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Introdução à virologia • O que são os vírus? Partícula intracelular obrigatória capaz de se replicar e que possuem como material genético o RNA ou DNA (fita simples ou dupla) (não possui ambos ao mesmo tempo). “A virologia é um ramo da microbiologia que estuda os vírus e os agentes subvirais, bem como: sua estrutura, classificação, evolução, formas de infecção nas células (reprodução), doenças causadas por eles e seu uso em pesquisa e terapia”. • O vírus pode infectar qualquer tipo de organismo. A palavra vírus vem do latim e significa “veneno” ou “toxina”. São pequenos agentes infecciosos (maior que um anticorpo e menor que uma bactéria - nanômetros) que apresentam genoma constituído de uma ou várias moléculas de ácido nucléico (DNA ou RNA), as quais possuem a forma de fita simples ou dupla. Os ácidos nucleicos dos vírus geralmente apresentam-se revestidos por um envoltório proteico formado por uma ou várias proteínas chamado de capsídeo, o qual pode ainda ser revestido por um complexo envelope lipoproteico. Morfologia • Capsídeo proteico + material genético = nucleocapsídeo • Envelopados ou não – envelope fica por fora do capsídeo • Envelope feito de bicamada lipídica com glicoproteínas • Os não envelopados possuem proteínas no capsídeo em sua superfície • Não possuem núcleo, citoplasma, mitocôndrias ou ribossomos • Vantagem da construção de partícula viral a partir de subunidades proteicas idênticas: reduz a necessidade de informação genética e propicia a automontagem por não requirir enzimas ou energia. Qual o material genético dos vírus? • RNA ou DNA • DNA = fitas simples positiva, fita simples positiva ou negativa, dupla fita positivo ou negativo • RNA = simples positivo, duplo positivo, duplo positivos e negativos, negativo, negativo com vários fragmentos • Portanto, há diversas formas de apresentarem seu material genético • Dependendo do tipo de material genético pode-se mostram mais propício para infectar algum tipo de hospedeiro específico. Ex: simples fita de RNA manifesta mais em plantas. Replicação Efeitos • Ao infectar pode causar um efeito citopático (ECP), ou seja, mudar a estrutura da célula para que as funções virais ocorram, termina com a lise e morte celular. Isso permite a detecção de células infectadas laboratorialmente. Nem todos os vírus causam ECP, mas podem provocar algumas mudanças morfológicas e funcionais. Exemplo de ECP: formação de sincício que resulta numa célula grande com vários núcleos em sua constituição. Também ocorre corpos de inclusão que são estruturas no interior das células. Ex: poliovírus, influenza, rotavírus, HIV, etc. • Persistência quando o vírus permanece por longos períodos, incluem integração no genoma do hospedeiro como no retrovírus, tolerância imune porque anticorpos não são formados, imunossupressão etc Ex: sarampo no SNC, coxsackie no coração • Latência (infecção intermitentemente produtiva) Ex: herpes simplex, citomegalovírus • Transformação celular (infecção produtiva ou não) Ex: papilomavírus, retrovírus não-HIV Curva de replicação de vírus • Período de eclipse: fase em que vírus está penetrando na célula, ainda não há vírus detectável dentro da célula • Burst ou Yield: proliferação de vírus • Período estacionário: não há mais célula para infectar Conceitos Célula suscetível: possui receptor para entrada do vírus na célula. Pode permitir ou não a replicação do vírus, pois funciona como um sistema chave e fechadura, mas mesmo que entre a célula pode impedir replicação viral. Célula resistente: não possui receptor para entrada do vírus na célula. Pode permitir ou não a replicação do vírus, ou seja, caso laboratorialmente o vírus seja colocado dentro da célula, ela pode ou não liberar replicação. Célula permissível: permite a replicação do vírus. Pode ou não ser suscetível. Célula suscetível e permissível: o único tipo celular que realmente permite a entrada do vírus e sua replicação. Tropismo viral: capacidade de ir até um conjunto de células e infectá-las devido ao receptor que elas possuem para aquele vírus e sua suscetibilidade e permissibilidade. Ao chegar na célula o capsídeo internaliza, libera material genético que pode se multiplicar no núcleo ou no citoplasma. Além da multiplicação do material genético há a leitura do RNA que formará proteínas. O resultado disso é a formação de novos capsídeos que poderão ser envolvidos pelo envelope vindo da membrana plasmática ou retículo endoplasmático e consequente saída/brotamento da célula. Em suma: (1) adesão, penetração e desencapsidação; (2) expressão gênica e replicação genômica; (3) montagem e liberação Ciclo lisogênico: DNA viral se insere no DNA celular e a replicação em série fica interrompida, ocorre unicamente em conjunto com a duplicação normal da célula. Com alguma danificação do DNA hospedeiro, como a incidência de luz UV, o material genético viral sai do celular e começa a replicação viral em ciclo lítico. Quando esse DNA viral está integrado chama-se profago e quando células bacterianas com profago adquirem novas características, como a produção de exotoxinas, chama- se conversão lisogênica. Ciclo lítico: replicação ocorre sem interrupção, os vírus replicam e se reúnem dentro da célula, juntam tantos vírus que causam uma pressão interna à célula e ocorre sua lise, liberando-os. Adsorção de poliovírus Vírus se conecta com receptor e forma um endossomo. Para isso, ocorre um processo de acidificação do endossomo pela liberação de hidrogênio, o que resulta na saída do vírus do endossomo fagocitado para o interior celular. OBS: Há fármacos que inibem essa acidificação. Vírus de genomas RNA e DNA que infectam hospedeiros vertebrados O acido nucléico viral contém a informação necessária para replicar, montar e espalhar os vírions. • Dupla fita de DNA genômico (dsDNA genomes) A cópia negativa de DNA mensageiro produz RNA(+) que é traduzido em proteína viral. Há também a polimerização de DNA a partir do DNA viral. O poxvírus é uma exceção visto que se replica no citoplasma, local onde não há RNA polimerase dependente de DNA pra produzir os RNAm. Por isso, precisa carrear consigo sua própria polimerase no interior da partícula viral para multiplicar o seu material genético. • DNA de fita simples (ssDNA genomes) DNA polimerase produz a segunda fita de DNA, tornando um DNA de simples fita (+) em um DNA de fita dupla (+) e (-). A fita negativa servirá para produção de RNAm que produzirá proteínas e a produção de novas fitas de DNA (+). • DNA intercalante (gapped dsDNA genomes) Família da Hepadnaviridae →ex: Hepatite B Grupo específico de vírus em que a fita de DNA tem fragmentos simples e duplos. A DNA polimerase viral completa fragmentos, resultando em um DNA de fita dupla. O RNAm viral fabricado pelo RNA polimerase da célula é usado para formar DNA em uma transcriptase reserva. • RNA de fita simples positiva RNA positivo já é mensageiro, ou seja, entrou na célula e é traduzido virando uma proteína viral (pode servir como RNA polimerase caso capsídeo não tenha essa enzima para replicação do material genético). RNA polimerase dependente de RNA faz cópia do RNA (+), formando o RNA negativo. A mesma enzima faz cópia do RNA negativo para produzir RNA positivo. Porém, há ainda um outro tipo de RNA positivo que não é mensageiro, não consegue ser traduzido imediatamente. Por isso, precisa trazer do seu capsídeo viral a RNA polimerase dependente de RNA. Tal enzima faz o RNA negativo, o qual pode produzir o RNA positivo genômico ou o RNAm que servirá para produzir proteína viral. Outra replicação possível da fita simples de RNA (+) pode ser pela formação de uma poliproteína nos vírus de RNA. Há uma leitura do RNAm,formando uma proteína grande (poliproteína), a qual sofrerá clivagem por proteases viral. Portanto, com a quebra há a produção de vários tipos de proteínas necessárias para vírus. OBS: As proteases são alvos de fármacos virais. • RNA de fita simples negativo RNA simples negativo não é mensageiro. Por isso, precisa de um RNA polimerase dependente de RNA para fazer transcrição de um RNA positivo que servirá para a tradução de proteína viral. Além disso, o RNA polimerase produzirá um RNA positivo e a partir dele a enzima agirá de novo formando um RNA negativo genômico. • RNA de fita dupla (uma positiva e outra negativa) Reoviridae são importantes vírus de infecção humana. Possuem o genoma RNA dupla fita segmentado e a partir de cada segmento é transcrito um mRNA monocistrônico no citoplasma, O RNA de dupla fita serve de molde para que o RNA positivo seja transcrito a partir da fita negativa, o qual servira de RNAm. A fita positiva do RNA viral servirá de molde para transcrição de fita negativa de RNA e a fita negativa de RNA viral servirá de molde para transcrição de fita positiva, a partir disso formará uma nova dupla fita de RNA genômico (dsRNA). • Retrovírus Ex: HIV, HTLV O RNA positivo de simples fita transcreve um DNA por meio do DNA polimerase dependente de RNA (transcriptase reversa). Do DNA de simples fita negativa há a formação de um DNA de fita dupla através da enzima de DNA polimerase dependente de DNA que formará a fita positiva conjunta. Esse novo DNA de fita dupla (dsDNA intermediate) é transcrito em copias de RNA positivo (RNAm) pelo molde de fita negativa de DNA (usa-se a enzima de RNA polimerase dependente de DNA). A partir do DNA duplo intermediário também ocorre a formação de fitas de RNA positivo genômico usando molde de fitas de DNA negativo por meio do RNA polimerase DNA dependente. O DNA duplo intermediário pode sofrer a ação de enzimas integrases que quebram o material genético humano e incluem o fragmento de retrovírus dentro do gene humano. Portanto, quanto mais impedir que a transcriptase reversa atue no RNA viral, menor a chance de produção de DNA intermediário para a integração no genoma, situação que é de difícil reversão. Tipos e estágios de uma infecção viral • Aparente aguda (ex. COVID-19) ou crônica (ex. hepatite B) • Subclínica inaparente (sem sintomas) ou latente (não estão se multiplicando) 1. Período de incubação: da entrada no hospedeiro até o aparecimento dos sintomas. A replicação inicial do vírus na porta de entrada pode gerar pródromos (sintomas iniciais) 2. Disseminação: o vírus se dissemina para sítios distantes da porta de entrada, vai para os sítios de replicação secundária. Fatores determinantes: tropismo tecidual (presença de receptores e permissividade celular) e acessibilidade (transporte livre x associado a células). 3. Infecção estabelecida de sítios secundários: fase sintomática 4. Resolução: eliminação do agente pelo sistema imune do hospedeiro 5. Estabelecimento de latência, ou infecção crônica, ou transformação Considerações finais O mecanismo de correção do genoma viral quase não existe, diferente do genoma humano em que enzimas revisam o processo de transcrição corrigindo erros. No caso viral ocorre em torno de um erro a cada mil nucleotídeos. Isso resulta em duas populações de vírus, uma normal e outra de vírus mutantes. Das mutações, existem os sobreviventes e os não sobreviventes, sendo possível situações em que ocorre uma pequena mutação que permite a sobrevida viral capaz de torná-lo mais patogênico ou infeccioso. Vírus muito letais pouco se espalham, pois matam tanto que o espalhamento não é tão significativo. Ex: ebola. Vírus de baixa letalidade tem capacidade de se espalhar mais facilmente. Ex: herpes. Os vírus de RNA e retrovírus tem maior chance de mutação que os vírus de DNA porque esses de DNA são lidos pelas próprias enzimas celulares dos seres humanos, podendo ter mecanismos mais efetivos para uma leitura sistematizada e de correção dos erros. Já os vírus de RNA, são proteínas virais, sem controle de erro, reparo ou substituição. Após o acúmulo de proteínas estruturais e genomas virais em quantidade suficiente, inicia-se a montagem das partículas virais em nucleocapsídeos helicoidais ou icosaédricos. Os helicoidais sempre apresentam-se envelopados e os icosaédricos podem ser envelopados ou não. Os vírus não envelopados libertam-se das estruturas celulares pela lise da célula após acumularem-se no núcleo ou no citoplasma, como é o caso dos poliovírus. Já os vírus envelopados têm que fazer um brotamento através de regiões da membrana citoplasmática ou internas, como a nuclear (herpes) ou do golgi (pox) em que foram inseridas as proteínas virais de envelope. Para que esse processo ocorra com precisão deve haver o reconhecimento de onde essas proteínas estão localizadas, o que se dá através de interações proteína- proteína, como no processo de montagem dos capsídeos.
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