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Perseguição (Stalking) A Lei nº 14.132, de 2021 incluiu no Código Penal o art. 147-A do Código Penal. Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. § 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido: I – contra criança, adolescente ou idoso; II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código; III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma. § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. § 3º Somente se procede mediante representação. 1. Bem Jurídico Tutelado É a liberdade individual da vítima. 2. Sujeitos do Crime 2.1. Sujeito Ativo Crime comum: pode ser cometido por qualquer pessoa 2.2. Sujeito Passivo Crime comum: qualquer pessoa pode ser vítima. Obs. Se a vítima for criança, adolescente ou idoso ou mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código, a pena é aumentada de metade. Obs2. Prévio conhecimento entre vítima e acusado O art. 147-A do Código Penal não se restringe a situações de violência doméstica ou familiar, abrangendo hipóteses em que não haja nem prévio conhecimento entre vítima e acusado. Ex: Caso Anna Hieckman 3. Condutas Obs.1 Perseguir alguém Perseguir: significa importunar muitas vezes, ir ao encalço, correr atrás incansavelmente. A perseguição de que trata o art. 147-A do Código Penal refere-se ao conhecido termo em inglês Stalking, que, em tradução livre, significa perseguir, vigiar, de forma obsessiva. Obs2. Reiteradamente e por qualquer meio Doutrina tem entendido que se trata de crime habitual, ou seja, é necessária a reiteração de atos para que se configure o crime. Obs3. Formas que perseguição a) ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica; Nesta modalidade, incorpora-se o delito de ameaça (art. 147 do CP). As ameaças podem se dar por palavras ou gestos. Obs. O que é Violência Psicológica? Pode-se emprestar o conceito de violência psicológica do art. 7º, II, da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha): a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação b) restringindo-lhe a capacidade de locomoção; Não há uma efetiva restrição à liberdade de locomoção como no delito de sequestro e cárcere privado (art. 148 do CP), contudo, em razão da perseguição a vítima se sente inibida frequentar determinados lugares, o que acarreta a restrição de sua capacidade de locomoção. Ex: ex-namorado que persegue incessantemente a ex-namorada para que não vá à festa. c) de qualquer forma, invadindo ou perturbando a esfera de liberdade ou privacidade É qualquer ato impeça a vítima de realizar suas atividades cotidianas normais. Atenção: Não é necessário que haja invasão física. Ex: ex-marido que fica estacionado dentro do carro em frente ao trabalho da ex-esposa. Obs4. Questões Pontuais (1º) Crime de Ação Livre A ameaça e à restrição à capacidade de locomoção pode ser cometida por qualquer meio (ex: ligações, WhatsApp, Sky, e-mail, perseguições físicas e pessoais, etc). (2º) Cyberstalking Como se trata de crime de ação livre, perfeitamente possível o Cyberstalking. Ex: mandar várias e-mails, várias mensagens no WhatsApp, divulgar informações pessoais, etc. (3º) Paparazzi A depender do caso concreto, pode configurar o crime. Se o paparazzi desenvolve seu trabalho de forma normal, em ambiente público, sem extrapolar os limites, não haverá crime. Contudo, se reiteradamente perturbar ou molestar a vítima, invadindo sua esfera de liberdade individual, poderá ocorrer o crime do art. 147-A do CP. Ex: Princesa Daiana (4º) Antes do art. 147-A do Código Penal, incluído pela Lei nº 14.132/21, havia punição para conduta de perseguição? Antes do art. 147-A do Código Penal, os atos de perseguição eram punidos nos termos do art. 65 da Lei de Contravenções Penais, que possuía pena de prisão simples de quinze dias a dois meses. Perturbação da tranquilidade Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena - prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. Após a Lei 14.132/21, a contravenção penal do art. 65 foi revogada e a punição passou a ser realizada pelo art. 147-A do Código Penal, com pena de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Obs. Com a revogação da Contravenção Penal do Art. 65 da Lei de Contravenções Penais houve continuidade normativo-típica ou abolitio criminis? 1ª posição 2ª posição Parte da doutrina entendia que a contravenção penal do art. 65 era classificada como crime habitual. Assim, com a entrada em vigor do art. Parte da doutrina entendia que a contravenção penal do art. 65 era classificada como crime instantâneo. Assim, com a entrada em vigor do art. 147-A do Código Penal, houve continuidade normativo-típica, pois também se trata de crime habitual. Obs. Neste caso, deverá ser aplicada a pena do art. 65 da LCP, vez que mais benéfica ao agente. 147-A do Código Penal, que prevê habitualidade para sua configuração, inevitavelmente ocorreu abolitio criminis. 4. Tipo Subjetivo É o dolo. Não há previsão de modalidade culposa, nem de elemento subjetivo do tipo. 5. Consumação e Tentativa Trata-se de crime habitual que se consuma com a reiteração dos atos de perseguição. A prática de apenas um ato não apto a configurar o delito. Pela mesma razão, não é possível a tentativa. 6. Majorantes (§ 1º) A pena é aumentada de metade se o crime é cometido: 6.1. Contra criança, adolescente ou idoso; 6.2. Contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código; § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 6.3 Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; 6.4. Com o emprego de arma Prevalece o entendimento de que abrange tanto as armas próprias (aquelas que possuem o fim precípuo de ataque ou defesa. Ex: arma de fogo, punhal), quanto às impróprias (aquelas que não possuem fim precípuo de ataque ou defesa, mas que podem ser utilizadas para tanto. Ex: faca, pedaço de madeira, etc). 7. Concurso Material Obrigatório § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Se o agente, com sua conduta, praticar mais de um delito (ex: lesão corporal), prevalece o entendimento que ele deverá ter suas penas somadas. Vale dizer, aplica-se a regra do concurso material de crime. Rogério Sanches entende que: (...) Parece-nos, contudo, que se trata de concurso formal impróprio, pois não há duas condutas distintas produzindo pluralidade de resultados. Não se pode falar, também, em concurso formal propriamente dito, considerando que o sistema a ser aplicado é o da cumulação de penas, não o da exasperação. Assim, a melhor solução é o concurso formal impróprio (art. 70, caput, segunda parte, do CP), caso emque o agente, mediante uma só conduta, porém com desígnios autônomos, provoca dois ou mais resultados, cumulando-se as reprimendas.1 8. Ação Penal (§ 3º) 1 Lei 14.132/21: Insere no Código Penal o art. 147-A para tipificar o crime de perseguição. Disponível em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2021/04/01/lei-14-13221-insere- no-codigo-penal-o-art-147-para-tipificar-o-crime-de-perseguicao/ § 3º Somente se procede mediante representação. É pública condicionada à representação. 9. Infração de Menor Potencial Ofensivo O crime do art. 147-A, caput, do Código Penal possui pena de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e, portanto, é infração de menor potencial ofensivo, o que permite a aplicação do benefícios despenalizadores da Lei 9.099/95, como a transação penal e a suspensão condicional do processo. Se houver o aumento do § 1º, a infração deixa de ser de menor potencial ofensivo.
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