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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Histórico ....................................................................... 3 3. Ecologia dos sistemas de saúde .......................... 5 4. Conceitos básicos ...................................................... 6 5. Atenção primária à saúde: conceito e definições .......................................................................... 6 6. Atributos nucleares da atenção primária à saúde ............................................................11 7. Classificação internacional de atenção primária (CIAP) ...............................................................15 8. Avaliação da atenção primária à saúde e o primary care assessment tool .................................16 9. Conclusão ...................................................................17 Referências bibliográficas ........................................18 3ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE 1. INTRODUÇÃO Enquanto modelo assistencial, a Atenção Primária à Saúde (APS) cor- responde ao primeiro nível de aten- ção dentro dos sistemas de saúde e é usualmente representada pelos serviços ambulatoriais direcionados a responder às necessidades de saú- de mais comuns de uma população. Suas formas de operacionalização as- sumiram, desde o início do século XX, os contornos econômicos, políticos e culturais dos diferentes contextos, épocas e atores sociais envolvidos. CONCEITO: Atenção primária à saúde (APS) é definida como atenção de pri- meiro contato, contínua, global e coor- denada que se proporciona à população sem distinção de gênero, doença, ou sis- tema orgânico. 2. HISTÓRICO Um dos primeiros modelos de sistemas de saúde que se tem notícia no mun- do foi concebido por uma comissão liderada pelo médico Bertrand Daw- son (1864- 1945), conhecido também como Lord Dawson, pois tinha o título “1º Visconde Dawson de Penn”. O chamado Informe ou Relatório Dawson foi traduzido para o espanhol pela Organização Pan-americana da Saúde (OPAS). O sistema imaginado por Lord Dawson está representado na figura central de seu relatório, cujo nome completo é “Informe Dawson sobre o futuro dos serviços médicos e afins” e data de 1920, quando foi apresentado ao Ministério da Saúde da Grã-Bretanha pelo Conselho Con- sultivo de Serviços Médicos e Afins. Vilarejo CIDADE Vilarejo Centro de Saúde Primário Serviços Suplementares Centros de Saúde Secundários Hospital-Escola Serviços Domiciliares Figura 1. Diagrama de uma área mostrando todos os serviços (Informe Dawson). Analisando o desenho e o relatório, pode-se inferir que Dawson imaginou Centros de Saúde Primários, com generalistas próximos às casas das pessoas que destinavam pacientes, caso fosse necessário, a um centro de especialidades, e apenas este refe- renciaria, se necessário, a um hospital terciário, chamado “Hospital-escola”. 4ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Lord Dawson ainda previu os ser- viços chamados “suplementares”, que seriam equipes multiprofissio- nais treinadas para tratar tuberculose, pacientes terminais, pacientes com problemas mentais, problemas orto- pédicos, epilépticos, infecciosos etc., o que, naquela época, se fazia quase muito frequentemente com interna- ções em colônias ou sanatórios. De qualquer forma, poderia correspon- der ao que hoje seriam os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) ou Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e demais centros de reabilita- ção. Ou seja, Lord Dawson imaginou um território como uma rede: em- bora pareça trivial hoje em dia, na- quela época, em que havia apenas o modelo de sistema de saúde bis- marckiano (sem regionalização cla- ra), consistia em um avanço. Mesmo hoje, são raros os países que conseguiram de fato implementar essa rede idealizada por Dawson, e o relatório permanece, de maneira ge- ral, bastante atual. Os entraves e as pressões contrárias são muitos. No Brasil, por exemplo, no sistema pri- vado, o primeiro contato é, muitas vezes, feito por subespecialistas. FLUXOGRAMA – RELATÓRIO DAWSON Relato de organização de sistema de saúde Centros de saúde primários Próximos a residência das pessoas Com médico generalista Centros de especialidade e hospital Equipes suplementares treinadas 5ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SAIBA MAIS! O Informe Dawson é frequentemente comparado com o Relatório Flexner, de 1910, como se fosse antagônico. Essa é uma análise pouco precisa, uma vez que os objetivos eram muito díspares. Dawson focava nos serviços, ao passo que Flexner se concentrava na educação médica. Dawson valorizou o Hospital-Escola, assim como Flexner, ou seja, um dos aspectos que justamente tornam o Informe Dawson falho ou obsoleto é sua linearidade com Flexner neste ponto, não tendo previsto, embora saísse do escopo, que o ensino da medicina deveria ser realizado nos centros de saúde primários e secundários além do Hospital-Escola. em 2001. Segundo esses estudos, a cada 1.000 pessoas ao longo de um mês, entre 750 e 800 têm sin- tomas, aproximadamente 250 pro- curam ajuda formal, em especial na atenção primária, 8 são internadas em um hospital regional e menos do que uma, em média, necessita de um hospital-escola. 3. ECOLOGIA DOS SISTEMAS DE SAÚDE Um dos artigos mais citados na área da APS e na medicina de família e comunidade (MFC) é o “Ecology of Medical Care”, que foi conduzido por White e colaboradores em 1961 e repetido por Green e colaboradores 1.000 pessoas/mês 250 pessoas/mês visitam um médico 21 pessoas/mês visitam um ambulatório de hospital 8 pessoas/mês são internadas 1 pessoa/mês é internada em um Hospital-escola Figura 2. Representação gráfica da Ecologia dos serviços médicos. Os estudos sobre o uso dos serviços de saúde implicam a importância do papel de filtro proporcionado pela atenção primária, mas também pelo autocuidado. 6ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE 4. CONCEITOS BÁSICOS Para entender a atenção primária, é fundamental compreender alguns conceitos básicos e algumas siglas muito utilizadas. As principais são: • APS – Atenção Primária à Saúde: “lugar” do sistema de saúde defini- do pelos serviços que oferece. • PSF/ESF – Programa Saúde da Fa- mília/Estratégia Saúde da Família: programa de 1994 a 1998 e es- tratégia do Estado para reorientar a atenção primária brasileira a par- tir de 1998. • MFC – Medicina de Família e Co- munidade: especialidade médica. FLUXOGRAMA – CONCEITOS BÁSICOS 1 Atenção primária a saúde Lugar 2 Medicina de Família e Comunidade Especialidade 3 Programa/estratégia de saúde da família Estratégia do Estado para organização da APS Muitos profissionais da saúde usam tais conceitos de maneira pouco preci- sa no Brasil, como quando, por exem- plo, falam em “residência médica em saúde da família e comunidade”. Ou seja, nesse caso, há uma confusão entre a ESF e a MFC, pois não exis- te residência médica em “saúde da família e comunidade”. Os três con- ceitos têm importantes conexões, mas são distintos. Isso tem reflexo direto na organização dos serviços e nas políticas de saúde, de maneira que os gestores devem emitir sinais claros sobre as ações que estão rea- lizando para cada um dos conceitos ou áreas. 5. ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: CONCEITO E DEFINIÇÕES O termo atenção primária começou a ser usado no início da década de 1960. Logo, apareceu o termo “mé- dicos primários”, que ainda hoje tem grande variação. Na segunda metade da década de 1970, a Organização 7ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Mundial da Saúde (OMS) se dedicava consideravelmente ao tema quando o dinamarquês Halfdan Mahler foi seu diretor-geral (1973-1988). De 1974 a 1985, o diretor geral ad- junto foi David Tejada de Rivero, mé- dico peruano que, a partir de 1992, serviria como representante da OPAS, no Brasil, e contribuiria no desenvolvi- mento do PSF, tendo inclusive partici- pado da reunião dos dias 27 e 28 de dezembro de 1993, quando foi pro- duzido o documento Saúde Dentrode Casa, embrião do PSF. Em 1977, na trigésima reunião da Assembleia Mundial da Saúde, houve o lança- mento da ideia de colocar o ano 2000 como meta para que “[...] todos os cidadãos tivessem um nível de saú- de que permitisse uma vida social e economicamente produtiva”. Dado que a Conferência de Alma Ata ratificou o ano 2000 como meta para que todas as pessoas atingissem um nível de saúde que permitisse uma vida produtiva, o encontro passou a ser intitulado “Saúde para todos no ano 2000”. Hoje em dia, a definição mais aceita de APS, e provavelmente a mais téc- nica e menos política que a de Alma Ata, foi publicada por Scheffler, em 1978. Segundo o documento, “APS é definida como cuidado acessível, coordenado, abrangente e con- tínuo realizado por profissionais comprometidos”. Descrevia cinco atributos: acesso, coordenação, cuidado abrangen- te (integralidade), continuidade e responsabilização. A publicação diz ainda que APS não pode ser adequa- damente definida pelo local da aten- ção, pelo treino do profissional ou pela provisão de uma cesta de serviços. O escopo, as características e a integra- ção dos serviços formam a base da definição de APS. Acrescentou ainda três atributos derivados: foco na família, orienta- ção comunitária e competência cul- tural. Muitas vezes, no Brasil, se dá mais importância aos atributos deri- vados do que aos nucleares. 8ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE FLUXOGRAMA – ATRIBUTOS ATRIBUTOS Essenciais Derivados Acesso Coordenação Longitudinalidade Integralidade Foco na família Abordagem comunitária Competência cultural SAIBA MAIS! No Brasil, o termo para se referir a atenção primária à saúde, ficou atenção básica apenas por- que, na época da criação do Departamento de Atenção Básica e do Piso de Atenção Básica (PAB), havia uma crítica de que primária seria algo pejorativo, para “pobres”, o que configura uma contradição, uma vez que os países mais desenvolvidos, como Holanda, Noruega, Ingla- terra e Canadá, já haviam consagrado o uso de “primária”. Ainda há outras confusões conceitu- ais envolvendo a APS. Muito frequen- temente se compreende a APS como um local onde se lida com problemas simples ou comuns e de fácil ma- nejo. Não é correto, e os termos mais precisos seriam problemas frequen- tes, indiferenciados e incertos, em um ambiente de alta complexidade, alto grau de multimorbidades e bai- xa densidade tecnológica. Porém, o Ministério da Saúde (MS) consagrou o uso de “média e alta complexidade” para ambientes de alta densidade tecnológica. 9ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE FLUXOGRAMA – ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Atenção do 1º contato Essencial Contínua Global Coordenada Qualquer pessoa Próximo à residência Existem quatro maneiras como o con- ceito de APS pode ser interpretado: • APS como uma cesta de serviços • APS como nível de atenção • APS como uma estratégia de or- ganização dos serviços de saú- de (APS como coordenadora do sistema), com serviços acessíveis, relevantes para as necessidades da população, funcionalmente integrados, com base na participa- ção da comunidade, custo-efetivo e caracterizado por uma colabora- ção intersetorial. • APS como uma filosofia ca- racterizada por justiça social e igualdade, autorresponsabilidade, solidariedade internacional e acei- tação de um conceito amplo de saúde 10ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Segundo Vuori, essas quatro interpre- tações devem ser entendidas de for- ma hierarquizada, sendo que a cesta de serviços seria uma APS inadequa- da, e a imagem-objetivo seria a APS como uma filosofia. Provavelmente, o Brasil está no segundo nível, ao passo que uma parte considerável da Europa Ocidental, em especial Ingla- terra, Holanda, Dinamarca, e outros países estejam no terceiro. Enquanto modelo assistencial, a APS corresponde ao primeiro nível de aten- ção dentro dos sistemas de saúde e é usualmente representada pelos ser- viços ambulatoriais direcionados a responder às necessidades de saú- de mais comuns de uma população. FLUXOGRAMA – SERVIÇOS DA APS 1. Educação em saúde 2. Suprimento alimentar e nutrição 3. Água tratada e saneamento básico 4. Cuidado materno-infantil 5. Imunização 6. Prevenção e controle de endemias 7. Tratamento básico de problemas essências em saúde 8. Fornecimento de medicamentos essenciais 11ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE HORA DA REVISÃO! A Constituição Federal de 1988 define três grandes referenciais para o sistema de saúde brasileiro: um conceito amplia- do de saúde; a saúde como direito do ci- dadão e dever do Estado; e a instituição de um Sistema Único de Saúde - SUS. 6. ATRIBUTOS NUCLEARES DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Atenção ao primeiro contato/ acesso É o princípio soberano, representa a porta de entrada e o primeiro con- tato do paciente com o sistema; ou- tras nomenclaturas, algumas vezes entendidas como pejorativas, foram sendo usadas em parte, ou mes- mo em substituição a este atributo, FLUXOGRAMA – NÍVEIS DE ATENÇÃO NÍVEIS DE ATENÇÃO Atenção Primária Atenção Secundária Atenção Terciária Objetivos: Acesso universal Serviços abrangentes Promoção e prevenção Objetivos: Problemas e agravos de saúde de maior complexidade Objetivos: Serviços específicos e qualificados Características: Contato inicial com o sistema de saúde que orienta para outros níveis (se necessário) Características: Profissionais especializados e recursos tecnológicos Características: Procedimentos de alta tecnologia e alto custo Serviços: Unidade Básica de saúde Centros de saúde Clínicas da família Serviços: Ambulatórios Hospitais locais Serviços: Hospitais de grande porte Hospitais de ensino 12ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE como “acolhimento”, “gatekeeper” ou “porteiro”. A atenção ao primeiro contato de- pende da acessibilidade ou acesso dos serviços, um aspecto da estru- tura, assim como da sua utilização pelas pessoas quando surge uma necessidade. O acesso pode ser dividido em dois componentes: o primeiro é o aspec- to geográfico – distância do centro de saúde da pessoa que necessita de atenção, tempo de locomoção, facili- dade de transporte etc. O segundo é o componente sócio-organizacio- nal, que inclui aspectos que facilitam ou bloqueiam os esforços das pesso- as para chegarem à consulta. Coordenação Denota a articulação do sistema, con- forme Starfield: a coordenação “[...] é essencial para a obtenção dos outros aspectos. Sem ela, a longitudinalidade perderia muito do seu potencial, a in- tegralidade seria dificultada e a função de primeiro contato tornar-se ia uma função puramente administrativa”. A coordenação envolve a continuida- de de informação dentro do sistema, seja pela continuidade do profissio- nal, seja via prontuário médico. Ela é importante em três níveis: dentro do centro de saúde, quando o mesmo paciente é visto por diferentes profis- sionais (p. ex., um paciente pode ser visto pela enfermeira, pelo dentista e pelo médico, sendo necessária a tro- ca de informações entre estes três profissionais); na relação com ou- tros profissionais chamados para fornecer consultoria ou acompanha- mento de curta duração; e, por fim, na relação com especialistas, que vão acompanhar o paciente por um longo período de tempo devido uma condi- ção específica e mais rara. FLUXOGRAMA – COORDENAÇÃO 1. Articulação do sistema COORDENAÇÃO 2. Continuidade de informação do sistema 3. APS nunca deixa de se responsabilizar 4. Referência e contra referência 5. 10-15% são referenciados 13ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Longitudinalidade Longitudinalidade se relaciona com a existência de uma fonte regular de atenção e seu uso ao decorrer do tempo. Não é obrigatório que seja fornecida pelo mesmo profissional e sempre será necessária uma rede de profissionais, mas existem algu- mas diferenças se o locus da longi- tudinalidade é uma equipe ou local (como uma Unidade Básica de Saú- de [UBS]) ou um profissional espe- cífico: a coordenação é mais difícil quando a longitudinalidadeocorre dentro de uma equipe, pois a pes- soa será vista por um número maior de profissionais. Por outro lado, quando a longitudi- nalidade se der com um profissional apenas, a integralidade e atenção ao primeiro contato são prejudicadas, pois é muito difícil para um profissio- nal estar disponível o tempo inteiro e oferecer uma variedade grande de serviços. FLUXOGRAMA – LONGITUDINALIDADE LONGITUDINALIDADE Fonte regular de atenção Uso ao longo do tempo Pré-natal → Morte Vínculo com a equipe Carteira de serviços extensa Capacidade da unidade em resolver problemas Prevenção + Promoção + Assistência Demanda espontânea e programada Resolubilidade 14ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE FLUXOGRAMA – BENEFÍCIOS DA LONGITUDINALIDADE Melhor utilização dos serviços Benefícios Melhor atenção preventiva Menos hospitalizações Cuidado abrangente/Integralidade É um dos conceitos mais complexos e mal compreendidos no Brasil. O ter- mo em inglês usado tanto pelo Insti- tute of Medicine quanto por Starfield é comprehensiveness, cuja tradução literal poderia ser “abrangente”. O que se queria dizer é que, na aten- ção primária, é preciso que haja uma ampla oferta de serviços. Ou seja, o conceito está relacionado à multi- morbidade e a demandas variadas da população. Na avaliação desse atributo, o documento do Institute of Medicine sugeria perguntas que ava- liavam a amplitude dos serviços ofe- recidos. No Brasil, o termo que ficou consagrado para descrever o atributo foi integralidade, mas há vários senti- dos para o termo. Um dos autores que se dedicaram ao conceito de integralidade, muitas ve- zes confundido com o que se preten- dia nos documentos internacionais que falavam em comprehensiveness, foi Mattos. Em um dos textos mais difundidos, ele descreve três sentidos para a integralidade: • Integralidade como um sinal de boa medicina, ou seja, em busca de uma medicina menos fragmen- tada e reducionista (a biomedicina). • Integração da organização das práticas, superando os programas verticais. Esse sentido tem relação com a história do sistema de saúde no Brasil, que, até a constituição de 1988, estabelecia que o Ministé- rio da Saúde ficava com a atribui- ção das ações populacionais e de 15ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE prevenção, como imunizações, e execução de programas verticais, como tuberculose e hanseníase, e a assistência médica ficava a cargo do Ministério da Previdência, por meio do INAMPS. • Integração de assistência e pre- venção no âmbito das políticas especiais. O autor diz que prefe- re usar o termo política a progra- ma aqui, e este terceiro sentido diz respeito à integração de aspectos de prevenção e assistência, bem como aspectos antropológicos e culturais, como ocorreu com a Pro- grama de Assistência Integral à Saúde da Mulher e a Política Na- cional de Combate à Aids. Apesar de usar o mesmo termo, o conceito diverge com o descrito por Starfield e pelos documentos do Ins- titute of Medicine. Ou seja, na APS, integralidade tem o sentido de cuidado abrangente, de reconhecer a variedade das necessidades rela- cionadas à saúde do paciente e dis- ponibilizar os recursos para abor- dar essas necessidades. 7. CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE ATENÇÃO PRIMÁRIA (CIAP) O sistema de Classificação Interna- cional de Atenção Primária (CIAP) é uma ferramenta adequada à Atenção Básica (AB) que permite classificar questões relacionadas às pessoas e não a doenças. Permite classificar não só os proble- mas diagnosticados pelos profissio- nais de saúde, mas os motivos da consulta e as respostas propostas pela equipe seguindo a sistematiza- ção SOAP, de Lawrence Weed (Sub- jetivo, Objetivo, Avaliação e Plano). SAIBA MAIS! A CIAP pode ser utilizada por todos os profissionais de saúde. Como vantagem, a CIAP: • Evidencia os motivos de procura do cidadão (sofrimento ou enfermi- dade) ao serviço de saúde, mesmo que não sejam doenças objetiva- mente evidenciadas por qualquer tipo de exame (clínico, sangue ou imagem). • Permite qualificar a prática pro- fissional potencializando o pla- nejamento das ações nas Unida- des de Saúde como também na 16ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE programação das atividades de educação permanente. • Favorece que o cuidado ao pacien- te seja assumido de forma multi- profissional pela equipe de saúde. SE LIGA! A CIAP não se trata de uma alternativa à Classificação Internacional de Doenças (CID), que continua impor- tante para ser usada em morbimortali- dade. A relação entre a CIAP e a CID-10 é complexa. Cada uma tem conceitos para os quais não existe correspondente exato na outra. Contudo, grande parte das rubricas de uma das classificações corresponde a uma ou mais rubricas da outra. 8. AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E O PRIMARY CARE ASSESSMENT TOOL Para mensurar a APS, existem diver- sos instrumentos, mas os mais co- nhecidos e usados são: • CAHPS – Consumer Assessment of Health Plans Study. • EUROPEP – Patients Evaluate Ge- neral/Family Practice. • PCAS – Primary Care Assessment Survey. • PCAT – Primary Care Assess- ment Tool. O PCATool é o instrumento mais usado no Brasil, pois é um dos poucos validados. Segundo um es- tudo que comparou os diversos ins- trumentos, o PCATool foi o mais completo. Além disso, por ter sido desenvolvido por Barbara Starfield, baseia-se nos atributos nucleares e derivados. É fundamental ter em mente que, com toda essa complexidade conceitual, não se diz que um sistema tem ou não atenção primária, deve ser men- surada por instrumentos adequados. Ou seja, é possível e desejável que se estabeleça um escore. Mesmo siste- mas descoordenados, sem uma porta de entrada clara ou generalistas bem formados, quando se aplica o PCATo- ol, não recebem nota zero, isto é, não se pode dizer que “não tem atenção primária”. O PCATool tem quatro versões es- tendidas (paciente criança, paciente adulto, profissionais da saúde, ges- tores) e uma versão resumida para pacientes adultos. Há essencial- mente duas formas de se aplicar o PCATool: • Entrevista por telefone ou do- micílio: na primeira parte (grau de afiliação), avalia-se qual serviço a pessoa é afiliada, e o restante do questionário se baseia neste servi- ço; esta forma necessita de maior amostragem, pois nem todas as entrevistas serão do serviço que se pretende avaliar; 17ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE • Entrevista na unidade de saúde com algum usuário: neste caso, mesmo que a afiliação não seja com este serviço onde está sen- do realizada a entrevista, informa- -se ao final do grau de afiliação (parte A) que o restante do ques- tionário será sobre este serviço especificamente. 9. CONCLUSÃO O termo APS tem diferentes defini- ções e interpretações, dependendo da fonte consultada e da época. Adotou- -se aqui APS como “[...] atenção de primeiro contato, contínua, global e coordenada que se proporciona à população sem distinção de gêne- ro, doença ou sistema orgânico”. A APS possui quatro atributos nucle- ares: atenção ao primeiro contato; longitudinalidade; coordenação do cuidado; e integralidade. Todos es- ses atributos se inter-relacionam de alguma forma. Às vezes, as defini- ções dos atributos são mal-interpre- tadas, em especial a integralidade. Para avaliar a APS, é necessário lan- çar mão de algum instrumento. Aqui, foi apontado o PCATool como instrumento bastante completo, tra- duzido e validado para o Brasil. Con- ceitos como função de filtro, eco- logia dos serviços médicos e uma rede regionalizada são úteis para compreender a importância essencial da atenção primária para a racionali- dade do sistema. MAPA RESUMO: ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Baixa densidade tecnológica ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDENão se restringe a locais vulneráveis Promoção de cuidados essenciais Alta resolutividade (80-90%) Problemas frequentes e não simples Problemas indiferenciados e incertos Pacientes crônicos e agudos Presente no sistema público e iniciandono privado 18ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti. MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE: princípios, formação e prática. Porto Alegre: Artmed Editora Ltda, 2012. NORMAN, Armando Henrique. A formação em medicina de família no Brasil: a necessidade de caminhos convergentes. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, [s.l.], v. 9, n. 30, p. 1-2, 19 jan. 2014. PORTELA, Gustavo Zoio. Atenção Primária à Saúde: um ensaio sobre conceitos aplicados aos estudos nacionais. Physis: Revista de Saúde Coletiva, [S.L.], v. 27, n. 2, p. 255-276, jun. 2017 Vuori H. Primary health care in Europe: problems and solutions. Community Med. 1984;6(3):221-231. Classificação Internacional de Atenção Primária – Segunda Edição (CIAP2). Disponível em: http://www.saude.campinas.sp.gov.br/sistemas/esus/guia_CIAP2.pdf 19ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
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