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Kaysa Suassuna Medicina | FITS CORTICOSTEROIDES Farmacologia | 4º Período Introdução Os corticosteroides ligam-se a receptores intracelulares citoplasmáticos específicos nos tecidos-alvo. Os receptores glicocorticoides são amplamente distribuídos pelo organismo, ao passo que os receptores mineralocorticoides estão confinados principalmente nos órgãos de excreção, como rins, colo e glândulas salivares e sudoríparas. No cérebro encontram-se receptores mineralocorticoides e glicocorticoides. Após a dimerização, o complexo receptor-hormônio recruta proteínas coativadoras (ou correpressoras) e transloca para o núcleo, onde se fixa em elementos promotores no gene. Ali, ele atua como um fator de transcrição para ativar o gene (quando complexado com ativadores) ou inibi-lo (quando complexado com correpressores), dependendo do tecido. Esse mecanismo exige tempo para produzir efeitos. Contudo, outros efeitos glicocorticoides são imediatos, como as interações com catecolaminas para mediar o relaxamento da musculatura brônquica. Esta seção descreve as ações normais e os usos terapêuticos dos corticosteroides. Glicocorticoides O cortisol é o principal glicocorticoide humano. Normalmente, sua produção é diurna, com pico pela manhã seguido de um declínio e um pico secundário, pequeno, no fim da tarde. Fatores como estresse e níveis de esteroides circulantes influenciam a secreção. Os efeitos do cortisol são diversos. Em geral, todos os glicocorticoides realizam as funções descritas a seguir. ➢ Promoção do metabolismo intermediário normal Os glicocorticoides favorecem a gliconeogênese, aumentando a captação dos aminoácidos pelo fígado e pelos rins e elevando a atividade das enzimas gliconeogênicas. Eles estimulam o catabolismo proteico (exceto no fígado) e a lipólise, fornecendo, assim, os elementos e a energia necessários para a síntese de glicose. (Nota: a insuficiência de glicocorticoides pode resultar em hipoglicemia [p. ex., durante períodos de estresse ou jejum].) ➢ Aumento da resistência ao estresse Aumentando os níveis de glicose plasmática, os glicocorticoides provêm o organismo com energia para combater o estresse causado por traumatismo, luta, infecção, sangramento ou doença debilitante. ➢ Alteração no nível das células sanguíneas no plasma Os glicocorticoides causam diminuição nos eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos, redistribuindo-os da circulação para o tecido linfoide. Os glicocorticoides aumentam também hemoglobina, eritrócitos, plaquetas e leucócitos polimorfonucleares.(neutrófilos) ➢ Ação anti-inflamatória Kaysa Suassuna Medicina | FITS As propriedades terapêuticas mais importantes dos glicocorticoides são suas potentes atividades anti-inflamatórias e imunossupressivas. Esses efeitos terapêuticos dos glicocorticoides são resultado de numerosas ações. Sabe-se que a diminuição dos linfócitos circulantes tem uma ação. Além disso, estes fármacos inibem a habilidade dos leucócitos e dos macrófagos de responder a mitógenos e antígenos. Os glicocorticoides também diminuem a produção e a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Eles inibem a fosfolipase A2, que bloqueia a liberação de ácido araquidônico (o precursor de prostaglandinas e leucotrienos) dos fosfolipídeos ligados à membrana. Acredita-se que a diminuição da produção de prostaglandinas e leucotrienos é fundamental à ação anti-inflamatória. Finalmente, estes fármacos influenciam a resposta inflamatória estabilizando membranas de mastócitos e basófilos, o que resulta em menor liberação de histamina. ➢ Efeitos sobre outros sistemas Níveis elevados de glicocorticoides servem como inibidores por retroalimentação da produção de ACTH e afetam o sistema endócrino, suprimindo a síntese adicional de glicocorticoides e do hormônio estimulante da tireoide. Além disso, níveis adequados de cortisol são essenciais para a filtração glomerular normal. Os efeitos dos corticosteroides em outros sistemas na maioria das vezes estão associados aos efeitos adversos dos hormônios Mineralocorticoides Os mineralocorticoides auxiliam no controle do volume de água e da concentração de eletrólitos, especialmente sódio e potássio. A aldosterona atua nos túbulos distais e ductos coletores nos rins, causando reabsorção de sódio, bicarbonato e água. Ela diminui a reabsorção de potássio, que, com H+ , é perdido na urina. O aumento da reabsorção de sódio pela aldosterona também ocorre na mucosa gastrintestinal (GI) e nas glândulas salivares e sudoríparas. (Nota: níveis elevados de aldosterona podem causar alcalose e hipopotassemia, retenção de sódio e água e aumento do volume sanguíneo e da pressão arterial. O hiperaldosteronismo é tratado com espironolactona.) As células-alvo da ação da aldosterona contêm receptores mineralocorticoides que interagem com o hormônio de modo análogo ao dos receptores glicocorticoides. Usos terapêuticos Vários derivados semissintéticos de corticosteroides estão disponíveis. Esses fármacos variam na potência anti-inflamatória, na atividade mineralocorticoide e na duração de ação. Os corticosteroides são usados em terapêutica de reposição e no tratamento de reações alérgicas graves, asma, artrite reumatoide, outros distúrbios inflamatórios e alguns cânceres. ➢ Tratamento de reposição para a insuficiência suprarrenal primária (doença de Addison) A doença de Addison é causada pela disfunção do córtex suprarrenal (diagnosticada pela falta de resposta ao ACTH). A hidrocortisona, que é idêntica ao cortisol natural, é administrada para corrigir a Kaysa Suassuna Medicina | FITS deficiência. A não adoção desse tratamento leva à morte. A dosagem de hidrocortisona é dividida de forma que dois terços da dose diária sejam dados pela manhã e um terço seja dado à tarde. (Nota: o objetivo desse regime é mimetizar a variação normal diurna nos níveis de cortisol.) A administração de fludrocortisona, um mineralocorticoide sintético e potente, com alguma atividade glicocorticoide, também pode ser necessária para suplementar a deficiência mineralocorticoide. ➢ Tratamento de reposição para a insuficiência suprarrenal secundária ou terciária Esses distúrbios são causados por defeito na produção de CRH pelo hipotálamo ou na produção de ACTH pela hipófise. (Nota: sob essas condições, a síntese de mineralocorticoides no córtex suprarrenal é menos prejudicada do que a de glicocorticoides.) A hidrocortisona é usada para essa deficiência. ➢ Diagnóstico da síndrome de Cushing A síndrome de Cushing é causada pela hipersecreção de glicocorticoides (hipercortisolismo), que resulta do excesso de liberação de ACTH pela hipófise anterior ou de um tumor suprarrenal. (Nota: o tratamento crônico com doses altas de glicocorticoide é uma causa iatrogênica frequente da síndrome de Cushing.) Os níveis de cortisol (urina, plasma e saliva) e o teste de supressão de dexametasona são usados para o diagnóstico da síndrome de Cushing. O glicocorticoide sintético dexametasona suprime a liberação de cortisol em indivíduos normais, mas não naqueles com síndrome de Cushing. ➢ Tratamento de reposição para a hiperplasia suprarrenal congênita (HAC) A HAC é um grupo de doenças resultante de um defeito enzimático na síntese de um ou mais hormônios esteroides suprarrenais. A HAC pode levar à virilização de mulheres devido à superprodução de androgênios suprarrenais. O tratamento da HAC exige a administração de corticosteroides suficientes para normalizar os níveis hormonais, suprimindo a liberação de CRH e ACTH. Isso diminui a produção de androgênios suprarrenais. A escolha do hormônio de substituição depende do defeito enzimático específico. ➢ Alívio dos sintomas inflamatórios Os corticosteroides diminuem significativamente as manifestações da inflamação associadas com artrite reumatoide e condições inflamatórias da pele, incluindo vermelhidão, inchaço, calor e sensibilidade que podem estar presentes no local da inflamação. Estes fármacos também são importantes para manter sob controle os sintomas de asma persistente, bem como para tratar exacerbações asmáticase doença intestinal inflamatória ativa. Em distúrbios não inflamatórios como a osteoartrite, pode ser usado corticosteroide intra-articular para combater o flare da doença. Nessas doenças, os corticosteroides não são curativos. ➢ Tratamento de alergias Os corticosteroides são benéficos no tratamento da rinite alérgica e das reações alérgicas por fármacos, soro e transfusões. (Nota: no tratamento da rinite alérgica e da asma, a fluticasona e outros são aplicados topicamente no trato respiratório por inalação a partir de um dispensador de doses Kaysa Suassuna Medicina | FITS mensuradas. Isso minimiza os efeitos sistêmicos e permite ao paciente diminuir ou eliminar o uso de corticosteroides orais.) ➢ Aceleração da maturação pulmonar A síndrome da angústia respiratória é um problema em recém-nascidos prematuros. O cortisol fetal é um regulador da maturação pulmonar. Consequentemente, um regime de betametasona ou dexametasona administrado por via intramuscular (IM) à mãe 48 horas antes de realizar o parto prematuro pode acelerar a maturação pulmonar do feto. Farmacocinética ➢ Absorção e destino As preparações de corticosteroides administrados por via oral são facilmente absorvidas. Compostos selecionados também podem ser administrados por via intravenosa (IV), IM, intra-articular (p. ex., em articulações artríticas), topicamente, por inalação ou aplicação intranasal. Todos os glicocorticoides tópicos ou inalados são absorvidos em alguma extensão e, portanto, têm potencial de causar supressão do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHS). Mais de 90% do glicocorticoide absorvido se liga às proteínas plasmáticas, a maior parte à globulina ligadora de corticosteroide ou à albumina. Os corticosteroides são metabolizados pelas enzimas oxidantes microssomais hepáticas. Os metabólitos são conjugados com ácido glicurônico ou sulfato, e os produtos são excretados pelos rins. (Nota: a meia-vida dos corticosteroides pode aumentar substancialmente na disfunção hepática.) A prednisona é preferida nas gestantes porque tem menos efeitos no feto. Ela é um pró-fármaco que não é convertido ao composto ativo, prednisolona, no fígado fetal. Toda a prednisolona formada na mãe é biotransformada à prednisona pelas enzimas da placenta. ➢ Dosagem Vários fatores devem ser considerados ao determinar a dosagem dos corticosteroides, incluindo a atividade glicocorticoide versus a mineralocorticoide, a duração de ação, o tipo de preparação e a hora do dia em que o fármaco é administrado. Quando são necessárias grandes doses do hormônio por mais de 2 semanas, ocorre supressão do eixo HHS. A administração em dias alternados pode prevenir esse efeito adverso ao permitir que o eixo HHS se recupere e funcione nos dias em que o hormônio não é tomado. ➢ Efeitos adversos ● Os efeitos adversos em geral são dose-dependentes. Como exemplo, nos pacientes com artrite reumatoide, a dose diária de prednisona é o principal fator que permite prever a ocorrência de efeitos adversos. A osteoporose é o efeito adverso mais comum, devido à propriedade dos glicocorticoides de suprimir a absorção intestinal de Ca2+, inibir a formação do osso e diminuir a síntese de hormônios sexuais. Os pacientes são orientados a tomar suplementos de cálcio e vitamina D. Os bisfosfonatos também são úteis no tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoides. (Nota: o aumento do apetite não é necessariamente um efeito adverso. De fato, é uma das razões para o uso da prednisona na quimioterapia do câncer.) Kaysa Suassuna Medicina | FITS ● A síndrome tipo Cushing clássica (redistribuição da gordura corporal, face de lua cheia, hirsutismo e aumento do apetite) é observada na reposição excessiva de corticosteroides. Também podem ocorrer cataratas na terapia de longa duração com corticoide. ● Pode-se desenvolver hiperglicemia e diabetes melito. Os pacientes diabéticos devem monitorar a glicemia e ajustar a medicação de acordo, ao usar corticosteroides. ● A coadministração de fármacos que induzem ou inibem as oxidases de função mista hepáticas pode exigir ajuste da dose de glicocorticoide. O tratamento tópico também pode causar atrofia da pele, equimoses e estrias púrpuras. ➢ Retirada A retirada (ou descontinuação) súbita destes fármacos pode ser um grave problema se o paciente tem supressão do eixo HHS. Nesse caso, a retirada do corticosteroide causa insuficiência suprarrenal aguda, que pode ser fatal. Esse risco, associado à possibilidade de que a retirada pode causar agravamento da doença, determina que a dosagem deve ser reduzida lentamente de acordo com a tolerância individual. O paciente deve ser cuidadosamente monitorado. Inibidores da biossíntese ou função dos adrenocorticoides Vários fármacos são úteis como inibidores da síntese ou função de esteroides suprarrenais: cetoconazol, espironolactona e eplerenona. ➢ Cetoconazol O cetoconazol é um fármaco antifúngico que inibe fortemente a síntese de todos os hormônios esteroides gonadais e suprarrenais. Ele é usado no tratamento de pacientes com síndrome de Cushing. ➢ Espironolactona Esse fármaco anti-hipertensivo compete pelo receptor mineralocorticoide e, assim, inibe a reabsorção de sódio nos rins. Ele também pode antagonizar a síntese de aldosterona e testosterona. Ele é eficaz contra o hiperaldosteronismo e é usado junto com outras terapias padrão para o tratamento da insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida. A espironolactona também é útil no tratamento do hirsutismo na mulher, provavelmente devido à interferência no receptor de androgênio do folículo piloso. Os Kaysa Suassuna Medicina | FITS efeitos adversos incluem hiperpotassemia, ginecomastia, irregularidades menstruais e erupções cutâneas. ➢ Eplerenona A eplerenona se liga especificamente ao receptor mineralocorticoide, onde atua como antagonista da aldosterona. Essa especificidade evita o efeito adverso de ginecomastia associado com a espironolactona. Está aprovada para o tratamento da hipertensão e para a insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida.
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