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Coma – Neurologia – Ana Cláudia Neves MED 96 ❖ Definição: estado de irresponsividade que não pode ser rapidamente revertido, ou seja, não responde ao meio externo, estando sob comando do diencéfalo, principalmente o hipotálamo, uma vez que seu telencéfalo está inoperante. o Hipotálamo só apresenta conexão com o telencéfalo nas emoções. o A ansiedade apresenta reações neurovegetativas como cefaleia, hiperidrose, taquicardia, devido a essa relação com o hipotálamo. o Paciente não ouve, não se mexe, não apresenta olfato, etc. ❖ O coma é uma situação do próprio sistema nervoso para autoproteção, geralmente em situações de privações. Portanto, o cérebro resolve trabalhar em seu limite mínimo, permitindo uma maior proteção, não conferindo sempre em algo ruim, tornando-se danoso quando sua causa não é tratada. ❖ A atividade elétrica durante o coma está fortemente perturbada e simplificada, o EEG realizado no coma apresenta ondas; o EEG é isoelétrico apenas na morte encefálica (morte encefálica não ocorre sem que antes ocorra o coma). ❖ O coma é indicação formal para internação em UTIs. ❖ A primeira função superior do sistema nervoso é a consciência e depende de duas funções complementares: o Vigília: capacidade de despertar, determinada pela parte superior da ponte até o hipotálamo. o Percepção consciente do meio: conteúdo da consciência, determinado pelos hemisférios cerebrais. o Sonolência ou obnubilação: paciente sonolento, mas respondendo aos estímulos verbais; comum na concussão cerebral, TCE mais simples, gerada por edema cerebral pós-trauma (cérebro faz contragolpe na calota craniana); primeiro estágio da queda do nível de consciência. o Torpor ou estupor: responde aos estímulos nociceptivos/dolorosos (dedo médio em cunha realiza compressão na região médio-esternal, compressão do ângulo da mandíbula, compressão intensa dos mamilos, compressão dos testículos e grandes lábios da mulher). Caracteriza-se por breves períodos de resposta simplificada que podem ser alcançados apenas através da estimulação dolorosa. o Vigília – obnubilação – torpor – coma. ❖ A segunda função superior do sistema nervoso é a linguagem e a inteligência. ❖ Causas: o Estruturais: afetam primariamente os compartimentos supratentorial (acima da tenda do cerebelo – cérebro faz parte desse território) e infratentorial (abaixo da tenda do cerebelo – TE e cerebelo fazem parte desse território). ▪ Fator responsável pela perda da consciência é a disfunção ou lesão secundária das estruturas relacionadas ao despertar. ▪ Hemorragias intracranianas: dada por TCE (hematomas) e AVE hemorrágicos. ▪ Grandes infartos: TCE (hematomas) e AVE hemorrágicos/isquêmicos. ▪ Tumores. ▪ Encefalites. o Funcionais. ❖ Semiologia: o Lesões supratentoriais: ▪ Sinais focais que sinalizam lesão hemisférica: • Hemianopsia: lobo occipital. • Afasia: lobo parietal e frontal. • Plegia fáscrio-braquio-crural: lobo frontal contralateral. • Hemianestesia: lobo parietal contralateral. • Negligência: lobo frontal e temporal. ▪ Sonolência ou torpor: sem sinais focais do tronco encefálico e cerebelo (se TE for acometido e ter seus reflexos abolidos é compatível com morte encefálica). ▪ Depressão gradual da alteração da consciência: sonolência – torpor – coma. ▪ Paralisia do nervo oculomotor: pode preceder o coma (hérnia de uncus no lobo temporal na incisura da tenda do cerebelo pode comprimir o nervo que apresenta maior trajeto dentro do crânio, prenunciando coma por edema). ▪ Sinais adicionais de disfunção do tronco encefálico: • Alteração do olhar conjugado: perda de respostas oculocefalógiras (ponte e mesencéfalo) ou oculovestibulares (ponte). Coma – Neurologia – Ana Cláudia Neves MED 96 • Alterações pupilares: midríase paralítica (mesencéfalo), miose (diencéfalo) ou miose puntiforme (ponte). • Arritmia respiratória: ritmo de Cheyne-Stokes (diencéfalo), descerebração (mesencéfalo), respiração apnêustica ou atáxica (ponte e bulbo). • Resposta motora estereotipada: decorticação (diencéfalo), decerebração (mesencéfalo), extensão de membros superiores e flexão de membros inferiores (ponte). o Lesões infratentoriais: ▪ Inconsciência: de início abrupto à instalação do quadro, exceto em lesões cerebelares. ▪ Acometimento bilateral de vias longas e de nervos cranianos: acompanham ou precedem o início da perda de consciência. ▪ Sinais de lesão cerebelar ou tronco encefálico. ▪ Disfunção do tronco encefálico: bilateral, não obrigatoriamente completa ou simétrica. ▪ Alterações pupilares: frequentes, alterações oculomotoras invariáveis. o Disfunção difusa: ▪ Delírio: pode proceder a redução do nível de consciência; pode ocorrer por uso de álcool, drogas cocaína-like, ópio, etc. ▪ Distúrbio progressivo do nível de consciência. ▪ Coma com preservação do nível de consciência. ❖ Exames Complementares: possível questão de prova. o Neuroimagem (TC): coma com sinais focais. o LCR: coma sem sinais focais e com sinais de irritação meníngea. ▪ Se o LCR estiver hemorrágico realiza-se angioTC. o Sangue: coma sem sinais focais ou irritação meníngea; pensa-se em causas metabólicas, como coma diabético e urêmico. ❖ Causas por disfunção encefálica difusa: o Alterações endógenas: ▪ Privação de substrato: o cérebro é o tecido mais ávido por oxigênio, glicose e cofatores (B6, B12) – possível questão de prova. • Hipóxia: pneumopatias (ex.: pneumonia), anemia (queda do número de hemácias), intoxicação por CO ou cianeto, acidentes anestésicos. • Isquemia: o Global: parada cardíaca, choque. o Aumento da resistência cérebro-vascular: hiperventilação, hiperviscosidade, angioespasmo (HSA), oclusões vasculares múltiplas (vasculite), embolia por endocardite ou by-pass, perda de auto-regulação (TCE), encefalopatia hipertensiva. • Hipoglicemia: o coma hipoglicêmico é pior do que o coma hiperglicêmico; abaixo de 30-40mg/dL. • Cofatores: B1, B6 e B12 são as únicas vitaminas importantes para o sistema nervoso. ▪ Disfunção de órgãos e sistemas: • Fígado: encefalopatia hepática, síndrome de Reye, desordens do ciclo da ureia. • Rim. • Pulmão: insuficiência respiratória aguda ou crônica, apneia do sono. • Endócrinas: hiper/hipotireoidismo, pan-hipopituitarismo, hiper/hipoparatireoidismo, diabetes (cetoacidose, hiperosmolar, acidoe lática). • Outras: porfiria, sepse, encefalopatia paraneoplásica. o Alterações da osmolalidade e equilíbrio ácido-básico. o Alterações do controle térmico: hipotermia e hipertermia (síndrome neuroléptica maligna – hipertermia maligna), acidentes térmicos. o Infecções e inflamação do SNC: encefalites, meningoencefalites, encefalomielite aguda disseminada. o Hemorragia Subaracnoidea. o Convulsões e estado pós-ictal. Coma – Neurologia – Ana Cláudia Neves MED 96 o Concussão e lesão axonal difusa. o Envenenamento: importante. ▪ Álcool e sedativos. ▪ Ácidos: etileno-glicol, álcool metílico, paraldeído. ▪ Psicotrópicos: opioides, cocaína e anfetamínicos, lítio, tricíclicos e anticolinérgicos, fenotiazinas e butirofenomas, mescalina, inibidores da MAO. ▪ Excesso de anticonvulsivantes. ▪ Salicilatos, cimetidina, esteroides, digitálicos. o Psicose de CTI. ❖ Prognóstico do coma hipóxico-isquêmico (decorrente da PCR): o Chances mínimas de recuperar independência funcional em um ano. Momento do Exame Sinal Inicial (pós-PCR) Ausência de resposta pupilar à luz forte. Após 1 dia Resposta motora < flexão inespecífica; pobres movimentos oculares conjugados, ausência do reflexo córneo-palpebral; média de 6 meses em coma Após 3 dias Resposta motora < flexão inespecífica. Após 1 semana Não obedece a comandos (resposta motora), ausência de abertura ocular espontânea, pobre movimentação ocular espontânea. Sequelas Resposta oculoencefálica anormal, melhora > 2 graus de abertura ocular, nãoobedece a comandos, ausência de abertura ocular espontânea. o Melhor chance de recuperar independência funcional: Momento do Exame Sinal Inicial (pós-PCR) Resposta pupilar presente, resposta motora flexora/extensora, movimentos oculares conjugados; a estimativa é de poucos dias em coma. Após 1 dia Retirada ou melhor (resposta motora), melhora > 2 graus de abertura ocular melhor, reflexo óculo-palpebral. Após 3 dias Retirada ou melhor (resposta motora), movimentos oculares normais. Após 1 semana Obedece comandos (resposta motora) Após 2 semanas Reflexo oculocefálico normal.
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