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1 
Sumário 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 
2 NOVA CLASSIFICAÇÃO PARA PROGRAMAS E SERVIÇOS .................. 4 
3 CRIAÇÃO, DISCUSSÃO E MONITORAMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS
 .................................................................................................................... 5 
4 A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO A SERVIÇO DO SOCIAL ................. 6 
5 A TRAJETÓRIA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS
 .................................................................................................................... 8 
6 A NORMA OPERACIONAL BÁSICA – NOB/SUAS .................................. 10 
6.1 Caráter do Sistema Único de Assistência Social – SUAS .................. 11 
6.2 Funções da política pública de assistência social para extensão da 
proteção social brasileira ....................................................................................... 12 
6.3 Instrumentos de gestão ...................................................................... 15 
6.4 Instâncias de articulação, pactuação e deliberação ........................... 15 
7 OS 10 ANOS DO SUAS............................................................................ 17 
8 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SUAS .................................... 23 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 28 
9 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................... 29 
10 ARTIGO PARA REFLEXÃO .................................................................. 37 
 
 
 
2 
1 INTRODUÇÃO 
 
Fonte:faculdadelaboro.com.br 
A Política Pública de Assistência Social se configura como política de proteção 
social, tendo como ponto principal a constituição de 1988. Outro marco importante foi 
a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), de 1993, que estabelece os objetivos, 
princípios e diretrizes das ações. Esta lei também determina que a assistência social 
seja organizada em um sistema descentralizado e participativo, composto pelo poder 
público e pela sociedade civil. 
Após a IV Conferência Nacional de Assistência Social foi deliberada a 
implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que passou a articular 
meios, esforços e recursos para a execução dos programas, serviços e benefícios 
socioassistenciais. 
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) foi planejado e é executado 
pelos governos federal, estaduais e municipais, em parceria com a sociedade civil. O 
 
3 
SUAS organiza serviços, programas e benefícios destinados a milhões de brasileiros, 
em todas as faixas etárias. 
O SUAS surgiu após quase duas décadas de debates e coloca em prática os 
preceitos da Constituição de 1988, que integra a assistência à Seguridade Social, 
juntamente com Saúde e Previdência Social. Assim, as diversas ações e iniciativas 
de atendimento à população carente deixam o campo do voluntarismo e passam a 
operar sob a estrutura de uma política pública de Estado. 
 
 
Fonte:www.cress-mg.org.br 
O Sistema Único integra uma política pactuada nacionalmente, que prevê uma 
organização participativa e descentralizada da assistência social, com ações voltadas 
para o fortalecimento da família. Baseado em critérios e procedimentos transparentes, 
o Sistema altera fundamentalmente operações como o repasse de recursos federais 
para estados, municípios e Distrito Federal, a prestação de contas e a maneira como 
serviços e municípios estão hoje organizados. 
O marco oficial para a implantação do Sistema foi quando o Conselho Nacional 
de Assistência Social (CNAS) aprovou a Norma Operacional Básica do SUAS, 
estabelecendo um conjunto de regras que disciplinam a operacionalização da 
Assistência Social e a transição do antigo para o novo modelo. 
 
4 
As ações do SUAS são baseadas nas orientações da Política Nacional de 
Assistência Social (PNAS), aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social 
(CNAS) em 2004, e pela NOB SUAS 2012, publicada em 03 de janeiro de 2013, por 
meio da resolução nº 33, de 12 de dezembro de 2012, que representa um marco 
fundamental na estruturação do SUAS, imprimindo um salto qualitativo na sua gestão 
e na oferta de serviços socioassistenciais em todo o território nacional, tendo como 
base a participação e o controle social. 
Uma das inovações do SUAS é a classificação dos municípios em três níveis 
de gestão (Inicial, Básica e Plena), de acordo com a capacidade de gestão que cada 
cidade tem de executar e co-financiar os serviços da assistência social. 
 
 
Fonte:newslettersocial.blogspot.com. 
2 NOVA CLASSIFICAÇÃO PARA PROGRAMAS E SERVIÇOS 
As ações e serviços de Assistência Social são divididas em duas categorias de 
atenção ao cidadão: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e 
de Alta Complexidade. Esta divisão foi definida em 2004, na Política Nacional de 
Assistência Social que organiza programas, serviços, projetos e benefícios 
 
5 
socioassistenciais de acordo com a complexidade do atendimento. O Sistema Único 
de Assistência Social (SUAS) passa a adotar estas categorias. 
PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA: São ações de caráter preventivo e o objetivo 
é fortalecer os laços familiares e comunitários. Exemplos: Programa de Atenção 
Integral à Família (PAIF), ações voltadas para crianças de zero a seis anos de idade. 
PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE MÉDIA COMPLEXIDADE: São ações 
destinadas a situações onde os direitos do indivíduo e da família já foram violados, 
mas ainda há vínculo familiar e comunitário. Um exemplo é o Programa de 
Erradicação do Trabalho Infantil, que retira do trabalho crianças com idades 0 e 16 
anos. O programa exige uma estrutura técnica e operacional maior do que os 
classificados como proteção básica, com atendimento individualizado e 
monitoramento sistemático. O Sentinela, programa que combate a exploração e o 
abuso sexual de crianças e adolescentes, é um outro serviço de alta complexidade. 
PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE ALTA COMPLEXIDADE: Atende a 
casos onde os direitos do indivíduo ou da família já foram violados, e também quando 
o vínculo familiar é rompido. Eles garantem proteção integral - moradia, alimentação, 
trabalho - para quem está em situação de ameaça, necessitando deixar o núcleo 
familiar ou comunitário. Abrigos e albergues são alguns exemplos de serviços de 
proteção social de alta complexidade. 
3 CRIAÇÃO, DISCUSSÃO E MONITORAMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 
 
Fonte:ilemulher.org.br 
 
6 
A assistência social no Brasil é baseada em informações e conceitos que foram 
construídos e conquistados ao longo de quase duas décadas em espaços 
institucionais que criam, debatem, aplicam e monitoram políticas e programas. 
É o caso da instância onde é feita a pactuação e a negociação. Prefeituras e 
governos estaduais negociam suas necessidades, recursos e posicionamentos na 
Comissão Intergestora Bipartite. As questões nacionais são tratadas na Comissão 
Intergestora Tripartirte, que inclui, além de municípios e governos estaduais, 
representantes do Governo Federal. 
Outros atores importantes são o Fórum Nacional de Secretários Estaduais da 
Assistência Social (Fonseas) e o Conselho Nacional de Gestores Municipais de 
Assistência Social (Congemas). Na relação direta do governo com a sociedade civil, 
existem os conselhos de assistência social, em todas as esferas de governo: federal, 
estadual, municipal e do Distrito Federal. 
Todas estas instâncias participam ativamente na concepção, nos debates e nas 
deliberações de todas as questões ligadas à assistência social, como a Política 
Nacional para o setor, aprovada em 2004, as novas regras que organizam o Sistema 
Único e a expansão das metas para estados, Distrito Federal e municípios. 
4 A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO A SERVIÇO DO SOCIAL 
 
Fonte: www.lugastal.com.br 
 
7A Rede SUAS estrutura o sistema nacional de informação do Sistema Único de 
Assistência Social, favorecendo o processamento das transações financeiras, 
auxiliando nos processos de tomadas de decisão e fornecendo elementos 
imprescindíveis de monitoramento e avaliação dos programas, serviços, projetos e 
benefícios. 
Em janeiro de 2005 entrou em funcionamento o SUASWeb, que substituiu o 
moroso e burocrático sistema de renovação dos Planos de Ação dos municípios por 
tecnologia baseada em internet. Vários outros sistemas compõem a primeira etapa da 
chamada Rede SUAS. Dentre eles, destacam-se: 
GeoSUAS: Sistema via internet que proporciona aos gestores, inclusive dos 
municípios, Distrito Federal e estados, a possibilidade de efetivar um dos princípios 
básicos do SUAS - a territorialização - integrando, processando e transformando o 
dado de cada território, tornando-se essencial para quem formula e produz ações de 
Assistência Social na perspectiva da Política Nacional de Assistência Social. Desta 
forma, o sistema recupera e cruza informações a respeito das ações e programas da 
área , onde os usuários (população, gestores, pesquisadores, entre outros) poderão 
gerar mapas temáticos detalhando, por exemplo, variáveis como ocupação, renda, 
tipo de trabalho, vulnerabilidade, infra-estrutura. Exemplo: será possível verificar numa 
determinada região atendida pelo Peti, Bolsa Família ou Casa das Famílias qual o 
índice de frequência escolar das crianças. A informação poderá ser comparada com 
outra região que não tenha o programa. A ferramenta possibilita cruzar informações 
de todos os municípios e construir indicadores conforme a necessidade do território 
de atuação, chegando até a escala municipal. 
SUASweb: Ferramenta eletrônica via internet que é utilizada para repasse 
regular e automático de recursos federais aos estados e municípios, do Fundo 
Nacional para os fundos estaduais, municipais e do Distrito Federal. A gestão dos 
programas através do SUASWeb acaba com o atraso no repasse dos recursos 
federais e permite que os municípios tenham acesso direto aos processos em 
andamento, facilitando o monitoramento do cumprimento das metas. 
InfoSUAS: Sistema-espelho disponibilizado na internet que disponibiliza todos 
os dados gerados pelo SUASWeb, incluindo quantidade de usuários em cada 
programa, valores transferidos, classificação dos programas, tipos de intervenção 
organizadas por ano. Todos os dados são organizados e filtrados por município, 
Distrito Federal, estado e região e por ano de execução. 
 
8 
CadSUAS: Sistema de cadastro informatizado da rede sócio-assistencial - 
governamental e não governamental, visando identificar as entidades da rede pública 
e as co-financiadas da rede privada, sem fins lucrativos. Também dispõe de 
informações referentes a padrões de atendimento da rede de proteção sócio-
assistencial. 
 
Fonte: mds.gov.br 
5 A TRAJETÓRIA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS 
A história da assistência social brasileira configura a trajetória do Sistema Único 
de Assistência Social – SUAS no país. Veja, por ordem cronológica, os principais 
acontecimentos que marcaram esta história. 
 
1937 
Criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS). 
Década de 40 
Criação da Legião Brasileira de Assistência (LBA). 
1977 
Criação do Ministério da Previdência e Assistência Social. 
 
 
9 
1988 
Promulgada a Constituição que reconhece a assistência social como dever de 
Estado no campo da seguridade social e não mais política isolada e complementar à 
Previdência. 
1989 
Criação do Ministério do Bem Estar Social que fortalece o modelo centralizador 
simbolizado pela LBA. 
1990 
Primeira redação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) é vetada no 
Congresso nacional. 
1993 
Aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), dando início ao 
processo de construção da gestão pública e participativa da assistência social, por 
meio de conselhos deliberativos e paritários, nas esferas federal, estadual e municipal. 
1997 
Editada a Norma Operacional Básica (NOB), que conceitua o sistema 
descentralizado e participativo, amplia o âmbito de competência dos governos 
Federal, municipais e estaduais e institui a exigência de Conselho, Fundo e Plano 
Municipal de Assistência Social para o município poder receber recursos federais. 
1998 
Nova edição da NOB diferencia serviços, programas e projetos; amplia as 
atribuições dos Conselhos de Assistência Social; e cria os espaços de negociação e 
pactuação - Comissões Intergestoras Bipartite e Tripartite, que reúnem 
representações municipais, estaduais e federais de assistência social. 
2004 
Criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) 
que acelerou e fortaleceu o processo de construção do SUAS, melhorando o repasse 
de verbas e editando a Política Nacional de Assistência Social. 
2005 
Aprovada a NOB 2005, em reunião do Conselho Nacional de Assistência 
Social, que possibilitou que o Sistema Único de Assistência Social virasse realidade. 
 
10 
6 A NORMA OPERACIONAL BÁSICA – NOB/SUAS 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
A Norma Operacional Básica - NOB consagra os eixos estruturantes para a 
realização do pacto a ser efetivado entre os três entes federados e as instâncias de 
articulação, pactuação e deliberação, visando a implementação e consolidação do 
Sistema Único de Assistência Social - SUAS no Brasil. 
A NOB/SUAS disciplina a gestão pública da política de assistência social no 
território brasileiro, exercida de modo sistêmico pelos entes federativos, em 
consonância com a Constituição da República de 1988, a Lei Orgânica da Assistência 
Social - LOAS e as legislações complementares a ela aplicáveis. Seu conteúdo 
estabelece: 
a) Caráter do SUAS; 
b) Funções da política pública de assistência social para extensão da proteção 
social brasileira; 
c) Níveis de gestão do SUAS; 
d) Instâncias de articulação, pactuação e deliberação que compõem o processo 
democrático de gestão do SUAS; 
e) Financiamento; 
f) Regras de transição. 
 
11 
6.1 Caráter do Sistema Único de Assistência Social – SUAS 
O SUAS é um sistema público não contributivo, descentralizado e participativo, 
que tem por função a gestão do conteúdo específico da assistência social no campo 
da proteção social brasileira que: 
 Consolida o modo de gestão compartilhada, o co-financiamento e a cooperação 
técnica entre os três entes federativos que, de modo articulado e 
complementar, operam a proteção social não contributiva de seguridade social 
no campo da assistência social. 
 Estabelece a divisão de responsabilidades entre os entes federativos (federal, 
estadual, Distrito Federal e municipal) para instalar, regular, manter e expandir 
as ações de assistência social como dever de Estado e direito do cidadão no 
território nacional. 
 Fundamenta-se nos compromissos da PNAS/2004; 
 Orienta-se pela unidade de propósitos, principalmente quanto ao alcance de 
direitos pelos usuários; 
 Regula em todo o território nacional a hierarquia, os vínculos e as 
responsabilidades do sistema cidadão de serviços, benefícios, programas, 
projetos e ações de assistência social, de caráter permanente e eventual, sob 
critério universal e lógica de ação em rede hierarquizada de âmbito municipal, 
distrital, estadual e federal; 
 Respeita a diversidade das regiões, decorrente de características culturais, 
socioeconômicas e de políticas em cada esfera de gestão, da realidade das 
cidades e da sua população urbana e rural. 
 Reconhece que as diferenças e desigualdades regionais e municipais que 
condicionam os padrões de cobertura do sistema e os seus diferentes níveis 
de gestão devem ser consideradas no planejamento e execução das ações; 
 Articula sua dinâmica às organizações e entidades de assistência social com 
reconhecimento pelo SUAS. 
 
São eixos estruturantesda gestão do SUAS: 
 Precedência da gestão pública da política; 
 Alcance de direitos socioassistenciais pelos usuários; 
 
12 
 Matricialidade sociofamiliar; 
 Territorialização; 
 Descentralização político-administrativa; 
 Financiamento partilhado entre os entes federados; 
 Fortalecimento da relação democrática entre estado e sociedade civil; 
 Valorização da presença do controle social; 
 Participação popular/cidadão usuário; 
 Qualificação de recursos humanos; e 
 Informação, monitoramento, avaliação e sistematização de resultados. 
 
 
Fonte: cress-sc.org.br 
6.2 Funções da política pública de assistência social para extensão da 
proteção social brasileira 
A assistência social no Brasil, como política pública, tem fundamento 
constitucional, como parte do sistema de seguridade social. Caracteriza-se, a partir 
dos resultados que produz na sociedade – e tem potencial de produzir – como política 
pública de direção universal e direito de cidadania, capaz de alargar a agenda dos 
direitos sociais a serem assegurados a todos os brasileiros, de acordo com suas 
necessidades e independente de sua renda, a partir de sua condição inerente de ser 
de direitos. 
A assistência social, assim como a saúde, é direito do cidadão que independe 
de sua contribuição prévia e deve ser provido pela contribuição de toda a sociedade. 
 
13 
Ocupa-se de prover proteção à vida, reduzir danos, monitorar populações em risco e 
prevenir a incidência de agravos à vida face às situações de vulnerabilidade. 
A proteção social de assistência social se ocupa das vitimizações, fragilidades, 
contingências, vulnerabilidades e riscos que o cidadão, a cidadã e suas famílias 
enfrentam na trajetória de seu ciclo de vida por decorrência de imposições sociais, 
econômicas, políticas e de ofensas à dignidade humana. 
Através de suas ações, a proteção social de assistência social produz 
aquisições materiais, sociais, socioeducativas ao cidadão e cidadã e suas famílias 
para: suprir suas necessidades de reprodução social de vida individual e familiar; 
desenvolver suas capacidades e talentos para a convivência social, protagonismo e 
autonomia. 
A PNAS/2004 aborda a questão da proteção social em uma perspectiva de 
articulação com outras políticas do campo social que são dirigidas a uma estrutura de 
garantias de direitos e de condições dignas de vida. O princípio da atenção social 
alcança, assim, um patamar que é balizado pelo esforço de viabilização de um novo 
projeto de desenvolvimento social, onde não se pode pleitear a universalização dos 
direitos à Seguridade Social e da proteção social pública sem a composição correta e 
suficiente da política pública de assistência social, em nível nacional. 
 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
A contribuição da assistência social nessa perspectiva, implementada como 
política pública afiançadora de direitos, deve se realizar por meio de uma estrutura 
políticoadministrativa que ressalte a fundamental relevância do processo de 
descentralização, quanto ao redesenho do papel e da escala espacial de organização 
dos serviços do Estado Brasileiro, que possa facilitar a transferência, em blocos de 
competências, das ações para os territórios mais próximos da população e de suas 
 
14 
necessidades, e a distribuição dos recursos financeiros e operacionais de forma mais 
equitativa, articulando corretamente a participação dos municípios, do Distrito Federal, 
dos estados e da União seja no co-financiamento, seja na implementação dos 
benefícios e na execução direta e, ou, compartilhada dos serviços socioassistenciais, 
nos moldes e nas condições que o pacto intersetorial irá estabelecer. 
Trata-se, efetivamente, de operar um modelo emancipatório, que requer, então, 
a provisão das medidas da política de assistência social que responda às 
necessidades sociais e coletivas, mas também seja capaz de atuar a partir de 
inúmeros requerimentos individuais e privados, decorrentes da situação de vida das 
famílias. Tal padrão se realiza a partir dos parâmetros de proteção elencados na 
PNAS/2004 que demarcam a sua especificidade no campo das políticas sociais, 
responsabilidades de Estado próprias a serem asseguradas aos cidadãos brasileiros: 
a proteção social básica e a proteção social especial de média e alta complexidade. 
 
 
Fonte: pensionatosfa.com.br 
A assistência social dá primazia à atenção às famílias e seus membros, a partir 
do seu território de vivência, com prioridade àqueles com registros de fragilidades, 
vulnerabilidades e presença de vitimizações entre seus membros. A primazia da 
atenção às famílias tem por perspectiva fazer avançar o caráter preventivo de 
proteção social de modo a fortalecer laços e vínculos sociais de pertencimento entre 
seus membros e indivíduos, para que suas capacidades e qualidade de vida atentem 
para a concretização de direitos humanos e sociais. 
 
15 
De acordo com a PNAS/2004 são funções da assistência social: a proteção 
social hierarquizada entre proteção básica e proteção especial; a vigilância social; e a 
defesa dos direitos socioassistenciais. 
 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
6.3 Instrumentos de gestão 
Os instrumentos de gestão se caracterizam como ferramentas de planejamento 
técnico e financeiro da Política e do SUAS, nas três esferas de governo, tendo como 
parâmetro o diagnóstico social e os eixos de proteção social, básica e especial, sendo 
eles: Plano de Assistência Social; Orçamento; Monitoramento, Avaliação e Gestão da 
Informação; e Relatório Anual de Gestão. 
6.4 Instâncias de articulação, pactuação e deliberação 
O princípio da democratização e a diretriz da descentralização, presentes na 
Constituição Federal de 1988 e na LOAS, se concretizam na implantação e no 
fortalecimento das instâncias de articulação, pactuação e de deliberação. 
 
 Articulação 
 
16 
São espaços de participação aberta, com função propositiva no nível federal, 
estadual, do Distrito Federal e municipal, podendo ser instituídos regionalmente. São 
constituídos por organizações governamentais e não-governamentais com a finalidade 
de articulação entre: conselhos; união de conselhos; fóruns estaduais, regionais ou 
municipais; associações comunitárias, entre outros. 
 
 Pactuação 
Entende-se por pactuação, na gestão da assistência social, as negociações 
estabelecidas com a anuência das esferas de governo envolvidas, no que tange à 
operacionalização da política, não pressupondo processo de votação nem tão pouco 
de deliberação. As pactuações de tais instâncias só são possíveis na medida em que 
haja concordância de todos os entes envolvidos, sendo formalizada por meio de 
publicação da pactuação e submetidas às instâncias de deliberação. 
 
 Deliberação 
Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais são 
instâncias deliberativas do Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência 
Social, regulamentado na PNAS/2004 na forma do SUAS. O CNAS, instituído pela 
LOAS, e os Conselhos das demais esferas, tratados na referida Lei e instituídos por 
legislação especifica, tem caráter permanente e composição paritária entre governo e 
sociedade civil. São vinculados ao Poder Executivo e a sua estrutura pertencente ao 
órgão da Administração Pública responsável pela coordenação da Política de 
Assistência Social, que lhes dá apoio administrativo assegurando dotação 
orçamentária para seu funcionamento. 
 
17 
7 OS 10 ANOS DO SUAS 
 
Fonte: canalconselhotutelar.wordpress.com 
Em 2015, o SUAS comemora uma década de existência. A experiência de 
implementação do Sistema Público resulta da decisão política de priorização da 
atenção às populações mais vulneráveis, do compromisso dos entes e da participação 
da sociedade civil. Integra um projeto de construção de uma sociedade mais igualitária 
e de adoção de um modelo de desenvolvimento econômico mais inclusivo.Nesses 10 anos, o SUAS passou por uma etapa de estruturação do aparato 
legal e normativo e implementação de uma rede com significativa capilaridade. Na 
próxima década, novos desafios se colocam à área, como o alcance de um novo 
patamar de qualidade, refletido na NOB/SUAS 2012 – de aprimoramento da gestão e 
qualificação das ofertas – e a provisão da proteção social não contributiva num cenário 
que anuncia questões desafiadoras, como aquelas decorrentes de alterações 
ambientais e climáticas, sociodemográficas e no contexto econômico. 
Em 2004, com a aprovação da Política Nacional de Assistência Social – PNAS 
(Resolução nº 145, de 15 de outubro de 2004), pelo Conselho Nacional de Assistência 
Social (CNAS), foram lançadas as bases para a consolidação dos serviços 
socioassistenciais através dos níveis de proteção social (Proteção Social Básica – 
 
18 
PSB e Proteção Social Especial – PSE), contemplando as seguranças a serem 
afiançadas: de renda, de convívio familiar e comunitário, e de acolhimento. 
A partir disso, houve a definição da obrigatoriedade de equipamento público 
para o acolhimento das demandas e na oferta de serviços aos usuários nos Centros 
de Referência de Assistência Social (CRAS), no atendimento e na prevenção de riscos 
da PSB. 
 
 
Fonte: crasmeninojesus-saogabriel-rs.blogspot.com.br 
Nesse sentido, a oferta do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à 
Família (PAIF), de caráter continuado, tem a função protetiva da família, na forma de 
evitar que vínculos familiares e/ou comunitários sejam rompidos, permitindo o acesso 
dos usuários aos programas de transferência de renda como o Bolsa Família (BF) e o 
Benefício de Prestação Continuada (BPC). 
Os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) foram 
instituídos para o atendimento das demandas da PSE de média complexidade para 
as pessoas que tiveram seus direitos violados (violência física, exploração sexual, 
violência psicológica ou negligência), mas que ainda mantêm vínculos familiares e 
comunitários. O Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e 
Indivíduos (PAEFI) abrange esta complexidade e está direcionado a crianças e 
adolescentes, mulheres, idosos e pessoas em situação de rua. No caso de crianças e 
adolescentes há o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Serviço 
 
19 
de Orientação e Acompanhamento a Adolescentes em Cumprimento de Medida 
Socioeducativa. 
 
 
Fonte: www.sjp.pr.gov.br 
Quanto aos serviços da PSE de alta complexidade, estes visam à proteção 
integral de famílias e indivíduos que se encontram em situações de abandono, 
ameaça ou que tiveram seus direitos violados necessitando sair do seu núcleo familiar 
para serem acolhidos provisoriamente em locais adequados que ofereçam boas 
condições de moradia, de higiene, de segurança. Os serviços que podem ser 
ofertados são de Acolhimento Institucional (nas modalidades de abrigo institucional, 
casa-lar, casa de passagem ou residência inclusiva), Acolhimento em República; 
Acolhimento em Família Acolhedora, e Proteção em situações de Calamidade Pública 
e de Emergência. 
Em 2004, foi criado também o Programa Bolsa Família (Lei nº 10.836, de 9 de 
janeiro de 2004, regulamentada pelo decreto nº 5.209 de 17 de setembro de 2004) 
que unificou em um único programa de transferência de renda os benefícios Bolsa 
Escola, Bolsa Alimentação e Programa Auxílio-Gás. Hoje são milhões de famílias em 
situação de vulnerabilidade atendidas por benefício. 
 
20 
 
Fonte: economia.culturamix.com 
Em 2005, o CNAS aprovou a Norma Operacional Básica do Sistema Único de 
Assistência Social – NOB/SUAS (Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005), 
assinalando o pacto federativo preconizado pela LOAS e pela PNAS, as 
responsabilidades de gestão e de financiamento de cada um dos entes federados e 
objetivando a integração da rede de serviços e a busca da continuidade e da 
padronização de sua oferta nos equipamentos públicos e nas entidades privadas de 
Assistência Social. 
Em 2006, foi aprovada a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do 
SUAS – NOB-RH/SUAS (Resolução nº 269, de 13 de dezembro de 2006 e Resolução 
nº 01, de 25 de janeiro de 2007) que contém todos os princípios e diretrizes nacionais 
para a gestão do trabalho no âmbito do SUAS e significou um importante instrumento 
normativo para o reconhecimento institucional do trabalho assistencial, sendo um 
grande desafio a sua implementação em âmbito estadual e municipal. 
 
21 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
Em 2009, a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (Resolução 
CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009) padronizou os serviços ofertados pela 
rede socioassistencial e impôs um grande desafio para o poder público de implantar 
e organizar os serviços de acordo com a padronização para dar resposta às 
necessidades de proteção social à população. 
Em 2011, foi aprovada a Lei nº 12.435, de 06 de julho de 2011, atualmente 
conhecida como a Lei do SUAS trazendo mudanças bastante significativas no texto 
da LOAS. Se num primeiro momento a LOAS objetivou a normatização da política 
conforme as indicações da CF/1988, em 2011 buscou aprimorar e legalizar em seu 
conteúdo os avanços trazidos pela PNAS 2004, pela NOB/SUAS 2005 e pela NOB/RH 
2006, e outras normativas subsequentes, na implantação e implementação da política, 
através do esforço com que a União, os estados e, principalmente, os municípios 
fizeram e continuam fazendo a fim de se adequarem aos novos preceitos. 
A NOB/SUAS 2012, aprovada pela Resolução CNAS nº 33, de 12 dezembro de 
2012, veio preencher uma lacuna da NOB/SUAS 2005, que após sete anos, desde 
sua aprovação, não continha o conjunto legal (leis, decretos, portarias e resoluções 
da CIT e do CNAS) desenvolvido a partir da implantação do SUAS, necessitando da 
inclusão das medidas adotadas ao aprimoramento da gestão e à operacionalização 
 
22 
do sistema, ocorridas durante o período. Além disso, o modelo de adesão ao sistema 
tornara-se inócuo em função das necessidades de aperfeiçoamento, havendo a 
necessidade de novos instrumentos de gestão, com pactuação de responsabilidades 
compartilhadas e metas, bem como a necessidade de aprimoramento dos serviços, 
programas, projetos e benefícios dos SUAS. 
 
Fonte: www.sedhast.ms.gov.br 
A partir disso, foram incorporados os seguintes avanços normativos: 
- A alteração da LOAS pela Lei nº 12.435/2011, que dispõe sobre a organização 
da AS em um sistema descentralizado e participativo denominado SUAS; 
- O Decreto nº 7.788/2012, que regulamenta o Fundo Nacional de AS e 
estabelece o cofinanciamento por meio dos blocos de financiamento do SUAS; 
- O Decreto nº 7.736/2012, que regulamenta o repasse do IGD SUAS; 
- O Decreto nº 5.209/2004, que cria o Programa Bolsa família e regulamenta o 
IGD-PBF; 
- O Decreto nº 7.734/2010, que institui o Censo SUAS; 
- A Resolução CNAS nº 109/2009, que aprova a Tipificação Nacional de 
Serviços Socioassistenciais; 
- A Resolução CIT nº 08/2010, que institui o Protocolo de Gestão Integrada dos 
serviços, benefícios socioassistenciais e transferências de renda para atendimento de 
indivíduos e famílias beneficiárias do PBF, PETI, BPC e benefícios eventuais, no 
âmbito do SUAS; 
 
23 
- A Resolução CIT nº 05/2010, que institui, de forma pactuada, as metas de 
desenvolvimento dos CRAS por períodos anuais, visando sua gradativa adaptação 
aos padrões normativos do SUAS, com início em 2008 e término em 2013; 
- A Resolução CIT nº 17/2010, que estabelece as prioridades nacionais para o 
Pacto de Aprimoramento da Gestão Estadual e do DF para o quadriênio 2011-2014; 
e 
- A Resolução CNAS n º 32/2011, que estabelece percentual dos recursos do 
SUAS, cofinanciados pelo governo federal que poderão ser gastos no pagamento de 
profissionais que integrarem as equipes de referência, conforme o art. 6 º da Lei n º 
8.742/1993.Os desafios no processo de implementação do SUAS são inúmeros e se 
ocupam principalmente das questões que se referem às atribuições dos estados e dos 
municípios e sua participação no cofinanciamento da política de assistência social. A 
União ficou com a responsabilidade da coordenação da Política de Assistência Social 
e na elaboração de normativas de orientação ao seu funcionamento e aprimoramento 
e no repasse de incentivos financeiros aos estados e municípios, para o 
cofinanciamento das ações e serviços. Os municípios, por sua vez, ficaram com a 
execução dos programas, projetos, serviços e benefícios, cabendo-lhes também a 
alocação de recursos próprios para a participação no cofinanciamento dos serviços 
socioassistenciais. Já os estados ficaram com a responsabilidade e o papel da 
assessoria técnica aos municípios sobre a gestão do SUAS, a implantação de serviços 
regionalizados da PSE de média complexidade, com cobertura para municípios de 
pequeno porte I, e o cofinanciamento dos serviços socioassistenciais, com alocação 
de recursos próprios no fundo estadual. 
8 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SUAS 
As atribuições e competências dos profissionais de Serviço Social, 
independentes de suas áreas de atuações, sejam elas realizadas na política de 
assistência ou em outros espaços sócio ocupacionais, são orientadas e norteadas por 
direitos e deveres constantes no Código de Ética Profissional e na Lei de 
Regulamentação da Profissão, que devem ser observados e respeitados, tanto pelos 
profissionais, quanto pelas instituições empregadoras (CEFSS, 2009). 
 
24 
No que se refere aos direitos dos assistentes sociais, o artigo 2º do Código de 
Ética assegura: 
 Livre exercício das atividades inerentes à profissão; 
 Participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formulação e 
implementação de programas sociais; 
 Inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação, garantindo 
o sigilo profissional; 
 Desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional; 
 Aprimoramento profissional de forma contínua; 
 Pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tratar de 
assuntos de interesse da população; 
 Ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a prestar serviços 
profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções; 
 Liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de 
participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos. 
 
 
Fonte: servicosocial-erenilza.blogspot.com.br 
Tratando-se dos deveres desse profissional, tem-se no artigo 3º do Código de Ética 
o seguinte: 
 Desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade, 
observando a Legislação em vigor; 
 Utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da profissão; 
 Abster-se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem a censura, 
o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando 
sua ocorrência aos órgãos competentes; 
 Participar de programas de socorro à população em situação de calamidade 
pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades. 
 
 
25 
Assim, o perfil do assistente social para atuar na Política de Assistência Social 
deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmáticas, que 
reforçam as práticas conservadoras que tratam as situações sociais como problemas 
pessoais que devem ser resolvidos individualmente. 
O reconhecimento da questão social como objeto de intervenção profissional, 
demanda uma atuação profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na 
identificação dos determinantes socioeconômicas e culturais das desigualdades 
sociais. 
Os Parâmetros para atuação dos assistentes sociais na Política de Assistência 
Social constituem-se num dos instrumentos para a aproximação do projeto ético 
político do Serviço Social a uma Assistência Social como direito social e que tem que 
atender a quem dela necessitar. 
Os mesmos parâmetros reeditam competências gerais do assistente social em 
qualquer espaço sócio ocupacional e, particularmente, na Assistência Social: 
 Apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das 
relações sociais numa perspectiva de totalidade; 
 Análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as 
particularidades do desenvolvimento do capitalismo no país e as 
particularidades regionais; 
 Compreensão do significado social da profissão e de seu 
desenvolvimento sócio histórico, nos cenários internacional e nacional, 
desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; 
 Identificação das demandas presentes na sociedade, visando a formular 
respostas profissionais para o enfrentamento da questão social, 
considerando as novas articulações entre o público e o privado. 
 
26 
 
Fonte: www.estudeadistancia.com.br 
São essas competências que permitem ao profissional como um sujeito que é 
afetado tanto pelas condições objetivas e subjetivas do trabalho, realizar a análise 
crítica da realidade, para a partir daí, estruturar seu trabalho e estabelecer os 
procedimentos específicos necessários ao enfrentamento das situações e demandas 
sociais que se apresentam ao seu cotidiano. As diversas atribuições dos assistentes 
sociais, no âmbito da Política de Assistência Social abrangem as seguintes dimensões 
interventivas complementares e indissociáveis: 
1 – Dimensão que engloba as abordagens individuais, familiares ou grupais na 
perspectiva de atendimento às necessidades básicas e acesso aos direitos, bens e 
equipamentos públicos; 
2 – Dimensão de intervenção coletiva junto a movimentos sociais, na 
perspectiva da socialização da informação, mobilização e organização popular; 
3 – Dimensão de intervenção profissional voltada para inserção nos espaços 
democráticos de controle social e construção de estratégias pra fomentar a 
participação; 
4 – Dimensão de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e 
serviços a indivíduos, famílias, grupos e coletividade; 
5 - Dimensão que se materializa na realização sistemática de estudos e 
pesquisas que revelem as reais condições de vida e demandas da classe trabalhadora 
e possam alimentar o processo de formulação, implementação e monitoramento da 
política de assistência social; 
 
27 
6 – Dimensão pedagógico-interpretativa e socializadora de informações e 
saberes no campo dos direitos, da legislação social e das políticas públicas, dirigida 
aos diversos sujeitos da política: gestores públicos, dirigentes de entidades 
prestadoras de serviços, trabalhadores, conselheiros e usuários. 
 
 
28 
BIBLIOGRAFIA 
BRASIL. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS – 
NOBRH/SUAS. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria 
Nacional de Assistência Social. Brasília, 2006. 
BRASIL. Norma Operacional Básica NOB/SUAS - Construindo as bases para a 
implantação do sistema único de assistência social. Ministério do Desenvolvimento 
Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Brasília, Julho 
de 2005. 
BRASIL. Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Ministério do 
Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência 
Social. Brasília, 2004. 
CFESS. Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de 
Assistência Social. Brasília: 2011. 
IAMAMOTO, Marilda. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e 
formação profissional. São Paulo: Cortez, 2006. 
IAMAMOTO, Marilda; CARVALHO, Raul. Relações sociais e serviço social no 
brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 34. ed. – São Paulo: 
Cortez, 2011. 
MARTINELLI, Lúcia Maria. Serviço social: Identidade e alienação. 13. ed.- São 
Paulo: Cortez, 2009. 
SANTOS, Edina Maria de Souza. O trabalho profissional do assistente socialna 
área da assistência social no município de Santo Antônio de Jesus: reflexões 
sobre os limites e possibilidades. Cachoeira, 2012. 
 
 
29 
9 LEITURA COMPLEMENTAR 
AUTOR: Marcelo Garcia 
Disponível em: 
http://www.amavi.org.br/sistemas/pagina/setores/associal/arquiv
os/cadernotravessia2-Marcelo_Garcia.pdf 
Acesso: 30 de janeiro de 2017 
 
SUAS: Sistema Único de Assistência Social 
 
A história da Política de Assistência Social no Brasil é marcada por inúmeros 
desafios, disputas, conquistas, algumas derrotas, atrasos e, sem dúvida, muitos 
avanços. É uma história construída na busca da afirmação de que o Estado brasileiro 
deve ser de fato a inteligência de um processo nacional de Proteção Social. Um 
debate que nem sempre foi plural, mas que foi se construindo pela real necessidade 
de reconhecer que num país como o Brasil, com suas inúmeras contradições sociais, 
era e é fundamental que a Política de Assistência Social ganhe consistência e 
musculatura política e técnica para que uma rede de direitos seja real para a 
população. 
É bem verdade que no meio de debates e disputas está a defesa de que 
devemos assegurar a Política de Assistência Social como um direito e não como um 
favor. No meio desse debate estava e ainda está a necessidade de negar que a 
caridade, filantropia, solidariedade e voluntariado sejam expressões e ações que 
possam ter mais força e presença do que a ação direta do Estado brasileiro nas 
Proteções Sociais. 
Vale destacar que até 1988 a organização da Assistência Social não era diretriz 
direta do Estado brasileiro. Se voltarmos à década de 80, vamos encontrar uma rede 
de entidades filantrópicas realizando quase todas as ações de Assistência Social. A 
Legião Brasileira de Assistência Social, em grande parte, é a financiadora dessa rede 
não estatal e, em seus 15 anos finais, mostrava-se com um aparelho de politicagem, 
corrupção e negação do Direito, ao ser entregue despudoradamente para o uso 
político. 
As representações da LBA nos estados eram espaços de uso político que em 
muito colaboraram para que a sociedade brasileira não construísse uma leitura de 
 
30 
respeito pela prática de Assistência. Vale ressaltar aqui que, dentro dessa instituição 
contaminada por péssimas práticas políticas, atuavam profissionais de alta qualidade 
que iriam de certa forma ser responsáveis por uma nova agenda para a Assistência 
Social no Brasil. 
A Filantropia e a caridade sempre foram a marca dos serviços, e os usuários 
não acessavam um direito, mas um favor "doado" por pessoas de bem que dedicavam 
suas vidas a ajudar o próximo. Foi assim que a Assistência Social se fez entender 
durante sua história por quem a fez e por quem a usou. E com esse mix de 
informações e práticas, a própria sociedade fez um juízo de Assistência Social 
bastante diferenciado do que realmente ela deveria ser. O distanciamento da 
sociedade desse entendimento é claro que retardou e ainda retarda a consolidação 
de uma identidade política para a prática assistencial. 
Um fosso entre o direito e a proteção social ainda se mostra evidente. As 
Desproteções Sociais não são compreendidas e os Desprotegidos ainda não são 
atores que possuem de fato seus direitos. A ideia do favor é uma marca complicada 
de ser desmontada, mas que começa a se fragilizar cada vez mais. 
A academia sempre esteve completamente distanciada do debate sobre o 
Direito à Assistência Social. Basta pegar os currículos do curso de Serviço Social a 
partir de 1985 que isso fica mais do que claro. São mundos divorciados. Poucos 
espaços da Academia vão discutir a urgência de organizar a Proteção Social no 
campo estatal. Vale aqui resgatar o esforço de professores da PUC São Paulo a partir 
dos anos 80 e um esforço residual de um grupo de professores da Universidade 
Federal Fluminense em Niterói, que ousou debater a questão da Proteção Social em 
1990 e foi duramente criticado pela "inteligência" intelectual que está dentro das 
Universidades. Porém, são esses esforços que vão criar condições políticas e teóricas 
para que seja inaugurado um movimento aglutinador, que pense o Estado como 
protagonista das Proteções Sociais desde então. 
É dentro da própria LBA que o debate sobre o dever do Estado e do Direito do 
Cidadão à Assistência Social vai ganhar impulso a partir de seu corpo técnico. Os 
técnicos da LBA entendem, a partir de seu cotidiano, que é preciso mobilizar o país 
para uma regulação que defina a Proteção Social na esfera do Estado e não das 
entidades sociais. É assim que esse debate chega à Constituinte de 1986 e se 
concretiza na Carta Constitucional em 1988, quando a Assistência Social passa a 
 
31 
fazer parte do Tripé da Seguridade Social Brasileira. Passa a ser Política Pública de 
Seguridade. Dever do Estado e Direito do Cidadão. 
Mas daquele outubro de 1988 até a Promulgação da Lei Orgânica, em 
dezembro de 1993, foram mais de cinco anos de inércia e, sobretudo, de insegurança 
em relação ao cumprimento da Constituição. Mais uma vez existe um divórcio de 
grande parte dos intelectuais da real urgência de organizar a Assistência Social, e vale 
registrar que a força das entidades sociais históricas também impede que o Estado 
possa ser o gestor de uma política definida então como pública, e não privada. Nesse 
período surge um levante da sociedade em favor da solidariedade. Por todo Brasil 
surgem comitês de solidariedade e cidadania contra a fome. A força desse movimento 
solidário e voluntário esvazia a urgência do Estado de assumir e construir seu caminho 
em direção a uma Proteção Social Estatal. 
Essa história é longa e cheia de acontecimentos. Desde 1990 existiu um 
movimento mais organizado para que pudéssemos de fato chegar ao desafio do 
SUAS e, sobretudo, estruturar as Proteções Sociais como dever do Estado. Mas de 
lá até a votação do SUAS, em 2003, na IV Conferência Nacional de Assistência Social, 
muita coisa aconteceu: 
• 1990 - Entrega do Primeiro Texto da Lei Orgânica da Assistência Social 
ao Congresso. Não avançou. 
• Professores do Curso de Serviço Social da Universidade Federal 
Fluminense em Niterói assinam uma Proposta Curricular afirmando o caráter da 
proteção Social como objeto da profissão e como dever do Estado Brasileiro. 
• 1993 – A Lei Orgânica é Promulgada pelo Presidente Itamar Franco, em 
dezembro de 1993. 
• 1993/1994 – Em todo o Brasil surgem comitês de Cidadania contra a 
fome. É mais uma expressão da força da solidariedade, caridade e filantropia sobre o 
papel que o Estado deve desenvolver. 
• 1995 – Extinção da LBA e Criação da Secretaria Nacional da Assistência 
Social ligada ao Ministério da Previdência e Assistência Social. 
• Criação do Programa Comunidade Solidária, que afirma princípios 
destoantes da Lei Orgânica da Assistência Social, apostando que a sociedade deve 
cuidar das pessoas, e não o Estado. 
• Criação do Conselho Nacional da Assistência Social, no Lugar do 
 
32 
Conselho Nacional de Serviço Social. Primeira Conferência Nacional de 
Assistência Social. 
• 1996 – Implantação do Benefício da Prestação Continuada para idosos 
e pessoas portadoras de necessidades especiais. 
• Início da Estadualização dos Recursos da Assistência Social. 
• 1997– Consolidação do Programa Nacional de Erradicação do Trabalho 
Infantil. 
• Aprovação da Primeira Política Nacional da Assistência Social e da 
NormaOperacionalBásica-NOB1. 
• Início da Municipalização dos Recursos da Assistência Social. 
• Segunda Conferência Nacional da Assistência Social. 
• 1998 – Aprovação da Segunda Política Nacional da Assistência Social e 
da NormaOperacionalBásica2-NOB2. 
• 1999 – Criação da Secretaria de Estado de Assistência Social. 
• Instalação da Comissão Intergestora Tripartite e das Comissões 
Intergestoras Bipartites. 
• Fortalecimento do Processo de Habilitação dos Municípios na Gestão da 
Assistência Social. 
• Início dos Núcleos de Apoio à Família(Hoje Centros de Referência da 
Assistência Social). 
• Início do Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano 
– Primeiro Financiamento Público direcionado à Juventude no Brasil. 
• Aprovação no Conselho Nacional de Assistência Social de novos 
Critérios de Partilha dos Recursos do Fundo Nacional de Assistência Social. 
• 2000 – A Política de Assistência Social assume compromisso com o 
combate ao abuso e à exploração sexual de Crianças através do Programa Sentinela 
– Base de financiamento do que hoje são os Centros Regionais Especializados da 
Assistência Social (CREAS). 
• 2001 – Início da Implantação do Cadastro Único do Governo Federal 
para a Unificação dos Programas de Transferência de Renda (Bolsa Escola, Auxílio 
Gás, PETI, Bolsa Alimentação). Realização da III Conferência Nacional da Assistência 
Social. Os Recursos do Fundo Nacional da Assistência Social atingem 97% dos 
municípios brasileiros. 
 
33 
• 2002 – Ativação do Cadastro Único do Governo Federal em todos os 
Estados. Universalização do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. 
• 2003 – Criação do Ministério da Assistência e Promoção Social. 
Realização da IV Conferência Nacional de Assistência Social. Aprovação do Sistema 
Único da Assistência Social (SUAS) na IV Conferência Nacional. Implantação do 
Programa Bolsa Família a partir da Unificação dos Programas de Transferência de 
Renda do Governo Federal. 
• 2004 – Criação do Ministério do Desenvolvimento Social. Aprovação da 
Terceira Política Nacional de Assistência Social. Reestruturação das Secretarias de 
Assistência Social no Brasil a partir da Nova Política. 
• 2005 –Aprovação da Norma Operacional Básica do SUAS (NOB SUAS). 
Início do novo Processo de Habilitação dos Municípios do SUAS (Gestão Inicial, 
Gestão Básica e Gestão 
Assistência Social. 
• 2006 – Aprovação da Norma Operacional Básica de Recursos 
Humanos(NOBRH). Incorporação da Bolsa do PETI ao Programa Bolsa Família. O 
Sistema Único da Assistência Social ganha força nas gestões municipais. 
• 2007 – Realização da VI Conferência Nacional da Assistência Social. 
• 2008 – Início do Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Pró-Jovem 
Adolescente. 
Fazer esse retrospecto não é apenas uma questão de estruturar a memória do 
processo que nos leva ao SUAS, mas afirmar que o SUAS não nasceu de uma hora 
para outra. Houve um processo de amadurecimento da Política de Assistência Social 
no campo estatal entre 1993 e 2003, quando de sua aprovação na Conferência 
Nacional de Assistência Social. Por exemplo, em 2005, no início do processo de 
Habilitação em Gestão no SUAS em Inicial, Básico ou Pleno, a Política Pública de 
Assistência Social já contava com um histórico de habilitação desde 1997. As 
transferências já eram Fundo a Fundo desde 1998. 
É claro que o SUAS consolida toda uma luta de gestão no campo da Assistência 
Social, mas ele não é resultado de si próprio e sim de uma história partilhada por 
muitos atores sociais. 
Uma questão que para mim foi um erro no processo de implantação do SUAS 
foi a demora em reconhecer que o Congresso Nacional deveria receber um projeto de 
 
34 
Lei que desse conta de uma regulação mais segura. Isso só foi acontecer em março 
de 2008, e ainda hoje, no final de 2009, não temos essa questão resolvida. 
Em parte, a demora em envolver o Congresso Nacional vem da cultura da área 
da Assistência, que ainda hoje tem dificuldades em interagir com outras políticas 
públicas e com outros poderes públicos. Em muitos momentos, conversamos apenas 
com nós mesmos, e isso tem de fato retardado o processo de fortalecimento e 
compreensão da Assistência Social perante o Estado brasileiro e também perante a 
sociedade. 
O SUAS, que completa na VII Conferência Nacional de Assistência Social seis 
anos de sua aprovação, tem uma longa agenda para seu crescimento e 
fortalecimento. Citaria três desafios: 
• Financiamento; 
• Recursos Humanos; e 
• Produção de Conhecimento. 
 
Precisamos enfrentar a qualidade do financiamento e não a quantidade de 
recursos disponíveis. O financiamento do SUAS para serviços socioassistenciais não 
está em sintonia com os desafios nacionais. 
A grande maioria dos estados, por exemplo, não garante recursos para o 
SUAS. Os recursos do Fundo Nacional de Assistência Social para serviços, e, 
sobretudo, para a manutenção dos Centros de Referência da Assistência Social 
(CRAS) ou para os Centros de Referência Especializados na Assistência Social 
(CREAS), são insuficientes para a demanda nacional. Desta forma não garantem a 
qualidade necessária para uma atuação mais qualificada. Melhorar a qualidade do 
financiamento é um desafio imediato. A lógica de que com pouco se faz muito precisa 
ser imediatamente superada na Assistência Social. Não podemos migrar da filantropia 
para a militância. A Assistência Social é uma política que deve ter serviços financiados 
para terem qualidade, e os atuais recursos dos Pisos de Proteção são baixos e não 
atendem à realidade. Esse é um problema que precisamos enfrentar sem 
constrangimentos. 
A Norma Operacional de Recursos Humanos - NOB RH votada em 2006 ainda 
é uma peça de ficção. Não temos uma Política para Trabalhadores da Assistência 
Social. Isso é um fato. Os concursos públicos são raros, os salários são baixos e os 
espaços para formação e qualificação ainda estão distantes da realidade. 
 
35 
Na Assistência Social, o papel dos trabalhadores é fundamental, e a cada dia 
mostra-se mais urgente uma agenda para que possamos enfrentar esse desafio. 
Temos inúmeras secretarias que sequer possuem quadro próprio de pessoal. Em 
muitas regiões do Brasil, trabalhadores são obrigados a trabalhar em duas ou três 
cidades, para que possam ganhar um salário razoável. O financiamento dos CRAS e 
CREAS mostram que ainda estamos longe de um debate salarial para os 
trabalhadores. Não imagino o futuro do SUAS sem uma política real dirigida aos 
trabalhadores. Vale aqui destacar que essa é uma responsabilidade tripartite (União, 
Estados e Municípios). 
A Produção de Conhecimento deve ser uma preocupação real. Em outras 
políticas, como a de Saúde, temos espaços importantes nas universidades, debatendo 
as práticas de intervenção e provocando, através de ensaios, artigos e seminários, 
novas tecnologias de atuação e intervenção. 
E na Assistência Social? Quem assume esse papel? Nos cursos de Serviço 
Social, por exemplo, o que vemos é um distanciamento total do SUAS, chegando ao 
ponto de alunos do último ano do curso nunca terem tido uma aula sobre sua história, 
seus compromissos e seus desafios. 
À medida que as universidades estão distantes e descompromissadas com o 
futuro do SUAS, temos um sério problema, pois precisamos produzir conhecimento 
sobre a prática diária do Sistema Único da Assistência Social. Sem isso, temos um 
imobilismo preocupante para a oxigenação do sistema. Sem produção de novos 
debates e novas interpretações de uma agenda, corremos o risco de viver paralisias 
pontuais na construção do SUAS. 
O SUAS poderá ser de fato uma realidade nacional, se ampliarmos nossas 
alianças e entendermos que ele é o desdobramento de um longo processo. Ao 
olharmos para sua história e para esse processo, poderemos ter a dimensão de que 
essa trajetória é marcada por avanços e desafios. 
Eu sigo animado. Sei que os desafios são inúmeros, mas, quando olho para os 
últimos 50 anos, vejo que os avanços foram possíveis e que poderemos avançar ainda 
mais, se de fato, como Guimarães Rosa, entendermos que a "vida é um mutirão de 
todos”. 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
 
36 
BRASIL. Constituição da República Federativa doBrasil,1988. 
BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social, 1993. 
POLÍTICA NACIONAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL,1994. 
SPOSATI, Aldaisa. A Menina Loas - um processo de construção da Assistência Social. 
SãoPaulo:Cortez,2005. 
SPOSATI, Aldaisa. Vida Urbana e Gestão da Pobreza.SãoPaulo:Cortez,1988.ABRANCHES, Sérgio et al. A assistência social na trajetória das políticas de 
assistência socialbrasileiras.SãoPaulo:Cortez,1987. 
ABRANCHES, Sérgio et al. Política social e combateàpobreza.Zahar,1986. 
FALCÃO, Maria do Carmo Brant et al. Os direitos dos desassistidos sociais. São 
Paulo: Cortez.1990. 
COSTA, Suely Gomes. Signos em transformação: a dialética de uma cultura 
profissional.SãoPaulo:Cortez.1995. 
FORMAÇÃO PROFISSIONAL E CURRÍCULO DOS CURSOS DE SERVIÇO SOCIAL. 
Serviço Social, n.32, São Paulo: Cortez.1990. 
 
 
37 
10 ARTIGO PARA REFLEXÃO 
AUTORES: Heber Rocha Silveira, Renato Eliseu 
Costa e Vivian Satiro de Oliveira 
Disponível em: 
http://www.cchla.ufrn.br/cnpp/pgs/anais/Artigos%20REVI
SADOS/A%20Descentraliza%C3%A7%C3%A3o%20de%20
Pol%C3%ADticas%20P%C3%BAblicas%20no%20Brasil%
20e%20o%20Sistema%20%C3%9Anico%20de%20Assist%
C3%AAncia%20Social.pdf 
Acesso: 31 de janeiro de 2017 
 
A Descentralização de Políticas Públicas no Brasil e o 
Sistema Único de Assistência Social 
 
Resumo 
O presente artigo tem como objetivo discutir a descentralização das políticas públicas no país e 
a sua relação com o combate à exclusão social. Para tanto faremos um estudo de caso do 
Sistema Único de Assistências Social, o SUAS, desenho de política nacional que garante os 
direitos sociais previstos pela Constituição de 1988 e consolida a visão da Assistência Social 
como um direito a ser efetivado por meio de políticas públicas e não de ações voluntaristas do 
Estado. Deste modo, este artigo está dividido em quatro pontos, analisados por meio de revisão 
bibliográfica: a) O Estado de bem estar social; b) A descentralização das políticas públicas pós 
Constituição e suas implicações no desenho das políticas; c) A pobreza no Brasil e sua evolução 
histórica; e por fim; d) A construção e implementação do SUAS no Brasil e os principais desafios 
para sua consolidação. 
 
Introdução 
A Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, fincou um novo 
marco na formulação e implementação das políticas públicas, haja vista que conferiu 
autonomia políticoadministrativa aos municípios. Estes passaram a ser entes da 
federação e ter capacidade e autonomia em formular e implementar políticas. Esta 
situação trouxe consigo o desafio da coordenação intergovernamental na gestão 
pública. 
A descentralização está inserida no contexto da redemocratização, sendo um 
processo, sobretudo político, e não meramente técnico-administrativo, tendo como 
tese a proposta de restaurar a federação, através do aumento do poder político e 
tributário das entidades subnacionais, e o de consolidar a democracia, por meio do 
 
38 
empoderamento (emporwerment) das comunidades locais no processo decisório das 
políticas públicas. 
Uma das soluções propostas para enfrentar o desafio da coordenação, 
provindas desta centralização, é a criação de sistemas nacionais de políticas, tal como 
foi o caso do SUS, Sistema Único de Saúde, que reúne os três entes da federação – 
União, estados e municípios - no financiamento e gestão do sistema, evitando assim 
possíveis sobreposições no oferecimento de políticas. Outras políticas setoriais estão 
aderindo ao modelo de sistemas, como é o caso da política de Assistência com a 
criação, em 2005, do SUAS – Sistema Único de Assistência Social. 
O Sistema Único de Assistência Social é um desenho de política nacional 
formulado para garantir que os direitos sociais previstos pela Constituição sejam 
garantidos. Este sistema é resultado de quase vinte anos de debates e operacionaliza 
elementos postos na Carta Magna de 1988, integrando definitivamente a Assistência 
Social, como pilar, juntamente com saúde e previdência social, da seguridade social. 
O SUAS consolida a visão de que a Assistência Social é um direito que deve ser 
efetivado por meio de políticas públicas e não uma ação voluntarista do Estado para 
com os pobres. Ponto de extrema relevância considerando a problemática da pobreza, 
herança histórica que perpassa a construção social do Brasil. 
Desta forma, o presente artigo pretende contribuir para o debate sobre a 
descentralização das políticas públicas no país e a sua relação com o combate à 
exclusão social e à pobreza, através do Sistema Único de Assistência Social. 
Para tanto este artigo está dividido em quatro campos de análise: a) O Estado 
de bem estar social (Welfare State) e a construção da cidadania no Brasil; b) A 
descentralização das políticas públicas pós Constituição de 1988 e suas implicações 
no desenho das políticas; c) A pobreza no Brasil e suas evolução histórica; e por fim; 
d) A construção e implementação do SUAS e os principais desafios para sua 
consolidação. 
 
1. Estado de bem estar: uma construção histórica 
1.1- A constituição do Welfare State e sua destituição 
O Welfare State surge como resultado da luta da classe trabalhadora. A 
primeira grande crise do capital, com a depressão de 1929-1932, seguida dos efeitos 
da Segunda Guerra Mundial, abalou fortemente a visão liberal acerca do papel do 
 
39 
Estado. A partir desse momento consolidou-se uma visão da necessidade de 
regulação estatal na economia para enfrentar os problemas sociais. Segundo Pierson 
(1991) isto só foi possível por conta da conjugação de alguns fatores, tais como: a) 
estabelecimento de políticas keynesianas com vistas a gerar pleno emprego e 
crescimento econômico num mercado capitalista liberal; b) instituição de serviços e 
políticas sociais objetivando criar demanda e ampliar o mercado de consumo; e c) um 
amplo acordo entre esquerda e direita, entre capital e trabalho, na garantia de direitos 
trabalhistas. 
Após a segunda guerra mundial houve o estabelecimento de uma aliança entre 
classes, o que só se viabilizou devido ao abandono, por parte dos partidos socialistas, 
do projeto de socialização, trocaram a interpretação de Marx pela de Keynes 
(Przeworsky, 1989). As alianças entre partidos de esquerda e direita permitiram 
acordos e compromissos, viabilizando a aprovação de diversas legislações sociais e 
a expansão do chamado Walfare State (Pierson, 1991). 
A hegemonia dos partidos social-democratas, que ascenderam ao poder, 
institucionalizou a possibilidade de estabelecimento de políticas abrangentes e 
universais, ampliando a cidadania1. Isso ocorreu em virtude do dispêndio, por parte 
dos Estados Nacionais, de mais recursos públicos para a expansão dos direitos 
sociais. 
A expansão do capitalismo, de 1945 a 1973, chamada por Eric Hobsbawn 
(1995) de a “Era de Ouro do Capitalismo”, sustentou a aliança entre o capital e o 
trabalho para manter o Welfare State. Entretanto, com o declínio da produção 
capitalista, reforçada pela crise do petróleo em 1973, o processo de produção e 
reprodução capitalista, adentra um período de esgotamento da perspectiva de 
regulação keynesiana das relações econômicas, políticas e sociais e do compromisso 
firmado entre as classes sociais, entre esquerda e direita, entre capital e trabalho para 
gerar crescimento econômico com garantia de proteção social aos trabalhadores 
(Behring & Boschetti, 2007). 
O chamado Estado de Bem Estar Social, estabeleceu-se como um mediador 
na regulação das relações capitalistas na fase de ouro. O período pós-1970 marca o 
avanço de ideias neoliberais que começam a ganhar terreno a partir da crise 
 
1 Entende por cidadania, bem como sua evolução, o conceito trabalhado por T. H Marshall em “Cidadania, 
classe social e status” Rio de Janeiro, Zahar, 1967. 
 
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capitalista de 1969-1973. O baixo crescimento econômico aliado as altas taxas de 
inflação foram o fermento necessário para dar vazão aos argumentos dessa corrente 
de pensamento que criticava o Estado social e o 'consenso' do pós-guerra que 
permitiram a instituição do Welfare State (Behring & Boschetti, 2007). 
 Os neoliberais defendem uma agenda programáticaem que o Estado não deve 
intervir na regulação do comércio exterior e tampouco na regulação de mercados 
financeiros, pois o livre movimento de capitais garantiria maior eficiência na 
redistribuição de renda (Navarro, 1998 apud Behring & Boschetti, 2007). Ademais, 
defendem a estabilidade monetária como meta primeira, o que só seria assegurado 
por contenção dos gastos sociais e manutenção da taxa 'natural' de desemprego, 
associada a reformas fiscais, com redução de impostos para os altos rendimentos 
(Anderson, 1995 apud Behring & Boschetti, 2007). 
O século XXI se inicia com transformações profundas nas políticas sociais nos 
países capitalistas centrais e consequentemente nos países periféricos. A 
reestruturação do capital em curso desde o levante do neoliberalismo na década de 
1980 afetou o modelo de Estado, abalando as bases do Welfare State. Dessa forma, 
os baluartes do neoliberalismo começam a impor na agenda internacional conceitos 
como restrição, seletividade e focalização, acompanhadas de políticas de 
operacionalização dessas diretrizes. Rompem com os compromissos e consensos do 
pós-guerra, que permitiram a expansão do Estado de Bem Estar Social. Há todo um 
debate teórico, conceitual e político sobre os rumos do Welfare State, algumas 
correntes afirmam a possibilidade de retorno à sua áurea fase, como parte da solução 
para o enfrentamento da crise, e há aqueles que se rendem à ideia de sua 
inviabilidade e pleiteiam o pluralismo de bem-estar, baseado na articulação entre 
Estado, mercado e sociedade na provisão social (Johnson, 1990 apud Behring & 
Boschetti, 2007). 
 
2. Cidadania no Brasil 
A cidadania no Brasil foi marcada por avanços e recuos em termos de direitos. 
Não seguimos a definição clássica de Marshal2, dividida em três gerações de direitos: 
direitos civis, no século XVIII; os direitos políticos, no século XIX, e; os direitos sociais, 
 
2 T.H Marshall em Cidadania, Classe Social e Status. 1967 
 
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no século XX. No Brasil houve momentos da história que houve direitos sociais sem 
os civis, como no regime militar. Segundo José Murilo de Carvalho3 os avanços dos 
direitos políticos, após o movimento de 1930, foi limitado e sujeito a sérios recuos, o 
mesmo não ocorrendo com os direitos sociais. Desde que chegou ao poder, Getúlio 
Vargas despendeu atenção a questão trabalhista e social. Uma enorme quantidade 
de leis foi elaborada e promulgada, resultando mais tarde na Consolidação das Leis 
do Trabalho (CLT) em 1943. A CLT, introduzida no Estado Novo, teve longa duração, 
permaneceu e passou pelo processo de democratização de 1945 e ainda permanece 
em vigor até os dias atuais. A era Vargas, período entre 1930 a 1945 foi o momento 
da legislação social, pautado e implementado com baixa participação política e 
precária vigência dos direitos civis e políticos “Este pecado de origem e a maneira 
como foram distribuídos os benefícios sociais tornaram duvidosa sua definição como 
conquista democrática e comprometeram em parte sua contribuição para o 
desenvolvimento de uma cidadania ativa” (Carvalho, p.110). 
A Constituição de 1988 definiu e consolidou os direitos civis, políticos, sociais 
e os chamados direitos difusos. Foi um marco no que se refere aos direitos sociais. 
Ao mesmo tempo, trouxe enormes desafios no que diz respeito às políticas públicas 
de efetivação destes direitos para a população, sobretudo no que tange a 
desigualdade social. 
A Constituição cidadã de 1988 teve o grande mérito de propor direitos sociais 
como direitos universais e inalienáveis do cidadão, rompendo com a lógica da 
cidadania regulada 4 , onde a lógica de direitos era corporativa, prevalecia às 
corporações profissionais no atendimento aos direitos, privilegiando os trabalhadores 
formais, ainda mais certas categorias e excluindo a grande parte dos trabalhadores, 
que por serem informais (tanto urbanos e sobretudo rurais) ficaram a margem do 
acesso aos direitos sociais. 
“Essa é uma gente desprovida de qualquer sistema público de proteção 
social. Mas é também uma gente que transita em um mundo social que 'não 
existe' do ponto de vista legal. Não existe pois as margens das regras formais 
da 'cidadania regulada' que, apesar de todas as mudanças porque passou o 
país nas últimas décadas, mantém operante o princípio excludente montado 
nos anos 30. Não deixa de ser espantosa uma arquitetura institucional que 
sempre manteve mais da metade da população fora e à margem do “Brasil 
legal”. Fora e a margem do Brasil legal, porém submersa em uma intrincada 
 
3 José Murilo de Carvalho em Cidadania no Brasil: o longo caminho. 2008. 
4 Ver mais em Wanderley Guilherme dos Santos em “Cidadania e Justiça – A política social na ordem brasileira” 
(1979). 
 
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e obscura rede de relações que articulam miríades de organizações 
filantrópicas e o próprio Estado. Se é verdade que a matriz corporativa dos 
direitos produz a figura da pobreza incivil sabe-se hoje que a tradição 
assistencial não começa com o Estado getulista, mas com a filantropia 
privada cujas origens remontam ao Brasil colonial (…) Trabalho e pobreza 
transformam-se, assim, em dois modos antinômicos de existência social. 
Diante de uma figura normativa do trabalhador que dá provas da sua 
capacidade para a vida em sociedade e, portanto, tem o privilégio da proteção 
do Estado, a figura do pobre é inteiramente desenhada em negativo sob signo 
da incapacidade e impotência, fazendo da ajuda a única forma possível para 
os assim definidos 'carentes' se manterem em sociedade” (Telles, 2006). 
A Assistência Social tornou-se um direito social, assegurado pela Constituição, 
devendo ser operacionalizada pelo Estado por meio de políticas públicas. Juntamente 
com a Saúde e a Previdência, compõe o tripé da seguridade social como exposto no 
artigo 194 da Constituição Federal. No artigo 204, o primeiro inciso afirma que a 
política de Assistência Social deverá ser executada de forma descentralizada, 
rompendo com a lógica centralizadora que imperou nos serviços sociais no Brasil até 
a promulgação da Constituição. 
Antes, porém, de entrarmos na descentralização da política cabe fazer uma 
contextualização da descentralização de forma mais ampla, para compreendermos 
em que contexto está inserido o sistema único de assistência social. 
 
3. A descentralização no Brasil 
A descentralização está inserida no contexto da redemocratização. A 
descentralização é um processo, sobretudo político, e não meramente técnico-
administrativo. A tese proposta na descentralização foi restaurar a federação, através 
do aumento do poder político e tributário das entidades subnacionais, e o de 
consolidar a democracia, por meio do empoderamento (emporwerment) das 
comunidades locais no processo decisório sobre políticas públicas. 
Marta Arretche (1996) discute os principais argumentos pró-descentralização. 
Citando Borja (1988) como um dos grandes defensores da descentralização como 
uma forma de ampliar a participação, dentre as principais vantagens deste fenômeno 
seria: superação das tendências a setorialização, ao burocratismo estatal, à distância 
entre os atores sociais, consistindo na criação de instituições com capacidade de 
atuação global que sejam representativas e que correspondam aos atores sociais, 
identificados entre si; geração de uma maior proximidade democrática no âmbito local; 
redução dos problemas colocados pelas instituições nacionais de democracia 
 
43 
representativa e; geração de comportamentos políticos e econômicos alicerçados em 
uma maior iniciativa e menor dependência do Estado. 
Esta visão acerca da descentralização influenciou diversos grupos e partidos 
políticos de esquerda em países da América Latina na década de 1980. Via na 
descentralização uma forma de aproximar o poder político o mais próximo do cidadão,rompendo a tradição hierárquica do Estado. Os primeiros governos de esquerdas, por 
exemplo, no Brasil, implantaram experiências bemsucedidas de participação popular 
nas gestões municipais, como foi o caso do Orçamento Participativo, garantindo assim 
que eram possíveis formas de democracia participativa e direta no âmbito municipal. 
Na outra vertente, a liberal, inspirada no modelo político dos EUA e nos 
tradicionais princípios do liberalismo político, a descentralização seria um canal de 
fortalecimento da vida cívica – portanto, da sociedade civil – sufocada por um Estado 
excessivamente centralizado, um dos grandes teóricos do pensamento político 
moderno a trabalhar esta questão foi Alexis de Tocqueville, analisando a democracia 
americana (Arretche, 1996). 
A descentralização provocou uma forte mudança da agenda de 
responsabilidades para os municípios a partir da Constituição, que até então eram de 
competência da esfera federal e estadual. A descentralização está inserida dentro de 
um contexto marcado pela disputa da formação e definição da agenda. Segundo 
Farah (2001), a descentralização tinha dois significados. De um lado havia a 
concepção neoliberal de Estado mínimo, na qual cabia a este privatizar a provisão de 
bens públicos e o governo central descentralizarem os serviços para garantir maior 
eficiência. A outra visão da descentralização afirma que esta tem a missão de 
promover a redistribuição de poder, favorecendo a democratização das relações entre 
Estado e sociedade. Esta concepção de descentralização fez um contraponto à onda 
neoliberal do final dos anos 80 e início dos 90. 
Esta mesma autora afirma que a agenda da descentralização, será composta 
por elementos das duas visões, “a preocupação com a eficiência e a eficácia se 
articula à orientação para a equidade e para a democratização dos processos 
decisórios, envolvendo tanto alterações institucionais – com ênfase na 
descentralização – quanto novos padrões de relação entre Estado e sociedade” 
(Farah, 2001. p.130). Farah apresenta os principais pontos da descentralização: 
 
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• Transferências de atribuições e competências do governo central e da esfera 
estadual de governo para o governo municipal, com ênfase nas atribuições que 
dizem respeito à cidadania social; 
• Resposta a reivindicações da sociedade civil pela descentralização das 
políticas sociais, desde o início da década de 1980; 
• Aumento significativo da participação dos municípios na repartição dos 
recursos fiscais desenhadas a partir da Constituição de 1988; 
• Maior proximidade do governo local com relação às demandas da população, 
o que assume relevância num quadro democrático; 
• Insuficiência das respostas do mercado como alternativa ao “desmonte” do 
Estado (e de suas políticas) no nível federal e “necessidade”, portanto, de 
formulação de respostas no nível local. 
 
Estes itens descritos, segundo Farah, propiciaram a elevação da importância 
da ação municipal. Este novo arranjo institucional da federação gerou vários 
desdobramentos, dentre eles: necessidade de desenhos de políticas municipais 
integradas para serem mais efetivas no atendimento de um mesmo público alvo; 
articulação com atores da sociedade civil, articulação com outros municípios 
(consórcios intermunicipais) e os governos locais assumindo uma postura de 
coordenação e de mobilização de governos e organizações não governamentais em 
prol de atender as diversas demandas de seu território. 
 
3.1 - Descentralização das políticas sociais 
 Segundo Souza (2004) há duas variáveis centrais que explicam a 
descentralização das políticas sociais, quais sejam: desenho institucional da política 
e apoio do Executivo federal na liberação de recursos. A primeira variável, desenho 
institucional, é importante, pois possibilitou a criação de mecanismos de recompensas 
e sanções, regras claras e universais. Isto por sua vez possibilitou um leque de 
incentivos para os municípios aderirem aos programas e políticas públicas de 
descentralização, isto é, na oferta de serviços públicos. A segunda variável, apoio do 
Executivo federal, foi importante na medida em que o governo federal além de ter isso 
como tema prioritário na agenda, garantiu um desenho institucional irrigado de 
recursos federais. 
 
45 
“O desenho institucional da política – moldado em torno de mecanismos de 
recompensas e sanções, regras claras e universais – e o apoio do Executivo 
federal na liberação regular dos recursos parecem ser as variáveis mais 
importantes para a transferência de responsabilidades de implementação 
para os governos locais” (Souza, 2004, p.37). 
Seguindo o argumento, Souza expõe que a descentralização/municipalização 
não significou necessariamente a transferência de capacidade decisória para as 
esferas subnacionais, mas sim a delegação na implementação das políticas sociais 
universais. A experiência brasileira mostra que as relações entre os níveis de governo 
evoluíram para um sistema que mistura recompensas e sanções, o que reduziu o grau 
de conflito entre os níveis de governo, ao mesmo tempo em que restringiu a autonomia 
de poder decisório dos governos locais, previstos pela Constituição de 1988. 
“A experiência brasileira também mostra que as relações 
intergovernamentais evoluíram para um sistema lubrificado por recompensas 
e sanções, o que reduziu o grau de conflito entre os níveis de governo, mas, 
ao mesmo tempo, restringiu a autonomia de gasto e de decisão concedida 
aos governos locais pela Constituição de 1988” (Souza, 2004, p.37). 
O Brasil possui 5565 municípios5 distribuídos em 26 estados mais o distrito 
federal. Como exposto por Celina Souza, a constituição de 1988 proveu uma forte 
descentralização de políticas públicas nem todos com recursos necessários para 
implementar políticas e/ou com estrutura administrativa adequada para gerir os 
programas. Portanto, a coordenação intergovernamental dos programas em forma de 
sistema torna-se fundamental para o sucesso do mesmo. 
 
4 – Obstáculos do Sistema de Proteção Social Brasileiro: A pobreza 
O Brasil é o quinto país do mundo e o primeiro da América do Sul em extensão 
territorial, com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 1, 803 trilhões, possui 
atualmente uma população6 com cerca de 190 milhões de pessoas, residentes em 
5.564 municípios. Todavia trata-se de um país que também surpreende pelos 
números de suas dificuldades sociais. Atualmente são mais de 5010 milhões de 
indivíduos em situação de pobreza, residindo em um país com uma das mais cruéis 
distribuições de renda do mundo. 
 
5 IBGE (2010). Informações disponíveis no seguinte endereço eletrônico 
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2009/default.shtm. Acessado em 15/05/2010. 
6 Disponível em http://www.ibge.gov.br/mtexto/popclock.php 
10 Rocha, 2006. 
 
46 
A construção de uma ideia a respeito da realidade social brasileira depende, 
em grande medida, do entendimento do maior problema social existente no país: a 
pobreza. Embora seu conceito e possíveis causas ainda sejam muito debatidos, 
atualmente adota-se uma visão de múltiplos fatores responsáveis e se tem como 
definição mais difundida a caracterização de uma situação de carência (econômica) 
a qual os indivíduos expostos não possuem o mínimo necessário para satisfazer 
necessidades elementares como alimentação, saúde, educação, transporte, e 
habitação (Rocha, 2006). 
Ainda que bastante propagada, a definição acima é altamente criticada por 
Amartya Sen (2000), segundo o autor a insuficiência econômica é um dos fatores 
responsáveis pela pobreza, mas não o único. Por meio de analogia com a história do 
tigre de Bengala 7 , Sen refuta a idéia de que as carências econômicas sejam 
imperativas de solução vis-à-vis necessidades como liberdades políticas e direitos 
civis. 
 Isso não significa que o autor

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