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Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 1 PONTOS DE REFERÊNCIA ANATÔMICOS DOS ABDOME Os pontos de referência anatômicos usuais são as rebordas costais, o ângulo de Charpy, a cicatriz umbilical, as cristas e as espinhas ilíacas anteriores, o ligamento inguinal ou de Poupart e a sínfise pubiana. Na parede abdominal, destacam-se as seguintes estruturas: pele, tecido celular subcutâneo, processo xifoide, umbigo, ligamento inguinal e músculo reto abdominais. REGIÕES DO ABDOME O limite superior da cavidade abdominal corresponde a uma linha circular que passa pela junção xifoesternal e pela apófise espinhosa da 7ª vértebra dorsal. Em decorrência da forma em abóbada do diafragma, a projeção externa do limite superior da cavidade abdominal se faz na parede torácica. O limite inferior, ou seja, o limite entre a cavidade abdominal e a pélvis, corresponde externamente a uma linha circular que passa pela apófise espinhosa da 4ª vértebra lombar, cristas ilíacas, espinhas ilíacas anteriores, ligamentos inguinais (ligamentos de Poupart) e sínfise púbica. Esses limites aplicam-se a qualquer das divisões clínicas do abdome. O abdome pode ser dividido de vários modos; entretanto, as divisões em quatro quadrantes ou em nove regiões são as mais utilizadas (Figuras 17.1 e 17.2). Para dividi-lo em quatro quadrantes, basta imaginar uma linha vertical e uma horizontal que se cruzem perpendicularmente na cicatriz umbilical. As regiões delineadas assim se denominam: quadrante superior direito, quadrante superior esquerdo, quadrante inferior direito e quadrante inferior esquerdo. Exame do Abdômen Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 2 Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 3 A divisão em nove regiões é feita da seguinte maneira: primeiro, traçam-se duas linhas horizontais: a linha bicostal que une dois pontos nos quais as linhas hemiclaviculares (direita e esquerda) cruzam as rebordas costais correspondentes, e a linha bi ilíaca, que une as espinhas ilíacas anterossuperiores. Em seguida, traçam-se duas linhas curvas que acompanham as rebordas costais, a partir da base do apêndice xifoide até as linhas axilares médias, as quais são designadas linhas costais. Por fim, demarcam-se duas linhas ligeiramente oblíquas, uma de cada lado do abdome, que ligam o ponto de cruzamento da linha hemiclavicular com a reborda costal e o tubérculo do púbis. Por duas linhas oblíquas unem-se, por fim, as espinhas ilíacas anterossuperiores com o tubérculo do púbis. Desse modo, como mostram as Figuras 17.1 e 17.2, ficam delimitadas as nove regiões clínicas do abdome, assim designadas: hipocôndrios direito e esquerdo, flancos direito e esquerdo, fossas ilíacas direita e esquerda, epigástrio, mesogástrio ou região umbilical e hipogástrio. Figura 17.1 Regiões abdominais: (1) hipocôndrio direito; (2) epigástrio; (3) hipocôndrio esquerdo; (4) flanco direito; (5) mesogástrio ou região umbilical; (6) flanco esquerdo; (7) fossa ilíaca direita; (8) hipogástrio; (9) fossa ilíaca esquerda. Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 4 Figura 17.2 Projeção das vísceras abdominais na parede abdominal, tomandose como referência as duas maneiras de dividir o abdome. Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 5 SEMIOLOGIA 1. INSPEÇÃO Além das lesões elementares da pele e da circulação venosa colateral superficial, deve-se investigar a coloração da pele, a presença de estrias, manchas hemorrágicas e a distribuição dos pelos, bem como a eventual existência de soluções de continuidade da parede, representadas pela diástase dos músculos retos anteriores do abdome e pelas hérnias (Figura 17.4). Figura 17.4 À inspeção da parede abdominal, observase diástase dos músculos retos do abdome (A) e hérnia umbilical (B). Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 6 Figura 17.5 Abdome globoso em consequência de obesidade. A diástase dos músculos retos anteriores é caracterizada pela seguinte manobra: estando o paciente em decúbito dorsal, pede-se a ele para contrair a musculatura abdominal, seja elevando as duas pernas estendidas, seja levantando do travesseiro a cabeça, sem mover o tórax. Esta mesma manobra serve também para se investigar a presença de hérnias da parede abdominal. As hérnias inguinais e crurais tornam-se evidentes quando o paciente sopra com força sua própria mão, posicionada na boca para impedir a eliminação do ar. À inspeção abdominal, os seguintes parâmetros devem ser investigados: forma e volume do abdome, cicatriz umbilical, abaulamentos ou retrações localizadas, veias superficiais, cicatrizes da parede abdominal e movimentos. Existem dois tipos de inspeção: 1.1 Inspeção estática 1.1.1 Alterações de forma 1.1.2 Abaulamentos, retrações - O abaulamento ou a retração, em uma determinada região, torna o abdome assimétrico e irregular, indicando alguma anormalidade cuja identificação depende dos dados fornecidos pela inspeção, que se somam aos da palpação (localização, forma, tamanho, mobilidade e pulsatilidade). As principais causas são: hepatomegalia, esplenomegalia, útero grávido, tumores do ovário e do útero, retenção urinaria, tumores renais (Figura 17.9), tumores pancreáticos, linfomas, aneurisma da aorta abdominal (raro) e Megacolon chagásico quando se apresenta com fecaloma volumoso. O dado semiológico fundamental é a localização, daí a necessidade de se ter em mente a projeção das vísceras na parede abdominal. Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 7 1.1.3 Cicatrizes – a localização, extensão e a forma de uma cicatriz na parede abdominal podem fornecer informações uteis sobre cirurgias anteriores: ® Flanco direito: colecistectomia ® Flanco esquerdo: colectomia ® Fossa ilica direita: apendicectomia, herniorrafia ® Fossa ilíaca esquerda: herniorrafia ® Hipogástrio: histerectomia ® Linha média: laparotomia ® Região lombar: nefrectomia ® Região vertebral: laminectomia 1.1.4 Pele e anexos 1.1.5 Dilatações venosas 1.2 Inspeção dinâmica – 3 tipos de movimentos podem ser encontrados no abdome: movimentos respiratórios, pulsações e movimentos peristálticos visíveis. 1.2.1 Tipo respiratório 1.2.2 Movimentos peristálticos – podem ser visualizados em indivíduos muito magros, porém geralmente indicam obstrução com hiperperistaltismo 1.2.3 Pulsações 1.2.4 Hérnias Inspeção – Alterações de forma § Abdome atípico ou normal - Compreende grandes variações de acordo com cada individuo. Suas principais características morfológicas são a simetria e ser levemente abaulado. Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 8 § Abdome globoso ou protuberante o Aumentado de forma uniforme o Anteroposterior > transversal o Causas: obesidade, pneumoperitonio, ascite § Abdome em avental o É encontrado em pessoas com obesidade de grau elevado, sendo consequência do acúmulo de tecido gorduroso na parede abdominal. Neste tipo, a parede abdominal pende “como um avental” sobre as coxas do paciente, tornando-se mais evidente quando o paciente está de pé́. Figura 17.7 Abdome em avental em uma paciente obesa. Observam-se também estrias na pele. Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 9 § Abdome pendular ou ptótico o Porção inferior da parede abdominal protusa o Ex: obesidade de longa duração o Empregam-se essas denominações quando, estando o paciente de pé́, as vísceras pressionam a parte inferior da parede abdominal, produzindo neste local uma protrusão. o Sua causa mais comum é a flacidez do abdome no período puerperal. o Ocorre, também, em pessoas emaciadas cuja parede abdominal tenha perdido sua firmeza. § Abdome em batráquio à em ventre de batráquio o Transversal > anteroposterior o Estando o paciente em decúbito dorsal observa-se franco predomínio do diâmetro transversal sobre o anteroposterior. o Ascitede longa duração Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 10 § Abdome escavado o Sua característica morfológica está contida em sua denominação, ou seja, percebe-se nitidamente que a parede abdominal está retraída. É próprio das pessoas muito emagrecidas, geralmente portadoras de doenças consuntivas, principalmente neoplasias malignas do sistema digestivo. Inspeção – Alterações localizadas § Hérnias e eventrações § Tumores intra-cavitários Inspeção – Alterações de pele § Hérpes Zoster § Fístulas § Cicatrizes § Circulação colateral Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 11 § Equimose o Cullen o Gray Turner SINAL DE CULLEN E DE GRAY-TURNER Þ Sinal de Cullen: é uma equimose periumbilical, resultante de hemorragia retroperitoneal. Pode surgir na pancreatite aguda ou na ruptura de gravidez ectópica. Þ Sinal de Gray-Turner: equimose dos flancos. Pode ocorrer na pancreatite necro-hemorrágica e indica grave comprometimento da víscera. Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 12 2. AUSCULTA § Após a inspeção e antes da percussão e palpação § Objetivos: o Avaliar o estado de motilidade intestinal o Pesquisa de sopros vasculares na aorta e seus ramos § Normal o Ruído hidroaéreo o Estalidos e gorgolejos (sons de água) o Frequência – 5 a 34 por minuto o 1 – 2 pontos de pesquisa em ambos hemiabdomes, por 1 minuto § Patológicos o Exacerbação § Diarréia, obstrução intestinal (inicialmente) o Redução § Íleo paralítico, obstrução (fases finais) o Borborigmo § Gorgolejo alto e prolongado § Aumento da motilidade intestinal o Gargarejo § Exacerbação do borborigmo (bolhas grossas) o Sopros abdominais § Estreitamento da luz ou fístulas arteriovenosas § Seguir trajeto da aorta e seus ramos 3. PERCUSSÃO • Na percussão do abdome, a posição fundamental do paciente é o decúbito dorsal. Contudo, como se verá a seguir, outras posições são necessárias na pesquisa de ascite. • Pode-se observar os seguintes tipos de sons no abdome: timpanismo, hipertimpanismo, submacicez e macicez. • O som timpânico indica a presença de ar dentro de uma víscera oca. Em condições normais, é percebido em quase todo o abdome, porém é mais nítido na área de projeção do fundo do estômago (espaço de Traube). As variações do timbre do som timpânico nas várias regiões abdominais decorrem das diferentes quantidades de ar contido nos segmentos do trato digestivo; quando aumenta a quantidade de ar, tal como acontece na gastrectasia, no meteorismo, na obstrução intestinal, no vólvulo, no pneumoperitônio, fala-se em hipertimpanismo. Menor quantidade de ar ou superposição de uma víscera maciça sobre uma alça intestinal origina o som submaciço. A Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 13 ausência de ar origina o som maciço, como se observa nas áreas de projeção do fígado, baço e útero gravídico. Ascite, tumores e cistos contendo líquido originam som maciço. • A percussão do abdome tem por objetivo a determinação do limite superior do fígado e da área de macicez hepática, a pesquisa de ascite e a avaliação da sonoridade do abdome. • Técnica habitual (dígito – digital) • Identificar presença de líquido ascético, massas sólidas, aumento exagerado de ar nas alças intestinais ou fora delas, determinação do tamanho do fígado e baco. • Na ausência de suspeita de alterações significativas – pesquisar 4 quadrantes, fígado e baco. • Normal o Timpanismo o Exceção – hipocôndrio direito o Hipertimpanismo – extasia gástrica, obstrução intestinal, pneumoperitonio Figura 17.19 Percussão por piparote. Para aumentar a sensibilidade dessa manobra, o paciente deve colocar a borda de sua mão no meio do abdome a fim de impedir a transmissão do impulso pelo tecido subcutâneo. Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 14 SEMICÍRCULOS DE SKODA Percute-se o abdome a partir do epigástrio, radialmente em direção aos limites do abdome. Observa-se uma transição entre som timpânico para o submaciço e posteriormente, para o maciço no sentido crânio caudal. A junção dos pontos de transição forma semicírculos com concavidade voltada para cima. SINAL DE JOBERT Timpanismo a percussão do limite superior do fígado que corresponde a acúmulo de gás abaixo do diafragma que ocorre na perfuração de víscera oca em peritônio livre. SINAL OU LEI DE COURVOISIER É a presença de aumento indolor da vesícula biliar em paciente com icterícia. Está associado a câncer da cabeça do pâncreas. 4. PALPACAO • Como norma básica, efetua-se a palpação do abdome com o paciente em decúbito dorsal, usando-se a técnica da palpação com a mão espalmada. Em determinadas condições o paciente deve assumir outras posições, assim como o examinador poderá́ utilizar técnicas palpatórias diferentes. • Objetivos o Avaliar o grau de resistência da parede abdominal o Estabelecer as condições físicas das vísceras o Explorar a sensibilidade dolorosa do abdome • A palpação sistemática do abdome compreende quatro etapas que devem ser cumpridas, uma após a outra: palpação superficial, palpação profunda, palpação do fígado, palpação do baço e de outros órgãos, além de manobras especiais. • Superficial x profunda • Paciente em decúbito dorsal, confortável, com pernas e braços estendidos • Estruturas que podem ser palpadas: o Borda inferior do fígado o Grande curvatura do estomago o Sigmoide o Ceco Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 15 o Cólon ascendente o Partes do cólon transverso e descendente o Aorta o Polo inferior do rim direito • Palpáveis em situações patológicas: o Duodeno o Baco o Vesícula biliar o Apêndice o Delgado o Bexiga o Útero, ovários e trompas (palpacao abdominovaginal) • Palpação superficial: o Destinada a superfície cutânea da parede abdominal o Mão direita espalmada, com movimentos rápidos e rotativos o Reconhecer: hiperestesia cutânea e hipertonicidade muscular (defesa muscular) Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 16 Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 17 SINAL DE MURPHY Ao se comprimir esse local, pede-se ao paciente que inspire profundamente. Neste momento, o diafragma fará o fígado descer, o que faz com que a vesícula biliar alcance a extremidade do dedo que está comprimindo a área. Nos casos de colecistite aguda, tal manobra desperta uma dor inesperada que obriga o paciente a interromper subitamente a inspiração, este fato denomina-se sinal de Murphy. SINAL DE ROVSING Quando se suspeita e apendicite aguda este ponto deve ser comprimido, fazendo-se uma pressão progressiva, lenta e contínua, procurando-se averiguar se isso provoca sensação dolorosa. SINAL DE BLUMBERG Dor que ocorre a descompressão brusca da parede abdominal. Essa manobra pode ser aplicada em qualquer região da parede abdominal, e seu significado é sempre o mesmo, ou seja, peritonite. Nos casos de peritonite generalizada, o sinal de Blumberg é observado em qualquer área do abdome em que foi pesquisado. • Palpação profunda: o Para toda víscera avaliar forma, consistência, limites, mobilidades, sensibilidade o Ruídos produzidos na palpação: § Roncos § Borborigmos § Gargarejo § Vascolejo § Patinhacao o Estomago: § Palpação difícil § Grande curvatura – maos obliquas com dedos convergentes – percepção de degrau acima da cicatriz umbilical § Na estase gástrica pode ser percebido o vascolejo e a patinhacao o Ceco: § Fossa ilíaca direita § Mãos obliquas, em forma de arco, utilizando borda ulnar § Consistência elástica e piriforme Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 18 o Colon ascendente § Cordão cilíndrico (especialmente se dilatado) o Colon descendente § Examinador a esquerda § Principalmente em pacientes com constipação o Sigmoide § Mais fácil de palpar § Mãos emarco, de cima para baixo § Cordão móvel o Tumores abdominais § Verificar se é tumor de parede abdominal ou não – flexão do tronco § Massas abdominais – avaliar localização, forma, tamanho, superfície, consistência, mobilidade e pulsatilidade § Tumores fixos – geralmente retro peritoneais § Aneurismas – pulsação percebida em todos os sentidos e com intensidade igual Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 19 Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 20 Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 21 Larissa Irigoyen Exame do abdome junho/21 22
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