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PANCs APOSTILA
Introdução
De acordo com Kinupp e Lorenzi (2014), as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) são espécies alimentícias que não são corriqueiras, que não fazem parte do dia a dia, incluindo ainda partes alimentícias de espécies convencionais como o “umbigo” da bananeira, as folhas de batata-doce ou as folhas, flores, brotos e sementes de abóboras. Madeira e Kinupp (2016) acrescentam que são espécies regionais, não globalizadas, sem cadeia produtiva estruturada, notavelmente rústicas e resilientes, muitas vezes de ocorrência espontânea, além de apresentarem destacado potencial nutricional. Dentre as PANC, predominam frutas e hortaliças.
E por que o recorte para as Hortaliças PANC? Três fatores principais nos levaram a fazer tal recorte. Primeiro, a percepção e a valorização diferenciadas que as pessoas dão, em sua grande maioria, para frutas e hortaliças. Geralmente, frutas nos remetem a memória de sobremesas, sucos, geleias, compotas, licores ou àquela lembrança de subir no pé como a jabuticaba ou de catar no mato como a gueiroba. Por outro lado, muitas das hortaliças Panc são associadas a momentos de restrição financeira ou escassez de alimentos, fome mesmo, havendo muitas vezes uma reação de rejeição e o consequente abandono e substituição por hortaliças comerciais.
Segundo, e até em função desse primeiro fator, existem diversas inciativas de valorização de frutas do Cerrado, da Amazônia, da Caatinga, da Mata Atlântica ou de determinadas espécies como o cupuaçu, o açaí, o pequi, o umbu, a jabuticaba, a uvaia ou ainda as castanhas como o baru e as palmeiras como o licuri, o babaçu, a pupunha, etc. Quanto a hortaliças são raras as iniciativas de conservação e promoção de seu uso e consumo.
E, finalmente, as características inerentes à grande maioria das fruteiras, de período longo até a primeira produção, médio a grande porte e frutificação e colheita concentradas enquanto as hortaliças costumam ser de porte menor, ciclo curto e ser possível de produzir por meses, muitas delas o ano inteiro. Assim, quando se faz um trabalho em uma comunidade ou em um quintal, as Hortaliças Panc são capazes de iniciar o processo de reeducação alimentar muito rapidamente, logo após 2 ou 3 meses.
Seu consumo tem diminuído em todas as regiões do país, em áreas rurais e urbanas e entre todas as classes sociais, resultado da globalização, da urbanização e do crescente uso de alimentos industrializados,  verificando-se mudanças significativas no padrão alimentar dos brasileiros e perdas de características culturais e de identidade com o consumo de alimentos locais e regionais.
Assim, além dos prejuízos relacionados à segurança alimentar e nutricional, a soberania alimentar é afetada pois a concentração dos meios de produção acarreta em maior dependência por insumos externos quando se reduz a produção local de alimentos.
A produção local traz oportunidades ainda com relação a outros aspectos relacionados ao dia a dia na condução da horta, a exemplo da oportunidade de se fazer exercícios regularmente, do efeito terapêutico e ocupacional proporcionado pelo trabalho com a terra e com as plantas, das relações sociais estabelecidas entre as pessoas que se relacionam com a horta, além da certeza de conhecer a procedência e os meios de produção empregados para a produção de alimentos seguros. Esses aspectos têm maior visibilidade e vem ganhando maior importância quando se dialoga a respeito da agricultura urbana, sendo muito interessante neste contexto também a inclusão das hortaliças tradicionais em hortas urbanas comunitárias ou em quintais domiciliares e até em vasos dentro de casas e apartamentos em áreas urbanas e periurbanas.
Muitas espécies de hortaliças tradicionais também apresentam potencial enquanto plantas ornamentais, algumas como o peixinho,a capuchinha e a vinagreira kenaf já o são, trazendo a proposta dos jardins comestíveis. Outro conceito interessante na promoção da segurança e soberania alimentar é o de hortas perenes, a exemplo de muitas das espécies estudadas neste trabalho como o ora-pro-nóbis, a bertalha-coração e o tomate-de-árvore, entre outras que se perenizam como o peixinho e a azedinha, renovadas somente em alguns casos, ou pela característica de apresentar propagação espontânea, realizando-se somente seu manejo, a exemplo do almeirão-de-árvore, serralha, major-gomes e capiçoba.
A Embrapa Hortaliças mantém uma coleção de hortaliças tradicionais e junto a órgãos de extensão rural, instituições de ensino técnico e organizações de agricultores, vem trabalhando no sentido de promover o cultivo e o consumo destas, representando um verdadeiro resgate no caso de algumas espécies em desuso como o mangarito, o jacatupé e a araruta. O trabalho tem dois propósitos básicos: o enriquecimento da dieta alimentar local com a diversificação da produção nos quintais; e a oportunidade de renda para os agricultores familiares com o cultivo de hortaliças tradicionais e seus subprodutos. 
Este curso tem por objetivo disponibilizar conhecimentos sobre o cultivo e a utilização de espécies de hortaliças tradicionais (PANC) , com foco especial na oportunidade de produção doméstica em função de sua rusticidade, baixa dependência por insumos externos e reduzido custo de produção. Ele foi idealizado em parceria com o Instituto Kairós e contou com o apoio de diversos parceiros. 
Contexto
Essas espécies de hortaliças estavam aí, algumas pelos quintais, outras dispersas no meio do mato, e diversas delas utilizadas em pratos regionais. Se em muitos lugares ainda não são reconhecidas como alimentos, por outro lado, em certas localidades, fizeram e ainda fazem parte da culinária, numa tradição passada de geração a geração, a exemplo do jambu na Amazônia, da vinagreira cuxá no Maranhão, da taioba no Espírito Santo e da ora-pro-nóbis em Minas Gerais. Sem contar com cultivo comercial e uma cadeia produtiva estruturada, muitas dessas plantas passaram a povoar apenas as memórias de algumas pessoas. Mas novos tempos são chegados e, dentro de um contexto científico-econômico-social, outros roteiros começam a fazer parte da história de plantas como almeirão-roxo, araruta, azedinha, beldroega, bertalha, cará-moela, cariru (talinum), caruru (amaranto), chuchu-de-vento, capuchinha, fisális, mangarito, mostarda, ora-pro-nóbis, peixinho, taioba e vinagreira, entre outras que caíram no anonimato.
O cultivo das hortaliças tradicionais no Brasil é feito predominantemente por agricultores familiares, muitos deles caracterizados como populações tradicionais, cujo conhecimento sobre o cultivo e consumo dessas plantas é passado de geração a geração. Muitos plantios estão estabelecidos em pequenos quintais para o consumo da própria família, sem nenhum apelo comercial. Algumas espécies, no entanto, apresentam maior oportunidade de mercado, como o inhame (Colocasia esculenta) e o inhame-cará (Dioscorea spp.), sendo frequentemente encontrados em feiras e supermercados. Ainda, alguns produtos obtidos a partir de hortaliças tradicionais apresentam potencial comercial sub-explorado, inclusive de exportação, a exemplo da fécula (polvilho) de araruta e do chá de hibisco, extraído da flor da vinagreira. Outro nicho de mercado potencial é o de flores comestíveis como a capuchinha, o malvavisco e a tumbérgia, destacando-se seu uso paisagístico em jardins e estético na ornamentação de pratos à mesa.
A situação de desuso da maioria das PANC pelos segmentos da sociedade acarreta em fragilidade com relação ao risco de perda desses materiais. De acordo com a FAO (2004), no decorrer de milênios o ser humano baseou sua alimentação em mais de dez mil diferentes espécies vegetais. Atualmente, entretanto existem menos de cento e cinquenta espécies sendo cultivadas. Destas, apenas doze atendem oitenta por cento de nossas necessidades alimentares; e mais ainda, apenas quatro espécies – arroz, trigo, milho e batata – suprem mais da metade de nossas necessidades energéticas. Muitas espécies que estão em desuso já se perderam ou estão vulneráveis. Com base nessarealidade, a FAO vem organizando desde 1983 reuniões com vários países em busca de soluções para essa crescente ameaça de redução de espécies vegetais, tão importantes no contexto da segurança e soberania alimentar e nutricional. Em 2004, foi então ratificado o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Alimentação e a Agricultura, do qual o Brasil também é signatário. 
História, cultura e tradição
Um dos primeiros registros da base alimentar brasileira aparece retratado na carta de Pero Vaz de Caminha, na qual é descrita a alimentação dos povos indígenas que habitavam há milênios este território, e tem como referência a mandioca - “nem comem senão desse ‘inhame’ que aqui há muito...”. Na realidade, o “inhame” a que Caminha se referia era a mandioca (Manihot esculenta), ainda desconhecida pelos colonizadores europeus. Outras hortaliças faziam parte da alimentação indígena como batata-doce, alguns tipos de cará, abóboras, taiobas e mangaritos, pimentas, cubiu, araruta, bem como amendoim, milho, muitas frutas, além de uma enorme gama de alimentos coletados nos campos ou florestas. Os portugueses, durante o período das grandes navegações (séculos XV a XVII), tiveram papel fundamental no intercâmbio de plantas entre o Brasil, Portugal e suas colônias à época na África e na Ásia. Algumas hortaliças passaram a ter grande importância na formação da base alimentar e cultural brasileira, a exemplo de quiabo, maxixe, inhame (cará) e vinagreira, trazidos pelos escravizados da África, de pimenta-do-reino e inhame, originários da Ásia, e de couve e repolho, originários da Europa. Há ainda algumas espécies, como a cenoura e a cebola, que foram trazidas para o Brasil por colonos portugueses, especialmente açoreanos, já em um segundo ciclo migratório, visto que foram introduzidas da Ásia para a Península Ibérica séculos antes pelos mouros.
Em sentido inverso, foram disseminadas pelo mundo por espanhóis e portugueses a batata, o tomate, a batata-doce, as pimentas e as abóboras e morangas, entre outras espécies, provenientes do continente sul-americano. Cascudo (1983) descreve essa miscigenação, resumindo que o europeu, inclusive com influências mouras, é o introdutor da técnica e da sofisticação do paladar sobre os elementos indígenas e africanos. Essa integração cultural brasileira, refletida na questão alimentar, que foi miscigenada mais intensamente a partir da chegada dos colonizadores e incorporada à nossa cultura corre o risco de ser perdida ou drasticamente reduzida devido às transformações da sociedade e ao desuso de plantas anteriormente conhecidas e utilizadas, substituídas por outros alimentos com cadeias produtivas estabelecidas em larga escala e, principalmente, por alimentos industrializados.
Ainda assim, algumas PANC são de suma importância na expressão da cultura de determinadas populações. Alguns exemplos são o ora-pro-nóbis em algumas regiões de Minas Gerais, havendo inclusive o festival anual do ora-pro-nóbis em Sabará, a vinagreira no Maranhão, base do prato mais significativo da culinária maranhense – o arroz de cuxá, o jambu e a chicória-do-Pará no Norte do Brasil, especialmente Amazonas e Pará, entre outros.
Plantas Espontâneas
Diversas plantas não cultivadas também têm sido utilizadas como alimento desde os primórdios da humanidade, sendo fruto de coleta, raramente de cultivo. São plantas que são dispersadas naturalmente pelo vento ou por animais, ocorrendo a ponto de serem indesejadas em certos ambientes, sendo muitas vezes classificadas com plantas daninhas, invasoras, matos ou inços.
Essas hortaliças silvestres tem especial predileção pelos ambientes criados pelo homem, como solos com teores elevados de matérias orgânica e com alguma perturbação (revolvimento formando canteiros, por exemplo), em geral com incidência de sol direto e algum grau de umidade. São as plantas que denominamos de plantas ruderais, ou seja, que acompanham os ambientes criados pelo homem, sejam terrenos baldios, calçadas, quintais ou áreas hortícolas. Vale ressaltar que nem toda planta ruderal é comestível, mas que diversas dessas plantas possuem uso potencial como alimento.
Dentro da categoria de espontâneas comestíveis, as plantas passam a ser consideradas “daninhas” na agricultura, em especial na produção de hortaliças convencionais, quando concorrem por espaço, luz, água e fertilidade a ponto de reduzir sua produção. No entanto, em uma visão ecológica, pode-se e deve-se manejar essas plantas considerando os princípios de consorciação e sucessão de cultivos. Há uma grande diversidade de plantas consideradas “daninhas”, mas que são comestíveis, como a beldroega, a capiçoba, os carurus (amarantos), os carirus (talinum), as serralhas, as alfaces silvestres, o almeirão-roxo, a guasca (botão-de-ouro), o dente-de-leão, a labaça, a tanchagem, o mastruz, a rúcula silvestre (lepidium), o picão-preto, a buva, o trevo (azedinha) e a couvinha-cravo, os camapus (fisális), o pepinículo e o melão-de-São-Caetano. Elas ocorrem nas calçadas, quintais e hortas, mesmo que não sejam plantadas, porque criamos as condições perfeitas para seu desenvolvimento e dispersão. 
Dentre os “matos comestíveis”, temos hortaliças tradicionais da culinária brasileira. Incluem-se nessa lista a major-gomes ou cariru, no Norte e Nordeste; os carurus ou bredos, nas áreas rurais do Brasil todo; a capiçoba, no Centro-Oeste e Sudeste. Fora do Brasil, o botão-de-ouro (picão-branco) é um ingrediente essencial, chamado de “guasca” para pratos típicos como o ajiaco na Colômbia; a couvinha-cravo (lepidium) é um tempero que marca o gosto característico de receitas da culinária da Bolívia, sendo chamado de quirquiña; o caruru (amaranto) divide com alface o status de hortaliça folhosa mais usada no Haiti sob o nome de kalalu; a beldroega é consumida em diversos países, tradicional no passado em Portugal a sopa de beldroegas; o cariru (talinum) é uma hortaliça assim como a serralha, o dente-de-leão e outras. Diversos estudos etnobotânicos apontam que são consumidas há séculos, e estudos laboratoriais reforçam que de fato são comestíveis e, muitas vezes, mais nutritivas do que as hortaliças consideradas “convencionais”.
Falar do aproveitamento dessas hortaliças, que atualmente não estamos tão acostumados a acrescentar à nossa alimentação, traz uma série de benefícios:
· Sua produção é praticamente gratuita, envolvendo apenas o trabalho da sua coleta;
· Pode aumentar a renda do agricultor;
· Evita-se que um alimento seja jogado fora, durante a “limpeza” da horta;
· Possuem valor nutricional diferenciado, em especial devido a compostos nutracêuticos superiores aos encontrados nas hortaliças “convencionais”;
· Sua manutenção na horta está alinhada com as práticas agroecológicas, reduzindo a necessidade de capinas, aumentando a diversidade total em cultivo, favorecendo a vida do solo, evitando áreas de solo expostas ao sol, reciclando nutrientes e atraindo insetos benéficos à horta;
· Aumenta nosso repertório de sabores, porque cada uma possui um sabor único;
· Aumenta imediatamente a segurança alimentar e nutricional dos sistemas agroalimentares, por disponibilizar automaticamente uma quantidade maior de alimentos.
Diversidades das PANCs
Há uma grande diversidade de tipos de Hortaliças Panc, cujas partes comestíveis podem ser folhas, frutos, caules, flores e raízes (aqui incluindo os caules modificados como rizomas, tubérculos e túberas). Algumas espécies possuem várias partes comestíveis como a batata-doce (folhas e raízes tuberosas) ou as abóboras (folhas especialmente os brotos, flores, frutos e sementes), portanto duas Hortaliças Panc quando se trata das partes comestíveis não convencionais dessas espécies convencionais. Podem ser plantas diminutas como a peperômia ou de grande porte como a moringa, anuais de ciclo curto como a beldroega ou perenes como a ora-pro-nóbis que pode produzir por décadas.
Portanto, o termo Hortaliças PANC trata de um grupo de alimentos que não é absolutamente determinado, fechado, a exemplo de uma definição por famíliabotânica ou formas de consumo sendo, portanto, uma lista aberta à medida que se avolumam os trabalhos e se enriquece o intercâmbio de conhecimentos.
Há, ainda, espécies como o melão-de-São-Caetano (Momordica charantia), a batata-de-purga (Ipomoea operculata), a tanchagem (Plantago major) e o mastruz (Chenopodium ambrosioides) que, apesar de estarem presentes em algumas comunidades, não representam um alimento hortícola propriamente dito, apesar de seu uso predominante como planta medicinal, mas que com todo esse movimento das PANC começaram a ser usados, esporadicamente, como alimento em saladas mistas ou em quaisquer preparações. Há também as partes comestíveis não convencionais de plantas de consumo convencional, a exemplo das ramas e folhas da batata-doce, cenoura, beterraba, couve-flor, brócolis, nabo, abóbora; do coração (umbigo) da bananeira, da medula (parte central do caule) do mamoeiro, das sementes de abóbora e melancia; e até da jaca verde (também considerada PANC, nesse caso, por não ser o fruto maduro convencional), entre outros.
Em relação às espécies de plantas espontâneas ou silvestres, muitas vezes consideradas “daninhas”, “inços” ou “matos”, cujas utilidades e potencialidades econômicas são pouco conhecidas, tem-se como referência no Brasil o trabalho de Kinupp (2007) que trata das plantas alimentícias não convencionais (PANC). O estudo foi realizado na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), Rio Grande do Sul, estimando-se a riqueza florística da RMPA em 1.500 espécies nativas, sendo que 311 delas (21%) possuem potencial alimentício. Isso comprova o inegável potencial de um número significativo de espécies autóctones subutilizadas, cujo aproveitamento econômico pode contribuir para o enriquecimento da dieta alimentar humana.
É interessante ressaltar o valor nutricional das PANC que, conforme a espécie, está relacionado a teores significativos de sais minerais, vitaminas, fibras, carboidratos e proteínas, além de seu reconhecido efeito funcional e /ou nutracêutico. Como exemplo de funcionalidade e valor nutricional, tem-se o inhame (Dioscorea spp.), reconhecido depurativo de sangue, indicado para o fortalecimento do sistema imunológico, ou ainda a ora-pro-nóbis, conhecido como a “carne vegetal” por seus elevados teores de proteínas.
Dicas para começar uma horta PANC
1. Comece fazendo
Estudar e planejar antes ajuda, mas a prática costuma ser bem diferente do que foi imaginado. Então, ao planejar, coloque logo a mão na terra e comece modestamente. Alguns vasos, paredes ou um metro quadrado de chão já são suficientes para iniciar. Sem nunca ter plantado nada, a gente não sabe nem ao menos quais as dúvidas que podem surgir. Procure hortas comunitárias próximas à sua casa e interaja com quem tem horta.
Reparem o “ter” uma horta ao invés de “fazer” uma horta. Isso foi intencional. “Horta agente não faz, horta agente tem!” Claro que em algum momento uma horta se inicia, mas a proposta não é simplesmente fazer uma horta, o que muitas vezes vem depois de um tempo, acompanhado do fato inexorável à atual e crescente perda de tempo, de que essa horta acabe por se “desfazer”. A proposta é “ter” uma horta, duradoura e dinâmica. Claro, respeitando a sazonalidade climática e o dia a dia, muitas vezes corrido, de quem cuida da horta e, podem ter certeza, que as hortaliças PANC irão ajudar muito nessa tarefa pela sua maior resiliência e facilidade de produção, muitas vezes aliás de ocorrência espontânea, bastando simples manejo.
2-Escolha o local apropriado
Para fazer, ou melhor, para se ter uma horta, é preciso fazer algumas perguntas: Há algum local que seja acessível?  Há algum local que não seja muito suscetível ao pisoteio? Nesse local há pelo menos 4 ou 5 horas diárias de luz direta? Há torneira ou ponto de água nas proximidades?
Caso você responda não, para algumas dessas perguntas, saiba que esse não é um impedimento para a implementação da horta. Afinal, estamos falando de um cenário ideal. Todos esses problemas podem ser resolvidos com novas perguntas: Há como melhorar a acessibilidade para esse local? É possível demarcar o espaço para que não haja pisoteio? É possível cultivar plantas que toleram menos sol? É fácil trazer água para irrigar, ou construir uma cisterna para captar água da chuva?
Escolhido o local ideal, com todas as condições necessárias para a implantação da horta, seguimos para a etapa de preparo do solo, escolha das espécies, aquisição de sementes e mudas e plantio.
3. Preparo do solo
As PANC que já ocorrem espontaneamente no local da horta podem servir de indicadoras e sinalizadoras de qualidade do solo, como mostra o cartaz anexo ao Guia e a tabela ampliada de PANC para escolas, que se encontram disponíveis no Blog do Projeto Viva Agroecologia. O solo deve ser preparado para que o rendimento da horta seja o maior possível e alguns fatores precisam ser observados, como: 
Profundidade: Solos muito rasos, ou que tenham uma laje embaixo, necessitam de regas mais frequentes e podem comprometer o crescimento das plantas. Procure locais que tenham solo mais profundo, ou agregue matéria orgânica e mais terra, aumentando a altura do canteiro. No caso de plantio em calhas ou vasos, o ideal é que tenham de um a dois palmos de solo, no mínimo, e um bom sistema de drenagem.
Drenagem: Escolha áreas que não alagam com facilidade e que tenham boa drenagem em épocas de chuva. Excesso de água pode ser fatal para muitas plantas, que morrem afogadas ou apodrecem. A adição de um pouco de areia pode ajudar o solo a melhorar a drenagem, mas isso varia para cada caso. A escolha de áreas mais altas pode ser uma solução, assim como a construção de valas de drenagem para que a água escoe para fora da horta. Além, claro,dehaver diversas espécies de Hortaliças Panc bem adaptadas alagáveis como a taioba, o mangarito, o espinafre d’água e o bredo d’água.
Textura: O solo é compacto ou solto? Ele deve ser revolvido profundamente, removendo pedras, pedaços de plástico ou entulho. Alguns solos serão mais arenosos, em geral de cor clara e textura granulosa. Outros, mais argilosos, em geral com cor bege, avermelhada ou marrom, com grãos menores (“mais barrentos”) e com maior possibilidade de se compactarem (“ficando duros”). Com o tempo, pelo trabalho na horta com a adição de compostos orgânicos, esses solos devem ficar cada vez mais escuros, ricos em matéria orgânica.
Fertilidade: A correção e a adubação de solo pode ser fundamental para iniciar a implantação de uma horta. É muito comum haver frustrações ao implantar uma horta por não fazer a correção e a adubação de base. Por exemplo, é comum em solos no Cerrado níveis muito baixos de pH, indicando que eles tem elevada acidez, e terem baixíssimos níveis de fósforo (P), cálcio (ca), magnésio (Mg) e potássio (K), sendo importante fazer um manejo prévio visando acelerar a resposta produtiva na horta. Nos próximos tópicos você aprenderá algumas técnicas de preparação de compostos orgânicos e outras formas de enriquecer o solo com os nutrientes necessários às plantas. Mas lembre-se, é importante realizar, periodicamente, a análise do solo.
Cobertura orgânica: Também chamada de palhada, é muito importante para que o solo da horta não fique descoberto. Quando a terra fica exposta ao sol e à chuva, ela fica compactada (“dura”) e sujeita a processos erosivos, reduzindo muito a produtividade e, às vezes, aumentando a incidência de doenças nas plantas. O ideal é sempre cobrir os canteiros com folhas, cascas de árvores, restos de poda ou de grama cortada. Essa camada de "palhada" em cima do canteiro deixa o solo fresco, reduz a perda de água por evaporação, deixa o solo mais fértil, protege as raízes das plantas, evita matinhos indesejados e também reduz a lama nos sapatos, trazendo mais conforto para quem trabalha na horta. 
4. Adquira mudas e sementes de hortaliças PANC somente com produtores que conhecem as espécies
Nem todas as plantas que nascem em praças, calçadas, jardins e hortas são PANC, ou seja, podem ser comestíveis. Se tiver qualquer tipo dedúvida sobre a identificação de uma planta, não experimente e nem nunca dê para crianças ou animais. Para tirar dúvidas na identificação das PANC, é importante ter apoio técnico e recorrer a agricultores experientes. Outra recomendação é que as mudas de PANC devem ser adquiridas junto a quem tem experiência com elas(nos próximos tópicos haverá uma lista de pessoas e instituições que podem auxiliar a encontrar sementes e mudas de hortaliças PANC). Neste curso, as hortaliças PANC serão identificadas e disponibilizadas para impressão na forma de fichas e cartazes para identificação, manejo da produção e consumo. Fique à vontade para utilizar em sua horta caseira.
5. Planeje sua horta de acordo com seus hábitos alimentares
Tenha variedade em sua horta. Planeje o uso do espaço disponível consorciando espécies de hortaliças convencionais, hortaliças PANC e plantas aromáticas e condimentares.
Por exemplo:
· Hortaliças convencionais: Couve, quiabo, jiló, abóbora, maxixe, milho verde, etc.
· Hortaliças PANC espontâneas: beldroega, picão, caruru, almeirão-roxo, ruculeta, couvinha, etc.
· Hortaliças PANC não espontâneas: ora-pro-nóbis, moringa, peixinho, azedinha, muricato, etc.
· Plantas aromáticas e condimentares: salsinha, manjericão, capim-limão, cebolinha, alecrim, sálvia, etc
Não só as espécies, mas também a quantidade. Por exemplo, poucas plantas de ora-pro-nóbis, duas ou três, são capazes de alimentar com frequência de duas a três vezes por semana uma família de quatro pessoas. Outros exemplos para uma família de quatro pessoas, é 1m2 de peixinho e 1m2 de azedinha no espaçamento de 30 cm entre plantas.
6. Faça da sua horta um ambiente de interação familiar ou comunitária
É importante envolver, sempre que possível, a participação dos interessados pelo tema na família ou na comunidade, tanto adultos como crianças. Após a definição das atividades necessárias, será preciso definir a divisão clara de tarefas dos envolvidos na horta.
A horta é muito mais que somente uma horta. É espaço de terapia ocupacional, relaxamento e contemplação (terapia), de exercício (academia), de aquisição de alimentos saudáveis (quitanda) e de plantas com propriedades funcionais (farmácia), de observação, diálogo e demonstração de fenômenos naturais, especialmente para crianças (escola), de prazer ao ver a evolução das plantas, em especial quando se observa uma nova espécie na horta (lazer) e de relações sociais.
7. Identifique onde e como conseguir terra boa. Não desperdice matéria orgânica e faça compostagem e/ou minhocário
Compostar significa transformar restos de alimentos e de vegetais em composto ou adubo que, além de conter minerais, nutrientes e microorganismos benéficos que as plantas precisam, ajudam o solo a ficar descompactado e a reter mais água.
Para o preparo da compostagem ou do minhocário, é importante saber quanto disporemos de resíduos orgânicos para dimensionarmos seu tamanho. A composteira deve ser feita próxima da horta, e quando feita da maneira correta, não atrai insetos nem animais, e não tem mau cheiro. Sempre que possível, deve ser feita dentro das referências da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de cada Município.
Não se preocupe caso você não tenha um quintal para fazer sua compostagem. Hoje já é possível fazermos a compostagem em pequenos espaços, utilizando as composteiras domésticas. Neste curso, oferecemos vídeos práticos que ensinarão você a desenvolver sua composteira ou minhocário domésticos.
8. Visite agricultores e peça orientações e dicas sobre a produção de PANC
Ninguém melhor para orientar do que o agricultor que tenha conhecimento de produção de orgânicos e sobre PANC. Esse contato pode ser feito em feiras de produtores, em especial em feiras agroecológicas ou entrando em contato para fazer parte de uma das muitas Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA) que começam a se espalhar pelo Brasil afora (mais informações no site http://www.csabrasil.org/csa/ ).
Também existem muitas comunidades virtuais em WhatsApp, Facebook e Instagram.
9. Principais formas de propagação de PANC
Comece por conhecer as formas de propagação de cada espécie.
· Propagação seminífera (sexuada) ou não vegetativa: utiliza as sementes para reproduzir uma planta. Em geral é usada para plantas que não se multiplicam bem de outras formas. Por exemplo, dentre as convencionais: alface, rúcula, salsinha, feijão, quiabo, abóbora, maxixe, pepino, berinjela e jiló. Dentre as hortaliças PANC, temos a serralha, o caruru (amaranto), o almeirão roxo, a mostarda, o quiabo-de-metro, o maxixe-do-reino (chuchu-de-vento), o feijão-alado, dentre outras.
· Propagação vegetativa: Utiliza parte da planta na reprodução dela, como ramos e estolões. Usada para plantas que não produzem sementes ou cujo crescimento é mais rápido e fácil dessa forma. Como exemplos dentre as convencionais, mandioca (aipim ou macaxeira), inhame, batata-doce, mandioquinha, couve e cebolinha. Dentre as hortaliças Panc, citamos as brotações laterais para propagação do espinafre-japonês, do espinafre-amazônico e do melão-andino (muricato). Por divisão de touceiras, multiplica-se o peixinho, a azedinha e o nirá. Usando-se raízes, batatas ou rizomas propagamos o gengibre, a araruta, a taioba, o mangarito, o tupinambo, a cúrcuma e, usando-se estacas apicais (parte do caule) temos mudas de chaya, batata-doce, manjericão, dentre outras.
· Existem, ainda, espécies que podem ser propagadas das duas formas, vegetativamente ou via sementes, como a beldroega, o cariru, o beldroegão, a bertalha, a capuchinha, entre outras.
10. Troque sementes e mudas
A natureza é abundante e, a partir do momento em que começamos a plantar, passamos a produzir mudas e sementes em nossas hortas. É comum a troca de sementes e mudas entre agricultores e esses momentos são sempre muito intensos em troca de experiências e aprendizados. Hoje, existem em diversas regiões, grupos realizando encontros de trocas de sementes e experiências que contribuem para o aprendizado e para a manutenção e conservação dessas espécies em todo o Brasil.
11. Se for possível, faça um viveiro de mudas
Algumas plantas, quando novas, são frágeis (ex. peixinho, azedinha e muricato) para serem plantadas diretamente no local definitivo nos canteiros. Por isso, devem ser cultivadas em berçários, bandejas ou pequenos vasos até que tenham o tamanho adequado para irem para a terra, aumentando suas chances de sobrevivência. Tamanho adequado significa aguentarem sua resistência a adversidades e suportarem maior período sem irrigação, estarem mais firmes e mais resistentes ao vento e ao sol nas horas mais quentes do dia. Os viveiros, além de propiciarem condições ideais para a produção e desenvolvimento das mudas, trazem maior autonomia no cultivo de hortaliças. Cada espécie tem um tempo de crescimento diferente e poderá ser transplantada para os canteiros em um momento diferente.
Onde instalar o viveiro 
Deve ser abrigado do vento e do sol pleno, com telado ou plásticos apropriados ou, no mínimo, ser usado um espaço com sombra parcial e fácil acesso à água.
12. Fique familiarizado com o sistema de cultivo e as formas de consumo de cada espécie
Neste curso, apresentaremos uma relação de hortaliças PANC com seus sistemas de produção, épocas de colheita e maneiras de como prepará-las para a alimentação. Utilize o conteúdo do curso, baixe os livros e outras literaturas disponíveis para auxiliá-lo neste plano.
· Observe a época de plantio, pois algumas espécies só nascem em épocas específicas do ano.
· Repare nas necessidades de cada planta - algumas precisam de mais água, outras de menos.
· Cuidado por onde pisa, muita coisa que parece mato na verdade é comida.
· Nem todos os insetos são indesejáveis: pequenas aranhas, joaninhas, borboletas, vespas, abelhas, centopéias e besouros fazem parte do ecossistema da horta e ajudam a protegê-la. Caso tenha infestações severas de algum inseto (ex: percevejo, vaquinha, pulgão, cochonilha, lesmas), tente entender qual desequilíbrio levou a essa infestação. Use apenas defensivos naturaispara controle, como chás e caldas caseiras.
· Deixe algumas plantas darem flor, para ter sementes.
· Guarde todas as ferramentas que usar.
13. Aproveite todos os espaços
Caso você não tenha um espaço com terra em sua casa, avalie a possibilidade de quebrar o concreto de um piso para o cultivo da horta. Tirar parte do pavimento pode deixar o ambiente mais fresco, menos barulhento e mais permeável para as águas da chuva. Nos espaços em que não se possa quebrar o cimento, é possível cultivar uma horta em vasos, caixas de madeira e de isopor, ou ainda aproveitar as paredes e muros para o cultivo de hortas verticais.
Sem espaço 
Pensar em alternativas como vasos e floreiras para o cultivo de pequenas plantas e ervas é uma boa opção. No entanto, o tamanho do recipiente é importante para disponibilizar terra e espaço suficiente para que a planta se desenvolva adequadamente e enfrente alguns dias de calor sem que o vaso seque, como por exemplo nos finais de semana. Caso possua uma pequena área de solo para plantar, pode aproveitar o pouco espaço para inserir plantas de pequeno porte, consorciadas com plantas que tenham exigências ambientais parecidas. 
Sugestões de plantas para pequenos espaços: azedinha, beldroega, beldroegão, barba de falcão, capiçoba, capuchinha, caruru, jambu, mangarito, mitsubá, peixinho, picão, serralha, tansagem, trapoerabas.
Pouco espaço e pouco sol
Em pequenas áreas, em que há sombreamento e um ambiente mais úmido, pode-se consorciar espécies como alho-silvestre, erva-de-crocodilo, jambu, beldroegão, capuchinha, inhame (variedades pequenas), mitsubá, mangarito,  tansagem, espinafre-de-okinawa, trapoerabas.
Cercas e ambientes verticais 
Áreas que possuam cercas, pergolados ou outros espaços podem ser utilizados para o plantio de espécies trepadeiras. Muros podem ainda receber fios resistentes ou arame, suportando o crescimento dessas espécies. Sugestões de plantas para esses espaços são: cará, cará-moela, bertalha-coração, feijão-borboleta, feijão-alado, mini-pepino, ora-pro-nóbis, quiabo-de-metro, maxixe-do-reino.
Uso de grandes espaços
Em situações de espaços maiores como quintais e terrenos, plantas de grande porte podem ser escolhidas para compor a horta, como a erva-luiza, o fisalis, o manjericão-cravo, a moringa, o tamarilho, a chaya, o tupinambo, a vinagreira, a capeba, entre outras. Frutíferas de porte pequeno e médio podem ser plantadas, desde que não façam muita sombra para a horta quando crescerem a exemplo de figo, acerola, pitanga, tangerina, mamão, pêssego, entre outras. Escolha as espécies mais adequadas e facilmente disponíveis para o clima e o espaço da sua região.
14. Cultive e consuma brotos de hortaliças PANC
Além de criar mudas para as hortas, é possível também cultivar e consumir os brotos na alimentação do dia a dia. Os brotos, além de saborosos e nutritivos, não ocupam muito espaço, pois podem ser plantados até em pequenos recipientes. 
O feijão-guandu e o girassol, são sugestões de brotos que podem ser consumidos crus para enriquecer a salada, o suco verde, as sopas e diversos pratos.
15. Aproveite todas as oportunidades para aprender receitas saborosas com as PANC que você produz
Assim como a produção, o preparo e o consumo das hortaliças PANC devem ser ações prazerosas. Procure vídeos, busque opiniões, fale com cozinheiros e nutricionistas. Aprenda como aproveitar melhor o alimento que você produz, a fim de gerar variedade alimentar, nutrição e satisfação.
Compostagem e vermicompostagem
A compostagem é o processo de transformação biológica que acelera a decomposição de restos de alimentos, folhas, palhada (serragem ou folhas secas) e esterco, em um produto final chamado de composto orgânico. Ela pode ser feita, tanto no seu quintal como dentro de apartamentos, pois hoje já existem kits próprios para esse fim, ou você mesmo pode montar o seu. Ao final desse tópico, assita os videos onde é mostrado como montar e fazer a compostagem.
Para fazer a compostagem em apartamentos ou em áreas menores, geralmente, é preciso ter de três a quatro caixas ou baldes com tampas para montar a composteira, o que vai depender do volume de composto que se deseja obter. Caso você queria, pode acelerar o processo, colocando minhocas em sua composteira. Quando as adicionamos, teremos um minhocário e o processo passa a se chamar vermicompostagem. Ao invés de termos o composto orgânico no final, teremos o húmus. Logo mais, explicaremos a diferença entre os dois.
Além do composto ou do húmus, teremos um segundo produto resultante do processo, o chorume, que é um líquido rico em nutrientes e que pode e deve ser utilizado na adubação de sua horta.
Montando sua compostagem doméstica
Para montar a composteira, as caixas devem ficar empilhadas, formando três andares. A caixa inferior é chamada de coletora, por ser o local onde o chorume será armazenamento; as duas caixas superiores são as digestoras, onde serão colocados a terra, as sobras e descartes de hortaliças e frutas, a serragem ou folhas secas e, quando for o caso, as minhocas.
 
As caixas digestoras devem ser furadas, nas laterais (com uma broca de 1,5 mm) para favorecer a circulação do ar e com isso permitir a realização do processo de compostagem, e na sua base (com uma broca de 4 mm) para permitir a circulação das minhocas entre as caixas e também o escoamento do chorume. Na caixa coletora, é feito apenas um furo em uma das laterais para instalar uma torneira pequena. Duas tampas também deverão ser furadas (com uma broca de 4 mm), ficando uma entre a caixa coletora e a primeira digestora e, a outra tampa entre as duas digestoras. Não fure a tampa da terceira caixa para evitar que as minhocas fujam e também a entrada de moscas.
Com as caixas prontas, pode-se iniciar o preparo da compostagem. Coloque uma camada de terra ou húmus de cerca de 4 a 5 cm de altura, seguida por uma de palhada – essa será a cama das minhocas. Faça esse procedimento nas duas caixas digestoras. No entanto, as minhocas serão colocadas apenas na caixa superior. Para abastecer duas caixas com dimensões de 45 cm x 35 cm x 20 cm (aproximadamente 0,16 m2), deve-se colocar, inicialmente até 120 minhocas adultas. Depois de coloca-las minhocas, comece adicionar as sobras da cozinha e lembre-se sempre de cobri-las com uma camada de palhada. Continue adicionando as sobras da cozinha até que esta caixa esteja cheia, momento em que deverá ser trocada com a caixa coletora que está vazia. À medida que os alimentos são consumidos e decompostos, as minhocas começarão a migrar para a caixa de cima, em busca de mais alimento. O processo, em cada caixa, dura aproximadamente, 2 meses, então, depois de 4 meses, teremos um ciclo fechado de produção do composto ou do húmus.
 
Durante o processo de decomposição e formação do adubo, um líquido rico em nutrientes chamado chorume ou lixiviado vai sendo formado e escorre para a caixa inferior. Pode ser adaptada uma torneirinha nesta caixa, para coletar o chorume e utilizá-lo na adubação das suas hortaliças, sempre diluído em água, para não queimar as plantas. Para adubação de cobertura (manutenção da fertilidade das plantas ao longo do seu ciclo produtivo), dilua 1 parte do lixiviado para 1 parte de água e aplique na terra de duas a três vezes por semana.
Outra forma de aplicar o lixiviado é nas folhas, mas deve ser diluído em maior quantidade de água. Dilua a 2% para as mudas (a cada 20 ml de chorume, acrescente 1 litro de água) e a 5% para plantas maiores (a cada 50 ml de chorume, acrescente 1 litro de água). Utilize um borrifador ou o regador para aplicar o seu biofertilizante.
NUNCA coloque na compostagem:
· Carnes de qualquer espécie;
· Fezes de animais carnívoros;
· Papel higiênico usado
ADUBAÇÃO VERDE
A adubação verde consiste no cultivo de espécies com objetivo de adicionar matéria orgânica, reciclar nutrientes e fixar nitrogênio biologicamente ativo no solo, podendo ser incorporada ou mantida sobre a superfície do solo. 
Com essa prática, a massa resultante da roçagem dessas espécies serve como matéria orgânica ricaem nutrientes, sendo decomposta lentamente no solo, ao contrário do que acontece com outros compostos orgânicos e estercos curtidos.
Além disso, alguns adubos verdes são ricos em nitrogênio devido à fixação biológica desse nutriente, substituindo o uso de fertilizantes sintéticos.
O manejo dos adubos verdes dependerá do objetivo de sua utilização. Sua massa vegetal pode ser tanto incorporada ao solo quanto mantida sobre a superfície. No primeiro caso, os processos de decomposição e mineralização acontecem mais rápido, e consequentemente, os efeitos positivos na melhoria da fertilidade e no condicionamento do solo aparecem mais rapidamente. Esta é a melhor alternativa de manejo dos adubos verdes quando se objetiva o fornecimento de nutrientes para a cultura sucessora.
No segundo caso, a massa vegetal fica disposta sobre o solo após seu corte e, por isso, se decompõe mais lentamente. No entanto, esta é uma boa alternativa quando o objetivo principal é proteger o solo contra a erosão, aquecimento e contra o surgimento de plantas espontâneas problemáticas. Neste caso, os adubos verdes são utilizados como cobertura vegetal. Se esta cobertura vegetal for realizada visando à produção de palhada para o sistema de plantio direto ou para o cultivo mínimo, dará origem ao que chamamos de cobertura morta.
Preparando para plantio
Referências:
KINUPP, V.F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. 2014. 890 p.
FAO. Tratado Internacional sobre recursos fitogenéticos. Convenção de Diversidade Biológica e do Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura, 2004. Disponível em: <http://www.fao.org/3/i0510pt/I0510PT.pdf> Acesso em: 21 abr. 2020.KINUPP,
V.F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. 2014.
MADEIRA, N. R.; KINUPP, V. F. Experiências com as plantas alimentícias não convencionais no Brasil. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 37, n. 295, p. 7-11, 2016.
CASCUDO, L. C. História da alimentação no Brasil. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1983. 392 p.
KINUPP, V. F. Plantas alimentícias não-convencionais da região metropolitana de Porto Alegre, RS. 2007. 562 f. Tese - (Doutorado em Fitotecnia). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS.

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