais rápida; É um envoltório composto por moléculas de fosfolipídios e de proteínas., formando uma bicamada com uma parte apolar (hidrofóbica) voltada para dentro e polar (hidrofílica) voltada para fora; A bicamada garante uma fluidez à membrana, permitindo que moléculas individuais se movam lateralmente; A bicamada é relativamente impermeável às moléculas polares e aos íons, sendo, entretanto, permeáveis às moléculas das drogas não polares; Para um fármaco ser facilmente absorvido, ele precisa atravessar a barreira lipídica, ou seja, ser lipossolúvel e estar na sua forma molecular; Aquelas que não forem lipossolúveis precisarão de processos especiais para atravessar as membranas biológicas, como: Transporte passivo: Não há interferência ativa das membranas nesses processos e nem gasto de ATP; - Difusão simples ou passiva: As moléculas de soluto se distribuem do meio que estiver mais concentrado para o meio que estiver menos concentrado. Para isso, essas moléculas farmacocinetica devem ser apolares, lipossolúveis e possui peso molecular compatível com a membrana; - Filtração: Tanto o soluto como o solvente se movem através dos poros da membrana plasmática e por meio da força que as pressões hidrostáticas e a pressão osmótica exercem; Transporte ativo: O soluto para atravessar a membrana precisa se combinar com a proteína carreadora, formando com ela um complexo. Além disso, o transporte ativo se dirige contra um gradiente de concentração; Difusão facilitada: Necessita de um transportador existente na membrana para atravessar essa barreira; As drogas, na sua maioria, são bases e ácidos fracos que se ionizam parcialmente. Em solução, apresentam uma parte ionizada e outra parte não ionizada. Essa dissociação é influenciada pelo pH do meio; A parte não ionizada (forma molecular) é menos polar e, portanto, mais lipossolúvel que a forma ionizada. Como as membranas absorventes do nosso corpo são predominantemente lipídicas, a conclusão é imediata: a parte não ionizada, lipossolúvel, do ácido ou da base é mais facilmente absorvida. Na ionização, o equilíbrio entre a parte ionizada e a fração não ionizada é indicado pelos símbolos K, pK, Ka e pKa Sendo assim, o pKa é uma grandeza que informa a constante de dissociação. O grau de ionização de um eletrólito em solução aquosa depende do pH da solução. Se o pH de uma solução aquosa de um ácido ou de uma base é ajustado de tal maneira que o composto exista na forma ionizada, na metade da sua quantidade, e na forma não ionizada, a outra metade, esse pH constitui a constante de dissociação ácida ou pKa. do composto; Exemplo: Num pKa 4,4 significa que, no pH 4,4 50% do fármaco está na forma molecular (não ionizada) e 50% está na forma ionizada; Ao chegar no estômago o pH diminui por causa do suco gástrico que é muito ácido e a concentração de H+ aumenta. Consequentemente, a reação de equilíbrio se desloca para a esquerda, produzindo maior concentração de forma molecular (forma não ionizada) para que a reação entre em equilíbrio e o fármaco seja absorvido melhor; Portanto, um fármaco ácido será mais bem absorvido no estomago do que no intestino, pois no estômago o meio possui muito H+, o que facilita a reação de deslocação que produz a forma molecular (não ionizada) e absorve o medicamento; Da mesma forma, um fármaco básico (pKa>7) será mais bem absorvido no intestino; h Droga ácida em meio de pH ácido, a sua ionização é diminuída, consequentemente, sua absorção aumenta; Droga ácida em meio de pH alcalino tem sua ionização aumentada e sua absorção diminuída; Droga básica em meio ácido tem sua ionização aumentada e sua absorção diminuída. Como a parte não ionizada, em geral, é lipossolúvel e, portanto, absorvível, podemos inferir a importância dos fatores que condicionam a ionização da droga, interferindo na sua absorção, distribuição e excreção. • Nível normal do pH nos compartimentos orgânicos: - Sangue: 7,2 - 7,6; - Cólon: 7,0 - 7,5; - Saco conjuntival: 7,3 - 8,0; - Duodeno: 4,8 – 8,2; - Jejuno e íleo: 7,5 – 8,0; - Leite maternal: 6,5 – 6,7; - Boca: 6,2 – 7,2; - Estômago: 1,0 – 3,0; - Suor: 4,3 – 4,7; - Uretra: 5,0 – 7,0; - Vagina: 3,4 – 4,2. É a concentração, quantidade ou porcentagem do fármaco que chega até o local do sítio de ação dele; é a quantidade da droga disponível para ser utilizada pelo organismo. A biodisponibilidade também indica a velocidade com que a droga atinge o sangue, A biodisponibilidade é influenciada pelos seguintes fatores: • Características da droga: - Inativação antes da absorção gastrointestinal por conta do pH; - Absorção incompleta; - Biotransformação na parede intestinal ou no fígado (efeito do “primeiro passo” ou “primeira passagem” metabólica); • Forma farmacêutica: - Estado físico da droga; - Excipientes ou veículos da droga; • Interação com outras substâncias no trato gastrointestinal: - Alimentos; - Drogas; • Características do paciente: - pH gastrointestinal; - Motilidade gastrointestinal; - Perfusão; - Flora; - Estrutura; - Estados de má-absorção; - Função hepática; - Fenótipo genético. Dosagem terapêutica: é quando as primeiras doses do medicamento não são suficientes para entrar na faixa terapêutica. Sendo assim, o medicamento fará efeito a partir da segunda ou terceira dose; Dosagem terapêutica com dose de ataque: é quando a primeira dose do medicamento já é suficiente para alcançar a faixa terapêutica e fazer o seu efeito. Geralmente, é utilizada quando se necessita de uma terapia de efeito imediato; Dosagem tóxica: é quando as primeiras doses do medicamento já alcançam a janela terapêutica, mas as doses subsequentes já são tóxicas e fazem mal ao paciente; Dosagem subterapêutica: É quando o medicamento não alcança a faixa terapêutica e não faz o seu efeito, independentemente da quantidade de doses. Portanto, para um fármaco ser eficaz, ele deve ter uma dosagem terapêutica ou uma dosagem terapêutica com dose de ataque. A diferenciação entre essas dosagens dependerá da escolha da melhor terapia que o médico fizer para determinado paciente; - Se o paciente precisa de um medicamento que tenha efeito rápido, então será necessário administrar uma dose de ataque para ele. Fatores que influenciam na absorção dos fármacos: Interação com alimentos: Enteral Vantagens: Facilidade de administração, mais seguro, comum, conveniente e econômico; Contraindicações: Paciente que apresenta náuseas e vômitos, diarreia e dificuldades para engolir. Embora o estômago não seja local primordial de absorção, sua mucosa pode absorver diversas drogas, especialmente se a velocidade do seu esvaziamento for diminuída. O baixo pH do estômago diminui a ionização dos ácidos fracos e, por isso, facilita a absorção desses compostos. Por outro lado, a acidez gástrica aumenta a ionização de basesfracas, ionização essa que dificulta a absorção dessas drogas. Absorção intestinal: observamos o efeito de primeira passagem pelo fígado, no qual o fármaco é metabolizado e, parte dele, é transformado numa molécula hidrossolúvel para ser excretada; Absorção sublingual: tipo de absorção mais rápida que ocorre pela rede capilar abaixo da língua, a qual permite que o fármaco caia diretamente na corrente sanguínea. A circulação venosa desemboca na veia jugular, e, desse modo, as drogas aí absorvidas fogem à ação do fígado, que poderia inativá-las. Para ser absorvido embaixo da língua, o fármaco deve ter uma forma farmacêutica específica. Via retal Indicada para pacientes que tem dificuldade para engolir o medicamento, paciente que apresenta náuseas e vômitos, pacientes sedados, estado de coma e inconsciência, a droga pode ser destruída pelas enzimas digestivas; Vantagens: Protege os fármacos suscetíveis da inativação gastrointestinal e hepática, pois somente 50% do fluxo venoso retal tem acesso à circulação porta; Desvantagens: A absorção pode ser incompleta, especialmente em pacientes com motilidade intestinal aumentada e pode irritar a mucosa; Exemplos de fármacos: Diazepam, metronidazol, alguns anti-inflamatórios e antieméticos, pomada de tratamento de hemorroidas, supositórios; Parenteral Introduz o fármaco diretamente na circulação sistêmica, é utilizada para fármacos que são pouco absorvidos no trato gastrointestinal. É usada no paciente inconsciente ou quando se necessita de um início rápido de ação. Via intradérmica: - Sensibilidade de algumas alergias; - Dessensibilização e auto vacinas; - Aplicação da vacina contra tuberculose (BCG) na inserção inferior do músculo deltoide. Via subcutânea: • Via muito restrita a administração de pequenos volumes (de 0,1 a 0,5 ml); • Usada para reações de hipersensibilidade, como: - Provas de ppd (tuberculose), schick (difteria); • A medicação é introduzida na tela subcutânea (tecido subcutâneo ou hipoderme) e o volume da medicação não deve exceder 3 ml; • Absorção lenta através dos capilares de forma contínua e segura; • Usada para administração das vacinas antirrábica e anti-sarampo, anticoagulantes como heparina e hipoglicemiantes como a insulina; Via intramuscular: • Via muito utilizada por ter uma absorção rápida quando o fármaco possui solução aquosa ou em preparações especializadas que são absorvidas lentamente; • O músculo escolhido deve ser bem desenvolvido, ter facilidade de acesso, não possuir vasos de grande calibre e não ter nervos superficiais no seu trajeto; O volume injetado dependerá da região: - Região deltoide: 2 a 3 mililitros; - Região glútea: 4 a 5 mililitros; - Músculo da coxa: 3 a 4 mililitros. Via endovenosa: • Introdução de medicação diretamente na veia e deve tomar muito cuidado, pois uma vez que você administra um fármaco nessa via, para retirá-lo é muito complicado. • Aplicação: - Membros superiores; - Evitar articulações; - O melhor local para administrar medicações é na face anterior do antebraço “esquerdo”. • Indicações: - Necessidade de ação imediata do medicamento; - Necessidade de injetar grandes volumes como nos casos em que o paciente precisa de hidratação; - Introdução de substâncias irritantes de tecidos, porque o fármaco se dilui no sangue rapidamente. Outras vias: Via tópica: • Também chamada de administração epidérmica; • É a aplicação de substâncias ativas diretamente na pele, ou em áreas de superfície de feridas, com efeito local, tais como: pomadas, cremes, sprays, loções, colutórios, pastilhas para a garganta. Intra-arterial (IA); utilizada para tratamento de carcinomas, drogas vasodilatadoras e drogas trombolíticas para tratamento de embolia; Intracardíaca: utilizada para administração de adrenalina; Intra-araquídea: via subaracnóidea – intratecal; Intraperitoneal; Intra-óssea. Veja a tabela no final desse resumo * É o processo pelo qual um fármaco abandona o leito vascular e entra no interstício e nas células dos tecidos; A perfusão sanguínea está muito ligada à distribuição do fármaco, pois quanto maior a quantidade de sangue que está circulando naquele local, maior será a distribuição do fármaco; O débito cardíaco também influencia na distribuição, pois ele aumenta a perfusão sanguínea. No sangue, quase todas as drogas se subdividem em duas partes: uma livre, dissolvida no plasma e outra que se liga às proteínas plasmáticas. Somente a fração livre do fármaco é distribuída, ou seja, somente o fármaco livre (sem estar ligado a uma proteína) é que consegue passar pelas células endoteliais e chegar no seu local de ação; A. parte ligada às proteínas plasmáticas constitui fração de reserva das drogas e só se torna farmacologicamente disponível quando se converte em porção livre. Forma-se no sangue, um equilíbrio entre a parte ligada e a parte livre da droga. À medida que a parte livre é utilizada pelo organismo, a parte ligada vai-se desligando para substituir-aquela parte livre que é distribuída, acumulada, metabolizada e excretada. • Portanto, a afinidade do fármaco pelas proteínas do sangue também irá influenciar na distribuição, no metabolismo e no tempo de ação que vai ter todo esse processo. - Ou seja, fármaco que tem alta afinidade com as proteínas plasmáticas, tem uma baixa distribuição, menor metabolismo e maior tempo de ação; • A quantidade de um fármaco que se liga as proteínas vai depender de três fatores: - Concentração do fármaco livre; - Afinidade do fármaco pelos locais de ligação; - Concentração das proteínas. Tipos de fármacos e ligação às proteínas plasmáticas Fármacos de Classe I: a dose é menor do que o número de locais de ligação disponíveis, ou seja, maior quantidade de fármaco ligado às proteínas e, portanto, menor distribuição; Fármacos de Classe II: a dose é maior do que o número de locais de ligação, ou seja, maior concentração de fármaco livre e, portanto, maior distribuição; Administração de fármacos da Classe I e II: a administração simultânea de dois fármacos que possuem afinidade pela mesma proteína, resultará numa competição por proteínas, resultando numa maior quantidade de fármaco livre e, portanto, maior quantidade de fármaco passará pelas células endoteliais e maior concentração dele chegará ao sítio de ação; Sendo assim, não se pode administrar dois fármacos que competem pelo mesmo sítio de ação, pois isso resultará num excesso de fármaco livre, excesso de distribuição e toxicidade aos tecidos. Recapitulando... Existem três fatores que influenciam diretamente na distribuição do fármaco, são eles: - Perfusão sanguínea; - Capacidade de ligação às proteínas; - Lipossolubilidade do fármaco. Os fármacos também podem competir por proteínas diferentes. Normalmente, as drogas ácidas irão se ligar à albumina e as drogas básicas irão se ligar a aI-glicoproteína ácida; Se um fármaco ácido for administrado simultaneamente com um fármaco básico, dificilmente eles irão competir por um mesmo local de ação e, dificilmente, eles irão deslocar um ao outro; No entanto, dois fármacos ácidos ou dois fármacos básicos se administrados simultaneamente e se ligarem ao mesmo lócus da proteína, terão chance de deslocar um ao outro e produzir efeitos adversos por mecanismos de competição por ligação à proteína. • Tecidos susceptíveis: tecidos que possuem um ligante para aquele fármaco e que sofrem ação farmacológica; • Tecidos ativos: tecidos que metabolizam o fármaco, como o fígado; • Tecidos indiferentes: tecidos que recebem o fármaco, mas não o metaboliza e nem sofrem ação farmacológica. Apenas armazenamo fármaco; • Tecidos emunctórios: tecidos que excretam e eliminam totalmente o fármaco da corrente sanguínea, como o rim. ç Volume real: é o volume que o tecido recebe de fármaco; Volume aparente: é a relação entre a concentração de fármaco nos tecidos e a concentração de fármaco na corrente sanguínea; Se a droga é muito lipossolúvel, ela vai conseguir atravessar muito facilmente as membranas plasmáticas fosfolipídicas e se concentrar muito nos tecidos. Consequentemente, ela terá grande volume aparente; Já a droga ligada ou hidrossolúvel por ter mais dificuldade de atravessar as membranas plasmáticas e ter maior dificuldade de se desligar das proteínas, ela tem um baixo volume aparente de distribuição. Variação do volume aparente: • Dependentes da droga: - Lipossolubilidade; - Polaridade e ionização; - Ligação a proteínas. • Dependentes do paciente: - Idade; - Peso, altura; - Hemodinâmica (ICC= menor perfusão); - Concentração de proteínas plasmáticas; - Estados patológicos; - Genética. Ao compararmos fluoxetina com varfarina, nós temos uma concentração bem maior de fluoxetina nos tecidos. Reservatórios de fármacos: os fármacos ficam nos tecidos e podem encontrar reservatórios como é o caso das quinacrinas que se armazenam no fígado, a tiopental na gordura e a tetraciclina no osso; Distribuição do tiopental: fármaco lipossolúvel; Nesta tabela acima podemos ver a monitorização do fármaco anestésico tiopental, o qual é distribuído nos primeiros minutos de administração para os tecidos de maior perfusão como o cérebro, no entanto, com o passar do tempo ele é armazenado e absorvido principalmente no tecido adiposo. ç O fármaco pode ser distribuído por vários locais, no entanto, existem barreiras anatômicas, como: • Barreira hematoencefálica: o cérebro e a medula espinhal são protegidos da exposição a uma diversidade de substâncias por meio de junções muito justas entre as células capilares endoteliais e devido aos processos gliais, as quais dificultam a passagem de fármacos; Portanto, para penetrarem no sistema nervoso central os fármacos precisam ter as seguintes características: - Drogas apolares (forma molecular); - Lipossolúveis; - Tamanho molecular reduzido (álcool); - Elevado coeficiente de partição óleo/água (barbitúricos e anestésicos gerais). • Barreira placentária: os vasos sanguíneos do feto são revestidos por uma única camada de células e por isso, a maioria dos fármacos atravessam essa barreira. No entanto, o plasma fetal é ligeiramente mais acido que o materno, e, por isso, os fármacos básicos se ionizam mais facilmente, gerando um risco de aprisionamento desses fármacos dentro do organismo do feto e maior chance de reações adversas; • Barreira mamária. Na falência hepática, ocorre uma diminuição de albumina e, por consequência, maior fração de fármaco livre e maior chance de reações tóxicas dos fármacos; A diminuição da albumina plasmática também implica numa diminuição da pressão osmótica e aumento do fluido tecidual. Com isso, há um aumento do volume de distribuição de fármacos hidrossolúveis. Alguns fármacos conseguem se ligar a alguns tipos de tecidos graças a associação do fármaco a elementos teciduais; Os tecidos mais comumente envolvidos nesse armazenamento são o adiposo e ósseo e resultam num prolongamento de efeito dos fármacos; Flúor, chumbo e tetraciclinas se armazenam no tecido ósseo durante a fase de mineralização, enquanto anestésicos gerais e inseticidas possuem maior afinidade pelo tecido adiposo; Consequências da formação de depósito: - Manutenção das concentrações plasmáticas; - Redução das concentrações plasmáticas iniciais; - Prolongamento do tempo de ação dos fármacos. Ç Essa etapa também é chamada de metabolismo de fármacos e compreende os mecanismos enzimáticos complexos que tem como objetivo inativar compostos endógenos ativos como hormônios, enzimas e neurotransmissores e eliminar substâncias estranhas ao organismo chamadas de xenobióticos. O principal local de biotransformação é o fígado, no entanto, os fármacos também podem ser metabolizados pelos pulmões, rins, adrenais, entre outros órgãos; O principal objetivo da biotransformação é transformar fármacos lipossolúveis em fármacos hidrossolúveis para facilitar a excreção. No entanto, a biotransformação também pode ativar ou potencializar alguns fármacos; As reações químicas que ocorre na biotransformação, são de: - Oxidação - Redução - Hidrólise - Conjugação Os desfechos do processo de metabolismo podem ser de três tipos: 1) Término da ação de uma substância; - Detoxificar; - Inativar compostos. 2) Facilitar a excreção; - Formar produtos mais polares; - Formar produtos menos lipossolúveis. 3) Ativar; - Ativar drogas originalmente inativas; - Alterar perfil farmacocinético; - Formar metabólitos ativos. Na maioria das vezes o metabólito biotransformado será inativado, transformando a droga em menos lipossolúvel e aumentando sua taxa de excreção; Na minoria das vezes: - A droga inativa chamada de pró-fármaco será ativada; - Uma droga tóxica sofrerá processo de detoxificação; - Uma droga não tóxica se transformará em tóxica; - Uma droga ativa se transformará em igual ou menos ativa. Exemplos de ativação metabólica: • Metabólitos ativos que se transformam em outros metabolitos ativos; - Ac. Acetilsalicílico → Ác. Salicílico - Diazepam → Nordazepam + Oxazepam • Metabólitos ativos que se transformam em metabólitos tóxicos; - Isoniazida → Acetominofen • Pró-drogas (originalmente inativas) que se transformam em ativas; - Cortisona → Hidrocortisona - Prednisona → Predinisolona - Paration → Paraoxon Reações de fase 1: compreende as reações de oxidação, redução e hidrólise e podem resultar em fármacos ativados, inalterados ou inativados; • São catabólicas (reações de quebra); • Produzem grupos reativos como hidroxilas e que as vezes podem ser mais tóxicos do que o produto original; • Esses grupos reativos servem de ponto de ataque para as reações de conjugação; • As reações oxidativas são de dois tipos: - Não microssomais: ocorrem no citosol e nas mitocôndrias; - Microssomais: ocorrem no retículo endoplasmático liso e possuem participação de citocromo P450, ferro, NAD, flavoproteína e oxigênio. Os fármacos que passam pela fase 1 podem passar pela fase 2, mas não é uma obrigação. No entanto, para um fármaco passar pela fase 2 ele precisa obrigatoriamente passar pela fase 1; Reações de fase 2: compreende as reações de conjugação e resultam na inativação do fármaco, tornando-os hidrossolúveis; • São anabólicas (reações de síntese); • Resultam em compostos inativos (exceção: sulfato de minoxidil); Lembrando que existem fármacos que são suficientemente hidrossolúveis e que não precisam passar por nenhuma fase de biotransformação para serem excretados. No entanto, esses fármacos não são comuns. Citocromo P450 • É o principal mecanismo para metabolização de produtos endógenos e xenobióticos; • Importante fonte de variabilidade interindividual no metabolismo de drogas; • Relacionado a efeitos tóxicos de determinados fármacos; • Envolvido no mecanismo de interação entre as drogas. • Nomenclatura dos citocromos P450: Exemplo: CYP1A2 - CYP1: descreve a família dos citocromos; - CYP1A: descreve a subfamília; - CYP1A2: descreve a enzima específica para a reação. Existem antagonistas que se ligam aos citocromos e impedem que os substratos sejam degradados. Algumas enzimas ainda conseguem reconhecer mais de um substrato. Veja o exemplo: • Acetaminofeno → Acetilbenzoquinona Acetilbenzoquinona é uma molécula instável que deve se reduzir para seestabilizar. Sua redução é obtida pela oxidação de um outro composto chamado glutationa. Quando a glutationa se esgota, lipídios da membrana celular são oxidados, causando lise celular; Indutores: São compostos que induzem a atividade de enzimas do CYP450, portanto aumentam a velocidade da excreção de xenobióticos. Dessa maneira, a biodisponibilidade é menor. • Na presença de um indutor: - Aumenta a atividade da enzima CYP; - Aumenta a velocidade do metabolismo do substrato; - Aumenta a velocidade de excreção; - Diminui a concentração do substrato no sangue. Inibidores: São compostos que inibem a atividade de enzimas do CYP450, portanto diminuem a excreção de xenobióticos. Dessa maneira, a biodisponibilidade é maior. • Na presença de um inibidor: - Diminui a atividade da enzima; - Diminui a velocidade do metabolismo do substrato; - Diminui a velocidade de excreção; - Aumenta a concentração do substrato no sangue. Exemplo no CYP2C19: Rifampicina (tratamento de tuberculose) é administrada simultaneamente ao omeprazol (tratamento de úlcera gástrica): A rifampicina irá aumentar a atividade da CYP, aumentar a velocidade do metabolismo, e a velocidade de excreção do omeprazol, além de diminuir a concentração de omeprazol no sangue, porque ela é indutora, Exemplo no CYP2C19: Fluconazol (tratamento de fungos) é administrado simultaneamente à warfarina (anticoagulante): Já o fluconazol irá diminuir a atividade da CYP2C9, diminuir a velocidade do metabolismo e a velocidade da excreção de Warfarina, além de aumentar a concentração no sangue, porque ele é inibidor. • Tempo necessário para que a quantidade orifinada da dose seja reduzida à metade; • Está totalmente associada ao metabolismo dos fármacos. A cinética de eliminação das drogas serão de quatro tipos: Droga hidrofílica será absorvida pelo duodeno, não sofrerá nenhuma ação metabólica do fígado pois já é hidrofílica, vai cair na corrente sistêmica, sendo distribuída por todo o corpo e eliminada completamente pelos rins; Droga lipofílica que não sofre metabolismo será absorvida, passará pelo fígado sem sofrer biotransformação, será distribuída por todo corpo, no entanto, não será excretada pelo rins, pois os rins só conseguem eliminar drogas hidrofílicas; essa droga recirculará e parte dela será eliminada através de sais biliares e nas fazes; Droga lipofílica que será transformada lentamente em hidrofílica. Ela será absorvida e parte dela vai se transformar em hidrofílica por biotransformação, sendo assim, uma parte lipofílica e outra hidrofílica irão circular pelo organismo, sendo que ao chegar nos rins, a parte hidrofílica será eliminada, enquanto a parte lipofílica terá que recircular mais algumas vezes pelo fígado para sofrer metabolismo e ser eliminada; Droga lipofílica que será transformada rapidamente em hidrofílica. Ela será absorvida e no processo de primeira passagem hepática se transforma totalmente em hidrofílica, circula pelo organismo e ao chegar nos rins é totalmente eliminada. • Rim: principal local de excreção; - Filtração glomerular; - Secreção tubular ativa; - Reabsorção tubular passiva. • Trato biliar e as fezes; • Outras vias: ar expirado, saliva, leite e suor. • Filtração glomerular: - Representa 20% da eliminação de drogas; - A droga circulante chega no glomérulo e vai ter que atravessar a cápsula de bowman. Para isso, essa droga tem que ter um tamanho de até 20.000 Da para atravessar o glomérulo. Caso ela seja maior que isso, ela não consegue ser eliminada por filtração glomerular; - Normalmente, a albumina não é filtrada, e, portanto, um fármaco que esteja ligado com grande intensidade à albumina não será eliminado por filtrado glomerular; • Secreção tubular: - Compreende os fármacos que não sofreram filtração, ou seja, fármacos com tamanho maior que 20.000 Da e fármacos que estão ligados à albumina; - É um mecanismo de transporte ativo que se diferencia para substâncias ácidas e básicas, os quais possuem em comum um transportador da membrana dos túbulos renais que fazem o transporte do fármaco da corrente sanguínea até a luz do túbulo renal para sua eliminação; Fármacos que inibem a secreção tubular vão permanecer por muito mais tempo na corrente sanguínea, fazendo com que o tempo de meia vida desse fármaco seja ampliado e o seu tempo de ação dure mais. É o que acontece com a penicilina, principalmente pela inibição da secreção tubular por outros fármacos como a probenecida. Para aumentar o tempo de ação da penicilina, pode ser utilizado outro fármaco intencionalmente para inibir a sua eliminação; Alguns fármacos não são combinados intencionalmente, mas agem por interação medicamentosa. Assim, um acaba inibindo a secreção tubular do outro, aumentando o tempo de ação e resultando em efeitos tóxicos; p O ph também influencia na eliminação, pois os fármacos são bases fracas ou ácidos fracos e possuem a capacidade de se ionizar. Sendo assim, vemos que a forma hidrofílica é a forma ionizada do fármaco e a forma lipofílica é a forma molecular. Então, isso significa que se um fármaco que está na forma ionizada, ele será mais facilmente eliminado do que o fármaco na forma molecular; Exemplo: Temos o fenobarbital (fármaco ácido) numa urina ácida e numa urina alcalina. Isso significa que o fenobarbital, um composto ácido, numa urina alcalina, se ionizará mais e, portanto, será excretado com mais facilidade; Isso é importante, pois ao tentar eliminarmos um composto ácido ou básico, temos que pensar em substâncias que poderão alcalinizar ou acidificar a urina para poder promover a excreção de forma mais rápida. Portanto, recapitulando... Fármacos básicos são eliminados mais facilmente em urina ácida, enquanto fármacos ácidos são eliminados mais facilmente em urina alcalina. Acontece principalmente com fármacos lipofílicos que não sofrem biotransformação para hidrofílicos; Esse fármacos são secretados juntamente com a bile no intestino. Nesse momento, 5% desse fármaco é eliminado nas fezes e 95% retorna à corrente sanguínea, sendo reabsorvidos, transportados até o fígado novamente. Ao chegar no fígado ele sofre desconjugação e conjugação e são liberados mais uma vez com os sais biliares; Um exemplo desse tipo de fármaco é o anticoncepcional, o qual é lipofílico e é metabolizado em taxas muito lentas, sendo assim, ele permanece por maior tempo no organismo. Latência: intervalo de tempo desde o momento da administração até o início de efeito. Depende da velocidade de absorção, velocidade de distribuição e localização do sítio alvo (barreiras hematoencefálicas); Pico de ação: concentração máxima atingida que depende dos processos que levam o fármaco ao sítio de ação (absorção e distribuição) e dos processos que retiram o fármaco do sítio de ação (metabolismo e excreção); Duração de ação: intervalo de tempo entre o momento que se inicia e termina a ação. Depende da velocidade dos processos de distribuição e eliminação. Após esse tempo o efeito desaparece, ou seja, o fármaco foi eliminado. O fármaco mesmo tendo uma boa disponibilidade pode chegar com mais dificuldade ao local de ação devido às variáveis de volume de distribuição, ligação às proteínas plasmáticas, clearance e meia vida; O clearance tem a ver com a eliminação do fármaco. Um fármaco que possui um clearance alto será eliminado mais rápido; Farmacoterapia: a interação medicamentosa pode interferir no resultado da ação farmacológica, como acontece com drogas que deslocam outras drogas das proteínas, medicações que impedem que outras sejam eliminadas e medicações que alteram o pH e a ação do medicamento. Álcool e tabagismo:alteram principalmente o metabolismo de drogas por meio de alterações do citocromo 450. Nutrição: os níveis de proteína também influenciam na ação do fármaco, pois as drogas precisam de proteínas para serem transportadas; Etários: Idosos apresentam uma falha na função hepática e renal, órgãos importantes para o metabolismo e a excreção dos fármacos. Já as crianças apresentam sistemas enzimáticos imaturos incapazes de metabolizar algumas drogas de forma eficiente. Por esse motivo, a administração de drogas para essas faixas etárias devem receber uma maior atenção. O objetivo do tratamento com fármacos é alcançar e manter a concentração dentro da janela terapêutica e minimizar os efeitos adversos. Com titulação cuidadosa, a maioria dos fármacos permite alcançar esse objetivo. Se a janela terapêutica do fármaco é estreita, deve-se ter cautela extra na seleção do regime de dosagem, e monitorar os níveis do fármaco pode ajudar a manter a faixa terapêutica; Dose de manutenção: doses utilizadas para manter a concentração na janela terapêutica; Dose de ataque: também chamada de dose de carga, é a dose utilizada para alcançar os níveis no plasma rapidamente, como em infeções graves e arritmias; as doses de ataque podem ser administradas como dose única ou em uma série de doses; Resumindo... Referências: WHALEN, K. Farmacologia Ilustrada - 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. SILVA, Penildon. FARMACOLOGIA. 8a Ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2010.
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