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1 HELOÁ SANTOS – MED99 FRAMACOLOGIA – P2. Antivirais não retrovirais Anti-Herpesvírus Aciclovir e Valaciclovir → O primeiro agente foi a vidarabina: 1977 (toxicidade); → Aciclovir em 1982 – primeiro antiviral mais eficaz; → Tratamento eficaz do Herpes vírus e (HSV) e varicelazoster (VZV); → São Inibidores da síntese do DNA viral: impedem a replicação do vírus ou a transcrição gênica do DNA viral. → Aciclovir é um análogo acíclico do nucleosídeo guanina. Ele entra na cadeia como se fosse a guanina, mas impede que o vírus se replique; → O Valaciclovir é um pró-fármaco éster L-valil do aciclovir – aumenta muito a biodisponibilidade da droga, tendo metabolismo hepático; → O aciclovir não possui uma biodisponibilidade muito boa (cerca de 25%). Dessa forma, descobriu-se a pró- droga do aciclovir (valaciclovir), que sofre metabolismo de primeira passagem, sendo convertido em aciclovir e valina, o que aumenta a biodisponibilidade para 70%. Mecanismo de Ação: Ocorre a inibição da ligação do vírus ao DNA humano para se replicar. Inibem a síntese do DNA viral: como é análogo da guanina, o fármaco finge que é a guanina e se liga à DNA-polimerase, impedindo com que o DNA viral seja sintetizado (DNA-polimerase deveria se ligar à guanina para dar continuidade à síntese da proteína viral). Entretanto, a forma natural do fármaco não é capaz de realizar interação com o DNA viral, necessitando ser fosfatado (trifosfatado) antes. Interação com duas proteínas virais: HSV timidinacinase (herpes vírus): enzima própria do vírus responsável por fazer a fosfatação do aciclovir, a fim de transformá-lo em trifosfato de aciclovir, o qual vai atuar sobre a DNA-polimerase, faz uma inibição competitiva. DNA-polimerase: faz a replicação do DNA viral; → Afinidade 200 vezes maior pela timidinacinase viral do que pela de mamíferos, sendo drogas seguras porque só haverá fosforilação do aciclovir quando a célula estiver infectada por herpes vírus. → As enzimas celulares convertem (40-100 vezes maior nas células infectadas por HSV) o monofosfato em trifosfato de aciclovir competindo pelo trifosfato de desoxiguanosina (dGTP) endógeno. → O trifosfato inibe competitivamente as DNA polimerases; → O trifosfato também é incorporado ao DNA viral – elemento de terminação da cadeia, inativando irreversivelmente a DNA-polimerase. OBS: o Aciclovir funciona como falso substrato. O trifosfato de aciclovir fica na terminação do DNA viral e, com isso, a DNA polimerase se liga a ele e não vai ter efeito. 2 HELOÁ SANTOS – MED99 FRAMACOLOGIA – P2. → Herpes vírus infectou uma célula humana, seu material genético é incorporado ao núcleo da célula infectada, ao seu DNA. → Aciclovir sofre fosforilação pela timidinacinase, transformando-o em mono, di e trifosfato de aciclovir. → Trifosfato de aciclovir entra dentro do núcleo e interage com a DNA polimerase, inibindo a replicação viral. Resistência: → Não produção ou baixa produção de timidinacinase viral (mais comum) – não consegue fosfatar o aciclovir e com isso, ele não consegue entrar no núcleo; → Modificação da timidinacinase, por mutação: diminuindo sua afinidade ao aciclovir, não ocorrendo sua fosforilação. → Mutação na DNA polimerase viral (raro), impedindo a ligação do trifosfato de aciclovir; Espectro de Ação: • HSV-1 – muito bom; • HSV-2 (2 vezes menos ativo); Serve para qualquer doença por Vírus Herpes simples: herpes labial, genital, meningite, herpes sistêmica em paciente com HIV, herpes do trato digestivo. • VZV (10 vezes menos potente) – catapora e Herpes Zoster; Na forma Zoster tem que usar Aciclovir, dobrando a dose. • Epstein Barr (EBV) – (10 vezes menos potente), normalmente não trata; 3 HELOÁ SANTOS – MED99 FRAMACOLOGIA – P2. • Citomegalovírus (CMV) – Menos ativo, não serve. Não utiliza a timidinacinase para realizar a fosforilação, mas sim uma fosfotransferase e, esta não é capaz de fosfatar o Aciclovir. • Herpesvírus Humano 6 (HHV) – doença exantemática em criança, roséola. Doença que normalmente não se trata, pois se resolve sozinha. Farmacocinética: → Aciclovir: biodisponibilidade oral 10-30% (IV e VO); → Valaciclovir - pró droga: biodisponibilidade 70%. Convertido no fígado em aciclovir + valina; → Distribui-se amplamente pelos líquidos corporais, LCS, feto, humor aquoso – serve para úlcera de córnea e para meningite. Tratamento empírico de meningite: vanco (pneumococo resistente) + ceftriaxone (estrepto sensível, meningococo e Haemophilus) + aciclovir (vírus herpes); → Absorção tópica baixa; → Meia vida 2,5 h – muito curta. Faz de 4-4h, 5 doses diárias, só pula a dose da madrugada; → 15% metabolizado; → Eliminado, por filtração glomerular, na sua forma ativa (molécula inteira); Doses: (não precisa saber agora!!) → Aciclovir de 200 a 400 mg 5 vezes ao dia; Quando o paciente é imunocomprometido ou quando é Zoster, faz dose dobrada. → Valaciclovir 1.000 mg 2 x ao dia; → IV – 5 mg/kg 8/8 h (Aciclovir) – Herpes sistêmico no paciente com HIV. Indicações: • Infecções genitais por HSV; • Gengivoestomatites; • Herpes orolabial: menor benefício, melhora apenas o sintoma, a dor; • Uso tópico; • Profilaxia no parto de mães com herpes genital; • Lesões mucocutâneas (imunossuprimidos – dose dobrada 800mg); • Disseminação visceral da Herpes – IV; • Profilaxia sistêmica imunossuprimidos – dose menor; • Encefalite, meningite; • Ceratoconjuntivite, úlcera de córnea; • Varicela – iniciado até 24 h do exantema para ter um resultado benéfico, não recomendado de rotina; • Herpes Zoster – dose dobrada, mesmo em imunocompetentes – iniciado até 72 h dos sintomas e, ainda, associa ao corticoide para não ter dor neuropática residual; • Paralisia de Bell – associado a corticoide. Etiologia principal é pelo vírus herpes; • CMV – profilaxia para paciente que vai transplantar medula – valaciclovir; • EBV – mononucleose – não há benefício. 4 HELOÁ SANTOS – MED99 FRAMACOLOGIA – P2. Efeitos Adversos: • Bem tolerado; • Irritação – tópico; • Reações gastrointestinais (diarreia e vômito) e exantema cutâneo raros; • Nefrotoxicidade – raro; • Neurotoxicidade – Valaciclovir (confusão mental, agitação, convulsão); • Trombocitopenia e neutropenia. Aciclovir pode impedir a replicação de células humanas, principalmente, as de replicação rápida, como: leucócitos e plaquetas. • Não são teratogênicos. Fanciclovir e Penciclovir → Penciclovir: Análogo acíclico do nucleosídeo guanina; → Fanciclovir: Pró-fármaco do Penciclovir; Mecanismo de Ação: → O mesmo do aciclovir; → É fosforilado pela timidinacinase viral em trifosfato de Penciclovir: trifosfato de penciclovir entra no núcleo→ inibe competitivamente a DNA-polimerase viral. → Diferença: 100 vezes menos potente que aciclovir na inibição da DNA polimerase. Porém ocorre em concentrações muito mais elevadas e por períodos mais longos nas células (7-20h). São mais eficazes, ou seja, o efeito terapêutico é melhor que o Aciclovir, porque se concentra em maior quantidade e por muito mais tempo dentro da célula. → Resistência principalmente por deficiência de timidinacinase (cruzada com aciclovir, ou seja, se há resistência ao aciclovir, há também ao penciclovir). Farmacocinética: → Penciclovir oral – biodisponibilidade 5%, sendo, praticamente, restrito para a forma venosa (IV); → Fanciclovir (Penvir – oral) – 75% - oral e tópico; → 250 a 500 mg 8/8h (Fanciclovir); → 90% excretados inalterados na urina. Indicações: • Infecções por HSV; • Infecções por VZV; • Eficaz também contra HBV (hepatite B); • Reduz o tempo de cicatrização e a duração dos sintomas; • Herpes labial recorrente; • Dose dobrada em imunossuprimidos e em Herpes Zoster. 5 HELOÁ SANTOS – MED99 FRAMACOLOGIA – P2. Efeitos Adversos: → Cefaleia, diarreia e náuseas; → Urticária, Exantema; → Alucinaçõese estados confusionais; → Raramente apresenta reações locais (tópico); → Pode dar diarreia, vômito. Ganciclovir • Também é um análogo nucleosídeo da guanina; • Também é ativo contra todos os HSV, porém, é particularmente mais ativo contra o CMV, sendo um antiviral de escolha para citomegalovirose. Mecanismo de ação: • Inibe a síntese do DNA viral; • Sofre monofosforilação intracelular pela timidinacinase viral e por uma fosfotransferase viral durante a infecção por CMV. O citomegalovírus expressa pouca timidinacinase, o que diminui a atividade do aciclovir. Entretanto, o ganciclovir também é fosforilado pela fosfotransferase (enzimado CMV), o que o torna especialmente ativo contra o citomegalovírus. É eficaz contra herpes e varicela, pois o ganciclovir é fosforilado também pela timidinacinase (não perde espectro, apenas ganha para citomegalovirose). • O difosfato e o trifosfato de ganciclovir são formados por enzimas intracelulares, sendo somente o monofosfato de ganciclovir que necessita de fosforilação pela fosfotransferase. • Concentrações de trifosfato 10 vezes maiores em células infectadas por CMV; • É incorporado ao DNA viral e ao celular, funcionando como falso substrato e a DNA polimerase não consegue replicar o DNA do vírus; • Meia vida intracelular > 24h. Ganciclovir entra na célula é fosforilado pela fosfotransferase do CMV (monofosfato de ganciclovir) e também sofre fosforilação por enzimas intracelulares e também pela timidinacinase dos herpes vírus e varicela, formando di e trifosfato de ganciclovir. O trifosfato de ganciclovir entra no núcleo e inibe a DNA polimerase. 6 HELOÁ SANTOS – MED99 FRAMACOLOGIA – P2. Resistência: • Redução da fosforilação intracelular (mutações da fosfotransferase viral) – CMV; • Mutações da DNA polimerase; Farmacocinética: • Ganciclovir biodisponibilidade oral 6-9% - baixa; • Valganciclovir (pró droga) – 61%; • IV e VO; • Eliminação inalterada na urina > 90%. Indicações: • Tratamento das infecções por CMV; • Prevenção das infecções por CMV pós-transplante e AIDS avançada (CD4 baixa); • Retinite por CMV; • Pneumonia por CMV; • Infecções por CMV em AIDS - associado a imunoglobulina anti-CMV; • Gel oftálmico – ceratite por HSV. Efeitos Adversos: • Mielossupressão – geralmente reversível e na 2ª semana de tratamento; • Neutropenia em 15-40% dos pacientes; • Trombocitopenia em 5-20%; Pode impedir a replicação de células humanas, principalmente, as de replicação rápida, como: leucócitos e plaquetas. • Cefaleia, alterações de comportamento, convulsões e coma – alteração neurológica; • Insuficiência renal – raro; • Teratogenicidade. Oseltamivir → Oseltamivir – análogo do ácido siálico; → Inibidor seletivo das neuraminidases virais dos vírus da Influenza A e B. → Liga-se a sítios específicos que só há em vírus Influenza, que são as neuroaminidases. 7 HELOÁ SANTOS – MED99 FRAMACOLOGIA – P2. Mecanismo de Ação: Na superfície do vírus Influenza está presente as neuroaminidases (NA), as quais clivam o ácido siálico que está na superfície da célula do epitélio respiratório. Isso é necessário para que as hemaglutininas (HA), que também estão na superfície do vírus, se liguem à glicoproteína do epitélio respiratório e, assim, o vírus consiga infectar. O Oseltamivir funciona como análogo do ácido siálico e a NA não consegue clivar o ác. siálico, uma vez que está inibida pelo fármaco. Basicamente, ele impede a infectividade do vírus, impedindo que este entre em contato com o epitélio respiratório; O oseltamivir impede a ação das neuraminidases → não ocorre a clivagem do ácido siálico e nem a interação da hemaglutinina com o receptor→ não há infecção da célula do trato respiratório. Inibindo as neuroaminidases, inibem a agregação viral na superfície celular e redução da disseminação do vírus no trato respiratório. Resistência: → Mutações da hemaglutinina, possibilitando a infecção através de outro mecanismo, sem necessitar de ácido siálico. → Mutações nas neuroaminidases – não se liga ao Oseltamivir por diminuição da afinidade; → Resistência das Cepas H1N1, muito disso ocorre devido ao uso profilático indiscriminado (populacional) em países do Hemisfério Norte, que sofrem inverno rigoroso. Farmacocinética: → 80% biodisponibilidade oral; → Concentrações semelhantes ao plasma na secreção respiratória, ouvido médio e seios nasais; → Eliminado de forma inalterada no rim; Indicações: → Tratamento e prevenções das infecções por vírus influenza A e B; → Reduzem o tempo de doença em 1-2 dias; → Reduzem 40-50% complicações; → Reduzem 50% as hospitalizações. Efeitos Adversos: → 10-15% queixas gastrointestinais (dor abdominal e náusea); → Não “parece” ser teratogênicos. 8 HELOÁ SANTOS – MED99 FRAMACOLOGIA – P2. Ribavirina → Análogo nucleosídeo purina; → Inibe a replicação de uma ampla variedade de vírus DNA e RNA; Espectro de Ação: → Ortomixovírus: Influenza; → Paramixovírus:parainfluenza, sarampo, caxumba, VSR; → Arenavírus: Machupo, Sabiá (Febre hemorrágica); → Flavivírus: Dengue, hepatite C, febre amarela, Zika; É um antiviral de 1ª linha, associado ao interferon, para o tratamento da hepatite C. Mecanismo de Ação: → Mecanismo ainda não totalmente elucidado; → Diminui o reservatório de nucleotídeos celulares (substrato), impedindo a replicação do DNA; → Inibição na síntese do RNAm viral; → Fosforilação em mono, di e trifosfato por enzimas da célula hospedeira, porém, não é ativo somente na forma de trifosfato. → O monofosfato de ribavirina interfere na síntese de GTP, portanto, na síntese de ácidos nucleicos em geral; → O trifosfato inibe a síntese do RNAm viral e especificamente a atividade da transcriptase do vírus influenza; → Podem induzir mutação viral inibindo sua replicação eficaz: mutagênese letal. Resumindo: 1. Monofosfato – interfere na síntese de GTP, reduzindo a reserva de ácido nucleico; 2. Trifosfato: impede a síntese de RNAm viral, devido à inibição do RNA polimerase; 3. O próprio fármaco, ribavirina, é capaz de levar à mutagênese letal nos vírus, ou seja, ele aumenta a indução de mutações letais no genoma viral. Resistência: → A maioria dos vírus não apresentam resistência; → É muito tóxica; → HCV (hepatite C) – relato de não realizarem a fosforilação intracelular; Farmacocinética: → Biodisponibilidade oral 50%; → Tem aerossol – inalatório para tratar broquiolite (SRV); → Ligação às proteínas insignificante; → Meia vida plasmática de 200-300h, lenta; → Concentram-se nos eritrócitos (meia-vida 40 dias), fazendo com que um dos efeitos de ribavirina a longo prazo seja anemia. → Metabolismo hepático – hepatotóxica; → Eliminação renal. Indicações: → Tratamento padrão para HCV (hepatite c) associado a Interferon-peg (aumento da resposta imunológica do hospedeiro) – tratamento por 24 a 48 semanas; → Aerossol para Bronquiolite e pneumonia por Vírus Sincicial respiratório, muito comum em lactente; 9 HELOÁ SANTOS – MED99 FRAMACOLOGIA – P2. → Casos graves de Influenza, que não consegue tratar só com Oseltamivir, associa-se Ribavirina; → Imunossuprimidos com sarampo, parainfluenza, adenovírus; → Febres hemorrágicas – febre amarela, dengue; → Zika: doença benigna e autolimitada, não sendo indicado o uso de antiviral. O problema é a doença congênita causada por zika, quando acomete gestante, porém, por ser uma droga teratogênica, não é recomendado usar. Logo, a droga que teria ação contra o zika vírus não pode ser usada nas formas graves da doença, que é na gestação. Efeitos adversos: → Aerossol – Irritação; → Anemia reversível: Hemólise + supressão medular; → Fadiga, tosse, exantema, prurido, náuseas, insônia, dispneia, depressão; → 20% dos pacientes em tratamento crônico não suportam os efeitos; → Teratogênica.
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