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Abordagem inicial ao paciente com distúrbio de coagulação Hematologia – Prof. Marinho Marques Aula 6 – 22/03/2021 Introdução Avaliação para excluir diátese hemorrágica, que é uma situação comum na prática clínica; Motivados por queixas de sangramento ou alteração em exames da coagulação; Avaliação antes de cirurgias e procedimentos; Princípios gerais O sistema hemostático normal limita a perda de sangue, é um sistema fundamental a vida. Classicamente era dividido em duas etapas: • Hemostasia primária; • Hemostasia secundária; • Fibrinólise No modelo clássico cada etapa acontecida separadamente, mas na verdade acontecem simultaneamente, uma interferindo na outra, que é o novo modelo celular, para explicar como ocorre a coagulação. Faz-se necessária também a existência de um delicado equilíbrio entre os estímulos pró-coagulantes, anticoagulantes e fibrinolíticos. O modelo celular explica melhor o que acontece; As plaquetas e vasos participam do processo como um todo, assim como a fibrinólise; O modelo celular é dividido em 3 etapas: • Iniciação • Amplificação • Propagação Componentes Proteínas plasmáticas: são os fatores de coagulação que são ativados, zimogênios de serinoproteases e cofatores. Conversão da forma inativa para ativa. Células: plaquetas, endotélio e outras células sanguíneas. Íons: cálcio (cofator) Regulação da coagulação: via da proteína C, da antitrombina e do inibidor da vida do fator tecidual Quando as pessoas nascem com a deficiência dessa proteínas que são anticoagulantes naturais, elas apresentam distúrbios da coagulação e acontece a trombofilia. Medicina UniFTC – 8º semestre Mª Manuela Ribeiro Células Plaquetas Fragmentos celulares anucleados originados de precursores da MO, os megacariócitos. Produção estimulada pela trombopoetina. Cerca de 1/3 é sequestrada pelo baço e o restante participa dos processos de coagulação, tem vida média de 7-10 dias; Em repouso possuem o sistema canalicular aberto e possui diversos grânulos citoplasmáticos, que são secretados à medida que as plaquetas forem ativadas; Na estruturas das plaquetas, os grânulos presentes na membrana são liberados após a ativação plaquetária, e as glicoproteínas na superfície da plaqueta para fazerem a adesão das plaquetas com o vaso e com outras plaquetas (agregação plaquetária); Na adesão plaquetária há o endotélio vascular e as plaquetas se ligam atraves do fator de VonWillebrand, que se liga a glicoproteína (GP Ib) na superficie plaquetária. Já na agregação plaquetária, as plaquetas se ligam a outras plaquetas atraves da glicoprteína (GP IIb/ IIIa) por pontes de fibrinogênio que são formadas durante a cascata de coagulação. Células endoteliais Propriedades antitrombóticas: superfície eletronegativa, secreção de inibidores da coagulação e de ativadores de fibrinólise; Ao ocorrer um dano vascular, essas propriedades se tornam protrombóticas, favorecendo a formação dos coágulos; Etapas do modelo celular Iniciação Ocorre em resposta ao dano vascular e a exposição do subendotélio; Adesão plaquetária é feita pelo FvW no endotélio vascular, através da glicoproteína 1b; Em paralelo ao processo plaquetário, o fator tecidual é exposto e se liga ao FVII; Conversão de pequenas quantidades de protrombina em trombina, insuficiente para formar um coágulo estável, mas é importante por retroalimentar a cascata de coagulação; Trombina retroalimenta e amplifica a coagulação; Amplificação Inicia-se pelo efeito da trombina sobe os receptores plaquetários e fatores de coagulação; Trombina induz ativação plaquetária; Ativação plaquetária: mudança no citoesqueleto, expressão de fosfatidilserina na superficie externa, liberação de grânulos plaquetários; Ativação do fator VIII e do fator V, dissociação do fator VIII do FvW; • Para que o fator VIII não seja rapidamete inativado por proteases plasmaticas, ele tem que circular ligado ao FvW. Resulta na geração de plaquetas ativadas; Propagação Plaquetas ativadas + cofatores (Va e VIIIa) que fazem o ancoramento de proteínas e a formação de complexos tenase (FVIIIa + FIXa) e protrombinase (FVa + FXa); Fator IXa (iniciação) fazem a ligação com as plaquetas; Ação dependente do fator FVIII, formação do complexo FIXa/FVIIIa (tenase) e ativam o FX; Fator Xa se liga ao FVa (protrombinase), que é capaz de converter protrombina (FII) em trombina; Trombina cliva fibrinogênio (FI) em fibrina, que ativa o fator XIII e faz a estabilização da fibrina, formando um coágulo estável. 1. Fator tecidual (FT) scretado em resposta ao dano vascular 2. Ligação do FT com o fator VII, ativando-o e transformando em FT/VIIa 3. Ativação do fator IX, X e de uma pequena quantidade de trombina 4. Trombina ativando os fatores VIII e V → VIIIa Va 5. As plaquetas ativadas com os cofatores V e VIII ativados vão formar complexos que geram trombina, que por sua vez quebra o fibrinogênio em fibrina, que será estabilizada pela ação do fator XIII As hemácias ficaram retidas pela rede de fibrina junto com algumas células, como neutrófilos e plaquetas. Fibrinólise Processo de lise do coágulo para desobstruir o vaso e reestabelecer o fluxo sanguíneo; Plasminogênio circulante adere ao coágulo, é convertido em plasmina que faz a lise da fibrina e a geração dos produtos de degradação da fibrina (PDF); • O dímero-D é o principal produto de degradação da fibrina; É regulada pelo inibidor do ativador do plasminogênio que é produzido pelo endotélio vascular e plaquetas. Regulação da coagulação (fatores naturais) Inibidor da via do fator tecidual (IVFT): regula a fase inicial da etapa de iniciação e faz ligação com o FXa; Antitrombina (AT): inibidor primario da trombina, Xa, IXa, XIa, XIIa e calicreína; Proteina C: inibe seletivamente os cofatores Va e VIIIa numa reação que é potencializada pela proteína S; Proteina S: cofator para a PCa; Proteina Z: inibidor seletivo da formação do FXa; Dados importantes da clínica Anamnese de hemostasia: • Locais preferenciais de sangramento (pele e mucosa) • Duração dos sangramentos • Necessidade de intervenção médica para controle Antecedentes pessoais: • Exposição a situações de estresse hemostático; • Sangramento em situações de estresse hemostático (destaque para estrações dentárias/exodontia de cisos); • História familiar de distúrbio de coagulação (se for negativa não pode excluir coagulopatia). Exame físico: • Petéquias, equimose e hematomas; • Estigmas de hepatopatia ou insuficiência renal; Medicações concomitantes • Uso de antiagregantes, anticoagulantes, quimioterapicos ( nº de plaquetas) • Intoxicação por supercumarínicos; Coagulopatias agudas • Presença de sepse, coagulopatia do trauma; Avaliação clinica Distúrbios da hemostasia hereditários Geralmente se manifestam na infância, mas eventualmente podem aparecer pela primeira vez na fase adulta, se for um defeito muito leve; Distúrbios mais graves como hemofilia A: geralmente se manifestam assim que a criança começa a deambular longe dos pais (3-4 anos); Distúrbios mais brandos, como a doença de von Willebrand, podem passar despercebidos até a realização de uma extração dentária, de uma amigdalectomia ou aguma outra cirurgia; A história familiar pode ajudar se for positiva. Se for negativa não exclui os distúrbios hereditários da hemostasia; Distúrbios adquiridos: Acompanhados dos outros sinais e sintomas da doença de base ou história do uso prévio recente de algum medicamento. • Coagulação intravascular disseminada (CIVD), sepse ou gestação complicada; • Hepatopatia: distúrbio da coagulação, sinais de insufiência hepática e hipertensão porta. • Renal crônico: tem também outras manifestações da sindrom urêmica, a uremia é tóxica para as plaquetas; • A trombocitopenia adquirida pode estar ou não relacionada a causa scundária (leucemia, anemiaaplástica, lúpus, infecção, etc) • A púrpura trombocitopênica imune (PTI) idiopática é a causa mais comum de disúrbio da hemostasia adquirido não relacionado a causas secundárias. Avaliação clínica Defeitos nas células/vasos Defeitos nos fatores Sangramento de início imediato Sangramento tardio, horas e dias Sangramento superficial (pele, mucosas, TGI, TGU) Sangramento profundo (articualções, músculos e retroperitônio) Petéquias, equimoses Hematomas, hemartroses Resposta imediata com medidas locais (melhora com compressão local) Exige terapia sistêmica prolongada Tempo de sangramento: mede tempo de formação do tampão plaquetário (4 a 7min) (TS de IVY) TTPa e TP (avaliação qualitativa) Conceitos Púrpuras: acúmulos de sangue na pele • Petéquias: pequenas hemorragias puntiformes na derme (capilares); • Equimoses: acúmulo subcutâneo de sangue devido ao extravasamento de arteríolas e vênulas; • Hematomas: mais profundas e palpáveis (possui um relevo); Sangramentos comuns aos dois tipos: hemorragia cerebral, retiniana e digestiva, hematúria e menorragia; Avaliação laboratorial Contagem de plaquetas (VR: 150.000 – 450.000) > 100.000/mm³ → não provoca sangramento e é liberado para realizar qualquer cirurgia; 50.000 – 100.000/mm³ → eventual sangramento acima do normal após trauma grave; 20.000 – 50.000/mm³ → sangramento acima do normal após trauma ou cirurgia e eventual sangramento espontâneo (especialmente quando <30.000/mm³) 10.000 – 20.000/mm³ → sangramento espontâneo comum; <10.000/mm³ → risco de sangramento grave ou incontrolável; <5.000/mm³ → risco muito alto de sangramento grave e fatal; Tempo de sangramento (VR: 3-7min) Avalia a relação entre o número de plaquetas com a sua função; Não serve como triagem pré-operatória; Usado para avaliação de diátese hemorrágica; Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa): No tuboo não há fator tecidual; Avalia: VIII, IX, XI, XII e via comum; • Deficiência do fator VIII → hemofilia A • Deficiência do fator IX → hemofilia B VN: 25-35 segundos (faz-se uma relação entre tempo do paciente/controle) Tempo de protrombina (TP) Adição do fator tecidual Avalia o fator VII e via comum VN: 10-13 seg (RNI= relação tempo paciente/controle) Se TP e TTPa estiverem prolongados: Significa que o problema está na via final da cascata de coagulação; Doença de von Willebrand Desordem hemorrágica hereditária mais comum (Autossômica Dominante). Funções: adesão plaquetária ao subendotélio em sítios de lesão vascular e formação de um complexo com o fator VIII (proteína de transporte), impedindo que o fator VII seja rapidamente depurado na circulação por proteases plasmáticas; Sinais e sintomas: distúrbio da interação plaqueta/vaso; • Hemorragia de pele e mucosas É uma doença autossômica dominante, portanto a história familiar geralmente é posistiva. Existem 3 tipos, sendo os tipos 1 (leve) e 2 mais comuns; A maioria dos indivíduos com DvW possui a forma leve, isto é, sem hemorragia espontânea. A suspeita surge quando o indivíduo apresenta um sangramento imediato após trauma ou procedimentos invasivos (ex.: extração dentária); Exames laboratoriais: TS prolongado, TTPa alargado (deficiência parcial secundária do fator VIII), demais exames normais, ou tudo normal. Diagnóstico: medida de atividade do FvWB (Teste da ristocetina), medida do antigeno do FVWB (elisa, eletroimunoensaio, látex). Tratamento: • Orientação de evitar drogas antiplaquetárias (AAS e AINE); • Reposição do FvWB (mais eficaz); • DDAVP: desmopressina aumenta a sintese endotelial do FvWB, usado em profilaxia de sangramentos tipo 1; Hemofilias Doenças hemorrágicas hereditárias decorrentes de deficiências quantitativas ou defeitos moleculares dos fatores VIII (hemofilia A) ou do IX (hemofilia B); Herança recessiva ligada ao X (a doneça só se manifesta no sexo masculino e é passada diretamente pela mãe); Manifestações clínicas: iguais entre hemofilia A e B → deficiência de fatores; Graves (nível do fator: 1%): • Sangramentos espontâneos desde a infância (2-4 anos), hemartroses, hemorragias espontâneas frequentes; • Frequência: 70% (A) e 50% (B) Moderada (nível do fator: 1-5%): • Hemorragia após pequenos traumas/cirrugias, m=hemartroses espontâneas; • Frquência: 15% (A) e 30% (B) Leve (nível do fator: 5-30%): • Hemorragia após pequenos traumas/cirurgia, sangramentos espontâneos raros • Frequência: 15% (A) e 20% (B) O tratamento é profilático, dando o fator (hemoderivado) 3x por semana, para que eleve o nível sérico e tenha menos complicações e fenomenos hemorrágicos. Manifestações clínicas Hemartroses: • Manifestações hemorrágicas mais comuns; • Joelhos, cotovelos, tornozelos, ombros, quadril, punhos; • Edema, dor, aumento do volume, eritema, aumento da temperatura, limitação de movimento; Hematomas musculares: • Segunda causa mais comum de sangramentos; • Sindrome compartimental; Hematúria, sangramento gatsrointestinal (hematêmese, melena), sangramento intracraniano (HAS), hemorragia no canal espinhal (paraplegia). Diagnostico: História clínica: • Hemorragias desde a infância, sangramentos intraarticulares, hematomas pós-traumáticos, musculares; Exames laboratoriais: • Hemograma normal; • TTPa alargado (proporcional a intensidade da defciência do fator); • Dosagem do fator VIII e IX alterados; Tratamento Hemofilia A: Fator VIII purificado e recombiante para hemorragia, no preparo pré ou perioperatório; Hemofilia B: Fator IX purificado ou recombinante; Tratamento adjuvante para hemofilia A; DDAVPP = Desmopressina • Produz aumento transitório do fator VIII e fator vW Drogas antifibrinolíticas (Transamin, ácido aminocaproico, ácido tanexâmico): • Terapia adjuvante nos sangramentos de mucosas; • Contra indicadas na presença de hematúria, porque pode-se formar um coagulo nas vias urinárias e fazer uma oclusão; Distúrbios da coagulação adquiridos (CIVD – coagulação intravascular disseminada) Ativação dos processos de coagulação, induzida por diferentes mecanismos desencadeantes, levando a formação intravascular de fibrina, obstrução dos vasos da microcirculação e lesão isquêmica; Quase sempre associada à resposta inflamatória sistêmica; Mecanismos desencadeantes: Infecção: sepse bacteriana, viral, protozoários; Lesão tecidual: trauma, pós-operatório, choque, hipoxemia; Neoplasia: desseminação mestastática, leucemia promielocítica; Causas obstétricas: descolamento prematuro de placenta, embolia de L.A; Doenças vasculares: tumores, aneurismas, vasculites; Imunológicas: reação anafilática, reação transfusional hemolítica, rejeição de enxertos; Liberação de enzimas: venenos de animais, pancreatites Fisiopatogenia O mecanismo desencadeante é a lesão endotelial, com liberação e/ou exposição de fator tecidual, formação de fibrina em vários pontos da microvasculatura; Consumo de plaquetas (trombocitopenia), fatores de coagulação (coagulopatia), destuindo hemácias (anemia hemolítica microangiopática, com esquizócitos na periferia) e obstruindo pequenos vasos (gangrena periférica); Os microtrombos são constituídos principalmente por fibrina; Ao mesmo tempo que se forma, a fibrina é degradada pelo sistema fibrinolítico endógeno, aumentando os PDF (produtos de degradação da fibrina, entre eles o D-dímero) De todos os fatores, o mais depletado é fibrinogênio (consumo do fibrinogênio); Diagnóstico Suspeitar em qualquer paciente grave, com os fatores de risco (sepse, trauma, cirurgia), que se apresenta com diátese hemorrágica ou sintomas devido à trombose na microvasculatura; ➔ São paciente graves (normalmente na uti, intubados, com sepse) que começam a cursar com plaquetopenia e prolongamento do TP, TTPa e TT, aumento do D-dímero. Não existem testes para confirmar ou excluir de modo defnitivo o diagnóstico de CIVD; Pode-se utilizar:• Tombocitopenia (>10.000/ul); • Prolongamento TP, TTPa, TT; • Redução do nível de fibrinogênio; • Aumento dos produtos de degradação da fibrina; • Esquizócitos no esfregaço do sangue periférico; IRA, insuficiência hepática, gangrana periférica; Exames ➔ TTPa da mistura: mistura o sangue do paciente com o sangue de outra pessoa, após fazer essa mistura e o tempo for corrigido, é porque trata-se da deficência do FATOR, quando não corrigir o TTPa pode ser uma ração com um anticorpo inibidor que está provocando esse alrgamento do TTPa. TTPa prolongado Fator IX muito baixo → Hemofilia B (moderada) Plaquetas normais RNI alargado TTPa normal Deficiência do fator VIII → Hemofilia A (leve) TTPa alargado Deficiência de fator VIII → Hemofilia A leve TTPa alargado Deficiência de fator VIII → Hemofilia A grave Pesquisa de inibidor ou TTPa da mistura: corrigido, ou seja, deficiência do fator. TTPa alargado Deficiência de fator VIII → Hemofilia A grave Pesquisa de inibidor ou TTPa da mistura: NÃO corrigido, ou seja, esse paciente tem inibidor (provavelmente um paciente hemofílico em tratamento). TTPa alargado fator VIII FvW → Doença de vonWillebrand, porque como o FvW que carreia o FVIII, sem o FvW não terá o FVIII TP/ RNI alargado TTPa alargado TP e TTPa da mistura corrigidos → Deficiência de fator Deficiência dos fatores da via final comum (FV e FX)
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