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FISIOLOGIA DA DEGLUTIÇÃO INTRODUÇÃO À DISFAGIA DEGLUTIÇÃO O aparelho de deglutição é composto pela língua, palato mole, faringe, laringe (glote), esfíncter esofagiano superior (EES), corpo do esôfago e esfíncter esofagiano inferior (EEI). O esfíncter esofágico superior (cricofaríngeo), a faringe e o ter- ço superior do esôfago são constituídos de muscu- latura esquelética, enquanto os 2/3 inferiores e o esfíncter inferior (EEI) são constituídos de muscula- tura lisa - este fato tem muita importância, como veremos mais adiante, ao analisarmos determinadas condições específicas que comprometem este órgão. Fase Orofaringeana O processo de deglutição começa por uma fase vo- luntária (fase oral), pela qual o bolo alimentar (prepa- rado pela mastigação e salivação) é lançado à faringe pela contração da musculatura da língua. À partir deste instante, uma série de movimentos musculares involuntários (reflexo da deglutição), plenamente co- ordenados, se inicia, permitindo que em menos de 1 segundo, o bolo alimentar chegue ao esôfago. Du- rante este curtíssimo tempo, a laringe se move ante- riormente, enquanto a contração da faringe superior e do palato mole empurram o alimento para baixo, iniciando o movimento peristáltico. Neste momento, o EES relaxa, permitindo o trânsito livre do bolo até o corpo do esôfago. O reflexo da deglutição é controlado pelo SNC, utili- zando os núcleos dos pares cranianos bulhares: glossofaríngeo (IX par), núcleo ambíguo do vago (X par) e hipoglosso (XII par). Fase Esofágica A musculatura lisa presente no corpo e EEI do esôfago sofre influência dos interneurônios do plexo mioentérico (rede neuronal do tubo digestivo) que, por sua vez, faz contato com o sistema nervoso au- tónomo. O movimento peristáltico inclui uma fase de relaxamento (inibição), seguida de contração. Ele é feito de forma sincronizada, empurrando sempre o alimento na direção do estômago. Existem dois tipos de peristalse esofágica: (1) primária - aquela em resposta ao reflexo da deglutição, (2) secundária - em resposta à distensão mecânica do esôfago pelo bolo alimentar. Os movimentos terciários (não- peristálticos) não são sincronizados, podendo ocor- rer espontaneamente ou após deglutição ou distensão esofágica. A deglutição promove o relaxamento fisiológico do EEI. permitindo que o alimento passe livremente para o es- tômago, ao ser empurrado pela peristalse. Ao término da deglutição (quando o alimento já alcançou o estôma- go), o EEI contrai, impedindo o refluxo do material gás- trico para o esôfago. Adistensão gástrica também pode levar a um relaxamento transitório do EEI, permitindo a eructação... Portanto, podemos dizer que o esôfago tem 2 fun- ções básicas: 1-Fazer com que o alimento que chega da boca seja "empurrado" para o estômago (peristalse, relaxa- mento do EEI). 2- Evitar que este alimento retorne do estômago (tônus do EEI). A grande maioria dos distúrbios do esôfago se de- vem à interferência em uma (ou ambas) destas fun- ções, frequentemente resultando nos sinais e sin- tomas descritos na Tabela 1 (adiante). DlSFAGIA A 'dificuldade de engolir alimentos' (disfagia) pode ocorrer no início da deglutição, ou seja, na transfe- rência do alimento da boca para o esôfago (fase orofaríngea) ou na condução do bolo alimentar até o estômago (fase esofágica). Assim sendo, existem dois tipos básicos de disfagia: (1) DISFAGIA OROFARÍNGEA (OU DE TRANSFERÊNCIA) Na disfagia orofaríngea, o paciente tem dificuldade em iniciar a deglutição, não conseguindo fazer com que o alimento passe da boca para o esôfago. O pa- ciente se engasga ao tentar deglutir, experimentando regurgitação nasal e aspiração traqueal seguida de tosse. Pode haver uma sensação de desconforto re- ferido na garganta ('disfagia cervical'). É uma disfagia que ocorre tanto para sólidos quanto para líquidos, e os distúrbios que podem originá-la são aqueles que afetam os músculos esqueléticos ou a porção do sistema nervoso necessária para o con- trole voluntário (fase oral) e involuntário (reflexo) da deglutição. Outros sintomas comuns são a sialorréia (nos casos mais graves há dificuldade para engolir a UFPE Realce UFPE Realce UFPE Realce UFPE Realce UFPE Realce UFPE Realce UFPE Realce UFPE Realce 10 MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" saliva) e disfonia (pelo comprometimento concomi- tante do aparelho fonador). A etiologia da disfagia orofaríngea é dividida em dois subgrupos: neurológica e muscular. Causas Neurológicas: esclerose múltipla, doença cerebrovascular, esclerose lateral amiotrófica, pa- rkinsonismo. Como a inervação piramidal dos nú- cleos bulbares (IX, X e XII pares) é bilateral, a lesão de um único feixe piramidal córtico-bulbar não causa disfagia. Por isso, são os acidentes vasculares de tronco os principais responsáveis por graus avançados de disfagia de transferência, como no caso da síndrome de Wallenberg (isque- mia da porção dorso-lateral do bulbo). Para que um acidente vascular cerebral leve à disfagia gra- ve, é necessário que seja bilateral, acarretando na chamada 'síndrome pseudo-bulbar'. A esclerose múltipla e a esclerose lateral amiotrófica (ELA) podem comprometer os dois feixes córtico- bulbares. Além disso, a ELA acomete também os neurônios dos núcleos bulbares (segundo neurônio motor). No caso da doença de Parkinson, o problema está na inicialização voluntária da deglutição. Causas Musculares: miastenia gravis, dermatopoli- miosite. A fraqueza dos músculos esqueléticos é tí- pica destas entidades, determinando uma síndrome composta por disfagia de transferência, regurgitação nasal e disfonia. O melhor exame para avaliar a disfagia de transferên- cia é a videofluoroscopia baritada, testando a deglutição de "bolos" de variadas consistências. Disfunção Cricofaríngea Este é um tipo especial de disfagia orofaríngea, mas que possui importantes diferenças clínicas e fisiopa- tológicas em relação às causas neuro-musculares vis- tas acima. A dificuldade desses pacientes é de impe- lir o alimento da faringe para o corpo esofágico, de- vido a uma constricção do EES. pela contratura do músculo constrictor inferior da faringe (cricofarín- geo). A 'disfagia cervical' (sensação de bolo ou 'entalamento' na garganta), associada à disfonia in- termitente é o quadro clínico mais comum. O múscu- lo cricofaríngeo auxilia o aparelho fonador, ao distender as cordas vocais... Os sintomas do refluxo gastro-esofágico estão presentes em 30-90% dos indivíduos com esta entidade. A esofagografia baritada pode ser normal ou reve- lar anormalidades, tais como uma "barra cricofaríngea posterior" ou o divertículo de Zenker (ver adiante). O tratamento geralmente é cirúrgico: indica-se um procedimento chamado Esofagomiotomia Cervical. Realiza-se uma incisão oblíqua cervical de 5-8cm, a nível da cartilagem cricóide, acompanhando a bor- da anterior do esternocleidomastoideu. Após ser colocada uma oliva de 20F no esôfago, procede-se à miotomia lateral, por uma extensão de 7-10cm. O resultado clínico costuma ser bom: a disfagia é ali- viada em 65-85% dos pacientes. (2) DISFAGIA ESOFAGIANA (OU DE CONDUÇÃO) Na disfagia de condução, a dificuldade está no trans- porte dos alimentos pelo esôfago até o estômago, e, sendo assim, geralmente é relatada como uma sensa- ção de interrupção e estagnação do bolo alimentar no esôfago - o paciente se sente 'entalado'. "É uma forma de disfagia que pode ser observada tanto para sólidos quanto para sólidos e líquidos, e que pode ser intermitente ou progressiva". CAPITULO 1 - FISIOLOGIA DA DEGLUTIÇÃO 11 Se for exclusiva para sólidos, a obstrução mecânica do esôfago é a hipótese mais provável, como no caso da estenose péptica, neoplasia ou impactação de ali- mentos (ex.: anéis esofágicos). Se houver disfagia para sólidos e líquidos, devemos pensar em uma obstrução mecânica muito severa, ou então trata-se de em um distúrbio motor do esôfago (seja neurológico ou muscular), como acalásia, es- pasmo esofagiano difuso, esclerodermia etc. (3) PSEUDO-DISFAGIA ("GLOBUS HlSTERICUS") É uma sensaçãode "aperto na garganta" ou até mes- mo de "entalamento na garganta", bastante comum na população. Está frequentemente relacionado ao estresse emocional e ocorre, pelo menos uma vez na vida, em cerca de 45% das pessoas (53% das mulhe- res e 35% dos homens). Os exames complementares (videofluoroscopia, esofagografia, manometria etc.) são todos normais. Não é necessário tratamento, apenas orientação. OS SINTOMAS ESOFÁGICOS Na tabela 1 estão discriminados os principais sin- tomas "esofágicos", ou seja, como podem se apre- sentar para o médico os distúrbios do esôfago (que serão devidamente abordados nos capítulos seguin- tes). SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS 1. Trate, DM, Parkman, HP, Fisher, RS. Dysphagia: Evaluation, diagnosis and treatment. Prim Care 1996; 23:417. 2. Lindgren, S, Janzon, L. Prevalence of swallowing complaints and clinicai findings among 50-79 year old men and women in an urban population. Dysph- agia 1991; 6:187. 3. Shamburek, RD, Fanar, JT. Disorders of the di- gestive system in the elderly. N Engl J Med 1990; 322:438. 4. Clouse, RE, et ai. Functional dysphagia. In: Rome II: The Functional Gastrointestinal Disorders, Drossman, DA, Corazziari, E, Talley, NJ, et ai (Eds), Degnon Associates, McLean, Virgínia 2000. p.279. 5. 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As alterações motoras do EEI e do corpo do esôfago produzem obstrução à passagem do bolo alimentar, originando o principal sintoma da acalásia: a disfagia motora de condução, que ocorre tanto para sólidos quanto para líquidos, e que costuma surgir insidio- samente, desenvolvendo-se em meses ou até anos. Veja o trecho do Sabiston: "Os pacientes com acalásia comem devagar, bebem grandes quantidades de água para empurrar o alimento para o estômago e podem até contorcer o corpo (torcendo a parte su- perior do tronco, elevando o queixo e estendendo o pescoço), para ajudar o alimento a 'descer'. Confor- me mais água é deglutida, o peso da coluna líquida do esôfago aumenta, assim como a sensação de ple- nitude retroesternal, até que o EEI seja forçado a abrir-se e um alívio repentino seja sentido à medida que o esôfago esvazia". A obstrução da passagem do bolo alimentar, associ- ada às alterações motoras propulsivas,fazem com que o esôfago retenha material não digerido, poden- do sobrevir vários graus de dilatação de seu corpo - o paciente geralmente desenvolve, associado às queixas de disfagia, sintomas relativos à regurgitação e broncoaspiração deste material. A maioria dos pa- cientes com acalásia em estágios avançados desen- volve halitose. "A regurgitação de material alimentar não digerido misturado com saliva, ocorre em 1/3 dos pacientes e pode resultar em crises de tosse e broncoespasmo - que geralmente aparecem quando o paciente se dei- ta - ou mesmo em episódios repetidos de pneumo- nia e abscesso pulmonar, todos em função das broncoaspirações". A perda de peso é uma constante, mas geralmente é insidiosa e leve a moderada - perda de peso impor- tante e aguda deve fazer levantar a suspeita de cân- cer de esôfago. Odinofagia não é um sintoma característico, mas pode ocorrer, principalmente nos estágios iniciais da doença. A dor torácica (cólica esofagiana) é rela- tada apenas por alguns pacientes, e resulta de con- trações vigorosas no sentido de "vencer" o EEI. Como veremos adiante, a acalásia é uma lesão esofágica pré-maligna, sendo o carcinoma esofágico uma complicação tardia de 1 a 10% destes pacientes, num tempo médio de 15 a 25 anos. DIAGNÓSTICO O megaesôfago pode ser detectado em exames con- vencionais, tais como a radiografia de tórax e a esofagografia baritada, mas tem na esofagomano- metria o exame padrão-ouro para a confirmação. A Radiografia Simples de tórax pode revelar: (1) ausência da câmara de ar gástrica (2) massa mediastínica tubular ao lado da aorta (3) nível hidroaéreo no mediastino na posição ereta, representando material estagnado no esôfago. O Esofagografia Baritada {FIGURA 2) pode mos- trar: (1) dilatação do corpo esofágico (megaesôfago); (2) imagem de estreitamento em "chama de vela" ou em "bico de pássaro" na topografia do EEI (seta). A Esofagomanometria é o principal exame diagnós- tico, principalmente quando os exames radiográficos são normais ou inconclusivos. Os principais acha- dos manométricos na acalásia já foram descritos an- teriormente: (1) incapacidade do EEI em se relaxar em resposta à deglutição; (2) graus variados de hipertonia do EEI; (3) aperistalse (ou ausência de contrações progres- sivas eficazes). Perceber: a presença de refluxo gastroesofágico (ver adiante) fala contra acalásia. A endoscopia alta confirma a dilatação do corpo do esôfago e exclui uma possível obstrução mecânica ATENÇÃO 13 14 MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" como causa da^disfagia. Uma 'esofagite irritativa' (mas não de refluxo) pode ser detectada. A acalásia deve ser diferenciada do carcinoma estenosante distai (pseudo-acalásia) e da estenose péptica. Assim, em todos os pacientes com suspeita de acalásia, deve-se fazer biópsia e citologia de lava- dos do esôfago distai e do cárdia, para que se possa excluir com segurança alguma condição maligna. ETIOLOGIA A acalásia é um distúrbio primário da motilidade esofágica, portanto, é uma doença idiopática. Na área endémica da doença de Chagas (como o interior de Minas Gerais), sempre devemos conside- rar a possibilidade de 'esofagopatia chagásica' em pacientes com 'acalásia'. A invasão do plexo mioentérico (plexo de Auerbach) pelo Trypanosoma cruzi, causa a disfunção e posterior morte dos interneurônios responsáveis pelo relaxamento do EEI, ao mesmo tempo que lesa neurônios importantes para a peristalse do corpo esofagiano. A doença é mais comum no sexo masculino e tem o mesmo quadro clínico da acalásia idiopática, sendo conhecida po- pularmente como "mal do engasgo". Os exames baritados e manométricos apresentam as mesmas anomalias. Pela história natural, são quatro fases da esofagopatia chagásica: I- Forma anectásica: esôfago de calibre normal, ape- nas com pequena retenção de contraste, 1 minuto após a deglutição. II- Esôfago discinético: com pequeno aumento de calibre e retenção franca do contraste. Dl- Esôfago francamente dilatado (megaesôfago), ati- vidade motora reduzida e grande retenção de con- traste. FV- Dólico-megaesôfago (dólico = alongado). Como a acalásia chagásica acomete indivíduos na fase crónica da doença, o diagnóstico deve ser sorológico: ELISA (método de escolha), reação de Machado-Guerreiro. (JRATAMENTO O objetivo único do tratamento da acalásia é o de reduzir a pressão do EEI. Os nitratos (via sublingual) antes das refeições e os antagonistas de cálcio (lOmg nifedipina VO 6/6h) reduzem a pressão do EEI, e podem ser usados em pacientes com sinto- mas leves a moderados de acalásia. Outra aborda- gem farmacológica disponível consiste na injeção intramural e circunferencial de toxina botulínica do tipo A, que pode ser usada quando resultados ime- diatos são desejáveis (eficácia de 90% em 1 mês). Esta toxina inibe os neurônios excitatórios paras- sinpáticos (colinérgicos). Os pacientes com sintomatologia proeminente ou refratários à terapia clínica devem ser abordados por métodos intervencionistas. Duas condutas são aceitas: dilatação endoscópica e cirurgia de miotomia do EEI. A dilatação pneumática (por balão) do esfíncter com os dilatadores de Mosher, de Browne-McHardy, e mais recentemente, o balão de Rigiflex, tem resul- tados satisfatórios (alívio dos sintomas) em 60-85% dos casos. Dois problemas existem com este tipo de método: (1) perfuração esofágica, em 2-6% dos ca- sos, (2) recidiva dos sintomas, em 50% dos casos. Novas dilatações podem ser realizadas nas recidi- vas. O refluxo gastro-esofágico desenvolve-se em 2% dos casos. Outra opção terapêutica é a cirúrgica, através da secção das camada longitudinal e circular da muscu- latura lisa do esôfago distai, operação conhecida como miotomia de Heller. Vários autores advogam a inclusão de todas as fibras do EEI na miotomia, o que implica a extensão da miotomia até 1 a 2 cm abai- xo do cárdia. Esta miotomia ampla implica em risco de refluxo gastro-esofagiano (ver abaixo) no pós- operatório (até 10%), o que encorajou muitos cirur- giões a associar uma findoplicatura parcial à miotomia (a fundoplicatura será descrita no capítulo 'Refluxo Gastro-Esofágico"). O sucesso terapêutico é conseguido em 70-90% dos casos, com uma chance bem menor de recidiva em comparação com a dilata- ção pneumática endoscópica. O acesso tradicional para a miotomia de Heller é através de toracotomia esquerda, porém atualmen- te os acessos minimamente invasivos, principal- mente o laparoscópico (através do abdome), vêm se impondo como método de escolha, já que apre- sentam resultados semelhantes com menor morbi- dade, curta permanência hospitalar e retorno pre- coce ao trabalho. 1 - ESPASMO ESOFAGIANO DIFUSO Pseudodiverticulose Espástica Esôfago em 'Contas de Rosário' "O espasmo esofagiano difuso (EED) é um distúrbio neurogênico generalizado da motilidade esofágica, na qual o peristaltismo normal é substituído por in- tensas contrações não propulsivas fásicas". MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Esta condição causa caracteristicamente dor retro- esternal (cólica esofagiana) associada a disfagia para líquidos e sólidos. A dor pode ser intensa e se irradiar para as costas, para os lados do tórax, para ambos os braços e até para a mandíbula, durando de alguns segundos a vários minutos. Em geral ocorre no repouso, mas pode se associar à degluti- ção, à tensão emocional, e, não raramente, aos exer- cícios! Desta forma, em determinados casos, pode ser clini- camente indistinguível de uma angina pectoris - não raro, os pacientes com EED passam sempre por diversas baterias de exames cardiológicos antes de haver a suspeita diagnostica correta. E importante se ter em mente que os espasmos esofagianos podem produzir dor retroesternal sem disfagia, da mesma forma que pode haver disfagia ATENÇÀ0 sem dor retroesternal - a dor sem disfagia se asse- ••->, melha ainda mais com a angina. Os sintomas de EED devem ser diferenciados tam- bém daqueles do refluxo gastroesofágico, até por- que algumas vezes estes podem coexistir, ou mesmo CAPITULO 2 - DISTÚRBIOS MOTORES PRIMÁRIOS DO ESÔFAGO15 o refluxo gastro-esofágico ser o desencadeador das "crises" de espasmo esofagiano. Devemos lembrar sempre da possibilidade de espas- mo esofagiano difuso para todo paciente com clínica típica de angina de peito, sem evidências comple- mentares de doença coronariana, principalmente se também houver queixa de disfagia. É interessante ainda ressaltar que a maioria dos paci- entes com espasmo esofagiano difuso é do sexo fe- minino e possui distúrbios psicossomáticos associ- ados (assim como ocorre na síndrome do cólon irri- tável). Ansiedade e depressão estão presentes em mais de 80% dos pacientes com anormalidades na contração esofágica pela manometria. DlAGNÓSTICO A Esofagografia Baritada {FIGURA 3) pode reve- lar uma imagem conhecida como "esôfago em saca- rolha" ou em "contas de rosário", resultante da peristalse anormal, incoordenada, que produz peque- nas ondulações múltiplas na parede, saculações e pseudo-divertículos. A Esofagomanometria é o exame mais sensível e específico, revelando contrações características, pro- longadas, de grande amplitude e repetitivas, que se iniciam de forma simultânea na parte inferior do esôfago. É importante se ter em mente que tanto os estudos contrastados quanto a manometria podem ser nor- mais no momento do estudo, visto que as anormali- dades são episódicas. Por causa disto, diversos tes- tes provocativos podem ser usados na tentativa de induzir o espasmo, como a ingestão de alimentos sólidos, distensão esofágica por balão, perfusão áci- da intraluminal (ácido clorídrico), uso endovenoso de edrofônio (80 mg/kg) e a administração de betanecol (vagomimético). A recomendação atual deve ser investigar primeiro doença coronariana, com o teste ergométrico ou ou- tros exames não-invasivos provocativos de isque- miamiocárdica!! TRATAMENTO Os espasmos esofagianos são difíceis de tratar. Para muitos pacientes, o esclarecimento da etiologia esofágica para a dor torácica, pode trazer grande alí- vio, contribuindo significativamente na abordagem terapêutica. Os anticolinérgicos (relaxadores dos músculos lisos) são de pouco valor, porque os prin- cipais nervos que medeiam as contrações esofagianas não são colinérgicos. Os nitratos, os antagonistas do cálcio (que também relaxam os músculos lisos) e os antidepressivos tricíclicos (que atuam como moduladores da dor) podem ser úteis em alguns pa- cientes. O uso de tranquilizantes e analgésicos po- tentes pode causar dependência. Quando o espasmo é secundário ao refluxo gastroe- sofagiano, a cirurgia anti-refluxo pode restituir a com- petência do EEI, melhorando tanto os sintomas de refluxo, quanto os do espasmo esofagiano difuso. Aqueles com queixa de disfagia, devem evitar o estresse durante as refeições, assim como alimentos e bebidas "gatilhos". O acompanhamento clínico, em geral, é suficiente, mas, eventualmente, casos gra- ves e refratários podem indicar a miotomia cirúrgica em forma longitudinal. Alguns autores consideram a acalásia e o espasmo difuso como espectros distintos de uma mesma con- dição: a dismotilidade esofagiana. Na acalásia, pre- dominaria a hipertonicidade esofagiana (EEI) enquan- to que no espasmo difuso, predominariam as contra- ções vigorosas e descoordenadas. Dentro deste con- ceito seriam enquadrados os casos intermediários, que apresentam características típicas tanto da acalásia quanto do espasmo difuso. - OUTROS DISTÚRBIOS MOTORES O "Esôfago em Quebra-Nozes" seria uma variante do EED, caracterizada por uma grande contração generalizada do esôfago. O "Esôfago Hipertensivo" é uma variante da acalásia, onde o EEI está hipertônico, porém, mantendo o seu relaxamento fi- siológico pós-deglutição. Finalmente, existem distúr- bios motores esofágicos que não se encaixam em nenhuma entidade descrita: denominamos "Distúr- bios Não-Específicos da Motilidade Esofagiana". A esclerodermia é uma doença que classicamente se apresenta com graves distúrbios da motilidade esofagiana. Este assunto foi abordado com mais de- talhes no vol.2 de Reumato. SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS 1. Howard, PJ, Maher, L, Pryde, A, et ai. Five year pro- spective study of the incidence, clinicai features, and diagnosis of achalasia in Edinburgh. Gut 1992; 33:1011. 2. Eckardt, VF, Stauf, B, Berhnard, G. Chest pain of achalasia: Patient characteristics and clinicai course. Gastroenterology 1999; 116:1300. 3. Spechler, SJ, Souza, RF, Rosenberg, SJ, et ai. Heart- burn in patients with achalasia. Gut 1995; 37:305. 4. Burke, CA, Achkar, E, Falk, GW. Effect of pneu- matic dilation on gastroesophageal reflux in acha- lasia. Dig Dis Sei 1997; 42:998. 5. Seeman, H, Traube, M. Hiccups and achalasia. 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A falha neste processo pode levar ou a atresia ou a formação de uma membrana residual. As membranas também são conhecidas como anéis esofágicos, são circunferenciais e podem ser visua- lizadas espacialmente como uma espécie de "hímen" do esôfago (FIGURA 1). Todos os tipos de membra- nas ou anéis causam disfagia seletiva para alimentos sólidos, e, quando há obstrução por um destes, tam- bém pode haver disfagia aguda para líquidos. Em geral estas membranas ocorrem no esôfago su- perior, e podem ser múltiplas. Entretanto, uma mem- brana (ou anel) muito comum localiza-se no esôfago terminal (principalmente na junção entre o epitelio escamoso do esôfago e o colunar do estômago) — é o anel de Schatzki (FIG URAS 1 e2). Um paciente com este anel tem uma apresentação clínica muito característica, que permite que o diagnóstico seja feito apenas pela anamnese: a cada 3 ou 4 meses o paciente chega à sala de emergência, com um 'bolo' de carne ou pão impactos na porção baixa do tórax (terço inferior do esôfago)... Uma membrana adquirida, localizada na região pós- cricóide, que associa disfagia à anemia ferropriva grave (síndrome de Plummer-Vinson ou de Peterson- Kelley) foi descrita no primeiro volume de Hematolo- gia do Medcurso. O tratamento de todas as membranas exige ruptura mecânica com um dilatador endoscópico - somente em condições raras torna-se necessário sua remo- ção cirúrgica. I-DIVERTICULOS Os divertículos ("bolsas") podem ser encontrados em qualquer parte do tubo gastrointestinal, e, do ponto de vista estrutural, podem ser classificados em 3 tipos principais: verdadeiros, falsos e intramurais. Divertfculo Verdadeiro Os divertículos verdadeiros ocorrem quando peque- nas regiões do tubo gastrointestinal são projetadas de dentro para fora, numa espécie de herniação de todas as camadas de sua parede, formando uma es- trutura sacular (FIGURAS). Divertículo Falso Os divertículos falsos (pseudo-divertículos) se ca- racterizam por apresentarem sua parede formada ape- nas pela mucosa e submucosa - são originados numa espécie de herniação da mucosa e submucosa atra- vés da muscular, em direção ao exterior do esôfago (FIGURA 4). "Há um buraco na camada muscular". Divertfculo Intramural Os divertículos intramurais não ultrapassam o limi- te externo do esôfago, ficando de certa forma 'submersos' na camada muscular (FIGURAS). 17 1 8 MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" Alguns autores classificavam os divertículos esofá- gicos, quanto à sua patogenia, em divertículos de tração e divertículos de pulsão. Acreditava-se que os divertículos médio-esofagianos eram decorren- tes de efeitos de 'repuxamento' por linfonodos para- brônquicos com inflamação crónica ou por qualquer processo de retração inflamatória no mediastino (após tuberculose, histoplasmose etc). Pesquisas recentes mostraram que o mecanismo de tais divertí- culos era a pulsão... Na verdade, quase todos os divertículos esofagianos são 'depulsão', isto é, ocor- rem por um aumento da pressão intraluminal esofágica, levando à 'herniação' da parede por uma 'falha' na camada muscular. Manifestações Clínicas Os divertículos esofagianos de pulsão (falsos diver- tículos) estão quase sempre associados a distúrbios da motilidade esofágica. Apesar de serem causas de obstrução mecânica, frequentemente cursam com disfagia por distúrbio motor esofagiano. Somente quando se tomam proeminentes começam a causar ou contribuir para a disfagia, acrescentando o com- ponente mecânico... O divertículo de Zenker pode se apresentar com uma outra gama de sintomas carac- terísticos (ver adiante). Diagnóstico Todos os divertículos podem ser diagnosticados pela Esofagografia Baritada ou pela Esofagoscopia. Tratamento O tratamento só é necessário quando há sintomato- logia importante, devendo-se optar pela manipula- ção cirúrgica. O tratamento dos divertículos de "pulsão" compreende o alívio da disfunção motora (miotomia), associada (ou não) à ressecção do divertículo. 1-DIVERTÍCULO DE ZENKER O divertículo de Zenker (FIGURA 6) é um divertículo (falso) formado por uma herniação da mucosa hipofaríngea através de uma área frágil da parede mus- cular posterior da faringe distai (triângulo de Killian), mais precisamente entre as fibras oblíquas do múscu- lo faríngeo inferior e o músculo cricofaríngeo (EES). Estudos cuidadosos demonstraram pressões intralu- minais anormalmente altas durante a fase faríngea da deglutição, fato que pode resultar de um distúrbio motor do esfíncter esofagiano superior (perda de seu relaxamento fisiológico à deglutição), numa espécie de acalásiaorofaríngea... Éfatoque esses divertículos se associam à disjunção cricofaríngea (Cap. 1). A combinação de altas pressões intraluminais com uma região muscular enfraquecida resultaria na for- mação do divertículo de Zenker (fenómeno de pulsão). Assim, os divertículos de Zenker são divertículos de pulsão, adquiridos e relativamente comuns, sendo observados em 1% dos esofagogramas baritados, especialmente em pacientes idosos. Em muitos ca- sos, não determinam sintomatologia, sendo apenas um achado de exame. Entretanto, quando sintomáticos, originam um qua- dro clássico, principalmente quando se tornam gran- des: eles começam a reter alimentos e saliva, que ficam ali por dias, determinando halitose e podendo ser regurgitados ou aspirados, em geral quando o paciente se inclina ou deita. Por esta razão, surgem sintomas respiratórios como tosse, crises de bron- coespasmo, pneumonias de repetição, etc. (semelhan- te em parte à acalásia...). Mais raramente, a bolsa pode tornar-se tão grande que comprime e obstrui o esôfago, resultando em disfagia mecânica. Os paci- entes com este tipo de divertículo frequentemente se queixam de uma 'massa cervical' e podem pressi- onar o pescoço e esvaziá-la (!!!). Quando há um divertículo, qualquer que seja, deve- se ter bastante cuidado em introduzir tubos no esôfago (como sondas nasogástricas) — o divertículo de Zenker é um problema especial, pois os tubos sempre tendem a penetrá-lo ao invés de seguir para a luz esofágica, podendo resultar em perfuração para o mediastino. Quando há necessidade de tratamento, procede-se a uma esofagomiotomia cervical (ver cap. 1). Geral- mente, a miotomia, por si só, faz regredir o divertículo. Caso contrário, o mesmo deve ser ressecado através de grampeador cirúrgico linear. Outra possibilidade é o tratamento endoscópico, através da abertura da parede posterior do esôfago, formando uma comuni- cação entre a luz esofagiana e o interior do divertículo (procedimento de Dohlman). 2- DIVERTÍCULO MÉDIO-ESOFÁGICO Os divertículos de esôfago médio (FIGURA 7) eram ditos "de tração". Porém, estudos recentes mostra- ram que a maioria destes pacientes possui dismotili- dade esofagiana e aumento intermitente da pressão intraluminal, justificando o mecanismo "de pulsão". 3- DIVERTÍCULO EPIFRÊNICO Um outro local que pode ser sede de mais um divertículo de pulsão é o esôfago distai, geralmente bem próximo ao EEI - os divertículos que se formam neste local são ditos epifrênicos (FIGURA 8). CAPÍTULO 3 - DISTÚRBIOS OBSTRUTIVOS DO ESÔFAGO I 9 Como todo o divertículo de pulsão, os divertículos epifrênicos também estão associados a distúrbios motores do esôfago, como acalásia e espasmo difuso, onde predomina a hipertonia do esfíncter inferior - perceber que tanto o divertículo de Zenker quanto o epifrênico (ambos de pulsão) se localizam próximo a um esfíncter com distúrbio motor... São também fal- sos divertículos. Se for encontrado um divertículo em um paciente que está sendo examinado para disfagia, mas que também apresenta um distúrbio motor, fica difícil sa- ber se a disfagia resulta do divertículo, ou se ambos, divertículo e disfagia, resultam do distúrbio motor... IV-TUMORES ESOFAGIANOS BENIGNOS Os tumores benignos do esôfago são raros, repre- sentando 0,5-0,8% de todas as neoplasias esofágicas. O tipo mais comum é o leiomioma (60% dos casos), seguido pelos cistos (20% dos casos) e pólipos esofagenanos (5% dos casos). Os leiomiomas são tumores benignos provenientes do músculo liso. No esôfago, são mais comuns no terço médio ou inferior do órgão. Geralmente são di- agnosticados em indivíduos entre 20-50 anos, sem predomínio de sexo. Clínica e Diagnóstico Apenas os leiomiomas acima de 5 cm de diâmetro são capazes de causar sintomas (sensação de pres- são retroesternal ou disfagia mecânica). A Esofago- grafia Baritada revela uma imagem bastante carac- terística de leiomioma: como se trata de um tumor benigno da camada muscular, não há modificações no aspecto da mucosa (FIGURA 0). Quando temos uma imagem típica, o diagnóstico já pode ser consi- derado. A Esofagoscopia mostra um aspecto de com- pressão extrínseca (mucosa normal). A ultrassono- grafia endoscópica é um excelente exame para con- firmação diagnostica, revelando uma massa hipoe- cóica na camada muscular. A biópsia endoscópica deve ser evitada, pois a derência do tumor ao sítio de biópsia poderá dificultar a sua remoção cirúrgica. Tratamento Apenas os leiomiomas com mais de 5 cm devem ser ressecados; os demais podem ser apenas observa- dos. Apesar do padrão-ouro para o diagnóstico de benignidade seja a análise histopatologica do tumor ressecado, o aspecto radiológico costuma ser tão típico, que a cirurgia torna-se desnecessária. O acesso operatório para a ressecção dos tumores médio-esofágicos é uma toracotomia direita (pois a aorta 'atrapalha' a cirurgia pelo acesso esquerdo), divulsionando-se as fibras musculares longitudinais do órgão e retirando-se o tumor por inteiro. Os tumo- res do terço inferior devem ser abordados por tora- cotomia esquerda, sendo muitas vezes necessário uma cirurgia anti-refluxo (fundoplicatura). Os leiomi- omas gigantes do cárdia ou a leiomiomatose genera- lizada do esôfago podem indicar esofagectomia. V - ESTENOSE PEPTICA A estenose péptica do esôfago é uma das causas mais comuns de obstrução mecânica benigna. Como é uma complicação clássica da esofagite de refluxo, será des- crita com mais detalhes no capítulo seguinte. SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS 1. Ludlow, A. A case of obstructed deglutition from a preternatural dilatation of a bagformed in pharynx. Med Observations Inquiries 1767; 3:85. 2. Zenker, FA, von Ziemssen, H. Krankheiten des Oesophagus. 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DOENÇA DO REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICO (DRGE) Toda vez em que for flagrado o retorno do conteúdo gástrico através do esfíncter esofagiano inferior, te- mos a condição conhecida como refluxo gastroeso- fágico. O refluxo gastroesofágico de curta duração, que ocor- re após as refeições é dito refluxo fisiológico, sendo tipicamente assin-tomático e identificado apenas atra- vés de pHmetria esofágica prolongada de 24 horas. A presença de refluxo recorrente interprandial, de longa duração, costuma originar sintomas esofagia- nos (como pirose e regurgitação) resultantes da agressão do material ácido à sua mucosa. Estes epi- sódios de refluxo gastroesofágico são chamados de B A T O G Ê N E S E patológicos e caracterizam a doença do refluxo gas- troesofágico (DRGE). ||PIDEMIOLOGIA A DRGE é sem dúvida uma das doenças mais co- muns do trato gastrointestinal. A sua prevalência (estimada pela presença do sintoma pirose) é de 10- 20% da população geral, afetando qualquer faixa etária, sendo que na criança predomina nos lacten- tes, desaparecendo em 60% dos casos até a idade de 2 anos e, no restante, persistindo até a idade de 4 anos. Uma estaística americana revelou que 15-40% da população apresentam pirose pelo menos mensal e 4-7%, diária. O termo esofagite de refluxo ficou para ser utilizado de forma restrita àqueles pacientes com DRGE que desenvolvam alterações inflamatórias histopatoló- gicas e/ou endoscópicas demonstráveis na mucosa esofagiana. Percebeu-se, entretanto, que nem sem- pre estas alterações inflamatórias tinham correspon- dência com os sintomas clínicos; o grau de esofagite muitas vezes não guarda proporcionalidade com a intensidade dos sintomas... Assim, o termo doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) foi introduzido para rotular indivíduos por- tadores de quaisquer alterações clínicas ou histopa- tológicas (ou ambas), que possam ser atribuídas ao fenómeno da passagem anormal do conteúdo gástri- co ao esôfago, ou seja, ao refluxo gastroesofagiano. Existem 3 anormalidades básicas que podem estar associadas ao refluxo: 1- Relaxamentos transitórios frequentes do esfíncter esofágico inferior (EEI), não associados à deglutição e prolongados (5-35seg). Este é o meca- nismo mais comum!! 2- Esfíncter esofágico inferior (EEI) com tônus basal muito baixo 3- Desestruturação anatómica da junção gastroin- testinal (hérnia de hiato) - é um fator contribuinte, mas não determinante!! A pressão média do esfíncter esofagiano inferior (EEI) costuma estar dentro dos padrões da normalidade em indivíduos com DRGE. Entretanto, alguns pacientes de fato possuem redução da tônus deste esfíncter, es- pecialmente aqueles portadores de doenças como a esclerodermia... A existência de hérnia de hiato (ver adiante) poderia favorecer o refluxo, na medida em que o EEI passa a não contar mais com a ajuda da musculatura diafrag- mática como reforço à sua função de barreira. Entre- tanto, o papel que a hérnia de hiato pode ter na géne- se do refluxo, apesar de indiscutível, recebia muito mais crédito no passado do que nos dias de hoje. Na verdade, o principal papel da hérnia hiatal na DRGE é o de permitir o chamado "re-refluxo", a partir do ma- terial contido no saco herniário. Após a ocorrência de um refluxo, o material em ques- tão tende a retornar ao estômago, por peristalses que se iniciam, por deglutição ou mesmo por distensão da parede do esôfago. O ácido refluído, que ficou aderido à mucosa do esôfago após a peristalse, é neutralizado pela saliva deglutida e pelo bicarbonato secretado pela mucosa esofágica.Com a agressão repetitiva da mucosa do esôfago, a camada epitelial é destruída, com surgimento de ero- sões, inflamação e edema (esofagite de refluxo). Se o processo continua, lesões mais profundas po- dem comprometer a submucosa e a muscular, evo- luindo, num estágio final, para úlcera, fibrose e es- tenose do esôfago, uma complicação descrita em 10% dos casos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A pirose (heartburn) é a manifestação mais comum da DRGE, e pode ser acompanhada por regurgitação ácida para a boca - lembrar que a pirose deve ser diferenciada da azia por ser retroesternal e não epigástrica. Um sintoma menos comum, porém de maior preocu- pação é a dor subesternal, que pode ser do tipo queimação, mas também pode ser idêntica à dor coronariana, sendo um importante diagnóstico dife- rencial da angina pectoris. Alguns pacientes se manifestam com sintomas ex- tra-esofágicos, relativos ao refluxo ácido para a faringe (faringite crónica), laringe (rouquidão, granuloma de corda vocal), árvore tráqueo-brônquica (tosse crónica, broncoespasmo ou asma secundária, pneumonite aspirativa). O esfíncter esofágico supe- rior (EES) é encarregado de proteger o trato respira- tório superior do refluxo, portanto, nesses casos, há também uma incompetência deste esfíncter... O bron- coespasmo pode ser desencadeado também pela irritação da mucosa esofágica, sem haver refluxo tráqueo-brônquico - o chamado reflexo laringo- esôfago-pulmonar. Devemos ressaltar que boa parte dos pacientes com sintomas extra-esofágicos não referem pirose... A disfagia também pode estar presente num quadro de refluxo, e seu aparecimento pode ser ou não um indicador de estenose. Geralmente é leve, e se inicia insidiosamente, com os pacientes queixando-se de dificuldade para ingesta de sólidos, quase sempre 21 22 MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" superada por deglutições sequenciais ou pela ingestão concomitante de pequena quantidade de água. Entretanto, quando adisfagia é persistente e progressiva, para sólidos, deve-se pensar em este- nose péptica ou em adenocarcinoma!! As erosões ou úlceras que, por Ventura, se formam na parede esofagiana, podem dar origem a sangra- mento, geralmente não exteriorizado. Podem resultar em sangue oculto nas fezes e anemia ferropriva por perda crónica. Em relação às manifestações clínicas, os principais diagnósticos diferenciais da DRGE são: (1) esofagite infecciosa (2) dispepsia não-ulcerosa (3) úlcera péptica gastroduodenal (4) doença do trato biliar (5) distúrbios motores do esôfago (6) doença coronariana DlAGNOSTICO O diagnóstico de DRGE deve ser suspeitado quase de forma 'patognomônica' pelos sinais e sintomas clínicos descritos, especialmente em relação à pirose e à regurgitação. Uma investigação diagnostica mais detalhada estaria indicada apenas em 3 situações: a) Pirose frequente e prolongada (> 2 vezes por semana por mais de 4-8 semanas) b) Associação com 'sintomas de alarme': disfagia, odinofagia, sangramento gastrointestinal, emagreci- mento, anemia c) Ausência de resposta ao tratamento clínico empírico d) Idade > 45 anos. O primeiro exame a ser solicitado é a Endoscopia Di- gestiva Alta, por ser um método prático, disponível e por trazer informações iniciais importantes... A endoscopia (ou esofagoscopia) é capaz de diag- nosticar as complicações da DRGE (estenose, esôfago de Barret, adenocarcinoma), bem como constatar a presença da esofagite de refluxo, presente em 40% dos pacientes. A esofagite de importância clínica é aquela que possui erosões (soluções de continuida- de limitadas á mucosa, com pelo menos 3mm de diâ- metro). Existem alguns escores de classificação en- doscópica da esofagite de refluxo, sendo o mais uti- lizado o de Savary-Miller modificado (FIGURA 1). As biópsias costumam revelar uma hiperplasia da camada basal do epitélio estratificado do esôfago, associada à papilomatose (proeminência das papilas da lâmina própria, que podem se aproximar da super- fície epitelial). A importância da biópsia esofágica é maior na esofagite complicada (grau IV ou V), para confirmar a presença do esôfago de Barret (metapla- sia intestinal), uma lesão pré-adenocarcinomatosa. Outros exames poderão ser indicados em situações específicas... Esofagografia baritada: Com o advento da endoscopia, este exame não é mais Imprescindível... O paciente de- glute contraste e são obtidas imagens radiológicas sequenciais, correspondentes ao enchimento esofágico e, por vezes, gástrico e duodenal (SEED ou seriagrafia esôfago-estômago-duodeno) - num paciente com sus- peita DRGE, pode ser usada para averiguar se o con- traste, após abandonar o esôfago para encher o estôma- go, costuma fazer com facilidade o caminho contrário, embora este seja considerado um método de baixa acuracia para o diagnóstico do RGEU O principal papel da esofagografia é no diagnóstico da estenose esofagiana (benigna ou maligna). A estenose péptica aparece como um afunilamento progressivo do terço distai do esôfago, enquanto o carcinoma demonstra uma súbita redução do lúmen (como um 'degrau de escada'). pHmetria: É o melhor exame para se detectar o refluxo gastro-esofágico patológico!! É passado um delgado catéterno esôfago, que tem sensores capazes de regis- trar o pH intraluminal. Num paciente com suspeita de DRGE, deve ser colocado a Sem do EEI. O refluxo é constatado pela queda do pH esofágico (< 4,0). Este método pode ser empregado a curto prazo (15 a 30 min), ou por períodos mais prolongados (24h) - a monitoriza- ção do pH por 24h pode ser feita por uma unidade portá- til, que permite ao paciente manter suas atividades nor- mais ("como num ECG-Hoiter"). Durante este período de observação prolongada, pode-se determinar a relação entre os sintomas e os episódios de refluxo. Teste de Bernstein: Por um catéter esofágico, inicia-se o gotejamento de SF0,9% na porção superior do esôfago. Em determinado momento, esta infusão é substituída porHCI 0,1N (pH= 1,1) sem o conhecimento do pacien- te. A reprodução dos sintomas nos 30min seguintes, e o seu desaparecimento com a suspensão do HCI, selam a existência de uma relação entre a presença de material ácido no esôfago e os sintomas do paciente. Com a cres- cente disponibilidade da pHmetria prolongada, este tes- te está caindo em desuso. Esofagomanometria: É feita com um catéter esofágico que consegue medir a pressão de diversos pontos espe- cíficos, avaliando o estado motor tanto do esfíncter infe- rior, quanto do corpo do esôfago. No caso do paciente com DRGE, pode detectar tanto uma hipotonia esfincte- riana, quanto aqueles relaxamentos frequentes e não justificados de um esf íncter competente, porém, não é o método de escolha para o diagnóstico de DRGE. A manometria, na verdade, é indicada nos casos de DRGE com indicação cirúrgtica (para determinar a necessida- de de uma fundoplicatura parcial nos casos de hipotonia do esôfago), na suspeita de distúrbios motores esofági- cos associados ou ainda para localizar o EEI, antes da pHmetria. Cintilografia esofagiana: Utilizada para documentar o refluxo gastroesofágico, principalmente em crianças menores. Observe na tabela seguinte os dados sobre a acuracia de cada um dos exames anteriores para a confirma- ção de DRGE... CAPÍTULO 4 - DOENÇA DO REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICO - DRGE * "f Nos casos duvidosos, a abordagem diagnostica de um paciente com suspeita clínica de DRGE deve ser realizada na medida em que se responde às seguin- tes indagações: /- Existe mesmo refluxo? caso exista, é grave? Para responder esta pergunta, o melhor exame é a pH metria ou a pHmetria associada à esofagomanome- tria. Algumas vezes, a endoscopia e o exame baritado demonstram convincentemente o refluxo... 2- O refluxo, confirmada a sua existência, é mesmo o responsável pelas queixas do paciente ? Esta pergunta é especialmente importante quando o sintoma apresentado pelo paciente é a dor, e não a clássica pirose, e pode ser respondida pelo emprego do teste de Bernstein ou pela pHmetria de 24h. 3- Existe algum grau de comprometimento da mucosa do esôfago?Esta é a principal razão de ser da endoscopia digesti- va alta na DRGE. É o mlehor método para diagnosti- car as complicações do RGE e para quantificar o grau de esofagite de refluxo, um determinante do prog- nóstico. Entretanto, a maioria dos pacientes com sintomas sugestivos de DRGE (pirose, regurgitação ácida) NÃO necessitam de nenhum exame investigatório inicialmente, sendo o diagnóstico determinado pela prova terapêutica com omeprazol (durante 6 sema- nas). Uma resposta satisfatória praticamente sela o diagnóstico. COMPLICAÇÕES 1- ESTENOSE PÉPTIÇA DE ESÔFAGO Ocorre em 10% dos casos, geralmente nos pacien- tes com esofagite grave, circunferencial ou associa- da à úlcera esofágica (solução de continuidade que atinge a submucosa).Esta complicação se inicia no terço inferior do esôfago, assumindo, com o passar dos anos, um padrão 'ascendente'. A disfagia por obstrução mecânica (predominando a disfagia para sólidos) é a característica clínica mais importante, geralmente aparecendo insidiosamente e sendo pre- cedida em anos por sintomas como pirose. Abaixo da área de estenose geralmente encontra-se epitélio colunar (Barrett). 2- ÚLCERA ESOFÁGICA Além das erosões superficiais mais comuns, a esofagite de refluxo pode complicar com úlceras mais profundas (alcançam a submucosa ou a muscular), resultando em manifestações como dor (odinofagia) e hemorragias. Em geral, estas úlceras estão localiza- das no epitélio colunar ('úlcera de Barrett'). 3-ASPIRAÇÃO PULMONAR O material refluído pode ser broncoaspirado, pro- duzindo sintomas das vias aéreas superiores, que por vezes abrem um quadro de DRGE. As manifes- tações clínicas da aspiração pulmonar podem ser as seguintes: , ! (1) início de asma em pacientes com mais de 30 anos, sem historia familiar ou ocupacional (2) tosse inexplicada , ' (3) rouquidão, principalmente pela manhã ' (4) pigarros frequentes " (5) sibilos noturnos (6) infiltrado pulmonar no pulmão direito. 4- EPITÉLIO COLUNAR: METAPLASIA DE BARRETT No refluxo gastroesofágico crónico grave, as lesões repetidas da mucosa esofagiana podem fazer com que, nas áreas mais expostas, o epitélio escamoso característico do esôfago seja substituído por um epitélio colunar (tipo intestinal), altamente resisten- te aos efeitos do refluxo. Este epitélio é chamado de epitélio de Barrett (EB) ou metaplasia intestinal, que geralmente se forma abaixo das estenoses e ao redor das úlceras profundas. Caso o problema de base não seja corrigido, a zona de junção entre os epitélios escamoso e colunar cos- tuma progredir em direção ao esôfago superior com o passar dos anos. O EB é achado em 4-10% de pacientes submetidos a EDA devido a sintomas de refluxo. É uma doença prin- cipalmente de homens brancos e sua prevalência au- menta com a idade até um pico entre 60-75 anos, po- dendo estar presente cerca de 20 anos antes de ser reconhecida clinicamente. A dificuldade no diagnósti- co é justificada pela similaridade de sintomas entre os portadores de EB e os portadores de DRGE não com- plicada pela metaplasia colunar. Obs.: O epitélio colunar pode diminuir os sintomas de refluxo (até 25% dos pacientes com EB são insensíveis ao ácido). O diagnóstico é suspeitado pela inspeção do endos- copista, que observa no terço inferior esofágico áre- as de coloração vermelho-salmão (FIGURA2). A confirmação é feita pela biópsia. A importância da formação deste epitélio está no fato deste ser, reconhecidamente, uma lesão precursora do adenocarcinoma (AC) de esôfago, atualmente o tipo histológico mais comum de Ca de esôfago nos EUA (mas não no Brasil). Pacientes com EB têm um *TENÇAC risco de desenvolvimento de adenocarcinoma 30 a 125 vezes (média de 40 vezes) maior que a população normal, o que equivale a 0,5% ao ano ou a 10% no total. Embora exista um risco não deprezível de ade- nocarcinoma ao longo dos próximos 20 anos, este risco não é suficientemente grande para indicar eso- fagectomia em todos os casos de epitélio de Barrett (90% dos pacientes não evoluem para câncer, até pelo fato de serem idosos e o tempo de instalação do adenocarcinoma ser muito prolongado...). A conduta atual frente ao esôfago de barret será des- crita no item 'Tratamento"!! DRGE em Pediatria Crianças com DRGE frequentemente se apresentam com vómitos e uma síndrome asmatiforme, de predo- mínio noturno. A doença começa a se manifestar nos primeiros 2 meses de vida e frequentemente melhora após os 2-3 anos de idade, quando a criança assume a postura ereta por mais tempo. As crianças respondem dramaticamente às medidas anti-refluxo - ver adiante. [jRATAMENTO O tratamento da DRGE baseia-se na orientação ao paciente com relação a medidas gerais anti-refluxo, muito importantes, e no tratamento farmacológico es- pecífico, que engloba anti-secretores (bloqueadores H2 e inibidores da bomba de prótons) e/ou fármacos que elevam a pressão basal do EEI (procinéticos). Medidas Gerais As medidas gerais são decisivas e estão listadas a seguir: Medidas Anti-Ref luxo 1- Elevação da cabeceira do leito (15 a 20cm). 2- Moderar a ingestão dos seguintes alimentos, na de- pendência com os sintomas: gorduras, cítricos, café, bebidas alcoólicas e gasosas, menta, hortelã, molho de tomate, chocolate, condimentos em excesso (alho, ce- bola, pinemtaetc). 3- Evitar deitar-se após as refeições, devendo-se es- perar de 2-3h; quanto mais comer e mais gordura ingerir, mais esperar. 4- Evitar refeições copiosas; fracionar a dieta. 5- Suspensão do fumo. 6- Evitar líquidos às refeições. 7- Evitar atitudes que aumentem a pressão intraabdominal (agachar, fazer abdominais, usar roupas e cintos aper- tados etc). M 8- Redução do peso em obesos. * 9- Restrição de drogas que diminuem a pressão do EEI (antagonistas do cálcio, nitratos, derivados da morfina, diazepam, barbitúricos, teofilina). j MEDCURSO - "Do INTERNATO À RESIDÊNCIA" Tratamento Farmacológico Os principais medicamentos disponíveis para o tra- tamento do RGE são os anti-secretores (bloqueado- res H2 e inibidores da bomba de prótons). Outras drogas, como procinéticos e antiácidos podem ser usados em alguns pacientes. a) Inibidores da Bomba de Prótons (IBP): Os inibidores da H+ATPase ('proton-pump') conseguem reduzir a secreção ácida do estômago com maior efi- cácia do que os bloqueadores H2. Os IBP atualmen- te são considerados medicamentos de primeira es- colha no tratamento da DRGE, pois em praticamente todos os trabalhos este grupo de fármacos se mos- trou superior aos bloqueadores H2 e ainda com mui- to baixa incidência de efeitos adversos. Uma única preocupação seria a acloridria/hipocloridria, provo- cando hipergastrinemia e, por conseguinte, estímu- lo trófico à mucosa gástrica. Entretanto, os estudos recentes mostraram que, pelo menos em até 10 anos de uso, tais drogas não elevaram a incidência do adenocarcinoma gástrico em seres humanos. São, portanto, consideradas por enquanto drogas segu- ras a longo prazo... O omeprazol deve ser administrado na dose de 40mg/dia em duas tomadas (20mg VO 12/12h). O efeito dos IBP é melhor, se administrados antes das refeições, pois encontram a bomba de prótons na sua maior atividade. Outros IBP no mercado são: lanzoprazol (30mg/dia), pantoprazol (40mg/dia), rabeprazol (20mg/dia) e esomeprazol (40mg/dia). O período mínimo de uso para a DRGE deve ser 6 semanas. Nos casos mais graves, deve-se estender o período de tratamento para 12 semanas. Nos casos de falta de resposta após 12 semanas de tratamento, recomenda-se do- brar a dose (80mg/dia de omeprazol) por mais 12 se- manas. Estas são as recomendações do Io Consenso Brasileiro de Doença do Refluxo Gastro-Esofágico (I CBDRGE), do ano 2000. As doses habituais de IBP são suficientes para a cicatrização da esofagite em mais de 80% dos ca- sos - no restante, como vimos, deve-se duplicar a dose. Entretanto, existe um fenómeno relativo a estas drogas, denominado escape ácido noturno, definido como a permanência de um pH intragás- trico < 4,0 por mais de lh durante a noite. O RGE ocorre frequentemente neste período (em 50%dos pacientes) e, para contrabalançar este fenómeno, alguns autores preconizam associar um bloqueador H2, antes de dormir, como a ranitidina 300mg. Como a DRGE é uma enfermidade crónica, quando o tratamento é interrompido, cerca de 80% dos pa- cientes apresentam recidiva dos sintomas dentro do período de 6 meses, principalmente os porta- dores de doença mais grave. Nos casos de recor- rência dos sintomas, o paciente deve receber uma terapia de manutenção com pequenas doses de IBP (20mg de omeprazol diário ou em dias alterna- dos). b) Bloqueadores H2: Estes medicamentos agem blo- queando os receptores H2 da histamina nas células parietais gástricas, inibindo, portanto, uma das três vias de estímulo neuro-endócrino da secração ácida (os outros dois são a acetilcolina e a gastrina). Em- bora sejam menos eficazes que os IBP na DRGE, são alternativas razoáveis. Ao contrário do esquema para úlcera gastro-duodenal, os antagonistas H2 devem ser prescritos em duas tomadas para o tratamento da DRGE e, de preferência, em dose dobrada: ranitidina 15O-3OOmg VO 12/12h,cimetidina400-800mg VO 12/ 12h, famotidina 20-40mg VO 12/12h, nizatidina 150mg VO 12/12h. A duração do tratamento mínima é de 6- 12 semanas. c) Antiácidos: Hidróxido de alumínio/magnésio (Mylanta-plus), 30mL, é usado para alívio imediato dos sintomas do RGE. Atualmente, não se utiliza an- tiácidos com posologia regular, por serem bem inferi- ores aos agentes anti-secretores. d) Procinéticos - Estas drogas agem aumentando as contrações peristálticas do corpo esofágico, ace- lerando o esvaziamento gástrico, elevando a pres- são do EEI e melhorando a coordenação antro- duodenal. São utilizadas como drogas adjuvantes (não-obrigatórias) na terapia da DRGE. São usados de preferência 30min antes das refeições. São eles: Bromoprida (Digesan), Metoclopramida (Plasil): São agonistas colinérgicos, estimulando o tônus e a atividade do trato gastrointestinal, aumentando assim a pressão do EEI, a velocidade de esvazia- mento gástrico e a eficácia das peristalses esofagi- anas. Dose: lOmg VO 30min antes das refeições. A metoclopramida possui efeitos no SNC, como so- nolência e distonia (extrapiramidal), além de galac- torréia. Domperidona (Motilium): É um derivado metroni- dazólico da metoclopramida, como limitada ação cen- tral, o que reduz bastante seus efeitos adversos. A dose também é lOmg VO. Cisaprida (Prepulsid): É o procinético mais potente de todos, encontrado em comprimidos de 5 e 1 Omg, devendo também ser administrada antes das princi- pais refeições. O seu uso é bastante restrito, devido aos seus potenciais efeitos pró-arrítmicos em raros pacientes. No Brasil, pode ser comprado mediante receita controlada. É contraindicado em pacientes com intervalo QT aumentado ou usuários de cetoco- nazol, eritromicina, antidepressivos tricíclicos e antiarrítmicos. Observe o algoritmo (fluxograma) da estratégia de abordagem terapêutica da DRGE - tabela seguinte. 2C3 Tratamento Cirúrgico Quando a esofagite recidiva com frequência, ou quan- do o tratamento clínico não funciona dentro de um período de 6 meses, deve-se considerar a correção cirúrgica do refluxo. Outras indicações usuais da ci- rurgia anti-refluxo são: estenose péptica, esôfago de Barrett, asma por refluxo. O tratamento cirúrgico, qualquer que seja a técnica utilizada, visa restabelecer a competência do esfíncter, circundando a extremidade inferior do esôfago com um manguito do fundo gástrico - Fundoplicatura. Existem várias técnicas, que diferem pela via de aces- so (torácica ou abdominal) e o tamanho da válvula gástrica (parcial ou total). É fundamental, antes da indicação da cirurgia, uma avaliação esofagomanométrica criteriosa, já que a presença de dismotilidade importante pode levar a síndome semelhante a acalásia no pós-operatório. Neste último caso, dá-se preferência pelas fundopli- caturas parciais. Atualmente, a fundoplicatura pode ser realizada por cirurgia endoscópica, com escelentes resultados. Fundoplicatura de Nissen, ou Completa (3609) São realizadas através de acesso abdominal, atual- mente utilizado-se preferencialmente a via laparos- cópica. Após a dissecção do pilar esquerdo do dia- fragma, a hérnia é reduzida, o hiato esofagiano é re- feito através de sutura e é confeccionada válvula com o fundo gástrico compreendendo toda a circun- ferência do esôfago. Fundoplicaturas Parciais (180-2709C) Estão indicadas quando há dismotilidade esofagea- na e por isso risco de disfagia no caso de utilização de fundoplicatura de Nissen. As válvulas são parci- ais, variando entre 180° e 270°, podendo ser anterio- res (como nas técnicas de Tahl e Dor) ou posteriores (como na cirurgia de Toupet e HM). Em todas elas o acesso é abdominal. O acesso transtorácico esquer- do é o utilizado na técnica de Belsey-MarklV, onde é confeccionada válvula gástrica posterior parcial de 240°. "Uma fundoplicatura bem realizada pode restabele- cer a competência do EEI, reduzindo o RGE, cicatri- zando a esofagite péptica, e até mesmo revertendo uma estenose". O epitélio de Barrett não costuma desaparecer, nem com o tratamento clínico, nem com o cirúrgico do refluxo. Mas a esofagite grave, que geralmente está presente nesses casos, é devidamente cicatrizada... Tratamento do Esôfago de Barrett Todo paciente com esôfago de Barrett (diagnóstico endoscópico-histopatológico) deve ser acompanha- do com endoscopias seriadas, especialmente quan- do a extensão longitudinal do epitélio metaplásico é maior do que 3cm ('tipo longo'). O intervalo entre os exames deve ser de 1 ano nos primeiros 2 anos e depois de 2-3 anos. O exame histopatológico sempre deve ser realizado, na procura de displasia. O encon- tro de uma displasia de alto grau, ou de uma área com carcinoma in situ, indica esofagectomia do esôfago de Barrett, uma vez que estas lesões são de caráter maligno... Helicobacterpylorie DRGE Como veremos nos capítulos adiante, o H. pylori infecta frequentemente a mucosa gástrica, muitas vezes reduzindo a produção ácido-péptica do estô- mago, pela atrofia da mucosa do corpo e fundo gás- tricos (gastrite atrófica pelo H. pylori). Como a infec- ção pela bactéria em nosso meio é muito comum (70% da população adulta), a associação da DRGE com a gastrite por H. pylori é naturalmente comum... A re- dução da secreção ácida pode então abrandar as con- sequências da DRGE e, neste caso, a erradicação do bacilo com antibioticoterapia + omeprazol poderia posteriormente piorar ou iniciar os sintomas da DRGE (uma vez normalizada a secreção cloridropéptica pela mucosa gástrica. Embora na teoria, este raciocínio seja perfeito, na prática os estudos não comprovam este fenómeno. Ou seja, na prática, a erradicação do H. pylori não exacerba os sintomas do RGE. Além disso, recomenda-se tratar a bactéria nos casos de DRGE que necessitam de terapia supressora ácida por períodos prolongados, pois a alcoridria pode fa- cilitar a proliferação do bacilo e piorar a gastrite atrófica (uma lesão que futuramente poderá originar um adenocarcinoma gástrico). SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS 1. Richter, JE. Typical and atypical presentations of gastroesophageal reflux disease. Gastroenterol Clin North Am 1996; 25:75. 2. Nebel, OT, Fornes, MF, Castell, DO. Symptomatic gastroesophageal reflux: Incidence and precipi- tating factors. Dig Dis Sei 1976; 21:953. 3. Locke, GR III, Talley, NJ, Fett, SL, et ai. Preva- lence and clinicai spectrum of gastroesophageal reflux: A population-based study in Olmsted County, Minnesota. Gastroenterology 1997; 112:1448. 4. Corso, MJ, Pursnani, KG, Mohiuddin, MA, et ai. Globus sensation is associated with hypertensive upper esophageal sphincter, but not with gastroe- sophageal reflux. Dig Dis Sei 1998; 43:1513. 5. Brzana, RJ, Koch, KL. Gastroesophageal reflux disease presenting with intractable náusea. Ann Intern Med 1997; 126:704. 6. Klauser, AG, Schindlbeck, NE, Muller-Lissner, SA. Symptoms in gastro-oesophageal reflux disease. Lancet 1990; 335:205. 7. Howard, PJ, Maher, L, Pryde, A, et ai. Symptomatic gastro-oesophageal
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