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Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Fonte: Parasitologia. Humana – Neves Amebíase Introdução - No gênero Entamoeba existem várias espécies comensais e uma espécie que apresenta padrões patogênicos; → Amebas Comensais - Estão presentes no intestino do ser humano, mas não são causadoras de doenças. Ex.: Entamoeba dispar – colite não-disentérica – Entamoeba coli, Entamoeba hartmanni, Entamoeba gengivalis – única que vive na cavidade oral – entre outras; → Ameba Patogênica - A Entamoeba histolytica, agente etiológico da amebíase, é a única ameba que pode causar o quadro clínico e sintomático clássico da amebíase – fortes cólicas, diarreias seguidas ou não de sangue – sendo a segunda causa de mortes por parasitose; - A Entamoeba histolytica e a Entamoeba dispar são espécies muito semelhantes morfologicamente, o que dificulta bastante o diagnóstico. Por esse motivo, nos exames laboratoriais devem constar “cistos de Entamoeba histolytica/ Entamoeba dispar”; - Além de apresentar importantes semelhanças com a Entamoeba histolytica, a E. dispar é causadora da forma mais branda de amebíase, a colite não-disentérica, por isso alguns autores defendem que mesmo sendo considerada não patogênica ela deve ser tratada. Classificação - Filo: Sarcomastigophora – apresentam flagelo ou pseudópodes - Sub-filo: Sarcodina – formam apenas os pseudópodes - Ordem: Amoebidae - Família: Entamoebidae - Gênero: Entamoeba - Espécie: E. histolytica/ E. dispar - O gênero Entamoeba se caracteriza por possuir um núcleo esférico ou arredondado e vesiculoso, com a cromatina periférica, formada por pequenos grânulos justapostos e distribuídos regularmente na parte interna da membrana nuclear, o cariossoma é relativamente pequeno, central ou excêntrico; - As espécies de ameba pertencentes ao gênero Entamoeba são divididas em três grupo, de acordo com o número de núcleos do cisto maduro: - Cistos com 8 núcleos: E. coli (homem), E. gallinarum (aves domésticas). Os corpos cromatoides da E. coli apresentam-se pontiagudos, como agulhas; - Cistos com 4 núcleos: E. histolytica, E. dispar e E. hartmanni – menor que as outras. Os corpos cromatoides na E. histolytica e na E. hartmanni apresentam-se em forma de bastão; - Cistos com 1 núcleo: E. polecki – comum em porcos e macacos; - Uma outra forma de classificação baseia-se na morfologia do núcleo do trofozoíto. De um modo geral ele se apresenta esférico, com cromatina periférica que circunda todo o carioplasma, e um cariossoma; - E. histolytica, E. dispar, E. hartmanni: Apresentam uma cromatina periférica bastante regular e uniforme, e um cariossoma central e pequeno; - A espécie E. coli apresenta uma cromatina periférica um tanto que irregular e um cariossoma mais excêntrico. Morfologia - Entamoeba histolytica: Trofozoíto, pré-cisto e cisto → Trofozoíto - Geralmente só tem um núcleo, bem nítido nas formas coradas e pouco visível nas formas vivas. Examinado a fresco, apresenta-se pleomórfico, ativo, alongado, com emissão continua e rápida de pseudópodes, grossos e hialinos. Costuma imprimir movimentação direcional, parecendo estar deslizando na superfície, semelhante a uma lesma; - Quanto a capacidade de invadir ou não as células, os trofozoítos podem ser encontrados de duas formas: - Forma Magna: É a forma invasiva, sendo a única capaz de invadir tecidos. É comum encontrar hemácias no seu citoplasma. Apresenta-se apenas na espécie Entamoeba histolytica, por isso que esta é considerada patogênica; - Forma Minuta: É a forma não-invasiva, apresenta bactérias, grãos de amido ou outros detritos no seu citoplasma, mas nunca hemácias. Suas parasitoses são assintomáticas, por serem capazes de formar cistos se disseminam facilmente, visto que o portador não se trata – por estar assintomático. Tanto a Entamoeba histolytica quanto a Entamoeba dispar podem apresentar esta forma; → Pré-cisto - É uma fase intermediária, entre o trofozoíto e o cisto. É oval, ou ligeiramente arredondado, menor que o trofozoíto. O núcleo é semelhante ao do trofozoíto; → Cisto - Esféricos ou ovais, os núcleos são pouco visíveis e variam de um a quatro, os corpos cromatóides, quando presentes, têm a forma de bastonetes ou de charutos, com pontas arredondadas. Além disso, no citoplasma são encontrados vacúolos de glicogênio, que funcionam como reservas; - Os cistos jovens são aqueles com 1 a 3 núcleos, vacúolos de glicogênio e corpos cromatóides. Já os cistos maduros, apresentam 4 núcleos e raramente apresentam vacúolos de glicogênio e corpos cromatóides. Biologia e Ciclo Biológico - Os trofozoítos da E. histolytica normalmente vivem na luz do intestino grosso podendo, ocasionalmente, penetrar na mucosa e produzir ulcerações intestinais ou em outras regiões do organismo, como fígado, pulmão, rim e, mais raramente, no cérebro. Eles são essencialmente anaeróbios, entretanto amebas são hábeis para consumir O2, podendo crescer em atmosferas contendo até 5% de oxigênio; - A locomoção se dá através de pseudópodes, a ingestão de alimentos por fagocitose e por pinocitose, e a multiplicação se dá através de divisão binária dos trofozoítos; → Ciclo Biológico - É monoxênico – um hospedeiro – e muito simples; - O ciclo se inicia pela ingestão dos cistos maduros, junto de alimentos e água contaminados. Os cistos passam pelo estômago, resistindo à ação do suco gástrico, chegam ao final do intestino delgado ou início do intestino grosso, onde ocorre o desencistamento, com a saída do metacisto – forma multinucleada que emerge do cisto no intestino delgado – através de uma pequena fenda na parede cística; - O metacisto sofre sucessivas divisões nucleares e citoplasmáticas, dando origem a quatro e depois oito trofozoítos – trofozoítos metacísticos. Estes trofozoítos migram para o intestino grosso, onde se colonizam. Em geral, ficam aderidos à mucosa do intestino, vivendo como um comensal – vive no hospedeiro sem prejudicá-lo – alimentando-se de detritos e de bactérias – ciclo não-patogênico; → Ciclo não-patogênico - Sob certas circunstâncias, ainda não muito bem conhecidas, os trofozoítos se desprendem da parede e, na luz do intestino grosso, principalmente no cólon, eles transformam-se em pré-cistos. Em seguida, secretam uma membrana cística e se transformam em cistos, inicialmente mononucleados; - Através de divisões nucleares sucessivas, se transformam em cistos com 4 núcleos, que são eliminados com as fezes – geralmente em fezes liquefeitas ou disentéricas; OBS.: Os “portadores assintomáticos” que manipulam alimentos são os principais disseminadores dessa protozoose, pois são os únicos capazes de formar cistos e, por não apresentarem sintomas, dificilmente se tratam. → Ciclo Patogênico - Em situações que não são bem conhecidas, o equilíbrio parasito-hospedeiro pode ser rompido e os trofozoítos invadem a submucosa intestinal, multiplicando-se ativamente no interior das úlceras e podem, através da circulação porta – circulação venosa especial do sistema digestivo – atingir outros órgãos, como fígado e, posteriormente, o pulmão, o rim, o cérebro ou a pele, causando amebíase extraintestinal; - O trofozoíto presente nestas úlceras é denominado forma invasiva ou virulenta – forma magna. Na intimidade tissular, não forma cistos, são hematófagos – se alimentam de hemácias – e muito ativos. Patogenia e Virulência - Amebíase é a infecção do homem causada pela Entamoeba histolytica, com ou sem manifestação clínica. Essa ameba possui uma inexplicada variabilidade quanto ao potencial patogênico e à diferença de virulência. Sabe-se que o início da invasão amebiana é resultante da ruptura ou quebra do equilíbrio parasito-hospedeiro, em favor do parasito; - Existem inúmeros fatores ligados ao hospedeiro, como localização geográfica, raça, sexo, idade, resposta imune, estado nutricional,dieta, alcoolismo, clima e hábitos sexuais; - Com relação ao parasito, sabe-se que a evolução da patogenia ocorre através da invasão dos tecidos pelos trofozoítos invasivos e virulentos. Tudo indica que a E. histolytica tem um efeito letal direto sobre a célula, necessitando, para isso, que haja, inicialmente, uma forte adesão entre a ameba e a célula que será lesada – se dá por meio de lectinas contidas na superfície das amebas, que reconhecem as células da mucosa intestinal por meio de seus resíduos de Galactose- N-acetil-galactosamina; - Efeito Citopático: Capacidade de destruição celular dos trofozoítos por meio da liberação de proteases, que favorecem a progressão e destruição dos tecidos – essa liberação de enzimas depende do processo de adesão; - Invasão: Uma vez invadida a mucosa, os trofozoítos se multiplicam na submucosa e prosseguem penetrando nos tecidos, sob a forma de microulcerações. Mais raramente, os trofozoítos podem induzir uma resposta inflamatória proliferativa com formação de uma massa granulomatosa – ameboma – caracterizado por um grande nódulo que comumente causa obstrução intestinal. Manifestações Clínicas - A formas clínicas, podem ser classificadas em assintomáticas – 80% dos casos, pode ser causada tanto por E. histolytica quanto por E. dispar – quanto por formas sintomáticas – causadas apenas pela E. histolytica. Estas podem ainda ser divididas em intestinais – colites disentéricas, colites não-disentéricas e ameboma – e extraintestinais – abcessos hepáticos; → Forma Assintomática - 80-90% causadas pela E. histolytica; - A infecção é detectada pelo encontro de cistos no exame de fezes; → Forma Sintomática - Intestinal: Colite disentérica – evacuações mucossanguinolentas, evacuações frequentes (8- 10 por dia), cólicas, flatulência, febre, pirose, náuseas, vômitos, desconforto abdominal, tremores. Complicações da colite disentérica – perfurações intestinais, peritonites, hemorragias, ameboma. Colite não-disentérica – evacuações diarreicas ou não, evacuações (2-4 por dia), fezes moles ou pastosas, raramente ocorre febre, o quadro clínico tem duração variável (2-3 dias), com períodos de normais até novo surto; - Extraintestinal: Hepatite amebiana aguda, abscesso hepático – forma mais comum que acomete homens entre 20 e 60 anos, com a tríade: dor, febre, hepatomegalia. O rompimento do abscesso hepático geralmente leva a disseminação do trofozoíto no pulmão e cérebro – raro. Diagnóstico - A principal dificuldade no diagnóstico é diferenciar as espécies Entamoeba histolytica da Entamoeba dispar – morfologicamente iguais. Por esta razão, quando encontradas nos exames laboratoriais, independente de qual seja a espécie, o paciente deve ser tratado; - Além disso, a E. histolytica e a E. dispar são semelhantes a outras amebas comensais – a E. hartmanni é menor que elas; → Diagnóstico Clínico - Na maioria dos casos, principalmente na fase aguda, a amebíase poderá ser facilmente confundida com algumas doenças, como a disenteria bacilar, salmoneloses, síndrome do cólon irritado e esquistossomose. Devido a essas dificuldades de diagnóstico, este só deverá ser considerado definitivo pelo encontro de parasitos nas fezes; → Diagnóstico Laboratorial - Fezes líquidas: Método direto. Observação em microscópio. Trofozoíto hematófago – com hemácias em seu citoplasma – remete ao diagnóstico de Entamoeba histolytica; - Fezes formadas: Técnicas de concentração de cistos – RITCHIE, Hoffman, Faust e cols. Não é possível distinguir os cistos – o resultado então deve ser feito da seguinte maneira: “Cistos de Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar”. Estabelecer a distinção entre E. histolytica/E. dispar e Entamoeba hartmanni; - Imunológicos: Hemaglutinação indireta, imunofluorescência indireta e ELISA – mais usado. Importantes para determinar amebíase extraintestinal; OBS.: Vantagens – distinção de amebíase invasiva e não-invasiva (positivos em 95% dos casos de pacientes com abscesso hepático amebiano, em 70% dos pacientes com amebíase intestinal invasiva). Desvantagens – persistência de títulos meses ou anos após o tratamento, geralmente dá resultados negativos nos assintomáticos. - Coproantígeno: Por meio do método ELISA, encontram-se antígenos específicos de E. histolytica nas fezes. Profilaxia - Engenharia e educação sanitária; - Medidas de saneamento básico; - Combate a moscas e baratas; - Manter os alimentos protegidos; - Lavar verduras e frutas cruas; - Evitar práticas sexuais que favoreçam o contato fecal-oral; - Investigação e tratamento da fonte de infecção. Tratamento → Amebicidas que atuam diretamente na luz intestinal - Derivados de quinoleína. Ex.: Diiodo- hidroxiquenoleína; - Antibióticos. Ex.: Paramomicina; → Amebicidas de ação tissular - Atuam na parede do intestino e no fígado. Ex.: Cloroquina – tóxica para o fígado – e cloridato de diidroemetina; OBS.: Para casos mais graves, sendo a 2° opção. → Amebicidas que atuam na luz intestinal e dos tecidos - Derivados imidazólicos: Metronidazol – 1° opção no tratamento da amebíase, utilizado para Giardia, Trichomonas, bactérias anaeróbias – e Tinidazol.
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