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Restingas: Características e Formação

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Restingas I
Sandro Menezes Silva*
Características geográficas do bioma
O litoral brasileiro, com aproximadamente 9 mil quilômetros de exten-são, pode ser considerado pobre em termos de grandes recortes, prin-cipalmente quanto à relação entre sua extensão e a área territorial do 
país. Com base nas características geológicas, oceanográficas e climáticas da 
costa brasileira, podem ser reconhecidas cinco regiões: amazônica, nordestina, 
oriental, sudeste e meridional1. 
O litoral amazônico ou equatorial estende-se da foz do rio Oiapoque até o 
Maranhão oriental, e tem como principal característica os manguezais, associados 
às desembocaduras de grandes sistemas fluviais como o Amazonas e o Tocantins. 
Em alguns pontos do litoral do Pará e do Maranhão ocorrem áreas de restingas, 
onde sedimentos arenosos formam pequenas planícies e campos de dunas inter-
caladas por outros tipos de sedimentos, notadamente aqueles provenientes dos 
grandes rios que deságuam na região.
O litoral nordestino, também conhecido como região das Barreiras, vai da foz do 
rio Parnaíba ao Recôncavo Baiano e tem como principais características a presença de 
depósitos sedimentares da formação Barreiras, que podem formar falésias2 juntamen-
te com os arenitos de praia, além de barreiras com recifes de corais e extensas áreas 
com dunas de grande porte. Os manguezais ocorrem associados às regiões de estuá-
rios3, enquanto áreas de restingas ocorrem de forma pontual e isolada, associadas a 
outras feições sedimentares mais típicas deste trecho da costa.
O litoral oriental limita-se do Recôncavo Baiano ao sul do Espírito Santo, com 
muitas características comuns ao litoral nordestino, mas com o aparecimento das es-
carpas da Serra do Mar, ainda relativamente interiorizadas e que vão atingir as proxi-
midades do oceano na região de Vitória (ES). A costa é geralmente baixa e caracteri-
zada pela ocorrência de áreas mais ou menos extensas de restingas, ora isoladas, ora 
ligadas umas às outras e ao continente, formando as chamadas planícies costeiras.
O litoral sudeste ou litoral das escarpas cristalinas compreende o trecho que 
estende-se do sul do Espírito Santo ao Cabo de Santa Marta, em Santa Catarina, 
e tem na proximidade das escarpas cristalinas da Serra do Mar ao oceano seu 
principal aspecto físico da paisagem. A presença de grandes reentrâncias na linha 
de costa, correspondentes a baías mais ou menos preenchidas por sedimentos de 
origem diversa, e algumas lagunas com extensão e grau de sedimentação variá-
veis também são destaques nesta região. As restingas também constituem uma 
feição bastante característica desta região, muitas vezes associadas à formação de 
amplas áreas de planície costeira.
* Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade 
Federal do Paraná (UFPR), 
com Mestrado e Doutorado 
em Biologia Vegetal pela 
Universidade Estadual de 
Campinas. Professor de pós-
graduação em Ecologia e 
Conservação da Universida-
de Federal do Paraná (UFPR) 
e Coordenador de Incentivo 
à Conservação da Natureza 
na Fundação O Boticário de 
Proteção à Natureza.
1Esta divisão foi proposta inicialmente por Silveira 
(1964), sendo adotada pos-
teriormente, com algumas 
adições e modificações, por 
outros autores, como Suguio 
e Tessler (1984), Suguio e 
Martin (1987) e Villwock 
(1994), entre outros.
2Feições abruptas e íngre-mes semelhantes a gran-
des barrancos nas proximi-
dades da costa, formadas por 
sedimentos arenosos conso-
lidados e que foram sujeitos 
à intensa erosão marinha, 
comuns na costa do nordeste 
do Brasil.
3Corpo aquoso litorâneo de circulação mais ou 
menos restrita, ainda ligado 
ao oceano aberto, em muitos 
casos relacionados à desem-
bocadura de rios com intenso 
processo de sedimentação.
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O litoral meridional ou subtropical abrange o trecho costeiro que vai do Cabo 
de Santa Marta, na região de Laguna, até a desembocadura do rio Chuí, na divisa do 
Brasil com o Uruguai; além do clima subtropical, tem ainda como aspectos marcantes 
a ocorrência de amplas planícies sedimentares arenosas associadas a um conjunto de 
lagunas com diferentes níveis de comunicação com o oceano.
Mas o que são as restingas e como se relacionam às demais feições litorâ- 
neas? Quais os fatores que podem influenciar na sua formação e nas suas respec-
tivas características abióticas e bióticas?
Características gerais
Em todas as regiões reconhecidas da costa brasileira ocorrem planícies for-
madas por sedimentos terciários e quaternários, depositados em ambientes mari-
nho e continental. Frequentemente estas planícies estão associadas a desemboca-
duras de grandes rios e/ou reentrâncias na linha de costa, e podem estar 
intercaladas por falésias e costões rochosos de idade pré-cambriana, sobre os 
quais assentam-se eventualmente sequências sedimentares e vulcânicas acumula-
das em bacias paleozoicas, mesozoicas e cenozoicas (VILLWOCK, 1994). Estas 
feições são comumente denominadas na literatura como planícies costeiras ou 
planícies litorâneas, e frequentemente as restingas estão associadas a estas.
Existem vários significados para o termo restinga na litera-
tura relacionada à região costeira do Brasil, variando de um sentido 
puramente geológico até um caráter eminentemente ecológico. No 
sentido geológico, restinga refere-se a sedimentos arenosos litorâneos 
de diferentes origens e com feições deposicionais diversas, conotação bastante 
abrangente e, portanto, de uso cada vez menos frequente entre os geólogos. No 
sentido fitogeográfico, o termo relaciona-se a diferentes tipos de vegetação que 
recobrem as áreas de substrato arenoso ao longo da costa brasileira, incluindo 
desde a vegetação das praias e dunas até as florestas situadas em terrenos mais 
interiorizados. 
É comum encontrar-se na literatura o termo complexo	da	restinga relacio-
nado a este significado, justamente indicando a grande variedade de fisionomias 
vegetacionais que caracteriza essas áreas litorâneas. Mas é o sentido ecológico do 
termo aquele que tem sido mais empregado, inclusive neste texto, onde o termo 
tem a conotação de um bioma ou conjunto de ecossistemas com substrato de ori-
gem marinha, sobre o qual desenvolvem-se diferentes tipos vegetacionais, geral-
mente formando as planícies costeiras. A formação geológica destas depende de 
vários fatores, dentre os quais destacam-se as variações relativas do nível do mar 
decorrentes de mudanças ambientais ocorridas durante o período Quaternário, 
as correntes de deriva litorânea4, das fontes primárias de sedimentos (aporte de 
rios ou da plataforma continental) e das “armadilhas” para retenção destes sedi-
mentos (saliências e reentrâncias na linha de costa, desembocaduras de grandes 
rios, ilhas isoladas etc.). Uma explicação detalhada dos processos envolvidos na 
Qual o significado do 
termo restinga?
4Correntes essencialmente paralelas à linha de costa, 
geradas pela incidência oblí-
qua de ondas a esta linha, e 
que atingem maior velocida-
de quando as ondas chegam à 
costa em ângulos que variam 
de 45º a 58º. Também são 
conhecidas como correntes 
longitudinais.
Restingas I
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Restingas I
formação das planícies costeiras formadas por cordões litorâneos ou feixes de 
restingas pode ser encontrada nos trabalhos de Suguio e Tessler (1984) e Suguio 
e Martin (1987).
As restingas formadas pela justaposição de cordões litorâneos são uma das 
feições mais marcantes do litoral brasileiro, especialmente nas regiões Sudeste e 
Sul, cujos ambientes atuais mais comumente encontrados são as praias, as dunas 
frontais, os cordões litorâneos e as zonas intercordões. Os cordões litorâneos que 
formam as restingas são, em alguns casos, pouco visíveis em campo, mas tornam-
-se evidentes em imagens de satélite e fotografias aéreas. 
O reconhecimento de uma unidade de classificaçãopara a região litorânea bra-
sileira, e dentro desta para as restingas, é mais ou menos evidente entre os diferentes 
trabalhos que dedicaram-se ao estudo dos biomas e ecossistemas brasileiros. Entretan-
to, a denominação empregada, seja para designar e classificar a região litorânea, seja 
para diferenciar especificamente suas respectivas fisionomias de vegetação, é bastante 
diversa, e em alguns casos confusa. Tanto a restinga como os manguezais, bastante 
expressivos ao longo de toda a costa brasileira, são reconhecidos praticamente em todos 
os trabalhos consultados, mas a definição das diferentes comunidades, fisionomias e/ou 
formações vegetacionais associadas a esses conjuntos carece de critérios de classifica-
ção objetivos e, ao mesmo tempo, flexíveis, permitindo maior aplicabilidade a todo o 
litoral brasileiro.
Biodiversidade
Vegetação
A vegetação das restingas brasileiras é bastante heterogênea, florística e estru-
turalmente, com formações distintas ocorrendo relativamente próximas espacialmen-
te, característica esta que já foi evidenciada por diversos pesquisadores desde meados 
do século passado. O uso de termos como complexos ou mosaicos para referir-se à 
restinga, evidencia esse aspecto, reforçado por estudos mais recentes e detalhados, 
que procuraram tipificar e denominar os distintos tipos vegetacionais costeiros. Esta 
heterogeneidade é refletida na grande variedade de propostas de classificação e sis-
tematização encontradas na literatura, muitas destas com aplicação eminentemente 
regional, e gera uma série de dificuldades para comparações entre as diversas áreas já 
estudadas e conhecidas. Na literatura sobre a costa brasileira podem ser encontrados 
relatos genéricos sobre os principais aspectos fisionômicos da restinga, listagens e 
descrições detalhadas de diferentes regiões do litoral e propostas de mapeamento e 
denominação das suas diferentes formações ou comunidades vegetacionais.
As formações vegetacionais da região litorânea brasileira já foram incluídas 
nas chamadas formações	edáficas, destacando o papel do solo no condicionamen-
to dos diferentes tipos vegetacionais costeiros. Seguindo esta tendência de reco-
nhecer o solo como um fator condicionador importante na vegetação litorânea, e 
também procurando adequar a classificação da vegetação brasileira a um sistema 
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internacional, nos anos de 1970-1980 a equipe do projeto Radambrasil, realizou 
diferentes tentativas de classificação fitogeográfica do espaço brasileiro, que evo-
luíram conceitual e metodologicamente, culminando com a proposta do IBGE 
(1992) que, embora passível de críticas, principalmente em relação às escalas de 
trabalho, apresentam critérios objetivos de classificação. 
Neste sistema, as planícies litorâneas brasileiras incluem áreas representativas de 
diferentes unidades	fitoecológicas5, com destaque para as formações pioneiras com 
influência marinha, flúvio-marinha ou fluvial/lacustre, agrupados nos sistemas edá-
ficos de primeira ocupação. As restingas equivalem em sua maior extensão às for-
mações pioneiras com influência marinha e fluvial/lacustre, onde mesclam-se tipos 
vegetacionais arbóreos, arbustivos e herbáceos, variações fisionômicas que podem ser 
observadas desde as praias até os pontos mais interiores da planície costeira.
Vários trabalhos regionais procurando classificar e caracterizar florística e 
fisionomicamente as formações vegetais da restinga aparecem mais frequente-
mente na literatura nos anos de 1980-1990. Nos estado do Rio de Janeiro, Espírito 
Santo e Rio Grande do Sul, esses estudos resultaram em conhecimentos mais 
aprofundados, que reforçaram o caráter heterogêneo da vegetação e a importância 
ecológica dessa variação na manutenção da biodiversidade litorânea. 
Atualmente pode-se dizer que a vegetação das restingas do Brasil, notada-
mente nas regiões Sul e Sudeste, onde estas são mais características, tem vários 
dos seus aspectos relativamente bem conhecidos, com um incremento substancial 
na quantidade de trabalhos produzidos nos últimos 20 anos. 
Os diferentes tipos de vegetação ocorrentes nas restingas brasileiras variam 
desde formações herbáceas, passando por formações arbustivas, abertas ou fecha-
das, chegando a florestas cuja altura máxima raramente excede os 20-25 metros. Em 
muitas áreas de restinga no Brasil ocorrem períodos mais ou menos prolongados de 
inundação do solo, fator que tem grande influência na distribuição das formações ve-
getacionais. A periodicidade com que ocorre esse “encharcamento” e a sua respectiva 
duração são decorrentes principalmente da topografia do terreno, da profundidade do 
lençol d´água e da proximidade de rios e lagoas. Como consequência destas variações, 
é comum a ocorrência de “mosaicos” de formações inundáveis e não inundáveis, com 
fisionomias e composições variadas, justificando o nome de complexo, que é muitas 
vezes empregado para designar as restingas.
As formações herbáceas ocorrem principalmente nas faixas de praia e ante-
dunas, em locais que eventualmente podem ser atingidos pelas marés mais altas, 
ou então em depressões alagáveis, situação em que comumente são denominadas 
de brejos ou banhados. 
Nas zonas de praia e dunas mais próximas ao mar predominam espécies 
herbáceas com caules longos e reptantes ou então formando touceiras, em 
alguns casos associadas a pequenos arbustos e arvoretas e formando agrupa-
mentos mais densos, variáveis nas suas respectivas fisionomias, composições 
florísticas e graus de cobertura.
5Cada uma das categorias reconhecidas no sistema 
de classificação da vegetação 
brasileira, incluindo desde os 
níveis mais abrangentes (zo-
nas ou regiões) até os mais 
específicos, como formações 
e subformações.
Restingas I
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Restingas I
A vegetação das praias e dunas tem ocorrência praticamente ao longo de 
toda a costa brasileira, mas a sua circunscrição e os termos empregados para 
designá-la variam muito. Já foi denominada de vegetação praieira, vegetação ha-
lófita, vegetação	psamófita, vegetação da praia e formação	pioneira	das	dunas, 
somente para citar alguns dos nomes encontrados na literatura específica.
Os brejos litorâneos são formações típicas das áreas mais abertas ao longo 
dos cursos d’água das restingas brasileiras, em geral nas depressões do terreno ou 
no entorno das lagunas e lagoas costeiras. A principal característica destas áreas é 
o predomínio de espécies de capins das famílias das gramíneas e das ciperáceas, 
raramente associados a arbustos e árvores. Os solos estão sujeitos à saturação por 
água durante praticamente todo o tempo, mesmo nos períodos menos chuvosos, e 
normalmente apresentam gradações tanto para áreas mais salinas, onde em geral 
ocorrem os manguezais, como para locais arenosos com melhor drenagem, onde 
ocorrem formações arbustivas e/ou arbóreas. 
As formações arbustivas das restingas são seguramente os tipos vegetacio-
nais que mais chamam a atenção no litoral brasileiro, tanto pelo seu aspecto pecu-
liar, com fisionomia, variando desde densos emaranhados de arbustos misturados 
a trepadeiras, bromélias e cactáceas; até moitas com extensão e altura variáveis, 
intercaladas por áreas abertas que em alguns locais podem expor diretamente a 
areia, principal constituinte do substrato das restingas no Brasil.
Alguns termos pouco conhecidos e usuais como scrub, thicket, e fruticeto já 
foram empregados para designar formações com este aspecto na região litorânea, 
todos destacando como características a alta densidade de arbustos, a mistura de 
diferentes formas biológicas e a fisionomia que reflete os efeitos dos ventos predo-
minantes vindos do mar sobre as formas das copas, entre outras. 
Um aspecto muito peculiar e interessante das formações arbustivas da res-
tinga é a ocorrência de locais onde o aspecto predominanteda vegetação é um 
conjunto de moitas de extensão e forma variadas, em meio às quais ocorrem áreas 
abertas. O termo moita aqui empregado é definido como um “aglomerado” de 
plantas arbustivas ou arbóreas, separadas de outras plantas por espécies de outras 
formas de vida ou por áreas sem vegetação. As áreas abertas entre as moitas po-
dem apresentar cobertura vegetal variada, constituída tanto por espécies herbáce-
as, conforme citado anteriormente, como por “tapetes” mais ou menos extensos 
de musgos ou agrupamentos de líquens arborescentes. 
As florestas ocorrentes nas restingas do Brasil são bastante vari-
áveis ao longo de toda a costa, tanto nos seus aspectos florísticos como 
estruturais, variações geralmente atribuídas às influências das florestas 
adjacentes e às características do solo, principalmente sua origem, composição e 
condições de drenagem. Estas florestas variam desde formações com altura das co-
pas chegando a pouco mais de 5 metros, em geral livres de inundações periódicas 
decorrentes da ascensão do lençol freático durante os períodos mais chuvosos, até 
formações mais desenvolvidas, com alturas em torno de 20-25 metros, em muitos 
Como são as florestas 
de restinga?
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casos associadas a solos hidromórficos e/ou orgânicos. Estes dois tipos de florestas 
em geral acompanham as variações topográficas decorrentes da justaposição dos 
cordões litorâneos que originam as restingas, ao menos onde estas feições são bem 
definidas. Em locais mais interiores na planície costeira, em terrenos mais depri-
midos e com solos saturados hidricamente e com uma espessa camada orgânica 
superficial, ocorrem florestas mais desenvolvidas. A denominação empregada para 
designar as florestas de restinga é variável, sendo os termos mata ou floresta	de	
restinga mais frequentemente empregados, muitas vezes sem especificar algo em 
relação às respectivas condições de drenagem do solo, que nestas situações são 
um fator ecológico importante. 
A flora das restingas brasileiras é, em geral, caracterizada como um conjunto 
de pouca riqueza, principalmente quando comparada com outros tipos de vegetação 
do Brasil. Para muito botânicos e fitogeógrafos tal fato está relacionado às condições 
adversas e estressantes encontradas nos ambientes típicos das planícies costeiras, re-
lacionados principalmente à origem, natureza e dinâmica do substrato. Além disto, 
frequentemente é feita referência ao fato das restingas apresentarem poucas espé-
cies	endêmicas6, o que comumente é justificado pelo fato das áreas de planície cos-
teira no Brasil serem relativamente recentes do ponto de vista geológico e, portanto, 
com pouco tempo para que ocorresse a formação de novas espécies. Recebem uma 
grande influência das formações vizinhas, com as quais mantinham conectividade 
no passado, e têm nas famílias das bromeliáceas, orquidáceas, mirtáceas, lauráceas, 
leguminosas e gramíneas seus elementos mais característicos.
Fauna 
A fauna das restingas brasileiras é relativamente menos estudada quando 
comparada com os conhecimentos que já se acumulam sobre suas respectivas 
flora e vegetação. As lacunas nos conhecimentos das comunidades faunísticas 
das restingas brasileiras já foi destacado por diversos zoólogos e naturalistas, que 
destacaram o papel que os relatos de viagens feitos por naturalistas estrangeiros 
que passaram pelo Brasil nos séculos XVIII e XIX, tiveram no registro de várias 
espécies animais ocorrentes na zona costeira, mesmo que em alguns casos este 
tenha sido realizado de forma imprecisa. Relatos anteriores ao século XIX, além 
de mais escassos e pontuais, são de difícil obtenção e carecem ainda mais de de-
talhes que permitam uma visão mais completa das comunidades faunísticas das 
restingas brasileiras (CERQUEIRA, 1984; MACIEL, 1984a, 1984b).
Naturalistas que passaram pela região litorânea nos séculos XVIII e XIX de-
ram importantes colaborações ao conhecimento da fauna das restingas, mas difi-
culdades de obtenção dos relatos originais e de acesso às coleções realizadas, bem 
como limitações metodológicas inerentes à época destes estudos, impossibilitam a 
construção de uma visão mais consistente sobre o assunto. Muitas das áreas visi-
tadas por estes notáveis naturalistas viajantes atualmente encontram-se completa-
mente alteradas, e em muitos casos, tais relatos constituem as únicas informações 
disponíveis para certas regiões.
6Espécie com distribuição geográfica mais restrita, 
seja a uma localidade espe-
cífica ou a um ecossistema 
ou bioma. O pau-brasil, cujo 
nome científico é Caesalpi-
nia echinata, é um exemplo 
de espécie endêmica da Flo-
resta Atlântica do Brasil.
Restingas I
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Restingas I
A importância que determinadas espécies da fauna das restingas têm nas 
zonas costeiras, nem sempre devido ao fato de serem exclusivos destes ambientes 
e sim pelo destaque que têm em relação a outros, pode ser evidenciada pela gran-
de quantidade de topônimos relacionados às espécies animais ocorrentes na zona 
costeira, tais como Jacarepaguá, Guaratiba, Guaratuba, Guaraqueçaba, Ararua-
ma, Sernambetiba, Catete, Inhaúma, entre outros, na sua maioria derivados das 
linguagens indígenas dos grupos que ocupavam o litoral.
O levantamento bibliográfico sobre as restingas brasileiras realizado por 
Lacerda et al. (1982) traz poucas referências sobre sua fauna, quando comparado 
com os estudos sobre a geologia, geomorfologia e vegetação das restingas. Entre 
os trabalhos mencionados, alguns tratam de assuntos muito específicos, como 
novas ocorrências de espécies animais na região litorânea, descrições de espécies 
novas ou de aspectos da biologia de uma ou poucas espécies, ou então tratam de 
grupos mais relacionados aos ambientes aquáticos, não contribuindo significa-
tivamente para fornecer uma visão mais completa sobre a composição da fauna 
destas áreas, e muito menos sobre os diferentes aspectos da estrutura e da dinâ-
mica das comunidades animais. 
Grande parte desses relatos foram realizados no estado do Rio de Janeiro, 
representando somente uma pequena parte do litoral brasileiro, e que podem ser 
generalizados somente para as regiões mais próximas aos locais estudados.
Existem estudos envolvendo diferentes grupos de invertebrados, incluindo 
os insetos, que mostram que muitas das espécies ocorrentes nas restingas também 
ocorrem nos ecossistemas contíguos a ela, com poucas espécies novas descritas 
na própria restinga. Os insetos que constituem um dos grupos de organismos vi-
vos mais diversificados da biosfera e os estudos realizados nas restingas brasilei-
ras estão longe de representar sequer uma pequena parte da importância ecológica 
que estes têm quando o assunto é biodiversidade. Durante muitos anos, o único 
invertebrado que fez parte da lista de espécies brasileiras ameaçadas de extinção 
foi uma borboleta, cujo nome científico é Parides ascanius, e que é elemento típi-
co das zonas costeiras e restingas do Rio de Janeiro.
As libélulas (Odonata) vêm sendo amplamente estudadas nas restingas do 
Rio de Janeiro desde a década de 1950, reunindo um volume considerável de in-
formações, sobretudo na costa fluminense.
A fauna de vertebrados ocorrente nas restingas brasileiras também é relati-
vamente pouco pesquisada, com destaque mais uma vez aos trabalhos realizados 
no litoral do Rio de Janeiro, principalmente com pequenos mamíferos e répteis. 
Neste grupo foram bastante estudadas espécies do gênero Liolaemus, endêmicos 
de algumas áreas restritas de restinga no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. 
Destacam-se ainda os trabalhos realizados com a avifauna, tanto no Rio 
de Janeiro como em outras localidades da costa brasileira, que evidenciam que a 
maior parte das espécies de aves das restingas ocorrem nas formações vizinhas, 
assim como acontece também com os anfíbios.Não obstante este fato, existem 
referências de espécies endêmicas e de espécies ameaçadas em vários trechos de 
restingas no Brasil, nos diferentes grupos animais.
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Vale salientar o trabalho desenvolvido por Maciel (1984b), que traz uma 
relação de espécies animais de diversos grupos ocorrentes nas restingas do lito-
ral do Rio de Janeiro, onde são citadas mais de 100 espécies de invertebrados e 
vertebrados, distribuídas entre os diferentes “componentes da restinga”, a saber: 
“praia, cordão litorâneo, entrecordões e lagoa”. 
Em uma reavaliação dos conhecimentos sobre a fauna das restingas do Brasil, Ma-
ciel (1990) destacou que naquela ocasião havia ocorrido poucos avanços sobre o assunto, 
muito embora o ritmo de destruição das restingas, principalmente das áreas situadas na 
região sudeste, tenha aumentado significativamente no período considerado. Chamou a 
atenção mais uma vez para os poucos registros de espécies endêmicas nas restingas, assim 
como para a ausência de uma fauna particular e característica deste conjunto de formações 
vegetais, conforme já havia sido destacado por Cerqueira (1984). 
Conclusão
A restinga é um ecossistema, ou conjunto de ecossistemas dependendo da 
abrangência dada ao termo, de ocorrência praticamente em toda a costa brasileira, 
associada a ambientes deposicionais distintos, porém sempre envolvendo sedi-
mentos arenosos. Outros significados para o termo restinga existem na literatura 
específica, porém para um entendimento mais fácil tornou-se mais usual o empre-
go com este enfoque ecológico. As planícies costeiras são feições geográficas do 
litoral que têm relação direta com a restinga, pois são os locais onde o ecossistema 
ocorre em suas formas mais típicas. 
A grande variedade de tipos de vegetação ocorrentes na restinga, associa-
dos a diferentes combinações de fatores do meio, tem como consequência uma 
diversidade de ambientes, gerando uma certa diversidade na fauna que ocorre 
nestes locais. A vegetação pode variar desde comunidades herbáceas, forma-
das por espécies de plantas rasteiras e graminoides, passando por formações 
arbustivas de altura e grau de coberturas variáveis, até florestas desenvolvidas, 
associadas a solos arenosos com características de drenagem distintas. Neste 
gradiente de vegetação, que muitas vezes reflete o próprio processo de coloni-
zação das planícies costeiras pela vegetação, a principal tendência é de aumento 
de biomassa, cobertura e complexidade, na medida em que se afasta do mar para 
o interior do continente. 
Tanto a flora como a fauna das restingas brasileiras podem ser consideradas 
formas simplificadas em termos de composição em relação à Floresta Atlântica que 
acompanha boa parte da costa brasileira. No entanto, existem registros de espécies 
vegetais e animais endêmicas da restinga, notadamente nos estados do Rio de Janei-
ro e Espírito Santo, locais onde as restingas são mais estudadas e conhecidas. 
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Restingas I
1. Faça um mapa esquemático localizando de forma geral as principais áreas com ocorrência da 
restinga no Brasil. Você pode pesquisar estas informações na internet, acessando sites do IBGE, 
do Ibama, de organizações não governamentais como o WWF Brasil e a Fundação SOS Mata 
Atlântica.
2. Agora sobreponha a este mapa pontos representativos da localização das principais cidades da 
região litorânea do Brasil e das principais unidades de conservação federais localizadas nesta 
região, procurando estas informações em um Atlas geográfico ou nos sites da internet já reco-
mendados.
3. Discuta com os demais colegas do curso as implicações do resultado da análise conjunta dos 
mapas elaborados para a conservação da restinga no Brasil, procurando exemplos de situações 
para ilustrar as discussões realizadas.
4. Elabore em grupo um documento-síntese com os principais pontos do trabalho realizado, que 
pode ser apresentado por escrito para outras turmas participantes do curso.
ESTEVES, Francisco de Assis; LACERDA, Luiz Drude.(ed.). Ecologia de Restingas e Lagoas Cos-
teiras. Rio de Janeiro: Nupem / UFRJ, 2000. 394 p.
Este livro constitui uma referência importante sobre as restingas do Brasil, pois faz uma síntese 
do que se conhece sobre este bioma, com ênfase às restingas do Rio de Janeiro. Os capítulos tratam 
da vegetação das restingas, seus aspectos geográficos e ecológicos, além de trazer informações resul-
tantes de pesquisas com diferentes grupos de vertebrados, especialmente mamíferos, aves e répteis, 
e uma seção dedicada somente a estudos ecológicos realizados nas lagoas costeiras ocorrentes nas 
restingas do Rio de Janeiro. A última parte traz dois artigos que abordam os aspectos socioambientais 
em diferentes áreas do litoral do Rio de Janeiro. 
Trata-se de uma base de consulta interessante para aqueles que buscam mais informações sobre 
as restingas, pois cada capítulo traz um conjunto de referências bibliográficas que juntas somam qua-
se 500 referências sobre os mais diversos temas e regiões do Brasil.
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Restingas I
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Restingas II
Aspectos socioeconômicos das restingas
A costa brasileira, com mais de 9 mil quilômetros de extensão, é banhada pelo oceano Atlântico desde a foz do rio Oiapoque, no Estado do Amapá, até a foz do Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Ao longo de toda esta extensão ocorrem áreas mais ou menos expressivas de restingas, 
aqui consideradas como ecossistemas que se desenvolvem sobre depósitos sedimentares arenosos 
marinhos, com vegetação e fauna diversificada, e que têm em comum uma história geológica relati-
vamente recente, sendo bem estudada e compreendida nos dias de hoje.
Praticamente todas as áreas de restingas no Brasil têm em torno de 5 mil anos de idade, período mui-
to curto geologicamente falando, propiciando um caráter de maior instabilidade do sistema. Neste tempo, 
diversas mudanças na linha associadas a processos consecutivos de erosão e deposição de sedimentos na 
costa resultaram em paisagens bastante diversas, onde a vegetação teve um papel estabilizador fundamen-
tal, especialmente quando considerada a fragilidade do sistema como um todo. 
A região costeira brasileira é muito rica em fauna e flora, resultado de um conjunto de paisagens 
naturais variadas, que vão desde planícies de maré cobertas por manguezais e brejos salinos, até du-
nas de areia fixas e móveis, extensas praias arenosas, costões rochosos, baías, ilhas, lagoas, falésias, 
estuários e recifes de coral, numa diversidade de ambientes que faz desta região detentora de diversos 
títulos como Patrimônio da Humanidade, Reserva da Biosfera, entre outros.
Por outro lado, é uma das regiões mais densamente povoadas, abrigando cerca de 22% da po-
pulação do país, em grandes capitais e cidades muito importantes no cenário nacional e até mesmo 
internacional. Quase todas as capitais dos estados banhados pelo oceano Atlântico no Brasil estão si-
tuadas na região litorânea, o que tem gerado uma série de impactos, não somente nas restingas, como 
nos demais ecossistemas costeiros.
A ocupação territorial do Brasil por ocasião da chegada dos primeiros colonizadores ocorreu 
num sentido geral do litoral para o interior, o que ocasionou um significativo adensamento popu-
lacional na região costeira. Estimativas do IBGE apontam que cerca de um quinto da população 
brasileira vive nas regiões costeiras, resultando em uma densidade demográfica de 87 habitantes 
por quilômetro quadrado, cinco vezes maior que a média nacional de 17 habitantes por quilômetro 
quadrado. Considerando os espaços imediatamente contíguos à costa, numa faixa de aproximada-
mente200 quilômetros da orla marítima, temos metade da população nacional.
O padrão de povoamento aí existente é altamente centralizado, com as dez maiores aglome-
rações litorâneas do país concentrando quase 25 milhões de habitantes. Somente as cinco maiores 
regiões metropolitanas existentes na costa abrigam 15% do efetivo demográfico brasileiro. Dessa 
forma, pode-se dizer que um caráter fortemente urbano e concentrado marca o povoamento da região 
litorânea do Brasil. 
Quando consideradas as condições de saneamento básico do Brasil, onde estima-se que 80% 
da população urbana não é coberta por serviço de coleta e tratamento de esgoto, e 43% dos domicí-
lios urbanos não possuem sequer fossas sépticas, é de se supor que nas cidades localizadas na região 
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litorânea o quadro não é substancialmente distinto, e que estas representam fontes 
poluidoras e de contaminação em intensidade diretamente relacionada com seus 
respectivos tamanhos populacionais. Em geral os resíduos in natura têm como 
destino o mar, o que faz das metrópoles litorâneas os maiores focos de polui-
ção ambiental na costa, e também qualificam-nas como os principais agentes de 
impacto sobre os ambientes costeiros e marinhos.
Além da ocupação residencial da região costeira brasileira, parte considerável 
da base industrial do país está situada nesta região, nos arredores das grandes aglome-
rações urbanas, como pode ser visto no Recife, em Salvador, no Rio de Janeiro e em 
São Paulo. Devido à necessidade de certos tipos de insumos e de infraestrutura, seto-
res da produção como o químico, petrolífero e petroquímico instalam-se principal-
mente nas regiões costeiras, o que além de necessitar de modificações severas nas 
condições naturais destas regiões, representam um fator de risco a mais para a integri-
dade ecológica da região litorânea, uma vez que movimentam grandes quantidades de 
substâncias químicas de efeitos adversos severos sobre a biota regional.
Ainda persistem, em diferentes pontos do litoral brasileiro, locais com 
adensamento demográfico relativamente baixo, onde vivem as chamadas po-
pulações	tradicionais. Assim têm sido chamadas as populações que vivem em 
relativo isolamento geográfico, com cultura e formas de relacionar-se com a 
natureza distintas em relação à sociedade urbana. Muitas destas passaram nas 
últimas décadas por um processo acelerado de incorporação à economia de merca-
do, motivado principalmente pelo aumento da atividade turística e de veraneio na 
região costeira. Estas comunidades, cuja base de sobrevivência era proveniente de 
recursos pesqueiros e/ou florestais extraídos de áreas naturais, passaram a deman-
dar um maior volume destes recursos para suprir o aumento da demanda decorrente 
da intensificação das atividades comerciais, passando, em alguns casos, a ser um 
vetor de impacto na já fragmentada paisagem litorânea atual. 
Impactos ambientais
Os principais impactos ambientais na zona costeira brasileira decorrem das 
atividades econômicas desenvolvidas nesta região, além da própria ocupação hu-
mana nas grandes aglomerações urbanas. Como estas se distribuem de forma de-
sigual ao longo da costa, os principais vetores de impacto atuantes em cada região 
têm importância diferenciada, e mesmo sendo de mesma natureza, podem variar 
em intensidade conforme a geografia da costa e a sua respectiva capacidade de 
suporte a alterações decorrentes da atividade humana.
Região Norte
Na região Norte pode-se dizer que os ecossistemas costeiros estão bem con-
servados e as ações que provocam maior impacto são reduzidas e tem efeitos 
mais pontuais e localizados. As áreas de restingas, assim como de manguezais 
e demais ambientes do litoral amazônico, estão submetidas a uma dinâmica das 
E o que são as 
populações 
tradicionais?
Restingas II
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Restingas II
marés e de variações geográficas constantes, impróprias para instalação de mora-
dias e edificações definitivas. Além disto, boa parte dessas áreas caracterizam-se 
como áreas de preservação permanente, em que há uma série de restrições legais 
às atividades humanas. 
Em boa parte do litoral norte os agrupamentos humanos localizam-se em 
pequenas cidades e vilas, na sua maioria instaladas em áreas limítrofes aos ecos-
sistemas de terra firme. Algumas destas localidades já começam a sentir os im-
pactos do turismo, principalmente onde existem belas praias, e a procura por es-
paços para construção de habitações gerou uma alta especulação imobiliária, que 
avançou sobre áreas de restingas e de manguezais. 
Outro fator de impacto na região norte é a pesca predatória, que tem cau-
sado uma diminuição da atividade de pescadores tradicionais e industriais, com 
sinais evidentes de declínio de algumas espécies importantes no comércio local, 
como o caranguejo e os camarões, espécies mais relacionadas aos manguezais. 
A coleta intensiva de caranguejo é preocupante, pois existem evidências 
de que o nível de retirada do recurso das áreas costeiras está acima do nível de 
reposição natural que as populações conseguem manter, processo que tende a 
agravar-se com o aumento da atividade turística. Em áreas com acesso facilitado 
por estradas e nas proximidades das cidades maiores este impacto é mais signifi-
cativo, tanto em termos sociais como ambientais. 
A pecuária em áreas de restingas e campos alagáveis, que nesta região é pra-
ticada principalmente com gado bubalino, ocasiona uma série de impactos diretos 
e indiretos, desde o estabelecimento das pastagens, quando áreas naturais são 
cortadas e queimadas, em alguns casos com a substituição das espécies de pasto 
nativas por espécies africanas, além dos efeitos sobre o solo e corpos d´água. 
A extração de areia e argila, realizada em diferentes pontos do litoral Norte, 
tem um impacto considerável sobre as restingas, assim como a extração de madeira, 
lenha e carvão, para diferentes finalidades. A remoção da vegetação das restingas para 
diferentes usos pode vir associada à especulação imobiliária, fator cada vez mais im-
portante nas regiões mais visadas pela atividade turística. Nestas localidades, a falta 
de tratamento adequado dos dejetos também tem sido um fator de impacto sobre as 
restingas, onde devido à natureza do substrato pode ocorrer contaminação das águas 
subterrâneas, ocasionando prejuízos para a saúde humana.
Região Nordeste
Na região Nordeste os fatores de impacto são de natureza similar ao descrito 
para a região Norte, com algumas peculiaridades relacionadas às características 
da costa. Em alguns pontos da costa a atividade de extração de petróleo tem pro-
vocado uma série de impactos, especialmente decorrentes de acidentes durante o 
processamento e transporte do óleo. Alguns setores da atividade pesqueira têm 
alegado que esta atividade tem prejudicado a pesca na região, principalmente em 
função de restrições de acesso às áreas próximas às plataformas e consequente 
necessidade de deslocar a área de pesca para zonas mais distantes da costa. 
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A indústria do sal tem na região nordeste, especialmente no Ceará e no Rio 
Grande do Norte, seu principal parque produtivo instalado, que tem gerado um 
processo de degradação ambiental especialmente nas áreas de manguezais, atin-
gindo eventualmente as restingas limítrofes.
A aquicultura, especialmente a carcinocultura (cultivo de camarões) tem 
sido apontada como uma atividade de bastante impacto sobre os ambientes cos-
teiros, notadamente dos manguezais e das lagoas costeiras. As áreas de criação, 
geralmente da espécie asiática denominada cientificamente de Penaeus	vannamei, 
localizam-se às margens de estuários e lagoas costeiras, e provocam uma des-
caracterização severa da paisagem. O impacto é acentuadopela possibilidade 
de contaminação dos ambientes naturais com esta espécie, que é exótica, e pelo 
despejo de uma grande quantidade de resíduos produzidos pela espécie nos am-
bientes costeiros, provocando desequilíbrios nos ciclos minerais das lagoas e dos 
estuários, com reflexos diretos sobre as restingas. O cultivo extensivo de espécies 
estuarinas, em geral praticada por pequenos pescadores em viveiros artesanais e 
rudimentares (“currais”), é uma prática bastante difundida nos estuários, em locais 
com abundância de pescado e maior renovação da água, podendo ser considerada 
como uma atividade de baixo impacto sobre os ambientes costeiros. Um dos im-
pactos mais notáveis dessa atividade é a retirada de madeira para construção dos 
currais, que é feita tanto das áreas de restinga como das áreas de manguezais.
Um processo de ocupação das restingas, que na região nordeste já se trans-
formou em um símbolo regional, é o cultivo do coco. Áreas extensas de restinga 
e ecossistemas associados, em praticamente todos os estados da região, já foram 
transformadas em coqueirais, causando uma descaracterização completa destes 
ecossistemas. Pegando um estado como exemplo, em estimativas oficiais dos ór-
gãos estaduais de planejamento do estado do Ceará, a produção média anual de 
coco na década de 1990 foi algo em torno de 90 mil toneladas, figurando entre as 
cinco maiores culturas do estado. 
A atividade turística, característica econômica marcante na região Nordeste, 
tem sido uma das principais responsáveis por diversos impactos sobre as restingas 
e demais ecossistemas na região. Esses impactos também atingem direta ou in-
diretamente a população local, gerando em muitos casos um efeito em cascata de 
degradação ambiental, e populações marginalizadas do processo turístico acabam 
por pressionar mais os ambientes naturais, em busca de itens básicos de subsis-
tência, como madeira para construção de habitações e para lenha, até animais de 
caça para suprir as necessidades nutricionais básicas.
Além da ocupação de áreas de restinga para construção de casas de vera-
neio e equipamentos de recreação e lazer, a atividade turística ocasiona impactos 
diversos, como degradação de dunas por automóveis de recreação que realizam 
passeios com os turistas, alteração das lagoas associadas às restingas e dunas pelo 
despejo de lixo e dejetos orgânicos, aumento da pressão de pesca sobre os itens 
mais procurados pelos turistas, como camarão, caranguejo e lagosta, entre outros. 
Como essas atividades não absorvem todo o contingente que foi deslocado pela 
Restingas II
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Restingas II
própria expansão da atividade, há um aumento da pressão destas populações so-
bre os recursos naturais, conforme mencionado anteriormente, atingindo não só 
as restingas, mas todos os ecossistemas que compõem a região costeira.
Regiões Sudeste e Sul
Nas regiões Sudeste e Sul o principal fator de impacto da região costeira, in-
cluindo as grandes áreas de restingas que originalmente ocorriam, decorrem da ocu-
pação humana, visto que as maiores cidades do país localizam-se nesta região ou 
muito próxima dela. Além disso, balneários de veraneio atraem anualmente milhares 
de pessoas para essas regiões, não só do Brasil como de outros países, mesclando os 
impactos de uma ocupação urbana acentuada com a pressão exercida pela atividade 
turística. As instalações urbanas, as estruturas de produção que suportam boa parte 
da economia nacional e um conjunto extenso de balneários de veraneio degradaram 
praticamente todas as áreas de restinga nesta região, com exceção daquelas que estão 
sob algum tipo de proteção especial, principalmente em unidades de conservação. São 
comuns nessa região conflitos entre comunidades tradicionais que habitam alguns tre-
chos e as frentes de ocupação, sejam turísticas ou de outra natureza, colocando muitas 
vezes a conservação da biodiversidade como a responsável por parte significativa das 
demandas sociais destas comunidades.
Além destes fatores, impactam diretamente a zona litorânea do sudeste e 
do sul do Brasil, onde antes ocorriam extensas áreas de restingas e ecossistemas 
associados, atividades agrícolas e pecuárias extensivas, além de reflorestamen-
tos com finalidades comerciais. Algumas culturas importantes nesta região são 
a mandioca, a cana-de-açúcar, a banana, o gengibre e o abacaxi, além de outras 
de expressão mais localizada. Nas áreas úmidas associadas às restingas é comum 
o plantio do arroz, especialmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. A 
bubalinocultura é a principal atividade pecuária nas áreas úmidas associadas às 
planícies costeiras do sul de São Paulo e do Paraná, sendo responsável por diver-
sas alterações ambientais, entre as quais a degradação de áreas para implantação 
de pastagens, o pisoteio e consequente degradação do solo, alterações no regime 
hídrico, introdução de espécies forrageiras exóticas, entre outras.
Alternativas sustentáveis e conservação
A história mais recente das relações do homem com a natureza tem sido 
marcada por conflitos entre os interesses de diferentes grupos, que têm na natu-
reza sua fonte de sobrevivência ou de recursos naturais, dependendo da ótica do 
grupo de interesse. As restingas, com ambientes extremamente frágeis devido 
principalmente à natureza do substrato, frequentemente são vistas como ecossis-
temas menos importantes e “empobrecidos” em relação à vizinha Floresta Atlân-
tica, e portanto sujeitos à degradação mais acelerada de seus recursos naturais.
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Dessa forma, transformar em prática o discurso de uso dos recursos que 
sejam de fato sustentáveis é um tanto quanto difícil, pois esta região vem so-
frendo com a destruição dos habitats praticamente desde a chegada dos coloni-
zadores europeus ao Brasil no século XVI, e áreas naturais são cada vez mais 
escassas, para utilizar-se de forma direta os recursos naturais e garantir a manu-
tenção dos processos ecológicos em áreas restritas em paisagens fragmentadas. 
Existem evidências que até mesmo antes disto, os indígenas que habitavam a 
região costeira já provocavam alterações mais ou menos severas na biota cos-
teira, muitas das quais devidamente documentadas pela grande quantidade de 
sambaquis1 conhecidos no litoral brasileiro.
Dificilmente atividades como a exploração petrolífera e a mineração de areia 
e sal, que geram impactos severos sobre o ambiente, podem ser sustentáveis. Elas 
retiram de forma definitiva recursos que não podem ser renovados naturalmente, 
ao menos em um tempo compatível com o ciclo de vida do homem, e o melhor 
é cercar-se dos cuidados necessários para que essas práticas impactem o menos 
possível os ambientes naturais.
Já outras atividades, como a pesca, a aquicultura e o turismo, podem ser 
feitas de forma ambientalmente mais amigável, com vistas à sustentabilidade dos 
recursos. O que acontece, no entanto, é que a busca por um retorno financeiro 
rápido dos investimentos realizados para implantação de empreendimentos desta 
natureza invariavelmente desconsideram esta possibilidade. Como consequência, 
o que se percebe é um aumento da degradação ambiental nas regiões costeiras, 
mesmo quando ações que poderiam contribuir para a conservação dos ecossiste-
mas acabam tendo efeito contrário.
O turismo, atividade muitas vezes considerada como de baixo impacto sobre 
os ambientes naturais, pode ser uma alternativa interessante para algumas áreas 
com restingas na costa brasileira, especialmente o chamado turismo	de	natureza 
ou ecoturismo. Como na região litorânea são abundantes os atrativos naturais e 
locais de notável beleza cênica, o potencial desta atividade é imenso. No entanto, 
para que esta seja de fato uma prática de pouco impacto, faz-se necessário um 
planejamento adequado dos locais de visitação, compatibilizandoo volume de 
visitação esperado com as condições naturais e de infraestrutura das áreas, de for-
ma a não transformar esta atividade em mais uma fonte de impactos, não só nos 
ambientes visitados, mas também nos locais que servem de ponto de apoio para a 
realização das atividades, como pequenas cidades, vilas e povoados.
Certamente a melhor forma de fazer conservação nas áreas costeiras, in-
cluindo aí as restingas e demais ecossistemas associados, é por meio das unidades 
de conservação2. A despeito da polêmica que muitas vezes envolve a criação e 
implementação destas unidades, as poucas áreas de restinga no Brasil que ainda 
1Grandes acúmulos de restos da atividade do 
homem primitivo, como se 
fosse uma espécie de “depó-
sito de lixo” da Pré-história, 
onde predominam conchas de 
moluscos (ostras e berbigões, 
principalmente), instrumen-
tos de pedra e osso, além de 
esqueletos ou parte de ani-
mais e humanos.
2Segundo o Sistema Na-cional de Unidade de 
Conservação da Natureza 
(Lei 9.985, 18/7/2000), são 
espaços territoriais e seus 
respectivos recursos am-
bientais, com características 
naturais relevantes, criados 
pelo poder público, com limi-
tes e objetivos definidos, para 
as quais se aplicam garantias 
legais de proteção visando 
a conservação da biodiver-
sidade.
Restingas II
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Restingas II
conservam, ao menos em parte, as suas características originais, estão localizadas 
em parques, reserva e estações ecológicas, somente para citar alguns exemplos 
destas unidades. Embora estas sejam criadas pelo poder público, federal, estadual 
ou municipal, e podem ser tanto de domínio público como privado, frequente-
mente geram parcerias com organizações não governamentais e instituições de 
ensino, pesquisa e extensão, seja na gestão das unidades, seja no desenvolvimento 
de atividades que complementam os objetivos de conservação das unidades, como 
pesquisa científica e educação ambiental.
O trabalho conjunto do poder público com as organizações não governa-
mentais que atuam na conservação dos ambientes litorâneos é um ponto funda-
mental para a garantia de perpetuidade das zonas costeiras do Brasil, pois ao mes-
mo tempo em que estas regiões são importantes para a garantia de continuidade 
dos processos ecológicos que mantém a biodiversidade brasileira, também são 
muito visadas por grupos com interesses puramente lucrativos. Neste contexto, a 
inserção das comunidades ditas “tradicionais”, que mantêm, ou ao menos man-
tiveram relações históricas com a região, é fundamental, pois estas também têm 
interesses e anseios em relação a estas áreas, que podem comprometer esforços de 
conservação que conflitem com estes interesses coletivos.
Conclusão
As restingas brasileiras, como ambientes tipicamente costeiros, estão 
sujeitas a todas as pressões que a região litorânea sofre e, portanto, passando 
por um processo intenso de degradação. A substituição de áreas de restinga 
por empreendimentos urbanísticos, turísticos e de produção animal, a expan-
são de áreas para agricultura e pecuária, a intensificação das atividades de 
mineração e a industrialização verificada especialmente próximo aos grandes 
núcleos urbanos têm sido as principais causas desta destruição. Embora as 
restingas sejam consideradas “ecossistemas associados inseridos no domínio 
Mata Atlântica”, e por causa disso estejam sujeitas às condições de uso pre-
vistas no Decreto 750/93 (ver em <www.lei.adv.br/750-93.htm>.) , que “dis-
põe sobre o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou nos 
estágios avançado e médio de regeneração de Mata Atlântica”, os esforços de 
conservação não estão sendo efetivos para proteger estes ambientes em toda 
a sua área de ocorrência na costa brasileira. Iniciativas do poder público e de 
organizações não governamentais no sentido de garantir a conservação da 
biodiversidade das restingas ainda estão aquém das reais necessidades, tendo 
em vista a história de ocupação do território brasileiro e a velocidade com que 
o processo de ocupação da costa vem ocorrendo.
O que pode 
ser feito para 
salvar o que 
restou da 
restinga?
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Vida e morte sobre a areia. 
Biólogos do Rio avaliam o grau de destruição 
de 17 restingas, onde ainda vivem espécies exclusivas
(BICUDO, 2004)
A expedição terminou com um sabor de melancolia. Durante cinco meses, 20 biólogos per-
correram 1 600 quilômetros do litoral brasileiro, do sul do Rio de Janeiro ao sul da Bahia. Quase 
palmo a palmo, examinaram plantas e animais que vivem em meio à restinga, uma vegetação 
baixa e úmida que cresce sobre a areia, entre o mar e a montanha. Encontraram 12 espécies de 
animais que habitam exclusivamente esse ambiente, como a perereca Xenohyla	 truncata, de 3 
centímetros de comprimento, que se esconde no interior das bromélias. Mas, à medida que pros-
seguiam, enfrentando os brejos e a chuva contínua, os pesquisadores sentiam que a satisfação 
pelas descobertas se transformava em desalento, ao constatarem o desaparecimento gradual desse 
ambiente. Condomínios de luxo e favelas avançam sobre as restingas, também usadas como depó-
sito ilegal de lixo e fonte clandestina de areia para a construção civil. Onde ainda é paradisíaca, a 
restinga sofre com o turismo desordenado e abertura de estacionamentos e trilhas. 
Coordenada por quatro professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – 
Monique Van Sluys, Carlos Frederico Duarte da Rocha, Helena de Godoy Bergallo e Maria Alice 
Alves –, a equipe que cuidou desse levantamento avaliou cada uma das atividades humanas que 
ameaçam as dez restingas inicialmente analisadas – cinco delas no chamado corredor de biodi-
versidade da Serra do Mar (as de Grumari, Maricá, Massambaba, Jurubatiba e Grussaí), quatro 
no corredor central da Mata Atlântica (Setiba, Guriri, Prado e Trancoso) e uma no extremo sul do 
Espírito Santo (Praia das Neves). Cada ação humana – da construção de estradas à abertura de 
trilhas de acesso às praias – recebeu uma nota, de zero a dois, de acordo com o impacto sobre o 
ambiente. A soma dos pontos resultou num primeiro diagnóstico preciso das condições de conser-
vação das restingas dessa faixa do litoral brasileiro. 
“A restinga com pior nível de conservação é a do Prado, na Bahia, com 20 pontos”, revela Ro-
cha. Em situação igualmente crítica encontram-se duas restingas do Rio, as de Grumari e Grussaí, 
ambas com 15 pontos, seguidas de perto pelas de Setiba, no Espírito Santo, e Massambaba, tam-
bém no Rio, com 12 pontos cada uma. “Agora enxergamos de modo mais concreto a dimensão dos 
estragos”, diz Luiz Paulo de Souza Pinto, diretor do Centro de Conservação da Biodiversidade da 
Conservation International do Brasil, um dos parceiros da UERJ no projeto. 
Embora a área de restinga tenha encolhido 500 hectares entre 1995 e 2000 apenas nos estados 
do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, de acordo com um estudo da organização não governamen-
tal SOS Mata Atlântica, ainda há trechos em bom estado de conservação. Hoje, o levantamento 
abarca 17 restingas, das quais sete bem preservadas, três em estágio intermediário e sete bastante 
degradadas. “Em Trancoso, na Bahia, restou apenas o trecho junto à Barra do Rio do Frade”, co-
menta Rocha. “O resto já foi destruído.” Apenas por se encontrarem relativamente isoladas das 
cidades e dos turistas é que algumas áreas ainda escapam do que parece ser o destino desse con-
junto de matas à beira-mar, chamado de porta de entrada da Mata Atlântica. 
Esse é justamente um dos problemas. Souza Pinto lembra que as restingas praticamente de-
saparecem diante da Mata Atlântica, uma vegetação mais exuberante à qual estão associadas – e 
Restingas II
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Restingas II
igualmente devastadadesde que os colonizadores europeus aportaram suas caravelas. Ainda hoje 
as restingas são muito pouco estudadas, embora se espraiem por uma faixa de cerca de 5 mil 
quilômetros ao longo da costa brasileira, o trecho mais ocupado do território, com cerca de 87 
habitantes por quilômetro quadrado – cinco vezes a média nacional. 
Formada pelo acúmulo de areia e outros sedimentos nas regiões planas de onde o mar recuou 
nos últimos 5 mil anos, a restinga exibe feições diferentes. Sobre solo arenoso, pobre em nutrien-
tes e com salinidade elevada, cresce apenas uma vegetação rasteira, constituída basicamente por 
gramíneas – esse é o trecho mais exposto à ação humana e a de mais difícil recomposição, justa-
mente por causa do solo. À medida que se afasta das praias, surgem arbustos e moitas com 2 a 5 
metros de altura, com trepadeiras, bromélias e cactos. 
Só mais adiante, de 1 a 2 quilômetros do mar, é que aparecem árvores de médio e grande 
porte, que podem atingir até 20 metros de altura, como a figueira-vermelha, o ipê-amarelo, a 
quaresmeira ou o manacá-da-serra e o guapuruvu. “Essa mudança na estrutura da restinga já era 
conhecida”, diz Monique. “Os estudos sobre a fauna de vertebrados nas restingas é que ficavam 
em segundo plano.” Essa lacuna foi em parte esclarecida com esse levantamento. Ao longo da 
expedição, realizada entre novembro de 1999 e março de 2000, a equipe carioca catalogou 147 
espécies de animais que vivem nas restingas. Predominam as aves (96 espécies), seguidas pelos 
anfíbios (28 espécies), pequenos mamíferos (12) e os répteis (11). 
Animais exclusivos 
O inventário da diversidade biológica revelou 12 espécies exclusivas dessa região – por essa 
razão chamados endêmicos –, descritos pela equipe da UERJ no livro A Biodiversidade nos Gran-
des	Remanescentes	Florestais	do	Estado	do	Rio	de	Janeiro	e	nas	Restingas	da	Mata	Atlântica, 
lançado em junho pela editora RiMa. É o caso da Xenohyla	truncata, uma perereca de até 3 cen-
tímetros de comprimento e pouco mais de 4 gramas, que apresenta um comportamento incomum 
entre os anfíbios: alimenta-se de pequenos frutos, além de insetos, como é habitual entre esses 
animais, e assim atua na propagação das plantas, ao espalhar as sementes na restinga de Maricá, 
onde foi encontrada. 
Já nas restingas da costa do Rio de Janeiro, desde Marambaia até Cabo Frio, vive um lagarto 
com pequenas tarjas marrons e laranja nas costas – é o Liolaemus	lutzae, também chamado de 
lagartixa-da-areia. Abundante até a década de 1970, essa espécie corre hoje risco de extinção, à 
medida que seu habitat se esvai com a ocupação humana. Em algumas áreas, como Prainha, no 
município do Rio, Barra Nova, em Saquarema, e Praia dos Anjos, em Arraial do Cabo, norte do 
estado, já não se vê mais o pequeno réptil. Com até 7 centímetros sem a cauda, é uma das presas 
preferidas de corujas e gaviões, mas às vezes consegue escapar com um artifício peculiar: quando 
perseguido, o lagarto solta a cauda – o movimento que faz sobre a areia depois de desligar-se do 
corpo atrai a atenção dos predadores, que desse modo nem sempre percebem o animal fugindo. 
Entre as aves, a única espécie endêmica de restinga é o formigueiro-do-litoral (Formicivora	
littoralis), registrada apenas em uma das áreas estudadas no estado do Rio – e ameaçada de ex-
tinção devido à degradação acelerada de seu habitat. Outra espécie que vive nas restingas, cuja 
sobrevivência também está em jogo, é o sabiá-da-praia (Mimus	gilvus). Em latim, mimus	quer 
dizer imitador – a capacidade de reproduzir cantos de outros pássaros é uma das características 
marcantes dessa ave, que atinge quase 25 centímetros. Com cauda longa e plumagem cinza-
claro nas costas e branca nas sobrancelhas, lembra as espécies da família dos sabiás, como o 
sabiá-laranjeira. 
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Endemismo concentrado 
Nas restingas, as espécies endêmicas se concentram em duas regiões – evidentemente, as que 
se encontram em melhor estado de conservação, ainda pouco visitadas pelos turistas e construto-
res de condomínios. A primeira consiste de trechos isolados ao longo de 500 quilômetros, desde 
Linhares e Guriri, no norte do Espírito Santo, até Prado e Trancoso, no sul da Bahia. É ali que 
se encontra, por exemplo, o Cnemidophorus	nativo	, um lagarto com duas listras laterais brancas 
e uma dorsal de cor salmão sobre o corpo verde-oliva. Descrita num artigo na revista científica 
Herpetologica, essa espécie de até 6 centímetros de comprimento exibe uma característica rara 
entre os répteis: é formada apenas por fêmeas, que se reproduzem por um processo conhecido 
como partenogênese – o óvulo se desenvolve em um ser adulto sem a necessidade de fertilização 
por um espermatozoide. 
Ao sul, o endemismo é alto nas restingas de Maricá e Jurubatiba, no Rio. Só ali vive outro 
pequeno lagarto, semelhante ao C. nativo, o Cnemidophorus	littoralis	, apresentado na revista Co-
peia. “A concentração de espécies endêmicas nessas regiões”, diz Rocha, “deve-se provavelmente 
às variações ocorridas nos últimos 10 mil anos no nível do oceano, que promoveram o isolamento 
de populações de ancestrais, que assim divergiram geneticamente e passaram a constituir espécies 
diferenciadas.” Mas, afinal, as restingas desaparecerão? Se depender dos pesquisadores do Rio, 
não. No livro em que detalham as descobertas da expedição, eles mostram o que poderia ser feito 
para ao menos reduzir o impacto humano. 
As ações consideradas prioritárias: aumentar a extensão das áreas já protegidas por lei e rea-
lizar levantamentos mais abrangentes das espécies de plantas e animais encontrados nas restingas, 
além de desenvolver programas de educação ambiental nas regiões litorâneas. Os pesquisadores 
propõem ainda a transformação de áreas com o ambiente mais degradado – como a restinga de 
Grussaí, no norte do Rio, de Praia das Neves, no município de Presidente Kennedy, Espírito Santo, 
e de Trancoso, na Bahia – em unidades de proteção integral, nas quais são permitidas apenas a 
realização de pesquisas científicas, atividades educacionais e de recreação. “Em Grussaí, ainda 
há uma importante área remanescente em bom estado, que, embora pequena, deveria ser preser-
vada”, recomenda Rocha. “O entorno está muito degradado por causa da ocupação irregular do 
solo.” Segundo ele, outra relíquia que deveria ser preservada é a restinga de Praia das Neves, que 
apresenta uma rara riqueza e diversidade de espécies, embora ainda não exista na região nenhuma 
área de conservação. 
O diagnóstico sobre o estado de conservação das restingas confirma a relação entre o grau 
de destruição de um ambiente e a ausência de políticas públicas. Nas chamadas unidades de 
proteção integral, como o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, que inclui a mais preser-
vada entre as restingas estudadas, a ação predatória do homem é bastante reduzida. Sem prote-
ção nem fiscalização, porém, o impacto humano tende a eliminar a vegetação natural e reduzir 
as chances de sobrevivência dos animais que ali vivem. Mesmo o clima das cidades pode mudar 
sem as dunas e a vegetação litorânea, que ajudam a regular a temperatura. “O ritmo de destrui-
ção é muito acelerado”, lamenta Monique. 
Restingas II
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Restingas II
1. Formem grupos com no máximo quatro participantes e busquem mais informações, na litera-
tura ou na internet, sobre as principais causas da degradação e desaparecimento da restinga no 
Brasil, trazendo exemplos de situações que provocam esta destruição. As referências bibliográ-
ficas e de sites da internet da aula podem ajudar. Façam um resumo contendo os pontos mais 
relevantes discutidos no grupo, procurando organizar as informações obtidas por região e por 
agente dos impactos levantados.
2. Ainda em grupo, façam um levantamento sobre as unidades de conservação federais existen-tes no Brasil que protegem ambientes de restinga. As informações sobre as unidades federais 
podem ser obtidas no site do Ibama (www.ibama.gov.br) e das unidades estaduais nos sites das 
secretarias de estado responsáveis pela execução da política ambiental estadual. Discuta no gru-
po como estas áreas podem contribuir para reduzir o processo de degradação da restinga, como 
estão distribuídas em relação à área de ocorrência do bioma e procure sistematizar as principais 
informações sobre cada unidade levantada em um quadro sinóptico com as características des-
tas.
 Sugestão: pode-se dividir os estados costeiros do Brasil entre os grupos, de forma a otimizar o 
tempo de pesquisa e discussão dos resultados e propiciar maior interação entre os grupos du-
rante as apresentações.
3. Apresente os resultados sumarizados por sua equipe para os demais grupos, procurando ressal-
tar aqueles aspectos mais importantes e que foram mais marcantes durante as discussões.
ROCHA, Carlos Frederico Duarte da; ESTEVES, Francisco de Assis; SCARANO, Fabio Rubio. Pes-
quisas de Longa Duração na Restinga de Jurubatiba: ecologia, história natural e conservação. São 
Carlos: RiMa, 2004. 374 p.
Trata-se uma excelente coletânea de artigos científicos relativos a pesquisas realizadas no Parque 
Nacional da Restinga de Jurubatiba (RJ), por mais de 50 pesquisadores, na sua maioria ligados às ins-
tituições de ensino superior e pesquisa do Rio de Janeiro. Os assuntos tratados são variados, abordando 
diagnósticos florísticos e faunísticos e estudos de interações sobre organismos vivos, tanto dos ambien-
tes terrestres como aquáticos, além de aspectos relacionados à conservação e educação ambiental.
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