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Seminário VI ICMS MERCADORIAS Carlos Paes Leme Pires Corrêa 1. Construir a(s) regra(s)-matriz(es) de incidência tributária do ICMS – Serviços. Antecedente: Critério material – prestação de serviços de transporte intermunicipal e interestadual ou prestação de serviços de comunicação. Critério espacial – local da ocorrência do fato jurídico, tendo por territorialidade todo o país. Critério temporal – momento da ocorrência do evento motivador da incidência jurídica (prestação do serviço) Consequente: Critério Pessoal Sujeito Ativo – Unidade federativa onde ocorrer a prestação Sujeito Passivo – Prestador do Serviço Critério Quantitativo Base de Cálculo – preço ajustado Alíquota: descrita na norma de incidência tributária. 2. Que é “prestação de serviços de comunicação”? É possível determinar esse conceito por meio do texto constitucional? O que pode ser tributado pelo ICMS: (i) a comunicação (onerosa) efetivamente realizada, ou; (ii) a mera disponibilidade (onerosa) de meios físicos/canais aptos que possibilitem que a comunicação aconteça? (Vide anexos I e II). Para que possa conceituar a “prestação de serviços de comunicação” me utilizo do método do construtivismo lógico-semântico, analisando os vocábulos empregados para, então, chegar ao conceito adequado da locução. Ante isso, no caso em análise, o termo “prestação” tem por significado a pressuposição da preexistência de um negócio jurídico cujo critério material é objeto da tributabilidade. Ressalte-se aqui, para delinear melhor a compreensão, que há “fatos geradores” descritos no critério material de normas jurídicas, cuja ocorrência fenomênica pura e simples é suficiente para que se opere a concretização da tributação, como no caso do Imposto de Renda, por exemplo, onde o mero evento de auferir renda é suficiente para que ocorra a identidade à hipótese normativa. Entretanto, no caso do ICMS, por exemplo, a mera circulação de mercadoria não é suficiente para importar em tal resultado, tornando-se necessário que a referida circulação seja objeto de um negócio. Prosseguindo, ao falar em serviço entendo tratar-se de “esforço humano empreendido em benefício de outrem”, definição que é infraconstitucional e foi ratificada pelo STF. Por comunicação, concordo com o entendimento do Professor Paulo de Barros Carvalho, que afirma que o conteúdo semântico do termo deve ser compreendido como “a transmissão de u’a mensagem, por meio de um canal, entre o emissor e o receptor que possuem em comum, ao menos parcialmente, o repertório necessário para a decodificação da mensagem”. Portanto, prestação de serviço de comunicação é o esforço humano empreendido em benefício de outrem realizado sob forma de negócio jurídico oneroso, que tem por objeto a transmissão de uma mensagem codificada entre emissor (tomador) e receptor determinado. Ressalto, conforme fala PBC, que é imprescindível a existência de três pessoas envolvidas: emissor (tomador), prestador do serviço e receptor. Avançando, sobre a possibilidade de determinação do conceito através da Constituição Federal, a resposta é que o conceito é compreendido a partir da regra da incorporação constitucional. Ou seja, a Constituição Federal não o descreve de forma expressa, mas, na realidade o “incorpora” em parte do direito infraconstitucional vigente antes de sua promulgação. Sobre o tema, vale observar que seria absurdo, quiçá impossível, imaginar que a Constituição devesse expressamente descrever todos conceitos que são objeto de suas normas, uma vez que obteria extensão inimaginável. Mencione-se, ainda, que as regras de competência inseridas na Constituição que descrevem a alocam poder de tributação, ainda que expressas, podem guardar significativas imprecisões semióticas, problema que é inerente à linguagem em si. Por isso, a própria Lei Maior, apesar de ser propor a ser o primeiro passo de tal tarefa, já descreve, em seu art. 146, II, que cumpre à Lei Complementar o papel de delimitar os limites semióticos dos conceitos tributáveis. Observe-se que o termo “comunicação” é amplo e, quanto mais amplo for o conceito tributável, maior será o objeto necessário à complementariedade aludida. Observa, ainda, Humberto Ávila que “pode-se até mesmo conceber a hipótese em que, não tendo sido editada LC necessária para satisfatoriamente definir um fato gerador de um imposto, insuficientemente descrito pela CF e abstratamente conflitante com o atribuído a outro ente tributante, nenhuma competência poderá ser exercida pelo ente federado por meio de lei ordinária”. Neste sentido, o conceito não é expresso na Constituição, mas, incorporado. Por fim, compreendo que somente a comunicação onerosa efetivamente realizada pode ser tributada pelo ICMS, sobretudo pelo fato de não se operar “esforço em benefício de outrem” na mera disponibilização do serviço. 3. Sobre a possibilidade de se cobrar ICMS, responda: a. O termo “mercadoria” do artigo 155, II da CF/88 alcança os denominados “bens e mercadorias digitais”? Fundamente. Mercadoria pode ser compreendido como coisa móvel, corpórea ou intangível disponível a ser negociado, ressaltando, conforme faz PBC, que a natureza mercantil do produto não é cunho atinente aos requisitos intrínsecos, mas na destinação que lhe dê. Conforme mencionado na questão anterior, decerto as regras de competência da tributação são estipuladas pela Constituição Federal, sendo deliberado o fato das limitações semióticas da linguagem empregada na descrição dos conceitos que podem ser parte do critério material de normas de tributação, tanto é que há previsão da eventual complementação necessária de acordo com leis complementares. A referida limitação não se opera tão somente pelas falhas intrínsecas à linguagem em si, mas, também à limitação daqueles que operam o processo de elaboração da Lei relativo à circunstância social e temporal em que vivem. Isto posto, com certeza qualquer norma é metalinguagem do átimo imediato em que é exarado, no entanto, limitado para se referir ao porvir. Neste sentido, considerando a incoerência que seria a proposição de elaboração de novas leis genéricas em caráter reiterado, torna-se necessário que a compreensão dos termos seja realizada a partir da análise das limitações circunstanciais inerentes ao momento de sua elaboração em comparação com sua correspondência na realidade em que é inferida. Em conclusão, compreendo que o termo mercadoria tem caráter genérico na Constituição Federal, exatamente com o intuito de aglutinar todas as variações que estariam no porvir no momento de sua elaboração. No caso dos bens e mercadorias digitais, estes são espécies de coisa móvel intangível disponibilizada a ser comercializada. b. Há possibilidade jurídica de se cobrar ICMS nas seguintes situações: serviço de internet por acesso discado e banda larga; software e transmissão de dados por streaming; NETFLIX. Fundamentar. Se positiva sua resposta, quais espécies de ICMS seriam de possíveis incidências nesse casos: ICMS- bens e mercadorias ou ICMS-comunicação? Justifique. Sobre o serviço de internet por acesso discado e banda larga, caso o enunciado se refira ao serviço de provedor, me afilio ao entendimento da Súmula 334 do STF, que afirma inexistir a possibilidade de incidência do ICMS. Isto pois, o provedor não oferece serviço de comunicação em si, mas, em realidade, agrega valor sobre o mesmo conforme predito pela Súmula “porque não fornece as condições e meios para que a comunicação ocorra, sendo um simples usuário dos serviços prestados pelas empresas de telecomunicações”. Em relação ao fornecimento de acesso à internet ao usuário comum, trata-se de serviço de telecomunicação, sobre qual incide o ICMS. Sobre a comercialização do software, sigo o entendimento do STF e compreendo que há incidência do ICMS – bens e mercadorias. Observo, entretanto,que em meu juízo aquilo que dá azo à tributação por ser identificado como bem móvel incorpóreo objeto de circulação é o direito de uso do software e não a obra em si. Ademais, ressalto que a incidência do imposto mencionada se opera em relação aos chamados “softwares de prateleira”, ou seja, aqueles que não sofrem alterações ou adaptações anteriores ao negócio. Sobre o streaming, compreendo que trata-se de modalidade de transmissão de dados voláteis para uso instantâneo. Sobre o conceito, inclusive, descreve PBC a possibilidade do webcasting e da simulcasting, que basicamente se diferenciam pelo fato de no primeiro o usuário poder escolher o que será transmitido e no segundo não haver tal possibilidade. Em ambos os casos não há serviço de comunicação, não havendo possibilidade de incidência de ICMS, uma vez que há confusão entre a pessoa do emissor e do transmissor, além de não haver onerosidade necessária na relação, bem como, se operar em favor do receptor um direito de uso de determinada coisa, em vez de se operar uma circulação ou uma forma de transmissão de mensagem. Sobre o caso do NETFLIX, de mesmo modo, compreendo haver limitação à incidência do imposto, uma vez que há confusão entre o emissor e o transmissor, bem como, dado que não se transfere uma mensagem mas sim a disponibilização do direito de uso de um ativo. 4. Que é “prestação de serviços de transporte”? Quais suas modalidades? É necessária a efetividade da prestação de serviços para que o ICMS incida? Analisar a tributação de transporte aéreo de passageiros e cargas .Há a incidência do aludido imposto no caso de o transporte ser efetuado por meio de veículo próprio da empresa, dirigido por motorista que com ela possui vínculo empregatício? E se o motorista for terceirizado? E se o veículo for locado? Mantendo coerência com o objeto da resposta anterior e com a conceituação de ‘transporte’ do Professor PBC, compreendo a prestação do serviço de transporte como o esforço humano empreendido em benefício de outrem, realizado sob forma de negócio jurídico oneroso, que tenha por objeto a condução de mercadorias, bens, documentos, cargas ou passageiros, de um lugar a outro, seja por via terrestre, aérea ou hidroviária. As modalidades são descritas pela Lei 6.288/75, como modal, segmentado, sucessivo e intermodal. Ademais, os serviços de transporte podem ser nacional ou internacional. Sobre a necessidade da efetividade da prestação do serviço, concordo com o entendimento de PBC que afirma que “não importa se a contratada efetivará diretamente, ou não, a prestação de serviços de transporte, mas, sim, que a ela caberá a responsabilidade direta pela coleta e entrega nos locais previamente designados”. Ou seja, trata-se de obrigação de fim e não de meio, não sendo relevante o uso de meios próprios ou de terceiros. 5. Empresa de transporte internacional, contratada para trazer documentos do exterior, subcontrata empresa brasileira que efetive o transporte da entrada do documento em território nacional até o destinatário local. Pergunta-se: (a) tal operação pode ser desmembrada para fins de tributação pelo ICMS? (b) se positiva a resposta, qual seria o sujeito passivo da relação tributária? (Vide anexo VI). O transporte realizado em território nacional é atividade meio para a conclusão da operação de transporte internacional (atividade fim). Neste sentido, entendo que a etapa realizada dentro território nacional é indissociável do transporte internacional, sendo vedado o desmembramento das várias atividades-meio necessárias à prestação, como se fossem serviços de transporte parciais. O transporte realizado no território nacional é mera “fase” indispensável à consecução do contrato de transporte internacional.aro 6. Prestadora de serviço de transporte é contratada para efetuar transporte de mercadoria de estabelecimento localizado em Osasco/SP para uma trading estabelecida em São Bernardo do Campo/SP. O destino final da mercadoria transportada é a exportação. Com base no art. 155, § 2º, X, “a” da CF/88 e parágrafo único do art. 3º da LC 87/96, o Fisco paulista entende que nesse trajeto interno há imunidade do ICMS somente com relação à operação de circulação das mercadorias transportadas e não para o ICMS relativo à prestação de serviços de transporte. Você concorda com esse entendimento? (Vide anexo VII). Na realidade, a vedação legal da incidência tributária do ICMS sobre circulação das mercadorias tem motivação teleológica, com a finalidade de impedir que tal oneração tivesse impacto sobre as exportações. Nesta esteira, a impossibilidade de incidência (imunidade) se extende ao ICMS relativo à prestação do serviço conforme inclusive descrito pela decisão descrita no Anexo VII do Seminário que afirma que a imunidade se estende à cadeia de produção que vise o comércio e ao trânsito de produtos com destino ao exterior, indicando, inclusive, ser objeto de repercussão geral. 7. Os conceitos de transbordo e baldeação na prestação, utilizados na prestação de serviços de transporte de cargas, são sinônimos? A mudança de modal, utilizando- se de veículos de propriedade de mesmo titular, é caso de transbordo ou prestação de serviço independente? Empresa X realiza serviço de transporte entre os Munícipios Y e Z, ambos do Estado de São Paulo, utilizando-se, para tanto, de caminhão e avião, tendo as mercadorias sido acondicionadas, ou seja, permanecendo por tempo razoável em estabelecimento da empresa quando da mudança de modal, haveria de se falar em descontinuidade de transporte e, por consequência, nova cobrança de ICMS? (Analisar a problemática à luz do Parecer PGFN/CAT nº 57/13). No caso do transbordo, há transferência direta de mercadoria de um veículo para outro. No caso da baldeação, opera-se a transferência de mercadoria descarregada de um veículo e posteriormente carregada em outro. Sobre a questão relativa à mudança de modal, transcrevo abaixo trecho do PARECER PGFN/CAT n˚ 57/2013: A mudança de modal se refere à modalidade de transporte de carga, o qual pode ser terrestre, aquaviária ou aéreo, cada um com suas subdivisões. E ainda, transbordo é apenas ato ou efeito de passar mercadorias ou passageiros de um meio de transporte para outra linha do mesmo,(...). Dessa forma, a prestação de serviço para si próprio não enseja a incidência do tributo, assim, não estando presentes duas partes que realizem um negocio, não é possível caracterizar uma prestação de serviço independente apta a ensejar nova incidência do ICMS a simples mudança de modal. Fonte https://www.ibet.com.br/wp-content/uploads/2019/09/PGFN-57.2013.pdf Em mesmo sentido, compreendo que não há que se falar em prestação de serviço independente, uma vez que não é possível prestar serviço para si mesmo. Sobre o tema final, entendo que não há critério posto sobre a limitação temporal relativa ao período que os objetos possam permanecer acondicionados de modo a importar em descontinuidade do transporte, não havendo que se falar em nova incidência do ICMS. https://www.ibet.com.br/wp-content/uploads/2019/09/PGFN-57.2013.pdf
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