Prévia do material em texto
Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade Pontos importantes p/ introdução: A lei penal ingressa no ordenamento jurídico e vigora até ser revogada por outra lei = princípio da continuidade das leis. ® A revogação é a retirada da vigência da lei, ou seja, a lei para de “valer”. ® Durante o período de vacacio legis a lei não pode ser aplicada. Regra: Uma lei somente é revogada por outra lei. Exceção: Leis temporárias e excepcionais, pois são autorrevogáveis. Conflito de leis penais no tempo Há duas problemáticas: 1. Em que momento o crime se considera praticado; 2. Qual lei é aplicável a determinado caso concreto havendo sucessão de leis penais = situações de conflito de leis. No que tange ao momento do crime, em que se considera que o crime foi praticado, dispõe o art. 4º do CP: Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. De tal dispositivo é importante que extraiamos e absorvamos as seguintes informações: Em primeiro lugar, é no momento da conduta (ação ou omissão) que iremos verificar se os três elementos do crime estão presentes. É o princípio da coincidência ou congruência. Exemplo: caso João, com intenção de matar, atire em Maria, ainda que Maria morra em outro momento, é no momento do disparo efetuado por João que a presença dos elementos do crime será analisada. Logo, caso João, no momento do disparo possuísse idade inferior a 18 anos não haveria crime de homicídio, mas sim ato infracional, pois no momento da conduta o 3º elemento do crime (culpabilidade) não estava presente. A ele será aplicado o ECA e não o Código Penal. Observação: em se tratando de crime permanente, será considerada a idade do sujeito ativo no momento de cessação da permanência e não no momento de início desta. Exemplo: FULANO, então com 17 anos, sequestra SICRANO e o coloca em cárcere privado (início da permanência). Passados alguns meses, SICRANO é libertado e, neste momento (cessação da permanência) FULANO já contava com 18 anos. Neste caso a idade considerada para fins penais será a do momento de cessação da permanência, ou seja, 18 anos. FULANO terá cometido crime e a ele será aplicado o Código Penal. Aplicação da Lei Penal no tempo Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade ¨ Sucessão de leis penais Como regra, vigora o princípio da continuidade das leis. ¨ Art. 2º da LINDB Entende-se por sucessão de leis penais o fato de uma nova lei penal entrar em vigor revogando uma lei penal antiga. Entretanto, há situações de conflito de leis penais e para isso existem regras e princípios que buscam solucionar tal questão. Chama-se Direito Intertemporal. Em caso de sucessão de leis penais, qual será aplicável a determinado caso concreto? ® A regra é tempus regit actum: Lei do tempo, desde que ainda vigente, rege o ato, isto é, valerá a lei que está vigente, quando o ato foi praticado. Aplica-se a lei vigente na prática da conduta. Entretanto, há exceções: retroatividade e ultratividade da lei penal. Podendo ser adotada apenas para beneficiar o réu. ® Extra-atividade é o gênero do qual retroatividade e ultratividade são espécies. Retroatividade: A lei retroage, quando a lei posterior for mais benéfica ao agente, em comparação àquela que estava em vigor no momento da conduta. Isto é, pode valer para o ato praticado antes da entrada em vigor da nova lei. Lei A (mais grave) Lei B (mais favorável) Ultratividade: Aqui trata-se da lei posterior mais gravosa do que a lei anterior. Nesse caso, aplica-se a lei que estava vigente no momento da conduta do agente. Lei A (mais favorável) Lei B (mais grave) ® Lei mais gravosa jamais retroage. ® A lei retroage somente para BENEFICIAR o réu. Se o fato tiver sido praticado durante a vigência da lei anterior, podem ocorrer cinco situações: 1. A lei cria uma nova figura penal (novatio legis incriminadora): só tem eficácia para acontecimentos após sua entrada em vigor, jamais aplica-se aos fatos passados. 2. A lei posterior se mostra mais rígida em relação a anterior (lex gravior): Aqui a lei posterior de qualquer modo implica tratamento mais rigoroso. Não retroage. 3. A lei posterior extingue o crime (Abolitio criminis): é a nova lei que exclui do âmbito do DP fato ilícito. Deixa de existir crime. ¨ Art. 2º, caput, do CP. ¨ Natureza jurídica de causa de extinção de punibilidade – art. 107, III, do CP. ¨ Apesar de retirar os efeitos penais, ainda sobrevivem os efeitos civis de eventual condenação. 4. Lei Penal Benéfica (lex mitior): a Lei posterior é mais benéfica ao agente, é mais favorável. Sempre retroage. ¨ Art. 2º, p. único, CP. Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade 5. Aplicação de lei penal intermediária: Ocorre quando em determinado caso concreto, tendo havido sucessão de leis penais, a lei aplicável ao caso nem é a lei que vigorava quando da prática da conduta e nem é a lei que atualmente vigora. Exemplo: Ao tempo da conduta estava em vigor a lei “A”, sucedida pela lei “B”, e no tempo da sentença vigorava a lei “C”. É possível aplicação da lei “B” desde que seja, entre todas, a mais favorável para o agente. ® É simultaneamente dotada de retroatividade e de ultratividade. Abolitio Criminis X Continuidade normativo- típica. ® Abolitio criminis: a revogação do tipo penal é FORMAL (tipo penal retirado da lei) e também MATERIAL (a conduta deixa de ser considerada criminosa pelo legislador). Exemplo: a lei 11.106/05 retirou o tipo penal do artigo 240 (adultério) do Código Penal (revogação formal) e a descriminalizou (revogação material). ® Continuidade normativo-típica: a revogação é somente FORMAL. Aqui o tipo penal é retirado da lei, mas a conduta continua a ser considerada criminosa pelo legislador através de outro tipo penal. Exemplo: a lei 12.015/09 retirou o tipo penal do artigo 214 (atentado violento ao pudor) do Código Penal (revogação formal) mas dita conduta continuou a ser considerada criminosa pelo legislador, não mais como atentado violento ao pudor, mas então como estupro (art. 213, CPB). Combinação de leis penais (lex tertia) Aqui trata-se de conflito de leis penais sucessivas, cada qual com partes favoráveis e desfavoráveis ao réu. Fala-se em leis híbridas. O STF se posiciona pela impossibilidade da combinação de leis penais. ® Teoria da ponderação unitária. ® Fazer a combinação de leis penais, implica alterar por completo o seu espírito normativo, criando um novo conteúdo diverso do inicialmente estabelecido. É vedado ao poder judiciário a criação de terceira pena. Além disso, temos a Súmula 501 do STJ: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo VEDADA A COMBINAÇÃO DE LEIS. “ ® Portanto, NÃO é possível combinação de leis penais. Leis excepcionais e Leis temporárias Lei Penal temporária: tem sua vigência predeterminada no tempo. Tem início e fim. Lei Penal excepcional: tem duração relacionada a situações de anormalidade. ® Art. 3º do CP. ® São leis autorrevogáveis. ® São dotadas de ultratividade, pois é possível aplicação da lei mesmo depois de revogada.