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1
Homem e linguagem
Neste capítulo, realizaremos uma reflexão sobre 
os conceitos linguísticos fundamentais para a aprendizagem e o 
ensino da língua portuguesa. 
Serão abordados os conceitos de linguagem, língua e fala, 
as diferentes formas como a linguagem é apresentada e a maneira 
como os falantes de uma língua fazem uso dela. Serão apresentadas 
ainda as funções da linguagem e suas variações.
– 10 –
Leitura e Escrita na Era Digital
Ao final do capítulo, será possível identificar os elementos da comuni-
cação, além de distinguir as funções da linguagem em relação aos elementos 
do processo comunicativo. Também será possível diferenciar os conceitos de 
linguagem, língua e fala e reconhecer a variação linguística como uma mani-
festação decorrente das influências recebidas no contato com as diversas cul-
turas existentes em nosso país. 
A língua é, sem dúvida, um dos mais importantes produtos da cultura, 
porque é o código utilizado em grande parte dos nossos atos de comunicação.
1.1 Linguagem, língua e fala 
No dia a dia, costuma-se afirmar – o que cientificamente comprova-se – 
que a linguagem diferencia o homem dos demais animais. Dessa forma, no 
Dicionário de comunicação (RABAÇA, 1987, p. 367), encontramos a seguinte 
definição: “a linguagem é um fato exclusivamente humano, um método de 
comunicação racional de ideias, emoções e desejos por meio de símbolos 
produzidos de maneira deliberada”. Isso porque a linguagem humana pode 
ser articulada por seu usuário, pode envolver o pensamento e o simbólico, 
a representação da sua realidade e suas relações nos atos comunicativos. 
Assim, a linguagem, a língua possibilita ao homem criar e agir sobre a rea-
lidade. Segundo Vygotsky, “o momento de maior significado no curso do 
desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas 
de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prá-
tica, então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, 
convergem” (VYGOTSKY, 2010, p. 12).
No texto a seguir, o filósofo Louis Hjelmslev (1975, p. 15) apresenta, 
de modo filosófico e literário, a indiscutível importância da linguagem para 
o homem:
A linguagem, a fala humana é uma inesgotável riqueza de 
múltiplos valores. A linguagem é inseparável do homem e 
segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento 
graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus senti-
mentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, 
o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, 
a base última e mais profunda da sociedade humana. Mas é 
também o recurso último e indispensável do homem, seu refú-
gio nas horas solitárias em que o espírito luta com a existên-
cia, e quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na 
– 11 –
Homem e linguagem
meditação do pensador. Antes mesmo do primeiro despertar 
de nossa consciência, as palavras já ressoavam à nossa volta, 
prontas para envolver os primeiros germes frágeis de nosso 
pensamento e a nos acompanhar inseparavelmente através 
da vida, desde as mais humildes ocupações da vida quotidiana 
aos momentos mais sublimes e mais íntimos dos quais a vida 
de todos os dias retira, graças às lembranças encarnadas pela 
linguagem, força e calor A linguagem não é um simples acom-
panhante, mas sim um fio profundamente tecido na trama do 
pensamento; para o indivíduo, ela é o tesouro da memória e a 
consciência vigilante transmitida de pais para filhos. Para seu 
bem e para o mal, a fala é a marca da personalidade, da terra 
natal e da nação, o título de nobreza da humanidade. 
Para dominar a linguagem como língua, é preciso que a pessoa desen-
volva várias habilidades necessárias ao processo de comunicação. Ouvir, 
falar, ler e escrever são as ações que, gradualmente, vão propiciar o desenvol-
vimento desse domínio. 
A partir do nascimento (alguns estudiosos afirmam que até antes), 
começa-se a ouvir todos que estão próximos; pelo processo de imitação, 
associado com o desenvolvimento físico, inicia-se a repetição do que se ouve. 
Nasce a fala, no início restrita, com pouquíssimas palavras que, em geral, 
servem para várias situações e objetos, tais como: “mamá” (comida), “mãma” 
(mãe); “papá” (comida), “pápa” (pai), e assim por diante. Por volta dos sete 
anos, chegamos a 1 mil ou 1,2 mil palavras e, por volta dos 14 anos, a 15 ou 20 
mil, dependendo do contexto e das situações relacionadas com a linguagem.
Na sequência, a oralidade irá se transformar em linguagem simbólica, 
a partir do momento em que as habilidades de leitura e escrita passam a ser 
dominadas. Essas duas habilidades necessitam de aprendizagens diferencia-
das, pois “para escrever é preciso ter um acervo de recursos e ter o que dizer 
sobre o assunto. Para ler, é preciso ter um acervo de recursos que permita 
compreender o texto” (LIMA, 2002, p. 15). Se, por um lado, é ruim apren-
der as duas habilidades separadamente e não como um conhecimento auto-
mático, por outro, é salutar, porque, em caso de qualquer problema físico, 
pode-se ficar com uma ou com outra (se tiver sorte).
Após o processo de domínio das quatro habilidades, adquire-se uma com-
petência muito mais importante do que simplesmente o domínio de uma língua, 
– 12 –
Leitura e Escrita na Era Digital
é a competência de pensar, que torna o homem, segundo a tradição, efetivamente 
humano. Ou seja, se há linguagem, há pensamento ou, como diz o filósofo Des-
cartes: “Cogito, ergo sum” (“Penso, logo existo”). Vygotsky pondera que
a relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa 
mas um processo, um movimento contínuo de vaivém entre 
a palavra e o pensamento: nesse processo a relação entre o 
pensamento e a palavra sofre alterações que, também elas, 
podem ser consideradas como um desenvolvimento no sen-
tido funcional. As palavras não se limitam a exprimir o pen-
samento: é por elas que este acede à existência [...]. O pensa-
mento e a palavra não são talhados no mesmo modelo: em 
certo sentido há mais diferenças do que semelhanças entre 
eles. A estrutura da linguagem não se limita a refletir como 
num espelho a estrutura do pensamento; é por isso que não 
se pode vestir o pensamento com palavras, como se de um 
ornamento se tratasse. O pensamento sofre muitas altera-
ções ao transformar-se em fala. Não se limita a encontrar 
expressão na fala; encontra nela a sua realidade e a sua forma 
(VYGOTSKY apud IANNI, 1999, p. 40).
No entanto, linguagem e língua aproximam-se e diferem de que modo? 
Muitas palavras, utilizadas para explicar o processo de comunicação, pare-
cem sinônimas, mas apresentam conceitos diferentes cuja compreensão é 
importante, tanto para o ensino, quanto para a aprendizagem de uma língua, 
são elas: linguagem, língua, fala, discurso, sistema, norma, palavra, vocábulo 
e léxico. Portanto, o conhecimento da importância da palavra para todo o 
processo de interação por meio da linguagem é fundamental. Isso porque 
cada palavra tem seu sentido reconhecido plenamente desde que se conheça 
o contexto no qual ela está inserida. O contexto é que definirá o real sentido 
de cada palavra. A compreensão do sentido da palavra, num determinado 
texto e contexto, é que possibilitará, também, a compreensão da mensagem.
Contexto
Texto
Palavra
– 13 –
Homem e linguagem
Tal concepção fica evidente na música Palavras, do grupo Titãs, pois, 
a partir dela, é possível inferir que é o falante que dá vida às palavras, pelo 
contexto e pela compreensão de mundo do usuário. Vamos observar o trecho 
a seguir:
Palavras 
Palavras são iguais
Sendo diferentes
Palavras não são frias
Palavras não são boas
Os números pra os dias
E os nomes pra as pessoas
[...]
Palavras. Marcelo Fromer e Sérgio Britto, Titãs, 
1989 © Warner Chappel Music.
A linguagem é uma característica humana universal, visto que utiliza 
todos os códigos, signos, sinais para que sejam expressados pensamentos, per-
cepções e sentimentos e para que a comunicação seja efetivada. Pode-se dizer 
que a linguagem vai sedesenvolvendo por meio de um sistema de signos (algo 
que está no lugar de um objeto ou fenômeno, sob algum aspecto). 
Os signos estabelecem relações de sentido com o objeto que represen-
tam, das mais simples às mais complexas. É necessário passar por essas rela-
ções para se chegar ao domínio da linguagem. São elas:
 2 relação de semelhança – o signo é o objeto apresentado; ícone: 
exemplo – as imagens em geral;
 2 relação de causa e efeito – afeta a existência do objeto ou por ele 
é afetado; índice: exemplo – pegadas na lama – alguém passou 
por aqui;
 2 relação arbitrária – regida por convenção; símbolo: exemplo – as 
representações, continuamente usadas na linguagem e no entendi-
mento pessoal, tornam-se convenções, símbolos.
– 14 –
Leitura e Escrita na Era Digital
Já a língua é uma linguagem de caráter regional, é um sistema organi-
zado de sons e sinais que a caracterizarão como o código de signos linguísticos 
de um determinado povo. Desse modo, todas as línguas (para a comunidade 
lusófona, a língua portuguesa) têm uma estrutura própria para combinar os 
signos linguísticos.
Sendo assim, a língua constitui-se por: um repertório/conjunto de sig-
nos que vão compô-la; as regras de combinação que incluem as de organiza-
ção dos sons e suas combinações; as regras que determinam a organização 
interna das palavras e as que especificam a forma como serão ordenadas as 
palavras e a diversidade de tipos de frase. Estamos nos referindo à fonologia, 
à morfologia, à sintaxe da língua e às regras de uso, as quais englobam as 
regras reguladoras do uso da linguagem em contextos sociais – no que diz 
respeito às funções e intenções comunicativas e à escolha de códigos a uti-
lizar – e que devem ser aceitas pela sociedade para que haja inteligibilidade 
entre os atos de comunicação. 
O terceiro conceito a ser compreendido no processo de comunicação é a 
fala, o uso individual da língua, o discurso que se realiza a partir da compre-
ensão da língua e do conhecimento de mundo de cada um. Por esses motivos, 
falantes de uma mesma língua, de uma mesma região e de uma mesma for-
mação terão falas, discursos diferentes. Por se tratar de oralidade, o falante 
pode desrespeitar as regras de combinação; se este desrespeito tornar-se 
padrão, poderá alterar e criar uma nova regra, promovida pelo uso.
Podemos afirmar que dominamos uma língua quando conhecemos seu 
repertório de signos, as regras de combinação e as regras de uso desses signos. 
Segundo Saussure (1977, p. 196), “nada entra na língua sem ter sido expe-
rimentado na fala, e todos os fenômenos evolutivos têm sua raiz na esfera 
do indivíduo”. De acordo com o linguista, o que diferencia a língua da fala é 
que a primeira é sistemática, tem certa regularidade, é potencial, coletiva; a 
segunda é assistemática, possui certa variedade, é concreta, real, individual. 
A língua, então, pode ser escrita e falada. São duas formas de uso que 
acabam tendo regras diferenciadas, uma vez que, ao falar, temos maior liber-
dade e despreocupação com a obediência às normas impostas pelo sistema 
linguístico. Porém, a escrita deve atender às normas, motivo pelo qual é con-
siderada pelos usuários uma modalidade mais difícil.
– 15 –
Homem e linguagem
As diferenças entre a língua falada e a língua escrita são muitas, 
como podemos observar no quadro a seguir, adaptado de Mesquita 
(1995, p. 25).
Língua falada Língua escrita
 2 Palavra sonora. 2 Palavra gráfica.
 2 A mensagem é transmitida de 
forma imediata.
 2 A mensagem é transmitida de forma não 
imediata.
 2 O emissor e o receptor conhecem 
bem a situação e as circunstâncias 
que os rodeiam.
 2 O receptor não conhece de forma direta a situa­
ção do emissor e o contexto da mensagem.
 2 A mensagem é breve.
 2 A mensagem é mais longa do que na língua 
falada.
 2 São permitidos os elementos pro­
sódicos, como entonação, pausa, 
ritmo e gestos, que enfatizam o 
significado.
 2 Não é possível a utilização de elementos 
prosódicos. O emprego dos sinais de pon­
tuação tenta reconstruir alguns desses ele­
mentos.
 2 É admitido o emprego de cons­
truções simples, com ênfase para 
orações coordenadas e presença de 
frases incompletas.
 2 Exigem­se construções mais complexas, 
mais elaboradas, com ênfase para orações 
subordinadas, e a ordenação da mensagem 
melhor planejada.
 2 É mais subjetiva e pode ser repro­
cessada a cada momento a partir 
das reações do interlocutor.
 2 É mais objetiva. É possível esquecer o inter­
locutor. O escritor pode processar o texto a 
partir das possíveis reações do leitor.
 2 O contexto extralinguístico tem 
grande influência. Criação coletiva.
 2 O contexto extralinguístico tem menos 
influência. Criação individual.
Estas são algumas características que diferenciam a possibilidade de uso 
da língua. Saber transitar pelas duas modalidades e ter controle de suas varie-
dades, usando-as no lugar e no momento certo, é fator decisivo na comuni-
cação interpessoal.
A respeito da importância do domínio da variedade oral da língua, em 
situação formal, recomendamos o filme O discurso do Rei, que tem esta ques-
tão como tema principal.
– 16 –
Leitura e Escrita na Era Digital
 Dica de filme
O filme O discurso do Rei apresenta, de forma envol-
vente e com grandes detalhes, o trabalho realizado por 
um profissional que tem um método um tanto radical 
para os padrões da época, para liberar a fala do Rei 
George. O jovem herdeiro da coroa britânica sofria de 
gagueira e tinha pânico de falar em público. Para supe-
rar suas dificuldades, contará com o empenho de sua 
esposa e do professor nada convencional de oratória. 
O tema é atual, uma vez que a maioria dos profissionais 
precisa ter o domínio da fala com propriedade para 
desempenhar bem suas funções.
O DISCURSO do Rei. Direção de Tom Hooper. Ingla-
terra: Paris Filmes, 2010. 1 filme (118 min), sonoro, legenda, 
color., 35 mm. 
A língua, além de oral e escrita, pode ser, pelo uso, classificada de dois 
modos: a modalidade culta ou língua-padrão e a modalidade popular, ou lín-
gua cotidiana. 
A modalidade culta é aquela associada à escrita, à tradição gramatical, 
é a registrada nos dicionários e, portanto, é a que traduz a tradição cultural e 
a identidade de uma nação.
A modalidade popular é uma variante informal, considerada de pouco 
prestígio quando comparada à linguagem padrão. Sua característica é afas-
tar-se da norma na construção sintática, usar um vocabulário comum, repe-
tições constantes, gírias.
Segundo Mattoso Câmara Jr. (1978, p. 177), “norma é um conjunto 
de hábitos linguísticos vigentes no lugar ou na classe social mais pres-
tigiosa no país”. Logo, com essa classificação, podemos entender que há 
várias classes que não adotam a norma e, portanto, há outras modalida-
des em uso. 
– 17 –
Homem e linguagem
1.1.1 Variedades linguísticas
As variedades linguísticas são determinadas por vários fatores, entre os 
quais se destacam os geográficos, históricos, sociais e estilísticos.
A variação geográfica está relacionada com as diferenças de pronún-
cia, de vocabulário e de sintaxe, que ocorrem de região para região do Brasil. 
O texto a seguir ilustra bem esta variedade com ênfase na pronúncia.
Receita cazêra minêra de môi de repôi nu ái i ói
Ingredientes
 2 5 denti di ái
 2 3 cuié de ói
 2 1 cabessa de repôi
 2 1 cuié di mastomati
 2 Sár agosto
Modi fazê
 2 Casca o ái, pica o ái i soca o ái cum sá;
 2 Quenta o ói na cassarola;
 2 Foga o ái socado no ói quenti;
 2 Pica o repôi beeemmm finimm...
 2 Foga o repôi no ói quenti junto cum ái fogado;
 2 Põi a mastomati i mexi cum a cuié prá fazê o môi;
 2 Sirva cum rôis e melete...
Pção: cumpanha filezim de pescadim beemmm fritim. 
RECEITA cazêra minera de môi de repôi nu ái i ói. Disponível em: 
<http://www.alapinha.com.br/Cardapio%20introducao.htm>. 
Acesso em: 22 out. 2012.
– 18 –
Leitura e Escrita na Era Digital
A música Cuitelinho, do folclore nacional, apresenta a questão do uso 
dos plurais, tão comum em certasregiões brasileiras.
Cuitelinho
Cheguei na beira do porto 
Onde as onda se espaia 
As garça dá meia volta 
E senta na beira da praia 
E o cuitelinho não gosta 
Que o botão de rosa caia, ai, ai
Ai quando eu vim 
da minha terra 
Despedi da parentália 
Eu entrei no Mato Grosso 
Dei em terras paraguaia 
Lá tinha revolução 
Enfrentei fortes batáia, ai, ai
A tua saudade corta 
Como aço de naváia 
O coração fica aflito 
Bate uma, a outra faia 
E os óio se enche d´água 
Que até a vista se atrapáia, ai...
Autoria desconhecida.
A variação histórica ocorre pelo processo de evolução do homem que, 
com suas novas invenções, ou com o abandono de objetos, hábitos e costu-
mes, acaba interferindo na língua, que também é viva. O léxico que cai em 
desuso chama-se arcaísmo e as palavras novas que surgem são classificadas 
como neologismos. A seguir, citamos um exemplo de arcaísmo, o trecho 
está com a escrita da língua portuguesa do passado, do século XVIII, a qual 
transformou-se a ponto de pessoas não identificarem o sentido de algumas 
palavras pelas diferenças ortográficas. Leia as duas versões e compare-as.
– 19 –
Homem e linguagem
“Este rrey Leyr nom ouue filho, mas ouue tres filhas muy fermosas 
e amauaa-as muito. E huum dia sas rrazõoess com ellas e disse-lhess que 
lhe dissessem verdade, qual d’ellas o amaua mais. Disse a mayor que nom 
auia cousa no mundo que tanto amasse como elle; e disse a outra que o 
amaua tanto com a ssy mesma; e disse a terçeira, que era a meor, que o 
amaua tanto como deue dámar filha a padre.” (VASCONCELOS apud 
FARACO, 1991, p. 11).
“Este Rei Lear não teve filhos, mas teve três filhas muito for-
mosas e amava-as muito. E um dia teve com elas uma discussão e 
 disse-lhes que lhe dissessem a verdade, qual delas o amava mais. Disse 
a maior que não havia coisa no mundo que amasse tanto como a ele; 
e disse a outra que o amava tanto como a si mesma; e disse a terceira 
que o amava tanto como deve uma filha amar um pai.” 
FARACO, C. A. Linguística histórica. São Paulo: Ática, 1991.
A variação social, como afirma Mattoso Câmara (1978), decorre não 
somente do poder aquisitivo, mas também do grau de educação, da idade 
e do sexo dos usuários da língua. Vejamos os usos diversos da conjugação 
verbal: nós vamos/nóis vai/nóis imo/nós vamo. A música Chopis centis, do 
grupo musical Mamonas Assassinas, brinca com a questão das variedades 
linguísticas, colocando o falar popular na linguagem escrita.
Chopis centis
Eu “di”um beijo nela
E chamei pra passear.
A gente fomos no shopping,
Prá “mode” a gente lanchar.
Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim
Até que tava gostoso, mas eu prefiro aipim. [...]
Chopis Centis. Dinho e Julio Rasec, Mamonas Assassinas, 
1995 © Edições Musicais Tapajós Ltda.
– 20 –
Leitura e Escrita na Era Digital
A variação estilística é provocada pelo ato da fala e pela escrita. 
Dependendo da situação comunicativa, a pessoa pode usar uma modalidade 
ou outra. De acordo com os ouvintes, o falante definirá qual o vocabulário a 
ser utilizado, o grau de formalidade ou informalidade. Na escrita, o usuário 
poderá, pelo seu estilo, tornar-se um modelo ou um padrão.
O potencial estilístico de José Paulo Paes, por exemplo, é evidenciado 
no poema a seguir, quando o autor brinca com a possibilidade de trocar 
algumas letras, ou a escrita das palavras, e interferir no significado. Além 
disso, com um poema curtíssimo, consegue passar uma grande mensa-
gem. Vejamos:
Prolixo?
Pro lixo.
Conciso?
Com siso.
PAES, J. P. Poesia completa. Sao Paulo: 
Companhia das Letras, 2008. p. 27.
Todas estas classificações acabaram por criar alguns preconceitos 
linguísticos com relação às variedades prestigiadas e às estigmatizadas. 
Quanto mais próxima está a variedade utilizada do que se denomina lín-
gua padrão, mais prestígio social o falante terá, quanto mais distante, mais 
estigmatizado será. Ao relacionar língua padrão com gramática, estabele-
ceu-se a noção de que, se a regra não for cumprida, ocorre um “erro”, o que 
torna o falante um sujeito desprestigiado socialmente. Marcos Bagno, em 
sua “novela” sociolinguística intitulada A língua de Eulália (1999), apre-
senta, de forma clara, envolvente e literária, o argumento de que falar 
diferente não é falar errado e justifica linguística, histórica, socioló-
gica e psicologicamente o uso das variedades linguísticas. É de sua obra 
 Preconceito linguístico – o que é, como se faz (BAGNO, 2006, p. 142-145) 
o texto a seguir, que apresenta uma síntese sobre como ensinar a língua 
sem criar tanto preconceito.
– 21 –
Homem e linguagem
Dez cisões
Para um ensino de língua não (ou menos) preconceituoso
1. Conscientizar-se de que todo falante nativo de uma língua é um 
usuário competente dessa língua, por isso ele sabe essa língua. 
Entre os 3 e 4 anos de idade, uma criança já domina integralmente 
a gramática de sua língua.
2. Aceitar a ideia de que não existe erro de português. Existem dife-
renças de uso ou alternativa de uso em relação à regra única pro-
posta pela gramática normativa.
3. Não confundir erro de português (que, afinal, não existe) com sim-
ples erro de ortografia. A ortografia é artificial, ao contrário da lín-
gua, que é natural. A ortografia é uma decisão política, é imposta por 
decreto, por isso ela pode mudar, e muda de uma época para outra. 
Em 1899 as pessoas estudavam psychologia e história do Egypto; 
em 1999 elas estudavam psicologia e história do Egito. Línguas que 
não têm escrita nem por isso deixam de ter sua gramática.
4. Reconhecer que tudo o que a Gramática Tradicional chama de 
erro é na verdade um fenômeno que tem uma explicação cien-
tífica perfeitamente demonstrável. Se milhões de pessoas (cultas 
inclusive) estão optando por um uso que difere das regras pres-
critas nas gramáticas normativas é porque há alguma nova regra 
sobrepondo-se à antiga. Assim, o problema está com a regra tra-
dicional, e não com as pessoas, que são falantes nativos e perfeita-
mente competentes de sua língua. Nada é por acaso.
5. Conscientizar-se que toda língua muda e varia. O que hoje é visto 
como “certo” já foi “erro” no passado. O que hoje é considerado 
“erro” pode vir a ser perfeitamente considerado como “certo” no 
futuro da língua. Um exemplo: no português medieval existia um 
verbo leixar (que aparece até na carta de Pero Vaz de Caminha ao 
rei D. Manuel I). Com o tempo, esse verbo foi sendo pronunciado 
deixar porque [d] e [l] são consoantes aparentadas, o que permitiu 
a troca de uma pela outra. 
– 22 –
Leitura e Escrita na Era Digital
 Hoje quem pronunciar leixar vai cometer um “erro” (vai ser acu-
sado de desleixo), muito embora essa forma seja mais próxima da 
origem latina, laxare (compare-se, por exemplo, o francês laisser 
e o italiano lasciare). Por isso é bom evitar classificar algum fenô-
meno gramatical de “erro”: ele pode ser, na verdade, um indício do 
que será a língua no futuro.
6. Dar-se conta de que a língua portuguesa não vai nem bem, nem 
mal. Ela simplesmente vai, isto é, segue seu rumo, prossegue em 
sua evolução, em sua transformação, que não pode ser detida (a 
não ser com a eliminação física de todos os seus falantes).
7. Respeitar a variedade linguística de toda e qualquer pessoa, pois 
isso equivale a respeitar a integridade física e espiritual dessa pes-
soa como ser humano.
8. A língua permeia tudo, ela nos constitui enquanto seres huma-
nos. Nós somos a língua que falamos. A língua que falamos molda 
nosso modo de ver o mundo e nosso modo de ver o mundo molda 
a língua que falamos. Para os falantes de português, por exemplo, 
a diferença entre ser e estar é fundamental: eu estou infeliz é radi-
calmente diferente, para nós, de eu sou infeliz. Ora línguas como o 
inglês, o francês e o alemão têm um único verbo para exprimir as 
duas coisas. Outras, como o russo, não têm verbo nenhum, dizendo 
algo assim como: Eu-infeliz (o russo, na escrita, usa mesmo um 
travessão onde nós inserimos um verbo de ligação).
9. Uma vez que a línguaestá em tudo e tudo está na língua, o pro-
fessor de português é professor de tudo. (Alguém já me disse que 
talvez por isso o professor de português devesse receber um salário 
igual à soma dos salários de todos os outros professores!).
10. Ensinar bem é ensinar para o bem. Ensinar para o bem significa res-
peitar o conhecimento intuitivo do aluno, valorizar o que ele já sabe 
do mundo, da vida, reconhecer na língua que ele fala a sua própria 
identidade como ser humano. Ensinar para o bem é acrescentar e 
não suprimir, é elevar e não rebaixar a autoestima do indivíduo. 
Somente assim, no início de cada ano letivo este indivíduo poderá 
comemorar a volta às aulas, em vez de lamentar a volta às jaulas! 
BAGNO, M. Preconceito linguistico: o que é, como se faz. 
47. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
– 23 –
Homem e linguagem
 Dica de filme
Para compreender melhor a relação da língua com 
as diversas culturas, assista ao filme Língua, vidas em 
português. Este documentário premiado de Victor 
Lopes apresenta uma viagem pelo mundo com entradas 
em todos os países em que há falantes da língua portu-
guesa. Sua estrutura narrativa circular prende o interlo-
cutor. São histórias de vidas de pessoas com suas dife-
renças culturais, mas que têm em comum serem usuários 
da língua portuguesa. É importante ressaltar a presença 
de pessoas ilustres que participam com depoimentos, 
como José Saramago (escritor português), João Ubaldo 
Ribeiro (escritor brasileiro), Martinho da Vila (cantor e 
compositor), Teresa Salgueiro (do grupo Madredeus) e 
Mia Couto (escritor moçambicano contemporâneo que 
escreve o roteiro).
LÍNGUA, vidas em português. Direção de Victor Lopes. 
Brasil/Portugal: Paris Filmes, 2002. 1 filme (105 min), sonoro, 
legenda, color., 35 mm.
Como pode-se perceber, a própria compreensão de língua como um 
sistema regido por normas é constantemente questionada pelos efeitos que 
produz, uma vez que a comunicação confunde-se com a própria vida e a 
língua é viva.
1.1.2 Funções da linguagem
O processo de leitura e escrita constitui-se enquanto um ato comu-
nicativo. Para tal, ele precisa de um emissor, aquele que fala ou escreve, 
um receptor, aquele que lê ou escuta, um referente, que é constituído 
pelo contexto, situação ou objetos reais ao qual a mensagem remete, um 
código, que é o conjunto de signos e regras de combinação a ser usado, 
um canal de comunicação, que é a via de circulação da mensagem, e a 
– 24 –
Leitura e Escrita na Era Digital
 mensagem, que é o conteúdo da comunicação. Roman Jakobson (2001), 
em seus estudos linguísticos, estabeleceu a cada uma das situações do ato 
comunicativo uma função da linguagem. Dependendo da ênfase que se 
dá a cada um dos processos comunicativos, a linguagem apresenta uma 
função com recursos linguísticos próprios. Temos, assim, a função expres-
siva, a função conativa, a função metalinguística, a função fática, a função 
poética e a função referencial. Sabe-se que não há na linguagem uma fun-
ção pura, várias podem aparecer ao mesmo tempo no processo comunica-
tivo, no entanto, conhecê-las ajudará a melhorar a elaboração da fala e da 
escrita ( JAKOBSON, 2001).
Receptor
Função 
conativa
Emissor
Função 
expressiva
Referente: função 
referencial
Canal de comunicação: 
função fática
Mensagem: função 
 poética
Código: função 
metalinguística
Fonte: Jakobson (2001, p. 17).
Na sequência, vamos identificar as características de cada função.
1.1.2.1 Função expressiva 
É centrada no emissor da mensagem, exprime a sua relação com o 
conteúdo transmitido, a sua opinião, emoções, avaliações. Pode-se sentir no 
texto a presença do emissor (que pode ser clara ou sutil). É uma comunicação 
– 25 –
Homem e linguagem
 subjetiva, faz uso de frase exclamativa, de interjeições, superlativos, aumen-
tativos, diminutivos, hipérboles, entonação máxima.
Resenha sobre o filme O discurso do rei
[...] Pode-se dizer, porém, que a cena mais impactante do filme é 
o momento em que o rei deve realizar seu primeiro discurso. Não vou 
além, pois não quero estragar as surpresas que aguardam o público 
ao longo da história e, com certeza, no seu final. Ao contrário do que 
muitos podem imaginar o roteiro não é baseado no livro de mesmo 
título; a versão literária foi escrita pelo neto de Lionel, Mark Logue, 
com a ajuda do jornalista Peter Conradi.
Ele decidiu escrever esta obra a partir do momento em que foi 
procurado pela produção do filme para revelar detalhes sobre a bio-
grafia do australiano Lionel. Curioso em saber mais a respeito de seu 
avô, ele saiu à procura de outras informações, as quais deram origem 
ao livro. As passagens mais importantes, porém, estão certamente 
concentradas nas telas cinematográficas. 
Esta produção, que guarda em si um sabor delicioso de história 
à moda antiga, ganhou os Oscars de melhor roteiro original, ator – 
super merecido! –, direção e filme.
O DISCURSO do Rei. Direção de Tom Hooper. Inglaterra: Paris filmes, 
2010. 1 filme (118 min), sonoro, legenda, color. 
Elenco: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush, Michael 
 Gambon. Drama. 
SANTANA, A. L. O discurso do rei. Disponível em: <http://www.
infoescola.com/cinema/o-discurso-do-rei/>. Acesso em: 30 jul. 2012.
Como podemos observar durante a leitura, o autor da resenha afirma: 
“Não vou além, pois não quero estragar as surpresas que aguardam o público 
ao longo da história”. Usando a primeira pessoa do singular, ele deixa clara 
a sua opinião sobre o filme. Mais adiante continua: “Esta produção, que 
guarda em si um sabor delicioso de história à moda antiga, ganhou os Oscars 
de melhor roteiro original, ator – super merecido!”. São evidentes as marcas 
linguísticas de expressão pessoal.
– 26 –
Leitura e Escrita na Era Digital
1.1.2.2 Função conativa 
É centrada no receptor da mensagem, com a intenção de persuadi-lo, 
seduzi-lo. É uma comunicação imperativa, faz uso dos verbos no modo 
imperativo afirmativo ou negativo.
Observe a imagem a seguir, de uma propaganda persuasiva para com-
bate ao tabagismo.
H
A
A
P
 M
ed
ia
 L
td
/S
eb
as
ti
an
 F
is
so
re
E tEm gEntE quE diz quE isto não é droga!E tEm gEntE quE diz quE isto não é droga!
Cigarro: faz mal até na propaganda.Cigarro: faz mal até na propaganda.
AcetonaAcetona: 
removedor 
de esmaltes
FormolFormol: 
conservante 
de cadáver
AmôniaAmônia: 
desinfetantes para pisos, 
azulejos e privadas
NaftalinaNaftalina: 
mata-baratas
FósforoFósforo P4/P6P4/P6: 
componente de 
veneno para ratosTerebintinaTerebintina: 
diluidor de tinta a óleo
Este é um exemplo muito forte da função conativa, uma vez que, após o 
autor dirigir-se ao receptor com a expressão “tem gente que diz [...]”, é apre-
sentada uma série de provas que mostram os perigos do tabaco. Ao terminar, 
afirma, imperativamente, “cigarro faz mal”.
1.1.2.3 Função referencial 
É centrada no referente da mensagem, valoriza o objeto da mensa-
gem. É uma comunicação objetiva, impessoal, com preferência pela frase 
declarativa.
– 27 –
Homem e linguagem
A palavra “pinchar”, em castelhano tem os sentidos de “cutucar, 
espetar, ferir” (no lunfardo, também “morrer” e “fazer sexo”). Coromi-
nas imagina que “pinchar” do castelhano tenha vindo de uma mistura 
de punchar (variante de punzar) com picar e que, pela diferença de 
sentido, nada tenha a ver com o “pinchar” português. No castelhano, 
a palavra aparece desde o século 15, mas pode remontar ao latim vul-
gar, como vemos no italiano pinzare, [...] no francês pincer e no inglês 
to pinch (beliscar).
VIARO, M. E. Palavras jogadas fora. Revista Língua Portuguesa, 
n. 77, p. 52-55, mar., 2012. São Paulo.
Observou-se um exemplo de uma comunicacão centrada na mensa-
gem, ou seja, o emissor quer explicar o sentido da palavra. 
1.1.2.4 Função fática
É centrada no contato, demonstra o desejo de abertura para a comu-
nicação, que se dá com uso de frases breves, consagradas pelo uso. No texto 
escrito, costuma-se usar imagens, tamanho diferenciado das letras, corespara chamar atenção.
Macabéa e Olímpico
Ele — Pois é!
Ela — Pois é o quê?
Ele — Eu só disse, pois é!
Ela — Mas, pois é o quê?
Ele — Melhor mudarmos de assunto porque você não me entende.
Ela — Entende o quê?
Ele — Santa virgem Macabéa, vamos mudar de assunto e já! 
LISPECTOR, C. A hora da estrela. São Paulo: Rocco, 1998. p. 45.
– 28 –
Leitura e Escrita na Era Digital
No diálogo do box de exemplo não há preocupação com a men-
sagem, apenas os falantes estão mantendo uma abertura do canal de 
 comunicação.
1.1.2.5 Função metalinguística 
É centrada no código, é tudo o que, em uma mensagem, serve para dar 
explicações ou tornar preciso o código utilizado pelo emissor no ato comuni-
cativo. É uma comunicação explicativa, faz uso de sinônimos, definições.
Exemplo: poemas que discutem como se faz poesia.
Poética
1
O que é poesia? 
Uma ilha 
Cercada 
De palavras 
Por todos 
Os lados.
2
O que é poeta?
Um homem
Que trabalha o poema
Com o suor do seu rosto.
Um homem
Que tem fome
Como qualquer outro
Homem.
RICARDO, C. Jeremias sem-chorar. Rio de Janeiro: 
José Olympio, 1968.
– 29 –
Homem e linguagem
A metalinguística ocorre em todas as áreas, por exemplo, quando um 
pintor pinta a si mesmo num quadro, o roteirista de um filme cria protago-
nistas que querem produzir roteiros de filmes e assim por diante.
1.1.2.6 Função poética 
É centrada na elaboração da mensagem, usa formas inovadoras com 
combinações inusitadas, ofertadas pela própria língua. É uma comunicação 
artística com predomínio da conotação. Pode ser usada em todos os gêneros 
textuais, é a marca textual do gênero literário.
Epitáfio para um banqueiro 
n e g ó c i o
e g o
ó c i o
c i o
o
PAES, J. P. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2003.
A função poética está presente em qualquer texto no qual o autor 
preocupe-se com a elaboração estilística, como no caso do poema anterior. 
O poeta desmancha o negócio com a fragmentação da própria palavra que 
termina com o “o”, assemelhando-se, graficamente, a zero. É importante 
ressaltar que, na linguagem conativa presente no discurso publicitário, é 
intenso o uso da função poética para envolver ainda mais o receptor pela 
beleza textual.
Conclusivamente, pode-se afirmar que, ao se reconhecer a estrutura 
lexical, argumentativa, discursiva e estilística do texto, juntamente com a 
intenção do autor, a recepção do texto será muito maior e melhor.
Da teoria para a prática
Muitos textos que circulam nas esferas sociais podem auxiliar o leitor 
na compreensão das variedades linguísticas. Tal questão costuma causar 
– 30 –
Leitura e Escrita na Era Digital
muita polêmica entre a sociedade e os meios de comunicação quando dis-
cutida em escolas ou mesmo abordada nos livros didáticos, o que acaba 
gerando muitos debates. A professora Ângela Paiva Dionísio escreve a esse 
respeito um artigo intitulado “Língua padrão e variedades linguísticas: 
calos na vida do professor de português”, no qual analisa a fala da mídia e 
dos textos dos livros didáticos no trato da variedade linguística. O texto 
é interessante não apenas para conhecimento e aprimoramento docente, 
mas, também, para a sociedade de uma forma geral.
Síntese
No primeiro capítulo, fizemos uma introdução aos conceitos de lin-
guagem, língua e fala. Foram verificadas as diferenças entre língua oral 
e escrita, as funções da linguagem e as variedades linguísticas. Estes são 
conhecimentos fundamentais para a compreensão dos estudos tex tuais, 
sua prática e produção. Portanto, as ideias aqui apresentadas, de uma 
forma ou de outra, permeiam não apenas o ensino da língua, mas também 
o seu uso. 
A linguagem classifica-se como um processo universal, considera-se 
tudo o que o homem faz para manter a comunicação ao longo de sua exis-
tência. Assim, ele preocupa-se em criar e recriar meios de comunicação 
que sirvam de condutores de conhecimento que, ao possibilitar a transmis-
são do pensamento, identifiquem a condição humana. 
A língua é um elemento cultural elaborado pelo homem, com um 
código específico a ser aprendido pelos membros da comunidade. A fala é a 
aplicação que cada sujeito faz com a língua para promover a comunicação. 
Daí nasce a marca de cada sujeito no seu meio: somos iguais, falamos a 
mesma língua, mas somos diferentes, pelo modo de empregá-la. 
As variedades linguísticas auxiliam na compreensão do que é erro e 
do que é diferença, possibilitando a aceitação social dessas diferenças cul-
turais. As funções da linguagem orientam o reconhecimento de suas carac-
terísticas, a intenção do emissor sobre o receptor da mensagem. Depen-
dendo do que eu quero do meu interlocutor farei as escolhas sintáticas, 
morfológicas, lexicais e estilísticas da minha fala ou do meu texto.

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