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Medicina Baseada em Evidências (MBE) Luciana Canela, 2020. Aula 1 - Medicina Baseada em Evidências - Introdução: A MBE propõe que a prática médica siga o rigor do método científico, desde a elaboração do método até a resolução, e também saber o que é mais eficiente nas terapias. - Método Científico: É constituído por etapas a serem seguidas. - Epidemiologia: É caracterizada como um estudo sobre determinada população, comunidade ou povo. Descreve a frequência, distribuição de eventos e seus fatores determinantes e condicionantes. Além disso, ela é responsável por destacar os fatores de risco e avaliar a eficácia das intervenções realizadas. Porém, muitas vezes a epidemiologia não consegue definir a causa específica de determinada doença, mas sim, lidar com a relação entre os fatores de risco para ela. - Expressões Importantes: Desfecho - Não necessariamente é uma doença. Ex- Vacina sendo analisada em um ensaio clínico -> desfecho é proteção. Exposições - Analisa a exposição do indivíduo a um determinado fator, que pode ser um fator de proteção ou risco. Os fatores de risco/proteção podem resultar na doença ou contribuir para o risco a tê-la. Estudando esses fatores é possível implementar ações de prevenção do risco e promoção de saúde na população. Entretanto, como já dito acima, os estudos epidemiológicos não conseguem afirmar uma causa específica para determinada doença, mas sim, estabelecer uma relação entre os fatores de risco e doentes. Ex - Gestante que fuma apresenta mais chances de aborto espontâneo. - Deliniamentos Epidemiológicos: Os estudos epidemiológicos podem ser divididos em: -> Observacionais: Nestes, o pesquisador apenas observa a situação de uma determinada comunidade, sem intervir. Eles podem ser dividiso em: - Observacionais descritivos - O pesquisador apenas descreve a distribuição de um evento na população em termos quantitativos, podendo relatar a incidência ou prevalência. Nesse estudo também ocorre a identificação dos grupos de risco. Para que ele seja realizado, não é necessário a formação de um grupo controle, usando apenas 1 tipo de populaçao. Os estudos descritivos podem ainda ser divididos em: a ) Relato de caso: Esse estudo descreve uma situação clínica, tratamento instituído e evolução do paciente. b ) Série de casos: Esse estudo descreve mais de 2 casos clínicos. c ) Transversais - Observacionais analíticos - O pesquisador faz associação entre a exposição e desfecho, destacando os fatores de risco e proteção. Esse tipo de estudo esclarece a relação entre causa e efeito. -> Experimentais: Nesses estudos, o pesquisador realiza intervenções. Eles podem ser divididos em: - Ensaio Clínico Randomizado - Ensaio Clínico não randomizado - Ensaio Comunitário Sendo que esses 2 tipos de estudos são analíticos! - Hierarquização dos Estudos Científicos: Por meio dessa organização, percebe-se que a revisão sistemática de literatura é o estudo com maior peso, sendo uma importante forma de obtenção de conhecimentos. - Estudos Transversais: Esse tipo de estudo é o mais empregado na pesquisa epidemiológica. Também pode ser chamado de Seccional, Corte, Corte transversal, Vertical, Pontual, De prevalência. Ele tem a estratégia de observação direta de determinada quantidade planejada de indivíduos ou animais uma única vez. Com isso, fornece o diagnóstico instantâneo da situação de saúde de uma população e não faz o acompanhamento do indivíduo. Logo, nesse estudo, a exposição e o desfecho são colhidos ao mesmo tempo. O resultado é a prevalência de um fator na população. - Objetivos do Estudo Transversal: Esse estudo tem por finalidade responder a questões como: ”Quais são as frequências do fator de risco e desfecho nessa população?” “Existe associação entre o fator de risco e o desfecho em questão?” - Como realizar um estudo transversal? - Elaborar uma questão de estudo; - Eleger uma população para o trabalho (população de interesse); - Escolher o método de escolha da amostra; A amostra precisa ser representativa da população. Ou seja, ela deve apresentar as características relevantes para que a pesquisa seja realizada. Isso deve ocorrer pois com os resultados obtidos pela amostra é possível inferir para a população. Ex- Estudo de doenças cardiovasculares -> Fernandópolis tem pessoas com doenças cardiovasculares? Para determinar o tamanho adequado da amostra, faz-se um cálculo, de acordo com o tamanho da população e a prevalência da doença a ser estudada na população. - Escolher os fenômenos a serem estudados; - Escolher os métodos de pesquisa; - Ex - Questionário, entrevista, exames, censo - Coleta de dados; - Realizar uma análise estatística para saber se o resultado é significativo. - Interpretação dos Dados: Para interpretar o resultado de um estudo transversal, é necessário organizar os dados em uma tabela de contingência: DESFECHO -> Sim Não Sim Indivíduos expostos que têm o desfecho. Indivíduos expostos que não têm o desfecho. Não Indivíduos não expostos que têm o desfecho. Indivíduos não expostos que não têm o desfecho. EXPOSIÇÃO ↑ Exemplo: a ) Indivíduos que possuem Hepatite A e tiveram contato com água contaminada. b) Indivíduos que não possuem Hepatite A e tiveram contato com água contaminada. c ) Indivíduos que possuem Hepatite A e não tiveram contato com água contaminada. d) Indivíduos que não possuem Hepatite A e não tiveram contato com água contaminada. - Prevalência: Corresponde ao número total de casos existentes numa determinada população, em determinado momento. No estudo transversal, a prevalência é analisada uma única vez. - Medidas de efeito (Risco/Proteção) no estudo Transversal: Nos estudos transversais, os cálculos usados são: -> Razão de Prevalência -> Razão de Chances (Odds Ratio - OR) Razão de Prevalência A razão de prevalência é a razão entre a prevalência do desfecho entre os expostos dividida pela prevalência do desfecho entre os não expostos. Ela estima se a prevalência é maior, igual ou menor no grupo exposto que no não exposto. Prevalência do desfecho entre os expostos Prevalência do desfecho entre os não expostos Razão de prevalência => Contato com água contami nada Indivíduos com Hepatite A Indivíduos sem Hepatite A TOTAL SIM 114 (a) 98 (b) 212 NÃO 83 (c) 413 (d) 496 TOTAL 197 511 708 Se o resultado for menor que 1 -> Prevalência é menor nos expostos que nos não expostos. Fator de proteção Se o resultado for igual a 1 -> A prevalência é igual entre os expostos e não expostos. Se o resultado for maior que 1 -> A prevalência é maior nos expostos que nos não expostos. Fator de risco. Exemplo: -> Prevalência de hepatite A entre os indivíduos expostos = 114/212 -> Prevalência de hepatite A entre os indivíduos não expostos = 83/496 -> Razão de Prevalência = 114/212 : 83/496 = 56544/17596 = 3,21 Interpretação - A prevalência de hepatite A é 3,2 vezes maior entre os indivíduos expostos que os não expostos. Razão de Chances - Odds Ratio (OR) Esse cálculo estima o risco relativo e respondem a questões como: “Indivíduos expostos têm quantas vezes mais chances de apresentar desfecho?” Seu cálculo é feito pela divisão entre a chance de desenvolver e não desenvolver o desfecho entre os expostos. Usando a mesma tabela de hepatite para calcular o O.R: = 5,7 Interpretação -> Os indivíduos expostos têm 5,7 mais chances de ter desfecho que os não expostos. - Estudos Transversais: Vantagens Limitações - Baixo custo - Facilidade de realização - Descrevem características da população, identificando grupos de risco para ações e planejamento em saúde. - Condições de prevalência na população (para fazer amostra ideal) - Tamanho amostral grande - Relação temporal - Não há espera para observar o efeito e nem informações anteriores sobre o efeito. Contato com água contami nada Indivíduos com Hepatite A Indivíduos sem Hepatite A TOTAL SIM 114 (a) 98 (b) 212 NÃO 83 (c) 413 (d) 496 TOTAL 197 511 708 Se O.R for menor que 1 -> A chance de desfecho é menor nos expostos que nos não expostos. Fator de proteçãoSe O.R for igual a 1 -> A chance é igual entre os expostos e não expostos. Sem associação. Se O.R or maior que 1 -> A chance de desfecho é maior nos expostos que nos não expostos. Fator de risco. - Estudo de Caso- Controle: Esse estudo pode ser chamado de Caso- referente, História de Casos ou Estudo retrospectivo. Nele, são selecionados um grupo de pacientes com determinada doença de interesse (grupo caso) e um grupo de indivíduos não doentes (grupo controle) de uma população base. A partir disso, são pesquisados as exposições no passado deles, a fim de saber quais são os fatores de risco para determinado desfecho. Ex - Indivíduos que têm câncer de pulmão --> Fumaram no passado? Para descobrir se fumo é fator de risco. - Princípios Básicos do estudo Caso - Controle: É uma pesquisa do tipo observacional, de natureza retrospectiva. A aferição da exposição pode ser feita por entrevistas pessoais, telefonemas ou exames de registro médico. Esclarece a relação exposição - doença, a partir da doença, buscando no passado a exposição ao fator de risco. Se a exposição for mais presente no grupo de casos que no de controle -> A exposição é considerada fator de risco para determinado desfecho. É importante fazer o pareamento entre os grupos estudados. Ou seja, eles devem apresentar a mesma idade, sexo, estado civil, moraria para serem elegíveis aos critérios do trabalho. A definição e seleção dos casos e controles é feita de acordo com 2 critérios: 1) Definições do desfecho - Laboratório, Clínico 2) Severidade da doença - Morbidade, mortalidade, infecção, sequelas - Vieses: Viés de seleção -> Ocorre quando a amostra do estudo não é representativa da população. Ele é resultante da maneira como os indivíduos foram selecionados para o estudo. Viés de memória -> Ocorre quando um indivíduo não se lembra ao que se expos no passado. - Medidas de efeito (Risco/Proteção) no estudo Caso - Controle: Nos estudo de caso-controle, o único cálculo usado é a razão de chances (OR): Razão de Chances - Odds Ratio (OR) Cálculo -> - Estudos Caso-Controle: Vantagens Limitações - Baixo custo; - Relativamente rápido; - Não há necessidade de acompanhamento dos participantes; - Não precisa de grandes amostras; - Usado para a investigação dos fatores de risco para casos raros, já que começa a partir da seleção de doentes. - Depende da memória dos entrevistados; - A seleção do grupo controle pode ser difícil pelas grandes diferenças; - Depende do preenchimento correto dos prontuários. Aula 2 - Medicina Baseada em Evidências Estudos de Coorte: Esse tipo de estudo é analítico observacional, onda a situação do participante determina a escolha para a formação do grupo a ser estudado. Ele usa um grupo de expostos e um grupo de não expostos a um determinado fator e compara as experiências entre eles. Os indivíduos selecionados são acompanhados por um período de tempo para saber se sendo exposto a um fator de risco, irão desenvolver o desfecho estudado ou não. Os estudos de Coorte podem ser divididos em: - Estudo de Framingham Heart Study: Esse estudo é considerado um clássico estudo de Coorte prospectivo. Nele, uma população foi selecionada e acompanhada por um longo período de tempo, a fim de: - Analisar se haveria ou não o desenvolvimento de doenças cardiovasculares; - Identificar os fatores que contribuem para doenças cardiovasculares. A partir desse estudo, muitos trabalhos científicos foram publicados. - Seleção para o estudo: O estudo de Coorte pode ser feito a partir de: -> Indentificação de um grupo especial para a exposição. -> Amostra da população geral, onde existe heterogeneidade de exposição. Prospectivo Retrospectivo Nesse tipo de estudo, a doença ainda não ocorreu. Por isso, é um estudo mais demorado, já que fará o acompanhamento do indivíduo exposto ao fator de risco para verificar se haverá o desfecho (doença) no futuro. Dessa forma, esse tipo de estudo é mais custoso e nele pode ocorrer perda de pacientes. Ele depende de entrevistas, exames, etc. Nesse tipo de estudo, o desfecho (doença) e a exposição já ocorreram no passado. O pesquisador analisa o passado do paciente. Isso pode ser feito por meio de prontuários médicos. Por isso, é menos custoso e rápido. Porém, depende da qualidade, disponibilidade das informações. - Coleta de informações: As fontes de informação para a realização de um estudo de Coorte são: Essas fontes dependem da qualidade, disponibilidade dos registros existentes e das entrevistas e exames. - Viéses: Os viéses mais comuns nesse estudo são: 1 ) Viés de Seleção: Se o cálculo usado para obter a amostra da pesquisa não for feito de forma adequada, o estudo pode gerar resultados errôneos, invalidando os estudos. 2 ) Viés de Acompanhamento: A perda de indivíduos por morte ou desistência do estudo pode causar alterações na pesquisa. O normal é ocorrer até 10% de perdas, sem que interfira na qualidade dos resultados. 3 ) Viés de Informação: Quando a busca por informações é comprometida. Isso pode ocorrer por prontuários incompletos, por não ter conhecimento a respeito da presença ou não do desfecho no indivíduo estudado. - Medidas de Efeito em Estudo de Coorte: As medidas podem ser usadas para medir o risco em nível individual ou populacional, ao recorrer a resultados individuais e inferí-los a nível populacional. Essas medidas são: A - RISCO ABSOLUTO: / Esse cálculo indica a probabilidade que o indivíduo tem de ficar doente (incidência). Responde a pergunta - “Qual a incidência da doença em um grupo inicialmente livre dela?” B - RISCO ATRIBUÍVEL: RA Esse cálculo indica a incidência que é atribuída para determinada exposição. Responde a pergunta - “Qual a incidência atribuível à exposição? Medidas ambientais, como amostras de ar e água; Dados de registro, podendo ser médicos ou industriais; Questionários; Entrevistas pessoais ou telefone; Exame físico; Testes médicos. 11 C - RISCO RELATIVO: RR Esse cálculo indica se o fator de exposição é um fator de risco ou proteção. Usando a tabela de contingência, RR = Responde a pergunta - “Quantas vezes é mais provável que as pessoas expostas se tornem doentes em relação às não expostas?” - Interpretação do Risco Relativo: Se a exposição estiver associada ao desfecho, a incidência dele nos expostos será maior que nos não expostos. Se o RR < 1 -> Fator de proteção Se o RR > 1 -> Fator de risco Se o RR = 1 -> Nulo - sem associação. D - ODDS RATIO/ RAZÃO DE CHANCES: OR Esse cálculo indica quantas vezes mais chances há entre os expostos a um fator de desenvolverem o desfecho. Com base nesse resultado, o fator pode ser classificado como de risco ou de proteção. Responde a pergunta - “Quantas vezes a chance de desenvolver a doença ocorre no grupo exposto em relação ao não exposto? - Vantagens do Estudo de Coorte: - Cálculo de taxas de incidência entre expostos e não expostos (RR); - Fator de exposição é definido no início do estudo, não sofrendo influências; - Permite conhecer a história natural da doença e sua incidência com mais precisão; - Permite o estudo de múltiplos efeitos/consequências de um mesmo fatos de exposição. - Limitações do Estudo de Coorte: - São mais custosos, por serem feitos em seguimento, por longo período; - Vários viéses podem ocorrer; - Pode ocorrer perda de magnitude entre expostos e não expostos pela longa duração; - Não são adequados para doenças raras; - São susceptíveis a perdas; - São pouco reprodutíveis; - A situação de exposição pode mudar nos grupos; - São inadequados para doenças com longo período de latência.
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