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Análise do filme: O Ponto de Mutação

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Análise crítica do filme: “O Ponto de Mutação”
O filme “Ponto de mutação”, baseado na obra do físico e escritor austríaco Fritjof
Capra, dirigido por Bernt Amadeus Capra apresenta uma reflexão acerca do desenvolvimento
científico e suas repercussões no atual mundo globalizado sob três pontos de vista diferentes,
destrinchando, no decorrer do longa, o tema central em outros mais pontuais como a crise de
percepção do mundo e a equação da vida. A história se passa ao longo de uma tarde na ilha de
Mont Saint-Michel na França, e tem como principal cenário um castelo medieval conhecido
como importante ponto turístico do vilarejo.
O tema central da história é abordado sob três visões diferentes, a de um político, de
um poeta e de uma cientista, todas as três estando a cargo das personagens protagonistas: Jack
Edwards, o político; Thomas Harriman, o poeta; e Sonia Hoffman, a cientista. A apresentação
de um tema abrangente, tal qual o da obra em questão, sob a ótica de três pessoas que se
encontram em diferentes posições na sociedade e, portanto, possuem opiniões muito distintas
acerca do mundo, talvez seja uma das formas mais brilhantes a se pensar para abordar tal
temática. O filme por si constitui-se quase que inteiramente em um diálogo entre estas três
personagens.
A primeira reflexão feita se trata de uma crítica ao modelo mecanicista de se
compreender o funcionamento do mundo, o também chamado de modelo cartesiano serviu
por muitos anos para guiar os avanços da sociedade principalmente no campo científico, de
modo que sua aplicabilidade perdurou e tem perdurado no imaginário coletivo sem ser
questionada embora trate-se de um modelo muito arcaico e, portanto, insuficiente para abarcar
o mundo atual, como é argumentado no filme. Para mais, a utilização da figura de um relógio
para exemplificar esse pensamento, convertendo o mesmo na idealização de uma máquina,
demonstra a atenção minuciosa de Capra para com a representação de um simbolismo, por
vezes poético, ao retratar as crises que se instauram nos meios político, científico e social.
Tendo como base as crises da sociedade moderna, o longa apresenta uma nova forma
de se conceber os conflitos que emergem nos diversos contextos humanos, sintetizando-os em
um único paradigma: uma crise de percepção do mundo. É diante desse pensamento que as
personagens tecem ao longo de seu diálogo uma nova forma de se compreender e lidar com o
mundo. Embora critique o entendimento do mundo sob uma ótica obsoleta e pragmática de
funcionamento, a proposta do filme mantém seus argumentos alicerçados no conhecimento
científico fazendo constantemente comparações com elementos poéticos, criando as
dicotomias (matéria-música, luz-dança) que expressam a sensibilidade da obra. É diante dessa
comparação que nasce a proposição de um mundo que funciona nas mesmas condições das
conexões subatômicas, onde tudo que pode ser concebido como matéria se interconecta em
meio a vazios, e existe em uma imprecisão de estruturas que regem o universo concebido
como real.
No que tange esta nova forma de ver o mundo, a obra apresenta a teoria de sistemas
que tem como base a proposição de que a vida se auto-organiza em uma cadeia de
inter-relações, onde todas as variáveis existentes interdependem em um ciclo infinito de
renovação e autotranscendência. Em contraposição ao pensamento mecanicista que apresenta
a importância da fragmentação dos recursos, o pensamento sistêmico defende a ideia de que
um todo é maior que a soma de todas as suas partes e variáveis. Essa visão holística que
propõe uma equação perfeita para o funcionamento da vida, sustenta a proposta feita na obra
de um mundo mais ecológico e sustentável em todos os espaços humanos (político, científico,
econômico, cultural, religioso e noético).
É válido ressaltar que nos discursos das três personagens fica implícito uma crise
individual, onde cada qual se vê preso em seu próprio mundo, dentro das muralhas do
conhecido, constantemente capturando a si mesmos e encarando seus próprios conflitos ao
tentar solucionar problemas coletivos. A particularidade desse pormenor fica evidente a partir
da metaforização da ilha como um isolamento do pensamento e de suas nuances, criando a
imagem utópica de uma prisão sem muros, uma masmorra fundamentada no campo das
ideias. Ao final do filme a abertura de pensamento fica evidente, comprovando a ideia de que
a mesclagem entre a visão mecanicista e pragmática da política, a visão romântica da arte, e a
visão expansiva do conhecimento científico, compõe uma forma cativante de destrinchar um
tema tão denso.
Em suma, a obra analisada propõe com maestria um despertar da sociedade para um
novo paradigma, que apresenta a necessidade de se pensar em um progresso ecológico e
sustentável. Assim, entender o funcionamento do universo como um conjunto de sistemas
vivos que se inter-relacionam e têm a capacidade de se reconstruir e refazer, abre margem
para uma compreensão da vida como um princípio grandioso que vai além das faculdades de
abstração de qualquer conhecimento humano, no entanto apreender que essa forma de
funcionamento possui uma fragilidade, um limite em sua capacidade regenerativa que precisa
ser respeitado, talvez seja o primeiro passo para mudar os caminhos que têm guiado a
humanidade para um fim infausto e circunjacente.

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