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AULA 4 P Profª Eluane Mirian Santos Sanchez 2 INTRODUÇÃO Nesta aula veremos algumas sugestões de práticas pedagógicas já elaboradas em classe hospitalar com as áreas do conhecimento língua portuguesa, matemática, ciências, história e geografia. Veremos também como a interdisciplinaridade pode ser útil para conectar uma área a outra. E, por fim, o que e como avaliar as práticas de CH e APD. Seguindo a fundamentação teórica já apresentada nas aulas anteriores, o professor deve observar a sua realidade de trabalho, planejar de modo colaborativo com a escola de origem do aluno e desenvolver práticas pedagógicas de acordo com os referenciais oficiais, como: “propor [...] práticas alternativas necessárias ao processo ensino-aprendizagem dos alunos” (Brasil, 2002, p. 22). Agindo dessa forma, o professor da CH e ADP terá um bom alicerce para, no momento do planejamento e da execução das práticas, envolver-se de forma criativa na elaboração de suas práticas e interagir com a dinâmica dos processos de saúde e o trabalho pedagógico. Você verá que uma prática leva a outra, que puxa a outra. Desse modo, cada professor vai elaborar, reelaborar e compartilhar suas atividades em ambiente hospitalar. Esteja preparado para estimular seus alunos a agirem. Juntos, vocês são os protagonistas da educação de qualidade! TEMA 1 – PRÁTICA EDUCATIVA: LEITURA E ESCRITA Você já estudou a respeito do processo de aquisição da linguagem escrita e o conceito de letramento. Recordando, temos que: “Letramento é, pois, a ação de ensinar ou aprender a ler e a escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita” (Soares, 2009, p. 19). Aliada a esse conceito, o documento Pacto Nacional Alfabetização na Idade Certa (2015), impulsiona a prática pedagógica a priorizar o ensino da linguagem escrita tanto com alunos novos quanto com aqueles em outras etapas do ensino fundamental e médio. As práticas pedagógicas voltadas para o letramento podem ser ofertadas em todas as situações, ou seja, conforme o tempo do internamento (curto, longo ou recorrente) os alunos, podem ser convidados pelos professores do hospital a exercitarem a leitura e a escrita em seus diversos níveis. Para isso, depende a 3 criatividade do professor em criar estratégias significativas para os contextos. De acordo com a BNCC (2018), os eixos para o trabalho com língua portuguesa no ensino fundamental são os apresentados na Figura 1. Figura 1 – Eixos para o trabalho com língua portuguesa no ensino fundamental Fonte: BNCC (2018). No trabalho com a CH, o professor está apto a realizar práticas educativas que contemplem os conteúdos solicitados pela escola de origem do aluno, bem como os eixos da BNCC. Seguindo esse caminho, o trabalho pedagógico estará alinhado com o processo de equidade para aluno em tratamento de saúde. 1.1 Prática de leitura: função social da linguagem escrita Uma das estratégias realizadas dentro dessa prática é o trabalho com literatura. Contudo, ter no ambiente hospitalar um acervo de livros é um desafio, pois, como sabemos, nesse espaço, o controle de infecção limita o uso de alguns materiais em certo estado de uso. Por conta disso, algumas medidas devem ser tomadas. Antes de começar a atividade, o professor deve pedir para o aluno higienizar as mãos com álcool 70% (com glicerina). Após o uso, os livros devem ser limpos com álcool 70% comum. Outra medida é a reposição do acervo, trocando os livros que estão deteriorados. A prática de leitura, seja literatura ou conhecimentos gerais, é uma estratégia muito potente para adentrar no universo da sistematização dos conteúdos. 4 [...] a centralidade do texto como unidade de trabalho e as perspectivas enunciativo-discursivas na abordagem, de forma a sempre relacionar os textos a seus contextos de produção e o desenvolvimento de habilidades ao uso significativo da linguagem em atividades de leitura, escuta e produção de textos [...]. (BNCC, 2018, p. 67) O convite à leitura pode ser realizado de dois modos: de modo exploratório, ou seja, o professor faz uma pré-seleção dos livros e apresenta ao aluno como possibilidade de leitura. A escolha final é do aluno. Nessa proposta, haverá a leitura de acordo com o interesse do aluno. É comum haver uma “certa ansiedade” do aluno com frases do tipo: “há, mas tem muita coisa para ler”, ou eu “ainda não sei ler bem”, ou “acho melhor trocar por um livro mais fácil”. Nesse momento, é importante o professor auxiliar o aluno a conferir em suas escolhas e dar opções a esse aluno, tais como: 1. Não é preciso ler tudo, leia até o seu interesse acabar. 2. As imagens também são lidas. 3. Diga o que você pensa sobre o que leu. Figura 2 – Prática com leitura em ambiente hospitalar Crédito: Eluane Sanchez. Os alunos gostam da possibilidade de escolher suas leituras e passam a falar sobre os temas que gostariam de ler. “Percebe-se também que a liberdade que a criança e o adolescente têm para ler os textos de sua escolha e para ler o quanto quiserem é um fator facilitador para o processo” (Carreira, 2016, p. 82). Sejam livros de conhecimentos gerais ou literatura, são uma boa oportunidade para a ampliação do repertório cultural do aluno e dos familiares. A oferta de leitura pode ser ampliada para os acompanhantes que também estão ali com o tempo de espera a ser qualificado com atividades educativas. 5 O professor pode fazer uma leitura compartilhada caso o aluno já saiba ler, pode ler e em seguida mostrar as figuras, ou, se possível, ler e mostrar as figuras concomitantemente. Essa forma de leitura valoriza a compreensão de alunos que precisam de um apoio visual. Quando o trabalho da classe hospitalar está ocorrendo em uma enfermaria, é possível afirmar que muitas coisas podem estar acontecendo. Sons e movimentos das demais pessoas, trabalhando e convivendo em um mesmo espaço. Contudo, a partir do posicionamento do professor em valorizar o momento da leitura, e perceber a melhor forma de encaminhar, o que passa a acontecer é que as demais pessoas passam a reconhecer o valor da atividade. É comum que a equipe médica tome a decisão de esperar o término da atividade, “para não atrapalhar o momento da leitura” – justificam os médicos, ou os familiares passam a deixam o ambiente mais silencioso, se envolvendo com outros afazeres ou pegando um livro para ler também. Caso a atividade esteja acontecendo em uma sala da classe hospitalar, ou no domicílio a questão do barulho é menos evidente; contudo, o professor também deve se valer das diferentes formas de encaminhamento. Outra possibilidade é o professor sugerir a leitura de um determinado livro. Para que o aluno aceite a sugestão, o professor pode explicar a sua intenção ao ofertar tal proposta: “Eu trouxe esse livro, porque o autor escreveu as palavras em uma ordem, e nós vamos ver juntos, que ordem é essa? Para isso preste atenção na primeira letra das palavras”. Ou ainda: “Com esse livro fala sobre animais, vamos ler, e em seguida, agrupar as diferenças entre eles”. Ou seja, o aluno sabe que o livro será um caminho para algo que vem a frente. Contudo, caso a leitura se estenda, há também por parte do professor a sensibilidade em perceber que a leitura abre possibilidades sensíveis, ou seja, caso o aluno queira, depois da leitura, também desenhar animais, o acordo pode ser refeito, e a atividade proposta, reelaborada com vista ao ensino, sem deixar o lúdico. “A gestação de um leitor ou leitora no sentido pleno [...] só acontece quando há um encantamento com o ato da leitura e com o contato com o livro” (Carreira, 2016, p. 82). Dessa forma, a literatura abre um campo de trabalho em que o professor deve adentrar na sensibilidade das obras literárias para fazer desse momento um atode prazer e em seguida um ato de emancipação do sujeito que também aprende com os livros (Freire, 2011). 6 1.2 Escrita: a partir das unidades menores do texto Na CH e no APD, o convite à escrita é dinâmico, com inúmeras possibilidades que são elaboradas e reelaboradas continuamente. Na prática, observa-se que a partir dos 4 anos de idade as crianças em tratamento de saúde passam a ter interesse pelas atividades pedagógicas. Sabendo que o aluno internado pode estar em um tratamento contínuo, ou seja, com internamentos recorrentes, é importante que o contato com a pedagogia hospitalar lhe ofereça exercícios de escrita, pois, desse modo, naquele dia, aquele aluno terá alguma prática educativa sistemática com esse aprendizado. Impossível imaginar como é a rotina de cada um, mas é importante que o professor da classe hospitalar esteja pronto a construir conhecimento com os alunos sempre que tiver a oportunidade. Desse modo, a partir dos 4 anos: de modo lúdico, propor brincadeiras com o alfabeto; apresentar cantigas; jogo quebra-cabeça; jogo da memória com esse tema; apresentar a escrita do nome da criança; fazer um crachá para ela, propor o desenho do retrato e a escrita do nome; com massinha, fazer as letras do alfabeto. Com alunos um pouco mais experientes, propor atividades que estimulem a consciência dos sons das letras. A criança em fase de alfabetização, ao se ausentar da escola, necessita de apoio para que seu processo de aprendizagem seja minimamente fragmentado, pois o aprendizado da leitura e escrita é intenso no primeiro ano. Nessa fase inúmeras atividades podem ser motivadoras para o aluno. Figura 3 – Trabalho com unidade menor da escrita Crédito: Eluane Sanchez. 7 Com alunos que estão alfabetizados, é o momento de o professor trabalhar com os diversos gêneros textuais. Nessa etapa, o professor da CH e APD podem se valer de sua criatividade e observação para encaminhar ao seu aluno atividades como: escrita de carta, carta aberta, entrevista com profissionais, relato de experiência, livro da vida, livro de receitas, escrita de peça de teatro. 1.3 Leitura e escrita: diferentes métodos para auxiliar o aluno O professor da CH e do APD deve ser um pesquisador dos métodos de alfabetização, com vistas a não ter preferência por um ou outro, e sim observar como a escola de origem do aluno está encaminhado essa questão, para então seguir essa linha de atuação. Outra possibilidade é auxiliar o aluno, usando um método contrário ao da escola, complementando a aprendizagem, se for o caso. Vale ressaltar que o professor da CH e APD trabalhará sempre em colaboração com a escola com vistas a contribuir na aprendizagem daquele aluno. TEMA 2 – PRÁTICA EDUCATIVA COM MATEMÁTICA Desenvolver práticas educativas com Matemática com alunos em tratamento de saúde é um desafio a ser realizado partindo da contextualização dos conteúdos, pois, como já é sabido, o aluno em tratamento de saúde, precisa inicialmente de uma abordagem sensível. Na perspectiva da pedagogia histórico crítica (Saviani, 2008) contextualizar a matemática com a realidade do aluno, é uma forma de sensibilizá-lo para a importância dessa área do conhecimento. Figura 4 – Prática com Matemática Crédito: Eluane Sanchez. 8 Como já dissemos na aula 3, o trabalho com jogos é muito bem-vindo para a compreensão de vários conceitos. Desse modo, para além dos jogos, uma prática desafiadora para alunos em tratamento de saúde, consiste em propor atividades que trabalhem com a realidade de modo significativo: “Colocar o aluno diante de uma situação desafiadora em que precise aplicar um conhecimento anterior e elaborar um novo para encontrar respostas ao desafio, aumenta a probabilidade de compreensão” (Portela em Mattos; Torres, 2010, p. 245). De acordo com a BNCC, são base para a criação de práticas em Matemática as unidades temáticas apresentadas na Figura 5. Figura 5 – Unidades temáticas para a criação de práticas em Matemática Fonte: adaptado de BNCC (2018). O conteúdo de Matemática é extenso e à medida que as escolas solicitam o trabalho com esses conteúdos, o professor da CH e APD também vai elaborando suas estratégias de ensino aprendizagem com os alunos em tratamento de saúde, buscando explicar o mundo que os cerca por meio da Matemática. TEMA 3 – PRÁTICA EDUCATIVA COM CIÊNCIAS, HISTÓRIA E GEOGRAFIA De acordo com a BNCC (2018), as unidades temáticas das Ciências da Natureza são as apresentadas na Figura 6. 9 Figura 6 – Unidades temáticas das Ciências da Natureza Fonte: adaptado de BNCC (2018). Na CH e APD esses temas podem ser desenvolvidos de acordo com a demanda das escolas de origem do aluno e sempre que o professor encontrar oportunidade para tal. Como práticas pedagógicas já realizadas com alunos nesse contexto, é possível citar: apreciação da natureza, plantio em vasos, apreciação de filmes (longa e curta metragem, ou animação) sobre temas relacionados à natureza. Diálogo e roda de conversa sobre as temáticas. Apreciação de músicas sobre o planeta terra. Criação de cartazes. Pesquisa e divulgação de assuntos relacionados ao corpo humano. Enfim, são inúmeras as possibilidades quando nos atemos à diretriz curricular e à observação atenta sobre qual tema incluir. Muitas vezes, um relato de experiência é muito útil para a criação de uma prática em ciências. Por exemplo, um menino, certa vez, contou que um gambá estava em sua casa. Observando o contexto da história trabalhou-se: devastação do hábitat de animais selvagens pela ação do homem e riscos ao meio ambiente. Com recursos como livros, ou sites na internet, ou aplicativos é possível elaborar uma boa prática em que professor e alunos investigam o tema e registram por meio de desenho e escrita. É possível o professor desenvolver com seus alunos práticas como: leitura de livros ou montagem de bonecos esquemáticos sobre o corpo, desenvolvimento do tema. Por exemplo: “como eu sou por dentro?” ou “a viagem do alimento”. Entrevista com profissionais da saúde. É comum os alunos quererem saber mais sobre seu corpo. Porém, caso a questão a saber seja relacionada à doença, é importante que o professor busque auxílio da equipe médica. Na aula 5 falaremos sobre a abordagem da Educação em Saúde, em que veremos como o professor pode auxiliar de modo interprofissional nessa questão. Fique atento! 10 Por fim, seguindo a diretriz e os temas emergentes da área de Ciências, além de criatividade e observação, o professor pode elaborar boas práticas com seus alunos. As práticas exitosas podem ser replicadas e constantemente elaboradas. Em História e Geografia, o professor estará também constantemente elaborando e reelaborando suas práticas com vistas a atenta observação sobre os documentos oficiais e a realidade do aluno. Figura 7 – Unidades temáticas de Geografia Fonte: adaptado de BNCC (2018). O professor deve estimular o aluno a compreender o mundo que o cerca de modo crítico. As práticas com Geografia oferecem possibilidades dentro do ambiente hospitalar de: uso da internet para pesquisa dos diversos temas, reconhecimento do espaço geográfico por meio de mídias digitais como o Google Earth; leitura e criação de plantas baixa e mapas. Em pequenos grupos é possível trabalhar com gincanas em que os participantes devem falar sobre as diferentes culturas dos lugares do mundo. O ambiente hospitalar oferece um repertório rico em oralidade, em que o professor pode conduzir uma atividade com a diversidade geográfica e cultural dos participantes. Muito oportuno o professor incentivar que o aluno escreva sobre o lugar onde mora, comparando diferentes paisagens. A leitura do espaço geográfico pode ser trabalhada por meio de fotografias da própria instituição de saúde, em que o aluno vai comparar a foto atual e a antiga,compreendendo que o espaço natural é modificado nas sociedades. Nesse sentido, o professor pode encontrar diversos recursos que oferecem um apelo sensível e estimular ao aluno a sistematizar o conteúdo. Em História a BNCC (2018) apresenta palavras-chave que dão suporte para a elaboração de questões, conforme podemos ver na Figura 8. espaço território lugar região natureza paisagem 11 Figura 8 – Unidades temáticas de História Fonte: adaptado de BNCC (2018). Trata-se de uma perspectiva problematizadora sob a qual o professor pode se utilizar a fim de criar situações-problema a partir da observação de um objeto. Por exemplo, o objeto da Figura 9. Figura 9 – Caravela Crédito: Michael Rosskothen/Shutterstock. As perguntas devem nortear a atividade de modo que o professor estimule os alunos a saberem: O que você vê? Se parece com os barcos atuais? Em que época as caravelas eram utilizadas? Quem navegava? Por quê? Para onde? Qual fato histórico marca o uso desse meio desse meio de transporte? 12 Com essa abordagem, o professor da CH e APD tem um recurso para trabalhar com leitura e escrita, registro de pesquisa na internet, elaboração de linha do tempo, criação de maquetes, leitura de mapas, plantas baixa, leitura e escrita etc. A seguir, veremos que as práticas educativas da CH e APD podem ser trabalhadas de modo interdisciplinar. TEMA 4 – PRÁTICA EDUCATIVA E A INTERDISCIPLINARIDADE Inúmeras são as possibilidades de práticas em ambiente hospitalar e domiciliar. Por se tratar de um atendimento mais personalizado, as ações do professor: [...] devem estar estruturadas e (res)significadas e adaptadas em sintonia com as escolas de origem dos seus alunos/pacientes, exigindo do professor autonomia, criatividade, ações/práticas reflexivas, comprometimento, aceitação para o novo e disponibilidade para o trabalho em equipe, além de uma formação sólida e contínua. (Ferreira; Caldas; Pacheco, 2016, p. 33) De acordo com a BNCC (2018) é trabalho pedagógico: [...] decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem. (BNCC, 2018, p. 16) Trazendo essas afirmativas para a CH e APD, conforme estudamos anteriormente, o professor deve valer-se de criatividade e resiliência para elaborar suas práticas de ensino aprendizagem em ambiente hospitalar, ou seja, serão bem-vindas práticas com um apelo sensível, que sejam trabalhadas de modo contextualizado, ou lúdico, ou ainda expressivo, Em geral, o momento da aprendizagem deve ser um horário prazeroso para o aluno. Assim o professor que atua nesse espaço deve proporcionar aos seus alunos diversas situações e atividades que gerem a elevação da autoestima, o desenvolvimento de processos de comunicação, tanto de forma oral quanto escrita, o pensamento lógico e racional para solucionar problemas e tomadas de decisões, bem como a aprendizagem sobre o exercício da cidadania, construindo valores de formação humana. (Vieira em Ferreira; Caldas; Pacheco, 2016, p. 30) Desse modo, é oportuno aproveitar para que as práticas sejam trabalhadas de modo interdisciplinar, visto que a questão da divisão entre as áreas do conhecimento é uma escolha didática. 13 Sob o ponto de vista da atualidade, a interdisciplinaridade oferece a compreensão de modo a valorizar a interação de duas ou mais disciplinas. O resultado dessa interação entre as áreas do conhecimento torna-se significativo para a compreensão da realidade. Na pedagogia hospitalar, as palavras: aproximação, complementação e contribuição estão presentes na concepção de trabalho interdisciplinar (Matos; Mugiatti, 2006). Na interdisciplinaridade o professor trabalha com o objetivo de dialogar e integrar os saberes, que são interligados em uma relação de copropriedade entre as disciplinas (Mutti, 2016). O professor pode elaborar uma atividade de sistematização para concluir a prática pedagógica ofertando exercícios de fixação do conteúdo estudado, essa atividade será mais um instrumento avaliativo para o processo. Figura 10 – Atividade de sistematização Crédito: Eluane Sanchez. Ao oferecer uma sistematização, planeje uma proposta com tempo de duração o suficiente para que o aluno não se canse. Evite repetições desnecessárias e fuja do automatismo, pois, como já vimos, o aluno em tratamento de saúde tem o direito à educação de modo adaptado e potencializado ao seu tempo para aprendizagem. TEMA 5 – AVALIAÇÃO Para finalizar esta aula, falaremos avaliação do processo de ensino- aprendizagem dos alunos em CH e APD. O professor avalia o aluno de modo contínuo, processual e coletivo: “avaliar significa reconhecer as condições objetivas em que se dá a vida dos sujeitos 14 envolvidos no processo de construção do conhecimento e apontar caminhos para sua superação” (Arosa, 2007, p. 88). Partindo das demandas da escola de origem, da observação do contexto do aluno e seu tratamento, e da observação o e escuta atenta da identidade familiar, o professor avalia e retroalimenta o processo de aprendizagem. O professor também realiza a autoavaliação. Mediante o processo, revê suas estratégias, seus materiais e métodos. O sistema de tutoria é uma forma de acompanhamento em que o professor desenvolve com o aluno, família e escola de origem um vínculo de interação mais pontual. Estando criança e adolescente internados, conforme o internamento vai se alongando, o professor passa a considerar aquele atendimento como uma tutoria, ou seja, nessa forma de acompanhamento, o professor busca aprofundar o entendimento sobre a relação aluno, doença, aprendizagem, família, escola e sociedade. Em caso de tutoria, o contato com a escola será indispensável, bem como o registro das ações em uma ficha de atendimento, e, por conseguinte, a avaliação em forma de parecer descritivo. Ou seja, para além de um processo de construção da prática pedagógica, sob o qual o professor se autoavalia e avalia o aluno; a avaliação também será um documento que finaliza o atendimento, e que será entregue para a escola de origem do aluno. A forma com as CH e APD têm feito é um texto no modelo parecer descritivo. Desse modo, esse documento será feito de acordo com duas situações apresentadas. A primeira, em ambiente hospitalar, quando o aluno tiver alta. Em APD, caso esteja terminando seu período de afastamento da escola. A segunda, em caso de tratamento prolongado, o professor tutor fará avaliações de acordo com a escola, bimestre ou trimestre. O parecer descritivo será redigido para que o pedagogo escolar integre esse documento na avaliação da escola do aluno. Desse modo, o professor da CH e APD deve redigir um texto que auxilie o profissional da escola a compreender esse aluno e as adaptações e potencializações que foram utilizadas no contexto do tratamento. Desse modo, avaliar o aluno da CH e do APD é um processo que contempla as dimensões apresentadas na Figura 11. 15 Figura 11 – Dimensões de avaliação do aluno da CH e do APD Fonte: elaborado pela autora. É importante que na redação do parecer, seja considerada: A experiência de adoecimento e hospitalização implica mudar rotinas; separar-se de familiares, amigos e objetos significativos; sujeitar-se a procedimentos invasivos e dolorosos e, ainda, sofrer com a solidão e o medo da morte – uma realidade constante nos hospitais. (Brasil, 2002, p. 10) A avaliação redigida pelo professor hospitalar será lida pelo professor escolar. O que ocorre nessa interação entre profissionais da educação é que os profissionais da escola não são aculturados com os processos de tratamento da saúde. Sendo assim, o que não pode ocorrer é a escola acharque o rendimento do aluno adoecido, caso tenha tido o atendimento da pedagogia hospitalar, tenha sido insatisfatório. Ou seja, a avaliação deve conter: o que foi observado, ou solicitado pela escola, o que foi possível ser realizado, e o que foi avaliado. Casos em que o aluno não pode ser atendido por questões do tratamento, ou apenas recusou o atendimento devem ser consideradas com normalidade, pois o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA (1990), prevê o direito à saúde, com vistas ao indivíduo se ausentar das atividades educativas caso seja necessário. Desse modo, o que ocorre, é que o aluno e a família passam a compreender e, por conseguinte, aderir ao trabalho da CH e do APD. Contudo, também pode ocorrer que o professor, em conjunto com o pedagogo e a equipe multiprofissional de saúde, avalie que determinado aluno não possa ser atendido pela CH, necessitando de repouso absoluto. Em outra situação, caso o aluno demonstre resistência para a atividade, é importante que o professor transmita a ele a mensagem de que os estudos podem ser retomados sempre que ele sentir vontade. E ainda sobre o aspecto da vontade, o professor pode conversar diretamente com a família, mediando os aspectos referentes à importância da aprendizagem na infância e na adolescência. Por fim, a avaliação é um momento onde CH e APD finalizam uma etapa do processo de garantia de equidade do aluno em tratamento de saúde. 16 REFERÊNCIAS AROSA, A. C.; SCHILKE, A. L. A escola no hospital: espaço de experiências emancipadoras. Niterói: Intertexto, 2007. BRASIL. Ministério da Educação. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC; SEESP, 2002. BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Brasília: MEC, SEB, 2015. Disponível em: <http://pacto.mec.gov.br/materiais- listagem/item/download/21_9945a2941359afb9a5bc726869f697c5>. Acesso em: 20 jan. 2020. BRASIL Estatuto da Criança e Adolescente. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 20 jan. 2020. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Brasília: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 20 jan. 2020. CARREIRA, D. O direito à educação e à cultura em hospitais: caminhos e aprendizagens do Pequeno Príncipe. Curitiba: Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro, 2016. FERREIRA, H. P. de A.; CALDAS, I. F. P.; PACHECO, M. C. P. (Org.). Classe hospitalar: tessitura das palavras entre o escrito e o vivido. Curitiba: Appris, 2016. FREIRE, P. Educação e mudança. São Paulo: Paz e Terra, 2011. MATOS, E. L. M.; MUGIATTI, M. M. T. de F. Pedagogia Hospitalar: a humanização integrando educação e saúde. Petrópolis: Vozes, 2008. MATTOS, E. L. M.; TORRES, P. L. (Org.). Teoria e Prática na Pedagogia Hospitalar: o jogo no ensino da Matemática – recurso didático para a aprendizagem de crianças e adolescentes hospitalizados. Curitiba: Champagnat, 2010. MUTTI, M. do C. da S. Pedagogia hospitalar e formação docente: a arte de ensinar, amar e se encantar. Jundiaí: Paco Editorial: 2016. E-book. 17 SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 10. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
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