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M ár ci o La ce rd a Fa bi o Lu iz W it zk i M ar ke ti ng Márcio Lacerda Fabio Luiz Witzki Marketing 2ª Edição Curitiba 2018 Márcio Lacerda Fabio Luiz Witzki Marketing Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 L131m Lacerda, Márcio Marketing / Márcio Lacerda, Fabio Luiz Witzki. – 2. ed. – Curitiba: Fael, 2018. 236 p.: il. ISBN 978-85-5337-007-8 1. Marketing 2. Administração mercadológica I . Witzki, Fabio Luiz II. Título CDD 658.8 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Projeto Gráfico Sandro Niemicz Revisão Luzia Almeida Imagem da Capa Shutterstock.com/Horoscope Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Apresentação A obra a seguir apresenta importantes conceitos e aplicações de uma das áreas mais estratégicas das organizações: O marketing. É um livro muito didático com uma série de exemplos que vão ajudá-lo a compreender e construir estratégias de marketing eficientes para o desenvolvimento de produtos, gestão dos preços e da distribuição e o planejamento eficiente da comunicação integrada de marketing. Além disso, a obra apresenta conceitos e exemplos atualizados. Para quem deseja atuar na área de marketing é uma leitura fundamental. Os conteúdos de cada capítulo foram construídos gradati- vamente e os assuntos evoluem conforme a complexidade dos con- ceitos. Ao final, no capítulo 10, os autores apresentam as evolu- ções tecnológicas que mudaram a maneira como consumimos, nos comunicamos, selecionamos nossas marcas e produtos preferidos e – 4 – Marketing recomendamos aos nossos grupos em redes sociais. Nesse capítulo, é possível compreender a necessidade do profissional de marketing se manter atualizado constantemente, seguindo as principais tendências do mercado. Nos capítu- los iniciais, são apresentados os conteúdos que fundamentam o marketing e em seguida, cada elemento que compõe o tradicional mix de marketing é apresentado em capítulos separadamente, assim, a leitura fica dinâmica, facilitando a compreensão do que é o marketing, como ele se divide, o que influencia cada elemento do marketing e de que forma podemos integrar as ferramentas no planejamento de marketing. Os autores, Professor Me. Fabio Luiz Witzki e Professor Me. Márcio Borges Lacerda, possuem ampla experiência em gestão de marketing e no ensino da disciplina. Aproveitem a leitura e apliquem os conhecimentos que estão compartilhados neste livro. Lindslei Monteiro* *Professora e Palestrante de Marketing Pessoal.Diretora de Regulação e Avaliação do Inesul (Londrina -PR), Faneesp (Araucária PR) e Faec (Colombo-PR). Presidente do Instituto Brasileiro de Marketing Pessoal - IBRAMAP. Sumário 1 Fundamentos de Marketing | 9 2 Segmentação de mercado e posicionamento | 27 3 Definição do composto mercadológico: preço, promoção, distribuição e produtos ofertados | 53 4 Administração e Desenvolvimento de Produtos e Serviços | 81 5 Fundamentos da Formação de Preços | 103 6 Comunicação Integrada de Marketing | 129 7 Canais de Marketing /Distribuição | 153 8 Planejamento Estratégico de Marketing | 173 9 Organização, Administração e Desenvolvimento da Força de Vendas | 191 10 Marketing e Tecnologia | 211 Referências | 233 Introdução O marketing é, indiscutivelmente, uma matéria fascinante. Não é a toa que tem sido objeto de inúmeras pesquisas acadêmicas e que seja alvo de tantas discussões. A evolução de suas técnicas, o aprimoramento de ferramentas e a formação de profissionais cada vez mais competentes faz do marketing um fenômeno social e de mercado que, embora, às vezes, um tanto polêmico, trouxe um desenvolvimento inegável às empresas que o aplicam com correção e assertividade. Este material tem como objetivo, além de apresentar as téc- nicas fundamentais e as ferramentas essenciais do marketing, levar o leitor a um debate acerca da importância, não só mercadológica, mas social do “fazer marketing”. Neste primeiro capítulo aborda- remos os fundamentos do marketing através de conceitos-chave e termos que são comumente utilizados pelos profissionais de mer- – 8 – Marketing cado. Mesmo que de forma básica e breve, a elucidação destes termos é uma oportunidade para que o leitor se familiarize com o tema aqui proposto e que, na continuidade de seus estudos, facilite seu entendimento sobre questões mais pontuais do marketing. Ainda neste capítulo, falaremos sobre a evolução dos conceitos de marke- ting, principalmente aqueles conceitos que ao longo do tempo foram apre- sentados pela Associação Americana de Marketing (AMA) e também por um dos principais autores da área, o norte-americano Philip Kotler. No final do capítulo, abordaremos uma questão de suma importância que é a visão subjetiva e filosófica do marketing como sendo uma visão de fazer negócios. Essa parte do primeiro capítulo tem como objetivo desmis- tificar alguns equívocos comuns que observamos ao longo de anos minis- trando aulas em cursos de graduação. Portanto, esse início de percurso nos nossos estudos é fundamental para que o leitor compreenda o contexto social e mercadológico de uma disciplina que concorre com as mais importantes de nossos tempos. 1 Fundamentos de Marketing Começaremos nossas discussões sobre marketing desmis- tificando algumas questões importantes para que se compreenda o que realmente é o marketing e quais as confusões mais frequen- tes quando pessoas menos habilitadas falam sobre marketing. Em primeiro lugar, é fundamental esclarecer que fazer marketing não é fazer propaganda, não é fazer divulgação ou apenas comunica- ção. A propaganda ou publicidade e outras várias ferramentas de comunicação fazem parte daquilo que chamamos de “o composto de marketing”, ou seja, são ferramentas de marketing e não sinôni- mos de marketing. Em segundo lugar, faz-se necessário, também, aludir a um erro comum que é confundir marketing com vendas. – 10 – Marketing As vendas (sejam de produtos tangíveis, de serviços ou até mesmo de ideias) são a consequência de um marketing bem planejado e executado. É claro que o grande objetivo de organizações que atuam em um mercado é “vender” seu produto, mas aqui precisamos lembrar Peter Drucker, um dos maiores espe- cialistas em marketing do mundo: Pode-se considerar que sempre haverá a necessidade de ven- der. Mas o objetivo do marketing é tornar supérfluo o esforço de venda. O objetivo do marketing é conhecer e entender o cliente tão bem que o produto ou o serviço possa se adequar a ele e se vender sozinho. De maneira ideal, o marketing deve- ria resultar em um cliente disposto a comprar. A única coisa necessária, então, seria tornar o produto disponível. (DRU- CKER apud KOTLER, 2012) Portanto, fazer marketing não é vender e sim facilitar o processo de ven- das, é possibilitar à empresa a oportunidade de envolver seu cliente no negó- cio e criar valor para que ele se interesse a adquirir certo produto ou serviço e comece a ter um “relacionamento” com a empresa. Essas duas observações levam o nosso tema a outros termos fundamentais em marketing como necessidade/desejo, valor, relacionamento, criatividade, pessoas, processos, comunicação e tantos outros que, ao longo deste material, o leitor vai se familiarizar. Entretanto, neste momento, vamos apresentar uma breve introdução desses principais termos em marketing. É de suma impor- tância que se observe a ligação entre esses termos e conceitos, afinal de contas pensar em marketing é um exercício de “unir pontos”. 1.1 Necessidade/desejoHá muito discutimos se o marketing supre necessidades ou cria desejos. Segundo um dos mais respeitados autores e pensadores do marketing, o norte americano Philip Kotler, as pessoas têm necessidades latentes. Ou seja, as pes- soas em geral têm necessidades básicas que até o oferecimento de um deter- minado produto elas não percebiam que tinham. Um exemplo deste fato é o telefone celular. Há aproximadamente 30 anos, as pessoas viviam sem telefones celulares, porém o advento desta tecnologia fez nascer a necessidade de as pes- soas falarem ao telefone se deslocando ao mesmo tempo. Segundo a visão de Kotler, na realidade, as pessoas sempre tiveram essa necessidade. Então, o ofere- – 11 – Fundamentos de Marketing cimento desse tipo de produto ao mercado despertou a necessidade do celular. Estamos aqui falando de uma nova forma de as pessoas se comunicarem, que é a necessidade básica primordial, só que agora as pessoas podem suprir essa necessidade básica de se comunicar com mais agilidade e rapidez. Necessidades são os requisitos básicos do ser humano, como aqueles por ar, comida, água, roupas e abrigo. Os seres huma- nos também sentem uma forte necessidade de recreação, instrução e diversão. Essas necessidades tornam-se desejos quando direcionadas a objetos específicos que possam satis- fazê-las. Quando um consumidor norte-americano precisa se alimentar, pode querer um típico sanduíche de cheesestake da Filadélfia acompanhado de um chá gelado. Já um habitante do Afeganistão que precise se alimentar pode querer arroz, cordeiro e cenouras. Os desejos são moldados pela sociedade à qual pertencemos. (KOTLER, 2012 p. 8) Depois de apresentado às pessoas uma tecnologia que supriria a necessi- dade de comunicação com mobilidade, criou-se o desejo de ter um aparelho celular. Mais do que isso, as empresas operadoras e as fabricantes, através do oferecimento de novas tecnologias agregadas à principal (foto, agenda, inter- net, email etc.) criaram, além da necessidade do aparelho, o desejo de ter o equipamento de última geração, ou o mais bonito, ou o mais funcional, ou aquele em que marca representa status e modernidade. Enfim, o marketing identifica necessidades para supri-las. O desejo é trabalhado, porém apenas depois da necessidade suprida. Necessidade e desejo, nesse contexto, são com- plementares, assim poderíamos dizer que o marketing desperta o desejo que as pessoas têm em suprir suas necessidades. E como o marketing faz despertar o desejo nas pessoas? A maneira mais eficiente de se fazer isso é criando valor para os consumidores. (KOTLER, 2012, p. 8) 1.1.1 Valor Um profissional de marketing deve entender que o que as pessoas mais desejam é aquilo que elas mais valorizam. Como precificar o amor de uma mãe por seu filho? Não há como. Assim, é fundamental diferenciar preço e valor. O preço é quanto ele custa, ou seja, quanto de dinheiro alguém paga por alguma coisa. O valor é subjetivo, é aquilo que é per- cebido pela pessoa. De uma forma geral, as pessoas pagam (o preço) por – 12 – Marketing aquilo que elas percebem como um bom negócio, ou um bom benefício, algo que agregue a elas alguma coisa que está intrínseco no produto (o valor). (KOTLER, 2012, p. 09). Quando citamos Peter Drucker anterior- mente, quisemos dizer exatamente isso: criar valor para o cliente é a melhor forma de “vender” um produto, pois o que o consumidor quer é obter um benefício com aquela compra, com aquele produto, seja esse benefício t angível ou intangível. É claro que o preço é importante para a efetivação da venda, mas ele tem um aspecto mais racional do que o valor que é puramente perceptivo e emocional. Para ilustrar nossas considerações, imagine a seguinte situação: Você compraria uma Lamborghini por R$ 1.000,00? Levando em consideração que está tudo correto com o carro, que não é produto de roubo ou nada ilegal, e que não faz parte de uma superpromoção da marca, é muito difícil acreditar que um automóvel como esse, dessa marca possa “custar” esse preço. As pessoas, ao longo do tempo, criam um determinado valor para uma marca e os automóveis Lamborghini são altamente valorizados em seu mercado. Esse valor atribuído faz com que eles fiquem atrelados a certos valores que são incompatíveis com o preço de R$ 1.000,00. Além do preço e do valor, os custos são um aspecto importante nessa equação. O preço é o fruto da mensuração dos custos (fixos e variáveis) da fabricação de um produto ou do oferecimento de um serviço acrescido de impostos e da observação da concorrência. Assim, uma empresa ao controlar seus custos, pode efetivamente ajustar seu preço à demanda do mercado e criar valor através das subjetividades que o próprio produto ou a sua marca oferecem. Nesse sentido, o aumento do gap entre custo e preço e a diminuição do gap entre o preço e o valor também se tornam objetivos de marketing das empresas. O consumidor escolhe entre diferentes ofertas considerando qual parece proporcionar o maior valor. O valor, que é um conceito central do marketing, é relação entre a somatória dos benefícios tangíveis e intangíveis proporcionados pelo produto e a somatória dos custos financeiros e emocionais envolvidos na aquisição desse produto. Do ponto de vista primário, o valor pode ser considerado como uma combina- ção de qualidade, serviço e preço (qsp), denominada tríade do valor para o cliente. As percepções de valor aumentam com a qualidade e o serviço, mas diminuem com o preço. (KOTLER, 2012) – 13 – Fundamentos de Marketing Portanto, podemos afirmar que criar valor é um dos trabalhos mais impor- tantes do marketing. As vendas, neste sentido, são apenas uma boa consequên- cia da criação de uma percepção de valor por parte dos consumidores e clientes. Mas como criar valor para o mercado? Atualmente as empresas têm focado mais seus esforços em criar e manter um relacionamento mais próximo com seus clientes. Esse “bom” relacionamento cria valor para as pessoas. 1.1.2 Relacionamento Cada vez mais as empresas apostam no seu relacionamento com os clien- tes. O chamado marketing de relacionamento é uma ferramenta essencial para as empresas. A expressão marketing de relacionamento tornou-se muito difundida e cobre uma gama variada de atividades realizadas pelas empresas para encorajar, no consumidor, a repetição da compra. (PALMER, 2006) Existe alguma confusão ainda acerca do Marketing de Relacionamento. Muitos ainda o confundem com as ferramentas de CRM (do inglês Customer Relationship Management). Existem, no mercado, inúmeros softwares que analisam, cruzam dados, demonstram status de um cliente e fornecem infor- mações gerais para que as empresas busquem aperfeiçoar seu relacionamento com os clientes e é aí que começa a confusão. O marketing de relacionamento envolve muito mais do que um simples software de prospecção, análise e manutenção de clientes. O MR é uma maneira de fazer negócios, ele começa dentro da própria empresa envolvendo funcionários, a direção e até mesmo os fornecedores desta empresa. Leonard Berry em 1983 foi um dos primeiros autores a utilizar o termo MR, para ele o marketing de relacionamento visa a: (...) desenvolver um serviço principal sobre o qual será cons- truído o relacionamento; personalizar o relacionamento para clientes individuais; ampliar o serviço principal com bene- fícios extras; estipular preços para estimular a lealdade do cliente; e comunicar-se com os funcionários para que eles, em retribuição, tenham melhor desempenho com os clientes. (BERRY, 1995) Nesse sentido, o engajamento do público interno e a criação de uma cultura organizacional voltada ao relacionamento com o mercado são funda- – 14 – Marketing mentais. O pensamento nuclear no marketing de relacionamento apresenta a seguinte ideia: é muito mais rentável e menos onerosovender mais para os mesmos clientes do que ter um esforço maior que envolve mais custos para angariar mais clientes. Outra ideia central é do estabelecimento de contatos mais próximos com os clientes atuais, que neste sentido, “(...) é a interação das redes de relacionamento”. (GUMMESSON, 2010) Isso não quer dizer que não se devem prospectar novos clientes, mas o ideal é fazer isso com certos critérios, como por exemplo: o potencial deste novo cliente. Uma vez que a empresa solidificou seu relacionamento com um cliente, ela pode programar ações de Up selling ou de Cross selling que são, respectivamente, oferecer o mesmo produto de forma contínua e melhorada de um produto ou oferecer outros produtos do portfólio da empresa para o mesmo cliente. Figura 1 – Objetivos do Marketing de Relacionamento. O objetivo do marketing de relacionamento não é vender mais para o maior número de clientes, e sim, vender mais para cada cliente atual. É preciso buscar o conhecimento íntimo das necessidades dos clientes para estimular: 2 A recompra (up selling) 2 A compra de outros produtos da empresa (venda cruzada ou cross selling). Fonte: adaptado de Gummesson (2010). Essas ações de relacionamento são o resultado de processos de fideliza- ção, outros termos que, às vezes, gera confusão. Fidelização não é obrigação contratual, ou seja, um cliente é fiel a uma marca, produto ou serviço por livre e espontânea vontade, porque vê naquele produto ou serviço um bene- fício que está disposto a fazer um esforço maior para obtê-lo. Fidelização também não é promoção. Programas de milhagem, por exemplo, que muitas empresas adotam como programas de fidelização, são na realidade ações pro- mocionais que envolvem a acumulação de pontos para trocar por produtos – 15 – Fundamentos de Marketing ou serviços. Tanto é assim que muitas pessoas têm vários “cartões fidelidade”, portanto a questão é: um cliente pode ser fiel a vários produtos concorrentes ao mesmo tempo? Essa é uma equação um tanto difícil de resolver porque aqui estamos falando de pessoas que provavelmente têm vários perfis de con- sumo, características pessoais, personalidades e formação cultural que as dife- renciam umas das outras. Assim, quando falamos de pessoas temos que tecer certas considerações. 1.1.3 Pessoas Toda empresa é feita por pessoas, composta por pessoas e gerenciada por pessoas. Por mais automatizadas que possam ser, algumas empresas ainda assim são pensadas, criadas e administradas por pessoas. Por outro lado, todo processo e toda atividade de negócios não teriam sentido em existir se não fossem as pessoas para as quais estas empresas oferecem seus produtos e ser- viços. Enfim, são as pessoas os principais envolvidos nas atividades de uma organização, portanto, não é difícil entender que é para elas que tudo deve ser desenvolvido. As pessoas (sujeitos sociais) são consumidoras e/ou clientes1 de empresas que por sua vez são também sujeitos sociais, com suas obrigações, direitos, necessidades e objetivos assim como o sujeito social físico, o indiví- duo. Deve-se observar, porém, que nem sempre um consumidor é um cliente, haja vista que o consumidor pode ser “ocasional”, ou seja, pode ter adquirido o produto por um impulso no Ponto de Venda (PDV) ou ainda ser “apenas” o consumidor, mas não quem efetivou a compra realmente. Aqui, cabe a inserção de outro termo bastante utilizado em marketing: Stakeholder. Os stekeholders são pessoas ou grupos de pessoas, empresas ou grupos de empresas que, de alguma forma, em maior ou menor medida, são influenciados e influenciam os negócios e as atividades de uma organização. Adrian Palmer, no glossário de seu livro, nos apresenta a seguinte definição do que ele prefere chamar de Grupos de Interesse: “Qualquer grupo com algum interesse de uma organização (por exemplo, clientes, funcionários, agências do governo e comunidades locais). São conhecidos também como stakeholders”. (PALMER, 2006, p. 552) 1 Neste sentido cliente seria o consumidor fidelizado. (Nota do autor) – 16 – Marketing O conceito de stakeholders não é novo, mas carrega consigo uma impor- tância muito grande ao se analisarem as pessoas no contexto do negócio de uma empresa. Ao fim, é para os stakeholders que uma empresa atua no mer- cado e na sociedade e essa compreensão faz uma grande diferença quando se vai então criar as estratégias empresariais e de marketing. Tanto o público externo (clientes, fornecedores, intermediários, prestadores de serviço, ban- cos, governos etc.) quanto o público interno (funcionários e/ou terceirizados) são stakeholders das empresas porque, de alguma forma e medida, suas ações e atitudes moldam as estratégias de uma empresa. Uma organização alinhada com os objetivos, necessidades e desejos de seus stakeholders precisa se apresentar, apresentar seus produtos e serviços, assim como criar e manter um sistema de canais de comunicação eficientes para estreitar o relacionamento entre as partes e para, consequentemente, criar valor para o mercado. Portanto, a comunicação com as pessoas e o mercado como um todo é outra ferramenta essencial do marketing. (PALMER, 2006, p. 57) 1.1.4 Comunicação Quando se fala em comunicação empresarial, para a maioria das pessoas isso é sinônimo de publicidade. Na realidade, a comunicação de uma empresa é algo bem mais abrangente e faz uma grande diferença quando é pensada de forma estratégica e técnica. Contudo, começaremos procurando esclarecer outro erro comum que é o de confundir marketing com publicidade ou com a comunicação da empresa. Esse erro comum acontece porque para a maioria das pessoas aquilo que se apresenta como divulgação de produtos, serviços e marcas são o que persuade e informa as pessoas, ou seja, é a “cereja do bolo”. (KOTLER, 2012, p. 512) A criação de bons relacionamentos com o cliente exige mais do que apenas um bom produto, atribuir-lhe um preço com- petitivo e colocá-lo à disposição dos clientes-alvo. As empre- sas também precisam comunicar suas proposições de valor aos clientes, e aquilo que comunicam não deve ser deixado por conta do acaso. Todos os seus esforços de comunicação devem ser planejados e combinados em cuidadosos progra- mas de comunicação integrado de marketing. Da mesma maneira que uma boa comunicação é importante para desenvolver e manter qualquer tipo de relacionamento, ela – 17 – Fundamentos de Marketing também representa um elemento fundamental nos esforços da empresa em construir relacionamentos lucrativos com o cliente. (KOTLER e ARMSTRONG, 2007) Com certeza, a comunicação e suas mais diversas ferramentas, o cha- mado mix de comunicação das empresas, têm muita importância no contexto do marketing. Porém, como veremos nos próximos capítulos, uma comuni- cação eficiente não garante o sucesso de um produto. Toda forma de promo- ção ou divulgação deve estar alinhada com o restante do mix de marketing da empresa como o próprio produto, o preço e sua forma de distribuição no mercado, além é, claro, de pesquisas, posicionamento e das pessoas envol- vidas no processo. Dessa forma, deve ficar claro para o leitor que a relação existente entre marketing, comunicação e vendas é a seguinte: Figura 2 – Relação entre marketing, comunicação e vendas. A comunicação é uma ferramenta de marketing que facilita o processo de vendas. Ou seja, marketing não é vendas e marketing não é publicidade. O marketing se utiliza da comunicação (promo- ção, publicidade, etc.) para facilitar as vendas. Fonte: autor. Se a comunicação facilita as vendas e é uma ferramenta do mix de marke- ting, precisamos identificar necessidades, despertar desejos através da criação de valor e estabelecer um relacionamento com as pessoas. E para executar tais tarefas, precisamos, também, sistematizar os processos em uma empresa.1.1.5 Processos Sistematizar os processos dentro de uma empresa buscando assim uma maior produtividade e uma maior assertividade das ações, também compõe o trabalho de marketing. Desde os processos de automação e gestão da produ- ção, passando por processos de TI (Tecnologia da Informação) até, é claro, a otimização da relação com o mercado, o marketing está presente. O próprio marketing é um processo cujos resultados são alcançados no médio e longo prazo. O marketing é um processo porque não tem necessariamente um fim. – 18 – Marketing “Os processos refletem toda a criatividade, a disciplina e a estrutura incorpo- radas à administração de marketing” (KOTLER, 2012, p. 24) Marketing também é um processo, definido como o conjunto de atividades e recursos logicamente encadeados executados que gestores seguem para alcançar resultados na empresa. Nas suas várias etapas, o processo de marketing direciona a prá- tica profissional, calcado nos recursos e nas competências da companhia e aplicando métodos, técnicas, padrões procedi- mentos e normas. (URDAN, 2013) Um processo sugere algo em constante atividade, algo que está sempre se adaptando ou se renovando para suprir uma determinada demanda, e as atribuições do gerenciamento de marketing vão ao encontro dessa ideia. Para tal, a organização e análise de dados, a realização sistemática de pesquisas e a reunião de profissionais competentes são essenciais. Nos processos de marketing também são de crucial importância que a “engrenagem” não pare e que funcione em um compasso ideal a partir da análise do contexto de marketing, de sua gestão estratégica e da gestão do mix de marketing, ou composto de marketing como segue na fugira abaixo: Figura 3 - O processo de marketing: os três blocos do processo de marketing Análise do contexto de marketing Gestão do composto de marketing Gestão estratégica de marketing Fonte – Urdan (2013, p. 27). – 19 – Fundamentos de Marketing Porém, é menos producente criar e manter processos que desenvolvam a empresa e apoiem a tomada de decisão, se dados e atividades não são traba- lhados com criatividade. 1.1.6 Criatividade Sem criatividade o marketing seria apenas uma operação cheia de téc- nicas que usam determinadas ferramentas, ou seja, seria quase uma ciência exata. Mas o Marketing trabalha com e para pessoas como vimos acima, e pessoas são seres que em seu dia a dia a razão e a emoção estão sempre pre- sentes. As pessoas são seres psicologicamente complexos que têm um mundo de opções de consumo consciente e inconsciente à sua frente e, muitas vezes, decidem uma compra apenas por um detalhe que lhe fez a diferença e lhe cha- mou a atenção. A capacidade de fazer coisas originais para chamar a atenção dos consumidores é o que podemos chamar de criatividade em Marketing. É claro que o domínio das técnicas e dos processos é importante, mas saber planejá-los, implantá-los e administrá-los necessita muita criatividade. A cria- tividade em marketing é crucial para as organizações se diferenciarem umas das outras e assim criar aquilo que é o maior objetivo do Marketing atual: criar valor para desenvolver e manter relacionamentos de longo prazo com os clientes. Existe o mito de que a criatividade é um fenômeno inato, porém já se provou em diversas pesquisas que a capacidade de aprendizagem, de absor- ção de informação e de filtragem dessas informações aumenta a probabilidade ou até mesmo redunda em um ser criativo. No marketing, é essencial ser criativo. Criar novas aplicações para técnicas já conhecidas, compilar e inter- pretar dados, acompanhar de perto os movimentos de mercado são atividades que cada vez mais dependem da criatividade dos profissionais de marketing. (MONTEIRO Jr, 2011, p.5) De uma forma geral, as empresas que não se adaptam às novas faces do mercado, que não observam os aspectos citados acima e que não atendem às demandas cada vez mais exigentes do mercado, são empresas fadadas ao insu- cesso. Para sobreviver no mercado e prosperar, uma empresa precisa, antes de tudo, ter uma visão de negócios abrangente e de empresários ou profissionais habilitados para planejar e executar programas que gerem resultados e vanta- gens competitivas para a organização. – 20 – Marketing A concorrência cada vez mais acirrada, as novas tecnologias que habitual- mente sacodem os mercados, a chamada “comoditização” dos produtos (mais produtos e cada vez mais parecidos), as exigências de um consumidor atento e a frequente mudança no ambiente de marketing das empresas, são fatores que fazem com que as organizações não possam mais andar na inércia e na zona de conforto dos resultados atuais. Sem uma política firme e determinada de marketing as empresas perdem espaço e, ao perderem esse espaço, a recuperação é muito mais onerosa, delicada e dolorosa. “Essa dimensão da criatividade vem sendo bastante estudada, especialmente no contexto organizacional. Afinal, é de grande interesse das empresas estimular a criatividade em suas equipes e, assim, destacar-se no mercado” (MONTEIRO Jr, 2011, p. 24) Assim, um bom começo é entender a evolução dos conceitos de marke- ting para melhor avaliar sua importância no contexto do mercado, das empre- sas e da sociedade. 1.2 A evolução do conceito de marketing Ao longo do século XX, o conceito de marketing, assim como a visão de sua aplicabilidade nas empresas teve um enorme salto qualitativo. As empre- sas começaram a perceber que o modo como faziam negócios, paulatina- mente, tornava-se anacrônico e que novas realidades permeavam seu dia a dia. De uma forma geral, certa visão de marketing já se observava em tempos remotos, nos primórdios da “mercantilização do mundo”, até mesmo antes do início das navegações, momento que se tornou um marco na exploração comercial dos mercados globais. O ser humano assim que se fixou em uma determinada região deixando de ser nômade e coletor passando a ser um produtor que pertence a algum lugar, mudou seus relacionamentos sociais. E, quando então começou a obter um excedente da sua produção, iniciou-se um lento processo de amadure- cimento das relações comerciais entre as pessoas. Desde o antigo e conhe- cido escambo até os dias de hoje, a essência dos negócios continua a mesma: alguém que possui algo que lhe interessa negociar com alguém que está preci- sando de algo e está disposto a comprar ou a trocar por algo, ou seja, sempre existiu o processo de troca. Assim, podemos dizer que o marketing sempre – 21 – Fundamentos de Marketing existiu, talvez não como um fenômeno formal ou como estudos formais de mercado. Mas, seus conceitos centrais sempre fizeram parte do mundo dos negócios desde que a civilização começou a fazer suas transações. Mas foi nas primeiras décadas do século XX que o marketing tomou um rumo mais profissional, mais apurado e mais consciente de seu papel, mesmo sendo inicialmente uma corrente meramente administrativa da área de Admi- nistração de Empresas. Foi nessa época que foi criada a AMA – American Marketing Association (Associação Americana de Marketing) que já no seu início estipulou uma definição para esta, até então, nova disciplina do mer- cado: “Marketing é o desempenho das atividades empresariais que dirigem o fluxo de bens e serviços dos produtores até os consumidores”. Disponível em: (<http:// www.ama.org/AboutAMA/Pages/Definition-of-Marketing>. Acesso em: 17 de julho 2015). A primeira definição de Marketing da AMA vigorou por 50 anos, vindo a ser revista somente em 1985. Uma nova versão foi por ela divulgada em 2004, incorporando contribuições de muitos acadêmicos e praticantes dos estados unidos e do estrangeiro”. “Marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos para criar, comunicar e entregar valor a consumidores e administrar relacionamentos comeles de modo que beneficiem a organização e suas partes interessa- das. (URDAN, 2013) A partir de 2004, a AMA verificou necessidade de rever o conceito de marketing, periodicamente, de cinco em cinco anos, pois o domínio do marketing muda muito rápido. Então em 2007, reviu tal sua definição e publicou a seguinte versão: Marketing é a atividade, conduzida por organizações e indi- víduos, que opera por meio de um conjunto de instituições e processo para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas de mercado, que tenham valor para consumidores, clien- tes, agentes de marketing e a sociedade como um todo. (URDAN, 2013) Ainda existem outras várias definições e conceitos sobre marketing, como esta publicada pela Chartered Institute of Marketing, uma das mais renomadas instituições britânicas de ensino e pesquisa sobre marketing: “Pro- – 22 – Marketing cesso gerencial que identifica, antecipa e atende, de modo eficiente e rentável, as exigências do cliente” (PALMER, 2006) Philip Kotler cita a definição de marketing, porém acrescenta duas possibi- lidades de abordagens do marketing, uma gerencial e outra social. No contexto gerencial, o autor compreende o marketing como “a arte e a ciência de sele- cionar mercados-alvo e captar, manter e fidelizar clientes por meio da criação, entrega e comunicação de um valor superior para o cliente”. E no contexto social, o Kotler entende que “marketing é um processo social pelo qual indiví- duos e grupos de obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos e valor entre si” (KOTLER, 2012) A tabela abaixo apresenta um breve histórico de como o marketing foi abordado ao longo do século XX por diversos autores e instituições: Tabela 1. Evolução da definição do termo Marketing. Autor Ano Definição de Marketing American Marketing Association 1935 “O desempenho das atividades empresa- riais que dirigem o fluxo de bens e servi- ços dos produtores até os consumidores”. Peter Drucker 1954 “Uma força poderosa a ser conside- rada pelos administradores”. Ohio State University 1965 “O Processo na sociedade pelo qual a estrutura da demanda para bens econômicos e serviços é antecipada ou abrangida e satisfeita através da concepção, promo- ção, troca e distribuição física de bens e serviços”. Philip Kotler e Sidney Levy 1969 “O Conceito de Marketing deve abranger tam- bém as instituições não lucrativas”. David Luck 1969 “Marketing deve limitar-se às atividades que resultam em transações de mercado”. Philip Kotler e Gerald Zaltman 1969 “A criação, implementação e controle de programas calcu- lados para influenciar a aceitabilidade das ideias sociais, envolvendo considerações de planejamento de produto, preço, comunicação, distribuição e pesquisa de marketing”. – 23 – Fundamentos de Marketing Autor Ano Definição de Marketing Robert Bartls 1974 “Se Marketing é para ser olhado como abrangendo as atividades econômicas e não econômicas, tal- vez o marketing como foi originalmente conce- bido reapareça em breve com outro nome”. Robert Haas 1978 “É o processo de descobrir e interpretar as necessidades e os desejos dos consumidores para as especificações de produto e serviço, criar a demanda para esses produ- tos e serviços e continuar a expandir essa demanda”. American Marketing Association 1985 “É o processo de planejar e executar a concep- ção, preço, promoção e distribuição de ideias, bens e serviços para criar trocas que satisfa- çam objetivos individuais e da organização”. Philip Kotler e Gary Armstrong 1998 “Marketing é a entrega de satisfação para o cliente em forma de benefício”. Philip Kotler 1999 “Marketing é a ciência e a arte de conquistar e manter clientes e desenvolver relacionamentos lucrativos com eles. Philip Kotler 2000 “marketing é um processo social pelo qual indivíduos e gru- pos de obtêm o que necessitam e desejam por meio da cria- ção, da oferta e da livre troca de produtos e valor entre si. American Marketing Association 2004 “Marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos para criar, comunicar e distribuir valor aos clientes e para administrar o relacionamento com clientes de forma que beneficie a organização e os seus Stakeholders”. American Marketing Association 2007 (apro- vada em 2013) “Marketing é a atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, distribuir e efetuar a troca de ofertas que tenham valor para consumidores, clientes, parceiros e a sociedade como um todo”. Fonte: adaptado de Las Casas (2006). – 24 – Marketing 1.3 Marketing como filosofia de negócios O marketing é essencialmente uma filosofia de negócios, uma maneira de desenvolver estratégias em um determinado mercado, é ainda, uma visão que se pretende apurada da sociedade, de suas necessidades e aspirações. Como já foi referido, marketing não é publicidade nem vendas, estas estão inseridas no processo de “pensar” o marketing nas organizações. Em tempos, onde as pesquisas de mercado tomaram uma dimensão extremamente profissional e técnica, a aproximação com o cliente é funda- mental para a consecução dos objetivos de uma empresa. Essa aproxima- ção a partir do perfil e das características do consumidor eleva o marketing a um patamar mais subjetivo e mais “humano”. Portanto, não é exagero falar em uma filosofia de negócios na medida em que o ser humano, as pessoas e, ao fim, o consumidor são a mola propulsora do mercado e das empresas. Como filosofia de negócio, o marketing coloca os clien- tes no centro das considerações da organização. Isso se reflete em valores básicos, como a exigência de entender as necessidades dos clientes e responder a eles e a neces- sidade de, constantemente, procurar novas oportunida- des de mercado. Em uma organização verdadeiramente orientada para o marketing, esses valores são instilados em todos os funcionários e devem influenciar seu com- portamento, sem que seja preciso impeli-los a isso. (PAL- MER, 2006) Essa ligação com o cliente fica patente no marketing de relacionamento. Há muito o marketing e seus profissionais perceberam que o foco das ações de uma empresa é o cliente e como tal deve ser pensado. Não se pode efetiva- mente esquecer os processos gerenciais, as ferramentas e técnicas de marke- ting (como, por exemplo, a pesquisa aplicada ao marketing), porém, em sua essência o contexto social deve prevalecer, uma vez que estamos trabalhando com e para pessoas. (URDAN, 2013 p. 18) Dessa forma, quando Adrian Palmer fala sobre a visão filosófica do marketing, ele não descarta, obviamente, outras concepções: a troca e o processo gerencial. Ou seja, as três concepções se complementam para con- quistar, satisfazer e gerar lucros mantendo os clientes em suas carteiras. – 25 – Fundamentos de Marketing Figura 4 -Três concepções de markeing, troca, filosofia e processo. Troca Três concepções de marketing Filosofia empresarial Processo gerencial Fonte: Palmer (2006). O que de fato observamos é que sempre haverá a necessidade de uma estrutura administrativa que possibilite o processo gerencial objetivando a troca de produtos e serviços através de um relacionamento rentável e duradouro entre a empresa e o cliente, mas o sucesso desse empreendimento não pode prescindir daquilo que entendemos como uma filosofia empresarial do marketing. A troca sempre será essencial e o objetivo maior em uma empresa – e aqui podemos expandir o entendimento de troca para lucro – mas a maneira como se processam as trocas é que se torna a questão mais importante. Por- tanto, o objetivo do profissional de marketing é criar, desenvolver e manter formas aceitáveis e rentáveis de trocas entre clientes e empresas, suprindoas necessidades de ambos apoiando-se nos desejos do mercado consumidor. Os processos gerenciais são importantes para manter a organização e o controle dos negócios de um empreendimento. Os departamentos bem estruturados de marketing, que olham a empresa de forma holística, ou seja, como um todo, criar programas que envolvem toda a empresa, da entrada de – 26 – Marketing matéria-prima passando pela expedição do produto até o relacionamento pós venda com os clientes. Em cada etapa da construção de uma solução para o cliente, seja essa solução representada por um produto, seja por um serviço, o marketing atua para certificar a empresa que todos os passos adotados vão ao encontro das necessidades e desejos dos clientes e de que isso vai fortalecer o relacionamento entre ambos. (URDAN, 2013 p. 19) A filosofia de marketing cria valor para o mercado, soluciona proble- mas, supre necessidades e sustenta relacionamentos. Portanto, entender o mercado, suas necessidades, e criar estratégias orientadas para os clientes (ou segmentos) é de suma importância, assim como desenvolver programas de marketing que criem valor para o mercado e que construam relacionamentos sempre com objetivo de capturar esse valor dos clientes. Figura 5 - Modelo simplificado do processo de marketig Criar valor para os clientes e construir relacionamentos com os clientes Entender o mercado e as necessidadess e os desejos dos cliente Capturar valor dos clientes para gerar lucro e qualidade para os clientes Elaborar uma estra- tégia de marketing orientada para os clientes Desenvolver um pro- grama de marketing integrado que propor- cione valor superior Construir relaciona- mentos lucrativos e criar o encantamento dos clientes Fonte: Kotler e Amstrong ( 2007). Nos próximos capítulos, vamos ver o que (e como) os profissionais de marketing devem desenvolver para que todas essas ideias elencadas até aqui surtam o efeito desejado e contribuam para o sucesso de um empreendimento em um mercado cada vez mais competitivo, onde a criatividade, o valor per- cebido de uma marca ou de um produto/serviço faz a diferença para os con- sumidores e para o mercado em geral. As oportunidades estão aí e as empresas e os profissionais de marketing devem estar atentos a elas e bem preparados para levar a diante a função social de “trocas de valor” para a construção de uma sociedade mais eficiente, dinâmica, com qualidade de vida, bem-estar e próspera em todos os sentidos. 2 Segmentação de mercado e posicionamento Este capítulo irá tratar de algumas estratégias básicas e muito utilizadas pelas empresas em seus planejamentos de marketing. O primeiro tema que trataremos será o ambiente de marketing das empresas aos quais todas as organizações estão submetidas e sua análise é fundamental para a identificação de oportunidades, amea- ças, pontos fortes e pontos fracos o que leva a empresa a tomar deci- sões mais acertadas de acordo com sua situação ou com relação ao mercado em que atua. Na realidade, o tema do ambiente de marke- ting é uma forma de introduzir a parte nuclear desse capítulo que é a segmentação de mercado. Veremos que a segmentação de mercado envolve mais do que simplesmente reduzir um mercado ou agrupar – 28 – Marketing certo contingente de pessoas e nesse sentido, perceberemos que a importância da estratégia de segmentação é uma das bases do marketing como filosofia de negócios, como foi abordado no primeiro capítulo. As bases para uma segmentação eficaz e estrategicamente bem planejada será o próximo tema deste capítulo. As bases geográficas, demográficas, psico- gráficas e comportamentais nortearão as discussões tornando mais claro como as empresas podem desenvolver o processo de segmentação de acordo com seus objetivos de marketing e como atingir públicos ou targets mais específi- cos e assim melhorar sua oferta no mercado. Por fim, abordaremos mesmo que brevemente, um dos temas mais importantes no marketing que é o conceito de posicionamento e de valor, que de forma conjunta contribui para criar um relacionamento especial do cliente com produtos, serviços, marcas e empresas. As dimensões deste posi- cionamento também serão alvo de breve apresentação, mas que irá preparar o leitor para os próximos conteúdos dos capítulos que se seguirem. Boa leitura! 2.1 Preparando a segmentação: o ambiente de marketing Antes de começarmos nossos estudos em segmentação de mercado se faz necessário fazermos algumas breves considerações sobre o ambiente de marketing das empresas. Esse assunto será abordado novamente mais tarde. Todas as empresas e organizações estão sujeitas a um ambiente que influencia, e de muitas maneiras determina, o rumo dos negócios de um empreendimento. Aproveitando o conceito de Philip Kotler, exposto no capí- tulo anterior que diz ser o marketing um processo social, é importante o leitor compreender que uma empresa é um sujeito social, uma pessoa jurídica que responde à sociedade em forma de atividades que a desenvolvem também economicamente. A partir daí, fica mais fácil entender que vários ambientes, vários cenários, acabam por se tornar fonte de oportunidades que se bem ava- liadas e postas em prática resultam em empresas fortes e de sucesso. Assim, os profissionais de marketing precisam pesquisar e entender quais desses fatores influenciam os negócios de uma empresa em maior ou menor – 29 – Segmentação de mercado e posicionamento medida, quais cenários estão presentes no dia a dia de uma empresa e aque- les que oferecem oportunidades ou ameaças, e que revelam pontos fracos ou pontos fortes. É importante a noção de que empresas fazem parte, na realidade, de uma rede de negócios e que nos dias atuais há uma integração crescente entre os mais variados “grupos de interesse” também conhecidos como Stakeholders. Outra questão importante é frisar que esses ambientes se aplicam e influenciam qualquer tipo de organização e de qualquer tamanho, de grandes conglomerados de empresas até um Micro Empreendedor Individual – MEI. Além da indistinção de tamanho, setor ou forma jurídica todas as organiza- ções independentemente se atuam em nível regional, nacional ou mundial, todas se interligam através desses ambientes, cenários e variáveis. Assim, é de suma importância que uma empresa saiba identificar, analisar e tomar decisões a partir do seu ambiente de marketing. Nem sempre todos os cenários irão influenciar os negócios de uma empresa da mesma maneira ou na mesma medida, porém, mesmo que indiretamente, irão fazê-lo, então cabe a empresa tomar as medidas necessárias para potencializar ou minimizar os efeitos de seu ambiente. Esse ambiente de marketing é composto pelo macroambiente e pelo microambiente. No microambiente, encontram-se as variáveis controláveis pela empresa que se dividem ainda nos fatores externos à empresa como fornecedores, intermediários, consumidores etc. e nos fatores internos à empresa como os setores de RH, comercial, financeiro, a linha de produção etc. Vejamos o que Kotler nos apresenta: (...) O microambiente é constituído pelos agentes próximos à empresa que afetam sua capacidade de atender seus clientes. – a empresa, fornecedores, intermediários de marketing, mer- cados de clientes, concorrentes e públicos. O macroambiente é constituído por forças societais mais amplas que afetam o microambiente - forças demográficas, econômicas, tecnológi- cas, políticas e culturais. (KOTLER, 2007, p. 56) Observando um trecho da citação Kotler, vemos que o macroambiente afeta o microambiente. Talvez seja essa a questão mais importante ao se iniciar um processo de implantação e uma filosofia de marketing em uma empresa. Um dos principais trabalhos do profissional de marketing e da empresa como um todo é adaptar as variáveiscontroláveis do seu microambiente às variáveis – 30 – Marketing incontroláveis do seu macroambiente. Eis aqui uma fugura que demonstra o ambiente de marketing das empresas: Fig. 01 – O ambiente de marketing das empresas Político-legal Econômico Tecnológico Natural Sociocultural Cemográfico Fornecedires Intermediários Clientes Concorrentes Produção Recursos Humanos Marketing Financeiro Comercial Etc Macroambiente de marketing Microambiente de marketing Fonte: Adaptado de Kotler (2012). As variáveis do macroambiente são incontroláveis porque não está ao alcance das empresas e organizações controlar, por exemplo: a edição de leis, a política econômica do mercado em que atua, o advento de novas tecnologias que afetam sua capacidade de ação no mercado, os fenômenos naturais como terremotos, furacões, cheias, ou secas, o crescimento populacional ou faixa etá- ria de uma população, assim como os aspectos culturais de um mercado como usos e costumes, tradições, hábitos ou valores. (KOTLER, 2012, p. 77) 2.2 Cenário econômico A avaliação do cenário econômico em que uma empresa está inserida é de fundamental importância para seu desempenho. Deve se observar, por exemplo, o momento econômico de um mercado, sua estabilidade e sua con- sistência econômica. Esses fatores é que vão oferecer à empresa as oportuni- – 31 – Segmentação de mercado e posicionamento dades para que, de acordo com sua capacidade interna, ela possa aproveitar da melhor maneira possível essa oportunidades. A empresa deve considerar, por exemplo, o tipo de estrutura industrial de seu mercado, ou seja, se ela está inserida em uma economia industrializada, em fase de industrialização, uma economia de exportação de matérias-primas ou em uma economia de subsistência. Esses aspectos macroeconômicos irão nortear todos os negócios da empresa lhe fornecendo maiores ou menores oportunidades assim como maiores ou menores ameaças. (KOTLER, 2012, p. 80) 2.3 Cenário demográfico Uma empresa não controla os aspectos demográficos do mercado onde atua. Uma empresa deve estar atenta, por exemplo, a faixa etária de uma população em um mercado e em que medida isso influencia os negócios da empresa. Mas não só, a empresa deve entender que o mercado é constituído de pessoas e que questões como a taxa de crescimento da população, o con- tingente populacional de uma cidade ou região, a composição étnica, o nível de instrução desta população, o tipo de estrutura familiar predominante, a mobilidade geográfica desta população entre outras características, influen- ciam em muito os negócios da organização. As variáveis demográficas de um mercado devem estar presentes para avaliação sempre que a empresa for rea- lizar os seus planejamentos estratégicos e, uma avaliação precisa deste cenário pode resultar em excelentes oportunidades de negócios. É claro que também, como dissemos acima, podemos observar ameaças advindas do cenário demo- gráfico. Para minimizar os efeitos de tais ameaças a pesquisa de mercado que mostra tendências é de fundamental importância para que a organização se adiante a fatos e se previna destas ameaças. (KOTLER, 2012 p. 77) 2.4 Cenário sociocultural Uma empresa de sucesso deve pesquisar e implementar ações de acordo com o que culturalmente os hábitos e costumes dos consumidores se refletem no consumo de seus produtos e serviços. As pessoas têm motivações e hábitos diferentes em diferentes fases da vida. O perfil de consumo de um adolescente é bastante diferente do perfil de consumo de uma pessoa idosa. Não estamos – 32 – Marketing falando, necessariamente, de quantidade, mas sim de características de con- sumo de acordo com a fase de vida das pessoas. O estudo do comportamento de compra aqui é de fundamental importância para que a empresa atinja seus objetivos. Além disso, há também todo um entendimento necessário do pro- cesso de compra de cada segmento da sociedade (jovens, adultos e idosos, por exemplo). A empresa deve portanto, investir em pesquisas que revelem qual o perfil e quais estímulos seriam mais eficientes para a tomada de decisão de compra e recompra de sues produtos e serviços. Estas pesquisas revelam, por exemplo, quais atividades de lazer os consumidores praticam com mais fre- quência e a partir daí oferecer-lhes produtos com os quais eles se identificam. As empresas não controlam o cenário sociocultural de seus mercados, mas podem muito bem se adaptar a ele na medida em que entendam que, por exemplo, os papeis de compra como o iniciador, o influenciador, o decisor, o comprador e o usuário estão cada vez mais sendo exercidos por diferentes atores do processo de compra. Em uma família moderna esses papéis estão cada vez mais claros entre o pai, a mãe e os filhos. Não é mais prerrogativa do pai escolher e decidir o que comprar, mas se não da esposa, da família em con- junto. Isso sem falarmos das escolhas de consumo e do modo de vida de pes- soas solteiras, divorciadas ou com união homoafetivas. A sociedade em geral não é mais a mesma de quarenta, cinquenta anos atrás e as empresas devem se adaptar a essas novas realidades para oferecer seus produtos e serviços. Para uma empresa é de suma importância entender qual a visão das pessoas com relação a si mesmas, a outras pessoas, a organizações em geral, a sociedade e a natureza por exemplo. A lógica é a de que as oportunidades de negócios oriundas do cenário sociocultural são tão grandes como as ameaças advindas do mesmo cenário, ou seja, uma empresa que negligencia as tendências socioculturais de seu mer- cado está marcando passo e a resultado desta estagnação é o fracasso total. (KOTLER, 2012, p. 81 e 82) 2.5 Cenário Tecnológico O advento da tecnologia, de uma forma geral, não é controlado pelas empresas, elas devem se adaptar ao cenário. Desde a tecnologia de proces- sos e automação às tecnologias da informação e entretenimento devem ser – 33 – Segmentação de mercado e posicionamento monitoradas pelas empresas. Atualmente, as pesquisas de desenvolvimento de novos softwares, novos processos, novos materiais e novos equipamentos têm gerado um mundo mais dinâmico, mais seguro, mais ecologicamente correto e mais econômico. O avanço da tecnologia é algo que caracteriza o nosso mundo pós-moderno e as empresas devem estar preparadas para tanto se adaptar a essas novas tecnologias como para produzi-las. Empresas vislumbram oportunidades em universidades, em parques de excelência em tecnologia e em laboratórios públicos e privados de todo o tipo, da mesma forma que vislumbram ameaças. Portanto, uma empresa de sucesso deve estar sempre atenta às tendências do mundo da tecnologia, como, por exemplo: a aceleração do ritmo destas mudanças, a observação cada vez maior de oportunidades nessa área no que diz respeito à inovação, as variações dos orçamentos para a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos assim como a regulamentação mais rigorosa que influencia e sobrecai sobre as mudanças tecnológicas. (KOTLER, 2012, p. 83) 2.6 O cenário natural O cenário natural é onde a empresa vai destacar todas as ocorrências climáticas ou naturais que afetam os seus negócios, e que como os demais cenários do macroambiente, esses fatores da natureza são incontroláveis. A importância de uma análise do ambiente natural sempre é necessária na medida em que as empresas sofrem influências diretas (ou indiretas) do clima, das intempéries, de chuvas e de períodos de seca, por exemplo. Os efeitos do ambiente natural sobre um mercado podem gerar, por exemplo: 1. Escassez de matérias-primas 2. Aumento do custo da energia 3. Pressões antipoluição 4. Mudança no papel dos governos Assim como as empresas devem fazer a sua parte para minimizar os impactos de sua atividade, osgovernos em todos os níveis, municipal, esta- dual e federal, também acabam influenciando os negócios na medida em que impõem leis, portarias e normativas para conter (ou minimizar) a degradação – 34 – Marketing da natureza. Uma empresa, nesse contexto, pode fixar as chamadas Parce- rias Público Privadas (PPPs) em seus planejamentos estratégicos e ao mesmo tempo em que recebem incentivos por parte dos governos, agregam valor as suas marcas. Por outro lado, empresas que não levam em consideração o cená- rio natural e suas ocorrências estão sujeitas as ameaças (incontroláveis) que, certamente, se converterão em prejuízos às vezes irreversíveis. 2.7 O cenário político legal As empresas estão sujeitas às leis e não as controlam. Destacam-se aqui as leis específicas que regem os negócios em geral, as leis trabalhistas, as leis tributárias, as leis antitruste, as leis sanitárias, as leis da ordem econômica, código do consumidor e até mesmo as leis de trânsito. O cenário político legal talvez seja aquele em que o dia a dia da empresa é mais afetado. Diariamente, os governos publicam novas leis e portarias que de alguma forma influenciam os negócios de uma empresa. Claro que não falamos de todas as empresas, mas, certamente, uma empresa deve estar muito bem informada sobre a edição dessas leis e portarias para que possa ao mesmo tempo aproveitar oportunidades como também se defender de ame- aças advindas nesse cenário. Uma fonte de consulta importante é o Diário da União, onde são publicadas leis, emendas constitucionais, normativas e portarias. As leis são pensadas e votadas nas casas legislativas dos governos municipais, estaduais e federais, portanto, mesmo que exista a possibilidade de pressão por parte das empresas (Lobbing), elas não conseguem controlar a edição dessas leis e isso lhes acarreta oportunidades e/ ou ameaças depen- dendo do caso. Um exemplo são as muitas empresas que a partir de 1999 aproveitaram a oportunidade da edição da “lei dos genéricos” para fazer negó- cios e ter sucesso em suas atividades. Nesse caso, a edição uma lei mudou o mercado e abriu espaço para novos competidores. Aquelas empresas que não identificaram essa oportunidade ou negligenciaram as ameaças advindas do cenário político legal, com certeza, acumularam perdas e prejuízos (ou até mesmo fecharam as portas) e/ou tiveram bastante trabalho para recuperar espaço no mercado, haja vista que os pioneiros em um determinado mercado tendem as ser líderes nesse mercado. E assim as oportunidades vão se multi- plicando, basta às empresas (KOTLER, 2012, p. 86) – 35 – Segmentação de mercado e posicionamento Já as variáveis do microambiente são controláveis no sentido de que as empresa podem “escolher”, “decidir” algo junto a elas. Por exemplo: no microambiente interno, fica óbvio que a empresa controla seus departamen- tos, seções, atividades e ações. Mas também no microambiente externo à empresa (fornecedores, concorrentes e consumidores, por exemplo) também se pode controlar as ações, haja vista que uma empresa pode escolher em que mercado vai atuar (quais concorrentes), qual público vai atender, qual fornecedor vai ter ou com qual intermediário, se for o caso, vai trabalhar. (KOTLER, 2006, p. 57 e 58) As decisões e ações dos praticantes de marketing não ocor- rem no vácuo, pois dependem das possibilidades e restrições externas e internas. As influencias do ambiente da empresa criam situações tanto favoráveis como desfavoráveis. O essen- cial é identificar, compreender e responder aos fatores contex- tuais relevantes na definição e implantação dos objetivos de marketing. (URDAN, 2013, p. 29) A importância da identificação e análise do ambiente de marketing das empresas reside no fato de que é a partir desse ambiente e de suas variáveis que elas vão tomar decisões que vão estabelecer os rumos e o sucesso do empreendimento identificando oportunidades, ameaças, pontos fortes e pon- tos fracos e assim possa programar as estratégias de marketing que mais se adaptem a sua realidade e seus objetivos empresariais. A avaliação global das forças, fraquezas, oportunidades e ame- aças de uma empresa é denominada de análise SWOT (dos termos em inglês: strengths, weaknesses, opportunities, threats). Trata-se de um meio de monitorar os ambientes, externo e interno. (KOTLER, 2012, p. 49) 2.8 Segmentação de mercado e posicionamento A segmentação de mercado consiste em dividir o mercado total em mercados menores, cujos membros consumidores destes segmentos têm perfis similares e comportamentos de consumo semelhantes. O fato de uma empresa segmentar seu mercado está baseado no fato de que os integrantes de cada segmento têm necessidades, desejos e aspirações diferentes uns dos outros e por isso esperam ser atendidos de maneira diferente pelas empre- – 36 – Marketing sas que atuam em tais segmentos. A ideia aqui é saber identificar segmentos rentáveis em que a empresa possa atuar oferecendo produto ou serviços mais atraentes dos que os de seus concorrentes e explorar tais segmentos a fim de ganhar participação de mercado (market share) no segmento. (PALMER, 2006, p. 154 e 155) Como já sabemos, uma das funções mais importantes do marketing é satisfazer as necessidades dos clientes com eficiência criando e entregando valor para eles. O conceito por trás da estratégia de segmentação vai ao encontro dessa função. Observe o que Philip Kotler escreve a respeito: As empresas não podem atender a todos os clientes em mer- cado amplos ou diversificados. Mas podem dividir tais mer- cados em grupos de consumidores ou segmentos com dife- rentes necessidades e desejos. Uma empresa precisa, então, identificar os segmentos de mercado em que poderá aten- der com eficácia. Essa decisão requer um profundo enten- dimento do comportamento do consumidor e uma análise estratégica cuidadosa. Para desenvolver os melhores planos de marketing, os gerentes precisam entender o que distingue cada segmento. Identificar e satisfazer os segmentos certos de mercado costuma ser a chave para o sucesso de marketing. (KOTLER, 2012, p. 227) A seleção do mercado-alvo se dá muito em função da atratividade do seg- mento. Altas taxas de vendas, concorrência reduzida, crescimento contínuo e robusto, baixo risco do negócio, alta rentabilidade são fatores favoráveis que atraem as empresas para um segmento, porém, é difícil que um segmento tenha todos estes fatores, assim cabe a empresa decidir qual segmento será melhor diante de sua situação atual, mas levando em consideração seu futuro, ou seja, seus objetivos empresariais. Michel Porter, um renomado estudioso do marketing e autor de vários livros na área foca seu trabalho na proposta de criação de vantagens competitivas por parte das empresas. Para o autor, existem 03 estratégias básicas para que uma empresa tenha vantagem com- petitiva diante da concorrência: O enfoque (segmentação), a liderança em custos (preço) e diferenciação (atributos do produto/serviço). Neste capítulo, interessa-nos essa primeira estratégia: a segmentação e como vínhamos falando de atratividade é necessário algumas outras conside- rações apoiadas no trabalho de Michel Porter. – 37 – Segmentação de mercado e posicionamento Em seu livro publicado na década de 80, mas até hoje utilizado e apre- ciado, Estratégia Competitiva: Técnicas de análise de indústrias e da concorrência, o autor apresenta 05 forças que medem a atratividade de uma determinada indústria que é como ele se refere ao mercado. Segundo o autor, a principal força que mede a atratividade de um mercado é o nível de concorrência entre os players desse mercado; depois se apresentam também como força o poder de barganha dos fornecedores de um lado e o poder de barganha dos clien- tes/ consumidores por outro. E por fim, a possibilidade de haverem“novos entrantes”, ou seja, novos competidores que decidam atuar no segmento em que a empresa atua e a possibilidade de haverem produtos substitutos, ou seja, a possibilidade do advento (em geral por meio de novas tecnologias) de novos produtos que venham a substituir os produtos oferecidos em determi- nado segmento. A figura a seguir apresenta o esquema proposto por Porter. (KOTLER, 2012, p. 247) Figura 02 - As cinco forças de Michel Porter. Poder de barganha dos consumidores Possibilidade de produtos substitutos Poder de barganha dos fornecedores Competitivi- dade entre os players Possibilidade de novos entrantes Fonte: adaptado de Kotler (2012). – 38 – Marketing Após a empresa analisar a atratividade do segmento, ou seja, do mer- cado em que quer atuar, ela deve então criar as estratégias para atender esse segmento. Para tal, é importante conhecer muito bem o segmento, o perfil de seus consumidores e o posicionamento que irá trabalhar junto ao seu público alvo. Levando em consideração a heterogeneidade de cada segmento as empre- sas devem criar as estratégias certas para atingir cada expectativa, necessidade e desejo os membros do segmento. A segmentação de mercado envolve a divisão de um mercado em grupos menores de compradores com necessidades, carac- terísticas ou comportamentos diferentes que podem requerer produtos ou mixes de marketing distintos (KOTLER, 2007, p. 164). As pessoas, de uma forma geral, são diferentes e estão em diferentes fases de vida, têm prioridades diferentes e passam diferentes situações financei- ras. Portanto, é importante que uma empresa saiba selecionar ou dividir esse mercado em pessoas que têm características de consumo o mais semelhantes possível. Aqui a empresa de depara não só características de consumo, mas também com anseios, sonhos e atitudes que marcam seu perfil e as destacam das outras pessoas ou dos outros grupos de pessoas. Uma porção bem definida de mercado é nuclear no processo de segmentação. Quando uma empresa e seus profissionais de marketing decidem então, segmentar seu mercado para atendê-lo melhor, é importante também que se tenha definido em qual dimensão acontecerá a segmentação, ou quais bases serão utilizadas para esse fim. 2.9 Bases para a segmentação de mercado As empresas podem segmentar seus mercados tendo como bases a seg- mentação geográfica, a segmentação demográfica, a segmentação psicográfica e a segmentação comportamental. É importante frisar que estrategicamente a empresa pode segmentar um mercado em mais de uma base, porém ela deve ter um controle total – 39 – Segmentação de mercado e posicionamento das operações nesses segmentos para que os objetivos da segmentação não sejam inadequados ou “não producentes” em relação ao produto ou serviço que ela oferece ao segmento. Vejamos algumas considerações acerca de cada uma dessas dimensões: 2.9.1 Segmentação geográfica A segmentação geográfica é aquela em que a empresa divide o mercado em áreas geográficas como cidades, estados, regiões e bairros e atende uma ou mais dessas regiões de forma diferenciada. A segmentação geográfica pressupõe a divisão do mercado em diferentes unidades geográficas, como nações, estados, regiões, cidades ou bairros. Uma empresa pode atuar em uma ou mais áreas geográficas; pode até mesmo atuar em todas elas, desde que preste atenção às variações locais. (KOTLER, 2012, p. 228) No processo de segmentação geográfica, as empresas devem oferecer produtos e serviços levando em consideração os aspectos locais de cada unidade geográfica. Essa atividade faz parte daquilo que chamamos de Marketing Local. A segmentação geográfica, e mais propriamente o marke- ting local, é algo que podemos dizer que é uma tendência porque vai ao encontro de outra concepção fundamental de marketing: a da empresa aproximar-se o máximo possível de seu cliente, obviamente com o objetivo de criar e manter um relacionamento confiável e de longa duração. Mais uma vez chegamos ao conceito de marketing de relacionamento, ou seja, a segmentação com base geográfica é um caminho para se aproximar do mercado, prospectar novos clientes e estreitar o relacionamento com os clientes atuais. Há empresas que recorrem a softwares para mapear a localização de seus clientes e assim abrir um ponto de venda próximo, na área geográfica desses clientes, no caso de uma varejista por exemplo. Geralmente são fer- ramentas muito ligadas às vendas, como o SALES FORCE, MICROSOFT DYNAMICS ou o ORACLE CRM cujas interfaces são apresentadas nas figuras abaixo: – 40 – Marketing Printscreen da Interface do software de CRM Oracle CRM Disponível em: (<http:// www.oracle.com>. Acesso em: 25 de julho 2015). Printscreen da Interface do software de CRM Sales Force. – 41 – Segmentação de mercado e posicionamento Disponível em: (<http:// www.salesforce.com>. Acesso em: 25 de julho 2015). Printscreen da Interface do software de CRM Microsoft Dynamics. Disponível em: (<http:// www.microsoft.com>. Acesso em: 25 de julho 2015). 2.9.2 Segmentação demográfica A segmentação demográfica é aquela em que a empresa divide o mercado a partir de vários aspectos da população de membros do segmento. Uma vantagem de efetuar a segmentação com base demográfica é que ela é de fácil mensuração fato que leva a muitas empresas e profissionais a área a utilizarem bastante essa estratégia. Outra vantagem que se pode mencionar é a de que a segmentação com base demográfica aumenta a probabilidade de se obser- var com mais acuidade as necessidades e os desejos dos grupos selecionados. (KOTLER, 2012, p. 231) Existem muitas variáveis demográficas, uma delas refere-se à Idade e o Estágio de Vida dos consumidores na medida em que “Os desejos e as habi- lidades dos consumidores mudam com a idade.” (KOTLER, 2012, p. 231) O estágio em que as pessoas se encontram determina em muitos casos o tipo, a quantidade e a qualidade dos produtos que elas consomem. Assim, – 42 – Marketing as empresas, podem oferecer produtos direcionados para crianças, adultos ou idosos, por exemplo, ou se especializar em um desses segmentos. Esse processo de segmentação pode ser ainda mais refinado, como, por exemplo, o caso de fraldas para bebês ou brinquedos que têm uma separação bastante clara sobre a faixa etária para quem são direcionados. A empresa deve tomar cuidado, no entanto, porque pesquisas e pré-tes- tes de mercado podem não mostrar uma verdade clara e absoluta. Por exem- plo, pode acontecer de um produto ou serviço que foi pensado em oferecido para uma determinada faixa etária, atingir outra. (KOTLER, 2012 pág.231). Segundo Philip Kotler, isso é mais comum do que se imagina. A Honda, por exemplo, tentou atrair jovens na faixa dos 21 anos com seu compacto de linhas retas, o Element, que os executivos da empresa descreveram como “um quarto de república sobre rodas”. Contudo, tantos Baby Boomers1 se sentiram atraídos pelos anúncios – que mostravam universi- tárias sensuais se divertindo na praia perto do carro – que a idade média dos compradores acabou girando em torno dos 42 anos! Com Baby Boomers procurando se manter jovens, a Honda constatou que as linhas divisórias entre os grupos etários se tornavam indistintas. (KOTLER, 2012, p. 231) Outra variável demográfica que pode ser levada em consideração é a Fase de Vida do consumidor. Aqui, a ideia é a de que as pessoas, mesmo estando no mesmo “estágio de vida”, podem estar passando por fases diferentes. A saída da casa dos pais, uma separação, uma nova ou a primeira faculdade, um novo relacionamento, uma casa nova, a primeira casa própria, etc. São aspec- tos que também podem ser utilizados para segmentar um mercado, criando em muitos casos um nicho de mercado2. (KOTLER, 2012 pág.231)O gênero, ou seja, o masculino e o feminino é também um critério para segmentar demograficamente um mercado. Neste caso de segmentação, ficam bem claros os interesses de cada grupo muito por conta dos seus com- portamentos de consumo. 1 Ver tabela a seguir na página 13. (grifo nosso). 2 Um nicho de mercado é um grupo bem mais específico do que o de um segmento. Pode-se dizer que é um segmento dentro de outro segmento. (N.T). – 43 – Segmentação de mercado e posicionamento (...) mulheres têm um perfil mais comunitário; homens são mais individualistas e objetivos. As mulheres costumam assi- milar informações do ambiente em que vivem como um todo; os homens tendem a focar a parte do ambiente que lhes permite atingir um objetivo. (KOTLER, 2012, p. 231) Não só o gênero, mas ainda a renda dos consumidores também serve como referência para uma possível segmentação. Esse critério de segmentação é bastante utilizado por diversas empresas que trabalham com muitas catego- rias de produtos e serviços. Produtos Premium ou populares, e bens de con- sumo em geral, levam, basicamente, em consideração o poder aquisitivo do consumidor para oferecer seu portfólio. O Brasil observa, nos últimos anos, o crescimento da classe média (Classe C) e, seu respectivo aumento de renda se reflete em mercados cada vez mais segmentados sob a ótica da renda. É sabido que hoje a classe média no Brasil corresponde a mais de 50% da população3. As informações sobre a renda da população são muito importantes den- tro dos processos de segmentação, porém é importante que a empresa tenha consciência da renda média dos mercados em que atua. É bastante comum uma empresa imaginar que seu consumidor ou potencial consumidor tem um determinado perfil (segundo sua renda), mas na verdade tem outro. Nesse contexto, as empresas que têm a “cultura da pesquisa” estão um passo à frente de seus concorrentes. Pesquisar sempre estará no centro das ações de marke- ting e a possibilidade de as pessoas comprarem produtos mais caros ou mais baratos deve ser estudada e compreendida pelos profissionais de marketing. A geração do consumidor ou grupo de consumidores também é um fator a se considerar como critério para a segmentação. Isso porque cada gera- ção cresce sob a influência de diversos aspectos, como as músicas, os filmes, a política, a economia etc. de um determinado período que marcam as pes- soas e que acabam por isso tendo certos comportamentos de compra bem específicos. Existem pessoas “mais nostálgicas”, mais críticas, mais despojadas etc. que dependendo das influências que citadas acima (e outras influencias) devem ser observadas mais atentamente. Dessa maneira, as empresas devem perceber tais influencias e oferecer-lhes produtos e serviços que vão ao encon- tro de suas necessidades e desejos. Costumamos “classificar” as pessoas per- 3 Fonte IBGE. Disponível em www.ibge.gov.br. – 44 – Marketing tencentes a uma determinada geração, o que o autor Kenneth Gronbach citado por Philip Kotler chama de Cohorts4. A Geração Y, a Geração X, a Geração dos Baby Boomers e a chamada Geração Silenciosa são exemplos de Cohorts. Todas têm características, perfis de consumo e de comportamento peculiares que devem ser observados pelas empresas que pretendem atender os segmentos a que pertencem. Mesmo levando em consideração que o exemplo a seguir se insere na cultura norte- -americana, podemos vislumbrar certas semelhanças com as gerações brasi- leiras. (KOTLER, 2012, p. 232 a 236) Perfil dos cohorts de gerações norte-americanas Cohort gera- cional Faixa de nas- cimento Tamanho aproxi- mado Características Geração Y (geração do milênio) 1979- 1994 78 milhões Criados com relativa riqueza, tecnologica- mente conectados e preocupados com o meio ambiente e as questões sociais, eles tam- bém têm um forte senso de independência e uma imunidade percebida ao marketing. Geração X 1964- 1978 50 milhões Às vezes, considerados uma geração que preen- che a fenda de duas outras, eles fazem a ponte entre o conhecimento tecnológico da geração Y e as realidades adultas dos Baby Boomers. Baby Boomers 1946- 1964 76 milhões Ainda fortemente no auge de seu ciclo de con- sumo, eles adotam produtos e estilos de vida que lhes permitam voltar ao passado. Geração Silenciosa 1925- 1945 42 milhões Desafiando a idade avançada. Eles mantêm uma vida ativa e adotam produtos e ações de marketing que os ajudem a conseguir isso. Fonte: Adaptado de Gronbach apud Kotler ( 2012). 4 Grupo cujos membros partilham de uma significante experiência em um deter- minado período de tempo ou ter uma ou mais características semelhantes. (disponivel em: http://www.businessdictionary.com acesso:21/03/2014 às 15h 00 min ) – 45 – Segmentação de mercado e posicionamento O último critério de base demográfica que apresentaremos aqui se refere à raça e a cultura de um determinado grupo, pois é comum as empresas levarem em consideração os chamados aspectos étnicos e raciais. Apesar de considerarmos a expressão “aspecto racial” um termo pejorativo que envolve questões legais inclusive, essa expressão ainda consta nos livros de marketing. Assim, vamos nos ater à questão étnica e cultural que é mais pertinente aos nossos estudos. (KOTLER, 2012 p. 236) O marketing multicultural é uma abordagem que reconhece que os diferentes segmentos étnicos e culturais têm neces- sidades e desejos suficientemente diferentes para demandar atividades de marketing direcionadas, e que uma abordagem de massa não é refinada o bastante para a diversidade do mer- cado. (KOTLER, 2012, p. 236). Se pensarmos em termos de Brasil, podemos observar uma riqueza étnica que não é vista em muitos países ao redor do mundo e as empresas devem prestar atenção nestes segmentos. Imigrantes, pessoas de origens orientais, afrodescendentes, europeus ou seus descendentes, entre outros, fazem parte de segmentos que podem consumir determinada maneira e podem ter aspi- rações e necessidades diferentes. Se bem observado pelas empresas, esses aspectos podem se tornar oportunidades de mercado bastante interessantes. (KOTLER, 2012, p. 236) 2.9.3 Segmentação psicográfica A dimensão psicográfica de um mercado refere-se a um segmento com traços psicológicos e de personalidade, estilos de vida e valores semelhantes. É importante observar que pessoas do mesmo grupo demográfico podem ter diferentes perfis psicográficos. Nos grupos segmentados de acordo com critérios psicológicos, podem-se observar os consumidores inovadores, os satisfeitos, os realizadores, e os expe- rimentadores (que contam com mais recursos) e os consumidores crentes, batalhadores, fazedores e os sobreviventes (que contam com menos recursos). A ideia é que cada um destes perfis merece uma atenção especial por parte das empresas que assim podem oferecer seus produtos e serviços com mais “precisão”. (KOTLER, 2012, p. 240) – 46 – Marketing Os profissionais de marketing têm usado também variáveis de personalidade para segmentar mercados. Por exemplo, a campa- nha de marketing das scooters da Honda parece ser voltada para jovens até 22 anos que acompanham tendências, mas na verdade está voltada para um grupo de personalidade muito mais amplo. Um antigo anúncio, por exemplo, mostrava uma criança alegre pulando em sua cama, enquanto o anunciante dizia: “Você pas- sou a vida inteira tentando chegar lá”. Esse anúncio fazia as pes- soas se lembrarem da sensação de euforia que sentiam quando passavam por cima da autoridade dos pais e faziam coisas que eles haviam lhes advertido que não o fizessem. Assim a Honda apela para a criança rebelde e independente dentro de cada um de nós. Na verdade 22% dos proprietários de scooters são apo- sentados. (KOTLER, 2007, p. 168)
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