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MEDICINA LEGAL Canal Carreiras Policiais – Instituto de Ensino das Carreiras Policiais Ltda. Todos os direitos reservados. www.canalcarreiraspoliciais.com.br ( “Para chegar aonde poucos chegam é preciso fazer o que poucos fazem.” “A vida vai testar você. A vida vai testar a sua força de vontade e você terá que mostrar a ela que é isso mesmo o que você quer e que você merecedor disso! Levante a cabeça, aceito os desafios e mostre que você merece conquistar os seus sonhos!” ) ( ORIENTAÇÕES PRELIMINARES ) 1. Este material foi desenvolvido pelo editorial do Instituto de Ensino das Carreiras Policiais e é protegido por Direitos Autorais, sendo completamente vedada a reprodução parcial ou integral sem que haja a devida autorização, sob pena de responsabilização cível e criminal. 2. Nosso material é de uso exclusivo e interno aos nossos alunos/coachees, sendo atualizado semanalmente por nossa coordenação de materiais didáticos. 3. Nossos materiais possuem a profundidade específica para o concurso-meta de cada aluno, com o foco para o que efetivamente é exigido pela banca examinadora do certame. 4. Havendo dúvidas sobre o conteúdo ou dificuldade de assimilação, o aluno deve se utilizar do livro para potencializar a compreensão e informar ao coach através do relatório semanal. ( MEDICINA LEGAL | )Nosso site: www.canalcarreiraspoliciais.com.br E-mail: coach@canalcarreiraspoliciais.com.br Instagram: @canalcarreiraspoliciais 1 MEDICINA LEGAL DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS E TRAUMATOLOGIA ( INTRODUÇÃO: ) A medicina legal é uma ciência aplicada que sistematiza suas técnicas e seus métodos a favor da Administração da Justiça. Não se trata de uma especialidade médica propriamente dita, mas sim da atuação da medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais. ( DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS ) Documentos médico-legais são instrumentos escritos ou simples exposições verbais objetivando elucidar a Justiça e servir como prova para formação de convicção do juiz. IMPORTANTE: Os documentos médico-legais podem ser escritos ou verbais! ( - Há cinco documentos médico-legais trazidos pela doutrina: ) 1. Notificações; 2. Atestados; 3. Relatórios; 4. Pareceres;e 5. Depoimentos orais. 2 Passaremos a partir de agora a analisar cada um desses documentos: 1. NOTIFICAÇÃO: Delton Croce ensina que as “notificações são comunicações compulsórias às autoridades competentes de um fato médico sobre moléstias infectocontagiosas e doenças do trabalho”, que tem como objetivo evitar a disseminação da doença. O médico que não denuncia o conhecimento de doença, cuja notificação seja compulsória, estará incorrendo no crime previsto no art. 269 do CP: ( Art. 269 do Código Penal: “Deixar o médico de denunciar à autoridade pública do en ç a c u j a n o t i f i c a ç ã o é c o m p u l s ó r i a ” ) Trata-se de crime próprio, pois somente o médico pode ser sujeito ativo desde delito, consumando-se o delito no exato momento da omissão, não se exigindo qualquer resultado que advenha dessa conduta omissiva. 2. ATESTADOS: São certificados médicos que atestam um fato. Importante, porém, destacar que somente o atestado judiciário se caracteriza como documento médico- legal. Aqueles atestados de saúde para faltar ao trabalho (atestados oficiosos) ou para licença do serviço público (atestados administrativos) não se afiguram como documentos médico legais. 3. RELATÓRIOS: Trata-se de documento legal que descreve minuciosamente um fato médico e suas consequências, em razão do interesse judicial desse acontecimento. A literatura médico-legal traz um distinção técnica entre o relatório, que costuma ser cobrada com grande frequência em concursos públicos. Se o relatório é ditado diretamente ao escrivão, denomina-se auto; e, se redigido posteriormente pelos peritos, ou seja, após suas investigações e consultas ou não a tratados especializados, recebe o nome de laudo. a) ( MEDICINA LEGAL | )Relatório ditado ao escrivão: AUTO. b) Relatório redigido pelos próprios peritos: LAUDO MNEMÔNICO: Para ditar ao escrivão tem que falar “AUTO”(ALTO). Já o perito LAUDA o relatório. 3 O RELATÓRIO MÉDICO-LEGAL POSSUI SETE PARTES: preâmbulo, quesitos, histórico, descrição, discussão, conclusões e respostas aos quesitos. LEMBRANDO QUE O PERITO JAMAIS DEVE EXPRESSAR SUA OPINÃO. SENDO O DOCUMENTO MAIS MINUCIOSO. ( a) Preâmbulo — parte que contem a identificação dos peritos, do examinando, bem como da autoridade que designou a perícia. ) ( b) Quesitos — Esses quesitos já estão pré-formatados para cada espécie de crime. Entretanto, é permitido à autoridade e às partes, até o ato de realização da diligência, acrescentar novos quesitos aos preliminarmente formulados. (art. 176 do CPP) No cível, e em Psiquiatria Forense, não existem quesitos pré-determinados) ) ( c) Histórico — Também conhecido como “ comemorativos ”, o histórico é o registro de todas as informações colhidas do interessado ou de terceiros, vinculados fato objeto da perícia. ) ( d) Descrição “visum et repertum ” — Trata-se da parte mais importante do relatório, sendo essencial para sua confecção. Sua função é reproduzir minuciosamente os exames e técnicas empregadas e de tudo o que for observado pelos peritos. É nessa parte do relatório médico-legal em que o perito expõe todas as suas impressões sobre o objeto da perícia. P ) ( e) Discussão — Esta é a fase em que o perito externa a sua opinião sobre o fato, afastando as hipóteses descabidas, capazes de gerar confusão, objetivando um diagnóstico lógico, preciso e racional. Será a partir das opiniões do perito que se viabilizará a posterior conclusão do relatório. LEMBRANDO QUE O PER ) ( f) Conclusões — Essa é a parte em que os peritos sintetizarão com clareza o diagnóstico deduzido pela descrição e pela discussão, concretizando o que fora objeto da discussão anterior. Trata-se, em suma, da síntese da dedução do exame e da discussão. ) ( g) Respostas aos quesitos — Trata-se da parte em que os peritos respondem objetiva e precisamente a todos os quesitos. ) 4. PARECER MÉDICO-LEGAL: Trata-se de documento médico-legal que deriva de um relatório que suscita dúvidas, necessitando de esclarecimentos de médico especialista, que não tenha participado da perícia anterior. Essa consulta ao especialista pode ser escrita ou verbal. 4 A resposta à perícia desse especialista consubstancia o que a doutrina denomina de parecer médico-legal. ( IMPORTANTE: Todas as partes do relatório também deve estar presentes no parecer, exceto a descrição . ) ( 5. DEPOIMENTO ORAL: ) O depoimento oral deriva da oitiva do perito em juízo, com valor probatório de prova técnica, e não testemunhal. Dessa forma, quando o perito é chamado a falar em juízo sobre alguma divergência apontada pelas, ele atua na condição de perito, e não de testemunha. É de suma importância deixar claro, desde já, que a atuação do perito limita- se à análise dos vestígios do crime; enquanto a atuação da autoridade policial deve conduzir a sua atuação para alcançar indícios do crime. O vestígio é material; enquanto o indício é subjetivo. O perito não afirmará que houve um estupro, ele relatará que há indícios de conjunção carnal. Porém, como sabemos, o estupro exige o dissenso da vítima. Nesse caso, cabe ao Delegado de Polícia, buscar elementos que o possibilitem afirmar que houve não só a conjunção carnal, mas também o constrangimento. Ou seja, a autoridade deverá colher indícios de que a atuação do agente foi criminosa, forçada, contra a vontade da vítima. ( TRAUMATOLOGIA FORENSE ) A traumatologia médigo-legal estudaas lesões e estados patológicos produzidos sobre o corpo humano, apresentando o seu diagnóstico e prognóstico. A traumatologia estuda também as diversas espécies de energias vulnerantes que atuam sobre o corpo humano. Essas energias subdividem-se em energias de ordem: mecânica; física, química, físico-química; bioquímica; biodinâmica; e mista. Cada energia dessas provoca um tipo específico de lesão no corpo humano. ( DIFERENÇA ENTRE TRAUMA E LESÃO: ) Conceitua-se TRAUMA como a atuação de uma energia externa (física, mecânica ou química) sobre o corpo da pessoa, com intensidade suficiente para provocar desvio da normalidade, com ou sem expressão morfológica; A ( MEDICINA LEGAL | )5 LESÃO, por sua vez, corresponde à alteração estrutural proveniente da agressão ao organismo, podendo ser visível macro ou microscopicamente. ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA: As energias de ordem mecânica são aquelas capazes de modificar o estado de repouso e movimento de um corpo, produzindo lesões em parte ou no todo. Essas energias são representadas por elementos concretos, elementos que podemos “pegar com as mãos”. Ex. martelo, tesoura, faca. Nessa espécie de energia, se o agente vulnerante e a vítima estiverem parados, nada acontece. Necessita-se, então, de um movimento da vítima ou do agente vulnerante. Nesse contexto, importante assinalar que a pele é o maior órgão externo do corpo humano e, toda vez que o corpo humano sofre uma lesão, a pele será impactada e, como tal, um importante instrumento para o estudo da Medicina Legal. A pela pode ser analogicamente comparada a uma esponja de lavar louça, onde temos uma camada de cima mais grossa e uma camada inferior mais macia. A camada mais externa é a EPIDERME (sem vasos sanguíneos e mais dura); e a mais interior denominada DERME (mais macia e cheia de vasos sanguíneos, nervos e gorduras – células vivas). As saliências e reentrâncias da derme são as papilas da DERME (parte branca “entra” na parte mais avermelhada – as partes brancas entrando na epiderme são chamadas de derme papilar). A derme é divida em papilar (mais superficial) e reticular (mais interna). Quando ocorrer lesão da derme papilar sangra um pouco; quando na derme reticular (mais profunda) sangra mais. A derme papilar é que proporciona o desenho nos dedos (impressões digitais – cristas dérmicas – o desenho está na epiderme, mas quem a origina são as papilas dérmicas). O suor e pressão 6 proporcionam a possibilidade de visualização e análise das impressões digitais sobre determinado plano. Camadas da Epiderme: (em sequência) 1. Camada Basal – Camada mais profunda da pele, geradora das células da epiderme, só com células vivas. 2. Camada Espinhosa; 3. Camada Granulosa; 4. Camada Lúcida; 5. Camada Córnea – Camada mais superficial da pelo, onde as células perdem o núcleo. ( D E R ME R E T I C U LAR – MAI S PR O F U N D A, S A NGRA U M P O U C O M AI S. D E R ME PAPILAR – M AI S S U PE R F I C I AL, S A N GR A POU C O. ) Voltemos a estudar as energias mecânicas... As energias mecânicas atuam por pressão, percussão, tração, torção, compressão, explosão e deslizamento. E, de acordo com a forma de sua atuação sobre o corpo humano, os agentes vulnerantes mecânicos se classificam em: 1. Perfurantes (produzem feridas puntiformes); 2. Cortantes (produzem feridas incisas); 3. Contundentes (produzem feridas contusas); 4. Perfurocortantes (produzem feridas perfusoincisas); 5. Perfurocontundentes (produzem feridas perfurocontusas); 6. Cortocontundentes (produzem feridas cortocontusas); ( C I SALH AM E NT O : T r a t a - s e d a a ç ã o de d u a s f o rças s e d irig in d o em c a min h o s opostos e sobre um mesmo corpo . EX. movimento da tesoura (uma lâmina para baixo e outra para cima). Vale ressaltar que a tesoura fechada é um instrumento perfurante; já quando aberta, caracteriza-se como um instrumento perfurocortante de um gume. ) ( MEDICINA LEGAL | )Como já assinalado, a depender do objeto, a ferida também se altera (FORMAS DA FERIDA). Muita atenção aqui, pois, por vezes a questão objetiva pede a ferida e não a classificação do objeto vulnerante (pegadinha de prova) Há doutrinadores que trazem a classificação quanto à forma da lesão: 7 ( Lesão em plano : ocasionada por agente contundente . Ex. soco. Lesão em linha : ocasionada por agente cortante deslizando sobre a pele, também conhecida como lesão em arco de violino. Ex. faca que desliza sobre a pele. Lesão em ponto : produzidas por agente perfurante através de pressão exercida sobre a pele. Ex. seringa. ) ( LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO PERFURANTE : ) São perfurantes os instrumentos puntiformes, finos, cilíndricos, com o comprimento predominando sobre a largura e a espessura, causando lesões punctórias. Ex.: alfinetes, agulhas, pregos, furador de gelo, estoque, estilete agulhado, espinhos etc. Agem simultaneamente por percussão ou pressão por um ponto, afastando as fibras do tecido e, muito raramente, seccionando- as (dividindo-as), segundo Genival V. França. As feridas perfurantes tem um predomínio da profundidade em relação à extensão, de raro sangramento e de pouca nocividade à pele. E, em razão das fibras elásticas, o diâmetro da lesão quase sempre será menor do que o instrumento causado, em razão da elasticidade e retratilidade dos tecidos humanos. Por vezes, esse instrumento perfurante adentra por uma parte do corpo e sai por outra. O ferimento de saída, quando presente, se apresenta mais irregular e com diâmetro menor do que o de saída. Diante de instrumento perfurante de médio calibre, a forma da lesão assume um formato diferente do que o de costume, obedecendo às leis de Filhos e Lange, conforme assinala Genival. ( Primeira Lei de Filhos — As soluções de continuidade são feridas que se assemelham às produzidas por instrumentos perfurocortantes de dois gumes e de lâmina achatada (casa de botão). ) ( Segunda Lei de Filhos — Quando as feridas se apresentam numa mesma região, onde as linhas de força tenham um só sentido , elas se apresentarão sempre na mesma direção, num só sentido. ) 8 ( Lei de Langer ou Polimorfismo — Feridas ocasionadas por instrumentos perfurantes de médio calibre , quando produzidas em região de entrecruzamento e superposição de fibras elásticas , acarretam aspecto estrelado, bizarro, anômalo ou polimorfo . ) (DIREÇÃO DAS FIBRAS ELÁSTICAS DA PELE) Importante salientar que somente no vivo esses ferimentos tomam tais direções, em virtude da elasticidade e retratilidade dos tecidos. Após a morte, a desidratação dos tecidos e a rigidez cadavérica impedem a retração das fibras elásticas. Por sua vez, pode ocorrer da profundidade da lesão ser maior do que a do comprimento do próprio objeto perfurante, pois há regiões no corpo humano que possuem maior depressibilidade dos tecidos. A essas lesões, a doutrina chama de “FERIDAS EM ACORDEÃO” (localizadas geralmente no abdômen). Ex: lâmina curta que, em razão da depressão da pele, consegue atingir órgãos profundos. ( LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CORTANTE ) Os instrumentos cortantes são aqueles que agem deslizando sobre o tecido cutâneo, provocando feridas cortantes/incisas, também conhecidas como incisas. São exemplos de instrumentos cortantes: navalha, bisturi, cacos de vidro, folha de papel. ( MEDICINA LEGAL | )9 Importante destacar que a faca não é um instrumento cortante, pois, além de cortar, ela fura. Trata-se de um instrumento misto, denominado perfurocortante. As feridas incisas (cortantes) são lineares, apresentam bordas regulares, profundidade também regular e hemorragia abundante. As feridas incisas têm um predomínio da extensão em relação à profundidade, com maiorsangramento. São características inversas a das feridas punctórias. As feridas cortantes ou incisas podem ser: cirúrgicas (atos médicos), de defesa (antebraços, mãos e pés), em retalho (objeto atinge obliquamente a superfície corporal), mutilante (com perda de tecido ou segmento) e autoproduzidas (paralelas e superficiais, em partes alcançadas pelas mãos da vítima). A extensão da ferida incisa (cortante), no vivo, costuma ser menor da que realmente foi produzida no momento da lesão, pois ela “se fecha” em razão da retração dos tecidos por atuação das fibras elásticas. No morto, como já mencionado, não haverá a retração do tecido, o que nos permite aferir se determinada lesão ocorreu quando o agente estava vivo ou se já foi provocada quando ele estava morto. Essa questão da retração do tecido é de grande relevância para o perito, pois, apesar de a lesão ter sido verificada em área mortal no cadáver, pode ser afastada a causa mortis originária dessa lesão caso o perito consiga verificar que a lesão ocorreu após a morte. Os instrumentos cortantes produzem lesões no pescoço chamadas esgorjamento, degolamento e decapitação. AÇÃO CORTANTE OU CORTOCONTUNDENTE NO PESCOÇO: A) Esgorjamento: É a lesão na parte anterior ou lateral do pescoço produzida por instrumento cortante. Situa-se entre o osso hióide (abaixo da mandíbula) e a laringe. Sua profundidade é variável, podendo até chegar à coluna vertebral. Nos casos de suicídio, quando o agente usa a mão direita, predomina a direção transversal ou oblíqua ( \ ); no homicídio, é mais frequente a posição descendente para a esquerda ( / ), mas também poderá ser por acidente. 10 (B) Degolamento: É a lesão na parte posterior do pescoço (nuca - gola) produzida por instrumento cortante e a morte se dá por hemorragia quando são atingidos vasos calibrosos ou pela secção da medula. As consequências jurídicas mais importantes são o homicídio e suicídio. (C) Decapitação: cabeça separada do tronco. Nas feridas incisas, temos o que a literatura chama de cauda de escoriação, que se caracteriza pela maior profundidade da ferida no local de entrada de instrumento e menor profundidade (mais superficial) no ponto de saída do instrumento. Trata-se de importante conceito para se determinar o posicionamento do agressor em relação à vítima e também a dinâmica de toda a conduta criminosa. (Ilustração em 3D retirada de: www.malthus.com.br) A partir da figura acima, pode-se perceber que o local de entrada do instrumento foi o lado direito e o de saída, mais superficial, o esquerdo. ( MEDICINA LEGAL | )A ferida cirúrgica é diferente da ferida incisa, pois reside fundo plano, onde não podemos averiguar nem o ponto de entrada e nem mesmo o ponto de saída. Importante salientar que há lesões típicas de defesa da vítima, o que permite ao perito concluir se houve resistência por parte dela, lutando com o agressor. Essas lesões são percebidas na borda ulnar do antebraço (parte lateral do braço) e também na região pomar da mão. São lesões típicas de quem está 11 se defendendo de algum instrumento vulnerante que está sendo utilizado para causar-lhe a morte ou lesões. A data da ferida incisa é determinada e avaliada pela própria evolução do processo de cicatrização da pele. Genival Veloso França, com o brilhantismo que lhe é peculiar, afirma que há distinção clara entre as lesões no pescoço a título de homicídio ou suicídio. Segundo o autor, nos casos de homicídio, o autor da agressão sempre se posiciona por trás da vítima, provocando um ferimento da esquerda para a direita, em sentido horizontal, uniforme, terminando com a mesma profundidade do início, ligeiramente voltado para cima. Ao revés, no suicídio, quando o indivíduo é destro, o ferimento se dá da esquerda para a direita e a terminação da ferida fica ligeiramente direcionada para baixo. A profundidade desta lesão é maior no início e mais superficial ao final, pois no final da ação a vítima começa a perder as forças. Ademais, no suicídio, na maioria das vezes, a mão da vítima que segura a arma apresenta vestígios de sangue. Sinal de Chavigny: Trata-se de importante sinal que permite identificar qual ferida ocorreu primeiro, quando já duas feridas em um mesmo local do corpo (feridas sobrepostas). Para tanto basta coaptar-se as margens da ferida, sendo ela a primeira a haver sido produzida, a outra não segue uma trajetória em linha reta. LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÃO CONTUNDENTE: Delton Croce Jr, expõe que “instrumento contundente é todo agente mecânico, líquido, gasoso ou sólido, rombo, que, atuando violentamente por pressão, explosão, flexão, torção, sucção, percussão, distensão, compressão, descompressão, arrastamento, deslizamento, contragolpe, ou de forma mista, traumatiza o organismo”, prova lesão contusa na vítima. O referido autor traz como exemplos de instrumentos contundentes: “as armas naturais (mãos, pés, cabeça, joelhos), as armas ocasionais (bengala, barra de ferro, tijolo, balaústre, mão de pilão), as saliências obtusas e as superfícies duras (solo, pavimentos), os desabamentos, as explosões, os acidentes de veículos, os atropelamentos”. 12 As feridas contusas evidenciam bordas irregulares, escoriados e equimosados, fundo irregular, pequeno sangramento, apresentando integridade dos casos, nervos e tendões no fundo da lesão. As contusões podem ser ativas, passivas ou mistas. Nas contusões ativas, o instrumento vulnerante vem de encontro à superfície corpórea. Ex.; soco. Nas contusões passivas, a superfície corpórea (a vítima) vai de encontro ao instrumento vulnerante. Ex.; a pessoa cai e bate com a cabeça no solo. Assim, a atuação pode ser ativa/direta, passiva/ indireta ou mista (a combinação de ambas). ESPÉCIES DE AÇÃO CONTUNDENTE PASSIVA: 1. PRECIPITAÇÃO: o chão está parado e a vítima vai de encontro a este, de um lugar alto. (praticado por energia mecânica)* 2. DEFENESTAÇÃO: quando o indivíduo é lançado pela janela ao chão. O agente vulnerante contundente provoca incrível variação de lesões, dentre elas: 1. RUBEFAÇÃO: lesão leve e fugaz, caracterizada pela vermelhidão (rubor) na pele em virtude de contusão. Ex.: vermelhidão de um tapa no rosto. Não há extravasamento de sangue (vasodilatação periférica); só pode ocorrer em vivos, derivada de distúrbio vasomotor. Trata-se da mais básica e transitória lesão causada pela contusão. 2. ( MEDICINA LEGAL | )ESCORIAÇÃO: É a exposição da derme devido ao “arrancamento” da epiderme por ação tangencial de um instrumento mecânico. No indivíduo vivo, as escoriações cobrem-se de serosidade albuminosa (líquido), gotas de sangue, formando crostas geralmente branco- amareladas ou cor de tijolo se for mais profunda. Não deixam cicatrizes e as crostas começam a cair entre o 4º e 10º dia, estando a pele regenerada até o 15º dia. No cadáver ou quando a morte ocorre logo após o trauma, as escoriações adquirem uma cor vermelho- acastanhada, são lisas e têm um aspecto de pergaminho ou couro. As escoriações sangram, expõe a derme, criam a casquinha e a epiderme se regenera. AS ESCORIAÇÕES REGENERAM. A casquinha fica vermelha, vai ficando marrom , preta e depois ficam rosadas, quanto mais antigas. (quanto mais vermelha (rósea) mais atual a lesão). A escoriação é temporária e se resolve com a regeneração do tecido. 13 O formato dessas escoriações possuem grande relevância pericial, pois podem evidenciar qual foi exatamente o agente vulnerante. Marcas de pneu, unhas, saltos de sapato são exemplos de agentes mecânicos que podem deixar a sua marca na lesão e, como tal, pode ser determinante para formar a justa causa que se busca através dos elementos que são colhidos na fase de investigação policial. 3. EQUIMOSE: A equimose se diferencia da rubefação, pois, na equimose, o sangue extravasou e pode ser visto através da camada da pele (infiltração hemorrágica no tecido). Não conseguimos visualizar o sangue diretamente, mas sim através de uma lâmina de tecido. A mancha normalmente é roxa. A equimose demora mais a desaparecer do que arubefação – O desaparecimento da equimose perdura levando em consideração a quantidade de sangue extravasado, sendo os glóbulos brancos (leucócitos) responsáveis por “limpar” essa camada mais escura proporcionada pela equimose. Dr. há algum instrumento para identificar há quanto tempo aquela equimose foi produzida, ou seja, o tempo da lesão? Legrand du Saulle desenvolveu a tese do Espectro Equimótico, percebendo que havia mudança da coloração da equimose com o passar do tempo. Trata-se de importante estudo para determinar o tempo da lesão. Quando o sangue “sai dos vasos” (extravasa), o principal componente do sangue (hemoglobina) começa a se degradar e se transformar em outros compostos, alterando-se e, por conseguinte, transformando-se em outros compostos. Em razão dessa transformação é que equimose muda de cor com o passar do tempo. A alteração de cor da equimose permite ao perito mensurar aproximadamente o nexo temporal de determinada lesão. Nesse sentido, uma lesão vermelha é mais atual, a roxa é mais antiga do que a vermelha, a azulada é mais antiga do que a roxa, a esverdeada é mais antiga do que a azulada e a amarelada é mais antiga do que a esverdeada. (Lógica para mensuração do nexo temporal da coloração da equimose) 14 Esse fenômeno de alteração da cor da equimose só ocorre nos vivos, pois se trata de uma reação vital ao próprio extravasamento do sangue. No morto, a equimose (produzida quando a vítima ainda estava viva) mantém a sua coloração até surgirem os fenômenos da putrefação, que modificação sua tonalidade. Segundo a doutrina majoritária, as equimoses nas regiões conjuntival, unhas e da bolsa escrotal, por serem estas regiões densamente vascularizadas, não passam pelo espectro equimótico. Por seu turno, o professor Higino menciona que não acreditar no motivo da não alteração da cor da equimose no olho em razão da alta concentração de oxigênio. Quando a equimose se apresenta no formato de múltiplos “pequenos grãos”, dá-se o nome de SUGILAÇÃO. Já quando aparece sob o formato de estrias, a literatura médico-legal denomina de VÍBICE. Essas víbices derivam das lesões produzidas por cassetetes, bastões e bengalas, deixando duas marcas longas e paralelas, em razão do extravasamento de sangue se localizar ao lado do traumatismo e não no centro do ponto de impacto. Por sua vez, as PETÉQUIAS são pequenas equimoses agrupadas, que se apresenta através de um pontilhado hemorrárrico. Já as EQUIMONAS são equimoses de maior proporção, apresentando-se como manchas extensas na pele. ( MEDICINA LEGAL | )A MANCHA ROXA É UM LIVOR OU EQUIMOSE? COMO DIFERENCIAR? 15 Primeiramente cumpre destacar que os livores são reações abióticas e a equimose biótica, ou seja, ocorre quando o ser está vivo. Para diferenciarmos adota-se a Técnica de Bonnet: Deve ser feita uma incisão na pele e observar os tecidos embaixo do corte. Se vermos um pontilhado de sangue saindo dos vasos, estaremos diante de livores. Se os tecidos estiverem impregnados por sangue, estaremos diante de equimose. 4. FERIDA: Ultrapassa a derme, atingindo os planos mais profundos da pele, consolidando-se por cicatrização. No momento em que ultrapassa a derme teremos a ferida e não a escoriação. A ferida é permanente se resolve através da cicatrização, ao contrário da escoriação. Se deixar cicatriz não é escoriação, mas sim uma ferida, tecnicamente. 5. FRATURAS: Estão relacionada a uma solução de continuidade dos ossos. Segundo a doutrina, podem ser diretas ou indiretas, fechadas ou abertas, cominutivas (ou fragmentadas) etc. “É direta quando o trauma atinge o local fraturado, e indireta em caso contrário. A fratura fechada não se comunica com o exterior do corpo e a aberta é aquela em que a ferida permite ver o foco da fratura (ex.: numa ferida contusa ou cortocontusa). Fratura exposta é aquela em que os fragmentos ósseos extrapolam os limites do corpo da vítima. Fratura cominutiva é aquela em que fragmentos ósseos ficam isolados do osso fraturado.” (Medicina Legal – Rogério Greco) Outros tipos de fratura (costumam cobrar os nomes nas provas): Sinal do “Mapa Múndi” de Carrara: l 6. ENTORSES: Derivam de movimentos exagerados junto a uma articulação. São lesões articulares provocadas por movimentos exagerados dos ossos que compõem uma articulação, incidindo sobre os ligamentos. Os sintomas são dores na articulação, com perturbação funcional da mesma; inchaço; e presença de equimoses e hematomas na região. Nos casos mais graves, haverá ruptura dos ligamentos musculares, de tendões, derrame articular ou até mesmo o “arrancamento” de pequenos pedaços de ossos que se prendem ao ligamento. 7. LUXAÇÕES: Ocorrem quando há deslocamento de 2 (dois) ossos, cuja superfície de articulação deixa de manter a relação de contato que lhe é comum. O deslocamento pode ser completo ou incompleto. 16 Desnivelamento dos ossos (desarticulação óssea), total ou parcial, do contato. EM RESUMO: Entorse - Estiramento ou ruptura dos ligamentos; Luxação – Desarticulação óssea; Fratura – Ruptura óssea. 8. BOSSA (galo): Na equimose o sangue fica espalhado, na modalidade bossa o sangue fica acumulado e em virtude da existência de osso embaixo da pele surge uma bolsa empurrando a pele para cima em virtude da obstrução, formando vulgarmente o que chamamos de galo (saliência na pele). Quando a bossa contém sangue ela fica arroxeada, já quando contém linfa (bossa linfática) ela fica na cor da pele. 9. HEMATOMAS: O hematoma é um tumor de sangue interno (não é na superfície). No hematoma, o vaso que rompe é mais calibroso e, por tal motivo, quando se rompe acaba por efetuar pressão frente ao tecido formando uma “coleção” de sangue em cavidade interna, formando um hematoma (tumor). O hematoma se apresenta a partir de um extravasamento interno do sangue, formando uma coleção em determinado ponto do organismo. 10. EDEMA: É o aumento de volume na região traumatizada (é o inchaço). É provocada pela saída do plasma do interior dos vasos sanguíneos que se infiltra nos tecidos. Possui intensidade variada, depende da gravidade e da presença de outras lesões no local. 11. ( MEDICINA LEGAL | )ESMAGAMENTO: É resultado de grande força do agente vulnerante sobre o corpo humano. Quando não resulta em óbito pela contusão em si, é comum a ocorrência da Síndrome do Esmagamento. Quando o músculo é esmagado, há a liberação de mioglobina na corrente sanguínea. Essa mioglobina circula até o rim e provoca insuficiência renal, acarretando a morte do paciente dias após o esmagamento de parte de seu corpo. 17 Outras espécies de lesões contusas: atropelamento; lesões ocasionadas por artefatos explosivos, lesões por cinto de segurança. ( LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÕES PERFUROCORTANTES ) Tratam-se lesões mistas, ocasionadas por instrumento que não só perfuram, mas que também cortam. São lesões produzidas por instrumentos de ponta e gume, atuando por mecanismo misto; agem simultaneamente por pressão afastando as fibras e por corte seccionando-as. São chamados perfurocortantes os instrumentos puntiformes, com o comprimento predominando sobre a largura e a espessura, dotados de gume ou corte. Há instrumentos perfurocortantes de um gume: faca-peixeira, canivete, espada; de dois fumes: punhal, faca vazada; e os de três gumes ou triangulares: lima. A depender do número de gumes de um instrumento, os ferimentos variam em sua forma: 1. Um gume: Causam ferimentos em forma de botoeira, com fenda regular e quase sempre linear, com um ângulo agudo e outro arredondado. A largura é maior que a espessura da lâmina e o comprimento varia em função do fio do gume, do ângulo de entrada, das linhas de força e da ação do objeto ao sair da pele. São exemplos: a faca, o canivete, etc. 2. Dois gumes: Causam ferimentos em forma de fenda de bordas iguais e ângulos agudos. São exemplos: o punhal, a faca vasada, etc. 3. Três ou mais gumes: Causam ferimentos de forma triangular ou estrelada. São exemplos: o estilete, a lima, etc. Épossível verificar a posição do agressor em relação à vítima através das feridas? SIM! A posição da vítima e do agressor pode ser avaliada através do estudo da localização, da direção dos ferimentos e da presença de cauda de escoriação. 18 LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÕES CORTOCONTUDENTES São ferimentos produzidos por instrumentos que não apenas cortam, como também contundem, cuja ação e efeitos se explicam não só pelo gume que apresentam, como também pelo seu peso e pela força viva com que são acionados. Há gume, mas a pressão se faz sem deslizamento. A literatura médico-legal traz como instrumentos cortocontundentes: a foice, o facão, o espadagão, o podão, a enxada, a motosserra, a serra elétrica, as rodas de trem, os dentes, as unhas, o zargunho, a zagaia, a moenda, o mondador. Diante de agentes cortocontundentes, a depender da região atingida, força e forma do instrumento, os ferimentos apresentam forma variável. Se o gume for afiado, os bordos da ferida podem ser nítidos e regulares e as vertentes se adaptam perfeitamente. Por outro lado, quando o instrumento é rombo (p.ex. dentes), os bordos são irregulares, com equimose nas adjacências e com pontes de pele. As lesões por instrumentos cortocontundentes geralmente são graves, profundas, causando lesões complexas e envolvendo vários planos (ossos e vísceras). Podem levar também a mutilações em nariz, dedos, orelha, etc. LESÕES ESPECIAIS: ESCALPE: arrancar o couro cabeludo da vítima, como ocorre na batida de carro em que o contato com o vidro gera arrancamento parcial do couro cabeludo. ENCRAVAMENTO: Precisa-se de um agente vulnerante comprido. Instrumento perfurocontundente. Se esse mesmo instrumento penetrar na região do anus, vagina ou no períneo teremos hipótese de EMPALAMENTO, tipo especial de ENCRAVAMENTO. ( MEDICINA LEGAL | )No encravamento temos a penetração de objeto perfurocontundente comprido no organismo da vítima, já no empalamento temos hipótese especifica de encravamento onde o objeto perfurocortante adentra sobre o anus, vagina ou perínio da vítima. MUTILANTE: Ferida resultando de uma agressão onde a vítima perde uma parte do corpo (castrar o individuo, cortar a mão do ladrão...). Se o sujeito perde parte do corpo em virtude de cirurgia (terapêutica) teremos hipótese de amputação. 19 ESQUARTEJAMENTO: É o resultado da atuação de energia vulnerante que divide o corpo em quatro pedaços. ESPOSTEJAMENTO: É resultado da atuação de energia vulnerante que divide o corpo em múltiplos pedaços. LESÕES PRODUZIDAS POR AÇÕES PERFUROCONTUNDENTES São lesões produzidas por um mecanismo de ação que não só perfura como também contunde. O exemplo mais comum deste tipo de instrumento é o projétil de arma de fogo, podendo também ser a ponta de um guarda chuva, uma chave de fenda ou um espeto de churrasco. No entanto, como a maior incidência desse tipo de lesão é produzida por projeteis de arma de fogo, estudaremos com detalhe todas as características desse tipo de lesão. Os agentes perfurocontundentes acarretam lesões típicas, representadas por orifício de entrada, semelhante ao produzido por instrumentos perfurantes, mas com os bordos contundidos e mortificados, o trajeto e o orifício de saída, que eventualmente pode faltar, agindo, em geral, mais pela força propulsora de que são dotados, com predominância nítida da ação perfurante sobre a contundente. Os projéteis múltiplos, como os das armas de caça, podem produzir várias feridas em um único disparo. De imediato, importante salientar que os projéteis caracterizam instrumentos da classe perfurocontundentes, e as armas de fogo, simples agentes contundentes. Não confunda o projétil com a arma em si, pois a classificação dos instrumentos são diferentes. Quanto mais fino o projétil, maior a capacidade de transfixação. Partindo desse pressuposto, o policial, na via urbana, deve utilizar projéteis mais circulares (ponta-romba) com o fim de não transfixar e atingir terceiros. Ademais, quanto maior o coeficiente balístico, maior a possibilidade de penetração. Quanto mais longo o cano maior a precisão e maior o alcance. Ademais, a velocidade da combustão em armas de cano curto, em regra, é maior do que na de cano longo. (Atenção!) 20 As armas de fogo utilizam a força dos gases gerada pela queima da pólvora para lançar um projétil. São máquinas térmicas, como os motores dos carros e as caldeiras, ou seja, utilizam a transformação em gás da pólvora ou do combustível ou, ainda, da água para realizarem as suas funções. Como o projétil é disparado? O percutor/percussor da arma da uma pancada na espoleta; que dá causa a faísca (mistura iniciadora), queimando a pólvora; esta virará gás e se expande para arremesso do projétil. Dessa forma, quando encontrado o estojo é possível analisar a marca do percutor na espoleta, podendo, até mesmo, identificar que tipo de arma que ocasionou o disparo. Se estivermos diante de pistola podemos analisar também a marca do extrator que expulsa o estojo da pistola após o disparo. Nos disparos de arma de fogo, o projétil é lançado à distância pela ação da força explosiva dos gases produzidos pela combustão da pólvora. Além do projétil, saem pelo cano da arma gases superaquecidos, chama, partículas de pólvora incombusta, a bucha e seus fragmentos. Os resíduos da espoleta também deflagram o crime, quando encontrados nas mãos do atirador ou da vítima, devendo ser analisada por microscopia eletrônica de varredura. Não é aconselhado realizar o exame de resíduos de pólvora através da reação com a parafina (método de iturrioz), visto o alto índice de falso resultado . Projétil ( MEDICINA LEGAL | )21 As lesões características desses instrumentos se apresentam através de um orifício de entrada (sempre), um trajeto (sempre) e um orifício de saída (nem sempre). CARACTERÍSTICA GERAL DOS ORIFÍCIOS Em regra, há apenas um orifício de entrada para cada projétil (PAF). Mas, há exceções. Havendo transfixação por mais de um segmento corporal. Ex. único disparo que atinge o joelho, transfixando-o e atingindo também a cabeça da vítima, o que resultará em dois orifícios de entrada a partir de um único projétil. Outra situação é a possibilidade de não se encontrado qualquer orifício de entrada. Isso ocorro quando o projétil entra por uma cavidade natural (nariz, ouvido, boca e ânus); Há também a possibilidade de existir diversos orifícios de saída, com um único projétil, pois esse projétil pode ter atingido um osso, fraturando-o em diversas partes que sairão do organismo de forma múltipla. Tipicamente, no local de entrada do projétil as bordas ficas invertidas (para dentro); já no local de saída ficam evertidas (pra fora). Normalmente, a lesão de entrada é menor do que a lesão de saída. Porém, pode ser que elas tenham o mesmo diâmetro ou que o orifício de entrada seja maior do que o de saída, a depender do projétil e seu trajeto dentro do organismo (não há regra). Como mencionado, o orifício de saída, de regra, tem a forma irregular, com bordas evertidas, apresentando maior sangramento que o orifício de entrada e podendo ter aréola equimótica. Geralmente são maiores que o orifício de entrada e não apresentam os demais comemorativos da lesão de entrada (orlas e zonas). As características independem da distancia do tiro. ( 2. Orla de Escoriação ou Contusão : Ponto onde o projétil contunde a pele , arrancando a epiderme por sua ação rotatória. É absolutamente característico de orifício de entrada. 1 A réo l a E qu i m ó t i c a : R egi ã o s uper f i c ia l , d e limi t es p o u c o pre c i s o s , d e c o rrente de hemorragia na pele, pela ruptura de pequenos vasos ao redor do ferimento provocado pelo projétil em si. Trata-se de reação vital e atua como importante sinal para verificar se a vítima recebeu o disparo quando estava viva ou quando já estava morta. OUTROS SINAIS DOS ORIFÍCIOS DE ENTRADA: ) 22 3. Orla deEnxugo: Ocorre pela passagem do projétil através dos tecidos, deixando neles as suas impurezas. Quando há a orla de enxugo e também a de escoriação, teremos o Anel de Fisch. 4. Zona de Tatuagem: Resulta da impregnação de grãos de pólvora incombusta que alcançam o corpo e se incrustam na pele. Orienta a perícia quanto à posição da vítima e do agressor. É sinal indiscutível de orifício de entrada. Não sai com a lavagem, somente com procedimento cirúrgico (somente presente no tiros a curta distância ou com cano encostado) 5. Zona de Esfumaçamento: Formada pela fuligem resultante da combustão da pólvora. É chamada de zona de falsa tatuagem, pois sai com a lavagem. Pode não aparecer na pele protegida por vestes. (somente presente no tiros a curta distância ou com cano encostado) 6. Zona de Queimadura ou Chamuscamento: Resultado da ação superaquecida dos gases, queimando a pele. (somente presente no tiros a curta distância ou com cano encostado) 7. Sinal de Schusskanol: Esfumaçamento encontrado no túnel do tiro diante de tiros de cano encostado ou a curta distância. 8. Sinal de Benassi: Trata-se de tatuagem escura que fica impregnada no osso (mancha escura), em decorrência de disparo com cano encostado. 9. Boca de Mina de Hoffmann: Trata-se de ferida de entrada de projétil de arma de fogo quando diante de tiro com cano encostado quando há superfície óssea no local do disparo. Muito comum em execuções e suicídio. Nesse caso, ao contrário da regra, as bordas da lesão ficam evertidas (pra fora). 10. Boca de fechadura: Ocorre nos ossos da calvária, quando o projétil tem incidência tangencial, porém com um mínimo de inclinação suficiente para penetrar na cavidade craniana, se assemelhando a um buraco de fechadura. 11. Ferida em sedenho *: Caracteriza-se pela ferida oblíquoa provocada por projétil de arma de fogo, somente atingindo a pele, sem as demais camadas. ( 12. Rosa de Tiro de Cevidalli : Conjunto de feridas oriundas de projeteis múltiplos, diante de disparo de espingarda. De início, os múltiplos projéteis caminham juntos, e depois vão se separando, abrindo-se em área de projeção, de diâmetro cada vez maior e constituindo-se o que se chama de “Rosa de Tiro”. Quanto maior a rosa de tiro, em tese, mais distante o disparo e vice-versa. ) ( MEDICINA LEGAL | )23 AS LESÕES PODEM SER CLASSIFICADAS, SEGUNDO A DISTÂNCIA DO DISPARO, EM: TIRO ENCOSTADO: Todos os elementos do disparo alcançam o alvo. O orifício de entrada tem a forma irregular, denteada ou com entalhes, pela ação resultante dos gases que descolam e dilaceram os tecidos. As bordas são evertidas, em geral não há sinais de outros elementos do disparo na pele, pois penetram na ferida juntamente com o projétil a este fenômeno chamamos Câmara de Mina de Hoffmann, sendo mais comum nos tiros encostados na fronte. Nos tiros encostados no crânio, nas costelas e escápulas, podemos encontrar um halo fuliginoso na lâmina externa do osso referente ao orifício de entrada chamado de Sinal de Benassi (sujeita no osso). Ainda na entrada podemos observar o Sinal de Werkgartner, que representa o desenho da boca e da alça de mira da arma (pela zona de tatuagem esfumaçamento). - TIRO A CURTA DISTÂNCIA: Apresenta a forma arredondada ou ovalar, bordas invertidas, aréola equimótica, orla de contusão e enxugo, as zonas de tatuagem e esfumaçamento; - TIRO A LONGA DISTÂNCIA: Apresenta a forma arredondada ou ovalar, bordas invaginadas, aréola equimótica e orlas de contusão e enxugo. Há somente ação mecânica do projétil. Há apenas efeitos primários. 24 Nos tiros a curta distância, diante de arma com projéteis múltiplos, é possível verificar, por vezes, a presença de bucha pneumática no local da lesão. Essa bucha é utilizada para retardar a dispersão dos projeteis, promovendo maior estabilidade ao tiro. Quando encontrada no local da lesão, caracteriza o disparo a curta distância ou com cano encostado. O exame das vestes é de suma importância, pois pode conter eventualmente elementos do disparo e mostrar a posição relativa entre a localização da perfuração nestas e no corpo. Porém, importante destacar que a ausência de sinais de tiro a curta distância (zona de tatuagem, zona de esfumaçamento e zona de queimadura), não pode afastar, per si, que o tiro não ocorreu a curta distância. Isso se justifica pelo fato de que o homicida ou suicida pode ter utilizado um anteparo entre a arma e o corpo (ex. travesseiro), hipótese em que os vestígios estarão nesses objetos e não no corpo da vítima. Segundo Gisbert, para o diagnóstico seguro do disparo com cano encostado ou a curta distância, deve-se buscar carboxihemoglobina no local do ferimento. DIFERENÇA ENTRE TRAJETO E TRAJETÓRIA: Trajetória, segundo Croce Jr., é o caminho descrito pelo projétil desde seu ponto de disparo até percutir o alvo. Trajeto é o percurso seguido pelo projétil dentro do alvo. Ao perito médico-legal interessa conhecer a trajetória e o trajeto. CALIBRE Calibre nominal é o que vem escrito pelos fabricantes dos projéteis. Já o calibre real é aquele medido entre as raias do cano da arma. Nas armas de projeteis únicos, o tamanho do projétil aumenta de acordo com o calibre do instrumento. Já nas armas de projéteis múltiplos, quanto maior o calibre, menor será o tamanho físico de cada projétil individual, pois ele é medido pela quantidade necessária de projéteis para formar uma libra. ( MEDICINA LEGAL | )Temo as lesões por armas de baixo calibre ou de baixa energia e velocidade, ao passo que as armas de guerra são de grosso calibre, de alto impcato, de alta energia e de alta velocidade. FENÔMENO DA CAVITAÇÃO: Trata-se de fenômeno mais evidente nos PAF de alta velocidade, em razão do alto nível de energia cinética que é transferida 25 ao tecido. Esse fenômeno é verificado durante o trajeto do projétil, dentro do organismo da vítima, apresentando-se como um forte deslocamento de ar, derivada da pressão do projétil, que resulta em diversas lesões a tecidos internos. De acordo com o tamanho da cavidade temporária, a lesão de saída pode ser muito grande ou até mesmo menor do que o orifício de entrada. Quanto maior a instabilidade do projétil, maior será a cavidade temporária. Veja que no meio do trajeto a lesão é maior. Se o orifício de saída fosse ali, ele seria extremamente maior do que o de entrada. IMPORTANTE: Apesar do projétil provocar lesão perfurocontusa, a cavidade temporária produz lesões contusas, oriundas da pressão interna. (pegadinha) Nos PAF de alta velocidade, na maioria das vezes, as lesões são bem parecidas com as de baixa velocidade. SENDO ASSIM, NÃO É POSSÍVEL DISTINGUIR A ARMA COMUM OU A DE ALTA ENERGIA CINÉTICA*. Contudo, segundo Prof. Higino, as feridas de projeteis de fuzil (alta velocidade) na cabeça podem ser tão devastadoras de modo a impossibilitar a distinção entre a ferida de entrada e saída do projétil. As armas de maior velocidade podem causar uma lesão de saída bem grande ou não, a depender do trajeto percorrido internamente pelo projétil. Mas não é uma regra. Não se pode afirmar que a lesão de saída provocada por projeteis de alta velocidade serão maiores do que as do PAF de menor velocidade, pois há outras variáveis. 26 Importante, contudo, destacar que os projeteis de maior velocidade provocam cavidades temporárias maiores, pois a pressão transmitida ao organismo é muito mais acentuada. Contudo, importante salientar que a cavidade temporária não depende apenas do projétil, dependendo também do órgão que é atingido, pois uns órgãos acarretam mais cavidade do que outros. (o pulmão é o órgão que melhor suporta a cavidade temporária). O cano da arma pode ser estriado/raiado (visando proporcionar o movimento de rotação, que proporciona mais estabilidade ao tiro) ou ser liso. O fato de o cano ser estriado provoca marcas no projétil e, a partir daí, pode-se identificar de que tipo dearma o projétil foi disparado. Se o cano não for estriado, não haverá possibilidade de análise de estrias no projétil. ARMAS DE CANO LISO Balins – projeteis esféricos. (espingarda, escopeta) No balote (projétil único) o próprio projetil é raiado para proporcionar o giro dentro do cano da espingarda. Quando as estrias são direcionadas para e Direita, são Dextrógiras* ou, se para a esquerda, sinistrógiras. O IBIS (Sistema Integrado de Identificação Balística) separa um projétil suspeito entre milhares e o ser humano, a posteriori, analisa alguns tipos de projéteis suspeitos. Não é o IBIS que faz a conclusão final, mas sim o SER HUMANO - Exame de Comparação. O estudo da trajetória do projétil especificado na situação em tela, desde o momento em que saiu do cano da arma até o repouso final, bem como a determinação de parâmetros como velocidade, alcance útil e velocidade inicial, são atribuições da balística terminal. ERRADO. ESTAMOS FALANDO DA BALISTICA EXTERNA. Balística: Interna: Dentro do cano; Externa: Da saída do cano até o alvo; Terminal: Dentro do alvo. Há também a possibilidade de identificação da arma através das marcas do percutor. Se estivermos diante de pistola podemos analisar também a marca do extrator que expulsa o estojo da pistola após o disparo. ( MEDICINA LEGAL | )Nas armas de cano liso, a identificação da arma somente poderá se dar através da marca do percutor, pois não há raias que permitam identificá-las. ( LESÕES CAUSADAS POR AGENTES VULNERANTES NÃO MECÂNICOS ) Agentes não mecânicos são aqueles que não podemos tocar: ex. eletricidade, calor, frio, pressão e etc. LESÕES CAUSADAS POR ENERGIA TÉRMICA 27 Termonoses - As termonoses ocorrem quando a ação da onda térmica não atinge diretamente o organismo. Ação difusa da fonte térmica através da irradiação. As termonoses dividem-se em: 1. Insolação – fonte térmica proveniente do sol; 2. Intermação – fonte térmica de qualquer outro meio que não o sol. (Conceito atribuído de banca menos exigente) Em alguns casos de insolução será possível verificar rigidez da nuca (sinal de Kernig), trismo, que é a impossibilidade da abertura da boca, e convulsões, precedendo a morte. Do ponto de vista médico-legal, a insolação tem escasso interesse, por quase sempre ter origem acidental. Queimaduras: Na queimadura a fonte térmica atinge diretamente o corpo. Ação local da fonte térmica através da condução de calor. As queimaduras são dividas, de praxe em graus, de acordo com o nível de afetação ao organismo: 1º grau – Eritema (vermelhidão – não deixa cicatriz - sinal de Christinson) 2º grau – Flictena (formação de bolhas – atinge a epiderme) 3º grau – Escarificação da derme (coagulação necrótica dos tecidos – arranca a epiderme e expõe a derme;) 4º grau – Carbonização Há doutrinadores que classificam a lesão as queimaduras da seguinte forma: 1. Superficiais (vermelhidão, eritemas); 28 2. Parciais Superficiais (destroem a epiderme até a camada basal, apresentando flictenas – bolhas); 3. Parciais Profundas (destroem a derme da pele, sem afetação dos anexos cutâneos); 4. Destroem todos os planos da pele, inclusive os anexos cutâneos. Como distinguir se a bolha é derivada da queimadura ou se é um sinal da putrefação? Deve-se analisar a reação de Chambert, verificando-se a presença de proteínas no interior da bolha (flictena). Caso não haja proteína, há o que a doutrina denomina de Sinal de Jenasie Jeliac, sinal característico da putrafação, abiótico. Como saber se a pessoa foi submetida ao fogo quando estava viva ou se já estava morta e o artifício foi utilizado para mascarar a causa mortis? Deve-se verificar se há fuligem na árvore respiratória da vítima, pois, se ela estava viva, respirou. Esse sinal é chamado pela doutrina de Sinal de Montalti. Outra possibilidade é a análise do percentual de carboxihemoglobina no sangue. Caso o percentual seja superior a 50%, o indivíduo foi submetido ao fogo quando ainda vivo estava. Por fim, pode-se analisar se há reação vital no local das queimaduras. Se não houver sinais vitais (retração do tecido, inflamação e etc), o agente foi submetido ao fogo depois de morto. SINAL DE DEVERGIE: Com o aumento da temperatura, a musculatura do cadáver sofre contração pós-morte. O cadáver ao ser carbonizado irá se contraindo até assumir a posição de boxer, lutador, saltimbanco. No entanto, trata-se de uma situação que ocorre pós-morte pela atuação do calor. Não se trata de um sinal de que ele estava lutando contra as chamas e nem mesmo se defendendo de qualquer outra situação. Ocorre em qualquer tipo de morte quando o cadáver é submetido ao fogo. Engana-se quem pensa que apenas o calor pode causar lesões. O frio também pode! O frio pode produzir lesões: 1. LOCAIS (denominadas geladuras); 2. SISTÊMICAS (denominadas hipotermias). ( MEDICINA LEGAL | )As geladuras são lesões locais causadas por vasoconstrição inicial, palidez, pele de aspecto anserino e posteriormente vasodilatação paralítica, levando à necrose e gangrena, principalmente nas extremidades (nariz, orelhas, dedos, pés), com subsequente perda das mesmas. Ex. Mal das trincheiras. 29 Podem ser classificadas em 4 graus: 1o Grau: palidez ou rubefação e aspecto anserino da pele; 2º Grau: eritema e formação de bolhas ou flictenas; 3º Grau: necrose dos tecidos moles e crostas; 4º Grau: gangrena ou desarticulação. Nas vítimas do frio, podemos encontrar os seguintes sinais: rigidez precoce, intensa e duradoura, hipóstases vermelho claro, sangue de tonalidade mais clara,isquemia cerebral, congestão polivisceral, disjunção das suturas cranianas, sangue fluido, repleção das cavidades cardíacas, espuma sanguinolenta nas vias respiratórias, flictenas na pele, equimose no pescoço, na mucosa gástrica e nas pleuras. CAPÍTULO 2. LESÕES CAUSADAS POR ENERGIA ELÉTRICA A energia elétrica é outra espécie de energia de ordem física, que pode causar graves distúrbios do organismo humano e, até mesmo, a morte. O que é energia elétrica? Trata-se da vibração e escoamento de elétrons entre os átomos do condutor elétrico provocado por uma diferença de potencial elétrico existente entre o acumulador e o receptor tentando estabelecer o equilíbrio entre as fontes. Em suma, há uma produção de elétrons por parte do atrito e estes se encaminham para corpo que detém menos elétrons a fim de equilibrar os elétrons entre os átomos. CONDUTORES ELÉTRICOS – são materiais destinados à passagem da corrente. A corrente elétrica somente entra onde ela pode sair. Para sair ela tem que soltar os elétrons em algum lugar. Toda eletricidade do planeta escorre para a terra. Por isso, se encostarmos-nos a um fio de alta tensão, mas estivermos de bota emborrachada o corpo não será atingido pela corrente. Quando a energia elétrica atinge um ser humano, tudo pode acontecer, ele pode não sofrer nada, como também morrer carbonizado. Duas são suas formas de energia elétrica: natural (atmosférica) e industrial. A ação da primeira é a fulminação e da segunda, a eletroplessão. O termo eletroplessão é utilizado para se referir a lesões produzidas por eletricidade industrial, enquanto o termo fulguração é empregado para se referir a lesões produzidas por eletricidade natural. 1. ENERGIA ELÉTRICA NATURAL: denomina-se fulguração ou fulminação o efeito da eletricidade natural (atmosférica). Os acidentes surgem quando a vítima é apanhada diretamente pela descarga de uma nuvem (raios) sobre o solo ou, então, indiretamente, quando a descarga se origina de uma nuvem sobre outra. ( B) Fulguração: ação da energia elétrica natural que provoca lesões corporais não letais (não causa a morte). A) F ulm ina ç ã o : a ç ã o d a ener gi a elétric a n a tu r a l leta l s o br e o i n d i v í d uo ( c a us a a morte); Há na literatura médico-legal quem faça a seguinte distinção: ) Nesse caso, encontram-se os objetos imantados (como imãs) por algum tempo e fundidos totalou parcialmente em razão do efeito jaule. O efeito jaule é a transformação da corrente elétrica em calor. Este pode ser tão intenso que, além de provocar queimaduras, pode até derreter os metais, causando a fusão dos metais, metalização Diante da atuação da energia elétrica, há uma lesão característica que é encontrada nas vítimas. Trata-se do Sinal de Lichtenberg, que é causada por energia elétrica natural, gerando lesões aos vasos sanguíneos superficiais, se apresentando sob um aspecto de raízes de uma árvore. ( MEDICINA LEGAL | )Algumas vezes, em caso de energia natural, a corrente elétrica passa apenas pela superfície corporal, sem qualquer penetração nos planos profundos, sendo conhecida essa atuação como Flashover. A fulguração, além do Sinal de Lichtenberg, pode acarretar lesão ao tímpano, visão e no sentido nervoso. Dentre essas lesões à visão, a literatura traz duas espécies bem características: 31 ( Catarata Tardia: ocorre quando a visão é prejudicada em razão há a f etação d o c éreb r o ; Ceratite: ocorre quando a visão é prejudicada em razão do alto nível de luminosidade. ) 2. ENERGIA ELÉTRICA INDUSTRIAL: A ação da energia elétrica industrial sobre o organismo constitui uma série se alterações, denominada pela literatura como eletroplessão ou eletrocussão. Quando a pessoa sofre eletroplessão, costuma aparecer o sinal de jellinek, que se apresenta como a marca de entrada da corrente elétrica, no ponto de contato com a energia. Trata-se de uma lesão dura, de bordos elevados, seca, indolor, profundidade variável, podendo reproduzir a forma do condutor elétrico. (parece um calo) Não determina a causa mortes, tão somente determina que a vítima foi atingida por uma corrente elétrica industrial. A morte pela corrente elétrica de alta voltagem decorre do aumento da temperatura cerebral e parada respiratória central. A morte tardia por eletroCUssão ocorre por depressão do centro respiratório e parada respiratória periférica. Nos pontos de entrada e saída da corrente podem ser observadas lesões de alto valor diagnóstico: as marcas elétricas de Jellinek. Contudo, importante ressaltar que nem sempre haverá a lesão de saída da energia elétrica. ( ARCO ELÉTRICO ou VOLTÁICO – Nem sempre precisamos encostar no fio para sermos atingidos pela eletricidade. Em alguns casos, geradores e acumuladores de alta pressão podem permitir que a corrente elétrica salte em direção a uma fonte condutora mais próxima. O corpo humano é um excelente condutor de eletricidade: água, sais minerais e diâmetro longo. Não precisa encostar, basta que se aproxime suficientemente para que o gerador transfira os elétrons para o corpo. ) ( EFEITO JAULE – Transformação da energia elétrica em calor , podendo causar queimaduras em todos os graus. Causa até mesmo carbonização! ) 32 ( ATENÇÃO: Não confunda marca elétrica (sinal de jellinek) com queimadura elétrica (que deriva da transformação da energia elétrica em calor, produzindo queimadura). ) ( R E S I S T Ê N C I A S C O R P O R AI S: ) De acordo com o ESTADO DA PELE: 1. Pele seca, áspera, espessa, calosa, queratinizada, carbonizada, protegida por borracha, cerâmica Maior proteção. 2. Pele úmida, lisa, delgada, suada, sem proteção isolante Menor proteção. Quando a pele está molhada, suada, tem-se uma diminuição considerável na pele. Ex. Se uma criança ao começar um jogo de futebol percebe que a grade está dando choque e nada faz pode haver um prejuízo maior ao final. Pois, quando mais suado a resistência de seu organismo estará bastante reduzida e ao encostar novamente no fio o AMPERE irá atingi-lo de forma muito mais elevada, podendo, até mesmo, causar-lhe a morte. ( ASSOCIAÇÃO EM PARALELO A corrente procura sempre a menor resistência e o caminho mais curto, se o individuo estiver calçado com sapado de borracha, a energia continuará a correr no fio. Se estiver descalço e dentro de uma possa de água o seu corpo, em baixa resistência, será um chamariz para a energia e será absorvido por grande parte da energia que corre nos fios. Uma parte da energia vai continuar passando pelo fio e outra será absorvida pelo organismo humano. ) ( ASSOCIAÇÃO EM SÉRIE Quando ocorre associação em série o individuo recebe a corrente em sua totalidade. Isso acontece quando o individuo segura a ponta de um fio arrebentado. Nesse caso, haverá maior risco de dano ao organismo do que diante da associação em paralelo, pois nesta o indivíduo recebe parte da energia. ) ( CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS LESÕES POR ENERGIA ELÉTRICA: ) As células humanas funcionam através de uma condução elétrica sútil que passa de fora para dentro e dentro para fora. As células são preparadas para funcionar com determinado padrão de energia elétrica. Assim, quando uma energia elétrica atinge o ser humano acaba por alterar a fisiologia elétrica do individuo, acarretando a possibilidade de sérios prejuízos. ( MEDICINA LEGAL | )33 A gravidade da lesão oriunda da corrente elétrica depende estritamente do seu percurso dentro do organismo. O perigo da lesão depende diretamente do órgão que é atingido pela eletricidade, da intensidade do dano elétrico e também do tempo de exposição do corpo humano em relação à corrente elétrica. A energia elétrica de baixa amperagem, quando passa pelo cérebro, afeta o tronco encefálico, destruindo os neurônios e acarretando para respiratória central. A energia elétrica de baixa amperagem, quando passa pelo coração, gera fibrilação ventricular (arritmia cardíaca grave), podendo ocasionar parada cardíaca. Quando a energia elétrica é de alta amperagem e passa pelo coração, pode acarretar assistolia (total perda do ritmo cardíaco).* ( IMPORTANTE: O coração é o órgão do corpo humano responsável pelo bombeamento de sangue para todos os demais órgãos. A fibrilação ventricular e a assistolia prejudicam esse processo (bombeamento), a c a rret a n d o o C H O Q U E CAR D I OG Ê N I C O. ) A energia elétrica de média amperagem, quando passa pelo tronco do indivíduo, acarreta contração do diafragma (músculo da parede abdominal responsável pela respiração), resultando em parada respiratória periférica. O diafragma é o maior músculo do corpo humano e responsável pelo sistema respiratório. Quando a corrente elétrica passa pelo corpo, dependendo da intensidade, afeta o diafragma e gera parada respiratória. Como a eletricidade “mata” as células? A eletricidade atua destruindo as células através do FENÔMENO DA ELETROPERFURAÇÃO, situação em que ocorre o aumento do diâmetro das células e, por via de consequência, há o ingresso e saída de substâncias prejudiciais e essenciais (respectivamente) para a célula. Ademais, dependendo da intensidade da corrente elétrica, pode haver a ocorrência de fraturas e luxações, podendo, inclusive, comprometer gravemente os músculos. Caso haja esse comprometimento dos músculos, deve-se dar especial atenção à possibilidade de insuficiência renal, pois a mioglobina do músculo, quando liberada na corrente sanguínea, acarreta sério prejuízo aos rins. LESÕES CAUSADAS PELA RADIOATIVIDADE A radioatividade, aos poucos, causam lesões que podem causar a morte. A energia radioativa atinge o átomo e transfere para ele elevado nível de 34 energia. O átomo absorve uma quantidade considerável de energia e vai liberando-a aos poucos. Alguns exemplos de fonte de radiação incluem: os raios X, rádio e cobalto radioativos, compostos do bário, tório, etc. O nível de periculosidade da radiação depende da partícula que está sendo expelida pelo átomo. A liberação da energia é que confere a radiação a esse átomo, liberando partículas ALFA, BETAE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS CHAMADAS GAMA. A partícula alfa, quando expelida não ultrapassa nem mesmo uma folha de papel. A partícula Beta não consegue adentrar na pele, causando apenas certa vermelhidão. No entanto, a partícula gama adentra a pele, ultrapassando até mesmo o chumbo, sendo bloqueada apenas pelo concreto (pode causar grande prejuízo ao corpo humano). O individuo se protege muito bem, quando vestido, das radiações ALFA E BETA, no entanto, quando diante da radiação gama, somente o tempo de permanência sob o contato com a radiação pode determinar uma garantia de não prejuízo ao individuo. As radiodermites são lesões produzidas por substâncias radioativas, classificando-se em três graus diferentes: 1ª GRAU: eritema e depilação da área afetada; 2º GRAU: flictenas (bolhas); 3º GRAU: grau: gangrena ou necrose. (úlcera de Roentgen) As radiações atuam impedindo a divisão celular em alguns tecidos e destruindo as células de outros, causando leucemia, dermatoses (radiodermites), lesões das gônadas e moléstias profissionais. A radiação pode gerar queimaduras, porém sem crestar os pelos (igual a queimadura pela água). LESÕES CAUSADAS PELA PRESSÃO ATMOSFÉRICA ( MEDICINA LEGAL | )As lesões derivadas da pressão atmosférica são ocasionadas quase sempre no ambiente laboral e em caráter acidental. Quando a pressão atmosférica se altera para maior ou para menos do normal, há grande risco de danos à vida e a saúde das pessoas. 1. Diminuição da pressão atmosférica: quanto maior a altitude, menor será a pressão atmosférica e também menor a quantidade de oxigênio. Isso força o coração trabalhar mais no sentido de compensar a falta de 35 oxigênio, acarretando dispneia, náuseas, taquicardia, e até perda da consciência. Esse fenômeno é conhecido como Mal das Montanhas ou do Aviador. ( Quando o indivíduo mora em locais de grande altitude, pode ser portador de uma doença crônica chamada DOENÇA DO MONGE , que pode acarretar diminuição da ventilação pulmonar e prejuízos à oxigenação do sangue (pode causar tromboses). ) 2. Aumento da pressão atmosférica: quanto menor a altitude, maior será a pressão atmosférica. Nesse sentido, podemos constatar que os mergulhadores costumam trabalhar em locais de grande pressão atmosférica. O aumento da pressão atmosférica acarreta o que a doutrina chama de descompressão, resultando em posterior embolia derivada da intoxicação por oxigênio, nitrogênio e gás carbônico. Essas lesões são também conhecidas como barotraumas. DOENÇA DA DESCOMPRESSÃO: Forma crônica que decorre da descompressão inadequada, acarretando acúmulo de gases descomprimidos nas articulações (maior concentração de nitrogênio na mistura gasosa). EMBOLIA TRAUMÁTICA PELO AR: Forma aguda da lesão por aumento de pressão, podendo ser mortal. Se caracteriza pela rotura das paredes alveolares, causando hemorragia intrapulmonar. Nesse caso, o nitrogênio cai na corrente sanguínea, acarretando embolias gasosas difusas. BAROTRAUMA DE OUVIDO: Quando o sujeito está descendo nas profundezas a água força a entrada pelo ouvido, que é obstruída pelos tímpanos. No entanto, quando em alta pressão, o tímpano não é capaz de obstruir essa entrada da água, acarretando, destarte, em barotrauma no tímpano – rompimento do tímpano– gerando a perda do equilíbrio. (Mergulho em apneia) ( MANOBRA DE VALSALVA - Atua de modo a compensar a pressão de dentro para fora. Ocorre quando o mergulhador fecha o nariz e boca, assoprando a fim de garantir o bloqueio do tímpano e evitar o barotrauma causado pela entrada de água no ouvido. MANOBRA DE TOYMBEE – Consiste em tampar o nariz e simular uma deglutição. ) 36 LESÕES CAUSADAS PELA LUZ E SOM A luz e o som são agentes vulnerantes que comprometem principalmente os órgãos dos sentidos e dificilmente acarretam lesões graves. A exposição à luz intensa ou de intensidade muito variável pode causar alterações do sistema nervoso central (epilepsia) e alterações de ordem psíquica. A exposição crônica a ruído excessivo pode causar epilepsia acustogênica, diminuição e até mesmo a perda da função auditiva, além de “zumbidos”. A perda auditiva temporária, segundo Veloso França, é conhecida como mudança temporária do limiar de audição (temporary threshold shift). ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA Todos nós, seres humanos, precisamos respirar! Nesse sentido, para que a respiração se processe em condições de normalidade é necessário que o ambiente externo seja gasoso, com um teor de oxigênio de aproximadamente 21%, azoto 78%, gás carbônico 0,03%, portanto, praticamente livre de gases tóxicos, e que haja permeabilidade das vias respiratórias, movimentação toracodiafragmática, expansibilidade pulmonar, circulação sanguínea e volemia em condições suficientes para o transporte de oxigênio à intimidade dos tecidos e garantir regularidade à hematose. Ao estudar as energias de ordem físico-química, analisaremos minuciosamente a morte por asfixia. Mas qual seria a importância desse estudo? A asfixia é uma das qualificadoras do homicídio e tem fundamental importância para a mensuração da dosimetria da pena. A asfixia não deriva apenas de um processo físico, mas também químico. Trata-se de um processo físico-químico provocado à vítima, atuando de forma a impedir a utilização do oxigênio para a produção de ATP (energia), também atuando impedindo a oxigenação de órgãos vitais para organismo. ( MEDICINA LEGAL | )Na asfixia, constatamos ausência de oxigênio (hipoxia) e excesso de gás carbônio (hipercapnia). Vamos ver se você aprendeu? Qual tipo de agente vulnerante atua na asfixia? Físico-Químico! 37 Antes de entramos no estudo das asfixias, precisamos conhecer algumas informações básicas. O que é o tão famoso ATP? Trifosfato de adenosina, adenosina trifosfato ou simplesmente ATP, é um nucleotídeo responsável pelo armazenamento de energia em suas ligações químicas. É constituída por adenosina, um nucleosídeo, associado a três radicais fosfato conectados em cadeia. A energia é armazenada nas ligações entre os fosfatos. O ATP armazena energia proveniente da respiração celular e da fotossíntese, para consumo imediato. A molécula atua como uma moeda celular, ou seja, é uma forma conveniente da transformação da energia. Esta energia pode ser utilizada em diversos processos biológicos, tais como o transporte ativo de moléculas, síntese e secreção de substâncias, locomoção edivisão celular, entre outros. Não pode ser estocada, seu uso é imediato, energia pode ser estocada na forma de carboidratose lipídios. ( SINAIS GERAIS DE ASFIXIA ) A morte por asfixia gera sangue fluido e escuro; Congestão Polivisceral e Manchas de Tardieu, porém estes não são sinais de certeza da morte por asfixia, ou seja, não são sinais patognomônicos, mas sim, sinais de mera probabilidade de asfixia. ( MANCHA DE TARDIER: Para Tardier, estas hemorragias multiformes s u bc o n j unt i v a i s (m a nch a d e tardier) c o n f igur a v a m hipó t e s e de AS F I XI A . Atualmente não podemos afirmar que tal lesão caracteriza, com precisão, hipótese de asfixia. A hemorragia subconjuntival é um indicio de asfixia. ) ( Classificação Médico-Legal das Asfixias: ) Quando existe a constrição do pescoço não necessariamente estaremos impedindo a entrada de oxigênio no pulmão, mas estaremos impedindo que o oxigênio chegue em quantidade necessária ao bom funcionamento do cérebro (lesão na carótida). Pode ser também a alteração neurológica causada pela alteração do nervo vago. ( TIPOS DE SUFOCAÇÃO ) A) Sufocação Direta – Obstrução direta dos orifícios respiratórios. Este tipo de asfixia é realizado quando diante de desproporção física da vítima para com o homicida ou diante de situação em que a vítima tenha a sua resistência reduzida. Este deverá ser muito mais forte do que a vítima para provocar a sufocação diretacom êxito. Outra forma de realizar a sufocação direta 38 decorre da obstrução das vias aéreos (normalmente, acidentais, em idosos, crianças e bêbados). A pessoa que, por exemplo, aspira o chiclete bloqueando as vias aéreas. Pode deixar marcas ou não, quando diante de obstrução dos orifícios respiratórios, a depender do modo. B) Sufocação Indireta – Ocorre com a obstrução em vias que não as aéreas ou orifícios respiratórios. Ex. paralisia da musculatura respiratória, pela compressão do tórax, pelo energia elétrica. Outra forma de realizar a sufocação indireta é com a crucificação, pois o peso do corpo fica todo apoiado pelos braços e não há força para o levantamento do corpo exigido para o movimento respiratório. A fratura dos arcos costais (costelas) também gera a asfixia indireta, em virtude da obstrução. ASFIXIA POR MODIFICAÇÕES FÍSICAS DO AMBIENTE: A) Modificações Quantitativas do Ar: diminuição do oxigênio, aumento do gás carbônico, aumento da temperatura e excesso de vapor d’água; B) Confinamento; (ex. pessoa presa no porta-malas de um carro) C) Modificações Qualitativas do Ar: ambiente gasoso para líquido (afogamento) e ambiente gasoso para sólido (soterramento); MODIFICAÇÃO DO AR AMBIENTAL Afogamento – Liquido Soterramento – Sólido Granular Confinamento – Gases não tóxicos, porém que não servem para a respiração. A) Soterramento: Caracterizado quando a pessoa está viva no momento do desabamento e acaba por se asfixiar ao respirar o material sólido que cai sobre si. Para tanto, deve ser aberto o cadáver e analisar as vias aéreas com intuito de averiguar se há material do desabamento em sua arvore respiratória e também no sistema digestório. Caso haja, podemos caracterizar a morte por asfixia derivada do soterramento. Essa analise das via aéreas na autopsia permite saber se a pessoa morreu em virtude do trauma ou se fora asfixia. ( MEDICINA LEGAL | )39 O Cogumelo de espuma caracteriza um edema de pulmão, tratando-se de um sinal característico na morte por soterramento, afogamento, eletroplessão e outras mais. Assim, o cogumelo de não é um sinal patognomônico. O que é um sinal patognomônico? Termo médico que se refere a sinal ou sintoma específico de uma determinada doença, diferenciando-a das outras. B) Confinamento Ocorre quando a vitima está em um local sem circulação do ar que, por conseguinte acaba por tornar insuficiente a presença de oxigênio a fim de propiciar a oxigenação do organismo humano. O nosso organismo quando entra em um ambiente com menos de 7% de oxigênio não agüenta e o individuo acaba por desmaiar, causando a morte em seguida. (morte muito comum em poços, onde o ar é paupérrimo; em pessoas que são locomovidas dentro da mala de um carro após um tempo de permanência no local; pessoas que ficam afundadas em submarino ou mesmo dentro da geladeira). O confinamento gera hipotermia, hipoxia e hipercapnia. C) Afogamento Trata-se de asfixia por alteração do ar ambiental, do estado gasoso para o liquido. O afogamento se dá através da aspiração e ingestão da água. Em virtude disto, os sinais de morte por afogamento podem ser encontrados no sistema respiratório e também no digestivo. ( IMPORTANTE: A água do sangue tem mais sal do que a água doce e menos sal do que na água salgada. O ar que entra no organismo é direcionado para o lado esquerdo do coração. ) A) AFOGAMENTO EM ÁGUA DOCE: Na água doce há sal, porém em menos quantidade do que na água salgada. 40 Quando a água doce chega no pulmão e entra em conflito com a água do sangue, como a água do sangue tem mais sal do que a água doce, a tendência é que a água que chega no pulmão seja absorvida pelo sangue, pois o sal do sangue irá (puxar) absorver a água e tornar, por conseguinte, o sangue diluído. Nesse momento, como o sangue é direcionado para o átrio esquerdo é possível verificar que o sangue do átrio esquerdo estará muito mais diluído do que o do lado direito. Ante o exposto, em virtude da alta diluição ocasionada pela interação do sangue com a água doce, no afogamento em água doce teremos um sangue menos denso. Mecanismo da morte por afogamento em água doce: Quando as hemácias ficam inundadas por água e arrebentam acarreta a saída de potássio e entrada de sódio, gera excesso de potássio na corrente sanguínea e, por conseguinte, gera fibrilação ventricular. Por isso, o afogamento em água salgada é de mais fácil reversão do que na água doce, visto que na água doce além de todo problema respiratório ocasionado pela alteração do ambiente temos também o excesso de potássio no sangue que prejudica o funcionamento do coração. B) AFOGAMENTO EM ÁGUA SALGADA A água salgado apresenta maior sal do que o sangue. Assim, quando a água salgada irá absorver o sangue e por, conseguinte, o átrio direito irá apresentar sangue mais diluído do que o do átrio esquerdo. O sangue é direcionado com oxigênio para o átrio esquerdo, porém, quando aspirada a água salgada, esta irá absorver a quantidade de água do sangue, tornando-o menor diluído do que aquele que, nesse momento, está presente no átrio direito. Ante o exposto, podemos caracterizar que, na morte por afogamento em água salgada, o sangue se apresenta mais denso em virtude de menor diluição. ( MEDICINA LEGAL | )Mecanismo de morte por afogamento em água salgada: O afogado em água salgada morre em virtude do excesso de liquido no pulmão que, por conseguinte, acarreta lesões aos alvéolos e prejudica o sistema respiratório. ( AFOG. EM AGUA SALGADA – SANGUE M AIS DENSO (MENOS DILUÍDO) – Menor o ponto crioscópico (PONTO DE CONGELAMENTO DO SANGUE). DIFERENÇA DO SANGUE DA VÍTIMA DO AFOGAMENTO: ) 41 ( AFOG. EM AGUA DOCE – SANGUE MENOS DENSO (MAIS DILUÍDO) – Maior o ponto crioscópico (PONTO DE CONGELAMENTO DO SANGUE). ) ( Ponto crioscópico – É o ponto de congelamento do sangue. Quanto maior a concentração de sal no sangue, menor será o ponto crioscópico, ou seja, menor o ponto de congelamento do sangue. Assim, na morte por afogamento em água salgado o ponto crioscópico é menor do que no por água doce. ) A certeza de morte por afogamento se dá através da presença de algas diatomáceas no fígado e ossos da vítima. Essa análise, inclusive, pode ser realizada em cadáveres já em elevado nível de putrefação. Sinais comuns das vítimas de afogamento: 1. Edema de pulmão; 2. cianose; 3. diferença de diluição entre os átrios; 4. alteração do ponto crioscópico; 5. manchas de tardier; 6. congestão polivisceral; 7. objetos marinhos nas árvores respiratórias; 8. lesões de arraste; 9. ( 10. mancha de paltauf. Em virtude da entrada de água nos alvéolos, temos a explosão deste e extravasamento de sangue, ocasionando a MANCHA DE PALTAUF. Trata-se do excesso de liquido no pulmão que acarreta o rompimento dos alvéolos. A referida mancha é patognomônica de morte por afogamento, apresentado-se por equimoses subpleurais. IMPORTANTE! ) ( IMPORTANTE: O início da putrefação nos afogados é antecipada. Inclusive, a famosa mancha de brouardel, que estudaremos mais adiante, costuma aparecer nos afogados nos órgãos superiores. ) ( AFOGAMENTO BRANCO DE PARROUT: Trata-se do indivíduo que morre na água, porém permanece com o pulmão seco e sem sinais de morte por afogamento. Diversos autores atribuem esse fenômeno ao espasmo da glote, que impede a entrada da água nas vias respiratórias (reflexo vagal). Este fato é mais comum em águas geladas, em que há a possibilidade de hidrocussão, que acarreta uma parada cardíaca. Nesse caso, de fato, a causa da morte não foi o afogamento. )cabeça de negro; ASFIXIAS POR CONSTRIÇÃO DO PESCOÇO 42 A) ENFORCAMENTO: ocasionado pelo laço em que a força é exercida pelo próprio peso da vítima. Ex. Amarra laço
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