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ANÁLISE DO DISCURSO DOCENTE: TÂNIA PITOMBO ACADÊMICAS: ALANA E PAULA 5 FASE DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS ESQUECIMENTO No livro da Eni P.Orlandi, segundo M.Pêcheux (91975), podemos distinguir duas formas de esquecimento no discurso. Esquecimento número dois, que é da ordem da enunciação: ao falarmos, o fazemos de maneira e não de outra, e, ao longo de nosso dizer, formam-se famílias parafrásticas que indicam que o dizer sempre podia ser outro. “[...] Ao falarmos “sem medo”, por exemplo, podíamos dizer “com coragem”, ou “livremente” etc. Isto significa em nosso dizer e nem sempre temos consciência disso. Este “ esquecimento” produz em nós a impressão da realidade do pensamento. Essa impressão, que é denominada ilusão referencial, nos faz acreditar que há uma relação direta entre o pensamento, a linguagem e o mundo, de tal modo que pensamos que o dizemos só pode ser dito com palavras e não outras, que só pode ser assim. Ela estabelece uma relação “natural” entre palavra e coisa. (ORLANDI págs. 34,35). “ [...] Já o outro esquecimento é o esquecimento número um, também chamado esquecimento ideológico: ele é da instância do inconsciente e resulta do modo pelo qual somos afetados pela ideologia. Por esse esquecimento temos a ilusão de ser a origem do que dizemos quando, na realidade, retomamos sentidos preexistentes. Esse esquecimento reflete o sonho adâmico: o de estar na inicial absoluta da linguagem, ser o primeiro homem, dizendo as primeiras palavras que significariam apenas e exatamente o que queremos.” (ORLANDI pág35.). PARÁFRASE E POLISSEMIA “[...] Os processos parafrásticos são aqueles pelos quais em todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a memória. A paráfrase representa assim o retorno aos mesmos espaços do dizer. Produzem-se diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado. A paráfrase está do lado da estabilização. Ao passo que, na polissemia, o que temos é deslocamento, ruptura de processos de significação. Ela joga com o equívoco. Essas são duas forças que trabalham continuamente o dizer, de tal modo que todo discurso se faz nessa tensão: entre o mesmo e o diferente. Se toda vez que falamos, ao tomar a palavra, produzimos uma mexida na rede de filiação dos sentidos, no entanto, falamos com palavras já ditas. E é nesse jogo entre paráfrase e polissemia, entre o mesmo e o diferente, entre o já dito e o a se dizer que os sujeitos e os sentidos se movimentam, fazem seus percursos, (se) significam. (ORLANDI, pg36). RELAÇÕES DE FORÇAS, RELAÇÕES DE SENTIDOS, ANTECIPAÇÃO = FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS “ [...] As condições de produção, que constituem os discursos, funcionam de acordo com certos fatores. Um deles é o que chamamos relação de sentidos. Segundo essa noção, não há discurso que não se relacione com outros. Em outras palavras, os sentidos resultam da relação: um discurso aponta para outros que os sustentam, assim como para dizeres futuros.” (ORLANDI pág39.) “[...] Por outro lado segundo o mecanismo da antecipação, todo sujeito tem a capacidade de experimentar, ou melhor, de colocar-se no lugar em que o seu interlocutor “ouve” suas palavras. Ele antecipa-se assim o seu interlocutor quanto ao sentido que suas palavras produzem. Esse mecanismo regula a argumentação, de tal forma que o sujeito dirá de um modo, ou de outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu ouvinte.”(ORLANDI pág. 39) “ [...] Temos a chamada relação de forças. Segundo essa noção, podemos dizer que o lugar a partir do qual fala o sujeito é constitutivo do que ele diz. Assim, se o sujeito fala a partir do lugar do professor, suas palavras significam de modo diferente do que se falasse do lugar do aluno.” (ORLANDI pág. 39) ESQUECIMENTO Memória discursiva “ [...] No nível da intertextualidade interna, interior ao campo, de maneira geral, a toda formação discursiva se vê associar uma memória discursiva. É a memória discursiva que torna possível a toda formação discursiva fazer circular formulações anteriores, já enunciadas. É ela que permite, na rede de formulações que constitui o intradiscurso de uma FD, o aparecimento, a rejeição ou a transformação de enunciados pertencentes a formações discursivas historicamente contíguas. Não se trata, portanto, de uma memória psicológica, mas de uma memória que supõe o enunciado inscrito na história. (BRANDÃO págs. 76,77).” “[...] Maingueneau (1983, 1984) liga a questão da interdiscursividade com a gênese discursiva para mostrar que não existe discurso autofundado, de origem absoluta. Enunciar é se situar sempre em relação a um já-dito que se constitui no Outro do discurso. Em outros termos, na medida em que cronologicamente é o discurso segundo que se constitui através do primeiro, parece, com efeito, lógico pensar que este discurso primeiro é o Outro do discurso segundo, não sendo possível o inverso.” (BRANDÃO pág 77) Paráfrase e Polissemia “[...] Formalmente, a noção de FD envolve dois tipos de funcionamento: a) a paráfrase: uma FD é constituída por um sistema de paráfrase, isto é, é um espaço em que enunciados são retomados e reformulados num esforço constante de fechamento de suas fronteiras em busca da preservação de sua identidade. A essa noção Orlandi (1984) contrapõe uma outra: a de polissemia, atribuindo a esses conceitos opositivos o papel de mecanismo básicos de funcionamento discursivo. Enquanto a paráfrase é um mecanismo de “fechamento”, de “delimitação” das fronteiras de uma formação discursiva, a polissemia rompe essas fronteiras, “embaralhando” os limites entre diferentes formações discursivas, instalando a pluralidade, a multiplicidade de sentidos. “ (BRANDÃO pág 39) “[...] Dessa forma, embora uma FD determine a seus falantes “ o que deve e pode ser dito” buscando uma homogeneidade discursiva, os eleitos das contradições ideológicas de classe são recuperáveis no interior mesmo da “ unidade” dos conjuntos de discurso.” (BRANDÃO pág 40) RELAÇÕES DE FORÇAS, RELAÇÕES DE SENTIDOS, ANTECIPAÇÃO = FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS “[...] Constituindo o discurso um dos aspectos matérias de ideologia, pode-se afirmar que o discurso é uma espécie pertencente ao gênero ideológico. Em outros termos, a formação ideológica tem necessariamente como um de seus componentes uma ou várias formações discursivas interligadas. Isso significa que os discursos são governados por formações ideológicas. “ (BRANDÃO pág. 38). “[...] São as formações discursivas que, em uma formação ideológica específica e levando em conta uma relação de classe, determinam “o que pode e deve ser dito” a partir de uma posição dada em uma conjuntura dada.” (BRANDÃO pág. 38) Esquecimento [...] Nossos deslocamento de um lugar para outro, que ocorrem quando ainda não falamos, estruturam, pois, um esquema imagético, e portanto não-proposicional. Esse esquema Lakoff denomina CAMINHO e pode ser esquematizado como a seguir: A (fonte do movimento ________________________ B (alvo do movimento) Muitos outros esquemas derivam diretamente de nossas experiências corpóreas no mundo. Por exemplo, o esquema de estar dentro e fora de algum lugar, chamado RECIPIENTE; o esquema de balanço, BALANÇO, aprendido em nosso ensaios para ficar em pé. São esses esquemas que dão sentido ás nossas sequências linguística. Os dois primeiros exemplos a seguir são instâncias do esquema do CAMINHO, os dois últimos, do RECIPIENTE. “ [...] (28) Fui do quarto para a sala. (29) Vim de São Paulo. (30) Estou em Florianópolis. (31) Nasceu no Brasil. “ [...] O que dá sentido às sentenças (28 a (31) não é a relação de correspondência com o mundo, nem uma relação de dialogia com um outro, nem os encadeamentos discursivos , mas o fato de que em (28) e(29) está presente o esquema imagético CAMINHO, e em (30) e (31) o esquema RECIPIENTE. Esses esquemas organizações cinestesias diretamente apreendidas, carregam uma memória de movimentação ou de experiência. “[...] É essa memória que ampara nosso falar e pensar. Por isso, o significadoé uma questão da cognição em geral, e não um fenômeno pura ou prioritariamente linguístico. A linguagem articulada não é mais que uma das manifestações superficiais da nossa estruturação cognitiva, que lhe antecede e dá consistência. (MUSSALIM pág. 35). RELAÇÕES DE FORÇAS, RELAÇÕES DE SENTIDOS, ANTECIPAÇÃO = FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS [...] “De acordo com o quadro, um mesmo enunciado pode ser compreendido de duas maneiras, dependendo do lugar ideológico de onde é enunciado. “ A força para mudar o que eu puder” pode significar a luta por uma transformação pautada pelo egocentrismo e individualismo. Ao mesmo tempo, enunciados como “ A inabilidade para aceitar o que eu não posso” e “A incapacidade para ver a diferença”, que parecem nos remeter univocamente à “FD individualista”, no quadro são apresentados como nos remetentes também à “FD cristã”. (MUSSALIM pág. 127) REFERÊNCIAS BRANDÃO. HELENA. H.N.INTRODUÇÃOÀ ANÁLISE DO DISCURSO 8ªed.CAMPINAS, SÃO PAULO; EDITORA DA UNICAMP, 2002. MUSSALIM.FENANDA, ANNA CHRISTINA BENTES 5ª ed- SÃO PAULO CORTEZ 2006. ORLANDI,ENI.P. ANÁLISE DE DISCURSO: PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTOS. 12 ed. CAMPINAS, SP. 2015.