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Objetivos Geral •Compreender a aplicação clínica dos glicocorticoides de acordo com as características farmacocinéticas e farmacodinâmicas dos fármacos. Específicos •Relembrar a síntese de hormônios esteróides; •Entender a síntese dos fármacos corticosteróides; •Listar as drogas mais importantes; •Entender os aspectos farmacocinéticos; •Compreender o mecanismos de ação; •Identificar os efeitos adversos; •Compreender a aplicação clínica. Hormônios suprarrenais ❖ RESUMO: A glândula suprarrenal consiste do córtex e da medula. A medula secreta epinefrina, ao passo que o córtex secreta dois tipos de corticosteroides (glicocorticoides e mineralocorticoides) (Fig. 27.1) e os androgênios suprarrenais. ❖ O córtex suprarrenal tem três zonas, e cada zona sintetiza um tipo de hormônio esteroidal diferente a partir do colesterol (Fig. 27.2). ➢ Zona glomerulosa: a zona mais externa, a glomerulosa, produz mineralocorticoides (p. ex., aldosterona), que é responsável pela regulação do metabolismo da água e do sal. ■ A produção de aldosterona é regulada primariamente pelo sistema renina-angiotensina. ➢ Zona fasciculada: a zona intermediária, a fasciculada, sintetiza os glicocorticoides (p. ex., cortisol), que estão envolvidos com o metabolismo normal e a resposta ao estresse. ➢ Zona reticular: a zona interna secreta os androgênios suprarrenais. ➢ A secreção das zonas intermediária e interna e, em menor extensão, da zona externa é controlada pelo hormônio adrenocorticotrópico (ACTH, também denominado corticotropina), que é liberado em resposta ao hormônio liberador da corticotropina (CRH). Os glicocorticoides servem de retroalimentação inibitória da secreção de ACTH e CRH. CORTICOSTEROIDES ❖ Os corticosteroides ligam-se a receptores intracelulares citoplasmáticos específicos nos tecidos-alvo. Os receptores glicocorticoides são amplamente distribuídos pelo organismo, ao passo que os receptores mineralocorticoides estão confinados principalmente nos órgãos de excreção, como rins, colo e glândulas salivares e sudoríparas. No cérebro encontram-se receptores mineralocorticoides e glicocorticoides. ❖ Após dimerização, o complexo receptor-hormônio recruta proteínas coativadoras (ou correpressoras) e transloca para o núcleo, onde se fixa em elementos promotores no gene. Ali, ele atua como um fator de transcrição para ativar o gene (quando complexado com ativadores) ou inibi-lo (quando complexado com correpressores), dependendo do tecido (Fig. 27.3). Esse mecanismo exige tempo para produzir efeitos. Contudo, outros efeitos glicocorticoides são imediatos, como as interações com catecolaminas para mediar o relaxamento da musculatura brônquica. Esta seção descreve as ações normais e os usos terapêuticos dos corticosteroides. Modelo da interação de um esteroide, S (p. ex., cortisol), e seu receptor, R, com os eventos subsequentes observados em uma célula-alvo. O esteroide está presente no sangue na forma ligada à globulina de ligação dos corticosteroides (CBG), porém penetra na célula como molécula livre. O receptor intracelular está ligado a proteínas estabilizadoras, incluindo duas moléculas de proteína de choque término 90 (hsp90) e várias outras, incluindo FKBP5, designadas como “X” na figura. Esse complexo receptor é incapaz de ativar o processo de transcrição. Quando o complexo liga-se a uma molécula de cortisol, forma-se um complexo instável, e a hsp90 e as moléculas associadas são liberadas. Nesse estágio, o complexo esteroide-receptor tem a capacidade de sofrer dimerização, entrar no núcleo, ligar-se ao elemento de resposta dos glicocorticóides (GRE) na região reguladora do gene e regular a transcrição pela RNA-polimerase II e por fatores de transcrição associados. Diversos fatores reguladores (que não estão ilustrados) podem participar, facilitando (coativadores) ou inibindo (correpressores) a resposta ao esteroide. O mRNA resultante é editado e exportado para o citoplasma para a produção de proteína, que irá produzir a resposta hormonal final. Uma alternativa para a interação do complexo esteroide-receptor com um GRE consiste em uma interação com a função de outros fatores de transcrição e sua alteração, como o NF-kB no núcleo das células. ❖ Glicocorticoides ➢ O cortisol é o principal glicocorticoide humano. Normalmente, sua produção é diurna, com pico pela manhã seguido de um declínio e um pico secundário, pequeno, no fim da tarde. Fatores como estresse e níveis de esteroides circulantes influenciam a secreção. Os efeitos do cortisol são diversos. Em geral, todos os glicocorticoides realizam as funções descritas a seguir. ➢ Promoção do metabolismo intermediário normal: Os glicocorticóides favorecem a gliconeogênese, aumentando a captação dos aminoácidos pelo fígado e pelos rins e elevando a atividade das enzimas gliconeogênicas. Eles estimulam o catabolismo proteico (exceto no fígado) e a lipólise, fornecendo, assim, os elementos e a energia necessários para a síntese de glicose. OBS: a insuficiência de glicocorticoides pode resultar em hipoglicemia [p. ex., durante períodos de estresse ou jejum]. ➢ Aumento da resistência ao estresse: Aumentando os níveis de glicose plasmática, os glicocorticoides proveem o organismo com energia para combater o estresse causado por traumatismo, luta, infecção, sangramento ou doença debilitante. ➢ Alteração no nível das células sanguíneas no plasma: Os glicocorticóides causam diminuição nos eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos, redistribuindo-os da circulação para o tecido linfóide. Os glicocorticoides aumentam também hemoglobina, eritrócitos, plaquetas e leucócitos polimorfonucleares. ➢ Ação anti-inflamatória: As propriedades terapêuticas mais importantes dos glicocorticoides são suas potentes atividades anti-inflamatórias e imunossupressoras. Esses efeitos terapêuticos dos glicocorticóides são resultado de numerosas ações. ■ Sabe-se que a diminuição dos linfócitos circulantes tem uma ação. Além disso, estes fármacos inibem a habilidade dos leucócitos e dos macrófagos de responder a mitógenos e antígenos. ■ Os glicocorticoides também diminuem a produção e a liberação de citocinas pró-inflamatórias. ■ Eles inibem a fosfolipase A2, que bloqueia a liberação de ácido araquidônico (o precursor de prostaglandinas e leucotrienos) dos fosfolipídeos ligados à membrana. Acredita-se que a diminuição da produção de prostaglandinas e leucotrienos é fundamental para a ação anti-inflamatória. ■ Finalmente, estes fármacos influenciam a resposta inflamatória estabilizando membranas de mastócitos e basófilos, o que resulta em menor liberação de histamina. ➢ Efeitos sobre outros sistemas: Níveis elevados de glicocorticóides servem como inibidores por retroalimentação da produção de ACTH e afetam o sistema endócrino, suprimindo a síntese adicional de glicocorticoides e do hormônio estimulante da tireoide. Além disso, níveis adequados de cortisol são essenciais para a filtração glomerular normal. Os efeitos dos corticosteroides em outros sistemas na maioria das vezes estão associados aos efeitos adversos dos hormônios. ❖ Mineralocorticoides: os mineralocorticoides auxiliam no controle do volume de água e da concentração de eletrólitos, especialmente sódio e potássio. ➢ A aldosterona atua nos túbulos distais e ductos coletores nos rins, causando reabsorção de sódio, bicarbonato e água. Ela diminui a reabsorção de potássio, que, com H+ , é perdido na urina. ➢ O aumento da reabsorção de sódio pela aldosterona também ocorre na mucosa gastrintestinal (GI) e nas glândulas salivares e sudoríparas. OBS: níveis elevados de aldosterona podem causar alcalose e hipopotassemia, retenção de sódio e água e aumento do volume sanguíneo e da pressão arterial. O hiperaldosteronismo é tratado com espironolactona. ➢ As células-alvo da ação da aldosterona contêm receptores mineralocorticoides que interagem com o hormônio de modo análogo ao dos receptores glicocorticoides. ❖ Usos terapêuticos: vários derivados semissintéticos de corticosteroides estão disponíveis. Esses fármacosvariam na potência anti-inflamatória, na atividade mineralocorticoide e na duração de ação (Fig. 27.4). Os corticosteroides são usados em terapêutica de reposição e no tratamento de reações alérgicas graves, asma, artrite reumatoide, outros distúrbios inflamatórios e alguns cânceres. ➢ Tratamento de reposição para a insuficiência suprarrenal primária (doença de Addison): a doença de Addison é causada pela disfunção do córtex suprarrenal (diagnosticada pela falta de resposta ao ACTH). ■ A hidrocortisona, que é idêntica ao cortisol natural, é administrada para corrigir a deficiência. A não adoção desse tratamento leva à morte. A dosagem de hidrocortisona é dividida de forma que dois terços da dose diária sejam dados pela manhã e um terço seja dado à tarde. OBS: o objetivo desse regime é mimetizar a variação normal diurna nos níveis de cortisol. ■ A administração de fludrocortisona, um mineralocorticoide sintético e potente, com alguma atividade glicocorticoide, também pode ser necessária para suplementar a deficiência mineralocorticoide. ➢ Tratamento de reposição para a insuficiência suprarrenal secundária ou terciária: Esses distúrbios são causados por defeito na produção de CRH pelo hipotálamo ou na produção de ACTH pela hipófise. OBS: sob essas condições, a síntese de mineralocorticóides no córtex suprarrenal é menos prejudicada do que a de glicocorticóides. ■ A hidrocortisona é usada para essa deficiência. ➢ Diagnóstico da síndrome de Cushing: a síndrome de Cushing é causada pela hipersecreção de glicocorticoides (hipercortisolismo), que resulta do excesso de liberação de ACTH pela hipófise anterior ou de um tumor suprarrenal. OBS: o tratamento crônico com doses altas de glicocorticoide é uma causa iatrogênica frequente da síndrome de Cushing.) ■ Os níveis de cortisol (urina, plasma e saliva) e o teste de supressão de dexametasona são usados para o diagnóstico da síndrome de Cushing. O glicocorticóide sintético dexametasona suprime a liberação de cortisol em indivíduos normais, mas não naqueles com síndrome de Cushing. ➢ Tratamento de reposição para a hiperplasia suprarrenal congênita (HAC): A HAC é um grupo de doenças resultante de um defeito enzimático na síntese de um ou mais hormônios esteróides suprarrenais. A HAC pode levar à virilização de mulheres devida à superprodução de androgênios suprarrenais. O tratamento da HAC exige a administração de corticosteroides suficientes para normalizar os níveis hormonais, suprimindo a liberação de CRH e ACTH. Isso diminui a produção de androgênios suprarrenais. A escolha do hormônio de substituição depende do defeito enzimático específico. ➢ Alívio dos sintomas inflamatórios: os corticosteróides diminuem significativamente as manifestações da inflamação associada com artrite reumatoide e condições inflamatórias da pele, incluindo vermelhidão, inchaço, calor e sensibilidade que podem estar presentes no local da inflamação. Estes fármacos também são importantes para manter sob controle os sintomas de asma persistente, bem como para tratar exacerbações asmáticas e doença intestinal inflamatória ativa. Em distúrbios não inflamatórios como a osteoartrite, pode ser usado corticosteroide intra-articular para combater o flare da doença. Nessas doenças, os corticosteróides não são curativos. ➢ Tratamento de alergias: Os corticosteroides são benéficos no tratamento da rinite alérgica e das reações alérgicas por fármacos, soro e transfusões. OBS: no tratamento da rinite alérgica e da asma, a fluticasona e outros [ver Fig. 27.5] são aplicados topicamente no trato respiratório por inalação a partir de um dispensador de doses mensuradas. Isso minimiza os efeitos sistêmicos e permite ao paciente diminuir ou eliminar o uso de corticosteroides orais.) ➢ Aceleração da maturação pulmonar: A síndrome da angústia respiratória é um problema em recém-nascidos prematuros. O cortisol fetal é um regulador da maturação pulmonar. Consequentemente, um regime de betametasona ou dexametasona administrada por via intramuscular (IM) à mãe 48 horas antes de realizar o parto prematuro pode acelerar a maturação pulmonar do feto. ❖ Farmacocinética ➢ Absorção e destino: As preparações de corticosteróides administrados por via oral são facilmente absorvidas. Compostos selecionados também podem ser administrados por via intravenosa (IV), IM, intra-articular (p. ex., em articulações artríticas), topicamente, por inalação ou aplicação intranasal (Fig. 27.5). Todos os glicocorticoides tópicos ou inalados são absorvidos em alguma extensão e, portanto, têm potencial de causar supressão do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHS). Mais de 90% do glicocorticoide absorvido se liga às proteínas plasmáticas, a maior parte à globulina ligadora de corticosteroide ou à albumina. ➢ Os corticosteróides são metabolizados pelas enzimas oxidantes microssomais hepáticas. Os metabólitos são conjugados com ácido glicurônico ou sulfato, e os produtos são excretados pelos rins. OBS: a meia-vida dos corticosteroides pode aumentar substancialmente na disfunção hepática. ■ A prednisona é preferida nas gestantes porque tem menos efeitos no feto. Ela é um pró-fármaco que não é convertido ao composto ativo, prednisolona, no fígado fetal. Toda a prednisolona formada na mãe é biotransformada à prednisona pelas enzimas da placenta. ➢ Dosagem: Vários fatores devem ser considerados ao determinar a dosagem dos corticosteroides, incluindo a atividade glicocorticóide versus a mineralocorticoide, a duração de ação, o tipo de preparação e a hora do dia em que o fármaco é administrado. ■ Quando são necessárias grandes doses do hormônio por mais de 2 semanas, ocorre supressão do eixo HHS. A administração em dias alternados pode prevenir esse efeito adverso ao permitir que o eixo HHS se recupere e funcione nos dias em que o hormônio não é tomado. ❖ Efeitos adversos: efeitos adversos comuns do tratamento de longa duração com corticosteróides estão resumidos na Figura 27.6. Os efeitos adversos em geral são dose-dependentes. ➢ Como exemplo, nos pacientes com artrite reumatoide, a dose diária de prednisona é o principal fator que permite prever a ocorrência de efeitos adversos (Fig. 27.7). ➢ Osteoporose: é o efeito adverso mais comum, devido à propriedade dos glicocorticoides de suprimir a absorção intestinal de Ca2+ , inibir a formação do osso e diminuir a síntese de hormônios sexuais. Os pacientes são orientados a tomar suplementos de cálcio e vitamina D. Os bisfosfonatos também são úteis no tratamento da osteoporose induzida por glicocorticoides. OBS: o aumento do apetite não é necessariamente um efeito adverso. De fato, é uma das razões para o uso da prednisona na quimioterapia do câncer. ➢ Síndrome tipo Cushing clássica: (redistribuição da gordura corporal, face de lua cheia, hirsutismo e aumento do apetite) é observada na reposição excessiva de corticosteroides. ➢ Também podem ocorrer cataratas na terapia de longa duração com corticoide. ➢ Pode-se desenvolver hiperglicemia e diabetes melito. Os pacientes diabéticos devem monitorar a glicemia e ajustar a medicação de acordo, ao usar corticosteroides. A coadministração de fármacos que induzem ou inibem as oxidases de função mista hepáticas pode exigir ajuste da dose de glicocorticóide. ➢ O tratamento tópico também pode causar atrofia da pele, equimoses e estrias púrpuras. ➢ Perda de massa muscular ➢ Fraqueza muscular ➢ Hipertensão ❖ Retirada: a retirada (ou descontinuação) súbita destes fármacos pode ser um grave problema se o paciente tem supressão do eixo HHS. Nesse caso, a retirada do corticosteroide causa insuficiência suprarrenal aguda, que pode ser fatal. Esse risco, associado à possibilidade de que a retirada pode causar agravamento da doença, determina que a dosagem deve ser reduzida lentamente de acordo com a tolerância individual. O paciente deve ser cuidadosamente monitorado. ❖ Indicações clínicas dos glicocorticoides ➢ Doenças auto-imunes; ➢ Reações alérgicas; ➢ Distúrbios hematológicos; ➢ Transplante de órgãos; ➢ Inflamaçãodos ossos e das articulações; ➢ Conjuntivite alérgica. ❖ Anemia hemolítica autoimune - Protocolo clínico ➢ Fármacos ■ Prednisona: comp de 5 mg e 20 mg ■ Metilprednisolona: ampola de 500 mg ■ Ciclofosfamida: frasco-ampola de 200 a 1000 mg ou drágeas de 50 mg. ■ Ciclosporina: cápsula de 10, 25, 50 e 100 mg e solução oral com 100 mg/mL em frasco de 50 mL. ■ Imunoglobulina humana:frasco com 0,5, 1, 2,5 3, 5 e 6 g. ■ Ácido fólico: comprimido de 5 mg ➢ Esquemas de administração ■ Glicocorticoides: dose inicial de 1 mg/kg/dia de prednisona. Para crianças, a dose é similar. Quando os níveis de hemoglobina encontram-se acima de 10 g/dL, as doses de prednisona podem ser reduzidas para 0,5 mg/kg/dia após 2 semanas; Mantendo-se controlados os níveis de hemoglobina, a prednisona deve ser diminuída lentamente no período de 3 meses. A dose de metilprednisolona indicada é de 100-200 mg/dia por até 14 dias.
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