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Pancreatite Aguda Pancreatite aguda é a inflamação aguda do parênquima pancreático de natureza química, resultante da autodigestão enzimática pela ativação intraglandular de suas próprias enzimas. Pode acometer tecidos peripancreáticos e/ou levar à falência de múltiplos órgãos, dependendo da intensidade. Clinicamente, caracteriza-se pelo início súbito dos sintomas em indivíduos sem queixas prévias e desaparece quando o episódio cessa. Uma vez que a causa e as complicações são removidas, há recuperação clínica, morfológica e funcional, o que não ocorre na pancreatite crônica (principal diferença entre as 2 formas). As alterações patológicas incluem necroses gordurosas pancreática e peripancreática, e reação inflamatória associada. A extensão dessas alterações está diretamente relacionada com a gravidade do quadro. Podemos classificála (classificação de Atlanta), de acordo com a gravidade, em leve (denominada como edematosa/intersticial; ausência de falência de órgãos e complicações locais ou sistêmicas),moderadamente grave (falência orgânica transitória e/ou complicações locais ou sistêmicas não persistentes – resolvem em 48 horas) e grave (denominada de necrosante/necro-hemorrágica; caracterizada por falência orgânica persistente). Não é possível determinar a etiologia em 10 a 15%, sendo classificados como pancreatite idiopática. Lama biliar e microlitíase são encontradas em 20 a 40% dos casos em que a causa não é conhecida. A litíase biliar em nosso meio é a causa mais frequente de pancreatite (mais de 50% dos casos). A fisiopatologia não é completamente entendida. Teorias explicam o desenvolvimento da pancreatite, como a do patologista Opie, que observou a impactação de cálculo no ducto biliopancreático em paciente que foi a óbito por pancreatite aguda grave, ou seja, a obstrução do ducto levaria o refluxo biliar para dentro do ducto Definição Etiologia pancreático, ocasionando lesão das células acinosas por meio da ativação das enzimas pancreáticas e da liberação de fatores inflamatórios que geram a resposta inflamatória e a lesão pancreática. Essa obstrução poderia ser ocasionada não só por obstrução direta do cálculo, mas também pela passagem deste, causando edema na papila que levaria à obstrução da saída de bile. O risco de desenvolver pancreatite aguda nos pacientes comlitíase biliar é maior nos homens, mas a incidência é maior nas mulheres (maior prevalência de litíase). Um estudo demonstrou que cálculos < 5 mm têm risco maior de pancreatite do que os maiores (passagem pelo ducto cístico mais provável e obstrução da ampola). O álcool (30% dos casos de pancreatite) pode ocasionar a pancreatite aguda por basicamente 3 motivos: disfunção do esfíncter de Oddi, formação de “rolhas proteicas” e efeito tóxico direto do álcool. Portanto, o álcool induziria alterações neurológicas de abertura do esfíncter de Oddi, aumentando a pressão intrapancreática; poderia, também, colaborar para a formação de “rolhas proteicas” responsáveis pela obstrução de microductos pancreáticos e, finalmente, levaria ao aumento da lesão por estresse oxidativo – lesão direta dos ácinos que acarretam ativação das enzimas pancreáticas e lesão. Não é o etilismo crônico, e sim a libação alcóolica que desencadeia a pancreatite aguda. O uso de drogas talvez seja a 3ª causa (0,3 a 1,4%), porém o mecanismo que causa a inflamação pancreática não é bem conhecido. O quadro clássico da pancreatite é de dor de forte intensidade, em faixa, no abdome superior e no dorso (com irradiação para o dorso em 50% dos casos), associada a vômitos incoercíveis (presentes em 90% dos casos) e hiperamilasemia. É importante ressaltar que a dor que compõe o quadro clássico, de forte intensidade, em faixa, no abdome superior e no dorso, aparece em apenas metade dos casos, porém dor está presente em quase 100%. A dor pode ter alívio parcial quando o paciente se senta e inclina o corpo para frente. Apenas 5 a 10% dos pacientes com pancreatite aguda grave apresentam-se sem dor e com hipotensão inexplicada. Pode Quadro clínico haver dor abdominal à palpação no epigástrio ou mais difusa. Distensão abdominal e ruídos hidroaéreos diminuídos podem ser secundários à inflamação que ocorre no íleo. Os casos mais graves vêm acompanhados de sinais de choque e insuficiência orgânica, como desidratação, taquicardia, hipotensão e taquidispneia (inflamação do diafragma pela pancreatite, por derrame pleural ou pela síndrome da angústia respiratória do adulto), resultantes de processo inflamatório sistêmico (pancreatite aguda grave). Podem ser encontrados sinais de hemorragia retroperitoneal ,como os de Grey Turner (equimoses nos flancos), de Cullen (equimose periumbilical) e de Frey (equimose no ligamento inguinal), além do sinal de Fox (equimose na base do pênis). Raramente, pode ocorrer necrose nodular gordurosa subcutânea ou paniculite, correspondendo a lesões nodulares avermelhadas e dolorosas nas extremidades distais, em geral. Atitude genupeitoral ou de prece maometana é considerada posição antálgica (para aliviar a dor). AVALIAÇÃO POR IMAGEM A radiografia é importante para descartar quadros perfurativos pela presença de pneumoperitônio e, na pancreatite, pode apresentar sinais inespecíficos, como distensão de alça de delgado (alça- sentinela), sinal de Gobiet (distensão do cólon transverso devido à sua infiltração) e sinal do cut off no cólon (distensão gasosa dos ângulos hepático e esplênico e ausência de gás no transverso). Um terço dos pacientes apresenta anormalidades na radiografia de tórax, como elevação do hemidiafragma, derrame pleural, atelectasias basais, infiltrado pulmonar ou síndrome da angústia respiratória aguda. As complicações podem acontecer em qualquer momento da sua evolução, sendo divididas em sistemas para melhor compreensão. As causas de mortalidade nas 2 primeiras semanas são relacionadas à síndrome da resposta inflamatória sistêmica. Os itens obrigatórios no tratamento da pancreatite aguda Diagnóstico Complicações Tratamento leve são jejum, hidratação e analgesia intravenosa. Os analgésicos de escolha são dipirona associada à hioscina e/ou meperidina. Evita-se a morfina por aumentar a pressão do esfíncter de Oddi (músculo circular na junção do colédoco com o duodeno), no entanto não há estudos clínicos sugerindo que a morfina possa agravar ou causar pancreatite ou colecistite. O uso de inibidores da bomba de prótons é rotineiro na maioria dos serviços.
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