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Distúrbios hidroeletrolíticos 1 Distúrbios hidroeletrolíticos Tags A natremia é o principal determinante da osmolaridade dos nossos fluidos! A faixa de normalidade está entre 135145 mEq/L ou mmol/L. Fisiologia Qual é a importância da concentração sérica de sódio (natremia)? O que é osmolaridade? É uma propriedade físico-química das soluções, definida pelo número de partículas “ativas” (solutos) numa certa quantidade de solução (solvente). Partículas “ativas” são aquelas capazes de atrair moléculas de água... A diferença de osmolaridade entre dois compartimentos fluidos, separados por uma membrana semipermeável*, cria o que chamamos de pressão osmótica, que promove transferência de água do compartimento menos concentrado (hipo- osmolar) para o mais concentrado (hiperosmolar), até chegar a um ponto de equilíbrio, com ambos os compartimentos apresentando a mesma osmolaridade. OBSMembrana semipermeável = membrana permeável à água, mas não aos solutos. Perceba que a natremia, representada por Sódio], é o grande determinante da Osmolaridade plasmática!!! Considerando a natremia normal = 140 mEq/L, a glicemia normal = 90 mg/dl e a ureia normal = 30 mg/dl, teremos: Osmpl = 2 x 140 + 90/18 + 30/6 = 280 + 5 + 5 = 290 mOsm/L. Ou seja, dos 290 mOsm/L, 280 mOsm/L representam o componente do sódio, sobrando apenas 10 mOsm/L para a glicose e ureia. As células do organismo humano podem ser divididas em dois grandes compartimentos separados pela membrana plasmática celular: líquido intracelular LIC e líquido extracelular LEC. Como a membrana plasmática é pouco permeável ao sódio e muito permeável à água, uma hiperosmolaridade acarreta desvio da água do LIC para o LEC, levando à desidratação celular. Já na hiposmolaridade ocorre um desvio inverso: a água sai do LEC para o LIC, Distúrbios hidroeletrolíticos 2 causando edema celular. Dessa forma, fica claro que os distúrbios do sódio são, na verdade, distúrbios da água. As células mais afetadas com esse movimento da água corporal entre um compartimento e outro são os neurônios. Por isso, disnatremias (hiponatremia e hipernatremia) provocam sintomas neurológicos. É importante conhecermos o conceito de osmolaridade efetiva ou tonicidade, que é dado pela concentração de solutos que não passam livremente pela membrana plasmática e, portanto, podem exercer um efeito osmótico entre LIC e LEC Embora os solutos presentes em nossos líquidos sejam osmoticamente ativos (isto é, contribuem para a osmolaridade total do meio), nem todo soluto é osmoticamente efetivo, como por exemplo, a ureia... A ureia passa livremente pela membrana das células (pois é uma molécula lipossolúvel), o que faz sua concentração plasmática ser igual à concentração intracelular! Por esse motivo, a ureia NÃO contribui para a osmolaridade efetiva ou tonicidade, ainda que contribua para a osmolaridade total. A osmolaridade plasmática efetiva depende somente de sódio e glicose. Os principais eletrólitos do intra celular são: potássio, fosfato, sulfato e proteínas. Os principais eletrólitos do extracelular são: Sódio, Cloro e bicarbonato A água corporal corresponde a 60% do peso do indivíduo. A água corporal é menor em obesos, idosos e mulher quando comparada ao homem. A água intracelular corresponde a 2/3 e extracelular 1/3. Dos 1/3 da água extracelular, 3/4 está no interstício e 1/4 no leito arterial. GAP osmolar, quando maior que 10 significa que o indivíduo está com algum intoxicação exógena. Mecanismo de regulação do sódio A osmolaridade plasmática (e, por conseguinte, a natremia) possui dois mecanismos regulatórios: 1 Hormônio antidiurético ADH ou arginina- vasopressina) 2 Centro da sede Distúrbios hidroeletrolíticos 3 O ADH (ou arginina-vasopressina), é produzido pelos núcleos supraóptico e paraventricular do hipotálamo, sendo armazenado nos terminais axonais da neuro-hipófise de onde é liberado para a circulação sistêmica. Essa região hipotalâmica é chamada apropriadamente de centro osmorregulador, pois funciona como um verdadeiro osmostato. Uma queda da osmolaridade abaixo de 275 mOsm/L praticamente suprime a liberação do hormônio... Acima de 275 mOsm/L a produção e liberação do ADH aumentam proporcionalmente ao acréscimo da osmolaridade. 1 O Hormônio Antidiurético ADH O ADH age no túbulo coletor (néfron distal), age nos receptores v2, onde estimula a incorporação de canais de água na membrana luminal (chamados de “aquaporinas”), o que torna a célula tubular altamente permeável à água. Com isso se consegue reabsorver água livre, produzindo uma urina concentrada. Quanto maior for o nível plasmático de ADH, maior será a reabsorção tubular de água livre e mais concentrada ficará a urina, até um máximo de 8001400 mOsm/L (correspondente a uma densidade urinária de 1.030. Quando os níveis do hormônio forem indetectáveis, a reabsorção tubular de água livre será mínima, formando-se uma urina maximamente diluída, com osmolaridade em torno de 5070 mOsm/L (densidade de 1.003 – quase “água pura”). Regulando a reabsorção de água livre e a concentração urinária, isto é, a capacidade de reter ou eliminar água pelos rins, o ADH é o principal hormônio regulador da osmolaridade corporal. Um aumento da osmolaridade estimula o hipotálamo a produzir mais ADH, o que por sua vez promove maior reabsorção de água livre, permitindo a conservação da água corporal. Uma redução da osmolaridade tem o efeito inverso: suprime a produção hipotalâmica de ADH, o que leva a uma menor reabsorção de água livre, permitindo a eliminação da água corporal. 2 A Sede O centro da sede está representado por um grupo de neurônios no hipotálamo anterior ativado por aumentos da osmolaridade sérica acima de 290 mOsm/L. A sede é o principal fator protetor contra a hiperosmolaridade, sendo ainda mais importante que o próprio ADH. Distúrbios hidroeletrolíticos 4 Quando o indivíduo perde muita água livre, por exemplo, durante um dia quente, ou após um exercício físico prolongado, a hiperosmolaridade resultante estimula a liberação de ADH, levando à formação de urina concentrada. Contudo, isso não é suficiente para corrigir a hiperosmolaridade, já que o deficit de água livre geralmente é maior do que o rim pode conservar. Neste caso, o estímulo à ingestão hídrica é que irá resgatar a homeostase osmolar do indivíduo. Consideramos o centro da sede como parte do chamado centro osmorregulador (osmostato), juntamente aos núcleos neuronais produtores de ADH. Em condições normais, a quantidade de água que entra no organismo é a mesma que sai dele, mantendo sódio sérico e, consequentemente, e s osmolaridade sérica normal. O hipotálamo possui osmoreceptores que detectam quando há um aumento da osmolaridade sérica e estimulam a sensação de sede e a liberação do hormônio antidiurético ADH. O indivíduo que é independente beberá água, fazendo com que a osmolaridade sérica retorne aos níveis normais e levando à imediata supressão do ADH. Enquanto ele não bebe água, o ADH atua nos rins, mais especificamente nos canais de aquaporina 2 no túbulo coletor. Dessa forma, a urina é concentrada evitando a perda adicional de água. Já quando a osmolaridade está baixa, os níveis de ADH ficam muito reduzidos, não há estímulo ao aumento dos canais de aquaporina e o resultado é uma urina diluída, que elimina o excesso de água com o objetivo de aumentar a osmolaridade. Osmolaridade urinária máxima - 1300 mOsm/l Osmolaridade urinária mínima- 50 mOsm/l A liberação de ADH também ocorre por outro estímulo além da osmolaridade, que é a redução do volume arterial circulante efetivo. Por exemplo, um indivíduo com diarreia aguda perdendo fluido com eletrólitos na mesma proporção não apresentará alteração de sódio, ou seja, osmolaridade sanguínea permanecerá igual, porém o nível sérico do ADH, ficará elevado. Hiponatremia Distúrbios hidroeletrolíticos 5 Para ocorrer hiponatremia, é necessário que os rins não consigam eliminar o excessode água por uma incapacidade de diluir a urina em decorrência de um processo patológico. É o distúrbio hidroeletrolítico mais comum. A concentração normal de sódio sérico fica entre 135145mEq/l. Ele é o principal componente da osmolaridade sanguínea. Classificação Duração Aguda: < 48h Crônica 48h Tonicidade Hipotônica Normotônica Hipertônica Volemia Hipovolêmica Distúrbios hidroeletrolíticos 6 Euvolêmica Hipervolêmica Nível sérico 130 a 134 - Leve 121 a 129 - Moderada < 120 - Grave Tonicidade sanguínea O sódio é o principal íon na osmolaridade efetiva. Isto é conferido na seguinte fórmula: 2x Na+ Ureia/6 + Glicose/18 → 275 a 295 mosm/kg. Existe então hiponatremia hipertônica, que é quando o paciente apresenta: Hiperglicemia Infusão de solutos exógenos (manitol) Infusão de imunoglobulina Irrigantes cirúrgicos RTU Outra situação que existe é uma hiponatremia isotônica, que é quando o paciente apresenta: Distúrbios hidroeletrolíticos 7 Pseudohiponatremia Icterícia obstrutiva Paraproteinemias (mieloma múltiplo) Hiperlipidemia Existe outro tipo que é a Hiponatremia hipotônica, que é a mais comum. Distúrbios hidroeletrolíticos 8 Hiponatremia Hipotônica Aprenda o seguinte conceito: as alterações do sódio sérico, na verdade, são decorrentes de distúrbios no manejo da água corporal (retenção ou hiperexcreção de água livre, diluindo ou concentrando o sódio, respectivamente), e não do sódio em si. Trata-se de pacientes com alteração de volume. Hipovolêmicos: Distúrbios hidroeletrolíticos 9 Ocorre queda do volume circulante arterial efetivo, o que estimula a liberação do ADH. Somente este fato não configura hiponatremia, porém, se a hipovolemia não for corrigida (com oferta de fluido com eletrólitos) e o paciente não receber água ou soro glicosado (que não contém eletrólitos), os rins não eliminarão o excesso de água por causa do ADH, resultando em hiponatremia. Um exemplo clássico é o indivíduo com diarreia aguda que passa a ingerir líquidos por via oral sem eletrólitos. Como o rim está concentrando urina, ele irá desenvolver hiponatremia. Desidratados Uso de diuréticos Síndrome cerebral perdedora de sal SCPS A perda primária de volume induz aumento na secreção de ADH por mecanismo não osmótico, barorreceptor-dependente, tornando os rins incapazes de excretar água livre. Esta “família” de hiponatremias pode ser subdividida quanto ao sódio urinário (< 20 mEq/L ou > 40 mEq/L. 1.1 Hiponatremia Hipovolêmica com Sódio Urinário Baixo Ocorre nas perdas extrarrenais de volemia, em decorrência de vômitos, diarreia e/ou hemorragias. O sódio urinário é < 20 mEq/L (geralmente < 10 mEq/L, graças à intensa reabsorção tubular de sódio mediada tanto pela queda da “natriurese pressórica” quanto pelo mecanismo aldosterona-dependente, que promove reabsorção de Na+ no túbulo coletor. Em outras palavras, é a hiponatremia secundária à insuficiência renal aguda pré-renal. Distúrbios hidroeletrolíticos 10 1.2. Hiponatremia Hipovolêmica com Sódio Urinário Alto Ocorre nas síndromes perdedoras de sal por via renal, nas quais o achado de sódio urinário > 40 mEq/L, na vigência de hipovolemia, direciona o diagnóstico. Temos como causas dentro desse grupo os diuréticos tiazídicos, o hipoaldosteronismo e a síndrome cerebral perdedora de sal. Os diuréticos tiazídicos são importantes causas de hiponatremia no ambulatório e na enfermaria. Eles agem no túbulo contorcido distal, inibindo a reabsorção de NaCl não acompanhada de água, típica deste segmento do néfron. Com isso há prejuízo ao processo de diluição do fluido tubular distal, o que contribui para uma menor capacidade de excretar água livre... Todavia, o principal mecanismo da hiponatremia é a espoliação volêmica do efeito diurético, que estimula a hipersecreção de ADH e diminui ainda mais a capacidade renal de eliminar água livre. A síndrome cerebral perdedora de sal CSWS – Cerebral Salt-Wasting Syndrome) ocorre na primeira semana após uma lesão cerebral grave. Dois mecanismos parecem justificar a hiponatremia nesta síndrome: 1 hiperativação simpática (por desregulação do sistema nervoso autônomo), levando a um aumento da “natriurese pressórica”, isto é, o aumento da pressão arterial sistêmica (por efeito das catecolaminas) promove aumento da filtração glomerular e da natriurese; 2 secreção anômala de Peptídeo Natriurético Cerebral BNP, que estimula diretamente a perda de sódio pelos túbulos renais. Por causa disso, tais pacientes são tipicamente hipovolêmicos, apresentam sódio urinário e fração excretória de sódio elevados e, pelo menos na fase inicial, ficam poliúricos... A poliúria acaba dando lugar à redução do débito urinário, na medida em que a volemia se reduz e ocorre aumento (apropriado) dos níveis de ADH, o que leva à excreção de urina concentrada (incapacidade renal em excretar água livre). O quadro costuma se resolver espontaneamente em 24 semanas. O hipoaldosteronismo é causa clássica de hiponatremia, já que na deficiência de aldosterona ocorre deficit de reabsorção de sódio. A perda de sódio na urina induz hipovolemia, que estimula a secreção de ADH... O resto você já sabe: retenção de água livre, levando à hiponatremia Hipervolêmicos: Distúrbios hidroeletrolíticos 11 São as que cursam com aumento da água corporal total. A marca desse grupo é o edema, seja periférico, seja de serosas (ascite, derrame pleural e pericárdico). A Insuficiência Cardíaca Congestiva ICC e a cirrose hepática são causas comuns de hiponatremia na prática médica. Essas duas entidades promovem redução do volume circulante efetivo – volume de sangue presente no leito arterial. Na ICC e na cirrose hepática com ascite, o líquido é retido no sistema venoso (venoplegia), no interstício (edema) e nas serosas (ascite, derrame pleural e pericárdico), sendo, por conseguinte, deslocado do leito arterial. Essa hipovolemia “relativa” (redução isolada do volume circulante efetivo) induz a secreção de níveis elevados de ADH. A presença de hiponatremia persistente representa um importante fator de mau prognóstico em qualquer uma dessas condições, pois denota maior deficiência de volume circulante efetivo (ou seja, maior gravidade da doença de base). Na insuficiência renal, a queda na taxa de filtração glomerular abaixo de 1020% predispõe à hiponatremia, seja na insuficiência renal aguda ou crônica. A explicação é que uma maior quantidade de solutos tem que ser excretada por cada néfron funcionante, o que compromete a capacidade de diluição urinária (capacidade de eliminar água livre).Veja bem: normalmente a osmolaridade urinária mínima pode chegar a 50 mOsm/L, mas nos casos de insuficiência renal avançada ela não cai abaixo de 200250 mOsm/L (os néfrons remanescentes precisam excretar uma fração mais elevada de sódio e ureia, a fim de compensar a perda de néfrons). Logo, o paciente não consegue eliminar um eventual excesso de água livre ingerido! Se não seguir as orientações de restrição hídrica, ele desenvolverá hiponatremia. Na hiponatremia hipervolêmica também ocorre uma redução do volume circulante arterial efetivo, apesar de o sistema venoso e o interstício estarem Distúrbios hidroeletrolíticos 12 expandidos - por exemplo baixo débito cardíaco na IC ou vasodilatação arterial com queda da PA decorrente de uma cirrose hepática. Insuficiência cardíaca - nestes pacientes a hiponatremia indica um péssimo prognóstico. Síndrome nefrótica Hepatopatias crônicas- nestes pacientes a hiponatremia indica um péssimo prognóstico. IRA/DRC Euvolêmicos Na hiponatremia euvolêmica não ocorre alteração do volume circulante arterial efetivo. Aqui há excesso de ADH, de forma inapropriada, sendo a principal causa a síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético SIADH. SIAD A SIADH representa uma das principais causas de hiponatremia na prática médica. Para dizer que o paciente possui SIADH é necessário que tenha diagnosticado a suahiponatremia hipotônica normovolêmica. A Osmolaridade urinária vai se encontrar aumentada, maior do que 100 mOsm/L, além de um Distúrbios hidroeletrolíticos 13 sódio urinário acima de 40 mEq/L. Há uma tendência desses pacientes para uma hipervolemia devido a água que excede, assim a volemia é mantida. Contudo, para que isso ocorra a hipervolemia é combatida pela liberação de peptídeo atrial natriurético. Isso mantém a regulação do sódio preservada, aumentada na urina. O sódio sai do corpo dando lugar a água, gerando a hiponatremia. Devido ao peptídeo há a secreção de ureia e ácido úrico (hipouricemia). Causa importante de hiponatremia Quando suspeitar de SIAD? Suspeita-se diante de uma hiponatremia hipotônica euvolêmica. Fortalece essa hipótese quando é observado: → ácido úrico 4 �Ureia<30 �Função tireoidiana e adrenal normais → Osmolaridade urinária > 100 mosm/kg �FeNa>1% Causas principais de SIAD → Medicações, TCE, PO NCx, AVCi/hemorragias SNC, TVC, Neoplasias malignas (oat-cell pulmão principalmente) Doenças tireoidianas - hipotireoidismo → TSH > 50, provoca um déficit de bomba, ocasionando má perfusão ativando o SRAA, aumentando a secreção de ADH. Insuficiência adrenal: estimula a secreção de ADH. Medicações (psicotrópicos e anticonvulsivantes principalmente) Distúrbios psiquiátricos Distúrbios hidroeletrolíticos 14 Achados clínicos da hiponatremina hipotônica Maioria é assintomático Alguns podem desenvolver sintomas leves Cefaleia Fadiga Náuseas Vômitos Cãimbras Alguns podem desenvolver sintomas graves, quando a hiponatremia é grave ou se desenvolve mto rápido Obnubilação Convulsão Coma Apneia Edema cerebral OBS Quão mais crônico, mais oligossintomático. Hiponatremia aguda Distúrbios hidroeletrolíticos 15 → hiponatremia causada por ecstasy: o ecstasy induz a liberação de ADH, além disso o indivíduo fica agitado e toma muita água agravando ainda mais a hiponatremia. → hiponatremia do exercício: o indivíduo vai tomando muita água o que dilui muito o sódio, além disso, sem uma causa conhecida, o ADH de indivíduos maratonistas é mais alto. Tratamento Hiponatremia crônica Suspender medicações Restrição hídrica Aumentar ingesta de solutos orais. Diurético de alça Cloreto de sódio Hiponatremia sintomática/aguda Variar 810mEq por dia Restrição hídrica Diurético de alça Salina hipertônica (em caso de sintomas neurológicos) Pode -se fazer uma reposição rápida com solução salina 3% 100ml até 3 vezes 15 a 20min) Na hiponatremia aguda deve-se aumentar 2 meq de sódio/ hr por até 3h. 1L de Nacl tem 513 meq, 100ml tem cerca de 51,3 meq . Sabe-se que 100ml aumenta o sódio em 1meq. Para aumentar 2 meq por hora, deve-se dar 200ml de Nacl. Pode-se fazer também a reposição utilizando a fórmula de Androgue, que é: Distúrbios hidroeletrolíticos 16 Ex: Distúrbios hidroeletrolíticos 17 A síndrome da desmielinização osmótica ocorre quando há um grande aumento do sódio extracelular de forma rápida, isso faz com que saia muita água do neurônio levando a dano da bainha de mielina. Distúrbios hidroeletrolíticos 18 Reposição volêmica Tipos de soluções: Distúrbios hidroeletrolíticos 19 → Cristaloide: água + eletrólito → Coloide: água + eletrólito + macromolécula: mantém a água dentro do vaso. Distúrbios hidroeletrolíticos 20 Obs: cloreto de sódio 0,9% representa o soro fisiológico que tem osmolaridade semelhante à sanguínea, cloreto de sódio a 0,45% apresenta metade da osmolaridade sanguínea e o cloreto de sódio a 3% apresenta solução salina hipertônica. Soro fisiológico pode causar acidose metabólica, pq vai estar dando 154 meq de cloreto (normal é 97107, com isso, pode haver acidose hipercloremica. Obs: Ringer lactato e plasma lyte são soluções balanceadas, ou seja, são próximas do plasma. Obs: Ringer lactato contém potássio, por isso não é dado em pacientes com hipercalemia. Distúrbios hidroeletrolíticos 21 Soluções Cristaloides: Solução salina a 0,9% ‒ isotônica SSI denomina-se isotônica por apresentar tonicidade semelhante à do plasma. É utilizada quando se necessita expandir o espaço extracelular, pois o sódio é o principal cátion desse espaço, determinando o seu volume. Uma solução que contenha sódio tende a se distribuir no espaço de distribuição do sódio, ou seja, no extracelular. Soluções hipotônicas contêm um maior teor de água livre, que se distribuirá parte para o extracelular e parte para o intracelular. A solução salina isotônica é adequada para a correção de depleção do espaço extracelular, o manejo líquido em pós-operatório (em que soluções hipotônicas causariam hiponatremia) e a correção inicial do choque, de hemorragias e de queimaduras. Por ser isotônica, essa solução não provoca significativos desvios de líquido entre compartimentos. Em 1 ℓ dessa solução, há aproximadamente 150 mEq de sódio. Uma das principais complicações dessa solução é a acidose metabólica hiperclorêmica, que pode ocorrer após a infusão de grandes quantidades de SSI. Distúrbios hidroeletrolíticos 22 A solução fisiológica a 0,9% é isosmolar, isso impede que a solução vá para o intracelular, com isso 1/4 ficará no intravascular e o restante no interstício. 2. Lactato de Ringer: solução levemente hipotônica que contém sódio, potássio, cálcio e lactato Tabela 15.3. Sua utilização atenua a acidose metabólica Distúrbios hidroeletrolíticos 23 hiperclorêmica que poderia ocorrer em situações nas quais é necessária a reposição de grandes volumes de solução salina isotônica. No fígado, o lactato é convertido em bicarbonato. Em pacientes com insuficiência hepática, pode ocorrer leve acúmulo de lactato. No entanto, os níveis séricos de lactato não se elevam significativamente. O cálcio presente nessa solução pode se ligar a certos medicamentos e reduzir seus efeitos. Anfotericina, ampicilina e thiopental não devem ser infundidos com o lactato de Ringer. 3. Solução salina a 3% solução cristaloide hipertônica que promove desvios de água do intracelular para o intravascular. É utilizada no tratamento da hiponatremia sintomática. 4. Soro glicosado a 5% SG 5% Distúrbios hidroeletrolíticos 24 A glicose quando administrada no indivíduo, ela se distribui como a água se distribui no corpo. O meio extracelular fica mais hipotônico, com isso o soro glicosado vai pro meio mais concentrado, que é o intracelular, se distribuindo como a água. Distúrbios hidroeletrolíticos 25 Trata-se de uma solução hipotônica, que veicula água e pequena quantidade de glicose. Em condições normais, a glicose é assimilada pelas células e não causa alterações na glicemia do paciente. No entanto, no diabetes melito, pode desenvolver-se hiperglicemia. Em um paciente não diabético, ao se administrar SG 5% com SSI, a SSI permanecerá no espaço extracelular, a glicose será metabolizada e a água livre se distribuirá nos espaços extra e intracelular. É útil no tratamento da hipernatremia, como forma de administração de água livre, veículo para a administração de medicamentos e manutenção de acessos venosos permeáveis. Soluções mais concentradas de glicose 10, 20 ou 50% podem ser utilizadas, embora causem flebite quando infundidas em veias periféricas. Como não contém sódio, não é adequada para repleção do extracelular.8 Em pacientes em jejum por menos de 24 h, o SG 5% pode ser utilizado como fonte de caloria não proteica, limitando o catabolismo proteico estimulado pelo jejum. Um litro de SG 5% contém 50 g de dextrose, o que equivale aproximadamente a 170 kcal. Como visto no Quadro 15.8, o soro glicosado expande principalmente o espaço intracelular. Soluções coloides: Compreendem suspensões de partículas muito grandes, que não atravessam membranas semipermeáveis. Sua presença em um dos lados da membrana exerce uma força de atração (pressão oncótica) proporcional à sua concentração. Os coloides são utilizados para manter o volume plasmático, produzindo uma expansãoefetiva do volume circulante, com pouca ou nenhuma perda para o interstício, como observado na Tabela 15.4. A permanência dessas soluções no intravascular (quando o endotélio está íntegro) aumenta a duração de sua ação. Se o endotélio estiver lesado, pode haver escape de solução coloide para o interstício. Em virtude das características da distribuição dessas soluções, doses menores de coloide causam maior expansão do intravascular que os cristaloides. De modo geral, na ausência de lesão endotelial significativa, são necessários três volumes de solução cristaloide para promover um efeito equivalente a um volume de solução coloide em expansão do intravascular (“regra 31”). Essa distribuição modifica-se muito no choque séptico. São exemplos de coloides a albumina, o hidroxietilamido, os dextrans e as gelatinas. Distúrbios hidroeletrolíticos 26 Albumina (albumina humana 20% Principal proteína do soro, contribuindo com 80% da pressão oncótica do plasma, está disponível em solução a 20%. Doses acima de 20 mℓ/kg causam maior aumento no intravascular que o volume infundido, pois o incremento na pressão oncótica provoca movimento de líquido para o intravascular. A meia- vida intravascular da albumina é de 16 h. Representa um efetivo expansor de volume em situações de trauma e choque. São argumentos contra seu uso a possibilidade de transmissão de doenças infecciosas (hepatite e AIDS, a ocorrência de eventuais reações anafiláticas e o relativo custo elevado quando comparado à SSI.7 Seu principal benefício parece se dar em pacientes com hipovolemia associada à baixa albumina. Em 1998, o Grupo Cochrane publicou uma metanálise comparando os efeitos da albumina com os dos cristaloides em pacientes com hipovolemia, queimaduras ou hipoalbuminemia, concluindo que a administração de albumina estava associada a um aumento significativo na mortalidade.11 Posteriormente, investigadores na Austrália e na Nova Zelândia publicaram os resultados do estudo SAFE (Saline versus Albumin Fluid Evaluation).12 Os autores pesquisaram o efeito da albumina 4% em comparação à solução salina. Não houve diferença com relação à mortalidade. Entretanto, observou- se uma maior mortalidade aos 2 anos de pacientes com lesão cerebral traumática, o que foi atribuído ao aumento da pressão intracraniana durante a 1a semana de tratamento. Contudo, houve uma menor mortalidade de pacientes com sepse que fizeram uso de albumina no início do tratamento. Tudo indica que os efeitos hemodinâmicos e os resultados finais do uso da albumina se equivalem aos da solução salina. Coloides semissintéticos Surgiram em razão da pouca disponibilidade e do alto custo da albumina humana. Em nível mundial, a hidroxietilamido HAES-steril®) compreende a solução mais utilizada. Outras soluções utilizadas são as gelatinas Haemacel® e Hisocel®) e as soluções de dextrana, estas últimas abandonadas pelo uso das soluções semissintéticas. Soluções de HAES com alto peso molecular prolongam a expansão intravascular e aumentam a chance de acúmulo no tecido reticuloendotelial, https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527733267/epub/OEBPS/Text/chapter15.html#ch15-ref7 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527733267/epub/OEBPS/Text/chapter15.html#ch15-ref11 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527733267/epub/OEBPS/Text/chapter15.html#ch15-ref12 Distúrbios hidroeletrolíticos 27 como pele (resulta em prurido), fígado e rins, além de causarem alterações na coagulação. Soluções a 10% foram associadas a maior mortalidade, lesão renal aguda e necessidade de diálise.13-15 Atualmente, as concentrações das soluções de HAES foram reduzidas para 6%. A dose máxima diária recomendada é de 33 a 50 mℓ/kg. Entretanto, a associação à mortalidade de HAES a 6% é controversa. Um estudo observacional recente relatou o risco de lesão renal aguda com soluções de gelatina.16 Em conclusão, em razão da falta de evidência de benefício clínico, da nefrotoxicidade potencial e do custo elevado, é difícil justificar o uso de coloides semissintéticos na reposição de líquidos em pacientes graves. Outras soluções e aditivos para uso parenteral Cloreto de potássio a 19,1% KCl 19,1%. Aditivo utilizado para repor as perdas e as deficiências de potássio, principalmente em pacientes intolerantes ao potássio administrado VO. A dose prescrita deve ser cuidadosamente observada. O potássio representa um agente irritante para as veias, dependendo de sua diluição (se maior que 30 mEq/ℓ). Mais importante, porém, é o fato de que pacientes com disfunção renal podem desenvolver hiperpotassemia fatal. Nesse caso, prefere-se não adicionar potássio ao primeiro frasco de solução. Se houver boa diurese em resposta à reposição líquida, adiciona-se potássio aos demais frascos. O potássio pode ser administrado com o soro glicosado ou com solução salina isotônica. Como apresentado no Capítulo 12, a infusão com soro glicosado causa a entrada de potássio mais rapidamente nas células, em virtude da liberação de insulina, o que dificultaria a correção do potássio no sangue. Contudo, após a correção de uma hipopotassemia grave, evita-se colocar o potássio em soro fisiológico, pois, em uma emergência (p. ex., o choque), o líquido a se administrar rapidamente é o soro fisiológico, e nunca o soro glicosado. Se o soro fisiológico contiver potássio, sua administração poderá causar complicações cardíacas. Cada 10 mℓ dessa solução contém 25 mEq de potássio Tabela 15.5. Bicarbonato de sódio. Está disponível a solução de bicarbonato de sódio a 8,4%, que contém 1 mEq de bicarbonato e 1 mEq de sódio por mℓ. Logo, para a reposição de solução isotônica de bicarbonato, misturam-se 150 mℓ da solução em 1 ℓ de soro glicosado a 5%. Essa solução é utilizada em casos graves de acidose com risco de vida. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527733267/epub/OEBPS/Text/chapter15.html#ch15-ref13 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527733267/epub/OEBPS/Text/chapter15.html#ch15-ref15 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527733267/epub/OEBPS/Text/chapter15.html#ch15-ref16 Distúrbios hidroeletrolíticos 28 Distúrbios hidroeletrolíticos 29 Distúrbios hidroeletrolíticos 30 Distúrbios hidroeletrolíticos 31 Distúrbios hidroeletrolíticos 32 Distúrbios hidroeletrolíticos 33 Distúrbios hidroeletrolíticos 34 Hipernatremia Definida por Na 145mEq/L. Geralmente esses pacientes têm déficit de água corporal no organsimo, ou seja tem pouca água no corpo. O aumento da osmolaridade estimula a liberação do ADH e o indivíduo sente sede. Se ele é lúcido e tem livre acesso à água, ele não desenvolverá hipernatremia, pois basta beber água para corrigir a osmolaridade. A hipernatremia é também chamada de desidratação, que é diferente de hipovolemia. Na hipovolemia ocorre perda de água e eletrólitos na mesma proporção, mantendo um sódio normal. Na desidratação há um déficit de água em relação aos eletrólitos. Eles podem existir isoladamente ou ser concomitante. É necessário um combinação de perda de fluidos hipotônicos com ausência de acesso livre à água, para ocorrer a hipernatremia. Duas raras exceções são: a administração iatrogênica de substâncias hipertônicas (salina 3% ou bicabornato de sódio a 8,4% e a hipodipsia decorrente de alguma lesão no hipotálamo. Então os pacientes que desenvolvem hipernatremia geralmente está internado em estado crítico, sob efeito de sedativos em unidade de terapia intensiva ou são Distúrbios hidroeletrolíticos 35 indivíduos frágeis, acamados, portadores de doenças neurológicas incapacitantes e/ou dependentes de terceiros, ou seja, aqueles que dependem de terceiros para se hidratar. O valor normal da osmolaridade sérica é de 275 a 290 mOsm/l . Já se sabe que o sódio exerce muita influência na osmolaridade, em relação à ureia e à glicose, pois ele é multiplicado por 2, enquanto a ureia é dividida por 6 e a glicose por 18. Se pegarmos uma hipernatremiamais leve, ou seja 146mEq/l, e multiplicarmos por 2, teremos um valor de 292, que ainda será acrescido de ureia/6 e da glicose/18. Dessa forma, toda hipernatremia é sempre hiperosmolar- a osmolaridade sérica estará sempre 290mOsm/l. Mecanismos Perda de água corporal se dá: Lesões hipotalâmicas: com desregulação do SNC (hipodipsia) Perdas cutâneas: pacientes com lesões dermatológicas graves, como queimaduras extensas Perdas via TGI� A gastroenterite aguda é uma causa de hipernatremia e de hiponatremia. É a hiponatremia que tem como causa a perda extrarrenal de sódio. A hipernatremia ocorre quando a perda de água supera a perda de sódio. Perdas renais : Diabetes insipidus central; diabetes insipiduas nefrogênico; diurese osmótica. Reposição iatrogência de soluções hipertônicas contendo sódio: como salina 3% e bicabornato de sódio. A correção de acidose por bicarbonato de sódio pode causar hipernatremia em pacientes pediátricos em Unidade de Terapia Intensiva, sendo o mecanismo fisiopatológico baseado em ganho de soluto. Manifestações clínicas O neurônio é a célula mais afetada pelas variações da osmolaridade sérica, por isso os sintomas são basicamente neurológicos. Uma hipernatremia grave de Distúrbios hidroeletrolíticos 36 rápida instalação pode causar SDO e hemorragia cerebrais. Além disso o indivíduo pode ter fraqueza, irritabilidade, crises convulsivas, confusão mental, letargia e coma. Pode haver poliúria Poliúria É definida por um volume urinário 3L/dia e pode ser resultante de uma diurese osmótica ou aquosa. Na primeira situação, teremos uma substância hiperosmolar sendo excretada pela urina, como por exemplo a glicose, levando consigo a água, o que resulta em poliúria. A segunda situação pode ser apenas um rim normal excretando um excesso de água (polidpsia primária) ou um rim anormal que não consegue concentrar a urina (diabetes insipidus) Diurese osmótica: Hiperglicemia Ureia: algumas situações de recuperação de IRA, principalmente a desobstrução da uropatia obstrutiva ou a recuperação de uma necrose tubular aguda. Diurese aquosa: Polidipsia primária Diabetes insipidus central Diabetes insipidus nefrogênico Uma ferramenta que auxilia na distinção entre diurese osmótica e diurese aquosa é a osmolaridade urinária, pois, se a osmolaridade urinária fica > 600mOsm/l é uma diurese osmótica, enquanto a diurese aquosa fica 300mOsm/l. A osmolaridade entre 300 e 600 pode ser qualquer uma das etiologias, sendo o diagnóstico direcionado com exames específicos a depender da suspeita clínica. Diagnóstico Naqueles em que não está clara a causa da hipernatremia, es´ta recomendado dosar a osmolaridade urinária e sódio urinário. < ou= 600 mOsm/l : diabetes insipidus ou diurese osmótica Distúrbios hidroeletrolíticos 37 600mOsm/l: → Sódio urinário 25mEq/l -perdas extrarrenais (gastrointestinal ou pele) → Sódio urinário 100 - infusão venosa de solução hipertônica Tratamento Nas hipernatremias em que o paciente também está hipovolêmico, o tratamento deve ser realizado com salinas hipotônicas (ex.: salinas a 0,45%, pois é necessário fornecer algum sódio para restaurar a volemia. Porém se a perda de fluido é praticamente de água, livre de eletrólitos, como diabetes insipidus ou hipodipsia, então está recomendada a reposição de água sem eletrólitos. Se a via oral/enteral estiver disponível, é preferível que seja reposta água por essa via. Caso contrário, pode-se usar o soro glicosado por via parenteral, pois ele não tem eletrólitos, funcionando como se fosse água pura. OBS É contraindicada a infusão de de água destilada ou água mineral por via intravenosa, pois provocam hemólise aguda. A quantidade de reposição é calculada por meio da fórmula de Adrogué e Madias, porém, é necessário acrescentar ao resultado final o volume equivalente ao das novas perdas que o paciente apresentará, incluindo a diurese e as perdas insensíveis. Distúrbios hidroeletrolíticos 38 Ex: O sódio sérico não deve ser reduzido mais do que 10mEq/24horas, devido ao risco de edema cerebral agudo, pois o neurônio terá feito alguma adaptação àquela hiperosmolaridade e, quando reduzido de forma abrupta, entra água no neurônio rapidamente provocando edema. Fisiologia O ADH é secretado pelo hipotálamo e secretado pela neuro-hipófise, a depender do estímulo da elevação da osmolaridade sanguínea ou de uma redução de volume arterial circulante. Ele age no seu receptor presente na célula principal do túbulo coletor renal, que desencadeia uma cascata de reações químicas com o objetivo de aumentar a quantidade de aquaporinas na membrana luminal. O resultado é uma maior capacidade de concentração urinária, evitando elevações mais siginificativas da osmolaridade sérica. Diabetes Insipidus Algumas doenças hipotalâmicas e/ou hipofisárias podem resultar na redução ou ausência de secreção de ADH, resultando na incapacidade renal de concentrar a urina mesmo se a osmolaridade sérica estiver muito elevada. Essa condição é denominada diabetes insipidus central. A única proteção desses indivíduos é a sede, por isso apresentam polidipsia e poliúria. Quando o indivíduo possui acesso livre à água, não desenvolve hipernatremia, pois está sempre bebendo água. Contudo, aqueles incapacitados definitiva ou Distúrbios hidroeletrolíticos 39 transitoriamente (ex.: pós-operatório de neurocirurgia) podem desenvolver hipernatremia grave, potencialmente fatal. Alguns indivíduos secretam normalmente o ADH, porém o receptor tem uma resistência a sua ação, o que resulta no mesmo quadro de polidipsia e poliúria - e hipernatremia naqueles que não têm acesso livre a água. Nesse caso, o problema está no rim, por isso é chamado de diabetes insipidus nefrogênico. Diabetes insipidus central: Idiopático (+ comum) Hereditário TCE Neoplasia primária ou metástase em região de hipófise e hipotálamo. Neurocirurgia Doenças infiltrativas - sarcoidose e histiocitose de células de Langerhans Encefalopatia hipóxica Diabetes insipidus nefrogênico Hereditário Hipercalcemia (cai mt em prova) Desobstrução de uma uropatia obstrutiva Carbonato de lítio (cai mt em prova) Outros medicamentos - foscarnet, anfotercina B, cidofovir Gestação 2ª metade da gestação) Distúrbios hidroeletrolíticos 40 Para saber se o Diabetes Insipidus é central ou nefrogênico deve-se fazer o teste da Desmopressina (dDAVP que avalia a osmolaridade urinária de 30 em 30 minutos. O teste é feito da seguinte maneira: 1º dDAVP 10mcg spray nasal ou 4mcg subcutâneo 2º Avaliar a osmolaridade urinária de 30 em 30 minutos por 2 horas. Se tiver aumento da osmolaridade urinária quando dá ao paciente o análogo do ADH, siginifica que o paciente tem Diabetes insipidus central, ou seja era a falta de ADH que o paciente tinha. Já se não houver alteração da osmolaridade após dá ao paciente análogo do ADH, significa que ele tem diabetes insipidus nefrogênico, ou seja o problema está no rim, o receptor não está funcionando. Tratamento Em ambas as situações, a dieta precisa ser pobre em solutos (hipossódica e hipoproteicas). Os diuréticos tiazídicos são úteis, pois, apesar de serem diuréticos e induzirem uma perda inicial de sódio, parece que a leve hipovolemia resultante, proporciona maior reabsorção de água em outros segmentos do tubulo renal. Diabetes insipidus central: Quando a poliúria é importante e tem pouca melhora com medidas gerais (dieta e diutérico tiazídico), é indicado o uso de dDAVP na forma de spray nasal ou subcutânea. O risco desse tto é a ocorrência de hiponatremia. Distúrbios hidroeletrolíticos 41 Diabetes insipidus nefrogênico: quando é provocado pelo carbonato de lítio, está indicado o uso de amilorida, que atua inibindo os canais epiteliais de sódio ENaC, sendo estes os mesmo receptores que reabsorvem o lítio no túbulo renal. Ou seja, a amilorida pode reduzir o nível sérico de lítio naqueles pacientes que não toleram suspensão da droga devido ao seutranstorno psiquiátrico. Distúrbios hidroeletrolíticos 42 Distúrbios hidroeletrolíticos 43 Distúrbios hidroeletrolíticos 44 Hipopotassemia Fisiologia O potássio é fundamental na manutenção da homeostase celular, principalmente na manutenção do potencial de repouso da membrana plasmática. Para isso, o organismo regula o nível sérico desse íon a fim de mantê-lo entre 3,5 e 5,0 mEq/l. Aproximadamente 98% do potássio corporal está localizado no LIC, enquanto apenas 2% está no LEC. Essa diferença de concentração entre o lado de dentro e o lado de fora da membrana plasmática é decorrente da ação da bomba de Na+/KATPase , que joga o potássio contra o gradiente de concentração LEC�LIC por meio do gasto energético (quebra de ATP. Os distúrbios do potássio - hipocalemia K 3,5mEq/l) e hipercalemia K 5,0 mEq/l). São frequentemente encontrados na prática clínica e são Distúrbios hidroeletrolíticos 45 potencialmente fatais quando grave. A fonte de potássio é a dieta e sua eliminação é praticamente por via renal, tendo o suor e as fezes pouca participação em condições normais. Essa entrada e saída do potássio corporal é chamada de balanço externo. Já o deslocamento desse íon entre o LIC e o LEC é chmado de balanço interno. Dessa forma, no balanço externo, basta que a entrada de potássio seja maior que a sua eliminação (hipercalemia) ou a eliminação seja maior que a entrada (hipocalemia). No balanço interno, se ocorrer desvio do potássio do LEC para o LIC, teremos uma hipocalemia, porém se o desvio for do LIC para o LEC teremos uma hipercalemia. Se houver hipo ou hipercalemia, o potencial de membrana fica alterado, levando à disfunção dos miócitos. Por isso, os sintomas dos distúrbios do potássio envolvem os músculos estriados esquelético e cardíaco, além da musculatura lisa intestinal. OBS deve-se atentar às alterações eletrocardiográficas são mto cobradas em provas. Hipocalemia K 3,5 mEq/l A hipocalemia é classificada de acordo com o seu nível sérico e a presença ou não de sintomas. Leve: K entre 3,0 e 3,4 mEq/l Moderada: K entre 2,5 e 2,9 mEq/l Grave: K2,5 mEq/l ou sintomas ou alteração eletrocardiográfica Manifestações clínicas A maioria dos indivíduos com a hipocalemia são assintomáticos, por isso, a dosagem sérica do potássio é frequentemente solicitada em pacientes internados. Os sintomas costumam estar presentes apenas na hipocalemia grave, mas podem aparecer na moderada se a velocidade de queda do potássio for rápida. Musculatura estriada esquelética: fraqueza, câimbras, mialgia, rabdomiólise ou insuficiência respiratória por fraqueza ou diafragma. Distúrbios hidroeletrolíticos 46 Musculatura lisa: obstipação e íleo paralítico. A musculatura estriada cardíaca também pode ser muito afetada e apresenta alterações eletrocardiográficas típicas ou redução do limiar para arritmias (taquicardia ventricular ou supraventricular, bloqueios atrioventriculares, bradicardia sinusal, torsades de pointes etc), principalmente portadores de cardiopatias. Indivíduos que usam digitálicos (digoxina) possuem maior risco de intoxicação pela droga na vigência de hipocalemia, com consequente maior risco de arritmias malignas. Alterações eletrocardiográficas típicas de hipocalemia - a primeira é o achatamento da onda T junto com o surgimento da onda U. À medida que a hipocalemia vai se agravando começa a aparecer aumento do intervalo QT e infradesnivelamento de ST. Por último, aparecem aumento da amplitude e largura da onda p e maior evidência das alterações anteriores. Distúrbios hidroeletrolíticos 47 Etiologias Redução da ingesta de K �Anorexia nervosa �Jejum prolongado Desvio do K do LEC para o LIC → Insulina intravenosa: tratamento da cetoacidose diabética e do estado hiperosmolar hiperglicêmico. → Estados adrenérgicos: inalação de beta-agonistas, feocromocitoma, delirium tremens e tireotoxicose. → Alcalose metabólica → Paralisia periódica hipocalêmica → Síndrome de realimentação Perdas gastrointestinais de K → Vômitos ou drenagem nasogástricas: quem vomita muito faz alcalose metabólica, e no tubo coletor, pelo mesmo mecanismo, para cada Na que reabsorve, é necessário excretar K ou H. Como o paciente tem pouco H, excreta K e ocorre hipocalemia. → Diarreia aguda ou crônica: Nas diarreias intensas o paciente perde pelo líquido intestinal mesmo uma quantidade importante de potássio. → Fístulas biliares ou pancreáticas → Uso de laxativos Perdas urinárias → Diuréticos de alça ou tiazídicos: Todo diurético que atua antes do túbulo coletor, aumenta o aporte de Na+ ao tubo coletor e isso faz com que o Na+ seja reabsorvida em troca na excreção de K ou de H. Ou seja, leva a um quadro de hipocalemia e alcalose metabólica. → Síndrome de Bartter ou Gitelman → ATR tipo I ou II → Síndrome de Liddle Distúrbios hidroeletrolíticos 48 → Doenças endócrinas: hiperaldosteronismo primário, síndrome de Cushing, hiperplasia adrenal congênita, cetoacidose diabética ou estado hiperosmolar hiperglicêmico. → Hipomagnesemia → Medicamentos: anfotericina B, aminoglicosídeo, cisplatina, fludrocortisona e glicocorticoides em doses altas �Leptospirose Para que a redução da ingesta de potássio na dieta provoque hipocalemia é necessário que seja algo patológico, pois não basta ficar 24 a 48 hrs sem se alimenta. Por isso, a hipocalemia é mt frequente nos distúrbios alimentares crônicos e quase sempre é multifatorial, pois o indivíduo pode tb provocar vômito, induzir diarreias com laxantes e usar diuréticos para emagrecer. Nos desvios do potássio para o LIC, uma boa parte das patologias realizam essa tarefa estimulando a bomba de Na+/K ATPase. Os estímulos mais conhecidos são a insulina venosa e as catecolaminas. A alcalose metabólica tb desvia K p o LIC, porém isso se deve à saída de H de dentro da célula, o que faz com que uma carga positiva (no caso o K entre na célula. A paralisia periódica hipocalêmica é uma doença genética rara que provoca disfunção dos canais iônicos da membrana celular, onde ocorre súbito influxo de potássio para o LIC, levando a hipocalemia, fraqueza ou paralisia muscular aguda. Os fatores precipitantes dessa forma de paralisia são exercício físico intenso, jejum ou refeições ricas em carboidratos. Na síndrome de realimentação o indivíduo está depletado de eletrólitos (fósforo, potássio e magnésio), porém o nível sérico pode até estar normal devido aos mecanismos protetores. Ao iniciar a alimentação com carboidratos, ocorre uma grande liberação de insulina, que pode jogar esses eletrólitos para o LIC agudamente, ocorrendo uma hipocalemia acompanhada de hipofosfatemia e hipomagnesemia. As perdas urinárias de potássio decorrentes de tubulopatias, como Síndrome de Bartter, Gitelman e Liddle e ATR. As doenças endócrinas relacionadas à aldosterona, como hiperaldosteronismo primário, Distúrbios hidroeletrolíticos 49 hiperplasia adrenal congênita e síndrome de Cushing. São decorrentes do estímulo da aldosterona à reabsorção de sódio no túbulo coletor, gerando a necessidade de secreção de cátion K ou H, o que causa hipocalemia e alcalose metabólica. Já as doenças endócrinas relacionadas à hiperglicemia, como cetoacidose diabética ou estado hiperosmolar hiperglicêmico, podem causar hipocalemia por dois mecanismos, sendo o primeiro a perda de sais de potássio na urina junto com a glicose e o segundo é decorrente do tratamento com insulina, que leva potássio para dentro das células. A hipomagnesemia é associada à hipocalemia por dois fatores: primeiro devido ao fato de terem causas em comum. Segundo, que ela pode, por si só provocar hipocalemia, uma vez que níveis normais de magnésio inibem a saída de potássio da célula tubular renal para a luz do túbulo coletor. Na vigência de hipomagnesemia, não existirá essa inibição, resultando na a liberação de muito potássio para a luz tubular, com consequente excreção na urina e hipocalemia. Dessa forma, nãoadianta corrigir potássio sem antes corrigir a hipomagnesemia. Então se o paciente tem ambos os distúrbios (hipomagnesemia e hipocalemia) deve-se repor primeiro magnésio, e somente depois potássio ou repor ambos concomitantemente. Diagnóstico Antes de iniciar a investigação, é necessário afastar a pseudo- hipocalemia, quando há pressença de leucocitose importante secundária a leucemias. Essas células são muito ativas e captam o potássio do plasma se a amostra de sangue não for processada rapidamente. A solução é centrifugar a amostra rapidamente ou armazenar a 4°C. Geralmente, a causa da hipocalemia costuma estar evidente após a história e o exame físico. Quando isso não ocorrer, dosa-se o potássio urinário na urina 24 hrs. Se ocorrer uma perda baixa de potássio, então a perda é extrarrenal e os rins estão reabsorvendo o potássio da urina para atenuar a hipocalemia. Já se o potássio urinário estiver elevado, então as perdas são de origem renal. Distúrbios hidroeletrolíticos 50 Tratamento Distúrbios hidroeletrolíticos 51 Nas hipocalemias leves K entre 3,0 e 3,4 mEq/l), é realizada reposição de potássio oral ou enteral. Xarope de KCl a 6% → 0,8 mEq/ml Dose inicial - 10ml 8/8horas Slow K → 8 mEq/drágea Dose inicial - 1 drágea de 8/8 horas Nas hipocalemias moderadas a graves, está indicada a reposição venosa de potássio com uma solução de cloreto de potássio (KCl). KCl 10% - 13,4 mEq em cada ampola de 10ml KCl 19,1% 25mEq em cada ampola de 10ml A diluição do KCl deve ser feita em cloreto de sódio a 0,9% (soro fisiológico), pois, se for utilizado o soro glicosado a 5%, pode-se provocar um pico de insulina, agravando a hipocalemia por desvio do potássio do LEC para o LIC. Deve ser administrado em bomba de infusão contínua para que a vazão possa ser controlada, e respeitando determinado limite para reduzir o risco de flebite, hipercalemia iatrogênica (infusão rápida). Limite máximo da concentração da solução de KCl: �Veia periférica - 10mEq em 100ml; �Veia central- 40 mEq em 100ml; Limit máximo de velocidade de infusão da solução de KCl → Veia periférica - 20mEq/hora → Veia central - 40mEq/hora Hipercalemia K5,0 mEq/l É classificada de acordo com seu nível sérico e a presença ou não de sintoomas: Distúrbios hidroeletrolíticos 52 Leve: K entre 5,1 e 5,4 mEq/l Moderada: K entre 5,5 e 6,4 mEq/l Grave: K > ou= 6,5 mEq/l ou sintomas de alteração eletrocardiográfica Manifestações clínicas Os sintomas ou alterações eletrocardiográficas costumam aparecer na hipercalemia grave. Contudo, na hipercalemia aguda podem aparecer em níveis menores. Musculatura estriada esquelética: fraqueza muscular ascendente, cãimbras e mialgias. Em casos severos podem apresentar paralisia da musculatura respiratória, levando à insuficiência respiratória. Musculatura lisa: não aparecem sintomas intestinais significativos Musculatura estriada cardíaca: Ocorre redução do limiar para taqui e bradiarritmias. Há alterações eletrocardiográficas típicas, sendo que: a primeira alteração no ECG é a apiculação da onda T. À medida que a hipercalemia vai se agravando, ocorre achatamento da onda P e alargamento do QRS, até se tornar uma onda sinusoidal, que rapidamente evoluirá para uma parada cardiorrespiratória se a hipercalemia não for tratada Os níveis de potássio entre 5.5 mEq/L e 6.5 mEq/L se associam a alterações da repolarização. A primeira e mais frequente alteração é o incremento da amplitude da onda T, que se torna apiculada, estreita, “em tenda”. O intervalo QT pode ser normal ou curto. A níveis de potássio maiores de 6.5 mEq/L se acentuam as alterações no eletrocardiograma. Aparecem distúrbios em tudo o sistema de condução (átrios, nó AV e ramos ventriculares). A onda P se achata e aumenta em duração, podendo desaparecer. Se prolonga o intervalo PR, se alarga o complexo QRS com morfologias aberrantes. A onda T continua sendo apiculada, embora mais larga. Podem aparecer outros distúrbios do sistema de condução, como bloqueios atrioventriculares, doença do nó sinusal ou ritmo juncional. níveis de potássio maiores de 8.0 mEq/L a onda P desaparece, o QRS se torna mais largo, diminui de amplitude e se fusiona com a onda T, desaparecendo o segmento ST, formando uma onda larga sinusoidal. Este ritmo, característico da hipercalemia severa, é um sinal crítico porque pode degenerar em assistolia ou fibrilação ventricular se não recebe tratamento. Distúrbios hidroeletrolíticos 53 Etiologias: Redução da excreção de potássio DRC e IRA Hipoaldosteronismo : hipoalosteronismo hiporreninêmico do diabetes mellitus (+comum), ATR tipo IV, pseudo-hipoaldosteronismo tipo II e o hipoaldosteronismo congênito. Hipoaldosteronismo medicamentoso - os IECA, BRA II e diuréticos poupadores de potássio são frequentemente causas de hipercalemia na prática clínica por inibir o eixo RAA, cada um em pontos diferentes do eixo. Os AINEs, inibidores de calcineurina (ciclosporina e tacrolimus) alisquireno e betabloqueadores podem causar hipercalemia por inibirem Distúrbios hidroeletrolíticos 54 diretamente a renina. Enquanto isso, a heparina e o cetoconazol podem inibir diretamente a aldosterona. Pseudo-aldosteronismo tipo I - doença genética que causa redução da função do ENaC, resultando em resistência à ação da aldosterona. Desvio do K do LIC para o LEC Acidose metabólica Cetoacidose diabética e estado hiperosmolar hiperglicemico Paralisia periódica hipercalemica Lise celular maciça - síndrome da lise tumoral SLT, rabdomiólise e hemólise maciça. SLT� HIPERuricemia, HIPERpotassemia e HIPERfosfatemia - o que há dentro das células e é liberado, tem seus níveis séricos aumentados. O fosfato liberado exerce efeito quelante com o cálcio, gerando HIPOcalcemia. A liberação de ácidos nucleicos e metabolização das purinas repercute na elevação dos níveis de ácido úrico. E não esqueçam que o potássio é um íon de maior predominância intracelular. Politransfusão de concentrados de hemácias. Substâncias hiperosmolares - contraste iodado, manitol, e imunoglobulina Outros - succinilcolina (bloqueador neuromuscular utilizado pelo anestesiologia ou em terapia intensiva) e intoxicação digitálica. O motivo pelo qual ocorre hipercalemia quando há redução da excreção de potássio é óbvio: entra mais potássio pela dieta do que sai pela urina. Uma obstipação (constipação) por si só não é suficiente para provocar hipercalemia, pois a perda intestinal e muito discreta quando comparada com a perda renal e, rapidamente, os rins se readaptam para excretar essa quantidade que seria eliminada pelas fezes. Já no desvio do LIC para o LEC, a acidose metabólica leva à entrada de H na célula, resultando na saída de um cátion para equilibrar a carga elétrica, sendo esse cátion o potássio. Ao mesmo tempo, a entrada de H na célula tubular renal leva à acidose intracelular, estimulando a secreção de hidrogênio Distúrbios hidroeletrolíticos 55 para a luz intestinal no lugar do potássio, ou seja, prejudicando o mecanismo protetor contra a hipercalemia. Os estados hiperglicemicos, também levam à hipercalemia por dois motivos: o primeiro é a própria hiperglicemia, que eleva a osmolaridade sanguínea, levando à saída de água da célula (desidratação celular) e arrastando consigo o potássio; segundo mecanismo é a deficiência de insulina. Isso tem relação com a bomba de Na+KATPase. Uma das substâncias que estimulam a bomba é a insulina, ou seja, na falta de insulina haverá menos bombas ativas, gerando dificuldade de bombear o potássio para dentro da célula. As substâncias hiperosmolares, têm potencial de causar hipercalemia pelo mesmo motivo da hiperglicemia (arraste de água com potássio de dentro da célula). A hipercalemia também tem como causa uma doença genética que provoca disfunção dos canais iônicos das células musculares , com saída súbita do potássio do LIC para o LEC e uma hipercalemia transitória - paralisia periódica hipercalêmica Sabe-seque a quantidade de potássio no LIC é muito maior que no LEC, com isso, quando há lise celular maciça, tem-se hipercalemia potencialmente fatal. O concentrado de hemácias pode até provocar hipercalemia se houver reações hemolíticas, porém o mecanismo principal é outro. A bomba Na+KATPase encontra-se com a função diminuída na hemácia da bolsa, resultando na saída de potássio da célula. Dessa forma, quanto mais tempo armazenada, maior será o potencial hipercalemiante daquela bolsa de sangue. Mieloma Múltiplo, que pode ser lembrada pelo mnemônico “CARO” = Cálcio, Anemia, Rins e Osso. No caso em questão o paciente possui dor óssea (lombalgia), anemia (com hemácias em rouleaux) e disfunção renal, faltando apenas a alteração do Cálcio, que encontra-se elevado pela grande quantidade de plasmócitos nos ossos, que leva à grande liberação desse eletrólito na corrente sanguínea. Diagnóstico Deve-se afastar uma pseudo-hipercalemia, para se evitar tratamento desnecessário, pois estará elevado na amostra de sangue e normal no paciente. Distúrbios hidroeletrolíticos 56 Se o paciente estiver sintomático, descarta-se pseudo-hipercalemia. A principal causa é hemólise traumática da amostra de sangue por sucção excessiva na seringa, garroteamento prolongado do braço ou movimento repetitivo de abrir e fechar as mãos para que as veias fiquem mais aparentes. Tb deve-se se ter atenção ao armazenamento prolongado da amostra e indivíduos com trombocitose ou leucocitose graves tbm podem apresentar pseudo-hipercalemia. Quando não tiver etiologia evidente, deve-se investigar hipoaldosteronismo através da dosagem de aldosterona sérica e atividade da renina plasmática. Distúrbios hidroeletrolíticos 57 Distúrbios hidroeletrolíticos 58 Tratamento Estabilização do cardiomiócito Uma hipercalemia com alteração típica do ECG é uma emergência médica. Nesses casos, a primeira medida é a estabilização do cardiomiócito com a infusão de gluconato de cálcio a 10% diluído em 100ml de SF 0,9% em 5 a 10 minutos. Essa medida não reduz o potássio sérico, mas estabiliza a membrana do cardiomiócito, evitando uma parada cardiorrespiratória até que as medidas redutoras de potássio possam fazer efeito. A função do gluconato de cálcio é estabilizar a membrana elétrica do miocárdio. O aumento nos níveis de cálcio extracelular ativa os canais de sódio que estavam inibidos pela hipercalemia, revertendo os distúrbios elétricos no coração. 2. Medidas que desviam o potássio do LEC para o LIC Estão indicadas nas hipercalemias graves, pois são mais rápidas em provocar a queda do potássio sérico. Contudo, não há eliminação do potássio corporal, ou seja, assim que o efeito do tratamento passar, o potássio bombeado para o LIC retornará para o LEC. Então, são utilizadas para que o potássio fique em níveis mais seguros até que as medidas de remoção corporal do potássio possam fazer efeito. Solução polarizante (via parenteral)- a insulina estimula diretamente a bomba de Na+/K ATPase. Insulina regular 10UI + 25 a 50 gramas de glicose É o tto mais utilizado, devendo ser realizada em bomba de infusão contínua para correr em 30 minutos. O uso da glicose junto com a insulina visa evitar a hipoglicemia. Portanto, se a glicemia do indivíduo estiver 400mg/dl, não é necessário administrar glicose. Beta 2 agonista (via nebulização) - as catecolaminas estimulam diretamente a bomba de Na+/K ATPase. O salbutamol estimula a entrada do potássio nas células pela ação nos receptores beta-2 adrenérgicos e, portanto, faz a translocação de potássio para o meio intracelular. Fenoterol ou Salbutamol 10 a 20 gotas Distúrbios hidroeletrolíticos 59 Bicabornato de sódio - Bicabornato estimula a saída de H do LIC para o LEC, resultando na entrada de K no LIC 1 a 2 mEq/kg em 30 minutos OBS o bicabornato de sódio só deve ser indicado quando há hipercalemia na vigência de acidose metabólica, pois pode provocar alcalose metabólica iatrogênica. 3. Medidas que promovem remoção corporal do potássio Potássio pode ser eliminado por meio de 3 vias: renal, intestinal ou extracorpórea Remoção por via renal Furosemida - deve ser utilizada por via venosa e provoca uma diurese brusca em até 2 horas, com eliminação de potássio na urina. Diuréticos tiazídicos: início de ação lenta, não sendo recomendados nas hipercalemias graves ou em pacientes internados. São úteis para uso laboratorial. Remoção por via intestinal Poliestirenossulfonato de cálcio: Sorcal 30g diluídas em 100ml de manitol a 20% de 8/8horas por via oral. OBS não deve ser utilizado em pacientes constipados, com íleo paralítico ou em pós-operatório de cirurgias abdominais. O poliestirenossulfonato de cálcio Sorcal®) promove a secreção intestinal de potássio em troca da absorção de cálcio pela mucosa, aumentando a excreção fecal de potássio, exercendo efeito de remoção do potássio. Remoção extracorpórea Hemodiálise Distúrbios hidroeletrolíticos 60 Distúrbios hidroeletrolíticos 61
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