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ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINE’s) – MEDICINA UFCSPA Amplamente utilizados em inflamação, dor e febre. A venda é livre, dispensa receita. São medicamentos de baixo custo. São utilizados em condições crônicas como artrites reumatóides, para alívio da dor. Ainda, são muito utilizados em resfriados e cefaleias. Alguns exemplos de AINE’s são: diclofenaco (Voltarem), ibuprofeno (Alivium), cetorolaco (Toragesic). Há, também, a aspirina, potente antiplaquetário. •Inflamação: é decorrente de alguma lesão no tecido. Ao recrutar células, a inflamação busca eliminar os micro-organismos, reparar o dano e reestabelecer a homeostase. Além de células, a inflamação recruta proteínas (citocinas, interleucinas, adesinas, proteases, interferons), lipídios (prostaglandinas) e aminas vasoativas (histamina e serotonina); esse mecanismo é vasodilatador – aumenta a permeabilidade e diapedese leucocitaria. Esses processos culminam nos quatro pilares da inflamação: vermelhidão, inchaço, dor e calor. As inflamações por lesão aguda, envolvem neutrófilos, monócitos e macrófagos, e é seguida de vasodilatação e diapedese para uma rápida resolução. Já lesões persistentes, envolvem linfócitos, monócitos e fibroblastos, e geralmente a homeostase não é alcançada. Ocorre em doenças imunes. •Febre: células do sistema imunte inato liberam a PGE2 e interleucinas. Essas proteínas atuam sistemicamente para induzir febre. A IL-6 atua no núcleo pré-óptico do hipotálamo, forçando a produção de COX2, que gera mais PGE2. Esta é a maior mediadora de febre. Os AINE atuam bloqueando a ação de COX2, a nivel de sistema nervoso central. O aumento de calor, na febre, é uma indução do hipotálamo à liberação de noradrenalina, que ativa o tecido adiposo marrom e promove a vasoconstrição: ambos aumentam a temperatura corporal. Acetilcolina é outro mediador da febre, na medida em que estimula o tremos dos músculos. Abaixo está um esquema geral de como a febre é gerada. •Dor: Lesão tecidual promove a liberação de prostaglandinas, potássio e bradicininas, que irão promover a sensibilização direta dos nociceptores, facilitando o impulso nervoso de dor. A PGE2 é uma das principais envolvidas. Ao lado está o esquema das prostaglandinas atuando na nocicepção. •Ácido Araquidônico: é o primordial de todas prostaglandinas e leucotrienos. Através das enzimas COX-1 e COX-2 é transformado, então, nas prostaglandinas. A COX-1 é expressada na maioria das células (constitutiva). É responsável pela geração de compostos que mantém a homeostasia em vários tecidos. Já a COX-2 é induzível (mediadores inflamatórios, como citocinas geradas em lesão). É a principal responsável pela geração dos prostanoides durante os processos inflamatórios. As duas enzimas, entretanto, são responsáveis pela formação de prostanoides gerados em situações fisiológicas. Ta tabela abaixo, assim, podemos identificar algumas prostaglandinas e suas funções: Podemos perceber, pela tabela, que a PGE2 tem função gastroprotetora, estimulando a produção de muco. Dessa forma, se foi inibida demais – através de AINE’s – o sistema gastrointestinal ficará mais frágil e desprotegido. A inibição constante de COX2, ainda, pode exacerbar ou provocar hipertensão arterial e aumentar o risco de eventos trombóticos. Na figura abaixo há os efeitos adversos dos AINE’s em estômago, rim e sistema cardiovascular. Na terceira coluna, é o caso onde se inibe a COX-2 isoladamente. Isso faz com que haja mais agregação plaquetária e vasoconstrição, favorecendo quadros de infarto e AVC’s. •Classificação dos AINE’s -Inibidores não seletivos (inibem COX-1 e COX-2): o Salicilatos: AAS, diflunisal, salicilato de sódio. o Derivados da Pirazolona: fenilbutazona, Oxifenbutazona o Derivados do ácido acético: Indometacina, cetorolaco, etodolaco, sulindac, diclofenaco, tolmetina, nabumetona. o Derivados ácido propriônico: ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno, flurbiprofeno. o Derivados do ácido antranílico: Ácido mefenâmico. o Derivados dos ácidos enólicos: tenoxicam, piroxicam, meloxican. o Sulfonanilida: Nimesulida o Derivados do P-aminofenol: Paracetamol (acetaminofen) desprovido de ação antiinflamatória. -Inbidores seletivos da COX-2 o Celecoxib o Etoricoxib Os anti-inflamatórios não esteroidais, então, promovem analgesia (pouco efeito em vísceras ocas), antitermia (por redução da PGE2) e têm efeito anti-inflamatório. A aspirina tem efeito antitrombótico, pois reduz a produção de TXA2. A aspirina, ainda, é a única que inibe irreversivelmente as COX. Os AINE’s não inibem as lipoxigenases ou a formação de leucotrienos. •Aspectos farmacocinéticos: a maioria dos AINE’s é ácido orgânico, com baixos valores de pKa. Eles têm absorção via oral rápida, com boa distribuição e pico de concentração entre 2-3hrs. Alimentos específicos podem retardar a absorção. A aspirina, particularmente, acetila plaquetas minutos após atingir a circulação pré-sistêmica. Os AINE’s se ligam, quase totalmente, às proteínas plasmáticas. Como são ácidos, se acumulam em sítios inflamatórios. Se distribuem no líquido sinovial e SNC. São metabolizados pelo fígado e excretados pelo rim. O tempo de meia-vida depende muito do composto (1hr até 60 hrs). As hepatopatias podem comprometer a biotransformação desses fármacos, principalmente do paracetamol e da nimesulida. Já o naproxeno e o cetoprofeno tem seu tempo de eliminação aumentado em pacientes com insuficiência renal. •Usos terapêuticos: os AINE’s são utilizados como analgésicos para dor (leve e moderada), como anti-inflamatórios (exceção de parecetamol e dipirona), antipiréticos e como antiplaquetários. Assim, doenças musculoesqueléticas, dor pós-operatória, dor menstrual, enxaqueca, fechamento do ducto arterioso em neonatos (ibuprofeno), cardioproteção (aspirina em baixas doses) e prevenção de câncer de colon (aspirina) são suscetíveis de serem tratadas com os AINE’s. No tratamento, então, da dor leve e aguda, o paracetamol se candidata a uma das melhores escolhas, pois é seguro, não interfere com ação antiplaquetária e pode ser combinado com opioide. •Efeitos adversos dos AINE’s: -Cardiovasculares: seletivos de COX-2 são os mais perigosos, pois diminuem a PGI2 mas não a produção plaquetária (TXA2). O risco de AVC e infarto são consideráveis com o uso dos COXIB. Seletividade COX2 com diclofenato deve ser reservado para pacientes com alto risco de complicações GI. -Renais: todos os AINE’s podem levar a efeitos adversos renais. HAS e Insuficiência cardíaca são comuns em tratados com inibidores seletivos COX2. Podem levar à insuficiência renal aguda. Como mostra a imagem abaixo, os AINE inibem as prostaglandinas cuja função é manter a circulaçao renal. -Hiperssensibilidade: intolerância a AAS contraindica o uso de outros AINE’s por possibilidade de ação cruzada. -Hepatotoxicidade: paracetamol (overdoses) e diclofenaco são comuns. •Interações medicamentosas: aspirina mais outros AINE tem maior risco de efeitos adversos no trato GI. Os IECA (inibidores da enzima de conversão de angiotensina), quando associado a algum AINE, podem provocar hipercalemia e arritmia cardíaca. Além disso, há risco maior de sangramento se os AINE foram administrados junto a algum anticoagulante. •Diclofenaco (Voltarem): é potente e bastante utilizado. Inibe ambas as COX, mas tem maior seletividade para COX2. Absorção rápida por via oral e se liga em sua maioria às PP. Tem tempo de meia-vida curta, por isso pode ser administrado em intervalos curtos. Geralmente se acumula no líquido sinovial. É metabolizado por glicuronidação hepática, e eliminado pelos rins. Pode formar metabólitos reativos similares ao NAPQI. É utilizado em artrite reumatóide, osteoartrites, espondilite aniquilosante, e em enxaqueca. Seus efeitos adversos inclluem problemas gastrintestinais, comprometimento renal,4% de risco de dano hepático. É contraindicado na infância, gestação e lactação. •Paracetamol: amplamente utilizado. Tem potencial para induzir hepatotoxicidade. A recomendação é que adultos/adolescentes não tomem mais que 4g por dia (alcoolistas 2g/dia), em intervalo mínimo de 4 horas. No caso de uma dose elevada, a CYP450 precisa trabalhar mais do que comum no metabolismo dessa droga. Isso gera NAPQI que é tóxico para o fígado. A glutationa neutraliza a NAPQI. Ele é analgésico, antitérmico e fracamente anti-inflamatório. Inibe não seletivamente as COX. É útil em paciente alérgicos a aspirina, em crianças com febre ou adultos com risco de sangramento. O ideal seria de 325-650 mg a cada 4-6 horas. Sua absorção se dá por via oral, com excelente biodistribuição e pico plasmático entre 30 min e 1 hr. Se liga às proteínas plasmáticas e atinge a maioria dos fluidos corporais. A excreção se dá por forma renal. O maior risco é a hepatotoxicidade em doses elevadas. O consumo de álcool associado ao uso de paracetamol aumenta os riscos de dano hepático. As manifestações clínicas incluem dor subcostal direita, hepatomegalia, icterícia e coagulopatia. O manejo pela intoxicação inclue carvão ativado em até 4h da ingestão, n-acetil-cisteína (em caso de lesão hepática), correção da hipoglicemia e da insuficiência renal. •Aspirina (AAS): analgésico, antitérmico, anti-inflamatório e antitrombótico. Acetila irreversivelmente a COX1 e COX2. Em doses baixas (100mg/dia) inibe a formação plaquetária de TXA2. A dose para dor e febre é 325-650 mg cada 4-6 horas. A dose anti-inflamatória, em doenças reumáticas, é de 4-6g/dia, divididas em 4-6 tomadas. Com concentrações no plasma acima de 300 ug/mL pode causar efeitos adversos importantes. Sua absorção é rápida pela via oral, sendo que alimentos retardam. Por via retal é lenta e inconsistente. Se distribui para a maioria dos tecidos, e tem seu pico plasmático em 1hr. Ultrapassa a barreita placentária. Tem de 80 a 90% de sua concentração ligada a proteínas plasmáticas (compete com T3 e T4). É metabolizada pelo fígado, por desacetilação. A excreção se dá pelos rins, e é tanto maior quanto maior for o pH da urina. Cuidados devem ser tomados no idoso e nos doentes renais (hemodiálise e hemofiltração são efetivas para remover os salicilatos). Os efeitos adversos incluem alcalose respiratória (hiperventilação), nefrite e necrose papilar nos rins (geralmente associada a outros AINE), descompensação de cardiopatias (em doses altas: retenção de sódio e água), problemas no TGI (de sintomas dispépticos até úlcera), aumento de TGP, TGP, hepatopatias e encefalopatias (doses elevadas por período prolongado). Outros efeitos adversos incluem uricosúria, hiperssensibilidade com broncoespasmo, inibição irreversível da função plaquetária. Na gestação pode causar RN de baixo peso, oligodrâmnios, além de aumentar o risco de anemia e hemorragia. Quanto às interações medicamentosas, a aspirina aumenta a fração livre de cumarínicos, reduz a ação natriurética da espironlactona e diminui a excreção renal do lítio. O hidróxido de mg/al aumenta o pH urinário e, portanto, a excreção do AAS. •Intoxicação por salicilatos: -Aguda grave: comum em crianças. Pode causar depressão do SNC, náusea, vômito, zumbido, surdez, confusão, hiperventilação, febre, alcalose seguida por acidose respiratória e metabólica, desidratação profunda, choque, alterações no metabolismo da glicose , aa e ác. graxos. O manejo é complicado. Corrigir a hipoglicemia, desidratação e hipocalemia. Além de administrar bicarbonato pra controlar o pH. -Crônica: cefaleia, tontura, zumbido, déficit auditivo/visual, confusão mental, hiperventilação, desidratação e acidose metabólica. •Cetorolaco (toragesic): analgésico potente e ação anti-inflamatória. Tem rápido início de ação e curta duração (pico plasmático em 30-60 minutos e meia vida de 4-6horas). Completamente ligado às proteínas plasmáticas e metabolização hepática por glicuronidação. Usado em dor aguda pós-operatória , exceto na obstetrícia. Uso limitado a 5 dias. Os efeitos adversos são graves no TGI, rins, sangramento e hiperssensibilidade. •Etodolaco (Flancox): 99% ligado às PP, metabolização hepática, tempo se meia vida de 5 horas e pico plasmático em 1 hora. Usado em analgesia pós-operatória, tratamento de artrite reumatoide, osteoartrites e dores moderadas. 100mg equivalem, em eficácia, a 650 mg de aspirina. Tem poucos efeitos adversos, rashes e efeitos no SNC são os mais comuns. •Ibuprofeno (Alivium): Absorção oral rápida, 99% ligado às PP. Sua meia vida é de 2 a 4 horas. O pico plasmático varia de 1 a 2 horas. O metabolismo é hepático e a excreção é renal. Tem ação analgésica e antipirética, equivalente à aspirina. É melhor tolerado que a aspirina, no entanto, com menor risco ao trato gastrintestinal. Seu uso é seguro na lactação. •Naproxeno (Flanax): Absorção oral completa, também 99% ligado às PP. Tem seu pico plasmático entre 1 e 4 horas, dependendo da forma farmacêutica. O metabolismo é hepático e a excreção renal. Ação anti-inflamatória, analgésica e antipirética, sendo melhor tolerado que a aspirina. Usado em osteoartrite, artrite reumatoide, espondilite anquilosante, dismenorreia primária, gota aguda, tendinites e bursites. Considerado mais seguro que outros AINE’s. •Piroxicam: é um inibidor não seletivo e reversível da COX. Administralção oral com pico plasmático entre 3 e 5 horas. 99% ligado às PP, com metabolização hepática. O diferencial é que tem tempo de meia vida de 57 horas, por isso só pode ser administrado uma vez ao dia. É equipotente à aspirina, mas com melhor perfil para o sistema gastrointestinal. Usado em artrite reumatoide ou osteoartrite por longo prazo. Não é bom para tratamentos de curta duração ou inflamação. Pode causar rash na pele •Meloxicam: Via oral com pico plasmático entre 4 e 5 horas. 99% ligado às PP, com metabolização hepática e tempo de meia vida de 15 a 20 horas. Pode ser administrado uma vez ao dia. Tem alguma seletividade para COX2. Sua dose é de 7,5 a 15 mg/dia. É seguro em doses baixas, porém inadequado para situações agudas. •Celecoxibe (Celebra): é inibidor seletivo da COX2. Pico plasmático entre 2 a 4 horas. 97% ligado às PP. Metabolização hepática pela CYP. Deve ser usado de uma a duas vezes ao dia. Utilizado em dor aguda de artrite reumatoide, osteoartrite, espondilite anquilosante e dismenorreia. É melhor tolerado do que a aspirina. Tem risco associado de IAM e AVC. •Etoricoxibe (Arcoxia): tem absorção oral incompleta (80%). É inibidor seletivo da COX2. A metabolização é hepática e deve ser administrado uma vez ao dia. Utilizado em artrite reumatoide, osteoartrite, gota aguda, tratamento de curta duração de dor muscular, dor pós-operatório e dismenorreia primária. Também aumenta o risco de IAM e AVC. •Dipirona: seu efeito anti-inflamatório é fraco em doses terapêuticas. Ao bloquear a isoenzima COX3 ela diminui a quantidade de PGE2. Além disso, metabólitos ativos da dipirona são agonistas do receptor canabinoide CB1, presente no sistema antinociceptivo medular descendente. Possui efeito antiespasmódico na musculatura lisa, pela redução da liberação de cálcio intracelular. Biodistribuição via oral é de 85%, enquanto que intramuscular é 87%. Liga-se às pp na taxa de 60%. O metabolismo é hepático, com produção de metabólitos ativos. A excreção é renal. Utilizado em analgesia de dores (tanto agudas como crônicas) e antitermia. Não tem função anti-inflamatória importante. Os efeitos adversos incluem náusea, vômito, dor abdominal, diarreia, cefaleia e reaçoes de hiperssensibilidade. A receita para os inibidores seletivos de COX-2 e meloxicam é C1 Branca com duas vias, conforme imagem ao lado!
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