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DOENÇAS EMERGENTES E REEMERGENTES (Recuperação Automática)

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Doenças Emergentes e Reemergentes
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· Doenças Emergentes e Reemergentes
Nos últimos anos, tem-se observado a ocorrência de novas doenças, bem como o reaparecimento de doenças tidas como erradicadas. Essas ocorrências, as chamadas doenças emergentes e reemergentes vêm sendo frequentemente citadas através dos meios de comunicação, informando e alertando a população para os riscos que tais enfermidades podem ocasionar. (Ex: AIDS/COVID-19 – Emergentes // Dengue – Reemergente). 
As doenças infecciosas emergentes (EID’s) são aquelas literalmente novas, ou seja, o surgimento ou identificação de novos problemas de saúde e novos agentes infecciosos. Uma doença emergente pode ser causada por vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos. 
Quando se trata de doenças infecciosas reemergentes, verificam-se e a mudança no comportamento epidemiológico de doenças já conhecidas, incluindo a introdução de agentes já conhecidos em novas populações de hospedeiros suscetíveis, ou seja, são doenças que haviam sido controladas, mas que voltaram a representar ameaça à saúde humana provavelmente por falta de vigilância adequada. 
Um número grande de fatores estaria envolto na determinação da emergência e reemergência de doenças infecciosas: fatores demográficos; fatores sociais e políticos; fatores econômicos; fatores ambientais; fatores relacionados ao desempenho do setor de saúde; fatores relacionados às mudanças e adaptação dos microrganismos e manipulação de microrganismos com vistas ao desenvolvimento de armas biológicas.
· Teoria da Transição Epidemiológica e as Doenças Infecciosas Emergentes 
De acordo com a teoria da transição epidemiológica, em paralelo à transição demográfica, representada pela queda da mortalidade e natalidade e aumento da expectativa de vida das populações humanas, estaria ocorrendo também um processo de mudança nos padrões de adoecimento e morte das populações. Nesse processo, as doenças degenerativas e "produzidas pelo homem" teriam deslocado as doenças infecciosas do lugar de principais causas de mortalidade. A teoria da transição epidemiológica se fundamentaria em cinco proposições básicas:
1. A mortalidade seria o fator fundamental na dinâmica das populações, o crescimento populacional que se observou após a Era Moderna, especialmente a partir do século XVII seria decorrente fundamentalmente da queda da mortalidade. 
2. Durante a transição, uma mudança de longo prazo teria ocorrido, com a substituição das doenças infecciosas e parasitárias pelas doenças degenerativas e causas externas, enquanto principais causas de morbimortalidade. Este processo teria ocorrido em três estágios sucessivos: a "idade das pestilências e fome", a "idade das pandemias reincidentes" e finalmente a "idade das doenças degenerativas".
3. Durante a transição, as mudanças mais profundas no padrão de morbimortalidade seriam experimentadas pelas crianças e mulheres jovens.
4. As mudanças que caracterizam a transição epidemiológica estariam intimamente associadas com a transição demográfica e socioeconômica; constituindo em conjunto o "complexo de modernização".
5. Variações peculiares no padrão, ritmo, determinantes e consequências das mudanças populacionais diferenciariam os três modelos básicos da transição epidemiológica, o modelo "clássico", exemplificado pelo Reino Unido, Suécia e Estados Unidos, no qual já na duas primeiras décadas do século XX as doenças degenerativas haviam substituído as infecciosas como principais causas de mortalidade; o modelo "acelerado", cujo exemplo mais notável seria o Japão, no qual o mesmo processo do modelo clássico teria ocorrido, apenas um pouco mais tardiamente, porém com maior rapidez; e por fim o modelo "contemporâneo/atrasado", representado pelos países nos quais a transição epidemiológica é ainda mais recente ou ainda não se completou. 
De acordo com a teoria, as doenças infecciosas não desapareceram totalmente como causas de morte (pneumonias, bronquites, influenza), nem de morbidade (doenças sexualmente transmissíveis), mas que estas constatações não comprometeriam o sentido geral da teoria da transição epidemiológica, uma sequência linear e “natural” de etapas, que pode variar em seu ritmo, mas com uma direção clara e estabelecida da substituição das doenças infecciosas e parasitárias pelas crônico-degenerativas e causas externas como mais importantes causas de mortalidade e morbidade das populações humanas. Quanto se fala da América Latina, observa-se países em uma etapa de transição mais avançada (Cuba, Costa Rica e Chile), países iniciando o processo de transição (Haiti, Bolívia e Peru), e países com características tão distintas que poderiam configurar um novo modelo de transição (México e Brasil). Três características distinguiriam na América Latina esses países do novo modelo de transição epidemiológica: 
1- Sobreposição de etapas – doenças infecto-parasitárias e crônico-degenerativas com grande importância absoluta e relativa. 
2- Um movimento de “contra transição” representado pelo ressurgimento de doenças como a malária, o cólera e a dengue, com grande importância na morbidade, mas sem grande interferência na mortalidade.
3- Uma “transição prolongada”, pois não há uma expectativa clara de resolução do processo de transição, que cursa com uma exacerbação das desigualdades dentro dos países.
A emergência da aids pode ser considerada como o fato mais importante no questionamento das bases e na superação da teoria da transição epidemiológica, abrindo caminho para a construção do conceito das doenças infeciosas emergentes e reemergentes. Com a emergência da aids vem a constatação de que o pretenso movimento de eliminação das doenças infecciosas indicado pela teoria da transição epidemiológica nem sempre se verificava, e mais, que os mesmos fatores relacionados ao progresso, ao desenvolvimento socioeconômico e a modernidade, que seriam os determinantes da transição epidemiológica, também poderiam determinar processos na direção inversa, propiciando o surgimento e a disseminação de novas e velhas doenças infecto-parasitárias.
· Critérios de identificação de uma EID
1. Algumas doenças apresentam sintomas claramente distintos de outras doenças. 
2. Algumas doenças são reconhecidas em razão da melhora de métodos de diagnóstico, através da identificação de um novo patógeno – técnicas de biologia molecular – PCR em tempo real.
3. Doença local se torna amplamente difundida – como o COVID-19. 
4. Uma doença rara se torna comum – pneumonia Pneymcystis. 
5. Uma doença leve se tona mais grava – gripe espanhola. 
6. Aumento da expectativa de vida que permite a manifestação de doenças de curso lento – Alzheimer. 
· Fatores de Contribuição para o Surgimento de uma Nova Doença Infecciosa. 
- Um novo sorovar (variante sorológica) pode resultar de mudanças em um microrganismo existente ou em sua evolução – Vibrio cholerae O139. 
- Novas cepas – E. coli O157 e suas influenzas aviária e suína, podem resultar da recombinação genética entre microrganismos. Surgimento de um novo vírus pela evolução de uma variante viral. 
- Uso indiscriminado de antibióticos e pesticidas estimula o crescimento de populações de micróbios resistentes, assim como de insetos (mosquitos e piolho) e carrapatos que os carregam. 
- O aquecimento global e as mudanças nos padrões climáticos podem aumentar a distribuição e a sobrevivência de reservatórios e vetores, resultando no surgimento e na disseminação de doenças como a malária e síndrome pulmonar por Hantavírus. 
- Doenças desconhecidas, como cólera e a febre de Oeste do Nilo, podem se disseminar para novas áreas geográficas pelos meios de transporte modernos. 
- As infecções previamente desconhecidas podem surgir em indivíduos vivendo ou trabalhando em uma região que esteja sofrendo mudanças ecológicas produzidas por eventos como desastres naturais, construções, guerras e expansão das áreas habitadas. Ex: em 1994 na Califórnia ocorreu o terremoto de North Ridge que aumentou em 10 vezes a incidência do caccidiodomivoses, uma doençapulmonar ou hematogênica que se manifesta através de infecções respiratórias agudas, benigna, assintomática ou autolimitada, causada pelo fungo Caccidioides immites e Caccidioides pasadasii. 
- Até mesmo medidas de controles ambientais podem afetar a incidência de doenças, o aumento da ocorrência da doença de Lyme nos últimos anos pode ter origem no aumento das populações de cervas, o que por sua vez é resultado da diminuição do número de seus predadores pela caça e destruição de habitats. 
- Falha de medidas de saúde pública podem estar contribuindo para o surgimento de infecções previamente controladas. A falha na administração de vacinas de reforço em adultos, por exemplo, levou a uma epidemia de diferia nas repúblicas independentes da antiga União Soviética, na década de 1990. 
· Doenças Infecciosas Negligenciadas
As doenças infecciosas surgem e se disseminam, em geral acometendo número significativo de pessoas, em função do modo de contágio e das condições de higiene em que vive a população. Embora muitos acreditassem, após a descoberta dos antibióticos e das vacinas contra muitos agentes infecciosos, que a humanidade caminhava para o controle ou a erradicação de tais doenças, tornaram-se frequentes nas últimas décadas as notícias sobre a descoberta de novas doenças e o reaparecimento ou a expansão da área de incidência de outras. 
As doenças negligenciadas são doenças causadas por agentes infecciosos ou parasitas e são consideradas endêmicas em populações de baixa renda. 
· Órgãos de Controle de Saúde 
Desenvolveram planos de ação relativos às doenças infecciosas emergentes. 
- Centro Nacional de Saúde (NIH, Nacional Institutes of Health).
- Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
- Organização Mundial de Saúde (OMS).
Suas prioridades são: 
1- Detectar, investigar imediatamente e monitorar os patógenos infecciosos emergentes, as doenças que eles causam, e os fatores que influenciam seu surgimento. 
2- Expandir pesquisas básicas e aplicadas relativas a fatores ecológicos e ambientais, mudanças e adaptações microbianas e interações com hospedeiro que possam influenciar as EID’s. 
3- Reforçar a comunicação de informações de saúde pública e iniciar a implementação de estratégias de prevenção relativas as EID’s. 
4- Estabelecer planos para monitorar e controlar EID’s em todo mundo.
· Fatores Envolvidos na Determinação da Emergência e Reemergência de Doenças Infecciosas. 
Fatores Demográficos: A população mundial continua a crescer e a maior parte deste incremento se dá hoje nos países subdesenvolvidos, e nesses países verifica-se uma crescente urbanização. No mundo subdesenvolvido, esta urbanização significa aglomeração intensa, com populações grandes vivendo em espaço reduzido; saneamento inadequado, tanto em relação ao abastecimento da água, quanto aos sistemas de esgotamento sanitário e destinação de resíduos sólidos; habitação precária; proliferação de fauna sinantrópica; falta de infraestrutura urbana e agressão ao meio ambiente. Estes fatores criam as condições adequadas para a proliferação e disseminação de determinados agentes, seus vetores e reservatórios. A emergência da dengue, enquanto uma pandemia nos países subdesenvolvidos, é o exemplo mais eloquente da influência dos fatores demográficos e da forma de urbanização desses países na reemergência de doenças. 
Por outro lado, nos países desenvolvidos o aumento da expectativa de vida faz com que uma população cada vez mais idosa se torne mais suscetível a determinados agentes infecciosos, que podem levar a quadros de maior gravidade entre os mais velhos. As epidemias de gripe (influenza), por exemplo, tendem a acometer os idosos com quadros mais graves. Na emergência da doença pelo vírus do Nilo Ocidental em Nova Iorque, os idosos foram o grupo mais atingido e no qual a doença se manifestou em sua forma mais severa. 
Além disso, a queda da natalidade nos países desenvolvidos leva à necessidade da vinda de imigrantes para o mercado de trabalho. A imigração também contribui para a emergência de doenças infecciosas, e cria um fluxo contínuo de viajantes internacionais, o que também pode contribuir para a disseminação de doenças. As viagens constituem uma força importante na emergência de doenças. O atual volume, rapidez e alcance das viagens não tem precedentes na história. Os viajantes podem transportar os agentes infecciosos, seus vetores, e ainda hábitos e tecnologia que podem propiciar a emergência de doenças. 
Fatores Sociais e Políticos: As guerras, levando a grandes deslocamentos populacionais de massa, com a geração de populações de refugiados sobrevivendo em condições degradantes, também levam à criação de condições adequadas à emergência e reemergência de doenças. A própria emergência da epidemia de HIV/aids tem sido associada por muitos pesquisadores com as guerras. De origem zoonótica, o HIV teria passado para a espécie humana em populações rurais remotas da África Central, e disseminando-se com os grandes deslocamentos populacionais decorrentes dos conflitos armados naquela região. 
A heterogeneidade no desenvolvimento socioeconômico também constitui um fator de estímulo às migrações internas e internacionais, também gerando pressão para a disseminação de doenças. 
As mudanças comportamentais, decorrentes da urbanização, da incorporação das mulheres ao mercado de trabalho, do surgimento de métodos contraceptivos de maior eficácia, a maior liberdade sexual, e ainda a disseminação do uso de substâncias psicoativas, muitas vezes por via injetável, contribuíram para a reemergência e a disseminação de várias doenças sexualmente transmissíveis, em especial a gonorreia, a sífilis, as infecções por Chlamydia trachomatis e as hepatites B e C, além de desempenharem um papel de destaque na emergência da epidemia de HIV/aids. 
Fatores Econômicos: Atualmente, dada a rapidez das viagens internacionais e o grande incremento do comércio internacional, a disseminação de doenças por esta via é muito mais fácil e rápida. A reemergência do cólera na América do Sulem 1990 foi relacionada à água de lastro de navios fazendo a rota Ásia – Peru; a disseminação dos hantavírus, possivelmente trazidos pelos roedores a bordo de navios; a disseminação do Aedes albopictus, pelo comércio de pneus usados, são alguns dos exemplos recentes do papel do comércio internacional na emergência e reemergência dedoenças. Merece atenção especial a produção e comercialização de alimentos enquanto fator associado à emergência de doenças. A ocupação agrícola de novas áreas tem sido associada à emergência das hantavírus como a síndrome pulmonar (SPH). No Brasil, a ocorrência da SPH está associada às culturas de cana de açúcar (em São Paulo) e arroz (no Maranhão). Na Argentina, a emergência da febre hemorrágica pelo vírus Junín relacionou-se à ocupação agrícola da pampa. 
Novas tecnologias e práticas agropecuárias também vêm contribuindo para a emergência de doenças. O uso de carcaças de animais para a produção de ração levou à ocorrência da epizootia de encefalite espongiforme bovina no Reino Unido e em outros países europeus, zoonose possivelmente associada ao aumento da ocorrência de casos humanos de encefalites espongiformes. 
A produção em escala industrial e a própria industrialização de produtos agropecuários têm levado à ocorrência de inúmeros surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTA), que agora têm o potencial de atingir um número cada vez maior de pessoas em regiões geográficas cada vez mais distantes. Laticínios contaminados por Salmonella enteritidis já levaram a surtos que atingiram mais de 250.000 pessoas nos EUA. A contaminação de ovos e aves com Salmonella também tem ocasionado inúmeros surtos. Higiene e práticas inadequadas sem açougues e indústrias de carne têm levado a um aumento da ocorrência de infecções por Escherichia coli. O 157H7 e da síndrome hemolítico-urêmica (SHU). 
As migrações, por sua vez, contribuem para a disseminação de novos hábitos alimentares, que podem estar associados à ocorrência de surtos de DTA, como umsurto de cólera na comunidade tailandesa em Maryland, EUA, associado ao leite de coco importado da Tailândia. 
Fatores Ambientais: Grandes projetos de engenharia, como represas, rodovias, expansão da fronteira agrícola, têm sido frequentemente associados à emergência e reemergência de doenças. No Brasil, por exemplo, a construção da represa de Itaipu propiciou as condições necessárias à emergência da malária no sul do país. A ocupação da fronteira oeste a partir do final dos anos setenta, com a migração de populações de regiões não endêmicas, levou ao recrudescimento da malária no Brasil. A ocupação de novas áreas tem levado à expansão da área de transmissão da leishmaniose tegumentar americana no nosso país. O reflorestamento e a ocupação humana nas proximidades de áreas reflorestadas levaram à emergência da doença de Lyme nos EUA. À proximidade entre seres humanos e animais, principalmente aves e suínos na China, se tem atribuído a emergência de novos vírus da gripe. 
A importação clandestina de fauna exótica foi provavelmente responsável pela introdução do vírus do Nilo Ocidental em Nova Iorque. Sua disseminação por quase toda a costa atlântica dos EUA, já chegando ao Caribe, está ocorrendo pela migração natural das aves.
As grandes mudanças climáticas que vêm ocorrendo, não apenas em escala nacional, mas em escala mundial, com o aquecimento global, perecem ter influência importante na emergência e reemergência de doenças, em especial das doenças transmitidas por vetores. Secas e inundações, também parte do mesmo fenômeno, contribuem para a emergência e disseminação de doenças como a cólera e a leptospirose. 
Fatores Relacionados ao Setor de Saúde: De maneira geral, a expansão da cobertura de serviços da saúde e a incorporação de novas tecnologias de diagnóstico vêm permitindo a identificação de novos agentes infecciosos e quadros sindrômicos a eles associados. A incorporação das técnicas de biologia molecular à investigação das doenças transmissíveis vem permitindo um grande avanço nos conhecimentos e possibilitando a abertura de toda uma nova abordagem, a da identificação de microrganismos como cofatores em várias doenças crônicas. Em uma outra perspectiva, as falhas do setor saúde têm contribuído, em muitas situações para a emergência, reemergência e disseminação de doenças. Falhas no controle do sangue e hemoderivados contribuíram para a disseminação do HIV e outros agentes em vários países do mundo; da mesma forma, práticas de esterilização precárias contribuíram para a disseminação do HIV na Europa Oriental e África, e mesmo o primeiro surto da febre hemorrágica pelo vírus Ebola teve sua disseminação potencializada pelos serviços de saúde. A falência da saúde pública em muitos países, notadamente na Europa Oriental vem contribuindo para a reemergência de várias doenças, como difteria, coqueluche e tuberculose. Falhas dos programas de vacinação levaram à emergência da poliomielite no Continente Americano, com a reversão da virulência do vírus vacinal após sua circulação em população não vacinada no Haiti e na República Dominicana. 
Por outro lado, o sucesso de alguns programas de imunização vem acarretando a emergência de eventos adversos às vacinas até então desconhecidos, como a ocorrência de casos de febre amarela vacinal no Brasil e nos EUA, e a seleção de cepas “escapes”, vírus e bactérias “fugitivos”, mutantes ou cepas selecionadas para os quais as vacinas não protegem, como já se observou para a coqueluche e hepatite B.
Fatores Relacionados à Mudança e à Adaptação dos Microrganismos: Cada espécie microbiana apresenta sua própria taxa de mutações, que se relaciona à quantidade de pares de bases em seu genoma e a sua velocidade de reprodução. As variações naturais e mutações podem levar à emergência de doenças, como no caso da febre purpúrica brasileira, quando uma variante da bactéria Haemophilus influenza e biogrupo aegyptius tornou-se invasiva pela incorporação de um plasmídeo. 
Os hospitais concentram três características que os tornam sítios particularmente vulneráveis à emergência de novos agentes resistentes às drogas disponíveis: vítimas de infecções graves, pessoas mais suscetíveis e uso generalizado de antibióticos. A pressão seletiva gerada pelo uso dos antibióticos e de outros agentes antimicrobianos favorece a sobrevivência dos mutantes, que resistem às drogas. O grande desenvolvimento da indústria farmacêutica, com a oferta constante de novos agentes antimicrobianos vem contribuindo para tornar os hospitais locais privilegiados para a emergência de superbactérias, vírus e fungos. 
Além disso, a ampliação do uso de aparelhos e instrumentos também contribui para o aumento da incidência de infecções hospitalares. Sondas e cateteres são os veículos de grande parte das infecções nosocomiais. As infecções hospitalares constituem um dos principais problemas de doenças infecciosas emergentes nos países desenvolvidos e em grande parte dos subdesenvolvidos. Representam uma proporção considerável dos custos da assistência hospitalar. Por outro lado, as falhas na adesão ao tratamento são as responsáveis pela seleção de linhagens resistentes do Micobacterium tuberculosis, do HIV e de outros microrganismos. 
Armas Biológicas: A ideia do uso das doenças transmissíveis enquanto armas de guerra não é nova, mas apenas durante o século XX, com o desenvolvimento da microbiologia, é que se tornou factível a experimentação do desenvolvimento de microrganismos como arma de guerra. Alemanha, Japão, União Soviética e EUA, já no período da II Guerra Mundial, desenvolveram programas de armas biológicas. Posteriormente, pelo menos as duas superpotências do pós-guerra e talvez mais uma dúzia de países tenham desenvolvido programas semelhantes. Dado o sigilo que encobre essas iniciativas, é difícil fazer uma avaliação mais concreta acerca do avanço dessas experiências. Com a fuga do seu vice-diretor para os EUA em 1992 e a publicação do livro de leem 2000, vieram à tona várias informações acerca do programa soviético de armas biológicas. A União Soviética desenvolveu um programa de larga escala de pesquisa, desenvolvimento, produção, armazenamento e “distribuição” de armas biológicas. A “Biopreparat”, agência governamental que executava o programa, chegou a ter mais de 40.000 funcionários em 60 localidades. Entre outras doenças e agentes infecciosos pesquisados para uso enquanto armas estão a varíola (Orthopoxvirus), o antraz (Bacillusantracis); a tularemia (Francisella tularensis), o mormo (Burkholderia mallei), a meliloidose (Burkholderia pseudomallei), a peste (Yersiniapestis), a brucelose (espécies do gênero Brucella), os filovírus (Ebola, Marburg) e o arena vírus (Machupo). Dentre outros relatos, merece destaque o acidente ocorrido em 1979 na cidade de Sverdlovsk, com o vazamento de aerossóis contendo o bacilo do antraz de uma das instalações da Biopreparat, episódio no qual foram reconhecidos 77 casos entre habitantes da cidade, com uma letalidade de 90%.
· As Doenças Emergentes e Reemergentes no Brasil.
No Brasil, o modelo da transição epidemiológica nunca foi aplicável com perfeição. Em que pese uma marcante diminuição do peso relativo das doenças infecciosas e parasitárias enquanto causas de mortalidade, diminuição está relacionada principalmente à redução das doenças que podem ser prevenidas e das diarreias, persistem marcantes desigualdades regionais e sociais, com a existência de aglomerados populacionais nos quais os perfis de mortalidade pouco se alteraram nas últimas décadas. Além disso, embora se venha observando uma tendência de redução proporcional do peso das doenças infecciosas enquanto causas de morte, esta tendência não se verifica quando se analisam os dados de morbidade. Mesmo considerando as limitações de cobertura e qualidade destes últimos, constata-se que, à exceção das doenças que podem ser prevenidas, as demais doenças infecciosas e parasitárias vêm se mantendo em um patamar quase constante nas últimas duas décadas, representando boa parte das causas de internações hospitalaresna rede hospitalar pública e contratada pelo SUS anualmente. Ao discutir esta situação não sem alguma ironia, afirmam existir no Brasil não apenas as doenças emergentes e reemergentes, mas também as “permanecentes”. Embora reconhecendo que as doenças infecciosas e parasitárias sempre mantiveram sua importância no Brasil, não se pode também banalizar a questão da sua emergência e reemergência no país. Sim, elas se mantêm em um patamar relativamente constante enquanto causas de internação hospitalar, porém sua composição interna se modifica nas últimas duas décadas, além da verificação da emergência e reemergência de doenças que apenas excepcionalmente demandam internação hospitalar. Devemos também reconhecer que grande parte das condições e fatores relacionados à emergência e reemergência das doenças infecciosas e parasitárias estão presentes no nosso país, e que o seu processo de emergência e reemergência continua a ocorrer.
· Aedes aegypti 
É o vetor da dengue, zika e Chikungunya que possui uma capacidade de adaptação que o torna um ser vivo muito eficiente. Originários de áreas silvestres, o inseto se adaptou com facilidade à zona urbana. A longevidade dos ovos é impressionante, seja em um ambiente seco, ou água suja, seu desenvolvimento é impressionante. Na cidade a quantidade de lixo a céu aberto configura o ambiente ideal para o mosquito se multiplicar exponencialmente. Se a fêmea estiver contaminada, os ovos já nascem com o vírus – transmissão por via vertical, ou seja, dispensa que o inseto precise se contaminar com um doente para disseminar o vírus. Ultimamente, o fumacê tem perdido sua eficácia, e por isso, há produção de mosquitos transgênicos para combater o Aedes aegypti; a ideia é gerar machos estéreis que, quando copularem com as fêmeas, produzirão uma prole não capaz de atingir a fase adulta. 
· Príons 
O príon é uma glicoproteína normalmente encontrada na superfície dos neurônios do cérebro (PrPc), porém, que se transformou em uma proteína infecciosa, a proteína de scrapie (PrPSc). Os príons possuem função desconhecida, mas há evidências de que ela pode coordenar a maturação de células nervosas que atue na proteção extracelular das células. 
Se a proteína normal encontra uma proteína dobrada inadequadamente, um príon, a proteína normal muda sua forma e se torna dobrada de modo inadequado – isto é, outro príon – reação de dobramento inadequado da proteína em cadeia. 
Como as células do corpo não reconhecem a forma modificada, as proteínas anormais são endocitadas com objetivo da fagocitose nos lisossomos. Porém, essas proteínas são altamente resistentes as proteases, e não são fagocitadas, dessa forma, elas se transformam em miofibrilas, que são agregados insolúveis de proteínas que se acumulam no cérebro, formando placas; essas placas são usadas para diagnóstico pós mortem.
Em 1996, países do mundo inteiro recusaram-se a importar carne do Reino Unido, quando centenas de milhares de bovinos, nascidos após 1998, foram abatidos devido a epidemia de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) – Doença da Vaca Louca. O animal infectado esfrega-se contra cercas e paredes até que regiões do seu corpo fiquem em carne viva, ou seja, com dilacerações. A EEB chamou a atenção dos microbiologistas pela primeira vez em 1986 como sendo uma perigosa doença acusada por uma proteína infecciosa chamada de príon que é altamente resistente a UVC, Detergentes, Proteases e Autoclivagem.
· AIDS 
A Síndrome de Imunodeficiência Adquirida que foi descoberta em 1981 através de casos de pneumonia Pneumocystis (Los Angeles) que foram diagnosticados em pessoas com imunossupressão e Sarcoma de Kaposi, ou seja, uma forma rara de câncer de pele e vasos sanguíneos. 
Em 1983 – o patógeno causador da perda da função imune foi identificado como um vírus que seletivamente infecta as células TCD4, linfócito que é o orquestrador do sistema imune. 
Macacos do velho mundo são naturalmente infectados com mais de 40 diferentes lentivírus – retrovírus, denominados vírus da imunodeficiência símia (SIV). O HIV está geneticamente ligado ao SIV que no século XX passou do chimpanzé na África Central para a população humana após a ingestão de carne crua do animal. O Laboratório Nacional de Los Alamos estima que o HIV tenha feito transição para os humanos em 1930. 
A doença pode ter estado latente, sem que pudesse ser notada, tendo em vista que a transmissão estava limitada a pequenos povoados onde as taxas de promiscuidade sexual eram baixas. O vírus não poderia ter matado ou incapacitado seus hospedeiros rapidamente, do contrário não teria sido mantido na população do povoado. Com o final do colonialismo, aumenta-se a promiscuidade sexual, a prostituição, e o uso de transportes de vias expressas que aumentam a disseminação viral.
· Coronavírus 
Os coronavírus são de uma família de vírus comuns em espécies de diferentes animais, que raramente infectam pessoas. A Síndrome Respiratória Aguda (SARS) pode ter variantes como om SARS-CoV-2, que apresenta um aspecto clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves. De acordo com a OMS, 80% dos pacientes com COVID-19 podem ser assintomáticos ou oligossintomáticos, e os 20% dos casos detectados requer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória, dos quais aproximadamente 5% pode necessitar de suporte ventilatório. 
O surto começou em Wuhan – China, em dezembro de 2019; as autoridades chinesas alertaram a OMS para vários casos de uma pneumonia invulgar. O vírus é desconhecido e surgiu no mercado de animais vivos em Wuhan. A China impôs um confinamento rigoroso para tentar controlar a disseminação viral. 
O surgimento de mutações é um evento natural e esperado do processo evolutivo do vírus. As medidas de proteção funcionam para todas as variantes do vírus causador da COVID-19 (SARS-CoV-2) identificadas até o momento. 
· Malária 
É típica reemergente, uma infecção parasitária que afeta os glóbulos vermelhos do sangue. É uma doença evitável, detectável e tratável, que se apresenta mais comumente em regiões pobres. A doença causa impactos socioeconômicos, representando uma grande carga para a receita de países onde é endêmica e demandando ainda mais esforço dos serviços de saúde locais. A malária é a doença mais frequente nos hospitais e centros de saúde de MSF.
A doença é causada por parasitas do gênero Plasmodium dos quais há quatro espécies principais: Plasmodium falciparum, Plasmodium malariae, Plasmodium vivax e Plasmodium ovale. O P. falciparum é a principal causa da malária clínica grave e de mortes. Estima-se que a metade da população mundial esteja em risco de se infectar com o parasita.
O parasita é transmitido através da picada da fêmea do mosquito Anopheles darlingi infectado. Esses mosquitos geralmente picam entre o anoitecer e o amanhecer.
Uma vez que o mosquito infectado pica o humano, os parasitas viajam até o fígado, onde se multiplicam e entram nas células vermelhas do sangue. Dentro dessas células, os parasitas se multiplicam rapidamente até elas se romperem, liberando ainda mais parasitas na corrente sanguínea e manifestando, nesse processo, os sintomas típicos da doença. A malária começa como a gripe, com os primeiros sintomas surgindo entre nove e 14 dias após a infecção. Os sintomas incluem febre (podem ocorrer ciclos típicos de febre, calafrios e suor em grande quantidade), dor nas articulações, dores de cabeça, vômitos frequentes, convulsões e coma. Se a malária simples não for tratada, ela pode se tornar grave – anualmente, cerca de oito milhões de casos de malária progridem para o tipo grave da doença. Mortes por malária podem ocorrer devido a danos cerebrais (malária cerebral) ou danos aos órgãos vitais. A redução das células vermelhas no sangue pode causar anemia.
O diagnóstico da malária é feito rapidamente por meio do teste da tira reagente ou por meio da observação do parasita em microscópio em uma amostra de sangue. Entretanto, testes rápidos nem sempre estão disponíveis, microscópios não são sempre efetivos e, por isso, diagnósticosbaseados em sintomas ainda são comuns em grande parte do mundo em desenvolvimento. Isso significa que os pacientes são frequentemente diagnosticados de forma errônea e as verdadeiras causas de seus sintomas permanecem sem tratamento. Isso também indica que medicamentos antimaláricos são utilizados em excesso em alguns casos e desperdiçados quando extremamente necessários.   
O tratamento mais eficiente para malária é uma terapia combinada à base de artemisinina (ACTs, em inglês). A terapia tem baixo nível de toxicidade, poucos efeitos colaterais e age rapidamente contra o parasita. A maioria dos países africanos alterou oficialmente seus protocolos para tratar a malária com o medicamento. Mas, em muitos países em que MSF trabalha, a quantidade de artemisinina disponível é escassa. Países com sistemas de saúde enfraquecidos têm poucos recursos para oferecer cuidados à população. Isso resulta em um ciclo vicioso: a falta de estrutura impede o tratamento e impulsiona a incidência de doenças. A população, enfraquecida por essas doenças, não consegue sair da pobreza. 
O controle do vetor, que é o mosquito, é a principal estratégia para reduzir a transmissão da malária, além do fornecimento de medicamentos para as infecções. É possível garantir proteção às comunidades com uma cobertura alta dessa estratégia. A Organização Mundial da Saúde recomenda dois tipos de controle efetivos: dormir sob mosquiteiros tratados com inseticida e pulverizar as paredes internas das residências também com inseticida. Em algumas circunstâncias específicas, é possível complementar a estratégia com o manejo da fonte de larvas e outras ações que reduzam os focos de mosquitos e suas picadas em humanos.
· Dengue
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 4 bilhões de pessoas estejam vivendo em áreas com risco de infecção pela doença. Anualmente, 390 milhões de casos são registrados no mundo, dos quais 96 milhões se manifestam clinicamente. A dengue afeta 128 países e é considerada uma doença negligenciada pela OMS. Na região das Américas, a doença tem se disseminado com surtos cíclicos ocorrendo a cada 3/5 anos. No Brasil, a transmissão vem ocorrendo de forma continuada desde 1986 registrando os maiores surtos da doença em 2013 e 2017, com aproximadamente 2 milhões de casos notificados.
A dengue é causada por um arbovírus (vírus transmitidos por artrópodes) que se apresenta em quatro tipos diferentes: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Atualmente os quatro sorotipos circulam no Brasil intercalando-se com a ocorrência de epidemias, geralmente associadas com a introdução de novos sorotipos em áreas anteriormente não atingidas ou alteração do sorotipo predominante.
O vírus é transmitido pela picada de mosquitos da espécie Aedes que também são responsáveis pela transmissão da Chikungunya, febre amarela e zika.
A dengue pode ter diferentes apresentações clínicas e de prognóstico imprevisível. Os primeiros sintomas aparecem de quatro a 10 dias depois da picada do mosquito infectado. A doença começa bruscamente e se assemelha a uma síndrome gripal grave caracterizado por febre elevada, fortes dores de cabeça e nos olhos, além de dores musculares e nas articulações. Durante a evolução da doença, destacam-se três fases: febril, crítica e de recuperação. Na fase crítica da dengue (entre o terceiro e o sexto dia após o início dos sintomas), podem surgir manifestações clínicas (sinais de alarme) correspondentes a uma complicação da doença potencialmente letal chamada dengue grave (conhecida anteriormente como dengue hemorrágica), que aparecem devido ao aumento da permeabilidade vascular e da perda de plasma, o que pode levar ao choque irreversível e à morte. Os sinais clínicos de alarme da dengue grave são: dor abdominal intensa e contínua; vômitos persistentes; hipotensão postural e/ou lipotimia (tonturas, decaimento, desmaios); hepatomegalia dolorosa (aumento de tamanho do fígado); sangramento na gengiva e no nariz ou hemorragias importantes (vômitos com sangue e/ou fezes com sangue de cor escura); sonolência e/ou irritabilidade; diminuição da diurese (diminuição do volume urinado); diminuição repentina da temperatura do corpo (hipotermia); e desconforto respiratório. Uma infecção curada de dengue confere ao paciente imunidade contra o tipo de vírus responsável. Por existirem quatro tipos diferentes de vírus, para estar totalmente imunizado, é necessário ter tido contato com todos eles. Caso contrário, a cada contágio com um novo tipo de vírus, os sintomas são mais intensos e o risco de desenvolver a dengue grave é mais alto. 
O diagnóstico da dengue é feito comumente mediante sorologia para determinar a presença de anticorpos contra o vírus no sangue, mas não determina especificamente qual tipo de vírus é responsável pela infecção. Métodos de biologia molecular mais elaborados podem ser utilizados para detectar as proteínas do vírus.
Não existe tratamento específico para dengue. Os cuidados terapêuticos consistem em tratar os sintomas: combater a febre e, nos casos graves, realizar hidratação por via intravenosa. O atendimento rápido para a identificação dos sinais de alarme e o tratamento oportuno podem reduzir o número de óbitos, chegando a menos de 1% dos casos.
Desde o fim de 2015 a primeira vacina contra dengue foi registrada em diferentes países para ser usada em indivíduos de 9 a 45 anos vivendo em áreas endêmicas ou de risco. A OMS recomenda que os países considerem a introdução da vacina contra dengue apenas em zonas geográficas onde os dados epidemiológicos indicam um alto índice da doença. Outras vacinas com diferentes tipos do vírus se encontram em período de desenvolvimento. De modo geral as vacinas têm mostrado uma efetividade muito variável (entre 50% e 80%) dependendo do tipo de vírus que causa a infeção, do tipo de indivíduos vacinados e do local onde tem sido implementada; igualmente o tempo de duração da proteção está sendo estudado. Atualmente, a principal forma de prevenção é o combate aos mosquitos – eliminando os criadouros de forma coletiva com participação comunitária – e o estímulo à estruturação de políticas públicas efetivas para o saneamento básico e o uso racional de inseticidas.
· Tuberculose 
A tuberculose (TB) é frequentemente vista como uma doença do passado. Mesmo se a taxa de mortalidade global tenha tido uma redução de 47% entre os anos de 1990 e 2015, ainda existem lacunas importantes na cobertura e deficiências graves quando se trata de diagnóstico e tratamento. Além disso, o recente ressurgimento da doença e a proliferação de casos resistentes aos medicamentos utilizados comumente (tuberculose resistente TB-DR, tuberculose multirresistente TB-MDR e tuberculose ultra-resistente TB-XDR) fazem dela um grande problema na atualidade, estimando-se que quase 500 mil pessoas desenvolvem infecções resistentes a medicamentos a cada ano.
A doença é causada por uma bactéria (Mycobacterium Tuberculosis) que afeta com mais frequência os pulmões, mas pode infectar qualquer parte do corpo, incluindo os ossos e o sistema nervoso.
A bactéria se espalha pelo ar quando pessoas infectadas tossem, falam, cospem ou espirram.
A maioria das pessoas expostas à TB nunca desenvolvem os sintomas, já que a bactéria pode viver na forma inativa dentro do corpo. Entretanto, se o sistema imunológico enfraquecer, como acontece com pessoas desnutridas, pessoas HIV-positivo ou idosas, a bactéria da tuberculose pode se tornar ativa. Cerca de 10% das pessoas infectadas com a bactéria vão desenvolver a forma ativa e contagiosa da doença em algum ponto de suas vidas. Os sintomas da tuberculose ativa incluem: tosse persistente (por mais de duas semanas), que pode apresentar-se com sangue ou escarro; febre; sudoração noturna; perda de peso; dores no peito; e fadiga.
Em países onde a doença é mais prevalente, o diagnóstico depende em sua maioria do mesmo teste arcaico utilizado nos últimos 120 anos: a microscopia do esfregaço, exame microscópico do catarro ou fluido do pulmão para identificar os bacilos da TB. O teste só é exato em metadedos casos e a efetividade é ainda menor se os pacientes testados viverem com o vírus HIV, forem crianças ou pacientes que não conseguem produzir escarro. Um novo e promissor teste de diagnóstico, o Xpert MTB/RIF, foi introduzido em 2010 e tem sido utilizado em muitos programas de MSF desde então. Ele é capaz de detectar a infecção e informar se é um caso resistente aos medicamentos num período curto. O teste não é aplicável em todos os contextos, assim como não é efetivo para diagnóstico de crianças ou de pacientes nos quais o foco infeccioso da tuberculose ocorre fora dos pulmões (tuberculose extrapulmonar). Por isso, MSF continua pressionando por mais investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para diagnóstico e tratamento de TB.
O tratamento para tuberculose sem complicações leva, no mínimo, seis meses e, na maior parte dos casos, o tratamento é feito com dois antibióticos de primeira linha: rifampicina e isoniazida. Quando os pacientes são resistentes a esses antibióticos, considera-se que eles tenham desenvolvido a TB-MDR (tuberculose multirresistente a medicamentos).
A TB-MDR não é impossível de tratar, mas o tratamento pode levar até dois anos e causar diversos efeitos colaterais graves. Além disso, o tratamento é muito caro com uma taxa de cura baixa. Em 2012, foi lançado o primeiro medicamento contra tuberculose em mais de 50 anos, bedaquilina, que representava uma oportunidade de aumentar a taxa de cura da TB-MDR. Em 2014, um segundo medicamento, delamanida, também foi aprovado para uso. Porém, até hoje, menos de mil pessoas no mundo todo tiveram acesso aos novos medicamentos. A tuberculose ultra-resistente (TB-XDR) é identificada quando a resistência aos medicamentos de segunda linha descritos anteriormente se desenvolve durante a TB-MDR. A chance de cura é de apenas 20%. Apesar desse fato, os projetos de MSF apontaram resultados promissores com base no uso de um antibiótico de alta resistência, chamado linezolida, como parte do regime de tratamento para TB-XDR. Este medicamento não está amplamente disponível em alguns países, pois é extremamente caro, foi patenteado e as unidades disponíveis não estão registradas como tratamento para tuberculose, o que dificulta o acesso por meio dos estabelecimentos públicos.
Um passo inicial na prevenção é evitar o contato por tempo prolongado com pacientes diagnosticados com TB em ambientes lotados, fechados e com pouca ventilação. Usualmente, pacientes com tuberculose ativa adotam medidas adicionais que podem incluir o uso de dispositivos de proteção respiratória pessoal para diminuir o risco de infectar outras pessoas. Muitas pessoas que sofrem de infecção tuberculosa latente nunca desenvolvem a doença, mas algumas são mais propensas a progredir num quadro de tuberculose ativa; estas incluem: Pessoas com infecção pelo HIV; Pessoas que se infectaram com bactérias da TB nos últimos 2 anos; Bebês e crianças pequenas; Pessoas com outras doenças que enfraquecem o sistema imunológico; Pessoas idosas; Pessoas que não foram tratadas corretamente para TB no passado. Pessoas desses grupos de alto risco, podem tomar remédios para evitar desenvolver a doença (profilaxia).
· Hantavírus 
Hantavirose é uma doença rara, que é causada por uma infecção do Hantavírus, um gênero de vírus com vários subtipos, sendo que todos são capazes de causar a hantavirose. 
A transmissão da hantavirose se dá por meio de roedores. O vírus se aloja no organismo de ratos, por exemplo, e é transmitido para o ambiente por meio de sua urina e de suas fezes. Caso o ser humano inale os odores desses materiais ou sua pele entre em contato direto com essas substâncias, ele pode desenvolver a hantavirose. Mordidas de rato também podem fazer com que uma pessoa desenvolva hantavirose.
Uma vez que ela é infectada com hantavirose, a pessoa pode desenvolver duas condições distintas: a Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus (SCPH) e a Febre Hemorrágica com Síndrome Renal (FHSR).
O tipo de hantavirose que mais afeta o Brasil e a América Latina é a Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus. 
Entre os sintomas de hantavirose, podemos destacar: febre; dores musculares; dor de cabeça; diarreia; náuseas e vômitos; diminuição na quantidade de vezes que vai ao banheiro fazer xixi ou na quantidade de xixi que é expelido a cada vez; aumento na taxa de ureia presente no sangue; manchas pelo corpo; gengiva que sangra facilmente; taquicardia; tosse seca; dificuldade para respirar; acúmulo de fluídos no pulmão; insuficiência renal.
Não há cura para a hantavirose. Como essa é uma condição que pode levar ao colapso dos rins e do sistema cardiopulmonar, é preciso fazer um acompanhamento que elimine os sintomas e deixe o paciente estabilizado por mais tempo.
· Sarampo 
O sarampo é uma doença viral contagiosa e uma das maiores causas de morte entre crianças não vacinadas. As mortes por sarampo no mundo diminuíram em 71% nos últimos anos – de 542 mil, em 2000, para 158 mil em 2011, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entretanto, o vírus da doença ainda é comum em muitos países em desenvolvimento, particularmente em regiões da África e da Ásia. Existe uma vacina efetiva e segura desde os anos 60, mas os surtos continuam a ocorrer devido à quantidade insuficiente de programas de imunização. O sarampo grave é mais comum entre crianças desnutridas com menos de cinco anos. Pessoas com insuficiência de vitamina A ou com sistemas imunológicos fragilizados pelo vírus HIV ou por outras doenças estão especialmente vulneráveis a contraírem o sarampo.
O sarampo é causado por um vírus altamente contagioso – 90% das pessoas sem imunidade que compartilham espaços com pessoas contaminadas contraem a doença. O sarampo é transmitido através do contato com gotículas do nariz, da boca ou da garganta da pessoa infectada, quando ela tosse, espirra e respira.
Os sintomas se manifestam entre 10 e 14 dias após a exposição ao vírus e incluem coriza, tosse, infecção nos olhos, erupção cutânea e febre alta. Três a cinco dias após o início dos sintomas, uma erupção cutânea explode. Geralmente, começa como manchas vermelhas planas que aparecem no rosto na linha do cabelo e se espalham para o pescoço, tronco, braços, pernas e pés.
O diagnóstico clínico do sarampo demanda um histórico de febre de pelo menos três dias e a presença de pelo menos um dos três seguintes sintomas: tosse, coriza ou conjuntivite. Grupos de pequenas manchas brancas no interior da boca, conhecidas como manchas de Koplik, também são um sinal de sarampo. Essas manchas geralmente aparecem dois dias antes da coceira característica do sarampo.
Não há tratamento específico para o sarampo; os pacientes são isolados e tratados por falta de vitamina A, complicações relacionadas com os olhos, estomatite (aftas), desidratação devido à diarreia, falta de proteína e infecções do trato respiratório. A maioria se recupera em duas ou três semanas, mas entre 5% e 20% das pessoas com sarampo morrem, normalmente por causa de complicações graves, como diarreia, desidratação, encefalite (inflamação no cérebro) ou infecções respiratórias. As crianças que correm o risco de desenvolver desnutrição moderada a grave recebem apoio nutricional e tratamento.
Uma vacina segura e de baixo custo contra o sarampo existe e campanhas de vacinação em larga escala diminuíram drasticamente o número de casos e mortes por sarampo. Entretanto, a cobertura vacinal continua baixa em países com estruturas de saúde frágeis ou entre pessoas com acesso limitado a serviços de saúde, e grandes surtos ainda podem ocorrer. A vacinação é a melhor forma de proteção contra o sarampo e, mesmo depois que a doença já tenha começado a se espalhar, a vacina ainda pode reduzir o número de casos e mortes. A dificuldade está no fato de pelo menos 95% das pessoas precisarem estar imunizadas para prevenir novos surtos. 
· Rubéola 
É causada por um vírus do gênero Rubivirus, o Rubella vírus. A rubéola é uma doença infectocontagiosa que acomete principalmente crianças entre cinco e nove anos. A transmissãoacontece de uma pessoa a outra, geralmente pela emissão de gotículas das secreções respiratórias dos doentes. É pouco frequente a transmissão através do contato com objetos recém-contaminados por secreções de nariz, boca e garganta ou por sangue, urina ou fezes dos doentes. A rubéola congênita acontece quando a mulher grávida adquire rubéola e infecta o feto porque o vírus atravessa a placenta.
Após um período de incubação, que varia de duas a três semanas, a doença mostra seus primeiros sinais característicos: febre baixa, surgimento de gânglios linfáticos e de manchas rosadas, que se espalham primeiro pelo rosto e depois pelo resto do corpo. A rubéola é comumente confundida com outras doenças, pois sintomas como dores de garganta e de cabeça são comuns a outras infecções, dificultando seu diagnóstico. Apesar de não ser grave, a rubéola é particularmente perigosa na forma congênita. Neste caso, pode deixar sequelas irreversíveis no feto como: glaucoma, catarata, malformação cardíaca, retardo no crescimento, surdez e outras.
A imunidade é adquirida pela infecção natural ou por vacinação, sendo duradoura após infecção natural e permanecendo por quase toda a vida após a vacinação. Filhos de mães imunes geralmente permanecem protegidos por anticorpos maternos em torno de seis a nove meses após o nascimento. Para diminuir a circulação do vírus da Rubéola, a vacinação é essencial. As crianças devem tomar duas doses da vacina combinada contra rubéola, sarampo e caxumba (tríplice viral): a primeira, com um ano de idade; a segunda dose, entre quatro e seis anos. Todos os adolescentes e adultos (homens e mulheres) também precisam tomar a vacina tríplice viral ou a vacina dupla viral (contra sarampo e rubéola), especialmente mulheres que não tiveram contato com a doença. Gestantes não podem ser vacinadas. As mulheres em idade fértil devem evitar a gestação por 30 dias após a vacinação. No caso de infecção, recomenda-se que a pessoa com rubéola (criança ou adulto) fique afastada de quem não contraiu a doença.
· Poliomielite 
A poliomielite também chamada de paralisia infantil, pólio ou ainda doença de Heine-Medin é uma infecção viral aguda causada por um dos três poliovírus existentes. É uma doença contagiosa, que ataca o sistema neurológico afetando o corpo inteiro podendo causar paralisia dos movimentos musculares. É caracterizada clinicamente por paralisias resultantes do comprometimento do neurônio motor periférico, de tipo infeccioso, causadas por vírus específicos.
Introduzido no organismo por diferentes vias, o vírus é eliminado pelas fezes. Uma criança pode pegar poliomielite através do contato direto, isto é, tendo contato com outra criança infectada pela doença ou através do contato indireto, isto é, através da água, alimentos, picadas de insetos etc. Presente no organismo o vírus se prolifera na submucosa do intestino ou faringe alcançando logo após a corrente circulatória espalhando-se por todo o organismo. O período de incubação desta doença leva de 3 a 35 dias. Em geral a doença se manifesta próximo ao 10 dia após ter contraído o vírus. 
A poliomielite em sua fase aguda onde já existe o comprometimento do sistema nervoso pode apresentar febre, dores de cabeça, dores de garganta, coriza, vômitos e às vezes rigidez de nuca. 
Não existe tratamento específico para combater o vírus da poliomielite. Como a maioria dos casos evolui para a cura completa, é importante manter o bom estado geral do paciente.
A poliomielite é uma doença altamente contagiosa, portanto são necessárias medidas rigorosas de profilaxia. Sendo o vírus eliminado, sobretudo pelas fezes, deve-se, em caso de epidemias, evitar aglomerações de pessoas, comer vegetais crus e beber água que não seja tratada, deve-se também observar as medidas de higiene pessoal, reduzir ao mínimo as atividades físicas das crianças e usar seringas e agulhas descartáveis.
O vírus da poliomielite é um dos vírus mais resistentes sobrevivendo durante meses nas águas dos esgotos. A vacinação é o meio profilático mais eficiente contra esta doença, visto que desde 1960 quando começaram as campanhas de vacinação, a poliomielite deixou de ser uma das doenças causadoras de epidemias entre a população infantil. A vacina de prevenção para esta doença é a Sabin ou anti-pólio.
· Cólera 
A cólera geralmente surge em contextos que envolvem superlotação e acesso inadequado à água limpa, coleta de lixo e banheiros. A doença causa diarreia profusa e vômitos, que podem levar à morte por desidratação intensa, por vezes, em questão de horas. O risco de contração de cólera é maior logo após emergências, como o terremoto que devastou o Haiti em 2010, mas pode acontecer em qualquer lugar. A situação pode se tornar especialmente problemática durante a estação chuvosa, quando as casas e latrinas inundam e a água contaminada se acumula em poças.
A cólera é causada por uma infecção no intestino provocada pela bactéria vibrio cholerae. A bactéria faz com que as células que revestem o intestino produzam uma grande quantidade de fluidos que causam diarreia e vômitos. A infecção se espalha quando há ingestão de alimentos ou água contaminada com fezes ou vômito de uma pessoa infectada com a doença. O suprimento de água ou comida contaminadas pode causar surtos maciços em um curto espaço de tempo, principalmente em áreas superlotadas, como favelas ou campos de refugiados.
Geralmente, os sintomas aparecem de dois a três dias após a infecção, mas podem surgir em algumas horas ou em até cinco ou mais dias. A infecção por cólera é normalmente leve e assintomática, mas, por vezes, pode ser grave, resultando em diarreia aquosa profusa, vômito e câimbras nas pernas. O paciente rapidamente perde fluidos corporais, o que leva à desidratação e ao choque. Sem tratamento, a infecção pode levar à morte em questão de horas.
A cólera pode ser diagnosticada por meio do exame de amostras de fezes ou do reto, mas, devido à rápida evolução da doença, o tempo para a realização do exame é normalmente curto. Em meio a uma epidemia, o diagnóstico é geralmente feito com base no histórico do paciente e em um breve exame. O tratamento é iniciado antes mesmo que o laboratório confirme o diagnóstico.
A cólera pode ser tratada de forma simples e efetiva por meio da reposição imediata dos fluidos e sais perdidos devido aos vômitos e diarreia. Com a reidratação imediata, menos de 1% dos pacientes morrem. As vítimas da cólera são sempre tratadas com soluções de reidratação oral – soluções pré-embaladas de açúcares e sais misturados com água e ingeridos em grande quantidade. A reposição dos fluidos em caso de estado grave deve ser feita de forma intravenosa e, por vezes, combinada com antibióticos.
· Varíola 
Varíola é uma doença altamente contagiosa causada pelo vírus da varíola, um ortopoxvírus. Provoca morte de até 30%. A infecção natural foi erradicada. A preocupação principal quanto a epidemias é o bioterrorismo. Sintomas constitucionais intensos e exantema com pústulas características se desenvolvem. O tratamento costuma ser de suporte e potencialmente com antivirais. A prevenção envolve a vacinação que, por causa de seus riscos, é realizada de forma seletiva.
Há pelo menos 2 cepas do vírus da varíola:
Varíola maior (varíola clássica), é a cepa mais virulenta.
Varíola menor (alastrim), é a cepa menos virulenta.
A varíola é transmitida de pessoa para pessoa por inalação ou, de modo menos eficiente, contato direto. Vestuários ou roupas de cama contaminados também podem transmitir a infecção. A infecção é muito contagiosa durante os primeiros 7 a 10 dias após o aparecimento do exantema. Assim que se formam crostas nas lesões de pele, a contagiosidade declina. A taxa de ataque é tão alta quanto 85% em pessoas não vacinadas e casos secundários podem atingir de 4 a 10 pessoas para cada caso primário. Entretanto, a infecção tende a se disseminar de forma lenta e, principalmente, entre contatos íntimos.
O vírus invade a mucosa orofaríngea ou respiratória e multiplica-se nos linfonodos regionais, causando subsequenteviremia. Localiza-se eventualmente em pequenos vasos sanguíneos da derme e na mucosa orofaríngea. Outros órgãos estão envolvidos clinicamente, porém, de forma rara, exceto ocasionalmente o sistema nervoso central, com encefalite. Podem ocorrer infecções secundárias da pele, pulmões e ossos.
Varíola maior: A varíola maior apresenta um período de 10 a 12 dias de incubação (varia de 7 a 17 dias), seguido por 2 a 3 dias de pródromo, com febre, cefaleia, dor lombar e intenso mal-estar. Algumas vezes, dor abdominal acentuada e vômitos ocorrem. Seguindo o pródromo, lesões maculopapulares se desenvolvem na mucosa orofaríngea, na face e nos membros superiores, disseminando-se logo depois para o tronco e os membros inferiores. As lesões orofaríngeas ulceram-se rapidamente. Após 1 ou 2 dias, as lesões cutâneas tornam-se vesiculares e, em seguida, pustulosas. As pústulas são mais densas na face e nas extremidades do que no tronco e podem aparecer nas palmas. São redondas, tensas e parecem estar aderidas profundamente. As lesões de pele da varíola, ao contrário daquelas da varicela, ficam todas na mesma fase de desenvolvimento em uma determinada parte do corpo. Após 8 ou 9 dias, as pústulas transformam-se em crostas. Cicatriz residual acentuada é típica.
A taxa de mortalidade é de aproximadamente 30%. Mortes são resultado de resposta inflamatória maciça, que causa choque e falência de múltiplos órgãos, geralmente na 2ª semana da doença. Cerca de 5 a 10% das pessoas com varíola maior desenvolvem tanto uma variante hemorrágica como uma maligna (plana).
A forma hemorrágica da varíola maior é mais rara e tem pródromo mais curto e mais intenso, seguido por eritema generalizado e hemorragia cutaneomucosa. Ela é sistematicamente fatal em 5 ou 6 dias.
A forma maligna da varíola maior tem um pródromo grave semelhante, seguido pelo desenvolvimento lesões cutâneas confluentes, planas e não pustulosas. Os sobreviventes costumam apresentar descamação da epiderme.
Varíola menor: A varíola menor resulta em sintomas semelhantes, porém, menos graves, com exantema menos extenso. A taxa de mortalidade é < 1%.
A menos que haja exposição laboratorial documentada ou suspeita de surto (decorrente de bioterrorismo), apenas os pacientes que correspondem à definição de clínica de caso de varíola devem ser testados devido ao risco de os resultados dos exames serem falso-positivo. Um algoritmo para avaliar o risco de varíola nos pacientes com febre e exantema está disponível no website do CDC (CDC Algorithm Poster for Evaluation of Suspected Smallpox). Confirma-se o diagnóstico da varíola pela comprovação da presença de DNA da varíola por testes de PCR com amostras de vesículas ou pústulas. Ou o vírus pode ser identificado por microscopia eletrônica ou cultura viral de material raspado de lesões de pele e depois confirmado por PCR. A suspeita de varíola deve ser notificada imediatamente às agências de saúde pública locais. Essas agências organizam testes em um laboratório com nível adequado de segurança (nível 4 de biossegurança). Ensaios de detecção de antígenos no ponto de atendimento estão sendo desenvolvidos.
O tratamento da varíola geralmente é de suporte, com antibióticos para tratar infecções bacterianas secundárias. Entretanto, o antiviral tecovirimat foi aprovado pela FDA em 2018 com base em estudos experimentais e é o primeiro fármaco licenciado para o tratamento da varíola. Embora sua eficácia contra a varíola em seres humanos seja desconhecida, o tecovirimat provavelmente seria o fármaco de escolha para a tentativa de tratamento e está disponível no US Department of Health and Human Services Strategic National Stockpile. Também pode-se considerar o fármaco experimental brincidofovir. O isolamento das pessoas com varíola é essencial. Em epidemias limitadas, pacientes podem ser isolados em hospitais com quartos equipados com pressão-negativa, com ar particulado de alta eficiência (HEPA, high-efficiency particulate air). Em epidemias, pode ser necessário o isolamento domiciliar. Contatos devem ser colocados sob vigilância, tipicamente com medida diária de temperatura; caso a temperatura seja > 38° C ou exista outro sinal de doença, eles devem ser isolados em casa. 
A melhor prevenção é a vacina licenciada da varíola nos EUA consiste em vírus vivos da vacina, que está relacionada com a varíola e fornece imunidade cruzada. A vacina é administrada com uma agulha bifurcada imersa em vacina reconstituída. A agulha perfura rapidamente a pele 15 vezes em uma área de aproximadamente 5 mm de diâmetro, com força suficiente para puxar um rastro de sangue. O local da vacina é coberto com um curativo para prevenir disseminação do vírus para outros locais do corpo ou contatos próximos. Febre, mal-estar e mialgias são comuns na semana seguinte à vacinação. O sucesso da vacinação é indicado pelo desenvolvimento de uma pústula no 7º dia, aproximadamente. A revacinação pode produzir somente uma pápula circundada por eritema, com picos entre 3 e 7 dias. Pessoas sem esses sinais devem receber outra dose da vacina.
Foram criadas duas vacinas de vírus vivo atenuado vacina modificadas Ankara (MVA, do inglês Modified Vaccinia Ankara) e LC16m8; a MVA foi aprovada na Europa e a LC16m8 foi aprovada no Japão. MVA e outra vacina experimental, vacina contra a varíola Aventis Pasteur (APSV), estão disponíveis a partir do Strategic National Stockpile no caso de uma emergência. Depois de uma única dose da vacina, a imunidade começa a diminuir após 5 anos e provavelmente torna-se insignificante após 20 anos. Se as pessoas foram revacinadas com sucesso uma ou mais vezes, parte da imunidade residual pode persistir por ≥ 30 anos.
Até que uma epidemia ocorra na população, ainda se recomenda vacinação de pré-exposição somente para pessoas com alto risco de exposição ao vírus. Fatores de risco de complicações incluem distúrbios de pele extensos (em particular, eczema), doenças ou terapias imunossupressoras, inflamação ocular e gestação. A vacinação disseminada não é recomendada por causa dos riscos. Complicações graves ocorrem em cerca de 1/10.000 pacientes após a primeira vacinação (primária), e incluem encefalite pós-vacina, vacina progressiva, eczema vacinal, vacina generalizada, miocardite e/ou pericardite, ceratite pelo vírus vacina, exantemas não infecciosos. 
A vacina progressiva (vaccinia necrosum) resulta em lesão de pele não cicatrizada (vesicular), que se dissemina para a pele adjacente e finalmente para outras áreas da pele, aos ossos e às vísceras. A vacina progressiva pode ocorrer tanto com a vacinação primária quanto com a revacinação, mas quase exclusivamente em pacientes com um defeito subjacente na imunidade celular; pode ser fatal.
Eczema de vacina resulta em lesões de pele vacinais, que aparecem nas áreas de eczema ativo ou até mesmo curado.
Vacina generalizada resulta de disseminação hematogênica do vírus da vacina e produz lesões em locais múltiplos do corpo; geralmente, é benigna.
Ceratite pelo vírus vacina raramente ocorre quando o vírus da vacina é inadvertidamente implantado no olho.
Algumas complicações graves de vacina são tratadas com imunoglobulina para vacina (VIG); foi relatado um caso de eczema vacinal aparentemente tratado com sucesso com VIG, cidofovir e tecovirimat. No passado, pacientes de alto risco que necessitavam de vacinação por causa de exposição viral recebiam simultaneamente VIg, para tentar prevenir complicações. A eficácia dessa prática é desconhecida e não é recomendada pelos CDC. VIg somente está disponível nos CDC.
A vacinação pós-exposição pode prevenir ou limitar significativamente a gravidade da doença, sendo indicada para familiares e contatos íntimos de pacientes com a varíola. A administração precoce é muito eficaz, mas algum benefício é percebido até 4 dias depois da exposição.

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