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QUÍMICA GERAL II 29 INTRODUÇÃO Na primeira unidade, estudamos a reação química, a maneira de representar a reação química através da equação química, que deve informar as substâncias envolvidas, seus estados físicos, as quantidades de cada substância e as condições em que a reação ocorre. Devido ao grande número de reações, organizamos o estudo em tipos principais de reações químicas para facilitar nosso entendimento. CONCEITOS E DEFINIÇÕES A Química é uma ciência; logo seu estudo e seu desenvolvimento devem ser feitos através do método apropriado, o método cientifico. O método científico é a metodologia de estudo e pesquisa dos fenômenos da natureza, visando obter o conhecimento de forma organizada e sistemática. O método é realizado em etapas: • Observação do fenômeno; • Experiências e medidas; • Leis experimentais; • Hipóteses sobre o fenômeno; • Teoria e modelos matemáticos. As três primeiras etapas podem ser concluídas por meio de um raciocínio indutivo. As duas últimas por meio de raciocínio dedutivo. Quando não podemos estabelecer um modelo para o fenômeno, ficamos com a lei experimental. ESTUDO DAS LEIS EXPERIMENTAIS ENVOLVENDO MASSAS E VOLUMES A. LEIS DAS MASSAS 1) Lei da conservação da massa (Lavoisier – 1789): em uma reação química realizada em sistema fechado, a soma das massas dos reagentes é sempre igual à soma das massas dos produtos. Ex: A + B C + D podemos dizer que: mA + mB = mC + mD (A transformação de massa em energia prevista por Albert Einstein não deve ser considerada em nosso estudo atual). 2) Lei das proporções constantes ou definidas (Proust – 1801): uma determinada substância é sempre formada pelos mesmos elementos químicos combinados na mesma proporção em massa, independente do processo de obtenção. Ex: A + B AB, em três experiências: Na 1ª, temos mA + mB = m AB Na 2ª, temos m’A + m’B = m’AB Na 3ª, temos m’’A + m’’B = m’’AB O resultado experimental mostra que podemos fazer: mA/mB = m’A/ m’B = m’’A/m’’B. Antoine Laurent Lavoisier (1743 – 1794), cientista francês que estudou a combustão e a conserva- ção da matéria em rea- ções químicas. Louis Joseph Proust (1754 – 1826), cientista francês que estudou a compo- sição das misturas e das substâncias, estabelecen- do a lei das proporções fixas nas substâncias. 30 QUÍMICA GERAL II 3) Lei das proporções múltiplas (Dalton – 1803): quando dois elementos químicos se combinam e formam diversas substâncias fixando–se a massa de um deles, as massas do outro elemento variam numa proporção de números inteiros e pequenos. Ex: O oxigênio e o nitrogênio se combinam formando várias substâncias. Sejam os resultados experimentais abaixo 0,21g de nitrogênio + 0,12g de oxigênio forma o óxido I; 0,70g de nitrogênio + 0,80g de oxigênio forma o óxido II; 0,28g de nitrogênio + 0,64g de oxigênio forma o óxido III. Verifique se os dados estão de acordo com a lei de Dalton. Solução: Fixando a massa de 0,21g de nitrogênio, as massas de oxigênio serão: No óxido I, 0,12g de oxigênio; No óxido II, usando a lei das proporções definidas, 0,70g de nitrogênio para 0,80g de oxigênio, 0,21g de nitrogênio para X1 g de oxigênio. Resolvendo, temos X1 = 0,24g de oxigênio. No óxido III, usando a lei das proporções definidas, 0,28g de nitrogênio para 0,64g de oxigênio, 0,21g de nitrogênio para X2 de oxigênio. Resolvendo, temos: X2 = 0,48g de oxigênio. As massas do oxigênio podem formar uma proporção de números inteiros e pequenos, fazendo: 0,12g; 0,24g e 0,48g proporcionais a 1, 2 e 4. Antecipando nosso estudo, podemos aproveitar os dados para achar a fórmula mínima de cada óxido. Calculando o número de mols n de cada elemento, onde n = m/MM, temos: Óxido I: N 0,21g/14g = 0,0150; O 0,12g/16g = 0,0075, que são proporcionais a 2 e 1; logo a fórmula mínima = (N2O)x; Óxido II: N 0,70g/14g = 0,050; O 0,80g/16g = 0,050; que são proporcionais a 1 e 1; logo a fórmula mínima = (NO)x; Óxido III: N 0,28g/14g = 0,020; O 0,64g/16g = 0,040, que são proporcionais a 1 e 2; logo a fórmula mínima = (NO2)x Dividindo a fórmula do óxido I por 2, ficamos com a seguinte proporção de N/O: Óxido I, 1 de N com ½ de O; Óxido II, 1 de N com 1 de O; Óxido III 1 de N com 2 de O. Como ½; 1 e 2 são proporcionais a 1, 2 e 4, podemos concluir que há uma proporcionalidade direta entre as massas e o número de átomos. EXERCÍCIO COMPLEMENTAR Verifique a combinação do carbono e do oxigênio que forma o CO e o CO2, utilizando as seguintes massas: CO, 0,30g de C com 0,40g de O; CO2, 0,24g de C com 0,64g de O. Responda: A combinação está de acordo com a lei das proporções múltiplas? 4) Lei das proporções recíprocas (Richter – 1792): quando uma massa fixa de um dado elemento químico reage com outros elementos químicos para formar diversas substâncias, se esses últimos elementos químicos reagirem entre si, eles o farão na mesma proporção de massas ou numa proporção formada por múltiplos ou submúltiplos dos valores iniciais. John Dalton (1766 – 1844), cientista inglês que estudou a meteorologia, a matéria e o átomo. É o fundador da teoria atômi- ca com sua obra publica- da, em 1808, chamada “A new system of chemical philosophy”. QUÍMICA GERAL II 31 Seja a massa fixa mA do elemento A, que reage com mB do elemento B e com mC do elemento C, quando B for reagir com C, a relação de massas de B e C será m’B/m’C = (mB x p) / (mC x q), onde p e q são números inteiros e pequenos. Com a lei das proporções recíprocas, surge o conceito da massa equivalente ou equivalente grama, como sendo a massa do elemento que se combina com os outros elementos. No debate sobre o elemento central e que massa fixa seria usada para definir as massas equivalentes, prevaleceu o oxigênio, por ser o elemento que se combina com o maior número de outros elementos. Para manter o hidrogênio como sendo a massa unitária, e sabendo que o hidrogênio se combina com o oxigênio, na proporção de 2 para 1, dividindo as massas por dois, fica 1 de hidrogênio para ½ de oxigênio, ou seja, 1g para 8g; logo a massa fixa ficou em 8g de oxigênio. A leidasproporçõesmúltiplasmostrouqueoselementosquímicospossuem vários modos de combinação; logo possuem várias massas equivalentes, tendo o equivalente grama perdido sua importância face ao mol ou massa molar, que passou a ser considerado a unidade de substância ou matéria. 1º Exemplo: Uma massa fixa de um grama de oxigênio se combina com 1,0021g de enxofre e forma o SO2, combina-se com 2,5050g de cálcio e forma o CaO. Quando o Ca se combina com o S, o faz na proporção de massa de 2,5050g para 2,0041g. Verifique a lei das proporções recíprocas. Solução: Aplicando a fórmula m’Ca/m’S = (mCax p)/(mSxq), temos: 2,5050g/2,0041g = (2,5050g x p)/(1,0021g x q). Calculando p e q fica p = 1 e q = 2. O cálculo mostra a variação da massa equivalente e, em consequência, a variação de valência ou número de oxidação (NOX). É fácil observar que no CaS o NOX do S é dois; e no SO2, o NOX do S é quatro. 2º Exemplo: Uma massa de 0,30g de C se combina com 0,10g de H, formando o CH4, uma massa de 0,03g de C se combina com 0,16g de S, formando o CS2, uma massa de 0,06g de H se combina com 0,96g de S, formando o H2S. Verifique a lei das proporções recíprocas e a variação do NOX. Solução: Primeiro devemos fixar uma massa, conforme o enunciado da lei. Fixando a massa de 0,30g de C, temos para o CH4 a massa de 0,10g de H. Usando a lei das proporções fixas para o CS2, temos 0,03g de C, que se combina com 0,16g de S; logo 0,3g de C se combina com 1,6g de S. Aplicando a fórmula m’H / m’S = (mH x p) / (mSxq), temos: 0,06g / 0,96g = (0,10g x p) / (1,6g x q), e, como resultado, p = 0,6 e q = 0,6. Como p = q, a proporção é a mesma que se combinou com a massa fixa de 0,30g de C, o que evidencia que não ocorreu variação de NOX ou valência. 3º Exemplo: Uma massa fixa de 7g de Fe reage com 4g de S e forma o FeS, reage com 2g de O e forma o FeO. 8g de S reage com 12g de O e forma o SO3. Verifique a lei das proporçõesrecíprocas e a variação de NOX. 32 QUÍMICA GERAL II Solução: Aplicando a fórmula m’O/m’S = (mO x p)/(mS x q), temos: 12g/8g = (2g x p)/(4g x q). Calculando p e q, temos p = 6 e q = 2, o que evidencia a mudança do NOX do S, que era 2 no FeS e passou para 6 no SO3. B. LEIS VOLUMÉTRICAS 1) Lei dos volumes gasosos de combinação (Gay Lussac – 1808) - os volumes de gases que participam de uma reação química, medidos na mesma temperatura e pressão, guardam entre si uma relação constante de números inteiros e pequenos. Exemplo: hidrogênio + cloro gás clorídrico, 1 volume 1 volume = 2 volumes. No mesmo ano, Dalton publicou sua teoria atômica baseada em massas, e não em volumes. A crença na época era que os gases eram monoatômicos. Como então justificar que 1 átomo de H, reagindo com 1 átomo de Cl, produza dois átomos de gás clorídrico? A conciliação veio com a segunda lei dos volumes gasosos. 2) Lei de Avogadro dos volumes gasosos (Amedeo Avogadro – 1811) – os volumes iguais de gases diferentes, na mesma temperatura e pressão, contêm o mesmo número de partículas. Pela lei de Avogadro, os dois volumes de gás clorídrico obtidos deveriam corresponder a duas partículas de gás. Para conciliar os resultados, surgiu a hipótese de Avogadro de que o hidrogênio não era monoatômico, e sim formado por dois átomos em forma de molécula (molécula = pequena massa), sendo o conceito de molécula estendido para todas as substâncias. A nova combinação ficou: H2 (g) + Cl2 (g) 2.HCl (g) Com as leis experimentais e a teoria atômica de Dalton, foi possível estabelecer um diagrama com a primeira estrutura científica da matéria. ORGANIZAÇÃO DA MATÉRIA A mistura submetida a determinadas operações unitárias, tais como a filtração, a destilação e outras, pode ser separada em suas substâncias puras constituintes, que poderão ser um elemento químico, uma substância simples ou uma substância composta. QUÍMICA GERAL II 33 Vamos iniciar o estudo pelo elemento químico. Neste caso, a matéria é monoatômica. Devemos aproveitar a ocasião para estudar o átomo, associado a um elemento químico, mesmo que ele não forme individualmente a matéria. I. DADOS SOBRE O ELEMENTO QUÍMICO A) SIMBOLOGIA: Cada elemento químico é representado por um símbolo, de acordo com a International Union of Pure and Applied Chemistry (União Internacional de Química Pura e Aplicada) – IUPAC, obedecendo às regras criadas, em 1814, por Berzellius. 1) O símbolo do elemento deve ser a primeira letra do seu nome em forma de maiúscula. Ex: carbono = C. 2) No caso de elementos que tenham o nome começando pela mesma letra, ao elemento que foi descoberto mais recente, será acrescentada uma outra letra do nome em forma de minúscula. Ex: cálcio = Ca. 3) Alguns elementos podem ter o símbolo derivado do seu nome em latim. Ex: sódio = Natrium = Na. B) EXISTÊNCIA: Temos 88 elementos naturais e 23 artificiais. Considerando todo o planeta, o mais abundante é o ferro, em seguida o oxigênio, o silício, o magnésio, o níquel e outros. C) CLASSIFICAÇÃO: Os elementos químicos foram classificados em metais, não metais, semimetais e gases inertes. O critério tomou por base a condutividade e a reatividade dos elementos químicos. D) MASSA ATÔMICA: Com as leis ponderais, foi possível estabelecer uma sequência de números proporcionais às massas trabalhadas nos experimentos. Inicialmente foi fixada como massa unitária a do hidrogênio. Com a descoberta dos isótopos, o número fixado para referência foi o número 12, considerada a massa do isótopo mais abundante do carbono; logo a nova unidade passou a ser 1/12 da massa do carbono. A massa atômica é um número adimensional. E) MOL DO ELEMENTO QUÍMICO: É o número que expressa a massa atômica com a unidade de massa grama. Ex: carbono: 1 mol = 12 g. Obs: O mol é também conhecido como massa molar, com representação MM. F) NÚMERO DE MOLS DO ELEMENTO QUÍMICO (N): É calculado com a massa utilizada dividida pelo mol do elemento. Ex: n = m/mol ou n = m/(MM). 34 QUÍMICA GERAL II G) NÚMERO DE AVOGRADO: É o número de átomos do elemento químico contido em um mol do elemento. A determinação experimental do número de Avogadro, foi feita de acordo com a tecnologia de cada época: análise de lâminas, movimento Browniano, eletrólise, condutividade elétrica dos gases e, modernamente, o uso da difração de raios X. O valor usado é de 6,0235 x 1023 átomos em um mol. H) DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA MASSA ATÔMICA: Além da comprovação através das leis ponderais, novos métodos experimentais foram adotados: Para elementos sólidos: (massa atômica) x calor específico = 6,4 (conhecida como lei experimental de Dulong e Petit); Para elementos gasosos ou líquidos voláteis, usa-se a equação dos gases ideais, onde MM = (m x R x T) / (p x V). MM é o mol, a massa atômica ou a massa molar. DETERMINAÇÃO DA UNIDADE DE MASSA ATÔMICA (U): Com o número de Avogadro, podemos calcular a massa tomada como unidade de massa atômica (u.m.a. ou simplesmente u). Cálculo: Inicialmente, usamos a massa de um mol de carbono e calculamos a massa de um átomo de carbono, fazendo 12g/ (6,02 x 1023) = 1,99 x 10-23 g; então u será igual à massa do átomo de carbono dividida por 12, u = (1,99 x 10-23 g)/12 = 1,66 x 10-24 g. II. DADOS SOBRE AS SUBSTÂNCIAS SIMPLES E COMPOSTAS A) SIMBOLOGIA: Cada substância é representada pelos elementos químicos constituintes, utilizando índices aos símbolos dos elementos constantes de números inteiros proporcionais aos números de átomos que formam a substância. Essa representação é chamada de fórmula química. B) MASSA MOLECULAR: É a soma das massas atômicas dos elementos constituintes da substância, levando em conta o número de átomos indicados pelos seus índices. Ex: H2SO4, massa molecular = 1x2 +32x1 + 16x4= 2+32+64= 98. C) MOL OU MASSA MOLAR DA SUBSTÂNCIA: É a massa em gramas de uma substância cujo valor numérico é igual ao de sua massa molecular. No caso do ácido sulfúrico, a massa molar é igual a 98g. QUÍMICA GERAL II 35 D) NÚMERO DE MOLS DA SUBSTÂNCIA (N): É a massa da substância dividida pela massa molar da substância. Ex: n = m/(MM). Conhecido o número de mols, podemos calcular a massa fazendo m = n x MM. E) FÓRMULAS DAS SUBSTÂNCIAS: A fórmula química é determinada pela sequência explicada no diagrama a seguir: No laboratório, procedemos a análise química da substância e encontramos a composição percentual dos seus elementos. Com essa composição, podemos montar a fórmula mínima. Resta determinar experimentalmente a massa molar da substância, por métodos já descritos para a massa atômica. Com a massa molar, podemos calcular a fórmula química, que é o nosso objetivo. 1º Exemplo: Calcule a fórmula química da substância que apresentou a seguinte análise química: 20,2% de ferro; 11,5% de enxofre; 23,0% de oxigênio; e 45,3% de água de cristalização. A massa molar foi determinada como sendo 278g. Solução: Inicialmente, vamos calcular a fórmula mínima encontrando o número de mols de cada elemento químico na fórmula mínima. Em estudos posteriores, vamos abordar a posição dos elementos na fórmula química. Fe n=m/mol = 20,2g/56g = 0,36; S n=m/mol = 11,5g/32g = 0,36; O n=m/mol = 23,0g/16g = 1,437; H2O n=m/mol = 45,3g/18g = 2,5167. Dividindo todos por 0,36, ficamos com a seguinte sequência de números 1, 1, 4, 7; logo a fórmula mínima será (FeSO4. 7H2O)x. O x pode ser calculado usando-se a relação x = massa molar da fórmula química / massa molar da fórmula mínima, donde x = 278g/278g = 1. A fórmula química é FeSO4. 7H2O. 2º Exemplo: A análise química de 3,7g de uma substância resultou em 1,8g de carbono, 0,3g de hidrogênio e 1,6g de oxigênio. A massa molar foi determinada como 148g. Calcule a fórmula química. Solução: Cálculo do número de mols de cada elemento: C n = m/MM = 1,8g/12g = 0,15 H n = m/MM = 0,3g/1g = 0,30 O n = m/MM = 1,6g/16g = 0,10 Dividindo por 0,10 fica 1,5: 3: 1, multiplicando-se por2, temos 3: 6: 2. A fórmula mínima fica (C3H6O2) x. O x pode ser calculado através da fórmula: x = massa molar fórmula química / massa molar fórmula mínima. = 148/74 = 2. A fórmula química é (C3H6O2)2 = C6H12O4. 36 QUÍMICA GERAL II Com a descoberta dos isômeros, a fórmula química por si só não esclarece qual é a substância. Atualmente, a análise instrumental é utilizada para esclarecer a fórmula estrutural. Uma mesma fórmula química pode indicar varias substâncias. III. CÁLCULO DO VOLUME MOLAR Cálculo do volume molar é o volume ocupado por um mol ou pela massa molar da substância. Em geral, ele é calculado nas condições normais de temperatura e pressão – CNTP, onde a pressão é igual a uma atmosfera e a temperatura igual a zero grau centígrados. IV. CÁLCULO ESTEQUIOMÉTRICO OU CÁLCULO COM A EQUAÇÃO QUÍMICA Cálculo estequiométrico ou cálculo com a equação química é o cálculo das quantidades de reagentes ou produtos que participam de uma reação química, usando a equação química. O cálculo estequiométrico envolve a parte principal de uma indústria que utiliza um processo químico para obter um determinado produto. Como muitas reações são realizadas em solução aquosa, devemos antecipar parte do estudo de solução e suas concentrações. Solução é uma mistura homogênea (mistura com uma única fase). A solução binária tem dois componentes. O componente que está em maior quantidade é chamado solvente, e o que está em menor quantidade é chamado soluto. A solução aquosa é aquela em que o solvente é a água. Para que a solução seja homogênea, o soluto tem o tamanho de suas partículas limitado entre 0 e 1nm (1nm = 10-9m). Tudo que for referente ao soluto, leva índice 1, e tudo que for referente ao solvente, leva índice 2. Com essas definições, podemos entender a maneira de expressar a concentração de uma solução uma vez que ela expressa na realidade sua composição. Como o soluto é o nosso reagente, devemos ter condições de determinar sua quantidade, conhecendo o volume utilizado de solução. Concentração simples (C) é a relação entre a massa do soluto e o volume da solução em litros: C = m1/V (L); Concentração molar (M) é a relação entre o número de mols do soluto e o volume da solução em litros M = n1 / V(L). Como o número de mols é igual à massa dividida pela massa molar, podemos fazer n1 = m1/MM1, e substituir na definição da concentração molar, resultando: M = m1/[MM1 x V(L)]; Concentração percentual (%) é a relação entre a massa do soluto e a massa total da solução multiplicada por 100: % = (m1/mT) x 100; Concentração em fração molar (x) é a relação entre o número de mols do soluto e o número de mols total da solução: x1 = n1/nT; Densidade da solução (d) é a relação entre a massa da solução e o volume ocupado por essa massa de solução. A densidade é, em geral, expressa em g por cm³: d = m/V. A densidade é determinada em laboratório através do densímetro. QUÍMICA GERAL II 37 RECOMENDAÇÕES NO USO DA EQUAÇÃO QUÍMICA 1) Em processos industriais, os reagentes não são 100% puros: os reagentes utilizados em indústrias são chamados de matéria prima e, de modo geral, não são 100% puros. Para correção, utilizamos uma análise laboratorial onde o percentual de pureza é determinado e o cálculo da correção é feito através de uma regra de três simples. Ex: Uma indústria usa calcário cujo grau de pureza foi determinado como sendo 95%. Quanto de matéria prima deve colocar para obter 100g de CaBr2? É dada a equação química já balanceada, onde calculamos as massas: Calculando fica X = (100 x 100,09) / 199,88 = 50,075g. Necessitamos de 50,075 g de carbonato de cálcio puro para obter 100g de brometo de cálcio. Como a matéria prima tem grau de pureza de 95%, vamos usar uma regra de três simples para calcular a quantidade necessária. 100% X 95% 50,075g Podemos fazer: X = (100 x 50,075) / 95. Efetuando, temos X = 52,71g. Devemos colocar 52,71g de matéria prima. 2) Quando um dos reagentes é limitante da reação: o reagente limitante é aquele que está em menor quantidade. O uso do reagente limitante visa atingir os seguintes objetivos: a) economizar o reagente de maior custo, uma vez que esse reagente é totalmente consumido na reação; b) visualizar o final da reação; c) limitar a formação do produto. Ex: Na obtenção do nitrato de prata, usamos prata e ácido nítrico. Para garantir que não haja desperdício de prata, colocamos maior quantidade de ácido que a necessária, fazendo da prata o reagente limitante. Pede– se calcular a quantidade de nitrato de prata obtida teoricamente, quando usamos 0,5g de Ag com 50 mL de solução 2M de HNO3. É dada a equação química já balanceada onde calculamos as massas das substâncias, logo abaixo das fórmulas químicas: Visando fixar conhecimentos adquiridos, vamos confirmar a lei da conservação da matéria. Para tanto, vamos somar as massas dos reagentes e verificar se essa soma é igual à soma das massas dos produtos: reagentes = 324 + 252 = 576; produtos = 510 + 30 + 36= 576, o que confirma a lei. 38 QUÍMICA GERAL II A proporção de combinação da prata com o ácido nítrico dada pela natureza é de 324g para 252g; logo devemos verificar em que proporção estão as quantidades colocadas. 324 252 0,5 X Calculando X, fazemos: X = (0,5 x 252)/324, e o valor de X = 0,4. A massa de 0,4g de ácido nítrico é a massa necessária para reagir com 0,5g de prata. Devemos calcular a massa colocada de ácido nítrico. Como ele está em solução, vamos usar a fórmula da concentração molar para obter a massa do soluto, que é o ácido. M = m1 /[MM1 x V(L)] ou de outra forma: m1 = M x [MM1 x V(L)]. Substituindo os valores, fica: m1 = 2 x 63 x 0,05 = 6,3g, assim, comprovamos que a quantidade adicionadadeácidonítricoémaiorqueanecessária; logoaprataéo reagente limitante. Sendo a prata o reagente limitante, o produto vai depender de sua massa, pois quando a prata acaba, a reação termina. Vamos fazer uma regra de três simples, usando a relação da prata com o nitrato de prata para calcular a quantidade produzida de nitrato de prata. 324 510 0,5 X Calculando X, fazemos: X = (0,5 x 510) / 324, e o valor de X = 0,78. A massa de 0,78g de nitrato de prata é a massa teoricamente obtida. 3) As reações possuem rendimento menor que 100%: as reações químicas produzem quantidades menores do que a esperada pela proporção fornecida na equação química. Tal fato não contraria a lei da conservação da matéria, pois a massa final é igual à massa inicial. O rendimento é menor que 100% por vários motivos. Entre eles, os principais são: a) a reação é reversível e não se completa, pois os produtos reagem entre si e voltam a produzir os reagentes. Neste caso, o rendimento é muito baixo, sendo um bom indicativo para a conclusão de que a reação é reversível; b) o afastamento das condições da reação seja na temperatura ou na pressão; c) o aumento de vazão dos produtos, impedindo que os reagentes fiquem o tempo de permanência necessário no reator estabelecido pela cinética da reação; d) a perda de massa dos reagentes ou produtos por vazamentos; e) os erros de pesagens ou medidas. O cálculo do rendimento pode ser feito usando a relação de massas, a relação de volumes (caso de gases) ou a relação de número de mols. No caso, essa relação é entre a grandeza produzida e a grandeza teoricamente esperada pela equação química. Seja R o rendimento percentual, então podemos usar a fórmula: R = (massa observada / massa teórica) x 100; R = (número de mols observados / número de mols teóricos) x 100; R = (volume observado / volume teórico) x 100. Ex:Areaçãodonitrogêniocomohidrogênioproduzogásamoníaco.Colocamos 8,4g de nitrogênio para reagir com a quantidade em excesso de hidrogênio, sendo observada a produção de 5,1g de gás amoníaco. Calcule o rendimento. É dada a equação química já balanceada e as massas estequiométricas, calculadas pela fórmula m = n x MM N2 (g) + 3 H2 (g) NH3 (g) 28g 6g 34g QUÍMICA GERAL II 39 Já sabemosque o limitante é o nitrogênio, pois o hidrogênio está em excesso. Vamos usar a massa de nitrogênio para calcular a massa teórica do gás amoníaco: 28 34 8,4 X Calculando X, fazemos: X = (8,4 x 34) / 28, e o valor de X = 10,2g. Essa é a massa que teoricamente deveríamos obter; logo o rendimento é: R = (5,1g / 10,2g) x 100 = 50%. Como o rendimento é muito baixo, podemos dizer que a reação é reversível e que está em equilíbrio químico. Na equação, devemos usar seta dupla, indicando que os produtos reagem revertendo o sentido da reação, conforme já foi estudado na primeira unidade. N2(g) + 3 H2(g) 2 NH3(g) EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES Verifique seu entendimento do assunto com os exercícios apresentados e resolva os que agora são propostos: EXERCÍCIO 01: Seja uma peça de zinco com massa de 2,0 g colocada em 10 mL de solução aquosa 2M de AgNO3. A reação química é de troca simples, cuja equação química balanceada está representada a seguir: Zn (s) + 2AgNO3 (aq) 2 Ag (s) + Zn(NO3)2 (aq) Calcule e verifique: a) a existência de reagente limitante; b) a quantidade de prata produzida. Solução: Vamos usar a equação química para os cálculos necessários. Calculando X, temos X = (2,0 x 340)/65,4 = 10,39g, que é a massa necessária de nitrato de prata para reagir com 2,0g de zinco. Vamos calcular a massa colocada em forma de solução em que o soluto é o nosso reagente. No caso, o nitrato de prata. Usando a fórmula da concentração molar, temos M = m1/[MM1 x V(L)]. Como queremos a massa do soluto (m1), fazemos: m1 = M x MM1 x V (L) = 2 x 170 x 0,01 = 3,4g. a) Verifica-se que necessitávamos de 10,39g de nitrato de prata e colocamos apenas 3,4g; logo vai faltar nitrato de prata, sendo esse o reagente limitante; b)Comooreagente limitanteestáemmenorquantidadedoqueanecessária, ele é que serve de base para o cálculo dos produtos. Usando a equação química, temos a proporção entre o reagente e o produto. Podemos então fazer: 340g — 216g; 3,4g — X; X = (3,4 x 216) / 340 = 2,16g, que é a quantidade de prata produzida. 40 QUÍMICA GERAL II EXERCÍCIO 02: O metanol pode ser obtido pela reação do monóxido de carbono com o hidrogênio, conforme reação química cuja equação química balanceada é dada: CO (g) + 2H2 (g) CH3OH (l); Colocamos 356 g de CO para reagir com 65,0g de H2 e ocorreu a produção de 332g de metanol. Calcule e verifique: a) a existência de reagente limitante; b) o rendimento da reação. Solução: Vamos usar a equação química balanceada para realizar os cálculos químicos: CO (g) + 2 H2 (g) CH3OH (l) 28 g 4g 32g 356g X X = (356 x 4)/28 = 50,86g, que é a massa necessária de hidrogênio para reagir com 356g de monóxido de carbono. Colocamos 65,0g de hidrogênio; logo sobra hidrogênio e falta monóxido de carbono. a) Como falta CO, podemos dizer que ele é o reagente limitante; b) Identificado o reagente limitante, podemos verificar o rendimento com os dados fornecidos. Usando a equação química, tiramos a proporção teórica entre o CO e o CH3OH: 28g 2g; 356g X; Calculando X, temos X = (356 x 32)/28 = 406,86g, que é a massa teórica de metanol. Como a massa obtida foi 332g, o rendimento percentual é então calculado: R = (332g/406,86g) x 100 = 81,6%. EXERCÍCIO 03: Colocamos 0,8 g de sulfito de sódio sólido para reagir com 10 mL de HCl 3,0 M e obtivemos 100 mL de SO2 na pressão de 1 atm e temperatura de 25° C. Calcule e verifique: a) o cálculo da existência de reagente limitante; b) o rendimento da reação. A equação química balanceada é dada: Na2SO3 (s) + 2 HCl (aq) 2 NaCl (aq) + H2O (l) + SO2 (g); Solução: Este exercício envolve o cálculo do rendimento através do volume gasoso. Como a pressão é baixa, podemos considerar o gás como gás ideal e aplicar a equação dos gases ideais, que é: pV = nRT. Usando a equação, temos as massas teóricas envolvidas na reação: QUÍMICA GERAL II 41 X = (0,8 x 73)/126 = 0,46g, que é a massa de HCl necessária para reagir com 0,8g de sulfito de sódio. Vamos calcular a massa colocada. Como o HCl foi adicionado em forma de solução, vamos usar a fórmula da concentração molar para calcular a quantidade de soluto adicionada. M = m1/[MM1 x V(L)]; a massa do soluto será m1 = M x MM1 x V(L). Substituindo os valores, fica: m1 = 3 x 36,5 x 0,01 = 1,095g. a) Pelos cálculos, verificamos que a massa necessária de HCl é de 0,46g. Foi colocado para reagir 1,095g; logo sobra HCl e falta Na2SO3. O reagente limitante, então, é o sulfito de sódio; b) Para o cálculo do rendimento, devemos antes escolher o caminho mais fácil, seja pelo cálculo da massa teórica e do volume teórico, sendo o rendimento calculado pela relação dos volumes, seja pelo cálculo da massa teórica e da massa observada, sendo o rendimento calculado pela relação entre as massas. Como já temos o volume observado, vamos calcular o volume teórico, usando a equação química. Para calcular o volume teórico, devemos antes calcular a massa teórica. Como o sulfito de sódio é o reagente limitante, ele será usado para cálculo dos produtos. A massa teórica de SO2 será: 126g 64g; 0,8g X; Calculando X, temos: X = (0,8 x 64)/126 = 0,406g, que é a massa teórica de SO2. Com a massa teórica, podemos calcular o volume teórico. Antes, devemos calcular o número de mols teórico: n = m / MM = 0,406/64 = 0,00634. Aplicando na equação dos gases ideais, temos: pV = nRT ou V = (nRT)/p = (0,00634 x 0,082 x 298)/1 = 0,155 litros ou 155 mL. O rendimento será: R = (V obtido/V teórico) x 100 = (100/155) x 100 = 64,5 %. 1º exercício: Um engenheiro mecânico analisa a combustão de um automóvel que queima octano como combustível. A equação química balanceada é dada como: 2 C8H18 (L) + 25 O2 (g) 16 CO2 (g) + 18 H2O (L). Supondo que a injeção eletrônica abastece o cilindro com 30 g de octano e 80 g de oxigênio. No escapamento foi analisada a presença de 50,5 g de CO2, oriundos daquele cilindro. Calcule e verifique: a) a existência do reagente limitante; b) o rendimento da reação em termos de CO2. 42 QUÍMICA GERAL II 2º exercício: Em uma fábrica de cal, utilizamos o calcário com grau de pureza de 100%, para obter o óxido de cálcio. A equação química balanceada é: CaCO3 (s) CaO (s) + CO2 (g). A produção deve ser de 2.000 Kg de CaO por dia, sendo que a reação teve seu rendimento medido em 85%. Qual deve ser a massa de calcário colocada no forno por dia para atender a produção desejada? ATKINS, Peter e JONES, Loretta. Princípios de Química. Questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Editora Bookman, 2001, 914 p. BROWN, Theodore L.; LEMAY JÚNIOR, H. Eugene e BURSTEN, Bruce E. Química. A ciência central. São Paulo: Editora Pearson Prentice Hall, 2005, 972 p. EBBING, Darrell D. Química Geral. Volume 1. 5ª ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S. A., 1998, 569 p. KOTZ, John C.; TREICHEL JÚNIOR, Paul M. Química Geral e reações químicas. Volume 1. São Paulo: Editora Thomson, 2005, 671 p. RUSSEL, John Blair. Química Geral. Volume 12ª ed. São Paulo: Editora Makron Books, 1994, 621 p.