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REFLEXÕES PRÁTICAS SOBRE A TERCEIRA IDADE

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE SÁ – SC
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
LEANDRO MAUERWERK – 201708190554
ENTREVISTA: REFLEXÕES PRÁTICAS SOBRE A TERCEIRA IDADE
São José – SC
2020
1. INTRODUÇÃO
Todo ser humano, desde a sua concepção, ao longo da vida, passa por um processo de desenvolvimento. É um processo natural intrínseco a vida humana. Enquanto vivas, todas as pessoas têm potencial de mudar, como seres inacabados aptos ao crescimento e a aprendizagem. 
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o conceito de desenvolvimento humano pode ser definido como “um processo de ampliação das escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e oportunidades para serem aquilo que desejam ser [...] a abordagem de desenvolvimento humano procura olhar diretamente para as pessoas, suas oportunidades e capacidades.” (PNUD, 2020). Em psicologia pode ser acrescentado a essa definição o ser subjetivo da pessoa, visto que cada sujeito constitui-se diferente do outro.
Intimamente relacionado ao desenvolvimento humano está o processo de envelhecer. Se pararmos para pensar, envelhecer não é apenas ser velho, ou tornar-se uma pessoa idosa. Desde a concepção vivemos um ciclo constate e correlacionado: crescimento, desenvolvimento e envelhecimento. Este ciclo finda somente com a morte e cada ser humano o vive de forma única e subjetivamente.
Dispostas estas conceituações, o foco aqui é aprofundar o estudo para um período mais específico do desenvolvimento humano: a Terceira Idade. O relato que segue se refere a uma entrevista realizada com uma idosa de 65 anos, viúva e que atualmente se encontra nesta fase. O objetivo principal é relacionar as teorias e conceituações à compreensão prática do processo de desenvolvimento nesta etapa da vida.
2. METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido para disciplina de Desenvolvimento na Idade Adulta e Terceira Idade, do Curso de Psicologia da Estácio – SC, com a supervisão da professora Amanda Castro, no intuito de experiênciar e compreender na prática os processos de desenvolvimento na Terceira Idade. Para tanto, foi necessário ir à busca de uma metodologia que se adequasse ao perfil de pesquisa em questão.
Segundo Farinha (2014) os métodos são vias pelas quais se procura dar respostas às perguntas formuladas. Assim, 
Quando nos referimos à investigação em Psicologia estamos de uma forma geral a referirmo-nos à investigação científica, contudo, a investigação científica não é estruturalmente diferente de qualquer outro tipo de investigação em outras áreas da atividade humana. [...] Desvendar os mistérios do desenvolvimento humano é, em muitos aspectos, uma tarefa semelhante. Os investigadores deverão observar cuidadosamente os seus sujeitos, estudar a informação recolhida e depois tirar conclusões acerca de como as pessoas se desenvolvem do ponto de vista psicológico. (FARINHA, 2014).
O método aqui utilizado foi a entrevista semiestruturada, tendo em visto ser aquele que mais se encaixou a natureza da pesquisa a ser realizada. Sobre esta metodologia de coleta de informações, Farinha (2014) destaca que
A entrevista psicológica é um processo bidirecional de interação, entre duas ou mais pessoas com o propósito previamente fixado no qual uma delas, o entrevistador, procura saber o que acontece com a outra, o entrevistado, procurando agir conforme esse objetivo de conhecimento do outro. Trata-se assim de uma forma de diálogo assimétrico em que uma das partes busca obter dados e a outra se apresenta como fonte de informação. [...] A entrevista semiestruturada é um método de investigação utilizado nas ciências sociais. Enquanto uma entrevista estruturada tem um conjunto de questões pré-definidas, a entrevista semiestruturada é mais flexível, permitindo que novas questões possam ser colocadas durante a entrevista a partir do que diz o entrevistado. Em vez de perguntas pré-definidas o entrevistador na entrevista semiestruturada geralmente tem um conjunto de temas a serem abordados.
 Com a metodologia adotada, partiu-se a campo e os dados foram coletados e analisados e seguem dispostos abaixo correlacionando as informações obtidas na entrevista à teoria estudada em sala de aula, conforme o objetivo inicial do objeto de investigação.
3. RESULTADOS E ANÁLISES
3.1. A ENTREVISTA
Os dados da pesquisa foram coletados com uma mulher de 65 anos de idade, residente no município de Anitápolis – SC, viúva, aposentada, socialmente integrada e psicologicamente estável. A entrevistada não quis ser identificada, portanto aqui será tratada pelo pseudônimo de Dona Joana. Quando do contato para a realização da entrevista, Dona Joana, se mostrou surpresa e um pouco assustada. No dia da entrevista, antes de iniciar, também aparentava certa insegurança. Para melhor estruturação e compressão, a transcrição será conforme as perguntas foram respondidas pela entrevistada. Sendo assim, seguem as informações coletadas:
Após uma breve apresentação e conversa informal, a entrevista teve início.
Leandro (entrevistador): - Dona Joana, conta um pouco sobre como foi a sua infância.
Dona Joana: “Eu nasci aqui em Anitápolis, no Maracujá na verdade (bairro do município) e eu fui uma criança muito feliz. Estudei com uma professora maravilhosa. Era difícil na época. A gente andava quase 5km de pé pra ir pra escola, mas foi muito boa. A gente morava no interior, então de manhã íamos pra escola e de tarde, eu e meu irmão, a gente ia ajudar meu pai na roça. Quando meus irmãos nasceram, daí a minha mãe ia pra roça e eu ficava em casa cuidando deles e fazia todas as coisas da casa: cozinhava, lavava, tirava leite, cuidava dos bichos...”
Leandro: - A senhora tinha que idade nessa época?
Dona Joana: “Na época devia ter uns 10 ou 12 anos... já tinha responsabilidade de adulto.”
Leandro: - E esse período durou mais ou menos quanto tempo, até uns 20 anos?
Dona Joana: “Não! Não. Eu casei muito cedo. Eu tinha 17.... 18 anos quando eu casei, né... pela primeira vez. Daí eu fui embora pra São Paulo... eu com meu marido. Mas dai não deu muito certo, acabamos separando... e eu vim pra cá, mas voltei pra São Paulo, sozinha daí, pra trabalhar em casa de família. Trabalhei com uma família muito boa, assim. Fiquei com eles bastante tempo. Ajudei a cuidar das crianças. Fazia de tudo um pouco. Cuidava de casa... era um pouco babá; cozinhava, lavava, passava. Fiquei com eles, acho que, uns cinco anos. Aí depois eu saí e fui trabalhar no comércio... em uma empresa. Aí eu fiquei lá 33 anos.”
Leandro: - Qual era a função da senhora nessa empresa?
Dona Joana: “Comecei como ajudante de limpeza... organizar estoque dos produtos e fazer essa parte braçal. Depois, com o tempo, daí eu fui trabalhar como vendedora... uns 3 ou 4 anos... e depois eu assumi uma gerência... fui crescendo na empresa, né!?Depois quando eu já era gerente da maior loja da empresa... eu com meu marido, que eu casei de novo, a gente chegou a se mudar para o Rio de Janeiro para dirigir a empresa lá. Tivemos um convite pra cuidar de 5 lojas da empresa lá. Daí, já fui com cargo de supervisora.”
Leandro: - Então a senhora ficou bastante tempo fora... passou só a infância aqui (em Anitápolis)?
Dona Joana: “Fiquei 44 anos fora. Eu tinha muita vontade de estudar e, naquela época eu tinha muita vontade de ir pro colégio de freira, só que o meu irmão [...] meu pai queria que ele fosse para o seminário, então não tinha como sair os dois, porque tinha os meus irmãos pequenos... Eu queria muito estudar, não deu certo, mas hoje eu sou grata aos meus pais pela pessoa que me tornei. Eu devo a eles a educação que eles me deram. [...] Eu fui feliz na minha adolescência, também, não tive essa coisa que nem hoje em dia os jovens, porque naquela época eu já era muito responsável. Mas a gente saía... Tinha o salão ali no Maracujá então a gente se juntava, as mocinhas assim, e ia lá torcer pros times... As vezes ia nas festas ali da comunidade... bailes o meu pai não deixava eu ir, só ia se ele fosse. Mas sempre nas festas ali a gente ia. Tive uma educação rígida,mas fui bem cuidada.”
Leandro: - A educação de hoje em dia é bem diferente daquela época, né!? Mudando um pouco de assunto, a senhora se considera uma pessoa idosa?
Dona Joana: “Não. Eu não me considero uma pessoa idosa. Assim, as vezes eu acho, ainda, que sou bem infantil. Ainda tenho bem o meu lado menina. Me sinto jovem. As vezes falta um pouco de energia para fazer as coisas, mas eu me sinto uma pessoa muito jovem, ativa, participante de tudo... Claro, as vezes não tenho as mesmas habilidades, algumas coisas falham, mas eu me sinto muito jovem.”
Leandro: - Relacionado a isso, Dona Joana, em sua opinião, o que é envelhecer?
Dona Joana: “Sabe o que é envelhecer, no meu ponto de vista? É não saber viver.”.
Leandro: - Como assim? 
Dona Joana: “Assim, às vezes as pessoas envelhecem muito cedo, porque elas não aproveitam os bons momentos que elas têm, não aproveitam os momentos com a família... Elas fazem, às vezes, de tudo um drama e isso faz a pessoa envelhecer. Não se permitem ser feliz.”
Leandro: - A senhora já parou alguma vez pra olhar para o passado, já viveu tantas coisas... e que veio aquele pensamento assim: “caramba, tô ficando velha!”?
Dona Joana: “Não. Nunca pensei nisso. Às vezes a gente fala assim: ‘ah, meus 18 anos, meus 20 anos’, mas no sentido de ter uma oportunidade de fazer de outras coisas, mas não no sentido de olhar pra trás e se sentir velho. Eu acho assim, que a vida me ensinou tanto, várias oportunidades de aprendizado... porque eu nunca tive uma oportunidade de fazer uma faculdade, mas eu aprendi na escola da vida e, assim, eu acho que essa é uma das faculdades que, se você sabe viver e aprender, é uma das melhores, porque você precisa aprender a viver sua vida, fazer amizades, saber escolher e saber como fazer essas escolhas de vida.”
Leandro: - Olha, Dona Joana, pelo que a senhora falou, percebi que a senhora teve que fazer muitas escolhas durante a vida, principalmente do lado profissional. Será que a senhora poderia falar um pouco mais sobre isso? 
Dona Joana: “A minha vida profissional, assim, quando eu me separei e fui pra São Paulo, eu tive que fazer uma escolha... Eu queria muito estudar, mas era assim: ou você trabalha e se mantem (sustenta) ou você estuda. Eu não tinha condições financeiras... Também, quando trabalhava na casa de família, nem tinha essa opção. Só depois que mudei pro comércio, daí até tinha, mas daí, já estava em uma fase mais cômoda, e depois, quando assumi a supervisão da loja, daí já era outro nível de responsabilidade, também... E como eu sempre fui muito responsável... Comigo é assim: ou faz bem feito, ou não faz. Então, ou eu assumia a gerência e fazia tudo bem feitinho, ou eu estudava e fazia tudo pela metade. Eu escolhi em me dedicar pela empresa.”
Leandro: - Com toda essa bagagem, como a senhora enxerga a vida daqui pra frente? Faz planos de futuro? 
Dona Joana: Olha Leandro, eu vou ser bem sincera agora, eu não faço mais planos. Porque eu trabalhei tanto na minha vida... Trabalhei em uma empresa maravilhosa... meus patrões... Não existe outro igual... Quando eu entrei as filhas deles eram pequenas, quando eu saí, elas já estavam dirigindo a empresa... Então eu fiz parte disso tudo... Eu e meu marido, porque a gente trabalhou junto durante 20 anos... Ele se aposentou 5 anos antes que eu, então a gente fez planos de sair, viajar, aproveitar a vida, já que antes não tinha sido possível. Só que quando eu me aposentei, final do ano, ele recebeu o diagnóstico de leucemia (emoção forte, pausa). Então, eu não faço mais planos a longo prazo. Eu não sei se Deus já tinha tudo isso planejado ou se é algum propósito dele para a minha vida... Mas, assim, esse ano eu tinha planos de ir conhecer a terra Santa, mas daí com toda essa pandemia também não deu. A gente não pode sair de casa. Então, eu não planejo mais. Hoje eu tenho meus pais, vou cuidar dos meus pais... Não sei também quanto tempo Deus ainda vai dar pra eles também... Hoje, eu cuido de uma porção de coisas na Igreja e isso me deixa muito feliz, satisfeita, me deixa realizada. Quando eu retornei de São Paulo e meu marido faleceu, eu tinha planos de morar na Palhoça, fazer uns cursos, porque tem essa faculdade da terceira idade... Mas também não deu certo. Então eu voltei pra casa (Anitápolis), como diz o ditado: ‘o bom filho à casa torna’.”
Leandro: - E agora, se a senhora pudesse falar um pouquinho sobre questões de afeto, com a família, os amigos...
Dona Joana: “Olha, eu me relaciono bem com meus irmãos, com meus pais. Sempre que a gente pode se encontrar, a gente gosta muito disso. Eu tenho uma relação afetiva muito boa. Também com meus amigos. Posso dizer, assim, que eu tenho a melhor família do mundo. Claro, a gente tem divergências, opiniões diferentes, mas nunca brigamos ou de ficar de mal um com o outro, sem se falar ou coisa do tipo.”
Leandro: - A senhora tem filho?
Dona Joana: “Não.”
Leandro: - E isso influenciou em alguma coisa na vida da senhora em algum momento?
Dona Joana: “Teve uma fase da minha vida que eu queria muito ter um filho, mas aí meu marido... Como ele vinha de uma segunda união, que trouxe muitos traumas pra ele... Ele tinha três filhos... Aí, ele, assim... Vamos pensar, vamos esperar. E como eu era muito ativa, muito presente no meu trabalho... Aí, assim, a gente acabava não tendo tempo pra isso. Mas, também não me arrependo. Acho que foi uma escolha... As vezes sinto falta, mas consigo administrar bem isso. 
 Por último, Dona Joana, trouxe um relato da sua relação com o esposo falecido e, de forma mais aprofundada, contou sobre a experiência de viver um tratamento intensivo no hospital, já sabendo que o único resultado esperado era a morte. Optei por não trazer esse trecho na íntegra, por ser algo bastante sensível e pessoal e, também, por ser extenso. Entretanto, segue brevemente alguns aspectos importantes.
Conforme contou, Dona Joana e seu esposo eram muito íntimos e parceiros, viveram juntos uma intensa e vitoriosa experiência no trabalho e tinham vários planos após a aposentadoria. Entretanto o câncer “roubou” deles o futuro (assim ela se expressou). A experiência do tratamento, e também do luto após a morte, foram fortes momentos de dor e queda para Dona Joana. Ela chegou usar a expressão “meu chão caiu”. Todavia, ao passo que o impacto psicológico e emocional foi grande, ela relata que a vida a preparou para experiências de dor e sofrimento como essa e que, além disso, o seu sustento nessa situação foi a sua fé. Ela menciona a devoção a Nossa Senhora e, várias vezes durante esse tempo, evidencia a oração como força para a superação. 
Atualmente, Dona Joana se considera feliz e matem-se firme e apegada a sua crença religiosa, dispondo-se ao serviço na comunidade paroquial de Anitápolis, igreja local em que presta serviços voluntários. 
3.2. ANÁLISE DOS DADOS
Quando se trata de desenvolvimento humano, se faz emergir alguns pontos fundamentais nesse sentido: transformação, mudanças, subjetividade do ser, entre outros. O desenvolvimento acontece, geralmente, mais gradativo a partir da concepção, depois ao nascimento e, posteriormente na infância. Obviamente que na idade adulta também há desenvolvimento, entretanto, segundo Oliveira (2004) “quanto mais se avança no processo de desenvolvimento da pessoa: sabe-se muito sobre bebês, bastante sobre crianças, menos sobre jovens e quase nada sobre adultos.” A autora explica que
O adulto traz consigo uma história mais longa (e provavelmente mais complexa) de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo, sobre si mesmo e sobre as outras pessoas. Com relação à inserção em situações de aprendizagem, essas peculiaridades da etapa de vida em que se encontra o adulto fazem com que ele traga consigo diferentes habilidades e dificuldades (em comparação à criança) e, provavelmente, maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios processos de aprendizagem. (OLIVEIRA, 2004)
Postulada a incorrência destes fatos no desenvolvimento humano, Palácios (1995, p.9, apud Oliveira,2004) delimita três principais fatores intrínsecos aos processos de transformação humana: 1) a etapa da vida em que a pessoa se encontra; 2) as circunstâncias culturais, históricas e sociais nas quais sua existência transcorre e 3) as experiências particulares privadas de cada um e não generalizáveis a outras pessoas. Além disso, pelo fato de estarmos tratando de Terceira Idade, é necessário pensar sobre o processo de envelhecer e sobre envelhecimento, propriamente dito. Carvalho Filho & Papaléo Netto; Uchôa, (2003) apud Ferreira et. all. (2010), conceituam:
A literatura científica apresenta distintos conceitos para o envelhecimento. Tais conceitos têm considerado diferentes aspectos do desenvolvimento humano, passando pelos campos biológico, social, psicológico e cultural. Contudo, ainda não é possível encontrar uma definição de envelhecimento que envolva os complicados caminhos que levam o indivíduo a envelhecer e como este processo é vivenciado e representado pelos próprios idosos e pela sociedade em geral. 
Nesse sentido,
O envelhecimento é um processo universal pelo qual todos passamos. Para além de multidimensional, o envelhecimento é um processo multidirecional, gradual e irreversível e é mais do que a soma do tempo que passa. É um fenômeno complexo, que engloba simultaneamente aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais. É geralmente considerado que o envelhecimento ocorre ao longo do ciclo de vida e que a velhice corresponde ao estágio final da vida. Encarar o envelhecimento como um continuum significa que envelhecemos a cada dia, a cada hora, sem que tal signifique que somos velhos. (GONÇALVES, 2015, grifo da autora).
Tendo em vista esses pontos e, também, todo o conteúdo teórico apresentado em sala de aula, já é possível que seja feita uma “análise de desenvolvimento” do objeto da pesquisa.
Com 65 anos, Dona Joana encontra-se na fase denominada Terceira Idade, com uma personalidade bem definida, sua capacidade física está em declínio. Contraditoriamente, a parte cognitiva aparenta estar intacta. Já em relação aos aspectos psicossociais, Dona Joana, apresenta-se ativa e integrada.
Ao longo de sua trajetória de vida, Dona Joana construiu vínculos fortes e duradouros tratando-se de suas relações de proximidade e afetividade. A este fato está relacionada a Teoria do Apego, de Bowlby. De acordo com o autor, as experiências precoces com o cuidador primário iniciam o que depois se generalizará nas expectativas sobre si mesmo, dos outros e do mundo em geral, com implicações importantes na personalidade em desenvolvimento. (Bowlby, 1989 apud DALBEM & DELL'AGLIO, 2005).
Ainda segundo Bowlby (apud MINUTOS PSIQUICOS, 2018) são três os tipos de apego desenvolvidos pelas pessoas: seguro, ansioso ou esquivo, sendo que estes são resultado da relação com os cuidadores no início da vida. Dona Joana mostrou enquadrar-se mais no modelo de apego seguro. Embora tenha vivido a experiência de dois casamentos, ela apresentou herdar da relação com seus pais, um potencial grande de segurança e confiança nas pessoas com as quais se relaciona, construindo vínculos estáveis e duradouros. 
Dentro desse contexto, foi possível notar que o entrevistado também se adequa a outra etapa do desenvolvimento traçada por Erik Erikson.
A teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson abrange oito estágios durante o ciclo vital. Cada estágio envolve uma "crise" na personalidade que nada mais é do que uma questão de desenvolvimento, particularmente importante naquele momento e que continuará tendo alguma importância durante toda a vida. As crises, oriundas de um cronograma de maturação, devem ser satisfatoriamente resolvidas para um saudável desenvolvimento do ego. O êxito na resolução de cada uma das oito crises exige que um traço positivo seja equilibrado por um traço negativo correspondente. Embora a qualidade positiva deva predominar alguma medida do traço negativo é igualmente necessária, uma vez que o êxito na resolução de cada crise é o desenvolvimento de uma determinada virtude ou força e para isso tem-se que experiênciar tanto os aspectos positivos, que devem prevalecer quanto os aspectos negativos. (PAPALIA, 2006, p. 71 apud CHIUZI; PEIXOTO & FUSARI, 2011).
Dentre esses oito estágios apresentados por Erikson, Dona Joana aparenta ainda estar em uma fase de transição entre duas fases: a sétima (produtividade vs estagnação) e a oitava (integridade vs desesperança). Dona Joana é muito ativa. Integrada, ela se doa ao serviço à Igreja local. Isso demostra que ela está satisfeita com a sua jornada de vida até o presente e que agora se dispõe a contribuir com a comunidade. Consequente dessa satisfação, ela relatou durante a entrevista que é muito feliz, que encara a vida com alegria, o que demostra também traços de integridade, ficando claro que o seu legado de vida foi cumprido e que portando, ela se sente entusiasmada para viver “o restante dos dias que Deus assim lhe conceder” (assim diria ela). 
Embora tenha sofrido a perda do seu esposo e o sofrimento árduo com o tratamento de leucemia do mesmo, em seu relato, foi possível perceber que ela viveu bem as fases do luto e isso não influenciou na sua vida a ponto de gerar alguma frustação ou desesperança desmotivando-a.
Enquanto Erikson traçou o desenvolvimento humano dividindo-o em oito fases. Peck aperfeiçoou essa teoria acrescentando a ela mais algumas etapas:
Ao aperfeiçoar a descrição de Erikson das etapas da velhice, no oitavo estágio do desenvolvimento, Robert Peck (1968), detalhou três desafios específicos enfrentados pelos idosos que influenciam o resultado de integridade do ego ou desespero:
· Diferenciação do ego versus preocupação com papeis: alcançar satisfação consigo mesmo mais como pessoa do que em razão de papeis parentais ou profissionais.
· Transcendência corporal versus preocupação com o corpo: encontrar prazeres psicológicos mais do que se concentrar em problemas de saúde ou limitações físicas impostas pela idade. 
· Transcendência do ego versus preocupação com o ego: obter satisfação pela reflexão sobre o passado e as realizações mais do que se preocupar com a quantidade de anos ainda por serem vividos. (PECK, 1968 apud ELIOPOULOS, 2005, grifos da autora).
De acordo com a teoria de Peck, Dona Joana, aqui, apresenta uma confusão de papeis. Ao mesmo tempo em que ela trás a tona a transcendência corporal, quando relata em sua fala que, apesar das limitações físicas, ainda se sente uma moça, ela também faz uma reflexão prazerosa do passado e suas realizações ao longo da vida, ao passo em que, pouco se preocupa com os anos de vida que ainda lhe restam. Aliás, essa jornada de vida futura ela atribui a uma questão de fé, deixando “nas mãos de Deus”. 
Apesar dessa confusão, com papeis pouco definidos, a entrevistada, deixou claro em várias falas que se sente completamente feliz. Isso fica nítido quando ela expressa que “envelhecer é não saber viver, não aproveitar os bons momentos com a família e as oportunidades ao longo da vida, viver de dramas, não se permitir ser feliz.” Postulada esta fala, é possível aqui perceber um equilíbrio psicológico muito grande. A essa percepção podemos adicionar a concepção de envelhecimento bem sucedido/ativo. Alguns autores discorrem sobre esse processo.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS 2005, p.13 apud DAWALIBI et. all. 2013) “a definição de envelhecimento ativo é apresentada como a “otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”. 
Para Simões (2006, p. 141 apud GONÇALVES 2015) “a expressão envelhecimento bem sucedido pretende designar um conjunto de fatores que permitem ao indivíduo continuar a funcionar eficazmente, tanto de um ponto de vista físico como mental”. 
Baltes e Neri (apud CASTRO 2015, p.41) compreendem o envelhecer ativo/bem sucedido como um processo de equilíbrio. Segundo os autores
O modelo do envelhecimento ativo corrobora com o do envelhecimento bem-sucedido, considerando o envelhecimento comoum fenômeno heterogêneo. Assim, para este estudo o envelhecimento será compreendido na perspectiva bem-sucedido/ativo, como um processo de equilíbrio das limitações e potencialidades, por meio da manutenção da atividade funcional da pessoa que envelhece, nos seus aspectos físicos, psicológicos e sociais, envolvendo independência, participação, dignidade, acesso a cuidados. 
Dentro dessa perspectiva, de acordo com os relatos de Dona Joana e também com suas características físicas aparentes, ela pode ser considerada uma pessoa que vive o envelhecimento de forma bem sucedida e ativa. Psicologicamente estável, ela demonstrou ter aprendido com as próprias experiências vividas a como lidar bem e superar os desafios e os empecilhos da vida. Isso fica claro quando ela relata ter conseguido compreender e superar a perda do esposo, através do seu apego a crença religiosa, também quando diz administrar bem o fato de não ter tido um filho. Além disso, socialmente ela é bastante ativa e integrada. Serve a comunidade por meio de voluntariado na igreja local, cuida dos seus pais, também idosos, e possui independência visível, tanto financeira, quanto relacionada a questões psico-físico-motoras. Para ela o envelhecer bem advém de viver cada experiência da vida com alegria e fé em Deus. 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreender a teoria a partir da prática torna o aprendizado mais concreto. Além disso, essa experiência possibilitou vislumbrar mais a fundo o lado humano da pessoa em sua subjetividade. Nesse sentido, creio que “encaixar” um indivíduo dentro das teorias é algo complexo, ainda mais, acrescentado o fato de ser uma senhora de 65 anos. O desenvolvimento em bebês e crianças é uma “explosão” de crescimento e aprendizagens. O idoso, por sua vez, é alguém que já experienciou muitas coisas, teve muitos contatos, muitas relações em diferentes situações. Pode-se dizer que o idoso “já viveu bastante”, ao ponto que, ao longo da sua trajetória moldou o seu ser subjetivo, sua personalidade, suas características, seu modo de pensar e agir a partir das suas relações e experiências sócio-histórico-culturais.
Além disso, Ávila, Guerra & Meneses, (2007, apud FERREIRA et. all. 2010) destacam que
O envelhecimento é um fenômeno do processo da vida, assim como a infância, a adolescência e a maturidade, e é marcado por mudanças biopsicossociais específicas, associadas à passagem do tempo. No entanto, este fenômeno varia de indivíduo para indivíduo, podendo ser determinado geneticamente ou ser influenciado pelo estilo de vida, pelas características do meio ambiente e pela situação nutricional de cada um.
Portando, falar sobre o desenvolvimento humano na Terceira Idade ainda parece complexo demais para ser esmiuçado em conceituações teóricas, visto que, concretamente, cada indivíduo está sujeito a mudanças e transformações constantes. 
 
REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS
CASTRO, Amanda. Representações Sociais do Envelhecimento e do Rejuvenescimento para Mulheres que Adotam Práticas de Rejuvenescimento. 2015. 190p. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Programa de Pós-Graduação em Psicologia – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, UFSC. Florianópolis, 2015.
CHIUZI, Rafael Marcus; PEIXOTO, Bruna Ribeiro Gonçalves; FUSARI, Giovanna Lorenzini. Conflito de gerações nas organizações: um fenômeno social interpretado a partir da teoria de Erik Erikson. Temas psicol.,  Ribeirão Preto ,  v. 19, n. 2, p. 579-590, dez.  2011.   Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2011000200018&lng=pt&nrm=iso > Acesso em  10 Abr.  2020.
DALBEM, Juliana Xavier; DELL'AGLIO, Débora Dalbosco. Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arq. bras. psicol.,  Rio de Janeiro ,  v. 57, n. 1, p. 12-24, jun.  2005 .   Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672005000100003&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em  10  Abr.  2020.
DAWALIBI, Nathaly Wehbe et al . Envelhecimento e qualidade de vida: análise da produção científica da SciELO. Estud. psicol. Campinas,  v. 30, n. 3, p. 393-403, Set.  2013.   Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2013000300009&lng=en&nrm=iso > Acesso em 08 Jun.  2020.  
ELIOPOULOS, Charlotte. Enfermagem Gerontológica-9. São Paulo. Artmed Editora, 2005.
FARINHA, José. Métodos em psicologia do desenvolvimento. Ualg, 2014. Disponível em: < http://w3.ualg.pt/~jfarinha/activ_docente/psi_dsvap/textos/Metodos_PsicDesenvolv_JFarinha.pdf > Acesso em: 14 de Abr. 2020.
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