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Antibacterianos Que interferem na síntese proteica Síntese Proteica A síntese proteica ocorre nos ribossomos, mas os ribossomos eucariontes e procariontes são diferentes, e isso constitui a base para a ação antimicrobiana seletiva de alguns antibióticos. O ribossomo bacteriano consiste em uma subunidade 50S e uma subunidade 30S, enquanto as subunidades do ribossomo dos mamíferos são 60S e 40S. Os outros elementos envolvidos na síntese peptídica são o RNA mensageiro (mRNA), que forma o modelo para a síntese proteica, e o RNA transportador (tRNA), que transfere especificamente os aminoácidos individuais para o ribossomo. O ribossomo tem três locais de ligação para o tRNA, chamados locais A, P e E. Para iniciar a tradução, o mRNA, transcrito do modelo de DNA, é ligado à subunidade 30S do ribossomo. A subunidade 50S liga-se, então, à subunidade 30S para formar uma subunidade 70S, que se move ao longo do mRNA, de modo que códons sucessivos do mensageiro passam ao longo do ribossomo da posição A para a posição P. Os antibióticos podem afetar a síntese proteica em qualquer uma dessas fases. Farmacologia 2 ANA CLARA MELO Aminoglicosídeos O termo “aminoglicosídeo” se origina da sua estrutura: dois aminoaçúcares unidos por ligação glicosídica a um núcleo hexose central. Os aminoglicosídeos são derivados de Streptomyces sp. (têm sufixo -mycin em inglês) ou Micromonospora sp. (terminam em -micin em inglês). São semelhantes entre si na atividade antimicrobiana, nas características farmacocinéticas e na toxicidade. Os agentes principais são gentamicina, estreptomicina, amicacina, tobramicina e neomicina. Mecanismo de ação Existem vários locais de ação. Os aminoglicosídeos difundem-se por meio de canais porina na membrana externa dos microrganismos suscetíveis. Esses microrganismos também têm um sistema dependente de oxigênio que transporta o fármaco através da membrana citoplasmática por um sistema transportador de poliaminas (que, por acaso, é bloqueado pelo cloranfenicol), e tem ação mínima contra microrganismos anaeróbios. Dentro da célula, eles se fixam na subunidade ribossomal 30S, onde interferem com a montagem do aparelho ribossomal funcional e/ou causam a leitura incorreta do código genético pela subunidade 30S do ribossoma completo. Os antimicrobiano que interrompem a síntese proteica em geral são bacteriostáticos; os aminoglicosídeos são os únicos a atuar como bactericidas. O efeito bactericida dos aminoglicosídeos é realçado por agentes que interferema na síntese da parede celular (penicilinas) e concentração-dependente, isto é, a eficácia depende da concentração máxima (Cmáx) do fármaco acima da concentração inibitória mínima (CIM) do microrganismo. Para os aminoglicosídeos, a Cmáx é de 8 a 10 vezes a CIM. Eles também exibem efeito pós-antimicrobiano (EPA), que é supressão bacteriana continuada após a concentração do antimicrobiano cair abaixo da CIM. Quanto maior a dosagem, mais longo o EPA. Devido a essas propriedades, o aumento do intervalo entre dosagens (uma dose alta única é administrada por dia) é usado com mais frequência do que dosagens diárias divididas. Isso diminui o risco de nefropatia e aumenta a adesão ao tratamento. Espectro antibacteriano Os aminoglicosídeos são eficazes contra a maioria dos bacilos aeróbicos gram-negativos, incluindo os que podem ser resistentes a múltiplos fármacos, como Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Enterobacter sp. Além disso, os aminoglicosídeos são associados, com frequência, a antimicrobianos β- lactâmicos para obter efeito sinérgico, particularmente no tratamento de endocardite infecciosa por Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium. A gentamicina é o aminoglicosídio mais utilizado, embora a tobramicina seja a eleita em caso de infecções por P. aeruginosa. A amicacina tem um espectro antimicrobiano mais amplo e pode ser eficaz em infecções por microrganismos resistentes à gentamicina e à tobramicina. Resistência A resistência aos aminoglicosídeos ocorre via 1) bomba de efluxo; 2) diminuição da captação; e/ou 3) modificação e inativação por síntese de enzimas associada a plasmídeos. Cada uma dessas enzimas tem sua própria especificidade aminoglicosídica; portanto, a resistência cruzada não pode ser presumida. A resistência como resultado da falta de penetração pode ser compensada pelo uso concomitante de penicilina e/ou vancomicina, à custa do risco de aumento de efeitos adversos graves. Farmacocinética A estrutura policatiônica altamente polar dos aminoglicosídeos impede absorção adequada após administração oral. Por isso, todos os aminoglicosídeos (exceto a neomicina) precisam ser administrados por via parenteral (intramuscular ou intravenosa) para alcançar níveis séricos adequados. A neomicina não é administrada por via parenteral devido à grave nefrotoxicidade. Ela é administrada topicamente contra infecções cutâneas ou por via oral para preparação intestinal prévia à cirurgia colorretal. Os aminoglicosídios atravessam a placenta, mas não a barreira hematencefálica, embora seja possível atingir elevadas concentrações nos líquidos articulares e pleurais. A eliminação ocorre totalmente por meio de filtração glomerular nos rins, sendo que 50 a 60% da dose é excretada inalterada após 24 horas. Se a função renal estiver comprometida, a acumulação ocorre rapidamente, resultando em aumento desses efeitos tóxicos (p. ex., ototoxicidade e nefrotoxicidade), os quais estão relacionados com a dosagem. Efeitos adversos É imperativo monitorar os níveis terapêuticos de gentamicina, tobramicina e amicacina para assegurar dosagem adequada e minimizar a toxicidade relacionada com a dosagem. Os idosos são particularmente suscetíveis à nefro e à ototoxicidade. 1. Ototoxicidade: A ototoxicidade (vestibular e coclear) está relacionada diretamente com picos plasmáticos elevados e com a duração do tratamento. O antimicrobiano acumula na endolinfa e na perilinfa do ouvido interno. A surdez pode ser irreversível e também atinge o feto em desenvolvimento. Qualquer aminoglicosídio pode produzir ambos os tipos de efeitos, porém é mais provável que a estreptomicina e a gentamicina interfiram na função vestibular e que a neomicina e a amicacina afetem majoritariamente a audição. Pacientes que recebem fármacos ototóxicos concomitantes, como a cisplatina ou os diuréticos de alça, são particularmente suscetíveis. Vertigens (especialmente em pacientes que recebem estreptomicina) também podem ocorrer. 2. Nefrotoxicidade: A retenção dos aminoglicosídeos pelas células tubulares proximais interrompe os processos de transporte mediados por cálcio. Isso resulta em lesão renal que varia de insuficiência renal leve e reversível até grave, potencialmente irreversível, e necrose tubular aguda. 3. Paralisia neuromuscular: Resulta da inibição da recaptação do Ca2+ necessário para a liberação de acetilcolina. Este efeito adverso está associado com aumento rápido da concentração (p. ex., doses altas infundidas em período curto) ou administração concomitante de bloqueadores neuromusculares. Pacientes com miastenia grave são particularmente suscetíveis. A imediata administração de gliconato de cálcio ou neostigmina pode reverter o bloqueio que causa a paralisia neuromuscular. 4. Reações alérgicas: Dermatite de contato é uma reação comum para a neomicina aplicada topicamente. Macrolídeos Os macrolídeos são um grupo de antimicrobianos com uma estrutura lactona macrocíclica à qual estão ligados um ou mais açúcares desoxi. A eritromicina foi o primeiro desses antimicrobianos a encontrar aplicação clínica como fármaco de primeira escolha e como alternativa às penicilinas em indivíduos que são alérgicos aos antimicrobianos β-lactâmicos. Claritromicina (uma forma metilada da eritromicina) e azitromicina (apresentando um anel lactona maior), têm algumas caraterísticascomuns com a eritromicina e outras que a melhoraram. Telitromicina, um derivado semissintético da eritromicina, é o primeiro antimicrobiano “cetolídeo”. Cetolídeos e macrolídeos têm cobertura antimicrobiana similar. Contudo, os cetolídeos são ativos contra várias cepas gram-positivas resistentes a macrolídeos. Mecanismo de ação Os macrolídeos se ligam irreversivelmente a um local na subunidade 50S do ribossoma bacteriano, inibindo, assim, etapas de translocação na síntese de proteínas. Eles também podem interferir em outras etapas, como a transpeptização. Geralmente considerados bacteriostáticos, os macrolídeos podem ser bactericidas em dosagens mais elevadas. O sítio de ligação parece ser o mesmo ou ter íntima proximidade ao da clindamicina e do cloranfenicol. Espectro antibacteriano 1. Eritromicina: É eficaz contra vários dos mesmos microrganismos da benzilpenicilina. Por isso ela pode ser usada em pacientes alérgicos à benzilpenicilina. É efetiva contra bactérias e espiroquetas gram-positivos, mas não contra microrganismos gram-negativos, exceto no caso de N. gonorrhoeae e, em menor escala, H. influenzae. São também suscetíveis Mycoplasma pneumoniae, Legionella spp. e alguns microrganismos clamidiais. 2. Claritromicina: Tem atividade similar à da eritromicina, mas também é ativa contra Haemophilus influenzae. Sua atividade contra patógenos intracelulares, como Chlamydia, Legionella, Moraxella, espécies de Ureaplasma e Helicobacter pylori, é maior do que a atividade da eritromicina. 3. Azitromicina: Embora menos ativa contra estreptococos e estafilococos do que a eritromicina, a azitromicina é muito mais ativa contra as infecções respiratórias por H. influenzae e Moraxella catarrhalis. O uso extensivo da azitromicina resultou no crescimento da resistência do Streptococcus pneumoniae. A azitromicina é o tratamento preferido contra uretrites causadas por Chlamydia trachomatis. O Mycobacterium avium é combatido preferencialmente com um regime contendo macrolídeo, incluindo claritromicina ou azitromicina. Pode ser utilizada para tratar Toxoplasma gondii, uma vez que elimina os cistos. 4. Telitromicina: Esse fármaco tem espectro antimicrobiano similar ao da azitromicina. Além disso, a modificação estrutural dos cetolídeos neutraliza os mecanismos de resistência mais comuns (mediados por efluxo ou metilase) que os tornam ineficazes. Resistência A resistência aos macrolídeos está associada com 1) a incapacidade do microrganismo de captar o antimicrobiano; 2) a presença de uma bomba de efluxo; 3) a diminuição da afinidade da subunidade ribossomal 50S pelo antimicrobiano, resultante da metilação de uma adenina no RNA ribossomal bacteriano 23S em microrganismos gram-positivos; e 4) a presença de uma eritromicina esterase associada a plasmídeo em microrganismos gram-negativos, como as Enterobacteriaceae. A resistência à eritromicina está aumentando, o que limita o seu uso clínico (particularmente contra S. pneumoniae). A claritromicina e a azitromicina dividem alguma resistência cruzada com a eritromicina, mas a telitromicina pode ser eficaz contra microrganismos resistentes a macrolídeos. Farmacocinética 1. Administração: Os macrolídios são administrados por via oral ou parenteral, embora as injeções intravenosas possam provocar tromboflebites locais. Difundem-se rapidamente na maioria dos tecidos, mas não atravessam a barreira hematencefálica, havendo fraca penetração no líquido sinovial. A eritromicina base é destruída pelo suco gástrico. Assim, são administradas formas esterificadas ou comprimidos revestidos entéricos do antimicrobiano. Claritromicina, azitromicina e telitromicina são estáveis no estômago ácido e são bem absorvidas. Os alimentos interferem na absorção de eritromicina e azitromicina, mas podem aumentar a absorção de claritromicina. A eritromicina e a azitromicina estão disponíveis em formulações IV. 2. Distribuição: A eritromicina se distribui bem em todos os líquidos corporais, exceto no LCS. Ela é um dos poucos antimicrobianos que se difunde no líquido prostático e também acumula nos macrófagos. Os quatro fármacos se concentram no fígado. Claritromicina, azitromicina e telitromicina são amplamente distribuídas nos tecidos. A azitromicina se concentra nos neutrófilos, macrófagos e fibroblastos, e os níveis séricos são baixos. A azitromicina tem a meia-vida mais longa e o maior volume de distribuição dos quatro fármacos. 3. Eliminação: A eritromicina é parcialmente inativada no fígado; a azitromicina é mais resistente à inativação, enquanto a claritromicina é convertida em um metabólito ativo. Eritromicina e telitromicina são extensamente biotransformadas no fígado. Elas inibem a oxidação de inúmeros fármacos por meio de sua interação com o sistema CYP450. Interferência com a biotransformação de fármacos, como teofilina, estatinas e numerosos antiepiléticos, foi relatada para a claritromicina. 4. Excreção: Eritromicina e azitromicina são concentradas e excretadas primariamente na bile como fármacos ativos. Ocorre reabsorção parcial por meio da circulação entero-hepática. Em contraste, a claritromicina e seus metabólitos são eliminados pelos rins, bem como pelo fígado. A dosagem deste fármaco deve ser ajustada em pacientes com insuficiência renal. Uso clínico Efeitos adversos 1. Irritação e motilidade gástrica: Distúrbio gástrico é o efeito adverso mais comum dos macrólideos e pode levar à pouca aderência ao tratamento (especialmente com eritromicina). Claritromicina e azitromicina são mais bem toleradas. Concentrações mais elevadas de eritromicina levam à contração do músculo liso, o que resulta em movimentação do conteúdo gástrico para o duodeno, um efeito adverso às vezes usado terapeuticamente para o tratamento da gastroparesia ou do íleo pós-cirúrgico. 2. Icterícia colestática: Este efeito ocorre especialmente com a forma estolato da eritromicina (não usada nos EUA); contudo, foi relatado para outras formulações. 3. Podem ocorrer infecções esporádicas do sistema digestório ou da vagina. 4. Ototoxicidade: Surdez transitória foi associada à eritromicina, especialmente em dosagens elevadas. A azitromicina também foi associada com perda auditiva neurossensorial irreversível. 5. Contraindicações: Pacientes com disfunção hepática devem ser tratados com cautela com eritromicina, telitromicina ou azitromicina, pois esses fármacos acumulam no fígado. Hepatotoxicidade grave com a telitromicina limitou seu uso, considerando ainda a existência de alternativas. Além disso, os macrolídeos e cetolídeos podem prolongar o intervalo QTc e devem ser usados com cautela em pacientes com condições pré-arrítmicas ou uso concomitante de fármacos pró-arrítmicos. 6. Interações farmacológicas: Eritromicina, telitromicina e claritromicina inibem a biotransformação hepática de inúmeros fármacos, o que pode levar ao acúmulo tóxico desses compostos. Pode ocorrer interação com digoxina. Nesse caso, o antimicrobiano elimina espécies da flora intestinal que ordinariamente inativam a digoxina, levando, assim, à sua maior reabsorção pela circulação entero- hepática. Tetraciclinas As tetraciclinas são antibióticos de amplo espectro. Esse grupo inclui tetraciclina, oxitetraciclina, demeclociclina, limeciclina, doxiciclina, minociclinae tigeciclina. São substâncias anfotéricas e cristalinas de baixa solubilidade. Estão disponíveis como cloridratos, que são mais solúveis. Essas soluções são ácidas e, com exceção da clortetraciclina, bastante estáveis. Mecanismo de ação As tetraciclinas são antibióticos bacteriostáticos de amplo espectro que inibem a síntese proteica. As tetraciclinas penetram nos microrganismos em parte por difusão passiva e em parte por um processo de transporte ativo dependente de energia. Os organismos suscetíveis concentram o medicamento no nível intracelular. Uma vez dentro da célula, as tetraciclinas se ligamde maneira reversível à subunidade 30S do ribossomo bacteriano, bloqueando a ligação do aminoacil-tRNA ao sítio aceptor no complexo mRNA- ribossomo. Isso impede a adição de aminoácidos ao peptídeo em crescimento. Espectro As tetraciclinas são ativas contra muitas bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, inclusive determinados anaeróbios, riquétsias, clamídias e micoplasmas. A minociclina também é efetiva contra N. meningitidis e tem sido utilizada para eliminar esse microrganimo da nasofaringe de indivíduos portadores. A atividade antibacteriana é similar na maioria das tetraciclinas, exceto pelo fato de que as cepas resistentes à tetraciclina podem ser sensíveis à doxiciclina, à minociclina e à tigeciclina, que são substratos fracos para a bomba de efluxo se ela for o mecanismo da resistência. A resistência generalizada a esses agentes tem diminuído sua utilidade. A resistência é transmitida principalmente por plasmídios e, como os genes que controlam a resistência às tetraciclinas estão intimamente relacionados com os genes de resistência a outros antibióticos, os microrganismos podem desenvolver simultaneamente resistência a muitos fármacos. Três mecanismos de resistência a análogos da tetraciclina foram descritos: (1) influxo comprometido ou efluxo aumentado por meio de uma bomba proteica transportadora ativa; (2) proteção do ribossomo em razão da produção de proteínas que interferem na ligação da tetraciclina com o ribossomo; (3) inativação enzimática. Farmacocinética Em geral, as tetraciclinas são administradas por via oral, mas também é possível usar a via parenteral. A minociclina e a doxiciclina são bem absorvidas após administração oral. A absorção da maior parte das outras tetraciclinas é irregular e incompleta, mas é melhorada na ausência de alimentos. Como as tetraciclinas são quelantes de íons metálicos (cálcio, magnésio, ferro e alumínio) que formam compostos não absorvíveis, a absorção é diminuída na presença de leite, alguns antiácidos e preparações com ferro. As tetraciclinas se concentram na bile, no fígado, nos rins, no líquido gengival e na pele. Além disso, elas se fixam nos tecidos em calcificação (p. ex., dentes e ossos) ou em tumores com alto conteúdo de cálcio. A penetração na maioria dos líquidos orgânicos é adequada. Somente minociclina e doxiciclina alcançam níveis terapêuticos no líquido cerebrospinal (LCS). A minociclina também alcança níveis elevados na saliva e nas lágrimas, tornando-a útil na erradicação do estado portador de meningococos. Todas as tetraciclinas atravessam a barreira placentária e se concentram em ossos e dentição fetais. Tetraciclina e doxiciclina não são biotransformadas no fígado. A tetraciclina é eliminada inalterada primariamente na urina, e a minociclina sofre biotransformação hepática e é eliminada em menor extensão pelos rins. Em pacientes com comprometimento renal, prefere-se a doxiciclina, pois é eliminada primariamente pela bile nas fezes. Uso clínico Sua aplicação (por vezes combinada com outros antibióticos) inclui: • Infecções causadas por Rickettsia e Chlamydia, brucelose, antraz e doença de Lyme • Como uma segunda escolha útil, por exemplo, em pacientes com alergias, em várias infecções, incluindo por Mycoplasma e Leptospira • Infecções do sistema respiratório (exacerbações da bronquite crônica, pneumonia adquirida na comunidade) • Acne • Secreção inapropriada do hormônio antidiurético (p. ex., devido a alguns tumores malignos dos pulmões), causando hiponatremia: a demeclociclina inibe a ação desse hormônio de forma completamente distinta de seu efeito antibacteriano Efeitos adversos Os efeitos adversos mais comuns são distúrbios GI causados inicialmente pela irritação direta e, após, pela modificação da flora intestinal. Podem ocorrer deficiência de vitaminas do complexo B e superinfecção. Como as tetraciclinas absorvem Ca2+, são depositadas nos ossos e dentes em crescimento, provocando manchas e, por vezes, hipoplasia dentária e deformidades ósseas. Por esse motivo, não devem ser administradas em crianças, gestantes ou lactantes. Outro efeito nas gestantes é a hepatotoxicidade. Também pode ocorrer fototoxicidade (sensibilidade à luz solar) principalmente com a demeclociclina. A minociclina pode produzir distúrbios vestibulares (tonturas e náuseas). Doses elevadas de tetraciclinas podem reduzir a síntese proteica nas células do hospedeiro, um efeito antianabólico que, eventualmente, resulta em lesão renal. O tratamento prolongado pode provocar distúrbios da medula óssea. Anfenicol/Cloranfenicol O cloranfenicol foi originalmente isolado de culturas de Streptomyces. Mecanismo de ação O cloranfenicol se liga reversivelmente à subunidade ribossomal bacteriana 50S e inibe a síntese proteica na reação de peptidiltransferase. Devido a alguma semelhança dos ribossomas mitocondriais de mamíferos e dos bacterianos, a síntese proteica e de trifosfato de adenosina (ATP) nessas organelas pode ser inibida com níveis elevados circulantes de cloranfenicol, produzindo toxicidade na medula óssea; Espectro antibacteriano O cloranfenicol tem amplo espectro de ação antimicrobiana, entre os quais clamídeas, riquétsias, espiroquetas e anaeróbios. É ativo contra microrganismos gram-negativos aeróbios e anaeróbios, gram-positivos e Rickettsiae, mas não contra Chlamydiae. É um bacteriostático para a maioria dos microrganismos, mas elimina H. influenzae. Porém, dependendo da concentração e do microrganismo, pode ser bactericida. Resistência A resistência clinicamente significativa se deve à produção de cloranfenicol acetiltransferase, uma enzima codificada por plasmídeo que inativa a substância. Outros mecanismos incluem diminuição da capacidade de penetrar no microrganismo e alterações do local de ligação ribossomal. Farmacocinética Administrado por via oral, o cloranfenicol é absorvido rápida e completamente, alcançando concentração máxima no plasma após 2 horas. Também pode ser administrado por via parenteral. Ele alcança concentrações terapêuticas no LCS. O cloranfenicol sofre biotransformação hepática a um glicuronídeo inativo que é secretado pelos túbulos renais e eliminado na urina. É necessário reduzir a dosagem em pacientes com disfunção hepática ou cirrose. Ele também é secretado no leite e deve ser evitado em mulheres lactantes. Uso clínico O uso sistêmico deve ser reservado a infecções graves, em que o benefício do fármaco se sobreponha à sua toxicidade hematológica incomum, mas grave. Tais usos podem incluir: • Infecções causadas por Haemophilus influenzae resistente a outros fármacos • Meningite em pacientes nos quais a penicilina não pode ser utilizada • Febre tifoide, embora ciprofloxacino ou amoxicilina e cotrimoxazol sejam igualmente eficazes e menos tóxicos • A utilização tópica é igualmente segura e eficaz nas conjuntivites bacterianas. Efeitos adversos • Anemias: Os pacientes podem desenvolver anemia dose-dependente, anemia hemolítica (vista em pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase) e anemia aplástica. (Nota: a anemia aplástica é independente da dose e pode ocorrer depois que o tratamento termina.) • O principal efeito adverso do cloranfenicol é a depressão medular grave idiossincrática, que resulta em pancitopenia (diminuição global dos elementos celulares do sangue) – um efeito que, embora raro, pode ocorrer mesmo com dosagens baixas em alguns pacientes. • Síndrome do bebê cinzento: Os recém-nascidos têm baixa capacidade para glicuronizar o cloranfenicol e têm função renal subdesenvolvida. Portanto, os neonatos têm baixa capacidade de excretar o fármaco, o qual acumula em níveis que interferem na função dos ribossomas mitocondriais. Isso leva à má alimentação, à depressão respiratória, ao colapso cardiovascular, à cianose (daí o nome de “bebê cinzento”) e à morte. Adultos que recebem doses muito elevadastambém podem exibir esse efeito tóxico. • Podem surgir reações de hipersensibilidade, bem como distúrbios GI, na sequência da alteração da flora microbiana intestinal. • Interações farmacológicas: O cloranfenicol inibe algumas das oxidases hepáticas de função mista e, assim, bloqueia a biotransformação de fármacos como varfarina e fenitoína, aumentando suas concentrações e potencializando seus efeitos. Clindamicina Mecanismo de ação Atua da mesma forma que os macrolídios e o cloranfenicol. Espectro antibacteriano É ativa contra cocos gram-positivos, incluindo muitos estafilococos penicilino-resistentes e bactérias anaeróbias como a Bacteroides spp. Resistência Os mecanismos de resistência são os mesmos da eritromicina, e foi descrita resistência cruzada. Farmacocinética Está disponível em formulações IV e orais, mas o uso da forma oral é limitado pela intolerância gastrintestinal. Ela se distribui bem em todos os líquidos corporais, incluindo ossos, mas penetra pouco no LCS. A clindamicina sofre extensa biotransformação oxidativa a produtos inativos e é primeiramente excretada na bile. A baixa eliminação urinária limita sua utilidade clínica contra infecções do trato urinário. Foi relatado acúmulo em pacientes com comprometimento grave da função renal ou insuficiência hepática. Uso clínico Ela é usada primariamente no tratamento de infecções causadas por microrganismos gram-positivos, incluindo MRSA e estreptococos e bactérias anaeróbicas. Além do seu uso nas infecções causadas por organismos do gênero Bacteroides, é usada para tratar infecções estafilocócicas de ossos e articulações. Também é administrada topicamente, na forma de gotas oftálmicas, para a conjuntivite estafilocócica e como fármaco antiprotozoário. Efeitos adversos Além de urticária, o efeito adverso mais comum é diarreia, que pode representar uma colite pseudomembranosa grave por supercrescimento de C. difficile. A administração oral de metronidazol ou vancomicina em geral é eficaz para controlar esse grave problema.
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