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1 Beatriz Machado de Almeida Neurologia – Aula 3 Introdução Considerando que os nervos cranianos têm funções específicas, é possível localizar e topografar as lesões a partir do acometimento dessas funcionalidades. São 12 pares numa distribuição craniocaudal de 1 → 12, com nomes específicos e funções das mais diversas possíveis: aferentes → sensibilidade; eferentes → motora somáticas e viscerais; funções eferentes gerais e especiais e aferentes especiais. Nervo craniano Função I – Olfatório Sensitiva Percepção do olfato II - Óptico Sensitiva Percepção visual III – Oculomotor Motora Controle da movimentação do globo ocular, da pupila e do cristalino IV – Troclear Motora Controle da movimentação do globo ocular V – Trigêmeo Mista Controle dos movimentos da mastigação (ramo motor); Percepções sensoriais da face, seios da face e os dentes (ramo sensorial) VI – Abducente Motora Controle da movimentação do globo ocular VII – Facial Mista Controle dos músculos faciais – mímica facial (ramo motor); Percepção gustativa no terço anterior da língua (ramo sensorial) VIII – Vestibulo- coclear Sensitiva Percepção postural originária do labirinto (ramo vestibular); Percepção auditiva (ramo coclear) IX – Glossofaríngea Mista Percepção gustativa no terço posterior da língua, percepções sensoriais da faringe, laringe e palato X – Vago Mista Percepções sensoriais da orelha, faringe, laringe, tórax e vísceras. Inervação das vísceras torácicas e abdominais XI – Acessório Motora Controle motor da faringe, laringe, palato, dos músculos esternocleidomastoideos e trapézio XII - Hipoglosso Motora Controle dos músculos da faringe, da laringe, da língua Localizações • Olfatório (I) → telencéfalo; • Óptico (II) → diencéfalo; • Oculomotor (III) e troclear (IV) → mesencéfalo; • Trigêmeo (V), abducente (VI), facial (VII) e vestibulococlear (VIII) → ponte; • Glossofaríngeo (IX), vago (X), acessório (XI) e hipoglosso (XII) → bulbo. Funções que os nervos realizam e as principais ligações funcionais que esses nervos estabelecem. Nervo craniano I – olfatório • Localizado no telencéfalo; • Nervo mais recente, evolutivamente falando; • Exclusivamente SENSITIVO; • Sua única função é o OLFATO; • Fibras amielínicas (fibras lentas) conduzem impulsos olfatórios denominados aferentes viscerais especiais, a partir dos receptores olfatórios; • É o único nervo que não tem nenhuma relação tronco-encefálica – é diretamente telencefálico; Pares cranianos 2 Beatriz Machado de Almeida Neurologia – Aula 3 • As informações olfatórias são processadas em áreas primitivas do cérebro. Ligação de moléculas odoríferas aos receptores olfatórios localizados no epitélio olfatório. OBS.: O ar aspirado tem maior probabilidade de gerar olfação do que o ar respirado. OBS.: O SISTEMA NERVOSO SERVE COMO TRANSDUTOR DE ENERGIA – ele traduz energias para formas eletroquímicas. O nervo fica localizado na concha nasal superior. As vesículas olfatórias com receptores ficam localizados na extremidade distal do nervo e têm relação com substâncias específicas. Supostamente existem 46 tipos de vesículas diferentes que conseguem perceber 46 tipos de substâncias químicas odoríferas específicas. Essas substâncias representam energia química. Então, o receptor transdução a energia química para fazer a despolarização de um grupo de neurônios relacionados com a especificidade daquela substância. Estímulo de células bipolares localizadas no epitélio olfatório O nervo atravessa a lâmina cribiforme do osso etmoide (tem grande relação com a base do crânio) até chegar ao bulbo olfatório onde se dará o neurônio de segunda ordem, que é o neurônio que vai levar essa informação para o telencéfalo. OBS.: Uma das queixas mais comuns entre os pacientes com COVID-19 tem a ver com incapacidade olfatória, então, a lesão causada pelo Sars-Cov-2 se dá no bulbo olfatório, na comunicação entre percepção odorífera e a capacidade de reconhecimento que se dá no telencéfalo. Os axônios dos neurônios de segunda ordem seguem pelos tratos olfatórios situados nos sulcos olfatórios sob os lobos frontais no assoalho da fossa anterior do crânio. Molécula odorífera → nervo olfatório → lâmina crivosa → bulbo olfatório → telencéfalo. Ao chegar no bulbo olfatório, existem dois caminhos possíveis para informação olfatória: • Estria olfatória medial para o telencéfalo (área pré-frontal bastante antiga), área responsável, supostamente, pelo reconhecimento dos cheiros. • Estria olfatória lateral e vai se comunicar com a região do hipocampo – para-hipocampal, responsável pela memória relacionada a tal cheiro. O nervo olfatório é tipicamente lateral, então as informações que seguem através da esquerda e direita nos bulbos olfatórios (que são bilateralmente localizados), atravessam bilateralmente e dificilmente a informação olfatória é perdida completamente. Exame clínico Existem vários kits com diversas substâncias odoríferas não irritativas e capazes de serem utilizados nos testes, porém, quase não era utilizado. No contexto da COVID, esse exame ganhou uma relativa importância. As narinas são testadas individualmente, em que se faz a oclusão de uma e a oferta da substância odorífera a outra. Testa-se a capacidade de reconhecer o odor de uma substância facilmente reconhecida no contexto do dia a dia humano normal. 3 Beatriz Machado de Almeida Neurologia – Aula 3 As queixas mais comuns relacionadas à dificuldade de perceber os cheiros estão relacionadas com anosmia e hiposmia, que é a diminuição ou ausência do olfato. Hiperosmia, que é o exagero, é a mais comum e é uma questão mais psiquiátrica do que neurológica, mas a parosmia é uma questão praticamente neurológica, que é quando você percebe odores diferentes dos quais a substância gera. Tem mais a ver com lesão cerebral, crises epilépticas... Quando a queixa é unilateral, a questão mais relacionada vai ser impossibilidade de ar chegar até os receptores, então rinossinosopatias e desvio de septo vão ser responsáveis pela anosmia ou hiposmia unilateral que é a principal queixa. Quando a queixa é bilateral, é mais com a parte central, ou seja, bulbo ou cérebro bilateralmente. No caso da anosmia ou hiposmia bilateral, lembrar sempre da relação do nervo olfatório com a base do crânio e a possibilidade de lesões da base do crânio, TCEs. Nervo craniano II - óptico • Responsável pela acuidade visual, campo visual, visão de cores; • Única função de interesse do neurologista é a CAMPIMETRIA VISUAL; O nervo óptico é o prolongamento de uma estrutura que foi desenvolvida para traduzir energia luminosa em energia eletroquímica. Existe uma série de camadas na retina, na qual as principais são: camada de células fotorreceptores, onde estão localizados os cones e bastonetes (que são os receptores luminosos e principais estruturas capazes de fazer essa transdução do sinal). Eles recebem a luminosidade, traduzem em informação eletroquímica, segue a informação através da camada de células bipolares até chegar na camada de células ganglionares e os prolongamentos/axônios dessas células formam o nervo óptico. Os bastonetes são para visão em baixa luminosidade, visão mais noturna e mais periférica. Os cones são para visão de altíssima luminosidade, mais do dia e são capazes de gerar as cores a partir de uma estruturação basal. Cones e bastonetes → células bipolares → células ganglionares → nervo óptico → quiasma óptico → trato óptico → corpo geniculado lateral → radiações ópticas → lobo occipital Então, depois que os axônios das células ganglionares saem do globo ocular pela região da fóvea, eles se dividem em: • Retina nasal: a luz incide vindado campo visual temporal. As fibras cruzam para o lado contralateral no quiasma óptico. Então, p. ex. a informação da retina nasal do olho esquerdo e a da retina temporal do olho direito, seguem juntas para que haja a percepção luminosa do olho direito no hemisfério cerebral direito. • Retina temporal: incide a luz vinda do campo visual nasal. Então segue esse entrecruzamento como trato óptico até a chegada na região do colículo superior no mesencéfalo, depois vai haver as radiações ópticas que levarão a informação visual até o lobo occipital, que é a área visual primária. OBS.: lesão do nervo óptico é uma neuropatia óptica. • Heterônima: quando há lesão nas retinas nasais ou nas retinas temporais de ambos os olhos. Elas estão captando informações do campo visual que são divergentes, um capta informação do campo visual esquerdo e outro do direito (os dois campos de fora (lateral) estão comprometidos ou os dois de dentro (medial)). Ex.: quando a lesão se dá na retina temporal do olho direito e na retina temporal do olho esquerdo, há um comprometimento dos campos visuais binasais. Quando houver o comprometimento das retinas nasais de ambos os olhos, o problema é necessariamente no quiasma. • Homônima: quando há o comprometimento do campo nasal de um olho com o campo temporal do outro olho. Ou seja, captam informação visual de um campo visual completo, direito ou 4 Beatriz Machado de Almeida Neurologia – Aula 3 esquerdo, se darão a partir do quiasma, serão lesões pós-quiasmáticas. Quando for pós-quiasmática pode ser trato, radiações ou lobo occipital. a) Uma lesão nesse ponto corta tanto fibras da retina nasal como temporal de um olho. Isso faz com que toda a visão desse olho seja perdida, causando cegueira completa, amaurose. OBS.: quando a queixa do paciente é uma dificuldade de enxergar do ponto de vista monocular, a lesão vai ser obrigatoriamente pré- quiasmática, seja do nervo óptico ou do globo ocular. b) Lesão central no quiasma. Como no quiasma tem o cruzamento, essa lesão pega apenas as fibras nasais de cada olho. A retina nasal vê lateral, então nesse caso, vai ocorrer uma alteração visual no campo lateral, fica só a percepção medial da visão, porque as retinas temporais vão ficar preservadas. Chamado de hemianopsia heterônima. Essas lesões são representadas, p. ex., por tumores da hipófise (já que o quiasma repousa na sela túrcica do osso esfenoide, onde se localiza a hipófise). c) Perde o campo medial da visão. d) Tem a nasal de um lado com a temporal de outro lado. A nasal do olho esquerdo, vê a parte lateral da visão deste olho e a temporal do olho direito, vê o lado medial deste olho. Então, há uma perda do campo visual esquerdo dos dois olhos, chamado de hemianopsia homônima. (campos iguais atingidos). e) Nesse local, onde já tem as fibras mais separadas e pode ocorrer uma lesão parcial, ou seja, algumas fibras passam e outras lesam. Então fica apenas o quadrante daquela região que estava sendo vista por aquelas fibras. Chamado de quadrantopsia. f) É uma lesão mais extensa, porque pega todas as fibras que vieram da retina nasal e temporal. Igual d. Diferencia-se D de F, a partir do comprometimento fotomotor! Em D há o comprometimento do reflexo fotomotor, pois as fibras retinotectais param no mesencéfalo levando a um acometimento pupilar. Em F a lesão do lobo occipital não tem esse comprometimento do reflexo fotomotor, não tem acometimento pupilar. Dessas informações, consegue-se topografar a origem da lesão, sem a necessidade de exames de imagem. Boa parte das fibras que saem da retina e chegam ao colículo superior do mesencéfalo, são fibras retinotectais, que levam informação a ser trabalhada no reflexo fotomotor, já que o nervo oculomotor está localizado no mesencéfalo, então essas fibras que são retinotectais que vão gerar o reflexo fotomotor direto e consensual, acabam no mesencéfalo, daí, quando a lesão é no trato óptico de uma queixa homônima, se dará através da representação que gerará um déficit pupilar. A lesão pós-quiasmática e occipital não gerará um déficit pupilar, então não se consegue topografar clinicamente. Quando houver dúvida, no caso de uma lesão pré- quiasmática, se o problema é do globo ocular ou apenas neuropática, deve-se realizar a fundoscopia. Fundoscopia A fundoscopia consegue dizer se o problema é do globo ocular ou se é exclusivamente neuropático, daí, consegue-se, com o oftalmoscópio, topografar toda e qualquer lesão da via óptica, com qualquer déficit de campo visual. Acuidade visual LESÕES • Nervo óptico; • Maculares extensas; • Quiasma óptico; • Occipitais; • Retroquiasmáticas. A acuidade visual é dada, principalmente, através do cartão de Snellen, é uma função exclusiva da oftalmologia. 5 Beatriz Machado de Almeida Neurologia – Aula 3 Percepção da cor • Lesões pré-quiasmáticas; • Lesões do nervo óptico; • Lesões coriorretinianas; Neuropatia isquêmica Neurite óptica • A cor é importante na alteração da função visual de causa neurológica. • Para o teste da percepção das cores é utilizado o Cartão de Ishihara. A percepção das cores, representada pelos déficits possíveis das cores primárias dos cones, o que existe, por exemplo, no daltonismo, é um percentual de não existência de algum tipo especifico de cone (não ter alguma porcentagem de uma das cores primárias), ou seja, são percentuais de comprometimento na formação desses cones que geram o daltonismo, e os testes de Ishihara são muito úteis para identificar. A acromatopsia, quando o paciente não enxerga nenhuma cor, é raríssima. Nervo III, IV e VI – oculomotor, troclear e abducente • Diplopia; • Motilidade extrínseca; • Motilidade intrínseca; • Pupilas. Os seres humanos não divergem a movimentação ocular, os olhos sempre se seguem para que a imagem formada na retina seja a máxima possível. Essa acuidade só existe por causa da movimentação conjugada dos músculos inervados pelos nervos oculomotor, troclear e abducente, por isso, a lesão de algum desses nervos cursa com diplopia (formação de duas imagens), que é a NÃO formação correta da imagem em ambas as retinas. Então, esses nervos são responsáveis pela motilidade extrínseca da musculatura (voluntária), pela motilidade intrínseca, da pupila, “guiada” pelo SNA, responsável pelo complexo oculomotor. Oculomotor Representa um complexo, uma série de núcleos que são motores, como o núcleo de Edinger-Westphal, que é autonômico, e que gera uma capacidade de inervar 4 dos principais músculos responsáveis pela motilidade ocular extrínseca, o reto medial, reto superior, reto inferior e oblíquo inferior. Além disso, o oculomotor inerva o constritor da pupila, ou seja, é responsável pelo reflexo fotomotor e o elevador da pálpebra por conta do seu núcleo de Edinger-Westphal, do SNA parassimpático. • Núcleos oculomotores; • Núcleos viscerais; • Subnúcleos; Abaixo temos algumas patologias que podem cursar com lesões no oculomotor: • Aneurisma (artéria comunicante posterior); • Herniação transtentorial (herniação temporal); • Meningite; • Isquemia do III nervo craniano (DM); • Isquemia do mesencéfalo. As lesões do oculomotor, quando completas, gerarão diplopia, ptose ou semi-ptose palpebral (por conta da contribuição com o elevador da pálpebra) e midríase pupilar, juntamente com um estrabismo divergente, por conta da ação tônica do reto lateral não contrabalançada pelo reto medial que estará lesionado. Troclear É o único nervo que sai posteriormente do tronco encefálico, lembrando que 3º e 4º NC são do mesencéfalo e inerva o oblíquo superior, que é o músculo relacionado com a leitura e com descer escadas, sua lesão representa uma posição muito específica da posição do olho que quandolesionado fica virado ou torcido mais inferiormente e para corrigir essa situação a pessoa precisa olhar inclinado, meio de lado. A patologia do troclear é exclusivamente a diplopia em algumas posições, raramente ocorre a lesão do troclear. Abducente O nervo abducente, sai da ponte, do sulco bulbopontino, e inerva o reto lateral, que realiza a abdução do olhar. 6 Beatriz Machado de Almeida Neurologia – Aula 3 As consequências de lesões do abducente são o estrabismo convergente e consequentemente, diplopia. Representando as lesões do oculomotor, do troclear e do abducente, essas são as consequências, particularmente a diplopia e cada um terá sua especificidade de avaliação. Lembrando sempre que no oculomotor é o estrabismo divergente e no abducente é o estrabismo convergente. Apresentando sempre diplopia, e quando for avaliado a movimentação ocular extrínseca ou intrínseca é quando será visto essas consequências de lesão. Fascículo longitudinal Medial Mirada conjugante O abducente é o nervo que percorre o maior caminho neurológico possível. Ele sai da ponte e vai para a fissura orbital superior para inervar o músculo reto lateral. Esse caminho é necessário por conta da movimentação conjugada dos olhos. Só é possível movimentar um olho se o outro olho também for movimentado. Processo de movimentação conjugada: existe uma região na ponte, que é chamada de região paramediana pontina, que está localizada ao lado do nervo abducente que é responsável pelo movimento horizontal dos olhos. Então, para isso é necessária uma estrutura que movimente os olhos horizontalmente a partir da ponte, por isso é necessário o nervo abducente. Se for olhar para o lado direito, ou seja, abduzir o olho direito, o cérebro do lado esquerdo chega até o lado abducente, na formação paramediana pontina do lado direito e passa a informação que precisa movimentar o abducente para a direita. A formação paramediana pontina informa ao abducente que precisa abduzir o olho direito. Automaticamente, sai o fascículo longitudinal medial do olho direito, que informa ao oculomotor do lado esquerdo que ele precisa ir junto. Quando abduz o olho direito, aduz também o olho esquerdo e ambos andam juntos nesse processo, por isso que precisa do abducente na ponte para poder chegar a essa conjugação perfeita da movimentação ocular. Nervo V – trigêmeo • Anatomia; • Sensibilidade superficial; • Motricidade; • Reflexos; • Neuralgia. Tem uma função motora que é a mastigação, mas é uma função mais relacionada ao sistema nervoso autônomo, é o eferente visceral a mastigação. Trata-se de uma função pouco importante porque ela é bilateral, então é raramente comprometida. A função mais importante do nervo trigêmeo é a sensibilidade superficial da face. A sensibilidade tátil, térmica, dolorosa, vibratória, de pressão é toda relacionada ao aferente sensitivo do nervo trigêmeo, que representa a face em três porções: o ramo oftálmico, o ramo maxilar e o ramo mandibular. É possível testar se existe uma ou mais vias comprometidas nesse processo. Normalmente a doença que mais compromete o nervo trigêmeo é a nevralgia do trigêmeo, que é uma doença idiopática que gera muita dor relacionada a um ou mais territórios do nervo trigêmeo, particularmente o V1 e o V2, a síndrome oftálmico- maxilar. Caracterizada por extremos ataques dolorosos relacionados a ponto de gatilho, que pode ser o consumo de substâncias geladas, a mastigação, até mesmo o simples ar de maneira intensa chocando a face. Felizmente é bem controlada atualmente, a maioria dessa doença é idiopática, mas existem algumas causas secundárias de neuralgia representadas particularmente pela alça vascular. Uma das artérias cerebelares pode repousar sobre um ou mais ramos do nervo trigêmeo e causar uma nevralgia tipicamente pulsátil. Uma outra doença que pode 7 Beatriz Machado de Almeida Neurologia – Aula 3 causar nevralgia secundariamente é a esclerose múltipla. O reflexo corneano ou córneo-palpebral, tem como via de entrada o nervo trigêmeo e de saída é o facial. Isso é mais exemplificado no exame do coma, não vai realizar em pessoas acordadas, a não ser situações muito específicas. Nervo craniano VII – facial • Funções motoras (corda do tímpano); • Anatomia; • Exame das funções motoras; • Gustação; • Paralisia facial. O nervo facial tem função de sensibilidade superficial da percepção sensorial do ouvido externo, motora da mímica facial, gustativa dos 2/3 anteriores da língua. Lembrar que 50% da gustação é da olfação, portanto, se não tiver olfato vai prejudicar a gustação. • A grande questão relacionada ao nervo facial é o comprometimento da mímica facial, representado pela paralisia facial: • Periférica: quando há o comprometimento de toda hemiface; • Central: quando há o comprometimento de apenas uma hemiface inferior, representada pelo fascículo cortico-nuclear do nervo facial, que vai gerar essa apresentação. O nervo facial que está localizado na ponte e possui dois subnúcleos: subnúcleos superiores e inferiores direito e esquerdo. Os superiores movimentam as hemifaces superiores, a região do olho e os inferiores representam a movimentação das hemifaces inferiores, a região da boca. Quando um nervo sai, ele é um tronco único que junta as duas metades e movimenta a hemiface por completo, daí que a lesão do nervo é facilmente entendida como uma lesão que gerará a perda da capacidade de movimentação da hemiface por completo. A lesão do nervo compromete o movimento de uma hemiface por completo. Na lesão do cortico-nuclear, que vem de cima, da região motora da face, quando o hemisfério cerebral esquerdo quer movimentar a hemiface direita, ela vai a partir do cortico-nuclear e lança a informação para o subnúcleo superior e para o subnúcleo inferior. Só que para preservar o movimento do olho e o ser o humano precisa preservar o olho, porque 60% das funções neurológicas são visuais, ele manda um ramo que inerva a metade superior ipsilateral (desenho verde). O contrário é verdadeiro quando o hemisfério direito quer movimentar a hemiface esquerda (desenho vermelho), ela manda um ramo para hemiface superior ipsilateral. Quando tem uma lesão a esquerda, perde-se a capacidade de movimentação do lado direito, mas não perde a capacidade de movimentação da hemiface superior direita. Esta é preservada por um contexto evolutivo de preservação do movimento do olho e, a paralisia facial central, gera a perda de movimentação apenas de uma hemiface superior. Quando a paralisia facial periférica do nervo gera perda de movimentação de toda uma hemiface. Por isso se tem paralisia facial central e paralisia facial periférica em contextos diferentes, por conta dessa peculiaridade de sempre se tentar preservar o movimento do olho. O olho é importantíssimo para o ser humano, e por conta disso, ele vai sempre tentar preservar do ponto de vista evolutivo. E quando tiver uma lesão no cérebro, não perde o movimento do olho, só perde o movimento do olho se lesionar o nervo. A doença mais relacionada com paralisia facial, principalmente a periférica, é a paralisia de Bell. Sendo uma doença idiopática, que apresenta uma reativação, supostamente de uma infecção herpética, que vai fazer o comprometimento do nervo facial e então, a paralisia facial periférica naquele contexto. 8 Beatriz Machado de Almeida Neurologia – Aula 3 Nervo craniano VIII – vestibulococlear • Anatomia; • Teste de Rinne e Weber; • Perda auditiva; • Exame do equilíbrio. Os nervos vestíbulo coclear representam função diferentes no mesmo nervo. Acontece que eles são representantes da função auditiva e da função do equilíbrio, a função vestibular. A função vestibular é consequênciada presença de um sáculo, utrículo e canais semi circulares, assim chamados aparelho vestibular, localizados no ouvido interno. São responsáveis principalmente pela coordenação do movimento da cabeça em relação ao corpo. Essa informação é captada perifericamente, a partir de mudanças gravitacionais, por isso ela tem essa configuração tão translocada, leva informação até a ponte e da ponte sai o fascículo vestíbulo-espinhal que vai coordenar o centro gravitacional humano com relação aos movimentos da cabeça. Por isso que a principal queixa do paciente com disfunção vestibular é o desequilíbrio na posição estática, ou seja, ele não consegue manter o centro de gravidade, por isso a prova de Romberg é útil nesse sentido. O paciente não consegue manter o equilíbrio estático, não consegue coordenar o equilíbrio e, vai ser responsável por essa tomada de postura adequada num paciente com não comprometimento do aparelho vestibular. Ou seja, quando movimenta a cabeça não perde a noção do centro gravitacional e o equilíbrio. Já a cóclea é o representante auditivo, a transformação de energia sonora em energia elétrica. A partir de uma membrana timpânica e da presença dos ossículos martelo, bigorna e estribo, essa informação sonora é amplificada em 100 vezes e transduzida para a cóclea, através inicialmente da endolinfa, e ela é captada. A cóclea traz através do nervo vestíbulo-coclear a informação de novo até a ponte, onde se faz o processamento da informação. Sons de alta frequência estão lateralmente localizados na ponte enquanto sons de baixa frequência estão medialmente localizados na ponte. A informação auditiva é bilateral dentro do sistema nervoso central, então uma lesão central, um tumor, vai dificilmente fazer o paciente perder a audição por completo. O que faz perder a audição por completo é tipicamente uma lesão periférica do aparelho auditivo. Sendo assim, o teste de Rinne (duas primeiras imagens) e Weber (terceira imagem), são úteis na capacitação de perceber a perda auditiva. E o grande objetivo é diferenciar a perda auditiva condutiva da perda auditiva sensorioneural. Esses testes devem ser realizados na prática clínica porque a presente explicação é muito pouco eficaz. Mas de maneira geral, os testes de Rinne e Weber alterados ou não, eles são consequência da percepção que a perda auditiva pode ser condutiva, ou seja, é de todo aparelho coclear, ou ela é do nervo. Essa é a grande diferenciação que os testes de Rinne e Weber fazem. Eles não diferenciam lesão central, porque no sistema nervoso central, a audição é bilateral. Eles vão sim diferenciar se o problema é do nervo ou se o problema é condutivo, do aparelho coclear. Raciocínio através da junção de alterações dos testes de Rinne e Weber. Dúvida: A VPPB tem associação com alguma neurite? A VPPB é uma doença dos otólitos que passa a informação errônea para o aparelho vestibular, e acaba gerando um desequilíbrio crônico relacionado com essa disfunção otólitica. Não é bem uma neurite, é uma vestibulopatia, não é uma lesão do nervo, é uma lesão do aparelho vestibular. Nervo IX – glossofaríngeo • Anatomia; • Exame; • Alterações autonômicas; • Neuralgia do glossofaríngeo. O nervo glossofaríngeo é um nervo sensorial, particularmente relacionado com uma função de 9 Beatriz Machado de Almeida Neurologia – Aula 3 gustação do terço posterior da língua e deglutição. É um nervo quase que exclusivamente, junto com o vago, autonômico. Nervo craniano X – vago • Nervo visceral; • Anatomia; • Exame e alterações; • Lesão do laríngeo recorrente. O vago é responsável pela sensibilidade gustativa da faringe. E particularmente é autonômico, a função cardíaca, de frequência cardíaca, de função vesical, de função intestinal. A única importância clínica fundamental de avaliação desses nervos é observar o movimento da úvula quando no teste clínico desses nervos. O teste é feito pedindo para o paciente abrir a boca. Se ao abrir a boca a úvula estiver modificada da sua posição de repouso, existe a lesão do nervo glossofaríngeo. Se a úvula só se deslocar quando o paciente fizer a expressão “E” ou “A” (o paciente abre a boca e o médico solicita que ele fale E ou A), ou seja, a expressão vocal com a boca aberta, se a úvula desvia nesse momento, a lesão é do vago. Resumindo: se a úvula estiver deslocalizada no repouso, a lesão é do glossofaríngeo. Se a úvula estiver deslocalizada na posição de fonação, a lesão é do vago. Nervo XI – acessório • Raízes craniana e espinhal; • Exame de nervo; • Lesão do nervo; • Causa de lesão. Os nervos IX, X, XI e XII estão localizados no bulbo. O nervo acessório tem uma raiz craniana e espinhal, cuja única função é o movimento dos músculos esternocleidomastóideo e trapézio. A consequência da lesão do acessório é escápula alada. Tem pouca utilidade do ponto de vista prático neurológico, mas os testes dos músculos esternocleidomastóideo, que é realizado através do movimento da face contralateral ou elevação do ombro pelo trapézio, são os testes que podem ser observados se existe lesão ou não do nervo acessório. É um nervo exclusivamente motor. Nervo craniano XII – hipoglosso • Anatomia; • Exame do hipoglosso; • Alterações no exame; • Lesões. Nervo também exclusivamente motor, e é responsável pela motricidade intrínseca e extrínseca, e motricidade voluntária e involuntária da língua. A língua tem movimentos importantes e é uma representação cortical importantíssima, porque a partir dela tem a linguagem, a deglutição, a fonação, portanto, uma série de questões que dependem da funcionalidade da língua. Tem um nervo específico para movimentá-la, que é o nervo hipoglosso. O nervo hipoglosso sai da região anterior do bulbo e vai fazer os movimentos da língua. O que importa do ponto de vista clínico é que quando o paciente coloca a língua para fora e a língua cai para um lado, o hipoglosso daquele lado está lesionado. No caso da imagem, o hipoglosso do lado esquerdo da paciente está lesionado e por isso a língua desvia para o lado esquerdo. Outras queixas ocorrerão: dificuldade de deglutição, dificuldade de expressão da linguagem, dificuldade na fonação, ou seja, questões que a língua gerará dentro de um contexto de lesão do hipoglosso. Do ponto de vista clínico, a língua cai para o lado lesionado. Material baseado na aula de Dr. Augusto – Medicina UniFTC – 7º semestre
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