Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AUDITORIA DE T.I PROCESSO PENAL NA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO Faculdade de Minas 2 SUMÁRIO 1.1 PROCESSOS PENAIS NA JUSTIÇA Militar da União aspectos introdutorios. .............................................................................................................. 4 1.2 PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL MILITAR ............................ 6 1.3 AÇÃO PENAL MILITAR ....................................................................... 10 1.4 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ......................................................... 19 1.5 INQUÉRITO POLICIAL MILITAR ......................................................... 30 REFERENCIAS ............................................................................................. 37 Faculdade de Minas 3 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 1.1 PROCESSOS PENAIS NA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO ASPECTOS INTRODUTORIOS. Em 1969 entraram em vigor o Código Penal Militar (Decreto-lei 1.001/1969) e o Código de Processo Penal Militar (Decreto-lei 1.002/1969). Épocas também foram preparadas novas normas penais gerais, mas estas, apesar de publicadas, nunca entraram realmente em vigor. O resultado é que as normas penais militares que utilizamos hoje são velhas, mas as normas penais gerais só ainda mais antigas, e por isso tem incompatibilidades entre o Direito Processual Penal e o Direito Processual Penal Militar. A finalidade do Direito Processual é estudar os atos praticados pelo Estado quando uma lide é levada sua apreciação. O Estado detém o monopólio da violência legítima, e somente o Poder Judiciário tem a competência de dizer o direito aplicável a cada caso concreto. No Direito Processual Penal Militar estudaremos a série de atos concatenados que devem ser praticados no ‚âmbito da Justiça Militar, para que o Estado possa determinar o Direito objetivo aplicável a cada caso. Faculdade de Minas 5 FONTE: Google imagens – acesso em 25/10/2020 A lei processual penal militar também disciplina as atividades da polícia judiciária militar e a condução do inquérito policial militar, que é a pela informativa que fornece subsídios ao Ministério Público Militar para oferecer a denúncia e promover o processo penal militar. No Direito Processual Penal Militar também são observados diversos princípios aplicáveis ao Direito Processual Penal Faculdade de Minas 6 1.2 PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL MILITAR PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL Art. 5º/CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; Devem respeitar todas as formalidades previstas na legislação para que o Estado possa aplicar a lei no caso concreto com a possibilidade de cerceamento da liberdade (sentido amplo) e para que sejam garantidos os seus direitos perante o Estado acusador e punitivo. É o princípio fundamental do ordenamento jurídico processual. Todos os outros derivam dele. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL Art. 5º/CF. (...) LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; (...) XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; Faculdade de Minas 7 PRINCÍPIO DO ESTADO DE INOCÊNCIA É diferente de presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF). Admite medidas cautelares privativas da liberdade de natureza cautelar. Enquanto não houver condenação definitiva, presume-se o réu inocente: sua prisão antes do trânsito em julgado só pode ser admitida a título de cautela. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA Art. 5º/CF. (...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Supõe conhecimento dos atos processuais pelo acusado e seu direito de resposta e de reação. Não se confunde com o devido processo legal, integra-o. Está previsto na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José de Costa Rica). Consuetudinário lógico do sistema acusatório, em que as partes devem possuir plena igualdade. O acusado deve ter ciência da acusação para poder responder, dar a sua versão dos fatos. Decorrência audiatur et altera pars – a parte contrária deve também ser ouvida. Faculdade de Minas 8 PRINCÍPIO DA VERDADE REAL Investigação dos fatos como se passaram na realidade (verdade material), possibilitando ao juiz determinar diligências de ofício, para melhor esclarecimento dos fatos investigados. O processo faz o “caminho do crime”, (re)constrói os fatos como se deram. Faz a história de como o crime ocorreu (realidade) para a correta aplicação da lei. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Pode ser geral (popular) ou especial (para as partes do processo). Art. 5º/CF. (...) LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; A publicidade dos atos processuais integra o devido processo legal. No Direito pátrio vigora o princípio da publicidade absoluta, como regra. As audiências, as sessões e a realização de outros atos processuais são franqueadas ao público em geral, ressalvados os casos específicos em lei. Faculdade de Minas 9 PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE Presentes as condições da ação penal militar, o MPM é obrigado a oferecer denúncia. PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE O MPM é o exclusivo titular da ação penal militar, que é sempre pública, ressalvada a possibilidade da ação privada subsidiária da pública. Art. 129/CF. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; PRINCÍPIO DA INICIATIVA DAS PARTES E DO IMPULSO OFICIAL O juiz não pode dar início ao processo sem a provocação da parte legítima. Cabe à parte provocar a prestação jurisdicional. Háalgumas situações em que este princípio é mitigado; a concessão de habeas corpus de ofício, decretação de ofício da prisão preventiva e produção de provas (verdade real). Art. 5º/CF. (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; São ilícitas as provas obtidas mediante a prática de algum ilícito, seja penal, civil ou administrativo, da parte daquele encarregado de produzi-las. Faculdade de Minas 10 1.3 AÇÃO PENAL MILITAR Ação penal é o direito público subjetivo que tem o Estado de buscar a concretização do ius puniendi e tem como seu titular o Ministério Público Militar. Para Loureiro Neto1 ação nada mais é do que invocar a jurisdição do juiz, a fim de que o Poder Judiciário aplique o direito objetivo a determinado caso concreto. Consiste no direito de se pedir ao Estado Juiz a aplicação do Direito Penal Militar objetivo. O Código Penal Militar e o Código de Processo Penal Militar contêm regras sobre ação penal perante a justiça militar. A natureza jurídica da ação penal é processual. A ação penal pode ser pública, e se subdivide em: ação penal pública incondicionada e ação penal pública condicionada, por sua vez condicionada à representação do ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça; e ação penal privada e ação penal privada subsidiária da pública. A ação penal militar é pública e somente pode ser promovida por denúncia do Ministério Público Militar (art. 29, CPPM). Vale ressaltar, que há possibilidade de ação penal privada subsidiária da pública na justiça militar. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141 (hostilidade contra país estrangeiro, provocação a país estrangeiro, ato de jurisdição indevida, violação de território estrangeiro, entendimento para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra, entendimento para gerar conflito ou divergência com o Brasil) do Código Penal Militar, a ação penal é pública condicionada; quando o agente for militar ou assemelhado, Faculdade de Minas 11 depende de requisição, que será feita ao procurador-geral da Justiça Militar, pelo Ministério a que o agente estiver subordinado; no caso do art. 141, CPM, quando o agente for civil e não houver coautor militar, a requisição será do Ministério da Justiça (art. 31, CPPM). A requisição é uma condição de procedibilidade, tem natureza jurídica de um ato administrativo, discricionário e irrevogável, e não vincula a atuação do Ministério Público que é titular da ação penal. No Processo Penal Militar não se admite a ação penal privada, exceto a subsidiária da pública, consoante o disposto no art. 5º, LIX, CF, nem a pública condicionada à representação, ocorrendo apenas a hipótese da ação penal pública incondicionada e a da condicionada à requisição do Ministério Militar (Comandante Militar da Arma) se o agente for militar, ou do Ministério da Justiça se o agente for civil. Não há ação penal exclusiva privada na Justiça Militar. Há outra possibilidade de ação penal pública condicionada: quando comandante do teatro de operações cometer crime, responderá a processo perante o Superior Tribunal Militar, condicionada a instauração da ação penal à requisição do Presidente da República (art. 95, parágrafo único, Lei de Organização da Justiça Militar da União). Faculdade de Minas 12 PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE Art. 129/CF. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; Art. 29/CPPM. A ação penal é pública e somente pode ser promovida por denúncia do Ministério Público Militar. A CF dá atribuição privativa para ação penal pública ao Ministério Público, e o CPPM diz que somente o Ministério Público Militar pode promover a ação penal militar, salvo privada subsidiária da Pública. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE Art. 30/CPPM. A denúncia deve ser apresentada sempre que houver: a) prova de fato que, em tese, constitua crime; b) indícios de autoria. Havendo crime em tese, aferindo apenas a tipicidade, prova da materialidade e indícios de autoria, o Ministério Público Militar está obrigado a ofertar a denúncia. Para o oferecimento da denúncia deve-se utilizar o in dubio pro societatis, sendo o fato típico, o Ministério Público Militar deverá oferecer a denúncia. Faculdade de Minas 13 PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE Art. 32/CPPM. Apresentada a denúncia, o Ministério Público Militar não poderá desistir da ação penal. A indisponibilidade é que, uma vez proposta a ação penal, mediante o oferecimento da denúncia e recebimento dessa, há uma ação penal tramitando, a partir daí o Ministério Público Militar não pode desistir da ação, não pode desistir do processo. Ressalta-se que o Promotor Militar tem independência funcional e, sopesando a prova contida nos autos, convence-se de que não é caso de condenação e postula a absolvição. Essa hipótese não é de disposição (desistência) da ação penal militar, pois o seu requerimento não vincula o órgão julgador que pode condenar, mesmo com a postulação de absolvição do titular da ação penal. O processo inicia-se com o recebimento da denúncia pelo juiz, efetiva-se com a citação do acusado e extingue-se no momento em que a sentença definitiva se torna irrecorrível, quer resolva o mérito quer não. A competência para decidir sobre o recebimento da denúncia é do Juiz-Auditor monocraticamente, a quem é endereçada. A partir deste momento passa a atuar o Conselho de Justiça Permanente (acusado civil ou praça) ou Conselho Especial de Justiça (acusado oficial e/ou civil ou praça em concurso com oficial). CASOS DE SUSPENSÃO DO PROCESSO O Processo Penal Militar suspende-se e extingue-se nos casos previstos no Código de Processo Penal Militar. Faculdade de Minas 14 NO CASO DE CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA O relator do feito poderá ordenar, desde logo, que se suspenda o andamento do processo, até a decisão final. EM QUESTÕES PREJUDICIAIS O juiz poderá suspender o processo e aguardar a solução, pelo juízo cível, de questão prejudicial que não se relacione com o estado civil das pessoas, desde que: tenha sido proposta ação civil para dirimi-la; seja ela de difícil solução e não envolva direito ou fato cuja prova a lei civil limite. NA EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO OU IMPEDIMENTO O juiz sustará a marcha do processo, mandará juntar aos autos o requerimento do recusante com os documentos que o instruam e, por despacho, se declarará suspeito, ordenando a remessa dos autos ao substituto. NA EXCEÇÃO DE LITISPENDÊNCIA Se o arguente não puder apresentar a prova da alegação, o juiz poderá conceder-lhe prazo para que o faça, ficando-lhe, nesse caso, à discrição, suspender ou não o curso do processo. Faculdade de Minas 15 EM INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL Sustará o processo quanto à produção de prova em que seja indispensável a presença do acusado submetido ao exame pericial. NO CASO DE DOENÇA MENTAL SUPERVENIENTE Caso a doença mental sobrevier ao crime, o inquérito ou o processo ficará suspenso, se já iniciados, até que o indiciado ou acusado se restabeleça, sem prejuízo das diligências que possam ser prejudicadas com o adiamento. NO INCIDENTE DE FALSIDADE DE DOCUMENTO O juiz poderá sustar o feito até a apuração da falsidade, se imprescindível para a condenação ou absolvição do acusado, sem prejuízo, entretanto, de outras diligências que não dependam daquela apuração. CASO DE EXTINÇÃO DO PROCESSO Pelo reconhecimento das causas extintivas da punibilidade previstas no art. 123 do Código Penal Militar. NA EXISTÊNCIA DE COISA JULGADA Se o juiz reconhecer que o feito sob seu julgamento já foi, quanto ao fato principal,definitivamente julgado por sentença irrecorrível, mandará arquivar a nova denúncia, declarando a razão por que o faz. Faculdade de Minas 16 INAPLICABILIDADE DA LEI 9.099/95 NO ÂMBITO DA JUSTIÇA CASTRENSE A aplicabilidade dos benefícios da Lei n. 9.099/95 no âmbito da Justiça Militar foi vedada pela legislador com o advento da Lei n. 9.839/99, o qual criou o art. 90-A inserido na primeira lei (“As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar”), todavia, vem se observando que muitos Juízes têm reconhecido a inconstitucionalidade dessa vedação e continuam aplicando a mencionada Lei que disciplina o tratamento das infrações de pequeno potencial ofensivo e assim dispõe da ação penal pública condicionada para os delitos de lesão corporal dolosa leve e de lesão culposa, além da suspensão condicional do processo. Para Damásio de Jesus, no que tange aos delitos militares próprios, ainda poderia ser defensável a lei nova, uma vez que são regidos pelas regras da hierarquia e disciplina. No que diz respeito aos delitos militares impróprios, contudo, é de flagrante inconstitucionalidade, ferindo os princípios de isonomia e da proporcionalidade. Abriu-se uma discussão no STF da possível aplicabilidade da Lei n. 9.099/95 aos civis que cometessem crimes militares. O Plenário denegou habeas corpus impetrado em favor de militar condenado, pela prática do crime de deserção (art. 187, CPM), à pena de 6 meses de detenção. A defesa solicitava que fosse declarada a inconstitucionalidade da Lei n. 9.839/99, que dispõe sobre a inaplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais no âmbito da justiça militar. Os Ministros Luiz Fux, Ayres Britto e Celso de Mello também denegaram o writ, em razão de o paciente ser militar, mas declararam, obter dictum, que se ele fosse civil deveria ser excluído do âmbito de incidência da lei restritiva. O Min. Luiz Fux afirmou, com ênfase no princípio da isonomia, haver casos em que particulares Faculdade de Minas 17 cometem crimes subsumidos ao CPM que possuem figuras assemelhadas no âmbito da legislação comum. Sublinhou que, na hipótese de crimes comuns, eles teriam direito ao benefício da suspensão condicional. Frisou que o fato de esse diploma proibir o sursis processual, mas, ao mesmo tempo, garantir a suspensão condicional da pena, seria um paradoxo. Consignou que a arguição de que as organizações militares são engendradas com fundamento na disciplina não seria compatível com a CF, visto que a ordem constitucional teria surgido para imprimir disciplina nas relações jurídicas entre os cidadãos, mas o descumprimento voluntário do Direito seria um fenômeno histórico e a razão de ser da sanção correspondente. Acrescentou que a Constituição tem a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República, bem como estabelece que o país é pacífico e que as Forças Armadas têm papel notadamente preventivo. Destacou que o mesmo raciocínio deveria ser aplicado no caso de lex mitior, que teria de incidir em crime militar. O Min. Celso de Mello lembrou que a lei impugnada teria surgido como uma reação da justiça castrense em face de decisões do STF que firmaram entendimento no sentido da plena aplicabilidade da Lei n. 9.099/95 ao processo penal militar, inclusive quanto aos institutos despenalizadores por ela criados. Asseverou, também, que civis, notadamente em tempos de paz, não estariam sujeitos à hierarquia e à disciplina militar. Por fim, os Ministros Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso, Presidente, denegaram a ordem, porém não se manifestaram acerca da constitucionalidade ou não, do preceito discutido, considerado o contexto fático do processo: EMENTA: PENAL MILITAR. HABEAS CORPUS. DESERÇÃO – CPM, ART. 187. Faculdade de Minas 18 CRIME MILITAR PRÓPRIO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO - ART. 90-A, DA LEI N. 9.099/95 – LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS. INAPLICABILIDADE, NO ÂMBITO DA JUSTIÇA MILITAR. CONSTITUCIONALIDADE, FACE AO ART. 98, INCISO I, § 1º, DA CARTA DA REPÚBLICA. OBITER DICTUM: INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA EM RELAÇÃO À CIVIL PROCESSADO POR CRIME MILITAR. O art. 90-A, da n. 9.099/95 - Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais -, com a redação dada pela Lei n. 9.839/99, não afronta o art. 98, inciso I, § 1º, da Carta da República no que veda a suspensão condicional do processo ao militar processado por crime militar. In casu, o pedido e a causa de pedir referem-se apenas a militar responsabilizado por crime de deserção, definido como delito militar próprio, não alcançando civil processado por crime militar. Obiter dictum: inconstitucionalidade da norma que veda a aplicação da Lei n. 9.099 ao civil processado por crime militar. Ordem denegada. (HC 99743/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 6.10.2011.) Já está sinalizando pela aplicabilidade apenas na Justiça Militar da União quando o réu for civil. Frisa-se, não há decisão específica sobre o tema, apenas na fundamentação do acórdão colacionado acima. Entendemos pela aplicabilidade dos institutos despenalizadores aos crimes militares impróprios cometidos por civis ou militares, pois não pode a lei dar um tratamento desigual a um determinado fato-crime, por exemplo, furto julgado na justiça comum e furto julgado na justiça militar com a possibilidade de suspensão condicional de processo em uma justiça em outra não. Ainda, pelo princípio da igualdade, deve-se tratar os desiguais de maneira desigual e nos casos autorizados pela Constituição Federal, que não é o caso. Os Tribunais de Justiça Militar dos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul comungam do entendimento e também decidem pela inaplicabilidade da Lei n. 9.099/95 aos militares estaduais. Há decisões no TJMG pela aplicação dos institutos da transação penal e suspensão condicional do processo. Entendem que a vedação do art. 90-A refere-se apenas à Justiça Militar da União. Ressalta-se que os juízes de direito da Justiça Militar de MG aplicam os institutos e algumas decisões são reformadas pelo tribunal mineiro e outras confirmadas. Faculdade de Minas 19 1.4 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA Jurisdição é a função estatal exercida com exclusividade pelo poder judiciário, consistente na aplicação de normas da ordem jurídica a um caso concreto, com a consequente solução do litígio. É o poder de julgar um caso concreto, de acordo com o ordenamento jurídico, por meio do processo. . A competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa limites dentro dos quais o juiz pode prestar jurisdição); aponta quais os casos que podem ser julgados pelo órgão do poder judiciário. É, portanto, uma verdadeira medida da extensão do poder de julgar. ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA a) Ratione materiae: em razão da matéria, do crime praticado. Os crimes militares estão previstos nos arts. 9º e 10º do Código Penal Militar. Na legislação especial militar, adota-se o critério ex vis legis para saber se o crime é militar. b) Ratione personae: em razão de uma qualidade da pessoa ou da função exercida, seriam os foros por prerrogativa de função que, enquanto o sujeito estiver desempenhando alguma atividade que a lei determine que seus integrantes responderão em foro privilegiado. A prerrogativa é em razão do cargo ocupado. c) Ratione loci, que seria determinada, de modo geral, pelo lugar da infração, pela residência ou domicílio do acusado. Faculdade de Minas 20 DIVISÃO JUDICIÁRIA MILITAR A delimitação da jurisdição, ou seja, a competência para facilitar a aplicação da lei penal, é delimitada em comarcas na Justiça Estadual, seção e subseção na Justiça Federal e circunscrição na Justiça Militar. A Justiça Militar divide-se em Justiça Militar da União, com competência para processar e julgar os integrantes das Forças Armadas e os civisque venham a praticar crimes militares, e Justiça Militar Estadual, com competência para processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares que venham a cometer crimes militares. DAS CIRCUNSCRIÇÕES JUDICIÁRIAS MILITARES Diz o art. 2º da Lei n. 8.457/92 (Lei de Organização da Justiça Militar da União): Art. 2º. Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de paz, o território nacional divide-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares, abrangendo: a) 1ª - Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (quatro Auditorias); b) 2ª - Estado de São Paulo ( duas Auditorias); c) 3ª - Estado do Rio Grande do Sul (três Auditorias); d) 4ª - Estado de Minas Gerais; e) 5ª - Estados do Paraná e Santa Catarina; f) 6ª - Estados da Bahia e Sergipe; g) 7ª - Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas; h) 8ª - Estados do Pará, Amapá e Maranhão; i) 9ª - Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso;j) 10ª - Estados do Ceará e Piauí;l) 11ª - Distrito Federal e Estados de Goiás e Tocantins (duas Auditorias); m) 12ª - Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. A Justiça Militar é dividida em Circunscrições Judiciárias, para efeito de competência. A cada Circunscrição Judiciária Militar corresponde uma Auditoria, com Faculdade de Minas 21 exceção da 1ª, que tem quatro Auditorias, da 2ª com duas Auditorias, da 3ª, com três Auditorias e da 11ª, com duas Auditorias, embora ainda não tenha sido instalada a 2ª Auditoria da 11ª CJM. Por sua vez, cada Auditoria tem um juiz-auditor e um juiz- auditor substituto, além dos funcionários constantes do quadro previsto em lei. COMPETÊNCIA E SUA DETERMINAÇÃO A função jurisdicional, que é uma só, é atribuída abstratamente a todos os órgãos do Poder Judiciário, passa por um processo gradativo de concretização, até chegar-se à determinação do juiz competente para o processo, por meio de regras constitucionais e legais que atribuem a cada órgão o exercício da jurisdição com referência a dada categoria de causa (regras de competência), e excluem os demais órgãos jurisdicionais para que só aquele deva exercê-la em concreto.4 Para se chegar à competência militar, pode-se fazer o seguinte caminho: No primeiro momento tem- se que saber se trata-se de crime militar (legislação especial) em razão da matéria (art. 9º, CPM). Sendo crime militar, se é crime militar estadual ou federal. Se é crime militar estadual, saber se é competência do juiz de direito ou do conselho de justiça permanente ou conselho de justiça especial (competência interna). Se é crime militar federal, saber se é o conselho permanente de justiça ou conselho especial que julga (competência interna) ou qual o órgão jurisdicional hierarquicamente competente, caso o acusado tenho foro por prerrogativa de função. Respondendo a essas questões, por fim, saber o lugar da infração ou residência ou domicílio do acusado e, não sendo possível utilizar a regra da prevenção para determinar qual a circunscrição judiciária competente, saber qual auditoria militar que irá julgar (competência ratione Faculdade de Minas 22 loci). E por fim, pela distribuição ou prevenção, saber qual o juiz competente dessa auditoria militar. DO FORO MILITAR (ARTS. 82 A 84, CPPM) Diz o art. 82, CPPM: Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo de paz: I - nos crimes definidos em lei contra as instituições militares ou a segurança nacional: a) os militares em situação de atividade e os assemelhados na mesma situação; b) os militares da reserva, quando convocados para o serviço ativo; c) os reservistas, quando convocados e mobilizados, em manobras, ou no desempenho de funções militares; d) os oficiais e praças das Polícias e Corpos de Bombeiros, Militares, quando incorporados às Forças Armadas. Nos crimes funcionais contra a administração militar ou contra a administração da Justiça Militar, os auditores, os membros do Ministério Público, os advogados de ofício e os funcionários da Justiça Militar. O fôro militar se estenderá aos militares da reserva, aos reformados e aos civis, nos crimes contra a segurança nacional ou contra as instituições militares, como tais definidas em lei. Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum. Faculdade de Minas 23 FORO MILITAR EM TEMPO DE GUERRA O foro militar, em tempo de guerra, poderá, por lei especial, abranger outros casos além dos previstos, desde que tenham previsão legal anterior, respeitando o princípio da legalidade e da vedação do julgamento por tribunal de exceção, ou seja, a previsão tem que ser anterior ao fato. COMPETÊNCIA DO FORO MILITAR A competência do foro militar será determinada: a) pelo lugar da infração (arts. 88 a 92, CPPM) (forum commissi delicti). A competência será, em regra, determinada pelo lugar da infração; e, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. Para a fixação da competência pelo lugar da infração, o Código de Processo Penal Militar adotou a teoria do resultado. Não há conflito com a regra do Código Penal Militar que adota quanto ao local do crime a teoria da ubiquidade ou mista. Este regramento é utilizado para os crimes à distância, ou seja, aqueles cujo início da execução se deu em um país estrangeiro e a consumação se deu no Brasil, ou o início da execução se deu no Brasil e consumação se deu no estrangeiro. Para os crimes militares perpetrados no Brasil, utiliza-se a teoria do resultado. Na tentativa também é utilizada a teoria do resultado. Deve-se atentar para o iter criminis (caminho do crime, cogitação, preparação, execução e não chega à consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente) sendo competente o local onde foi praticado o último ato de execução. Faculdade de Minas 24 Este critério é utilizado para facilitar a colheita da prova, bem como foi o local em que ocorreu a quebra dos princípios da disciplina e hierarquia. Por ser uma competência territorial, é competência relativa que admite prorrogação, ressaltando- se que apenas entre órgãos da Justiça Militar, tendo em vista que se trata de uma justiça especial prevista constitucionalmente, logo competência absoluta, que não se prorroga e que pode ser alegada a qualquer tempo. Assim, a competência constitucional atribuída à Justiça Militar é absoluta, não pode ser modificada, podendo ser alegada a qualquer tempo pelas partes e ser declarada de oficio pelo juiz. Já a competência territorial é relativa, admite prorrogação entre os juízos militares competentes constitucionalmente, sob pena de preclusão, isto é, se não for alegada em momento oportuno pelas partes, considera-se sanada e pode também ser declarada de ofício pelo juiz. b) A bordo de navio (art.89, CPPM) Os crimes cometidos a bordo de navio ou embarcação sob comando militar ou militarmente ocupado em porto nacional, nos lagos e rios fronteiriços ou em águas territoriais brasileiras serão, nos dois primeiros casos, processados na Auditoria da Circunscrição Judiciária correspondente a cada um daqueles lugares; e, no último caso, na Capital Federal, Brasília, 11ª Circunscrição Judiciária Militar. c) A bordo de aeronave (art. 90, CPPM) Os crimes cometidos a bordo de aeronave militar ou militarmente ocupada, dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, serão processados pela Auditoria da Circunscrição em cujo território se verificar o pouso após o crime; e se este se efetuar em lugar remoto ou em tal distância que torne difíceis as diligências, a competência será da Auditoria da Circunscrição de onde houver partido a aeronave, salvo se ocorrerem os mesmos Faculdadede Minas 25 óbices, caso em que a competência será da Auditoria mais próxima da 1ª, se na Circunscrição houver mais de uma. d) Crimes fora do território nacional (arts. 91 e 92, CPPM) Os crimes militares cometidos fora do território nacional serão, em regra, processados em Auditoria da Capital da União. No caso de crime militar somente em parte cometido no território nacional, se iniciada a execução em território estrangeiro, o crime se consumar no Brasil, será competente a Auditoria da Circunscrição em que o crime tenha produzido ou devia produzir o resultado. Iniciada a execução no território nacional, o crime se consumar fora dele, será competente a Auditoria da Circunscrição em que se houver praticado o último ato ou execução. Em tempo de guerra, a competência do foro militar reger-se-á, por norma, pelo critério ratione loci cabendo o processo e julgamento do feito à auditoria existente no teatro de operações (art. 94, LOJMU). Exceção se faz ao crime praticado pelo comandante do teatro de operações de guerra, cuja competência será do STM, por prerrogativa de função (art. 95, Parágrafo único, LOJMU)5. Faculdade de Minas 26 RESIDÊNCIA OU DOMICÍLIO DO ACUSADO OU PELA SEDE DO LUGAR DO SERVIÇO (ARTS. 93 E 96, CPPM) É critério subsidiário em relação ao local da infração. Se não for conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pela residência ou domicílio do acusado, salvo para o militar em situação de atividade. Nestes casos, o lugar da infração, quando este não puder ser determinado, será o da unidade, navio, força ou órgão onde estiver servindo, não lhe sendo aplicável o critério da prevenção, salvo entre Auditorias da mesma sede. DA COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO (ARTS. 94 E 95, CPPM) A competência firmar-se-á por prevenção, sempre que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com competência cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia. A competência pela prevenção pode ocorrer: quando incerto o lugar da infração, por ter sido praticado na divisa de duas ou mais jurisdições; quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições; quando se tratar de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições; Faculdade de Minas 27 quando o acusado tiver mais de uma residência ou não tiver nenhuma, ou forem vários os acusados e com diferentes residências. É um critério subsidiário de determinação da competência que vai ser utilizado quando os critérios anteriores (lugar da infração e domicílio ou residência do réu) não forem suficientes para dirimir a dúvida de qual juiz será o competente. A antecedência de algum ato no processo tem que ter cunho decisório, tais como, homologação da prisão em flagrante e seu relaxamento, a decretação da prisão preventiva e sua liberdade provisória, a concessão ou não de menagem, quebra de sigilo bancário e fiscal. Deve-se observar desta maneira se ato tem conteúdo decisório, assim, atos de investigação no inquérito policial militar em que o juiz apenas remete os autos do inquérito da autoridade judiciária militar para o Ministério Público Militar não previne o juiz. DA COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO (ART. 98, CPPM) Quando, na sede de Circunscrição, houver mais de uma Auditoria com a mesma competência, esta se fixará pela distribuição. A distribuição realizada em virtude de ato anterior à fase judicial do processo prevenirá o juízo. Com a utilização dos critérios anteriores, já estará fixada a Circunscrição Judiciária Militar. Ocorre que é possível que tenha mais de um juiz igualmente competente para o caso. Se algum deles adiantar-se aos demais na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia passe a ser o único competente mediante prevenção. Se não houver prevenção, será feita a distribuição. Faculdade de Minas 28 PRERROGATIVA DE POSTO E FUNÇÃO (ART.108, CPPM) Em face da relevância do cargo ou da função exercida por determinadas pessoas, são elas julgadas originariamente por órgãos superiores da jurisdição e não pelos órgãos comuns. A denúncia deve ser oferecida pelo órgão do Ministério Público Militar em atuação com o Superior Tribunal Militar. Estende-se a competência do Superior Tribunal Militar sobre seu jurisdicionado qualquer que tenha sido o local da prática do delito. A competência por prerrogativa do posto ou da função decorre da sua própria natureza e não da natureza da infração, e regulam-se estritamente pelas normas expressas na legislação especial. Compete ao Superior Tribunal Militar processar e julgar originariamente os oficiais generais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei (art. 6º, I, “a”, Lei n. 8.457/92), como os oficiais generais das três forças: Marinha, Exército e Aeronáutica, isto é, Almirantes, na Marinha, Brigadeiros na Aeronáutica e Generais no Exército. A lei menciona crimes militares, assim, os oficiais generais por crimes militares são julgados pelo Superior Tribunal Militar. Todavia, se um oficial general pratica qualquer outro crime comum, doloso contra a vida contra civil, de trânsito, será julgado pelo tribunal do júri ou juízo comum no lugar da infração. A prerrogativa da função dos oficiais generais é somente para os crimes militares, no Superior Tribunal Militar. O comandante do teatro de operações responderá a processo perante o Superior Faculdade de Minas 29 Tribunal Militar, condicionada a instauração da ação penal à requisição do Presidente da República (art. 95, parágrafo único, da Lei n. 8.457/92). Nesta situação, o legislador ressalta na hipótese a função que o acusado exerce, e não o fato de ele ser oficial-general, mesmo porque tal função não será, necessariamente, privativa do oficialato máximo, ou até mesmo de militar. Condiciona-se ainda a instauração da ação penal à requisição do Presidente da República, exceção que se faz à norma geral da ação penal militar pública incondicionada6. Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutico ressalvado o disposto no art. 52, I, que menciona competência privativa ao Senado Federal para processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles (art. 102, I, “c”, CF). Assim, os comandantes das três forças serão julgados pelos crimes comuns e de responsabilidade (infrações político-administrativas) perante o Supremo Tribunal Federal, salvo a última, quando conexa com o Presidente e o Vice-presidente da República; neste caso serão julgados pelo Senado Federal (jurisdição política). Faculdade de Minas 30 1.5 INQUÉRITO POLICIAL MILITAR Dispõe o: Art. 9 ° do Código de Processo Penal Militar que "O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato que, nos termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Significa, portanto, que é o conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária Militar para apuração de infração penal militar e de sua autoria. - Natureza Jurídica A natureza jurídica deste sistema é administrativa, tendo em vista de que Corpo de Bombeiros Militar é um órgão da administração pública, que não está dotado de poder jurisdicional. Finalidade Dispõe a segunda parte do mesmo dispositivo legal: “Tem o caráter de instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários a propositura da ação penal”. O IPMnão é indispensável, pois a denúncia pode ser oferecida com base em qualquer outra peça de informação, inclusive pelo auto de prisão em flagrante delito (art. 27 do CPPM). O inquérito poderá ser dispensado, inclusive, sem prejuízo de diligência requisitada pelo Ministério Público, quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou outras provas materiais e nos demais casos previstos no art. 28 do CPPM. Faculdade de Minas 31 Instauração O IPM é instaurado mediante portaria. A autoridade militar que exerce cargo de direção ou comando procederá ao inquérito ou delega a outro militar para, como Encarregado, elaborá-lo, na forma da legislação vigente. Neste caso, há a figura da autoridade delegante ( a que exerce cargo de direção ou comando em cujo âmbito de jurisdição ocorreu a infração penal) que, através ofício, designa o encarregado do IPM, fazendo-o acompanhar, conforme o caso, de "parte" ou "representação" e outros documentos ou elementos da infração penal. (CPPM, art. 10) Art. 10. O inquérito é iniciado mediante portaria: a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de jurisdição ou comando haja ocorrido a infração penal, atendida a hierarquia do infrator; b) por determinação ou delegação da autoridade militar superior, que, em caso de urgência, poderá ser feita por via telegráfica ou radiotelefônica e confirmada, posteriormente, por ofício; c) em virtude de requisição do Ministério Público; d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos têrmos do art. 25; e) a requerimento da parte ofendida ou de quem legalmente a represente, ou em virtude de representação devidamente autorizada de quem tenha conhecimento de infração penal, cuja repressão caiba à Justiça Militar; f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar, resulte indício da existência de infração penal militar. Encarregado: O Encarregado é a autoridade delegada, incumbida de proceder à apuração do fato delituoso. Quando um militar recebe um ofício ou portaria que lhe designou Faculdade de Minas 32 para, como Encarregado, proceder à apuração de um fato delituoso, deve, de imediato, baixar a portaria instaurando o IPM. O IPM é instaurado pela portaria do Encarregado e não pelo ofício ou portaria da autoridade delegante. Será encarregado do inquérito, sempre que possível oficial de posto não inferior a capitão, atendida a hierarquia do indiciado, se também for oficial; Se, no curso do inquérito, surgirem indícios contra oficial de posto superior, ou mais antigo que o encarregado, providenciará este junto à autoridade superior para que suas funções sejam delegadas a outro oficial. - Escrivão do IPM A designação de escrivão para o inquérito caberá ao respectivo encarregado, se não tiver sido feita pela autoridade que lhe deu a delegação para aquele fim, recaindo a escolha em 1o ou 2o tenente, se o indiciado for oficial, e em sargento ou subtenente, nos demais casos. A lei não permite a nomeação de posto inferior ao de segundo-tenente como Escrivão do IPM quando o indiciado for oficial. O escrivão prestará compromisso de manter sigilo do inquérito e de cumprir fielmente as determinações legais, no exercício das funções. Procedimentos “Todas as peças do inquérito serão, por ordem cronológica, reunidas num só processado e datilografadas, em espaço dois, com folhas numeradas e rubricadas pelo escrivão." (art 21 CPPM) O inquérito é SIGILOSO, mas seu encarregado deve permitir que dele tome conhecimento o advogado do indiciado, caso este queira. Lei N° 8.906, de 04 de julho de 1994 (Estatuto da Advocacia) Art. 7 - São direitos do advogado: XIV - examinar, em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos; XV - ter vistas dos processo Faculdade de Minas 33 judiciais e administrativos de qualquer natureza, em cartório ou na repartição competente, ou retirá-los nos prazos legais. Prazos do IPM O IPM deverá terminar dentro de vinte dias, se o indiciado estiver preso, contados a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, contado esse prazo da data da instauração do inquérito. Este prazo, estando o indiciado em liberdade poderá ser prorrogado por mais 20 (vinte) dias pela autoridade superior, desde que os exames ou perícias não estejam concluídas, ou haja necessidade de diligências necessárias à elucidação dos fatos. Diligências No dicionário de Português, Diligência significa ter cuidado, atenção ou dedicação para realizar uma tarefa. Juridicamente falando, diligência é a investigação realizada, a fim de formar convicção acerca de determinado fato que não ficou totalmente comprovado, ou para dirimir algumas dúvidas sobre algum ponto relevante do processo. Os Artigos 12 e 13 do CPM, destacam as diligências que podem ser tomadas pelo encarregado do IPM Medidas preliminares ao inquérito Art. 12. Logo que tiver conhecimento da prática de infração penal militar, verificável na ocasião, a autoridade a que se refere o § 2º do art. 10 deverá, se possível: a) dirigir-se ao local, providenciando para que se não alterem o estado e a situação das coisas, enquanto necessário; b) apreender os instrumentos e todos os objetos que tenham relação com o fato; Faculdade de Minas 34 c) efetuar a prisão do infrator, observado o disposto. no art. 244; d) colher todas as provas que sirvam para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias. Formação do inquérito O encarregado do inquérito deverá, para a formação deste: Atribuição do seu encarregado a) tomar as medidas previstas no art. 12, se ainda não o tiverem sido; b) ouvir o ofendido; c) ouvir o indiciado; d) ouvir testemunhas; e) proceder a reconhecimento de pessoas e coisas, e acareações; f) determinar, se fôr o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outros exames e perícias; g) determinar a avaliação e identificação da coisa subtraída, desviada, destruída ou danificada, ou da qual houve indébita apropriação; h) proceder a buscas e apreensões, nos têrmos dos arts. 172 a 184 e 185 a 189; i) tomar as medidas necessárias destinadas à proteção de testemunhas, peritos ou do ofendido, quando coactos ou ameaçados de coação que lhes tolha a liberdade de depor, ou a independência para a realização de perícias ou exames. Relatório O inquérito será encerrado com minucioso relatório, em que o encarregado mencionará as diligências feitas, as pessoas ouvidas e os resultados obtidos, com a indicação do dia, hora e lugar onde ocorreu o fato delituoso. Em conclusão, dirá se há infração disciplinar a punir ou indício de crime, pronunciando- se neste último caso, justificadamente, sobre a conveniência da prisão preventiva do indiciado, nos termos legais. (CPPM, art. 22) O relatório será elaborado, de preferência, com o IPM já devidamente montado, facilitando sobremodo a sua feitura. O relatório deve ser estruturado da seguinte forma: Faculdade de Minas 35 1. Objetivo do IPM; 2. Diligências realizadas; 3. Resultados Obtidos: 3.1 - Historiado Fato; 3.2-Análise das Provas; 3.3 - Posição Final. . Conclusão. - Solução Consoante o artigo 22 §§ 1º e 2º do CPPM, compete a autoridade delegante a solução do IPM homologando ou discordando da conclusão, avocando, nesta hipótese, o IPM e solucionando como entender de direito. Várias são as hipóteses de solução: - quando constituir crime (comum ou militar); - quando constituir, apenas, transgressão disciplinar; - quando não constituir crime nem transgressão disciplinar. Convém ressaltar que a solução da autoridade delegante não será definitiva, pois o IPM tem que ser encaminhado à apreciaçãoda Justiça Militar a quem caberá a decisão final. Ocorrem casos em que a autoridade delegante entende não haver crime e na Justiça é decidido de modo diverso e vice - versa. Na solução de um IPM a autoridade delegante deve recomendar todas as providências solicitadas pelo Encarregado que entender de direito: ratificar o pedido de prisão preventiva, caso não tenha sido decretada; ratificar o pedido de sequestro de bens, ou arresto, etc.. Enfim, salientar na solução as providências que julgar necessárias e legais que o caso requer. Remessa do IPM Os autos do inquérito sempre serão remetidos ao Juiz de Direito da Justiça Militar pela autoridade de polícia judiciária militar. A autoridade Faculdade de Minas 36 militar não poderá realizar o arquivamento do inquérito, somente o Juiz poderá fazê- lo. Faculdade de Minas 37 REFERENCIAS ASSIS, Jorge César de. Código de processo penal militar anotado: 1° volume (artigos 1º a 169). 3.ed. Curitiba: Juruá, 2010. ASSIS, Jorge César de. Código de processo penal militar anotado: 2° volume (artigos 170 a 383). Curitiba: Juruá, 2008. BRASIL. Código Penal Militar, Decreto-Lei no 1.001, de 21 de outubro de 1969. BRASIL. Código de Processo Penal Militar, Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecum Acadêmico de Direito. 10ª ed. São Paulo: Editora Rideel, 2010. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 14 ed. Saraiva, São Paulo, 2007, p. 200. 3 Ibidem. p. 202. MIGUEL, Cláudio Amin; COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, MIGUEL e COLDIBELLI, 2004, p. 80 Faculdade de Minas 38 GRINOVER, Ada Pellegrine; FERNANDES, Antônio Scarance; GOMES FILHO, Antônio Magalhães. As Nulidades no Processo Penal, 7 ed., São Paulo, 2004, p.49. LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito Penal Militar. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
Compartilhar