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Iatrogenia e polifarmácia 1 Iatrogenia e polifarmácia Os 5 "Is" da geriatria Imobilidade Insuficiência cognitiva Instabilidade e quedas Incontinência Iatrogenia Iatrogenia Definição Doenças ou complicações iatrogênicas são aquelas decorrentes da intervenção e/ou de seus auxiliares (ou omissão), seja uma intervenção certa ou errada, mas da qual resultam em consequências prejudiciais para a saúde do paciente. Deve-se pesar o risco e benefício das intervenções. PODE OCORRER: Na escolha do procedimento diagnóstico; Na escolha do procedimento terapêutico; Na falta de oferecimento de opções consagradas → falta de oferecimento de tratamento adequado; Na falta de oferecimento de reabilitação; Nas faltas de comunicação → entre paciente e médico e equipe e médico; Nas complicações por assumir riscos desnecessários (como internações prolongadas). Idosos Correspondem a 1218% da população dos EUA e da ING, respectivamente. Consomem 35% dos medicamentos prescritos e 40% dos não prescritos. 70% tomam pelo menos 1 droga regularmente e 30%, pelo menos, 3. Farmacologia ENVOLVE: Ligação proteica → transporte no organismo; principalmente, ligados à albumina; se houver algum problema, afeta a distribuição; Distribuição → relaciona-se com a solubilidade; Metabolização hepática → se houver problema hepático (ou até mesmo com o envelhecimento), pode haver aumento ou diminuição do efeito do medicamento; Eliminação renal → se houver insuficiência renal, pode gerar intoxicação; FARMACODINÂMICA → alterações nos receptores e neurotransmissores; alterações dos sistemas de controle da homeostase; Iatrogenia e polifarmácia 2 obs.: hipoalbunemia ocorre mais em idosos frágeis, desnutridos e com problema hepáticos. obs.: deve-se evitar nefrotóxicos sempre que puder. Polifarmácia Definição Uso de 5 ou mais medicamentos. Uso de mais medicamentos do que os clinicamente indicados. Implicações clínicas Aumento do risco de reações adversas aos medicamentos; Aumento expressivo da possibilidade de interações medicamentosas: Potencialização de efeitos adversos; Diminuição da ação dos fármacos; Sinergismo e/ou antagonismo de múltiplos fármacos com interferência no metabolismo hepático e no mecanismo de excreção; Baixa aderência ao tratamento (não toma direito) → ineficácia terapêutica; Sobrecarga de custos de manutenção de tratamento. Fatores associados à utilização de múltiplos medicamentos Múltiplos prescritores; Registros inadequados ou incompletos de medicamentos utilizados → paciente não sabe os medicamentos e/ou não foi registrado adequadamente; deve-se perguntar, em todas as consultas, quais medicamentos os idosos tomam por conta ou por indicação e qual a frequência (se está adequada); Restrição de tempo para adequação do esquema terapêutico; Novas opções farmacológicas para doenças crônicas → ex.: osteoartrose; Iatrogenia e polifarmácia 3 Conceitos de novas doenças → ex.: limite de LDL, hipertensão; Estratégias de marketing da indústria farmacêutica → classe médica e população geral; Diretrizes de tratamento farmacológico com a inclusão de múltiplos medicamentos. Risco de interações medicamentosas O número de medicamentos é um fator determinante na possibilidade de interações. Devem ser observadas risco de interações medicamento-medicamento, medicamento-alimento, medicamento-álcool, medicamento-fitoterápicos e medicamento-desnutrição. Escala de avaliação para determinar a existência de polifarmácia - Medication Appropriateness Index - MAI Cada questão recebe uma pontuação e a soma total dos pontos confere o índice MAI. Prescrição inaprorpiada Risco de complicações supera os benefícios. Medicamentos considerados inapropriados: Meia-via longa Faixa terapêutica estreita Doses inapropriadas Terapia duplicada ou redundante Interações inapropriadas (interações medicamentosas ou medicamentos-doença) Duração inadequada de tratamento. 1 a cada 5 idosos faz uso de , pelo menos 1 medicamento considerado inaprorpriado para a faixa etária. Os medicamentos inapropriados são divididos em 2 grupos: Medicamentos que deveriam ser evitados em idosos → baixa eficácia, risco aumentado de reações adversas ou possibilidade de opções mais seguras; Medicamentos que não deveriam ser utilizados em idosos → possíveis agravos clínicos. Critérios para definir medicamentos cuja prescrição deveria ser evitadas em idosos → Critérios de Beers-Fick; SBG. Iatrogenia e polifarmácia 4 Medicamentos não recomendados em idosos, independentemente do diagnóstico ou da condição clínica, devido ao alto risco de efeitos colaterais, e com opções à prescrição de outros fármacos mais seguros, pelos critérios de Beers-Fick e comercializados no Brasil Gorzoni et al., 2006 Reações adversas a medicamentos 25% dos idosos em tratamento ambulatorial. Responsável por até 70% das internações em idosos 65 anos. FATORES DE RISCO: Número excessivo de fármacos; Uso de fármacos inadequados para o idoso; Número de prescritores. Comorbidades podem ser precipitadas ou agravadas pelo uso de medicamentos ou associação de mais fármacos: DEPRESSÃO → betabloquadores, corticoesteroides, anti-histamínicos e antiparkinsonianos; MANIA EM PACIENTES BIPOLARES → antidepressivos, corticosteroides, levodopa, hormônio tireoidiano; DHE K e Na) → hiponatremia (carbamazepina, antipressivos, laxativos, diuréticos e IECA), distúrbios K (diuréticos e IECA); Iatrogenia e polifarmácia 5 PARKINSONISMO → antipsicóticos, antivertiginosas; QUEDAS → psicotrópicos. Prescrição em cascata Prescrição de fármacos para tratar os efeitos colaterais de outros fármacos, causando uma cascata de medicamentos. Deve-se aconselhar o paciente sobre os possíveis efeitos colaterais (além de conhecê-los) e manter a comunicação para ajuste de dose ou de medicamento. Subutilização de medicamentos PRINCIPAL CAUSA → desconhecimento por parte do médico, tanto ao desconhecimento do diagnóstico, das características do medicamento indicado e das recomendações da literatura de um fenômeno denominado "ageísmo", pelo qual acreditava-se que um indivíduo poderia ser discriminado por ser idoso e, portanto, não ter acesso a todos os recursos disponíveis na prescrição. SITUAÇÕES CLÁSSICAS: DM associado a proteinúria e insuficiência cardíaca → considerar uso de IECA; Fibrilação atrial → indicação para anticoagulação, exceto em situações especiais; DM e doença arterial → indicação para emprego de antiagregantes plaquetários AAS; Insuficiência cardíaca → indicação de betabloqueadores, conforme o grau funcional; HAS, osteoporose, depressão e dislipidemia → são patologias cujo tratamento nem sempre é insituído adequadamente; Profilaxia para úlcera de estresse → considerar sua indicação para pacientes hospitalizados e prescrevê-la sempre que necessário (ex.: omeprazol, pantoprazol). Monitoramento de medicamentos Essencial para otimização da prescrição. Situações mais frequentes em que é necessário: Dosagem de K e Cr em até 1 mês após início de diuréticos e IECA; Dosagem periódica de INR em uso de varfarina; Ajuste ou troca de medicamentos, se, em até 8 semanas, não houver resposta à terapia antidepressiva; Monitoramento do nível sérico de medicamentos quando indicado (ex.: anticonvulsivantes, lítio). Retiradas de medicamentos A retirada de medicamentos também pode ter efeitos colaterais (principalmente, se for súbito). Iatrogenia e polifarmácia 6 Medicamentos e vias alternativas em idosos IDOSOS COM DISFAGIA → apresentações inapropriadas (ex.: medicamentos muito lipossolúveis por aspiração pode resultar em pneumoíte lipoítica; medicamentos que não podem ser administrados por sondas) VIAS PARENTERAIS → SC, IM, IV → bom grau de absorção, maior risco de complicações, desconforto e alto custo; OUTRAS VIAS → tópica, sublingual, retal, bucal ou transdérmica → limitadas pelo número de fármacos disponíveis comercialmente; Cada vez mais comuns o uso de sondas de alimentação e administração de medicamentos. Sondas dealimentação e medicamentos TIPOS DE SONDAS → gástricas (medicamentos), enterais (alimentação). Localização do orifício de saída da sonda no aparelho digestório → estômago (gastrostomia), enterais, jejuno (jejunostomia). Efeitos da alimentação enteral nos medicamentos - 15 minutos; Triture apenas o necessário; Use métodos de dispersão quando possível e não misture fármacos; Lave a sonda após cada medicação administrada; Apresentações líquidas. Apresentações VO que não devem ser trituradas e que sofrem intervenção farmacocinética pelo local do aparelho digestivo onde se encontra a sonda de alimentação: Iatrogenia e polifarmácia 7 Medicamentos VO e respectivas razões pelas quais devem ser manipulados e prescritos com cautela em sondas de alimentação: Iatrogenia e polifarmácia 8 Colírios e manifestações sistêmicas Apenas 15% do fármaco ativo penetra nos tecidos oculares → são necessárias altas doses de fármacos ativos. 40% da gota não toca a córnea, indo diretamente para o sistema de drenagem lacrimal. Mais de 80% do princípio ativo pode chegar à circulação sem agir localmente. Podem ter efeitos colaterais sistêmicos → deve-se perguntar se o paciente usa colírios. Inflamações e hiperemias conjuntivais aumentam a absorção vascular do fármaco. GLAUCOMA → betabloqueadores; mais de 2 gotas ao dia em cada globo ocular equivale a percentuais significativos da dose VO. ANTIBIÓTICOS → alterações hematológicas (cloranfenicol), gosto amargo na boca (quinolonas) e farmacodermias (polimixina e neomicina) Iatrogenia e polifarmácia 9 Considerações finais Abordagem do esquema farmacológico por discussão multiprofissional melhora a adequação terapêutico e diminui os custos. Avaliação geriátrica ampla criteriosa buscando equilíbrio entre riscos e benefícios diminui o risco de reações adversas e a subutilização de medicamentos. Incentivar a participação de profissionais de farmácia em equipes multidisciplinares. Possibilidade de eventos adversos deve ser considerada em todas as avaliações de idosos. ETAPAS PARA APERFEIÇOAR O ESQUEMA TERAPÊUTICO: Conhecer bem os medicamentos → identificar efeitos que podem ser evitados; Verificar indicações de cada medicamento e tempo de uso; Considerar dificuldades de aquisição; Adequar medicamentos consolidados → ajustar esquema posológico; Identificar medicamentos com possiblidade de adição (vício) → ex.: benzodiazepínico e opioides; Identificar possíveis prescrições por "efeito cascata"; Identificar interações medicamentosas; Reavaliar evidências de risco-benefício de cada medicamento; Considerar as indicações de tratamento não farmacológico.
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