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Distúrbios de plaquetas Hematologia – Prof. Marinho Marques Aula 7 – 29/03/2021 Distúrbios quantitativos (redução numérica das plaquetas → púrpura) ou distúrbios qualitativos (numericamente normal, mas com distúrbios funcionais). Distúrbio quantitativo Plaquetopenia: redução de 2,5 vezes do percentil de distribuição normal do valor; Na prática: < 150.000/mm³ • Entre 10.000 e 150.000/mmm³: não necessariamente indica doença. • Checar estabilidade ao longo de 6 meses; • Verificar de que forma a plaquetopenia está se instalando, se aguda ou crônica. Plaquetas entre < 10.000 e 20.000/mm³: risco de sangramento espontâneo. Presença de plaquetopenia pode agravar sangramentos (cirurgias, pós- quimioterapias); Pode representar diversas manifestações iniciais de algumas patologias (doenças reumatológicas, infecciosas, uso de medicamentos...) Geralmente assintomáticas (nos indivíduos com plaquetas entre 50.000-80.000 as manifestações são raras); Plaquetopenia na gestação – comum (aumento do volume intravascular há uma diluição das plaquetas, chegando a 120/130.000 sem ser uma condição patológica); Investigação dos mecanismos e causas; Paciente internados (relação com o uso de medicamentos, sepse...) X ambulatoriais (causas crônica, infecções virais, purpuras...) Mecanismos causadores Redução da produção: alteração na medula óssea que pode comprometer a produção dos componentes plaquetários; Aumento da destruição: associada a formação de autoanticorpo que leva a destruição plaquetária no baço. Sequestro esplênico: em pacientes com esplenomegalia; Hemodiluição: na gestação, que é uma situação fisiológica e em situações não fisiológicas, como no politrauma, pelo uso de muito líquido causando uma coagulopatia dilucional; Abordagem inicial 1- Confirmar que a plaquetopenia é verdadeira, através da avaliação da lâmina de sangue periférico, procurar por agregados plaquetários que podem levar ao diagnóstico de uma plaquetopenia artefatual (pseudoplaquetopenia); 2- Visualizar as características das outras series sanguíneas: • Presença de hemácias fragmentadas (esquizócitos): microangiopatia causada por púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) ou uma coagulação intravascular disseminada. Medicina UniFTC – 8º semestre Mª Manuela Ribeiro • Presença de blastos e células displásicas: pensar em mielodisplasia e leucemia; • Presença de hemácias aglutinadas e microesferócitos: considerar a síndrome de Evans, que é a combinação de anemia hemolítica autoimune com a púpura trombocitopênica imune (PTI); • Presença de linfocitose, linfócitos atípicos, neutrofilia e granulação tóxica: considerar infecção, principalmente infecções virais/bacterianas agudas (arboviroses); • Presença de trombocitopenia isolada: geralmente é uma situação associada com pacientes crônicos, como PTI, infecção pelo HIV e HCV (plaquetopenia pode ser a primeira manifestações dessas doenças), H. pylori. Causas de trombocitopenia: Autoimunes Não autoimunes Desordens autoimunes (LES, AR...) Pseudoplaquetopenia Infecções (HIV, HCV, H. pylori...) Defeitos na produção plaquetária: aplasia, mieodisplasia, infiltração da MO por leucemia, deficiência de vitamina B12 e ácido fólico, infecções virais e destruição plaquetária (púpuras) Pós-vacinação Sequestro esplênico (hipertensão portal e doenças infiltrativas) No curso de doenças linfoproliferativas (leucemia linfóide crônica) Deficiências imunológicas Uso de drogas Purpura trombocitopênica imune (PTI) Trombocitopenia isolada, com outras contagens normais (Hb e leuco normais), incluindo exames de esfregaço de SP, sem outras anormalidades, principalmente esplenomegalia. Autoanticorpos dirigidos contra glicoproteínas da membrana plasmática das plaquetas, que serão destruídas no baço. Sem condições clínicas aparentes que podem causar trombocitopenia (diagnostico de exclusão); Mortalidade de 2,5-5% (ICH) Patogênese Causas genéticas e ambientais Autoanticorpos específicos contra glicoproteínas das plaquetas que levam a uma destruição e inibição de produção; Esses autoanticorpos nem sempre são demonstrados, com baixa significância em decisões clínicas e são exames com baixa sensibilidade e especificidade. Relativamente mais comum em mulheres que em homens, e a incidência diminui com a idade; Incidência subestimada por casos assintomáticos; Manifestações clínicas São manifestações associadas aos defeitos plaquetários; Sitio de sangramento mais comum são pele e mucosas e costumam procurar a emergência pela presença de petéquias e até equimoses. Petéquias em MMII Manifestações mais graves (hematomas e hemartroses) são raras; Sangramentos após pequenos traumas e imediatamente após o trauma, isso porque as plaquetas são a primeira linha de defesa para a formação de coágulos. PTI Células B Autoanticorpos dirigidos contra glicoproteínas da membrana plasmática das plaquetas Baço Plaquetas opsonizadas são destruidas por fagócitos esplênicos Células T Células Th1/Th2 resistentes a apoptose e diminuição de c´leulas T regulatórias Trombopoetina baixa Sintese inadequada de plaquetas A intensidade dos fenômenos hemorrágicos é diretamente proporcional a intensidade da plaquetopenia, o paciente com plaquetopenia abaixo de 10.000 (risco alto) é importante internar o paciente para intervir em qualquer situação e maior possibilidade de tratamento em emergências. Diagnóstico Quadro clínico abrupto (paciente bem que começa a cursar com manifestações hemorrágicas); Excluir causas secundárias; Teste para HIV/HCV, a PTI pode ser uma das primeiras manifestações da infecção por HIV/HCV; Mielograma em pacientes idosos para excluir síndrome mielodisplásica; Investigação inicial História detalhada + exame físico completo Observar lâmina de sangue periférico Exames de laboratório (função renal, hepática, tireoidiana) Pesquisa por autoanticorpos (FAN) Pesquisa por infecções (HIV, HCV, H.pylori, CMV e EBV) Rx de tórax e USG de abdome total Avaliação da medula óssea (idosos > 65 anos) Diagnostico diferencial Existem drogas que estão associadas com a presença de plaquetopenia e substituir por outras classes Plaquetopenia falsa: o indivíduo tem agregados plaquetários e o aparelho conta como se fosse uma plaqueta só, por isso a necessidade da contagem de plaquetas. Tratamento O tratamento só é feito nos pacientes com plaquetas abaixo de 20.000/mm³ ou se houver sangramento; Manter contagem de plaquetas segura e evitar sangramentos maiores (>10.000/mm³); Evitar tratamento desnecessários em pacientes assintomáticos, principalmente pelos efeitos colaterais do tratamento que podem ser piores que sintomas da PTI moderada/leve, já que é feito com corticoterapia. Há remissões espontâneas (> crianças); Paciente na emergência O tratamento geralmente é com imunossupressor (corticoide) Paciente na emergência, grave sangrando e com suspeita de PTI → Pulsoterapia: corticoide por via IV – Metilprednisolona 1g por dia durante 3 dias, e após o 4º dia corticoide VO. • Pode-se usar Metilpredinisolona + imunoglobulina (se liga no mesmo sítio do autoanticorpo e impede essa ligação e consequente destrição plaquetária); Paciente na emergência estável e sem sangramento → Corticoide VO (Prednisona 1mg/Kg/dia) O objetivo é manter a contagem plaquetária > 20.000-30.000/mm³, nessa faixa só é indicado tratar caso haja sangramentos ou caso o paciente vá realizar alguma cirurgia/procedimento, para que seja realizado com mais segurança; Transfusão de plaquetas pode ser feita como terapia adjuvante em situações muito extremas, isso porque os anticorpos irão atacar as plaquetas novas de qualquer forma, então não é um tratamento tão eficaz. PTI refrataria crônica Se o paciente com PTI persiste por mais de 3 meses; Falha de resposta à esplenectomia (terapia de 2ª linha); A contagem de plaquetas é<50.000/mm³; Outros tratamentos: • Danazol • Ciclosporina • MMF • Dapsona • Azatioprina • H. pylori • Anti CD52, antiCD20 • Alfa-interferon • Colchicina • Antifibrinolíticos • Irradiação ou embolização esplênica • Pesquisa de baço acessório Purpura trombocitopênica trombótica (PTT) Em situações normais, no endotélio vascular vai haver a produção do FvW nos corpúsculos de Weibel-Palade, que são produzidos em multímetros de alto peso molecular e são clivados em multímeros de baixo peso molecular, através da ação da enzima ADAMTS-13, clivando no domínio A2 de VonWillebrand. Na PTT há a formação de anticorpos contra a enzima ADAMTS-13 e vai haver uma redução na atividade da enzima, provocando o acúmulo dos multímeros de alto peso molecular do FvW, que vai promover adesão, ativação e agregação plaquetária na microcirculação, levando a formação de trombos. As plaquetas não são destruídas, elas são consumidas indevidamente. Deficiência da metaloproteinase clivadora do fator de von Willebrand; Acúmulo de multímeros de alto peso molecular; Ativação e agregação plaquetária principalmente na microcirculação; Trombo plaquetário → isquemia em órgãos e lesão mecânica das hemácias; Fisiopatologia Causas Primária: causa não identificada Secundaria: LES, AR, síndrome de Sjogren, Polimiosite, doença de graves; Uso de drogas: ticlopina, mitomicina C (antineoplásico) e ciclosporina; Infecções: HIV (pode ser a 1ª manifestação); Pós transplante Diagnóstico Redução da atividade da enzima ADAMTS13 Redução da clivagem do FvW de alto peso molecular Lesão endotelial Consequências: Anemia microangiopática Trombocitopenia Oclusão microvascular Doença de instalação abrupta (não tem muita manifestações hemorrágicas e sim sintomas de trombose na microcirculação) Anemia hemolítica microangiopática, fraqueza, adinamia, febre, sintomas neurológicos 9trombose na microcirculação cerebral); Análise de sangue periféricos: presença de hemácias fragmentadas (esquizócitos), plaquetopenia e reticulocitose; Aumento importante de LDH, aumento leve de bilirrubinas – hemólise intravascular; Alteração de função renal; Testes normais: TP, TTPa, TT, fibrinogênio; → Ajuda a diferenciar da CIVD Atividade da ADAMTS13 reduzida; Sinais e sintomas Anemia hemolítica microangiopática: lesão mecânica e fragmentação das hemácias nos pequenos vasos ao passar pelos trombos. Manifestações neurológicas: coma, confusão mental, cefaléia, redução do nível de consciência. Disfunção renal: trombos na microcirculação que provoca deformidade nos glomérulos e consequente alteração renal. Febre Pentade clássica da PPT (só está presente em 5% dos casos): Alteração neurológica + Trombocitopenia + Anemia hemolítica + Alteração renal + Febre Quando houver a combinação de 2 ou 3 desses sintomas, é preciso ficar atento a possibilidade de PTT. Tratamento: remover o plasma deficiente da enzima ADAMTS13 e infundir um plasma fresco, atarvés da plasmaférese, associado ao uso de corticoterapia. Monitrização diária para acompanhar a resposta do paciente. Tratamento Plasmaférese: tratamento de escolha, é a remoção dos multímeros de alto peso do FvW e transfusão de um plasma com atividade enzimática normal (transfusão de troca); Se não estiver disponível, deve-se iniciar transfusão de plasma congelado e corticoide; Prednisona: 1mg/Kg/dia; Monitorização diária: Hb, reticulócitos, plaquetas, LDH, creatinina, esquizócitos. Manter a plasmaférese até que: • 2 contagens de plaquetas > 150.000/mm³ em dias diferentes; • Por 2 dias consecultivos Remissão em 80% e recaídas em 40%; Pacientes refratários: • Esplenectomia • Vincristina • Rituximab: anicorpo monoclonal anti-CD20 (depleção do infócito B) Diagnóstico diferencial: PTI – PTT Na PTT NÃO PODE transfundir plaquetas, porque estará dando mais substratos para fazer trombos na microcirculação. Defeitos funcionais da plaquetas São distúrbios qualitativos, em que nã alteração numérica das plaquetas e as alterações da função plaquetária ocorrem por defeitos genéticos ou adquiridos; Genéticos: • Deficiência de glicoproteínas da membrana e de receptores agonistas; • Defeitos da secreção plaquetária ou de grânulos; • Defeitos enzimáticos: síntese de prostaglandinas; Adquiridos: drogas (AAS e AINEs), CIVD, Circulação extra corporea (CEC), uremia, doenças mieloproliferativas; Quadro clínico Sangramento de pele e mucosas,ocorre no início na infância por ser uma doença hereditária, equimoses com pequenos traumas, muitas vezes desproporcional ao tamanho dos traumas; Epistaxe recorrente, hemorraia do TGI, menorragia; Sangramento após trauma ou cirurgia; Intensidade variável discreta até sangramentos graves que podem causar o óbito; Diagnóstico: quadro clínico + tempo de sangramento prolongado (Duke x Ivy) + plaquetas normais + agregação plaquetária; • Exame diagnóstico: curva de agregação plaquetária, é um exame que mede a função plaquetária, geralmente é feito em serviços especializados. Precisa ser realizado com o sangue fresco, assim que foi coletado. Tipos de distúrbios Púrpura de Bernard-Soulier: defeito complexo de glicoproteínas Ib-IX-V, que interfere na adesão plaquetária ao endotélio. Agregação plaquetária com ristocetina é deficiente e normal com outros agonistas. Púrpura de Glanzmann: defeito da glicoproteína IIB-IIIa-fibrinogênio. Agregação normal com ristocetina e deficiente com demais agonistas. Adesão normal mas, agregação deficiente. Doença do pool plaquetário: alterações nos grânulos de armazenamento. Agregação variável com ADP e ácido aracdônico, reduzida com colágeno e normal com ristocetina. Manejo dos distúrbios Informação sobre a doneça, risco de sangramento e aconselhamento genético; Não usar drogas que afetam a função plaquetária: AAS e AINH; Cuidado odontológico profilático; Reposição de ferro em mulheres com menorragia e até supressão da menstruação para evitar os sangramentos; Uso de DDAVP (hormônio que proove liberação de fatores no endótelio vascular), transfusão de plaquetas, uso de fator VII e agente antifibrinolíticos (contraindicação: hematúria).
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