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Anna Victória T17 – Gastroenterologia 1 Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica Introdução • Epidemia mundial • Tem uma relação direta com a obesidade, estudos mostram que com o aumento da obesidade houve aumento da DHGNA • Hepatopatia crônica mais comum nos EUA • NASH é a segunda causa de transplante hepático nos EUA (a primeira causa ainda é o álcool) • Maior realização de exames → aumento no diagnóstico • Cirrose criptogênica (criptogênica é a mesma coisa que idiopática, quando não se sabe/descobre a causa) • Esteatose hepática pode evoluir para cirrose se não tratada Doença hepática gordura não alcoólica (DHGNA) • É um distúrbio metabólico que cursa com o acúmulo de lipídios no citoplasma de hepatócitos, sobretudo de triglicerídeos • Necessário excluir ingesta etílica (paciente precisa referir que não bebe de forma alguma, é necessário investigar para fechar o diagnóstico) • Comum a associação com síndrome metabólica (a principal causa de esteatose hepática é a sd metabólica) • Alto risco de doenças cardiovasculares (sd metabólica: pct dislipidêmico, hipertenso, diabético, obesidade central, todos esses fatores aumentam o risco cardiovascular, consequentemente, vão estar presentes nos pcts com doença hepática gordurosa) • Amplo espectro, ou seja, pode inicialmente o pct evoluir com um quadro de esteatose, de esteato-hepatite, cirrose e hepatocarcinoma. É uma doença que apresenta vários estágios. Esteatose e Esteato-Hepatite não alcoólica Esteatose hepática • A esteatose é só gordura dentro dos hepatócitos, é quando ocorre um acúmulo de ácidos graxos dentro dos hepatócitos. Esteato-hepatite não alcoólica • Além do aumento de gordura e de células de gordura (adipócitos) dentro do fígado, há todo um processo inflamatório associado, com presença de células inflamatórias • É uma evolução da esteatose hepática, é aquele paciente que não tratou e a doença evoluiu para uma inflamação. Anna Victória T17 – Gastroenterologia 2 • Só conseguimos diferenciar a esteatose hepática da esteato-hepatite não alcoólica através da biópsia. • Esteatose hepática (EH): ✓ Esteatose simples ✓ Bom prognóstico ✓ 80% dos casos • Esteato-hepatite não alcoólica (NASH): ✓ Esteatose + inflamação +/- fibrose (podendo ou não já ter algum grau de fibrose associado) ✓ Pode evoluir para cirrose e CHC (tem o risco maior de evoluir) ✓ 20% dos casos Fisiopatologia • Tudo começa com a resistência à insulina, naquele pct obeso, que aumenta a liberação de fatores de necrose tumoral, isso leva ao quadro de resistência a insulina. • A resistência à insulina vai causar: ✓ Aumento da quebra de gordura periférica ✓ Aumento da captação desses ácidos graxos quebrados pelo fígado ✓ Diminuição da oxidação das mitocôndrias • A resistência insulínica faz com que ocorra mais quebra de gordura, dessa forma, o fígado absorve mais gordura e essa resistência atrapalha a função das mitocôndrias de oxidar os lipídeos captados • Quando ocorre o aumento de ácidos graxos dentro do fígado, isso ocasiona um quadro de estresse oxidativo/de inflamação, pois os ácidos graxos aumentam a liberação de fatores de necrose tumoral, causam disfunção mitocondrial e liberam as espécies reativas de oxigênio que ocasionam o estresse oxidativo. • A esteato-hepatite não alcoólica é quando ocorre inflamação contínua, intensa ocasionada pela resistência à insulina. • Tudo começa com o pct obeso que desenvolveu um quadro de resistência à insulina, com isso há aumento da captação de gordura pelo fígado e chega uma hora que o fígado fica “abarrotado”, além disso, o próprio processo inflamatório acaba atrapalhando a função das mitocôndrias de oxidar os ácidos graxos. Os ácidos graxos acumulam dentro do fígado, há aumento da liberação de citocinas, as células estreladas são ativadas para aumentar a produção de fibrose, e esse processo contínuo origina a esteato-hepatite. Nesse quadro o fígado está mais inflamado e tem uma predisposição maior para evoluir para cirrose. • Alguns pacientes evoluem para a esteato-hepatite e outros não, alguns evoluem para cirrose e outros não, isso ocorre devido a predisposição genética. Não se sabe o mecanismo porque uns evoluem para quadros mais graves e outros não. Anna Victória T17 – Gastroenterologia 3 • A esteato-hepatite tem um risco maior de evoluir para cirrose do que a esteatose simples. • Cerca de 25% dos adultos vão ter um quadro de doença hepática gordurosa não alcoólica, cerca de 25% desses pacientes vão evoluir para NASH (inflamação do fígado), 20% dos pacientes com NASH vão ter cirrose. Não se sabe quantificar quantos evoluem para o hepatocarcinoma (câncer do fígado). Tem toda essa evolução, por isso é uma doença de amplo espectro. • Além de ter essa evolução de um estágio para outro (mais comum), pode haver também (entra a questão da predisposição genética), por exemplo, de o pct evoluir da esteatose hepática diretamente para o carcinoma hepatocelular ou da esteato-hepatite evoluir para cirrose ou hepatocarcinoma. DHGNA • Para dizer que aquela gordura (esteatose hepática) é relacionada a sd metabólica é necessário excluir causas hepáticas que causem esteatose • Inicialmente é necessário excluir doenças hepáticas nas quais a esteatose faz parte das alterações, tais como: ✓ Doença hepática alcoólica ✓ Hepatites virais ✓ Doenças autoimunes ✓ Doença de Wilson ✓ Hemocromatose ✓ Dentre outras • Causas secundárias: ✓ Drogas: glicocorticoides, amiodarona, tamoxifeno, ácido valproico ✓ Fitoterápicos/ toxinas (pesticida, solvente, petroquímicos) → comum em homens jovens, exemplo, pcts que trabalham em posto de gasolina ✓ Nutrição parenteral prolongada ✓ Doenças hereditária • Lipodistrofia hereditária • Doenças de deposito de glicogênio ✓ Procedimentos cirúrgicos: cirurgias bariátricas – bypass (rápida perda de peso, lipólise acentuada) ✓ Outros: desnutrição calórico-proteicas, hipotireoidismo • Esses pcts, no geral, não apresentam características da SM • Após a exclusão dessas causas, o diagnóstico de DHGNA primária se dará na presença da síndrome metabólica. ✓ Critérios: glicemia, triglicerídeos, PA, circunferência abdominal. Três ou mais desses critérios fecha para síndrome metabólica. Anna Victória T17 – Gastroenterologia 4 • Chegou um paciente com esteatose → descartar causas hepáticas (doenças hepáticas: hepatites virais, autoimunes, DHA, deficiência A1AT, deficiência lipase ácida, D. Wilson, hemocromatose etc.) • Excluir causas secundárias, uso de medicamentos, fitoterápicos, exposição química, nutrição parenteral prolongada, cirurgia bypass, hipotiroidismo etc. • DHGNA primária, que é relacionada a síndrome metabólica, apresenta dois espectros: esteatose (56-64%) e esteato-hepatite não alcoólica (14-16%) Quadro Clínico • Maioria assintomático (principalmente quando é só uma esteatose simples) • Desconforto em QSD, fadiga, mal-estar Exame físico • Pressão arterial elevada • Sobrepeso (IMC >25 Kg/m2) • Adiposidade central → gordura visceral → correlação com esteatose • Hepatomegalia em cerca de 50% dos pacientes • Sinais de hepatopatia crônica (naqueles pcts que já evoluíram para um quadro de cirrose) – telangiectasias, rarefação de pelos, eritema palmar. Diagnóstico Exames para diagnóstico diferencial: • Sorologias virais, autoanticorpos, cobre sérico (para excluir D. Wilson), perfil de ferro (para excluir hemocromatose), TSH,T4L • Hiperferritinemia é comum (A ferritina é uma proteína de fase inflamatória. A doença hepática gordurosa é uma doença inflamatória sistêmica, então a ferritina pode vir aumentada só pela esteatose hepática e não ter nenhuma associação com o excesso de ferro no organismo) Alterações metabólicas: • Tg > Colesterol • HDL reduzido • Glicemia de jejum alterada. Anna Victória T17 – Gastroenterologia 5 • Quanto mais parâmetros da SM maior o risco de NASH e fibrose. Avaliação hepática: • Alterações leve a moderada das transaminases (<5xLSN) • TGP > TGO • GGT e fosfatase alcalina – discretamente elevada • Bilirrubina, albumina, plaquetas (normais) e TAP (provas de função hepática) – são os exames que vão mostrar se o fígado mesmo com processo inflamatório está funcionando direito. • Transaminases normais não excluem a possibilidade de NASH Métodos de imagem: • USG: esteatose leve pode não ser diagnosticada • TC: excelente para avaliar gordura visceral, desvantagem: radioatividade • RM: “padrão-ouro” para esteatose • Nenhum desses métodos avalia esteato-hepatite e fibrose, só dizem se o fígado apresenta esteatose. Se tem inflamação ou algum grau de fibrose a biópsia hepática que consegue dar essa informação Marcadores não invasivos para avaliar NASH e fibrose: • Bioquímicos: boa acurácia e fácil aplicação • Existem aplicativos que usam fórmulas matemáticas para “dar uma ideia” de fibrose nos pcts: ✓ NAFLD fibrosis score ✓ APRI ✓ FIB4 ✓ Esses aplicativos pedem geralmente plaquetas, albumina, transaminases e IMC dos pcts, com esses dados é possível calcular • é importante rastrear fibrose nos pcts, pois a fibrose prediz um avanço da doença (esteatose que já evoluiu para um processo inflamatório e que já apresenta fibrose, ou seja, o próximo passo é a cirrose) • A depender do grau de fibrose a terapia farmacológica muda • Mecânicos: ✓ Elastografia hepática (fibroscan) – é como se fosse um aparelho de ultrassom, esse exame avalia a dureza do fígado, quanto mais duro o fígado maior a possibilidade de já ter algum grau de fibrose ✓ Desvantagem: obesidade acentuada, esteatose importante e experiencia do examinador. Biópsia Hepática • Risco X benefício • Único exame que permite afirmar diagnóstico. Histopatológico • Esteatose macrovesicular • Inflamação lobular • Balonização de hepatócito na zona 3 Anna Victória T17 – Gastroenterologia 6 • Fibrose perissinusoidal • Corpúsculos de Mallory (megamitocôndria) • NASH é histologicamente indistinguível da esteatose hepática alcoólica. Quando biopsiar • Reservar para situações específicas (principalmente nas dúvidas diagnósticas) • Diagnóstico provável, mas sem apresentação clínica • Paciente com diagnóstico presuntivo, que tenha cumprido as orientações básicas, mas mantém alterações enzimáticas Tratamento • Tratar causas secundárias • Modificações no estilo de vida (principal meio de tratamento da esteatose). ✓ Perda gradual do peso (7-10% do peso corporal) ✓ Atividade física (150 min/sem) ✓ Dieta equilibrada ✓ Uso de drogas que auxiliam na perda de peso (ex orlistat) – em alguns casos • Melhora dos fatores da síndrome metabólica ✓ Tratar a DM, HAS, dislipidemia, obesidade central • Reduzir/suspensão do álcool • Cirurgia bariátrica ✓ Considerar em obesos com DHGNA ou NASH que preencham critérios para a cirurgia ✓ Cuidado com perda rápida (sobrecarga hepática de gordura) → lipólise acentuada por dar esteatose hepática!!! ✓ Melhora esteato-hepatite e fibrose • Medicamentoso (off-label) – não é passado para todos os pcts ✓ Não existe ainda terapêutica eficaz e segura. ✓ Necessidade de biopsia (Bx) hepática – na prática clínica não se pede Bx para iniciar tratamento medicamentoso ✓ Reservado para NASH (esteatose + inflamação) com fibrose avançada (>=F2) ou fibrose leva + fator de risco (DM, SM, TGO/GTP persistente ) • Pct com doença hepática gordurosa não alcoólica, chega mostrando US com a esteatose hepática, como identificar se é esteatose simples ou esteato-hepatite? Através das enzimas hepáticas (GTO, TGP, GGT), se vier alterado o pct tem esteato-hepatite, se vier normal (as vezes o pct tem tudo normal, mas o pct é obeso, diabético, hipertenso, dislipidêmico – muita chance de ter!!) observar a clínica do pct. Anna Victória T17 – Gastroenterologia 7 • Paciente com esteatose simples → mudança no estilo de vida (dieta, atividade física, controle dos fatores da sd metabólica) • Se o pct apresenta uma esteato-hepatite, ou seja, além da gordura no fígado, as enzimas hepáticas mostram uma inflamação. O que diz se vai ou não tratar é o grau de fibrose, fazer Elastografia. • F0 e F1 não trata com medicamentos!! >= F2 tratar com pioglitazona e/ou vitamina E. Sensibilizadores de insulina • A base fisiopatológica da doença hepática não gordura se inicia justamente nos pcts com resistência a insulina, os medicamentos vão atuar nessa fisiopatologia • Metformina → melhorar perfil lipídico e perda de peso/não altera histologia (não é recomendada como tratamento específico) - tratamento adjuvante • Pioglitazona → NASH → melhora inflamação e fibrose. Antioxidantes • Vitamina E 8000UI/dia → NASH → melhora histologia, sem fibrose • Associação vit. E + pioglitazona é considerada a melhor terapêutica disponível para NASH!! (tratamento específico) Hepatoprotetores → sem evidências cientificas na DHGNA O tratamento medicamentoso da doença hepática gordurosa não alcoólica naqueles pcts que apresentam grau de fibrose >=F2 é uso da associação de vit. E + pioglitazona, metformina se associada como adjuvante e modificar o estilo de vida (fazer o pct perder 10% da gordura), dessa forma, ocorrerá mudança clínica e laboratorial. Pedir US de seguimento em torno de 2/3 meses