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1 UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Graduação em Ciências Biológicas. Disciplina de Biofísica Discente: Vivian Nogueira 2017 1- TERMODINÂMICA ____________________ 1 2- MEMBRANAS BIOLÓGICAS _____________ 2 3- TRANSPORTE TRANSMEMBRANA ________ 4 4- POTENCIAIS TRANSMEMBRANA _________6 5- BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO ________________________8 6- BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO DO MÚSCULO CARDÍACO _________________________ 10 7- CICLO CARDÍACO ____________________ 14 8- HEMODINÂMICA ______________________ 9- BIOFÍSICA DA RESPIRAÇÃO – MECÂNICA RESPIRATÓRIA ________________________ 10- BIOFÍSICA DA RESPIRAÇÃO – TRANSPORTE DE O2 E CO2 _____________________________ 1 – TERMODINÂMICA Todas as atividades realizadas pelos seres vivos dependem de energia. A Termodinâmica do ponto de vista das ciências fisiológicas estuda a transformação e fluxo de energia nos sistemas biológicos; CONCEITOS ➢ Sistema: É um conceito bem geral, é uma parte definida do espaço, qualquer porção delimitada no todo, mas não necessariamente de volume constante, onde concentramos nossa atenção para as transferências de energia e/ou de massa. Pode se classificar, • Quanto à capacidade de trocas: - Aberto – Capacidade de trocar matéria e energia. Ex: Célula; - Fechado – Capacidade de trocar apenas energia. Ex: Garrafa, Pilha; - Isolado – Seria um sistema que não faz trocas nem de matéria nem de energia. Não existe na prática. • Quanto à delimitação: - Descontínuo – Possui limites reais. - Contínuo – Não possui nenhum limite físico; Ex: Nuvens. ➢ Ambiente: É tudo que envolve e potencialmente pode interagir e interferir no sistema. É ilimitado, comparando-se com o sistema. Em uma situação onde temos uma garrafa com uma pedra de gelo dentro, que se transforma em água líquida após determinado tempo, temos que a garrafa é um sistema fechado (pois trocou apenas energia térmica com o ambiente) e descontínuo (pois possui uma delimitação real e física), enquanto todo espaço externo à garrafa é o ambiente. LEIS DA TERMODINÂMICA • 1ª Lei da Termodinâmica - Principio da Conservação de energia. “Um sistema não pode criar ou consumir energia, mas apenas armazená-la ou transferi-la ao meio onde se encontra”. "A energia do Universo é constante em energia". • 2º Lei da Termodinâmica - "A quantidade de entropia de qualquer sistema isolado termodinamicamente tende a incrementar-se com o tempo, até alcançar um valor máximo". Energia, espontaneamente sempre se desloca de níveis mais altos para níveis mais baixos. Entretanto, o caminho inverso é possível. ➢ Energia livre (ΔG): Energia que serve para realizar trabalho. ➢ Máximo de entropia (SMÁX): Nenhuma energia livre (morte). ➢ Variação de entropia (ΔS): SFINAL – SINICIAL Consideramos, portanto, a entropia POSITIVA quando o grau de desordem do sistema ao tempo final é maior do que ao tempo inicial. A entropia se trata do grau de desordem de um sistema, e isso não se refere necessariamente ao senso comum, mas sim a um aumento do estados acessíveis a uma molécula. Para exemplificar, quando você 2 espirra um spray aerossol, você está aumentando as possibilidades de movimentação das moléculas em relação ao estado anterior, então é possível afirmar que se aumentou o estado de desordem, logo, aumentou a entropia. Outro exemplo clássico é o derretimento de gelo para o estado líquido. Na primeira situação, as moléculas estão agrupadas e bem organizadas, como é característico do estado sólido. Quando ocorre o derretimento, as moléculas ficam mais espaçadas e desorganizadas em relação ao sistema anterior, e por isso podemos afirmar que a entropia aumentou. Sempre que temos um aumento da entropia podemos dizer que se trata de um evento ESPONTÂNEO, pois entende-se que naturalmente a entropia sempre tende a aumentar, tendendo ao máximo. Quando ocorre uma diminuição da entropia, é por que houve alguma aplicação de energia exógena. Portanto, podemos afirmar que a energia sempre tende a passar de uma forma mais organizada para uma forma menos organizada, diminuído a energia livre para realização de trabalho, uma vez que quanto maior o nível de desordem de um sistema, maior será a quantidade de energia que não conseguiremos transformar em trabalho. Por fim, o máximo de entropia corresponde à nenhuma disponibilidade de energia livre. ENTALPIA (H) A energia que fica armazenada nas substâncias, submetida a uma pressão constante, damos o nome de entalpia (H). Em uma reação o calor (energia) de cada substância é transformado, sendo liberado (exotérmica) ou absorvido (endotérmica). ➢ Reação Exotérmica: a entalpia dos reagentes será maior que a dos produtos; ➢ Reação Endotérmica: a entalpia dos produtos será maior que a dos reagentes. Variação de entalpia é representada por “ΔH”. ENERGIA LIVRE (G) Pode ser considerada, de certa forma, a “energia útil” ➢ Processos ou mudanças que liberam energia capaz de realizar trabalho: Exergônicos (-ΔG); ➢ Processos ou mudanças que consomem energia: Endergônicos (+ΔG); ΔG = 0 → indica que o processo está em equilíbrio, sem gasto ou consumo de energia, e com o máximo de entropia. ➢ Uma reação espontânea é caracterizada pela perda de Energia Livre. Processos ou mudanças com ΔG negativo ocorrem espontaneamente. Processos ou mudanças com ΔG positivo só ocorrem se receberem energia. O que define a espontaneidade da reação é a liberação ou consumo de Energia Livre e não de calor. 2 - MEMBRANAS BIOLÓGICAS CONCEITO As membranas biológicas são estruturas dinâmicas e desempenham suas funções fisiológicas vitais, permitindo que as células interajam umas com as outras e com as moléculas de seu ambiente. Como já visto, sistema é definido como sendo uma porção limitada do todo. A célula então, é um sistema aberto e descontínuo, isto é, delimitado por uma membrana que trabalha para que a entropia seja baixa, logo, tem caráter ante entrópico. Como vimos anteriormente, a entropia se trata de um conceito cuja tendência natural das moléculas seria migrar para um estado mais desorganizado, isto é, com maior disponibilidade de movimentação possível (fluxo natural do meio hipotônico para o hipertônico, por exemplo), mas nem sempre isto ocorre. As membranas regulam quais moléculas e íons podem entrar ou sair de uma célula, caracterizando, assim, uma das suas mais importantes propriedades que é a permeabilidade seletiva. Deste modo, muitas vezes mantém gradientes de concentração diferentes no meio intra e extracelular, o que 3 garante o bom funcionamento de suas funções vitais, caracterizando seu trabalho ante entrópico. O atual modelo que explica a organização dos elementos que constituem as membranas é o modelo de mosaico fluido. As membranas são constituídas em torno de 40% de fosfolipídios, que formam uma bicamada e 60% de proteínas. Associados a estes componentes, temos glicoproteínas e glicolipídeos. É importante ressaltar que só existem carboidratos na face externa da membrana, o que reforça a importância da assimetria da membrana, isto é, diferentes composições entre as camadas citosólica e externa. O dinamismo da membrana está ligado à Transição de Fase da mesma. Essa transição está atrelada à temperatura e será expressa na forma de fluidez; que tem relação inversamente proporcional à temperatura, possibilitando a mudança de gel para liquido. Podemos exemplificar ao observarmos as células das patas de renas, que ao exporem-se à temperaturas muito baias, tem membranas muito mais fluidas para que não congelem. Com estudos, percebe-se que as mesmas possuem fosfolipídios com cadeias mais curtase insaturações do tipo CIS, assim como células de rãs, que por não controlarem a temperatura corporal necessitam dessas disposições químicas dos seus componentes para auxiliar na troca de temperatura. FOSFOLIPIDIOS São moléculas estruturais da membrana, anfipáticas, isto é, tem uma cabeça polar ( que reage eletrostaticamente com a água e meios aquosos, em geral) e uma cauda apolar ( que interagem através de forças superficiais, que mais fortes são de acordo com a superfície de contato). São quatro os Fosfolipídios encontrados na membrana, sendo o fator diferencial entre eles, a base nitrogenada que os compõe. São eles: Fosfatidiletanolamina, Fosfatidilserina (-), Fosfatidilcolina e Fosfatidiltreonina. Na imagem abaixo podemos ver que a maior concentração de Fosfatidilserina, fosfolipídio negativamente carregado, é na face citosólica, reforçando a diferença de d.d.p de Potencial de Repouso que vamos ver mais à frente. Os ácidos graxos que compõem os lipídios da bicamada podem ser saturados ou insaturados; os insaturados possuem dupla ligações, o que provoca dobraduras na longa cadeia do Ac. Gx. Ao dobrar, a cadeia se desune um pouco da molécula ao lado, provocando um aumento de fluidez e maior permeabilidade. COLESTEROL Existe na membrana até uma molécula de colesterol para cada molécula de fosfolipídio, preenchendo os espaços entre moléculas de fosfolipídios vizinhas. Tem a principal função de enrijecer a bicamada lipídica e torna-la menos fluida e permeável à substancias hidrofílicas. Essa capacidade de diminuir a fluidez se dá, pois, os anéis que constituem a molécula são planos e rígidos. MOBILIDADE DOS LIPIDIOS Existem diversos movimentos dos lipídios na membrana, uma vez que a mesma é dinâmica e fluida. Podem girar em torno do próprio eixo, realizar movimentos laterais e até mesmo trocar de face. Estes movimentos são importantes pelo fato de a síntese lipídica ocorrer na metade citosólica da bicamada do REL, existe a necessidade de um mecanismo que transfira algumas das moléculas fosfolipídicas recém- formadas à lâmina do lúmen da bicamada, para serem transportadas à membrana. No RE, os 4 fosfolipídios equilibram-se através da membrana em minutos, o que é quase cem mil vezes mais rápido que o “flip-flop” (retorno) espontâneo. Esse movimento transbicamada rápido é mediado por um translocador de fosfolipídios denominado embaralhador (scramblase) que equilibra fosfolipídios entre as duas lâminas da bicamada lipídica do Retículo. A membrana plasmática contém um tipo diferente de translocador fosfolipídico que pertence à família de transportadores de absorção do tipo P. Essas flipases removem especificamente fosfolipídios contendo grupos amino livres (fosfatidilserina e fosfatidiletanolamina) da lâmina extracelular e utilizam a energia de hidrólise de ATP para movê- los direcionalmente à lâmina citosólica. A membrana plasmática, portanto, apresenta uma composição fosfolipídica altamente assimétrica, que é ativamente mantida por flipases. A membrana plasmática também contém um misturador, mas, em contraste com o misturador do RE, que é sempre ativo, a enzima da membrana plasmática é regulada e ativada apenas em algumas situações, como em apoptose e em plaquetas ativadas, onde age para cancelar a assimetria lipídica; a exposição resultante de fosfatidilserina na superfície de células apoptóticas serve como um sinal para células fagocíticas ingerirem e degradarem a célula morta. PROTEÍNAS Na membrana plasmática também encontramos inúmeras proteínas mergulhadas na dupla camada de lipídios, as quais, devido a fluidez da membrana, deslocam-se facilmente pela membrana. Estas proteínas também possuem regiões hidrofílicas e hidrofóbicas, de tal forma que a região hidrofóbica das proteínas fica no mesmo nível da região hidrofóbica dos lipídios. O mesmo ocorre com as regiões hidrofílicas dos lipídios e das proteínas. Há diversos tipos de proteínas inseridas na membrana, cada uma com uma função específica. Podemos dividir as proteínas de membrana em dois grandes grupos: 1 - Proteínas integrais ou intrínsecas: Estão totalmente inseridas dentro da membrana. Quando uma proteína intrínseca atravessa toda a espessura da membrana, expondo sua porção hidrofílica tanto no meio externo quanto no citoplasma, dizemos que esse é uma proteína transmembrana. Aproximadamente 70% das proteínas da membrana pertencem ao grupo das integrais, com diversas funções como: proteínas transportadoras, receptores, marcadores de membrana e enzimas da membrana. 2 - Proteínas periféricas ou extrínsecas: prendem-se à membrana através da interação de sua região hidrofílica com a região hidrofílica dos lipídios. Não estão totalmente inseridas dentro da membrana, ficando presas na face hidrofílica da camada lipídica ou das proteínas integrais da membrana. Essas proteínas podem se fixar tanto na face externa (voltada para o meio extracelular) da membrana quanto na face interna (voltada para o citoplasma). As glicoproteínas são Proteínas associadas à moléculas de Açúcar que se encontram na face citosólica da membrana. Algumas glicoproteínas formam o glicocálix, camada externa à membrana, disforme, que possui a função de receptor, reconhecimento célula-célula, absorção de água, adesão e proteção mecânica e química. Além disso, também caracterizam o grupo sanguíneo M/N. 3 - TRANSPORTE TRANSMEMBRANA O transporte de substâncias através da membrana é um processo tão comum quanto importante, sendo cada molécula/substância regulada de acordo com diversos fatores. Este transporte pode se dar de forma passiva ou ativa. No caso do transporte passivo não há gasto de energia, logo, o ΔG é negativo, já no transporte ativo se trata de um processo que requer gasto de energia, logo, o ΔG é POSITIVO (Ver Pág. 2). O que define a espontaneidade de um processo é a entropia. Se há espontaneidade, não há necessidade de realizar trabalho para que o processo ocorra. Quando falamos de processos espontâneos, estamos nos referindo a um aumento de entropia, isto é, diminuição da energia livre (- ΔG). Para as diferentes substâncias entrarem ou saírem da célula é necessário que elas atravessem a membrana celular. A capacidade de permitir o transporte de substâncias faz da membrana plasmática uma importante estrutura reguladora da composição química da célula, uma vez que ao 5 eliminar as substâncias indesejadas e as que estão em excesso, garante a constância química e o equilíbrio meio interno da célula. TRANSPORTE PASSIVO 1- DIFUSÃO SIMPLES: É, por definição, um processo físico onde as partículas movem-se do meio onde estão mais concentradas para o meio que estão menos concentradas até que o sistema entre em equilíbrio e a concentração da substância se iguale em ambos os meios. Em suma, podemos dizer que a difusão é um processo que visa isotonia e ocorre devido o movimento aleatórios das moléculas, fruto da energia cinética que possuem. As substâncias que fazem difusão pela membrana são, em sua maioria, gases como O2, N2, CH4 e CO2. Vale lembrar que o Oxigênio e Dióxido de Carbono perpassam a membrana com grande facilidade devido ao fato de serem lipossolúveis, isto é, terem afinidade apolar, conseguindo passar sem serem repelidos pela porção apolar da bicamada. 2- DIFUSÃO FACILITADA: A difusão facilitada é o transporte passivo de substâncias pela membrana plasmática, sem gasto de energia metabólica da célula, que permite a passagem de íons e substâncias em favor do seu gradiente, através da específica mediação de proteínas transportadoras, enzimas carreadoras ou permeases existentes ao longo da membrana plasmática. Além da água, que possui umcanal específico para sua difusão, diversos íons se difundem na membrana por transporte passivo e, como vimos antes, a maioria das proteínas de canal presentes na membrana plasmática das células que conectam o meio intracelular ao meio extracelular possui poros estreitos fortemente seletivos, que podem abrir e fechar e são envolvidos de modo específico com o transporte de íons inorgânicos. A essas proteínas dá-se o nome de canais iônicos. Estes canais possuem propriedades importantes, como: - Seletividade: que depende muito de fatores como tamanho do canal (se ele corresponde com o tamanho do íon transportado) e carga (caso seja um canal de Sódio, que é um cátion, os aminoácidos que compõem este canal protéico devem ser negativamente carregados, por exemplo) - Condução iônica: ou seja, elevada condutância que permite um fluxo muito intenso de íons, permitindo que se gere potenciais de ação; e a - Capacidade de abrir e fechar: Estes canais abrem e fecham de acordo com estímulos, físicos, químicos, eletromagnéticos, mecânicos, entre outros. Canais que permitem a passagem direta de íons são chamados Canais Abertos. Temos, entre os mais importantes, então: - Canais Ligante-Dependente: Os canais iônicos controlados por transmissores ou ligantes são especializados em converter os sinais químicos extracelulares em sinais elétricos. Estão concentrados na membrana plasmática da célula pós-sináptica e abrem-se temporariamente em resposta à ligação de moléculas neurotransmissoras, produzindo assim, uma breve mudança de permeabilidade da membrana. - Canais Voltagem-Dependente: Os canais regulados por voltagem abrem-se, em sua maioria, quando a membrana celular é despolarizada. Formam um grupo muito importante, visto que constituem a base do mecanismo de excitabilidade da membrana. Os canais mais importantes desse grupo são os canais seletivos de sódio, potássio ou cálcio. Em geral, a abertura (ativação) do canal, induzida pela despolarização da membrana, é de curta duração, mesmo quando a despolarização é mantida. Isso se deve ao fato de que, em alguns canais, a ativação inicial do canal é seguida de um processo mais lento de inativação. TRANSPORTE ATIVO No transporte ativo, o fluxo se dá contra o gradiente de concentração, isto é, o movimento de substâncias através da membrana ocorre do meio com menor concentração para o meio com maior concentração, ao contrário do 6 que ocorre no processo de difusão. Este processo exige sempre a participação de uma proteína transportadora que garante o movimento de substâncias contra o gradiente de concentração, o que requer ATP. Os transportadores ativos podem ser primários (usam da energia diretamente de uma molécula de ATP) ou secundários (usando da energia de um gradiente gerado por um transporte primário). O transporte ativo ocorre através de mecanismos chamados bombas iônicas (em contraste com o termo “canal” utilizado para se referir ao transporte passivo), sendo o mais conhecido a Bomba Na+/K+. Se trata de uma proteína transmembrana responsável por levar sódio para fora e trazer potássio para dentro das células animais. Na sua conformação inicial, a Bomba Na+/K+ está em seu estado desfosforilado, tem uma alta afinidade pelo sódio e exibe em sua porção intracelular três sítios para ligação íons Na+ e dois sítios para ligação de íons K+. Após a ligação dos íons Na+ aos seus respectivos sítio, a bomba Na/K sofre fosforilação, recebendo uma molécula de fosfato oriunda da quebra do ATP (trifosfato de adenosina) em ADP (difosfato de adenosina). Após ser fosforilada, a bomba Na/K muda sua conformação espacial, expondo os sítios de ligação do sódio ao meio extracelular; além disso, a bomba fosforilada, dimunui a afinidade pelo sódio e aumenta a afinidade pelo potássio. Assim, ocorre liberação do sódio para o meio extracelular e captação de dois íons K+ através de dois sítios específicos para esse soluto. O próximo passo a ocorrer é a desfosforilação da bomba, ou seja, a molécula de fosfato destaca-se da bomba Na/K, fazendo-a mudar novamente de conformação, deixando os sítios de ligação do K+ e do Na+ voltados para o meio intracelular. A desfosforilação deixa a bomba com menor afinidade ao K e maior afinidade ao Na, consequentemente, há liberação do potássio para o interior da célula e ligação de três novos íons aos seus sítios específicos, refazendo todo o processo acima descrito. A bomba Na/K é um exemplo de transporte que causa desequilíbrio de cargas elétricas pois há o movimento de cargas positivas na taxa de 3:2, gerando assim uma diferença de cargas entre a face interna e externa da membrana, com a face externa positiva uma vez que foram transportados 3 íons positivos para fora e apenas 2 íons positivos pra dentro. Esses tipos de bombas, que geram desequilíbrios de cargas elétricas, são chamadas de eletrogênicas. 4- POTENCIAIS TRANSMEMBRANA POTENCIAL DE REPOUSO Sabemos que a membrana é de uma composição rica e que seleciona através de diversos mecanismos as substâncias que entram ou saem da célula. É comum ouvir que a natureza sempre busca ao “equilíbrio”, entretanto este conceito se modifica bastante quando vemos que existem certos “desequilíbrios” que são vitais, o caráter ante entrópico que já discursamos acima. Manter concentrações desiguais de determinados íons possibilita a realização de diversas funções metabólicas celulares, por exemplo. As membranas das células vivas estão submetidas a uma diferença de potencial elétrico (d.d.p) entre as suas superfícies externa e interna, sendo a face extracelular mais positiva em relação à intracelular. São quatro os fatores que, somados, reforçam esta diferença de potencial: 1) A maioria dos elementos dentro da célula estão na forma ionizada, incluindo as proteínas, que em sua maioria estão aniônicas, por conta do meio aquoso. Isto reforça a maior concentração de carga negativa no interior da célula. 2) Ocorre uma assimetria lipídica: a composição qualitativa da camada interna e externa de fosfolipídios na membrana também reforça a diferença de concentração, visto que a camada interna é mais eletronegativa, como exposto anteriormente em “Membranas Biológicas”; 4) A Bomba Na/K realiza transporte ativo de 2 moléculas de Na+ para cada 3 de Potássio K+, o que gera uma diferença de potencial média de - 4mV. 7 Este potencial somado resulta em -90mV, sendo considerado um Potencial de Repouso pois não corresponde a nenhum estímulo ou ação metabólica da célula. Este potencial é de uma célula modelo, visto que pode variar dependendo do tipo celular. POTENCIAL DE AÇÃO Para demonstrar o processo, utiliza-se como modelo uma célula nervosa, portanto os valores aqui explicitados correspondem a esta e podem variar de acordo com o tipo celular em questão. O processo se inicia no momento em que um Canal para Na+ Acetilcolina Dependente (canal de transporte passivo do tipo ativado por ligante), número 1 no esquema, percebe o estímulo do neurotransmissor e permite a entrada de sódio para o meio intracelular. A entrada do íon diminui a diferença de potencial (d.d.p) de -90mV para - 60mV, valor conhecido como limiar de excitação. Este primeiro processo é dependente do neurotransmissor e tem como função diminuir a d.d.p até que se alcance o limiar. Esta voltagem específica é importante, pois só ao alcança- la é possível desencadear o restante do processo, onde o Canal para Na+ Voltagem-Dependente permitirá uma entrada muito grande de sódio, levando o potencial de ação à +35mV. Este canal, o número 2 do esquema, possui duas comportas, a de ativação e inativação. Portanto, a diferença é sutil, mas importante: quando a comporta de ativação estáfechada, diz-se que o canal está FECHADO e quando a comporta de inativação está fechada, diz-se que o canal está INATIVADO. Seu funcionamento é simples e ambas as comportas são ativadas pelo limiar de excitação, entretanto, o espaço de tempo que existe entre a comporta de ativação abrir e a de inativação fechar ocorre graças à uma diferença de velocidade entre ambas, sendo a segunda mais lenta que a primeira, e isso que garante um espaço de tempo onde o canal estará aberto para a entrada de Na+. Este espaço de tempo é chamado de período refratário. Tão rápido quanto o surgimento do potencial de ação deve ser o seu desaparecimento, pois caso persista pode causar danos metabólicos à célula. O restabelecimento da condição elétrica, ou seja, o equilíbrio das cargas, se dá pela ação do Canal para K+ Voltagem-Dependente, que permite a saída de potássio da célula. Este é o fim do processo e depois dele, uma bomba de sódio e potássio restabelece a concentração iônica por transporte ativo. Em resumo, temos o gráfico ao lado que representa as fases acima explicadas. Repare na velocidade do processo, que se realiza num tempo de 3 ms, uma vez que se trata de uma transmissão nervosa. O processo de “ida” ao valor de +35 é chamado de DESPOLARIZAÇÃO, pois é o momento que ocorre uma entrada de sódio muito intensa na célula, fazendo com que a membrana se despolarize em relação ao estágio de repouso. A REPOLARIZAÇÃO é a volta de +35 a -30, quando ocorre a saída intensa de K+. Resumindo: 1 – Canal para Sódio Acetilcolina-Dependente 8 > Função: Fazer que entre Na+ até que se chegue à d.d.p correspondente ao Limiar de Excitação. > Tipo de transporte: Passivo > Tipo de Canal: Ligante-Dependente > Íon transportado: Sódio 2 – Canal para Sódio Voltagem-Dependente > Função: Fazer que entre Na+ de forma rápida até que se atinja o Potencial de Ação. > Tipo de transporte: Passivo > Tipo de Canal: Voltagem-Dependente (-60) > Íon transportado: Sódio 3 – Canal para Potássio Voltagem- Dependente > Função: Fazer que saia potássio da célula suficiente para restabelecer a condição elétrica. > Tipo de transporte: Passivo > Tipo de Canal: Voltagem-Dependente (-60) > Íon transportado: Potássio 5 – BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO A célula muscular é conhecida como Sarcômero, que possuem morfologia alongada, sendo a unidade básica de contração. Juntas formam fibras musculares, que formam feixes. Por ser um tecido que demanda muita energia e resposta muito rápida aos estímulos nervosos, tem uma fisiologia e fisionomia muito específica, a qual vamos esmiuçar a seguir: 1 – Sarcolema: membrana do Sarcômero, que em diversos pontos possui invaginações, os Túbulos Transversos, conhecidos como Túbulos T. Estas invaginações são responsáveis por transmitir o Potencial de Ação ao espaço intracelular para gerar a despolarização. 2 – Retículo Sarcoplasmático: É similar ao retículo endoplasmático das demais células. Possui função análoga de estoque intracelular de Ca++, realizando trocas com o sarcoplasma (análogo ao citoplasma das outras células) para efetivar a contração e relaxamento. Se funde terminalmente formando uma cisterna, que se comunica bilateralmente com os túbulos T, formando a tríade. Essa estrutura, somente encontrada na musculatura estriada esquelética, é o que permite que haja um acoplamento entre os processos de excitação e contração. Resumidamente chamamos a tríade do M.E.E de CT+TT+CT. FILAMENTOS CONTRÁTEIS 1) Filamentos Grossos: Formados em maioria por miosina, uma proteína hexamétrica formada por 6 subunidades. As cabeças da miosina ficam voltadas para fora e tem atividade ATPase, sendo fundamentais no processo de contração. Cada cabeça possui um par de proteínas: LC1 e LC2. A primeira é de importância estrutural, para manter a forma globular da cabeça da miosina, evitando que se forme uma extremidade helicoidal. A LC2 é a reguladora da atividade ATPasica da cabeça da miosina, pois ela ativa ou inativa esta função dependendo da disponibilidade de Ca++. Normalmente na cabeça da miosina ficam ligadas moléculas de ATP, que são altamente energéticas e, por isso, as deixam altamente tensionadas. Esta ligação por si só não é capaz de gerar o movimento de contração, mas quando ativada, a LC2 regula positivamente a hidrólise de ATP, mudando a conformação da cabeça de miosina e permitindo a ligação com o filamento de fino, de actina. O filamento grosso também é formado pela proteína Titina, que tem a função de fixa-lo à linha Z. 2) Filamentos Finos Formado principalmente por Actina, proteína globular (Actina G) que pode se 9 polimerizar e formar um filamento (Actina F). Além disso, os filamentos finos também são formados de Nebulina, proteína que fixa e organiza os filamentos de Actina F, prendendo-os na linha Z; Tropomiosina, que se distende pelo filamento de actina, recobrindo-o; e o Complexo Troponina, que se localiza nos espaços entre os filamentos de tropomiosina, que recobrem exatamente 7 moléculas de Actina G, chamados de goteira. Consiste em três tipos proteicos com funções específicas: ➢ TnT – Liga o complexo troponina às tropomiosina que a cercam, tendo uma função coesiva. ➢ TnC – Possui quatro sítios de ligação para Ca+2, dois de alta e dois de baixa afinidade. Os sítios de alta afinidade conseguem ligar-se aos íons mesmo quando estes estão em baixa concentração no sarcoplasma, mas os de baixa afinidade só o fazem quando as concentrações no sarcoplasma estão elevadas (ver “Processo Contrátil” a seguir); ➢ TnI – Inibe a ligação entre a actina e a cabeça da miosina através de um impedimento estérico. PROCESSO CONTRÁTIL Se inicia quando na placa motora, junção neuromuscular ou mioneural, ocorre a liberação do neurotransmissor Ach (Acetilcolina), que se ligam aos canais para Na+ Ach-dependente, levando o d.d.p de -90 até -60mV, abrindo os canais para Na+ V.D, levando o d.d.p a +35 (processo de despolarização). Neste passo, ressaltamos a importância da tríade, pois pela proximidade física entre o Túbulo T e a Cisterna Terminal, este potencial de ação consegue despolarizar também a membrana do retículo sarcoplasmático, gerando a abertura dos canais de Ca++, permitindo que ele passe para o meio sarcoplasmático. Todo Ca++ envolvido na contração do músculo esquelético é intracelular; Com o aumento da concentração de Ca+2 no sarcoplasma, decorrem alguns eventos: - Os dois sítios de baixa afinidade da TnC são ocupados, gerando uma mudança na sua conformação, que faz ele deixar de recobrir a actina. - A LC2 é ativada, disparando a atividade ATPase da cabeça da miosina, que realiza hidrólise do ATP. No decorrer da quebra desta molécula, que é gradativa, a miosina perde um pouco do seu estado altamente energético e tensionado, deixando-a na posição correta para ligar-se a actina. Lembrando que a hidrólise ocorre, mas nem o Fosfato Inorgânico (Pi), nem o ADP se desligam da cabeça da miosina. - Quando ocorre a ligação entre Miosina e Actina (M+A), há uma perda de afinidade progressiva pela molécula de fosfato, que finalmente se desliga, levando a uma perda do estado tencionado, gerando uma inclinação de 45º. - Quando, no decorrer dessa perda de afinidade, o ADP se desliga, a inclinação aumenta em 5°, totalizando 50° de inclinação. Desta forma, há uma sobreposição total dos filamentos de miosina e actina. Este processo ocorrendo simultaneamente em todos os sarcômeros de determinada região culmina na contração muscular. RELAXAMENTO MUSCULAR Antes do relaxamento muscular, cessa o estimulo nervoso, com consequente retorno dos potenciais ao seu nívelde repouso, em todo o sarcolema e sistema T; isto acarreta também a inativação da ação elétrica sobre o retículo 10 sarcoplasmático. Cessada esta ação, o cálcio é rapidamente removido do sarcoplasma em direção ao interior do retículo sarcoplasmático, através de processo ativo, por uma ATPase situada na membrana do reticulo. Como a concentração de cálcio diminui através deste transporte, tanto os sítios de baixa afinidade da TnC quanto a LC2 da cabeça da miosina regulam negativamente a interação entre M+A. Quando estas se dissociam, rapidamente uma molécula livre de ATP se liga à cabeça da miosina. Vale lembrar que somente a presença de cálcio ativa sua hidrólise, então isso só ocorrerá caso o processo contrátil esteja em andamento. Com a molécula de ATP ligada à cabeça da miosina, ela revolve ao seu estado altamente tensionado, não havendo mais posicionamento para miosina se associar à actina. RIGOR MORTIS Quando um indivíduo morre, o primeiro sistema a se degenerar é o Nervoso. Desta forma, os movimentos imediatamente após a morte são descoordenados e propagados aos músculos sem que haja finalidade. O processo de contração ocorre, mas não consegue ser procedida de um relaxamento, pois o maquinário de transporte ativo está morto e a produção de ATP também cessa por este motivo. Dependendo da temperatura a qual o cadáver está exposto, há um aparente relaxamento, mas na verdade se trata do processo de decomposição, que provoca rompimento de lisossomos e liberação de enzimas proteolíticas que degradam as proteínas contrateis (miosina e actina, majoritariamente), desfazendo o complexo contraído. Portanto, é errado afirmar que houve um relaxamento após a morte, pois o termo certo é decomposição. Por esse motivo, em locais de abate animal, os processamentos cárneos devem ser feitos em câmaras frias. As carnes maturadas são processadas, embaladas à vácuo e expostas a temperaturas que iniciam o processo de decomposição através das enzimas proteolíticas lisossomais, dissolvendo as proteínas contráteis e deixando a carne mais macia. Entretanto, este processo deve ser muito rigorosamente controlado para evitar que microrganismos anaeróbicos como clostridium botullinium se proliferem no ambiente do vácuo. Esta rigorosidade acaba encarecendo o produto. A relação entre tensão e comprimento da musculatura se dá da seguinte forma: 6 – BIOFÍSICA DA CONTRAÇÃO DO MÚSCULO CARDÍACO ANATOMIA DO CORAÇÃO O coração é um órgão vital, localizado no mediastino (região acima do diafragma, entre os dois pulmões, anterior ao esterno), responsável por bombear o sangue que percorre todo o nosso corpo. Tem uma estrutura complexa que coordena os seus movimentos sistólicos e diastólicos e células altamente especializadas. Está envolvido em dois sistemas de circulação, conhecido como a pequena e a grande circulação, entre pulmão e coração e rede corporal e coração, respectivamente. Por lidar tanto com sangue oxigenado quanto com sangue rico em CO2, o coração tem um sistema de cavidades (atriais e ventriculares) e válvulas muito bem desenvolvidos. Na metade direita do coração, só circula sangue venoso; na esquerda, arterial. O sangue que circula em uma face não se mistura com o da outra pois são separados pelos septos interventricular e interatrial. 11 FUNCIONAMENTO O sangue pobre em oxigênio chega ao coração chega através das duas veias cavas, superior e inferior, e desembocam no Átrio Direito. Por conseguinte, o sangue desce em direção ao ventrículo direito, que no momento de sua sístole, bombeia o sangue para os pulmões através do Tronco Pulmonar, que ao se bifurcar forma duas artérias pulmonares, uma em destino ao pulmão direito e outra ao esquerdo. Apesar de ser chamada de artéria pulmonar, o sangue que corre por ela é pobre em oxigênio, por isso é representada em azul como as veias. Este sangue vai em direção aos pulmões na intenção de oxigenar-se através da hematose pulmonar. Quando este sangue voltar dos pulmões, rico em oxigênio, entrará para o átrio esquerdo através das Veias Pulmonares esquerda e direita. Do AE, o sangue desce para o Ventrículo Esquerdo, que bombeará sangue para todo o corpo através da Artéria Aorta. A pequena circulação ocorre simultânea à circulação sistêmica (ou grande circulação). Em resumo: CORPO > Veia Cava > AD > VD > Artérias Pulmonares > PULMÕES > Veias Pulmonares > AE > VE > Artéria Aorta > CORPO. O sangue que é utilizado na circulação coronária, isto é, irrigação sanguínea do coração para fornecer nutrientes e oxigênio aos músculos cardíacos percorre pelas veias e artérias coronárias. Por dentro do coração, mais especificamente no Átrio Direito, podemos observar uma abertura que corresponde ao Seio Coronário. Ali, desemboca o sangue pobre em oxigênio da circulação coronária que se mistura com o sangue pobre em oxigênio da circulação sistêmica. O sangue que alimenta a circulação coronária partem de duas ramificações da Artéria Aorta. É possível observar também que a musculatura presente no Ventrículo Esquerdo é muito mais densa e potente do que a do Direito. Isto ocorre, pois, esta câmara é a responsável por bombear o sangue para todo o corpo, necessitando ser bem mais forte. VÁLVULAS CARDÍACAS São 4 as válvulas envolvidas no fluxo de sangue dentro do coração: ➢ Valva Tricúspide: entre o AD e VD, com a função de impedir o retorno de sangue do Ventrículo para o Átrio, direcionando o fluxo para o Tronco Pulmonar. ➢ Valva Mitral (ou bicúspide): Entre o AE e VE, com a função de impedir o retorno de sangue do Ventrículo para o Átrio, direcionando o fluxo para a Artéria Aorta. ➢ Valva do Tronco Pulmonar e Valva Aórtica: garantem que o fluxo de sangue seja unidirecional. FIBRAS ESPECIALIZADAS ➢ (1) Nodo Sinusal (NSA): É o conjunto de células especializadas de onde partem os impulsos, a cada ciclo, que se distribuem por todo o restante do coração; pode ser considerado o marca- passo natural. Localiza-se na parede lateral do átrio direito, próximo à abertura da veia cava superior. A cada despolarização, forma-se uma onda de impulso, que se distribui, a partir deste nodo, por toda a massa muscular que forma o pseudosincício atrial, provocando a contração do mesmo, por aumento da concentração citoplasmática de cálcio. Cerca de 0,04 segundos após a partida do impulso do nodo SA, através de fibras denominadas intermodais, o impulso chega ao NAV. ➢ (2) Nodo Atrio-Ventricular (NAV): Este nodo, localizado em uma região bem baixa do sincício atrial, tem por função principal retardar a passagem do impulso antes que o mesmo atinja o sincício ventricular. Isto é necessário para que o enchimento das câmaras ventriculares ocorra antes da contração das mesmas, pois, no momento em que as câmaras atriais estariam em sístole (contraídas), as ventriculares ainda estariam em diástole (relaxadas). Após a passagem, lenta, através do NAV, o impulso segue em frente e atinge o feixe AV. ➢ (3) Feixe AV: via de propagação do impulso distribuído pelos Nodos. ➢ (4) Ramos Direito e Esquerdo do Feixe de Hiss-Purkinge: Através destes ramos, paralelamente, o impulso segue com grande rapidez em direção ao ápice do coração, acompanhando o septo interventricular. Cada ramo emite uma grande quantidade de ramificações, as fibras de Purkinje, 12 que têm por finalidade otimizar a chegada dos impulsos, através da maior quantidade possível, e no mais curto espaço de tempo possível, por todo o sincício ventricular. Com a chegada dos impulsos no sincício ventricular, rapidamente e com uma grande força, ocorre a contração de todas as suas fibras. Por isso, é necessário que o impulso consiga chegar à toda extensão dos ventrículos: paraque o potencial de ação consiga atingir toda a musculatura e a contração ocorra de forma unitária. A contração das câmaras ventriculares reduz acentuadamente o volume das mesmas, o que faz com que um considerável volume de sangue seja ejetado, garantindo o “bombeamento do sangue”. CÉLULA MUSCULAR As células musculares do coração são estriadas como as do músculo esquelético, entretanto possuem algumas especificidades que devem ser observadas: - Na delimitação entre as células é encontrada uma região mais escurecida ao microscópio, os discos intercalares. Se tratam de canais protéicos formados pela proteína Conexina. Esta proteína tubular se aglomera em um total de 6 para formar um canal, chamado de Conéxon. O conéxon de uma célula se alinha com o de outra formando um canal intercelular. Este, permite uma passagem praticamente livre de íons Na+, Ca++ e K+, por isso funciona como um sincício1, apesar de não ser morfologicamente um. A quantidade de canais intercelulares é muito grande, a ponto de ser vista como uma linha densa ao microscópio ótico. 1 Massa multinucleada de citoplasma formada pela fusão de células originalmente separadas CONTRAÇÃO CARDÍACA O potencial de ação no coração é gerado no Nodo Sinusal (NSA). As células que compõem este nodo têm um Potencial de Repouso próximo à -65 mV e um Limiar de Excitação de -60mV. Entretanto, o valor de potencial de repouso não é estático, mas varia em uma pequena faixa em função do transporte constante e natural de íons pela membrana. Por isso, o Limiar de Excitação nas células no Nodo Sinusal é atingido de forma espontânea, sem o estímulo de neurotransmissores; por esse motivo, entendemos que a musculatura contrátil do coração é “independente” do SNC. Portanto, o canal para Na+ VD nas células do Nodo Sinusal estão sempre inativas, pois o processo de despolarização e repolarização no coração ocorrem em outra escala de tempo, mais lenta, para que o potencial de ação consiga ser propagado para toda extensão do tecido e a contração ocorra de forma unitária. Caso contrário ocorre o que chamamos de fibrilação cardíaca. Uma vez alcançado o limiar de excitação espontaneamente no NSA, o Canal para Cálcio Voltagem- Dependente se abre e dá início ao processo de despolarização, que é lento. Seu canal antagônico, o Canal para Potássio Voltagem-Dependente é ativado pelo mesmo estímulo, mas só se abre após o fechamento do canal para Ca++VD. Esta despolarização mais lenta provocada pelo Potencial de Ação gerado no NSA se propaga pela região atrial e provoca sua contração, simultaneamente à chegada do estímulo ao Nodo Atrioventricular (NAV). Quando ele começa a distribuir o P.A pela região ventricular, os átrios já começam o processo de repolarização, que resulta em sua diástole. O NAV não gera um novo P.A, mas apenas distribui aquele gerado no NSA. Este estímulo distribuído tanto na região atrial quanto na ventricular pelas células excitatórias atinge as células contráteis, que assim como o músculo esquelético, possuem um Potencial de Repouso (PR) de -90mV. Quando Ca++ K+ 13 recebem o estímulo propagado pelas Fibras de Purkinge, já atingem o seu limiar de excitação, ativando seus Canais para Sódio Voltagem- Dependente. Desta maneira, há um pico de d.d.p, pois este canal é de abertura rápida e permite a entrada de uma grande quantidade de Sódio. Ativados pelo mesmo estímulo, o canal de Potássio VD é aberto rapidamente, gerando uma repolarização temporária, conhecida como Spike. Entretanto, também ativada pela mesma voltagem, abre-se o canal antagônico a este, mas lento: o Canal de Cálcio VD, provocando seu fechamento. Como este é lento em sua abertura, forma-se uma região relativamente plana onde a entrada de cálcio também é lenta, conhecida como Platô. Quando este fecha, o canal de potássio reabre repolarizando a célula. Percebamos que há dois momentos distintos de impulso. Um onde o Potencial de Ação é gerado espontaneamente e propagado por células excitatórias (amarelo) e outro onde as células contráteis recebem este estímulo, atingindo seu Limiar de Excitação e através dele gerando o seu Potencial de Ação pela abertura dos canais de Sódio Voltagem-Dependente. Observando o processo dentro da célula, percebemos algumas diferenças em relação ao processo contrátil do Músculo Estriado Esquelético: - O Túbulo T do M. Cardíaco é muito maior e forma uma Díade com a cisterna terminal (CT+TT) - Há canais de Ca++ também na parede do Túbulo T, ou seja, há entrada de cálcio também do líquido extracelular, da região do TT, além do Retículo Sarcoplasmático. Quando o Potencial de Ação atinge a região do Túbulo T, ocorre a entrada de Cálcio do líquido extracelular para o sarcoplasma. Entretanto, a sua quantidade não é suficiente para o processo contrátil, então um Canal para Ca++-Ca++ Dependente localizado na membrana do retículo Sarcoplasmático se abre, liberando mais Cálcio para o sarcoplasma e disparando o processo contrátil. No processo de relaxamento, o Cálcio volta não só para o RS, mas também para o líquido extracelular. Por todo este processo bem particular do coração, temos, por vezes, sinais diferentes de impulso para diferentes tecidos do órgão. O Pericárdio tem um impulso diferente do Endocárdio, por exemplo, pois são tecidos de extensão diferente e, como vimos, a extensão do tecido está diretamente ligada ao processo de contração unitária. K+ Ca++ Na+ K+ 14 7 – CICLO CARDÍACO Os eventos cardíacos que ocorrem no início de cada batimento, até o início do próximo batimento, são chamados de ciclo cardíaco. Cada ciclo tem início quando é gerado um potencial de ação espontâneo no nodo sinusal. Este potencial de ação se propaga pelo átrio direito, atinge o feixe A-V e se encaminha em seguida para os ventrículos. Esta disposição permite um atraso de cerca de 1/10 s na passagem do impulso dos átrios para os ventrículos, permitindo que os átrios se contraiam antes dos ventrículos, e colaborando com o enchimento ventricular antes da sua contração. O ciclo cardíaco consiste de um período de relaxamento, onde o coração se enche de sangue, período este denominado de diástole, seguido de um período de contração, denominado sístole. - Sístole: Fase de Contracção Isovolumétrica: O ventrículo está cheio de sangue e começa a contrair-se. A pressão ventricular é superior à auricular e as válvulas aurículo-ventriculares fecham-se. No entanto a pressão ventricular é inferior à aórtica (no caso do ventrículo esquerdo) e à pulmonar (ventrículo direito), contraindo-se assim sem alteração de volume no seu interior. Esta fase é caracterizada por um aumento brusco de pressão. A contração isovolúmica ou isovolumétrica, caracteriza-se pela contração do ventrículo sem que haja o seu esvaziamento. Fase de expulsão rápida. A pressão no interior do ventrículo esquerdo é maior que a aórtica (classicamente valores acima dos 80 mmHg) abrindo-se a válvula aórtica de modo a que o sangue saia do ventrículo a grande velocidade e pressão. Fase de expulsão lenta. A aorta é uma artéria muito elástica e tem uma grande capacidade de distensão, esta propriedade permite que o fluxo sanguíneo pelo organismo seja continuo. À medida que o sangue entra na aorta esta se distende para acomodar o volume, aumentando, assim, a pressão no seu interior. Deste modo a diferença de pressões entre ventrículo e aorta são cada vez menores, saindo o sangue do ventrículo a cada vez com menor velocidade. Proto-Diástole. É uma fase virtualque separa a sístole da diástole. Em dado momento a pressão aórtica iguala a ventricular não havendo deste modo qualquer ejeção de sangue, embora ainda haja pouco fluxo devido a inércia. Imediatamente após, o ventrículo começa a distender-se dando- se origem à diástole. - Diástole: Fase de Relaxamento Isovolumétrico. Ocorre quando a pressão ventricular é inferior à pressão aórtica (no caso do ventrículo esquerdo) mas superior à pressão auricular, estando assim ambas válvulas fechadas, não havendo variação no volume de sangue dentro do ventrículo. Fase de enchimento rápido. Quando a pressão ventricular por fim se reduz abaixo da pressão atrial, que nesse momento é máxima (ápice da onda v da curva de pressão atrial) as válvulas AV se abrem deixando passar um grande fluxo rapidamente em direção ao ventrículo. 70% do enchimento ventricular ocorre nessa fase. Fase de enchimento lento. Também chamado de diástase. Com o enchimento do ventrículo e o fim 15 da fase ativa do relaxamento do músculo cardíaco, ocorre uma desaceleração importante do fluxo. A valvas AV tendem a se fechar passivamente. No momento da desaceleração do fluxo rápido para o fluxo lento é que ocorre o 3º ruído cardíaco. O fluxo do átrio para o ventrículo é bastante reduzido, chegando a quase parar. Sístole atrial. Ocorre a contração atrial. As válvulas AV se abrem, momento em que ocorre a onda A da válvula mitral ao ECO unidimensional e o 4º ruído cardíaco. A sístole atrial pode representar até 20% do volume diastólico final do ventrículo, sendo de grande importância para a manutenção do débito cardíaco nos pacientes que possuam algum tipo de restrição funcional do VE 8 – HEMODINÂMICA Definida como o conjunto de fatores físicos que governam o fluxo sanguíneo. O fluxo sanguíneo, como o fluxo de qualquer líquido, é governado pela lei de Ohm aplicada aos fluidos e pela equação de Bernoulli. A hemodinâmica está interessada em forças geradas pelo coração e o movimento de fluidos através do sistema circulatório. Para analisar o movimento do sangue nas artérias e veias precisamos aplicar o conceito de pressão de um fluido. Alguns conceitos básicos: - Liquido ideal: é o liquido cujo atrito é igual a zero. Se esse liquido é colocado em movimento ele permanecerá em movimento constante. - Liquido real: apresenta atrito maior que zero. - Linha de corrente: é a trajetória das partículas em determinado liquido. - Veia liquida: conjunto de linhas de corrente. Alguns fatores exercem influência na hemodinâmica. São eles: - Velocidade (v) No liquido ideal todas as partículas terão a mesma velocidade (por conta disso não se observa o perfil parabólico), já no liquido real, como há atrito entre as partículas, as linhas de corrente possuem velocidades diferentes, as mais próximas da parede possuem maior atrito, logo, tem uma velocidade menor, mas o fato da diferença de velocidade existir não significa que há a perda da homeostase, isto é, equilíbrio entre as velocidades, uma vez que as velocidades são constantes. - Fluxo (F ou Q) É definido como sendo a razão do volume sobre o tempo. O fluxo sanguíneo em condições normais apresenta um regime estacionário, isso é, um regime constante. Um fator a ser ponderado aqui é a área de secção, expressa pela seguinte equação: F = v (velocidade) x S (área de secção) Quando a área de secção aumenta a velocidade diminui, no entanto, o fluxo permanece constante. Por exemplo, ao regar plantas com uma mangueira, quando se diminui a secção (tapa a saída de agua da mangueira) a velocidade da agua aumenta, mas o fluxo permanece o mesmo, esse fluxo só tem mudança quando se mexe na torneira a qual a mangueira esta acoplada. Numa vasodilatação, o fluxo sanguíneo permanece o mesmo, mas a velocidade do mesmo diminui ao passar na área vaso dilatada. Podemos observar dois tipos de fluxo: ➢ Fluxo laminar: as moléculas do sangue formam lâminas, fluindo de forma paralela. É um fluxo silencioso e com perfil parabólico ➢ Fluxo turbulento: as moléculas fluem de forma desorganizada, geralmente ocorre quando tem obstáculos no vaso, sem perfil parabólico e com ruídos. Se houver aumento de velocidade que o sangue flui no vaso pode haver passagem de um fluxo para outro, principalmente onde tem-se bifurcações, pois as moléculas se chocam e perdem organização. Quando ocorre a troca de fluxo laminar para um turbulento, diz-se que ocorreu um sopro circulatório, podendo acontecer com intenso exercício físico ou em 16 casos patológicos como os casos de aneurisma. - Mecânica (E) - Teorema de Bernouli Descreve o comportamento de um fluido movendo-se ao longo de uma linha de corrente e traduz para os fluidos o princípio da conservação da energia. O princípio da conservação da energia mecânica diz que a energia mecânica de um sistema é a soma da energia cinética e da energia potencial. Em = w + Ec + Ep O esquema representa o comportamento de um fluido em determinado recipiente, onde, por se tratar de um fluido real, ocorrendo assim atrito, tem sua distribuição dessa maneira. Se hipoteticamente no lugar de um fluido real fosse um fluido ideal, a disposição se daria de forma em que todos os cânulos em vertical estariam cheios de fluido na mesma medida. É como acontece, por exemplo, no sistema de tratamento de água Guandu, para que a agua não chegue com muita pressão na estação de tratamento, o local de “coleta” de agua esta cerca de 2km de distancia da estação, com diversos cânulos como esses nesse percurso afim de realizar uma perda de carga na agua que chegará na estação. Em nosso sistema, apesar da perda de carga por conta do atrito, a mecânica é constante, pois o coração bombeia sangue constantemente, compensando assim essa perda de carga. - Equação de Poiseuille Dentre os fatores ponderados pela equação, o único que não oferece resistência ao fluxo é a VARIAÇÃO DE PRESSÃO, uma vez que o fluxo sanguíneo é anterógrado, isto é, não tem retorno por onde veio pois essa variação é menor que 0. Se ela oferecesse resistência, o fluxo seria retrógrado e isso só acontece com acídias, um representante dos protocordados. Os demais fatores oferecem resistência ao fluxo sanguíneo, são eles: RAIO Como se espera, a taxa de fluxo aumenta com aumento do raio do tubo, logo, se houver interferências no raio de uma veia ou artéria, haverá interferência no fluxo sanguíneo. COMPRIMENTO Quanto maior o comprimento do vaso, maior é o atrito que as partículas terão, logo, menor será o fluxo. São inversamente proporcionais. VISCOSIDADE Se é aumentada a viscosidade o fluxo tende a diminuir. Uma insuficiência renal pode reter muito liquido, logo, a viscosidade diminui, o fluxo então fica mais intenso, no entanto, ocorrem patologias como a policitemia, onde aumenta-se o número de hemácias por volume de sangue, que por consequência aumenta a viscosidade e dificulta o fluxo sanguíneo. Para o diagnóstico é necessário realizar um exame chamado hematócrito. 9- BIOFÍSICA DA RESPIRAÇÃO – MECÂNICA RESPIRATÓRIA ANATOMIA PULMONAR O Pulmão é um dos principais órgãos do sistema respiratório. Dentro dele encontram-se os alvéolos, estruturas saculiformes que realizam a hematose pulmonar, entretanto, o mecanismo pelo qual o ar atmosférico entra e sai do corpo independe do pulmão, mas sim da Mecânica Respiratória, protagonizada por algumas musculaturas do tórax. Entre o pulmão e a porção interna do tórax temos um tecido de membrana dupla aderida a cada uma destas estruturas. A pleura que recobre os pulmões chamamos de Pleura Visceral e a caixa torácica, Pleura Parietal. Entre elas, temos a CavidadePleural, preenchida parcialmente por um liquido 17 interpleural, oriundo do sistema linfático, para onde é constantemente reabsorvido. Este líquido possui a função de reduzir o atrito entre pulmão e víscera, que ocorre durante o processo respiratório. Também possui uma propriedade importante, que é sobre a constante pressão negativa que existe principalmente pelo espaço só possuir um ponto de contato com o meio externo através de vaso linfático, isto é, é totalmente vedado. Além disso, a pressão negativa é reforçada pela constante retirada de liquido intrapleural pelo sistema linfático. Por isso, a pressão intrapleural é SEMPRE negativa. A Respiração se divide em dois processos: Inspiração e Expiração. • INSPIRAÇÃO Os eventos de mecânica respiratória que envolvem a inspiração provocam a expansão da caixa torácica: ➢ Contração dos músculos intercostais externos ➢ Contração do diafragma Os eventos que seguem são consequências da mecânica respiratória. Com a expansão da caixa torácica as pleuras se afastam, isto é, a pressão interpleural que já era negativa fica ainda menor, realizando a força para que o pulmão se expanda em conjunto com o tórax. A pressão alveolar se torna, portanto, menor que a pressão atmosférica e o ar tende a entrar no pulmão, pois os fluidos se movem do local de maior pressão para o local de menor pressão. Observando a fórmula que relaciona pressão com área (P = F/A) percebemos que são grandezas indiretamente proporcionais, isto é, quanto maior a área, menor a pressão. • EXPIRAÇÃO Os eventos de mecânica respiratória que envolvem a expiração provocam a contração da caixa torácica, isto é, redução da sua área: ➢ Contração dos músculos intercostais internos ➢ Relaxamento do diafragma Com isso, o processo inverso ao anterior ocorre: as pleuras se aproximam, pressão intrapleurar aumenta (mas permanece negativa) e os pulmões diminuem de tamanho pois a pressão alveolar fia positiva e ocorre a saída de ar. - PNEUMOTÓRAX É uma situação de risco causada pela presença de ar na cavidade pleural e gera um pulmão colapsado. Pode afetar um ou ambos pulmões e causar dificuldade para respirar (dispneia). O Pneumotórax não tem alteração sob a mecânica respiratória, mas tem impacto negativo sob a ventilação. Isto por que a mecânica respiratória é um evento muscular coordenado pelo cérebro e apenas dependente do diafragma e dos intercostais. O pneumotórax causado por uma lesão no tecido permite que haja um outro ponto de contato entre o espaço intrapleural e, portanto, iguala a pressão desta região com a atmosférica, impedindo que o pulmão acompanhe a expansão e contração das musculaturas da respiração. - RELAÇÃO VELTILAÇÃO/PERFUSÃO E ESPAÇOS MORTOS (SHUNT) Do volume de ar que é inspirado a cada ciclo respiratório, ou seja, o volume corrente, apenas uma parte chega aos alvéolos. A porção final deste volume inspirado vai preencher as vias aéreas. Nas vias aéreas não vai ocorrer hematose , logo o ar que preenche estes espaços 18 onde não há hematose, é dito pertencer a um espaço morto anatômico. Porém, existe um espaço morto associado aos alvéolos, que compreende o ar que chega até aos alvéolos, mas que não sofre hematose. Este processo pode ocorrer em decorrência de um fenômeno patológico ou a partir de um fenômeno fisiológico. Como um fenômeno fisiológico, pode ser destacado a relação ventilação/perfusão no ápice pulmonar, onde ocorre uma ventilação maior do que a capacidade de perfusão daquela região. Sendo assim, parte do ar que chega aos alvéolos apicais excede a capacidade de hematose, pois não há uma perfusão correspondente. Desta forma, parte do ar desta região pode ser considerada um ar de espaço morto, sendo esta uma condição fisiológica, e não patológica. Uma situação patológica pode ser observada na embolia, onde um trombo impede a perfusão sanguínea de uma determinada região do pulmão, impedindo a hematose nos alvéolos afetados. Neste exemplo há um espaço morto alveolar patológico . De maneira oposta ao ápice, a base do pulmão que é mais perfundida que ventilada em termos relativos. Sendo assim, parte do sangue que passa pelos alvéolos que compõem a base do pulmão não sofre hematose, proporcionando uma região de shunt, que, neste caso, é considerado um shunt fisiológico . 10 – BIOFÍSICA DA RESPIRAÇÃO – TRANSPORTE DE O2 E CO2 Enquanto pequenos seres pluricelulares conseguiam difundir o oxigênio célula a célula, o desenvolvimento de seres maiores e mais complexos impossibilitou este mecanismo. Foram surgindo formas evolutivamente sofisticadas de captar e passar moléculas de gases indispensáveis à vida e uma das mais especializadas encontramos no acoplamento de um sistema respiratório altamente eficaz com um sistema circulatório totalmente difuso. O ar atmosférico é composto majoritariamente por Nitrogênio (78%), Oxigênio (21%) e CO2, além de outros gases. Por isso, podemos caracterizá-lo como uma mistura de gases que obedece à lei de Dalton das pressões parciais, que enuncia: “numa mistura gases cada elemento exerce uma pressão de modo que a soma destas será igual à pressão da mistura”. - Lei de Henry Vd = Vi x P x f Sendo, Vd = Volume Dissolvido, Vi = Volume Inicial, P = Pressão e f = Fator de solubilidade. Para entende-la, vamos imaginar a seguinte situação. fCO2 fO2 A B 1L de H2O 1L de H2O 100ml de CO2 100ml de O2 P 3atm P 3atm Sob a mesma pressão encontramos o mesmo volume inicial destes gases na mesma quantidade de água. Entretanto, sabemos que o fator de solubilidade do CO2 chega a ser 20x superior ao do O2. fCO2 >>> fO2 A B 1L de H2O 1L de H2O 100ml de CO2 100ml de O2 P 3atm P 3atm Portanto, analisando pela Lei de Henry podemos inferir que o volume dissolvido de CO2 será muito superior em relação ao de O2 (A>B). Caso quiséssemos igualar os volumes dissolvidos dos dois gases teríamos que mexer em alguma outra variável, aumentando a pressão sob o oxigênio ou o volume inicial dos gases. TROCAS HEMATOAOVEOLARES O ar atmosférico que respiramos, como já vimos, é uma mistura de gases, onde cada um possui uma pressão parcial particular. A pressão parcial do Gás Oxigênio (pO2), nas CNTP atmosféricos é 160mmHg, já a de CO2 é 0,3mmHg. A pressão desses gases no alvéolo já é diferente: pO2 = 100mmHg e pCO2 = 40mmHg. A diferença de pressão do oxigênio se dá principalmente pois no momento da inalação uma parte do gás se solubiliza no líquido presente na mucosa interna 19 de todo o tubo respiratório, diminuindo sua pressão parcial enquanto gás. A diferença da concentração de CO2 (EXPLICAR) Pois bem, mesmo que as pressões parciais sejam diferentes das condições atmosféricas elas ainda são significativamente diferentes das concentrações no sangue proveniente da artéria pulmonar. Nela, o sangue chega com pO2 = 40mmHg e pCO2 = 47mmHg. Como são moléculas com facilidade de difundirem-se na membrana biológica, a troca ocorre nos capilares alveolares diretamente por diferença de pressão. Deste modo, o oxigênio sai e o gás carbônico entra, transformando o sangue venoso em arterial, agora com pO2 = 100mmHg e pCO2 = 40mmHg. Podemos perceber, então, pelo gráfico abaixo que ΔpO2 = 60 e ΔpCO2 = 7. Entretanto, isso não significa que há maior troca de O2 do que de CO2, mas apenas que como o oxigênio é muito menos solúvel que o gás carbônico, ele precisa estar em maior pressão para garantir a hematose. - HEBOGLOBINA A Hemoglobina é uma hemeproteína e isso significa dizer que elaspossuem o grupo prostético Heme. Cada subunidade contém um grupo heme, portanto uma molécula protéica de hemoglobina pode carregar até 4 moléculas de O2. A heme da hemoglobina é, na verdade, uma molécula de Ferro-protoporfirina IX, que consiste em quatro anéis pirrólicos, grupamentos laterais substituintes e um anel central, unidos por um átomo central de Ferro, no seu estado ferroso (Fe+2). O Ferro II neste estado pode compartilhar 6 elétrons, interage com quatro anéis pirrólicos, com um resíduo de histidina da subunidade da hemoglobina que ele está e ainda fica disponível para mais uma ligação, que geralmente é com o Oxigênio. Quando o Ferro se liga ao Oxigênio, sempre de forma reversível, ele se alinha com o anel porfirínico, saindo do plano inferior que costumava estar. Quando ele se desloca, acaba por deslocar consigo o resíduo de histidina ao qual está ligado e consequentemente alterando toda a estrutura quaternária da hemoglobina. Este resíduo de histidina é capaz de se ligar a um CO2 mediante liberação do íon hidrogênio. É importante observar que a ligação do Ferro com o Oxigênio modula negativamente a ligação da histidina com o CO2. - TROCAS GASOSAS O oxigênio inalado na respiração pode seguir dois caminhos de transporte: dissolvido no plasma ou ligado à hemoglobina (formando o complexo HbO2). Uma vez nos tecidos após a entrada de gás carbônico e a ação da anidrase carbônica, é liberado H+, e consequentemente diminuindo o pH na célula. A hemoglobina que tem uma função tamponante libera o O2 para ligar-se aos íons hidrogênio, formando o complexo HHb. O CO2 difundido dos tecidos para as hemácias é transportado de três formas: dissolvido fisicamente no sangue, ligando-se à hemácia e formando o complexo HHbCO2 ou na forma de bicarbonato (70%). A reação que transforma CO2 em bicarbonato é mediada pela enzima anidrase carbônica. Com a 20 adição à uma molécula de água, gera-se H2CO3, que é uma molécula instável que logo se dissocia em H+ e HCO3 -. O bicarbonato, portanto, sai da hemácia e é transportado pelo fluido sanguíneo. Íons de cloro participam do antiporte que movimenta bicarbonato para dentro e fora da hemácia. Quando o sangue chega aos pulmões, a anidrase carbônica realiza a reação inversa e liga o bicarbonato que fluía no sangue com íons hidrogênio que se dissociam do complexo HHbCO2. O complexo também libera gás carbônico, que é eliminado na expiração, deixando a hemoglobina livre para se ligar ao oxigênio novamente. - FORÇAS ALVEOLARES - Que favorecem um colapso - Tensão superficial - Natureza histológica - Que impedem um colapso - Volume residual - PIP sempre negativa -Surfactantes (reduzem a tensão superficial do líquido interalveolar)
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