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1 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP Distúrbios Hidroeletrolíticos Os desequilíbrios hidroeletrolíticos estão entre os principais problemas clínicos encontrados na emergência e podem ser fatais se não corrigidos adequadamente. Cuidados especiais devem ser dados aos pacientes críticos como vítimas de trauma, grandes queimados, sépticos, portadores de insuficiência cardíaca ou renal, em quimioterapia e mesmo atletas de alto desempenho sintomáticos. DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DE ÁGUA E SÓDIO Equilíbrio da água A manutenção da osmolaridade plasmática requer um balanço preciso entre a quantidade de água livre de solutos ingerida e a quantidade de água perdida pelo organismo. Entrada = eliminação Quantidade de água ingerida → regulada pelo mecanismo da sede Quantidades de água perdida → regulado pelas vias renal e extra-renais. As perdas renais são basicamente controladas pela ação do hormônio antidiurético (ADH), e as não-renais são incontroláveis. Um adulto perde para o meio externo aproximadamente 2,5 L de água por dia, sendo a maior parte desse volume representada pela urina (1,5 L). A transpiração e a perspiração colaboram com cerca de 800 mL, e a perda de água pelas fezes alcança 200 mL. A reposição dessas perdas diárias deve ser feita pela ingestão de quantidade de mesmo valor, isto é, cerca de 2.500 mL de água. ADH (vasopressina) Produzido pelo hipotálamo Sua liberação é feita por dois grandes estímulos: o osmótico e o pressovolumétrico. Tem ação nos receptores V2 dos túbulos coletores, levando a expressão de aquaporinas (AQPs). Essas aquaporinas aumentam a reabsorção renal de água livre, isto é, sem necessidade de trocas ou cotransportadores (efeito antidiurético). Mecanismo da sede O fator de maior importância para desencadear a sensação de sede é o aumento da osmolaridade plasmática. ↑ osmolaridade → sede + aumento de ADH ↓ osmolaridade → supressão da sede + supressão do ADH 2 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP Osmolaridade plasmática Solutos permeantes: são aqueles que contribuem para aumentar a osmolalidade do plasma. Entretanto, eles não promovem nenhum movimento de água porque têm livre trânsito através das membranas celulares. É o caso dos solutos orgânicos, como a uréia e a glicose. Solutos impermeantes: não cruzam a membrana celular com facilidade, são capazes de produzir gradiente osmótico e induzir a passagem da água por essas membranas. É o caso dos solutos iônicos, tendo o sódio como o seu principal representante. Tonicidade é a capacidade que os solutos têm de gerar uma força osmótica que provoca movimento de água entre compartimentos com osmolalidades diferentes, osmolalidades estas causadas por solutos impermeantes. É preciso que fique claro que tonicidade e osmolalidade não são conceitos sinônimos. A concentração de sódio no plasma pode ser considerada uma boa medida da concentração dos solutos corpóreos. Normalmente, a maior parte dos solutos presentes no VEC é composta por sais de sódio, e uma pequena parte é composta pela glicose e pela uréia. Assim, a osmolalidade do plasma pode ser calculada pela soma das osmolalidades do sódio, da glicose e da uréia, usando-se a seguinte fórmula: Osmolalidade plasmática tem o valor aproximado de 290 mOsm/kgH2O HIPONATREMIA Na+ < 135 mEq/L Como o sódio é o principal íon do espaço extracelular, a hiponatremia está associada à hipo-osmolaridade. Pode ser classificada inicialmente com relação a tonicidade: Eutônica ou pseudo-hiponatremia (deflagrada por alterações laboratoriais): hiponatremia com isosmolalidade (entre 280 e 295 mOsm/kg H2 O). Ocorre em situações de hiperproteinemia (mieloma múltiplo) ou hipertrigliceridemia (sangue se encontra gorduroso), pois ao deslocar parte da água extracelular, reduz a fração plasmática de sódio, sem alterar a volemia; isso atrapalha a dosagem do sódio. É um erro laboratorial. Hipertônica: hiponatremia com hiperosmolalidade (> 295 mOsm/kg H2O). Pode ocorrer na hiperglicemia ou em uso de substâncias hipertônicas, como manitol. Atrai agua para intravascular e gera hiponatremia dilucional, porém a tonicidade plasmática esta aumentada. Hipotônica: hiponatremia com hiposmolalidade (< 280 mOsm/kg H2 O) em que, na ausência de pseudo-hiponatremia, ou da presença de outros solutos osmoticamente ativos, a hiponatremia evolui com hipotonicidade. Podem ser classificadas de acordo com a volemia: Hiponatremia hipovolêmica São as decorrentes das perdas de água e sódio, mas com déficit maior do sódio que da água. Essas perdas podem ser decorrentes de causas renais ou extra-renais. Origem renal: o sódio urinário é alto (UNa > 20 mEq/L) em razão da incapacidade tubular de reabsorver o sódio. (diuréticos – principal causa, nefropatia perdedora de sal) Origem extra-renal: o sódio urinário é baixo (UNa < 20 mEq/L) por causa da resposta renal à hipovolemia. (Desidratação, diarreia, vômitos, retenção no chamado terceiro espaço e suor) As queimaduras, os traumas e as pancreatites são os principais exemplos da hiponatremia hipovolêmica decorrente da retenção de fluidos no terceiro espaço. OBS: síndrome cerebral perdedora de sal → os pacientes portadores de lesão no sistema nervoso central, em especial nas situações de hemorragia, podem apresentar elevação da excreção urinária de sódio. Acredita-se que, nessas situações, o cérebro libera agonista, que tem ação inibitória na reabsorção tubular de sódio. Vários agonistas já foram descritos como responsáveis por essa ação, 3 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP sendo o de maior destaque uma substância semelhante à digoxina. A síndrome cerebral perdedora de sal é, muitas vezes, de difícil diagnóstico, porque o diagnóstico diferencial se faz com a síndrome inapropriada do hormônio antidiurético. Hiponatremia euvolêmica Há reabsorção excessiva de água em virtude da incapacidade renal em diluir a urina. Os pacientes não apresentam edema porque o balanço do sódio é mantido. Sódio corporal total pode estar normal ou baixo. Também recebem o nome de hiponatremia dilucional. Na+ plasmático está reduzido por causa do excesso de água não eliminado pelos rins. Geralmente são causadas por uma produção excessiva do HAD associada a uma ingestão aumentada de água ou a uma administração inadvertida de soluções hipotônicas. Estresse cirúrgico → HAD eleva-se na indução anestésica e mantém-se elevado por todo o ato cirúrgico Síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIHAD): pode ocorrer em distúrbios do sistema nervoso central (encefalites, meningites e tumores), por células neoplásicas (câncer de pulmão, pâncreas, duodeno), pulmonares (tumores, infecções, tuberculose, fibrose cística), e também nas situações em que o paciente estiver sob ventilação mecânica. Neste último exemplo é causada pressão positiva intratorácica que, por sua vez, diminui o retorno venoso, deflagrando, então, a secreção do HAD via barorreceptor. Critérios diagnósticos da SIHAD - Osmolalidade plasmática abaixo de 270mOsmol/kg - Concentração urinária inapropriada (>100mOsmol/kg) - Euvolemia clínica (ausência de edema, hipertensão ortostática ou desidratação) - Ausência de doença suprarrenal, tireoidiana, pituitária, insuficiência renal ou uso de diuréticos Também pode ser desencadeada nas situações em que ocorre potencialização do HAD no ducto coletor renal. Diversos medicamentos podem apresentar essa ação: tiazídicos, clorpropamida, haloperidol e anfetaminas. A deficiência de glicocorticóides e o hipotireoidismo são também exemplos em que a permeabilidade à água no ducto coletor aumenta e, portanto, a hiponatremia euvolêmica pode estar presente. Drogas que causam inserção de canais de água, aquaporinas 2, no túbulo coletor: tiazídicos, inibidores da recaptaçãoda serotonina (fluoxetina, paroxetina, sibutramina). Hiponatremia hipervolêmica Também pode ser denominada hiponatremia dilucional porque a incapacidade de eliminar água também é a causa do distúrbio. Porém, a retenção hídrica não é isolada como ocorre nas hiponatremias euvolêmicas. A retenção da água é concomitante com a do sódio, mas o ganho hídrico é sempre superior ao iônico. Em razão da retenção salina, a presença do edema caracteriza o estado hipervolêmico dos pacientes. Assim, os pacientes cardiopatas, cirróticos, nefróticos e com insuficiência renal são aqueles em que a hiponatremia hipervolêmica pode ser diagnosticada. Nos casos de insuficiência cardíaca, cirrose e em algumas situações de síndrome nefrótica, a hiponatremia desenvolve-se por causa da elevação do HAD no plasma. Nesses casos, a informação recebida pelos barorreceptores e pelos receptores de volume é para que liberem o HAD, porque os pacientes apresentam diminuição da volemia arterial efetiva. Além disso, nos casos de insuficiência cardíaca e na cirrose hepática, a reabsorção de sódio pelo túbulo proximal é aumentada. Para pacientes com esse tipo de problema, a concentração do sódio na urina é menor que 20 mEq/L. 4 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP Fluxograma do diagnóstico da hiponatremia Apresentação Clínica Na > 125 mEq/L → assintomática Na < 120 mEq/L → cefaleia, letargia, desorientação, convulsão, torpor, coma Gravidade dos sintomas também tem relação com a velocidade de instalação e com a intensidade da alteração Edema cerebral é a complicação mais grave da instalação rápida da hiponatremia → neurônio está mais “hipertônico” em relação ao plasma, então ocorre movimento de agua do plasma para o neurônio → edema cerebral Tratamento Sintomas e tempo de instalação da hiponatremia determinam o tratamento. Hiponatremias crônicas assintomáticas Restrição hídrica – redução de agua corporal total Uso de furosemida – aumenta a eliminação renal de agua livre Tolvaptan – antagonista dos receptores V2 do ADH Suspensão de tiazídicos – aumentam a natriurese Nas causas hipervolêmicas, manejo clínico das causas de base + furosemida Hiponatremias crônicas e agudas sintomáticas (Na <120) Correção cautelosa Deve-se fazer reposição de sódio endovenoso Aumentar Na sérico em 1mEq/L/hora nas 3 primeiras horas Depois, aumentar 0,51mEq/L/hora até completar 24h (máximo 12mEq/L em 24h) Utilizar salina hipertônica (3%) → possui uma concentração de 513 mEq/L de sódio Em casos de retenção hídrica pode-se associar também a furosemida (0,5 a 1,0 mg/kg EV) em SIADH – eliminação de agua livre Fórmula de Adrogue para correção segura de sódio 5 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP EXEMPLO: Paulo, 75 anos, pesando 74kg Identificada hiponatemia grave – [Na] 118 mEq/L 1. Como proceder? 2. Como corrigir? HIPERNATREMIAS Sódio no plasma > 145 mEq/L. O sódio é o principal íon do extracelular e, portanto, as hipernatremias representam os estados da hiperosmolaridade. Podem ser classificadas de acordo com a volemia: 1. hipernatremia hipovolêmica; 2. hipernatremia euvolêmica; 3. hipernatremia hipervolêmica. Hipernatremia hipovolêmica Aumento de agua e do sódio corporal total, sendo o ganho eletrolítico maior que o hídrico. Forma menos comum de hipernatremia As hipernatremias por excesso de sódio só ocorrem quando o rim não consegue excretar a sobrecarga desse íon; é a situação do recém-nascido, do idoso e dos pacientes com insuficiência renal. Causas: - Uso de bicarbonato de sódio a 10% para a correção, nem sempre indicada, das acidemias metabólicas - Síndrome de Cushing (excesso de mineralocorticoides) - Hiperaldosteronismo primário Hipernatremia hipovolêmica São as decorrentes das perdas de água e sódio, e as perdas hídricas são maiores que as de eletrólitos. Essas perdas podem ter causas: Renais (diurese osmótica, pós-obstrução, doença túbulo- intersticial) Extra-renais (queimadura, diarréia, fístulas no sistema digestivo). Condição clínica mais frequente: diabetes mellitus do tipo 2 descompensado Por causa da hiperglicemia, esses pacientes apresentam intensa diurese osmótica com perdas hídricas superiores à dos eletrólitos. Hipernatremia euvolêmica Ocorrem quando há uma diminuição da quantidade de água no organismo. Esse distúrbio pode acontecer em duas situações: em indivíduos que não ingerem água por alterações no centro da sede, como no caso dos idosos; nos indivíduos que não secretam o HAD (diabetes insipidus central) ou naqueles em que o túbulo renal não responde ao HAD (diabetes insipidus nefrogênico). Diversas são as causas para o desenvolvimento do diabetes insipidus nefrogênico: insuficiência renal crônica, doenças túbulo-intersticiais, incluindo a nefropatia por abuso de analgésicos e a anemia falciforme. Além disso, hipocalemia grave, hipercalcemia, desnutrição protéica e 6 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP intoxicação por lítio (é um estabilizador do humor, sendo a causa mais comum). Apresentações clínicas Na >160mEq/L e osmolaridade >320 mOsm/L Sede – relacionada a hiperosmolaridade Fraqueza muscular Confusão mental Déficit neurológico focal Convulsões Torpor Coma Complicação mais grave → hiperosmolaridade plasmática gera saída de agua do neurônio para o plasma hiperosmolar, causando desidratação neuronal. Tratamento Objetivo: Interromper a perda de agua livre Repor a agua perdida (hidratação) Tratar a causa base (se possível) Redução da concentração de sódio sérico Diabetes insipidus central – reposição de hormônio antidiurético Desmopressina – DDAVP (Spray nasal/via oral) Diabetes insipidus nefrogênico – suspensão da droga envolvida (atenção ao lítio) Pode associar diurético tiazidico, pois aumenta a natriurese Restrição de sódio na dieta Em especial para os casos de Diabetes insipidus associado ao lítio, pode-se usar amilorida 7 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO O potássio é o segundo cátion mais abundante do organismo e o principal cátion do intracelular. Estima-se que um indivíduo adulto de 70 kg possua 3.500 mEq de K+ (50 mEq/kg) sendo que: 70% → células musculares (~ 2.500 mEq) Por isso, lesões musculares maciças, como esmagamento, grandes queimados, choque elétrico, trauma, entre outras causas de rabidomiolise maciça levam a hipercalemia (saída do K+ para o liquido extracelular) 300 mEq → tecido ósseo 250 mEq → hepáticas e os eritrócitos (~ 135 mEq → demais células Assim, a quantidade de K+ no extracelular é muito pequena (~ 65 mEq) e tem uma faixa de normalidade muito estreita, variando entre 3,5 e 5,5 mEq/L. O potássio é um íon muito importante porque participa de diversos processos celulares, como: manutenção do tamanho da célula manutenção da excitabilidade e contração das células musculares velocidade de condução da fibra cardíaca controle do pH intracelular: este é realizado às custas das trocas (shifts) entre o K+ e o H+ crescimento celular, divisão celular, síntese de proteínas e do DNA. EQUILÍBRIO DO POTÁSSIO Regulação do potássio corporal Absorção intestinal (fatores que diminuem a absorção intestinal de K+, como diarreia, medicações, pirose, gastroenterites ou medicações que aumentem a absorção intestinal de potássio) Excreção e reabsorção renal (tubular) Shift entre o extra e o intracelular Todas as células do nosso organismo possuem a enzima Na-K-ATPase, e ela pode ser ativada para jogar o potássio do plasma para o meio intracelular, levando a redução do potássio sérico, ou o inverso, pegar o potássio do intracelular e jogar para o extracelular (plasma), aumentando o potássio plasmático. Ativação daenzima Na-K-ATPase para jogar potássio para intracelular: Insulina B2-agonista Alcalose Ativação da enzima Na-K-ATPase para jogar potássio para extracelular (plasma): Acidose Hiperglicemia B-bloqueadores HIPOCALEMIA Potássio sérico < 3,5 mEq/l As hipocalemias podem ser causadas por: Redistribuição; Perdas de origem não renal; Perdas renais. Perdas renais Pode dosar o potássio urinário (Ku > 15 mEq/L) Principais causas de hipocalemia são renais Causas: 8 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP 1. Uso de diuréticos tiazídicos 2. ATB que alteram a absorção tubular de potássio, levando a uma tubulopatia transitória – aminoglicosídeos, anfotericina 3. Excesso de aldosterona – hiperaldosteronismo (ação da aldosterona no túbulo coletor, fazendo com que ocorra a reabsorção de Na e agua e eliminação de potássio) 4. Hipomagnesemia 5. Nefropatias perdedoras de sal Perdas gastrointestinais Potássio urinário baixo (Ku < 15 mEq/L) Causas mais clássicas: 1. Diarreia 2. Vômitos 3. Sonda nasogástrica aberta com alto débito 4. Sudorese excessiva Mecanismos de redistribuição (Shift) de potássio do plasma para o intracelular Causas: 1. Hiperinsulinemia (endógena ou iatrogênica) 2. Beta-2-agonistas 3. Alcalose (uso de bicarbonato de sódio, alcalose metabólica crônica, uso de beta-2-agonista inalatório – DPOC) Quadro Clínico Causam alteração no potencial de repouso celular, principalmente em células nervosas, vasculares, cardíacas, intestinais, musculares e renais. Hipocalemia grave → alteração de repolarização miocárdica, alteração do sistema de condução cardíaco, levando a arritmias Alteração de potássio crônica (ex: pacientes que utilizam tiazidicos), o organismo se adapta. Alterações de potássio aguda (potássio cai de 5 para 3 em 2 dias) é uma alteração muito mais grave. Cardiopatas e uso de digitálicos pioram a apresentação clínica. Fraqueza muscular Cãibra Íleo paralítico Poliúria – dano tubular Rabdomiólise Distúrbios do ritmo cardíaco Alterações eletrocardiográficas na hipocalemia podem ser sutis e incluem: Ondas U (concavidade para baixo ao final da onda T) Achatamento de onda T Depressão de segmento ST Arritmias (principalmente em cardiopatas e em usuários de digitálicos) Atividade elétrica sem pulso ou assistolia Tratamento Correção das causas de base: diarreia, vomito, etc. Suspensão dos medicamentos implicados Princípios básicos da reposição de potássio Sempre que possível, a via oral é prioridade, pois é mais segura. Risco de flebite, lesão celular e arritmia na correção EV. 9 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP Evitar usar potássio intravenoso quando a concentração sérica está acima de 3 mEq/L. Soluções de potássio muito concentradas devem ser evitadas na administração periférica, pois podem causar flebite e são muito dolorosas. Concentração recomendada em veia periférica: 20 a 40 mEq/L Concentração máxima em veia periférica: 40 a 60 mEq/L Concentração recomendada em veia central: 100 a 200 mEq/L Concentração máxima em veia central: 200 a 0 mEq/L Velocidade ideal de reposição de potássio: 5 a 20 mEq/h Velocidade máxima para reposição de potássio: 40 a 100 mEq/h – deve ser utilizada apenas se o paciente apresenta paralisia ou arritmias graves secundárias a hipocalemia. HIPERCALEMIA Potássio sérico > 5,5 mEq/L Mecanismos Pacientes que fazem uso excessivo de alimentos ricos em potássio, principalmente em pacientes com doença renal crônica (DRC) em estágio avançado. - legumes, frutas, verduras e hortaliças Fator de risco principal: DRC em estágio avançado Pacientes que não possuem DRC dificilmente fazem hipercalemia devido ingesta de potássio Redução da eliminação renal de potássio 1. DRC em estágios avançados 2. Medicações: IECA/BRA/espironolactona 3. Hipoaldosteronismo Injúria celular maciça 1. Rabidomiolise 2. Isquemia 3. Hemólise maciça 4. Lise tumoral Mecanismos de redistribuição (Shift) de potássio do intracelular para o extracelular: 1. Acidose metabólica 2. Betabloqueadores 3. Hiperglicemias OBS: As drogas comumente associadas a hipercalemia são: digitálicos, espironolactona, betabloqueadores, inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueadores dos receptores da angiotensina II e ciclosporina. Quadro Clínico Gravidade da apresentação clínica tem relação com a velocidade de instalação e intensidade da hipercalemia (>6,0 mEq/L). Hipercalemia grave é considerada quando o potássio está acima de 6,0 a 6,5 mEq/L, principalmente se a instalação for aguda. Geralmente são assintomáticas, principalmente hipercalemia crônica Sintomas musculares (afeta a contração muscular) – dores, cãibras, etc. Alterações no sistema de condução cardíaco – gravidade relacionada a possibilidade de arritmias fatais. 10 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP Tratamento Princípios gerais do tratamento 3 diferentes mecanismos: Realizar ECG sempre que houver hipercalemia Se o ECG evidenciar presença de hipercalemia deve-se iniciar a cardioproteção – gluconato de Ca++ (serve para estabilizar a membrana do sistema de condução cardíaco e não abaixar o potássio sérico). É administrado o gluconato de cálcio até a estabilização do ECG. Medidas de shift celular – transferência de potássio do extracelular para o intracelular Medidas de espoliação do potássio Medidas de Espoliação Equilíbrio Ácido-Básico Fisiologia O metabolismo de todos os elementos do nosso corpo levam a produção de algum tipo de ácido orgânico. Mas o equilíbrio do ph do sangue é estreito, então o corpo não permite que fique variando o ph, por isso tem-se basicamente 3 sistemas que regulam o ph. Metabolismo dos lipídios: produção de ácidos graxos Metabolismo das proteínas: produção dos aminoácidos Metabolismo dos carboidratos: produção de ácido pirúvico Exercícios físicos: produção de ácido láctico Sistemas que regulam o ph: Resposta imediata: feita pelo sistema tampão (curto tempo). Resposta respiratória: por meio da alteração na ventilação, a qual ocorre após minutos a horas. Resposta renal: por meio da alteração na excreção de bicarbonato, a qual leva de horas a dias. 11 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP Fórmula de Henderson-Hasselbalch [HCO3-] → por estar no numerador ele é diretamente proporcional ao pH, ou seja, quando aumenta o pH também aumenta HCO3- e se o pH diminui HCO3- também diminui. [CO2] → é inversamente proporcional ao pH, ou seja, se aumenta o CO2 o pH diminui e se diminui o CO2 o pH aumenta. Faixa de normalidade do pH é: 7,35 a 7,45 Valores Médios Tipos de distúrbio Primário: alterações de CO2 ou HCO3- que, se não corrigidos, levam a acidose ou alcalose (alteração do pH). Ex: paciente com ansiedade hiperventila, portanto cai o CO2 (distúrbio respiratório). Paciente com sepse ocorre consumo do bicarbonato (HCO3- ), portanto cai o bicarbonato (distúrbio metabólico). Secundário: mecanismos compensatórios de distúrbios primários para regularizar o pH. São alterações que o corpo irá fazer para não deixar o pH fora da normalidade. Misto: ocorre mais de um distúrbio primário concomitante. O distúrbio primário é metabólico ou respiratório? Quando for metabólico → vai ter mexido no bicarbonato (HCO3-) Quando ele for respiratório → vai ter mexido no CO2 ACIDOSE METABOLICA Ex: sepse O distúrbio primário é a diminuição do [HCO3-], isso levaria a uma queda do pH e para o pH não se alterar a resposta compensatória seria uma queda do [CO2] (aumento da frequência respiratória). Como descobrir se essa acidose é respiratória ou metabólica? Descobrindo o distúrbio primário. Se caiu HCO3- e CO2 e o pH está baixo, conclui-se queé devido a queda do HCO3-, por ser diretamente proporcional. O inverso, se o pH estivesse alto concluiria que a alteração primaria foi do CO2, pois a relação é inversamente proporcional. OBS: A resposta compensatória sempre tem o mesmo sentido do distúrbio primário. 12 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP Para estimar a resposta compensatória do CO2 utiliza-se: - Para ↓ 1mEq/L do Bic há ↓ 1,2mmHg pCO2 Isso quando se trabalha com a média dos valores - pCO2 = [(1,5 x Bic) + 8] + / -2 Essa formula é usada quando se trabalha com intervalos ALCALOSE METABÓLICA O distúrbio primário é o aumento do [HCO3-], pois é proporcional ao aumento do pH e esse aumento do pH levou a um aumento do [CO2] para compensar, por meio da diminuição da frequência respiratória. Para estimar a resposta compensatória do CO2 utiliza-se: ∆pCO2 = 0,6 x ∆Bic ACIDOSE RESPIRATÓRIA Como o HCO3- e o CO2 estão aumentados e o pH diminuído, o distúrbio primário é o aumento do CO2, pois é inversamente proporcional ao pH e o aumento do HCO3- é compensatório. Para inferir a resposta compensatória de HCO3- é dividido em agua e crônica: Aguda ∆Bic = 0,1 x ∆pCO2 Crônica ∆Bic = 0,4 x ∆pCO2 ALCALOSE RESPIRATÓRIA Como o HCO3- e o CO2 estão diminuidos e o pH aumetado, o distúrbio primário é o aumento do CO2, pois é inversamente proporcional ao pH e a diminuição do HCO3- é compensatório (rim está eliminado bicarbonato). Para estimar a resposta compensatória de HCO3-: Aguda ∆Bic = 0,2 x ∆pCO2 Crônica ∆Bic = 0,4 a 0,5 x ∆pCO2 Outros parâmetros dos distúrbios acidobásicos ÂNION-GAP Estima a concentração dos ânions não mensuráveis. É uma diferença calculada entre os cátions e os ânions dos eletrólitos medidos no plasma. Fórmula: Ânion-gap = Na+ - (Cl + HCO3-) Valores normais: 8 a 12mEq/L OBS: sempre que estiver no enunciado de um caso clinico a presença de sódio, será explorado o conceito do ânion-gap. 13 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP Quando se usa o ânion-gap nos distúrbios ácidobases? Nas acidoses metabólicas. O ânion-gap ajuda a separar as causas de acidose metabólica e saber quando irá ou não repor bicarbonato. Acidoses metabólicas com ânion-gap aumentado Se somente o bicarbonato diminuir, a subtração do Na+ - (Cl + HCO3-) irá cair e se subtrair de algo menor o ânion-gap irá aumentar. Causas: Cetoacidose: diabética, alcóolica, jejum; Acidose láctica; Intoxicações exógenas com gap osmolar presente: metanol, etilenoglicol. Em acidoses metabólicas com ânion-gap aumentado geralmente não ocorre excreção do bicarbonato, portanto irá tratar a causa base e não repor bicarbonato. Acidoses metabólicas com ânion-gap normal Diminuição do bicarbonato por excreção geralmente se dá por troca, entre bicarbonato e cloro. Então o cloro estará aumentado. Nesse caso o ânion-gap ficará normal. Causas: Diarreia, fistulas ou drenagem do intestino delgado, derivação ureteral (ureterossigmoidostomia), acidose tubular renal (hipoaldosteronismo). Em acidoses metabólicas com ânion-gap normal é preciso repor bicarbonato. RELAÇÃO DELTA ÂNION-GAP / DELTA BIC As acidoses metabólicas com AG aumentados são muito frequentes e muitas vezes coexistem com acidose metabólica com AG normal ou alcalose metabólica. Para diagnosticar essas alterações, usa-se: ∆AG/∆BIC. ∆AG/∆BIC = 1 e 2 → significa uma acidose metabólica com AG aumentado isoladamente (pura), que são os casos de cetoacidose diabética, sepse, entre outras. ∆AG/∆BIC > 2 → a variação do AG é 2x maior do que a variação do Bic. O Bic não variou tanto, pois existe outro distúrbio aumentando seu valor. Tem-se associação de acidose metabólica com ânion-gap aumentado com uma alcalose metabólica. Exemplo, pacientes com diarreia ou acidose tubular renal. ∆AG/∆BIC <1 → a variação do Bic é maior do que a variação do AG, pois estão ocorrendo distúrbios que consomem Bic concomitantemente. Tem-se associação de uma acidose metabólica com AG normal junto com acidose metabólica com AG aumentado. 14 MARC 7 – Heloísa Paraíso 7ºP REFERÊNCIAS GENTILE, João Kleber de Almeida. Hiponatremia: conduta na emergência. Rev Bras Clin Med 2010. Clínica Médica, USP, Volume 3. Medcel
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