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Microbiologi� Micoses superficiais, cutâneas, subcutâneas e sistêmicas 1. Micoses superficiais ● Acometem pele, pêlo ou unha; ● Pitiríase versicolor: causada por leveduras do gênero Malassezia (é menor que a levedura da candidíase e apresenta fragmentos de hifas, não hifas retorcidas, como Candida spp. apresenta); - Diagnóstico: raspar a pele e examinar diretamente com KOH; - Comum em locais tropicais, subtropicais; - A levedura do gênero Malassezia tem a capacidade de produzir metabólitos, como o ácido azaleico, o qual interfere na melanogênese; - Essa levedura forma uma base larga quando vai se reproduzir por brotamento e possui afinidade por lipídios (precisa se desenvolver num meio com esses compostos, pois ela é lipofílica estrita); - Fatores predisponentes: predisposição genética, estresse emocional, idade, uso de imunossupressores, desnutrição, etc. Quanto aos fatores externos, temos a alta umidade e temperatura; - Cultura de Malassezia: precisa adicionar azeite de oliva. Após 7 dias, crescem colônias de cor creme, brilhantes ou opacas, lisas ou levemente pregueadas. ● Tinea Nigra: causada por um fungo filamentoso (não levedura) negro, cuja espécie é Exophiala werneckii, que é halófila (gosta de ambientes com altas concentrações de sal). - O fungo está presente na areia da praia, em peixes deteriorados, no solo e nas plantas. É microbiota do couro cabeludo e dos espaços interdigitais; - As lesões descamam e são escuras; - Diagnóstico: ao exame de microscópio, as hifas são acastanhadas, septadas e ramificadas, mas também há células em brotamento com paredes mielinizadas. Como os fungos pertencem ao grupo dos feo-hifomicetos, a cor do exame é essa; - Cultura: a colônia é melanizada (demácea). Inicialmente, é leveduriforme, mas depois torna-se filamentosa demácea (fungos filamentosos com aspecto de veludo). As hifas são septadas e demáceas e os esporos são conídios bicelulares. 2. Micoses cutâneas e mucocutâneas ● Causadas pelos fungos dermatófitos: são filamentosos hialinos, pois as hifas são hialinas e septadas. São fungos que, na maior parte das vezes, não atingem o tecido vascularizado, mas sim a pele, já que eles usam a queratina como nutriente; ● Provocam reações alérgicas, pois os metabólitos do fungo induzem essas manifestações; ● Gêneros possíveis: Microsporum spp., Trichophyton spp., Epidermophyton spp. + 4 novas espécies. - Alguns fungos são geofílicos (terra), zoofílicos e antropofílicos (ex.: Trichophyton rubrum → só está presente no homem). Alguns exemplos de dermatofitoses: ● Tinhas dos pés e tinha interdigital: não possui involução natural → precisa ser tratada e retirada. Ocorre edemaciamento da pele, descamação e formação de eritema; ● Onicomicoses: descamação das unhas → pode vir de fora para dentro. ● Tinhas da pele glabra: localizadas na pele sem pêlos aparentes. Apresentam lesões centrífugas que descamam, principalmente na borda. São lesões pruriginosas. - Comum de ser transmitida por animais → podem infectar os animais e os homens. ● Tinha do couro cabeludo. ● Tinha da barba → pode ter alopecia local. ● Diagnóstico: fazer raspado das lesões (principalmente as bordas elevadas) e examinar no microscópio. Dividir uma parte da amostra em tratamento com KOH (exame direto, pois o KOH é clarificante e inativa o fungo) e outra parte para cultura em colônias. - Ao microscópio, observam-se fungos filamentosos corados de azul (indicando que são hialinos). Não somente, as hifas são artrosporadas, por isso mostra que é um dermatófito. Obs.: ao exame direto proveniente do raspado do paciente não tem esporos, mas sim apenas hifas. - No caso da tinha do couro cabeludo, os esporos redondos podem ficar ao redor do pêlo ou dentro do pêlo. Abaixo, temos um ectotrix e endotrix, respectivamente. Alguns tipos/espécies de dermatófitos: ● Microsporum spp. → macro e microconídios, sendo que os macro apresentam pontas afiladas; ● Trichophyton spp. → muitos microconídios. Quando tem macroconídio, não forma pontas afiladas; ● Epidermophyton spp. → só dá na pele, mas não no cabelo nem no pêlo. Obs.: as leveduras também causam lesões na unha e na pele, não são só os dermatófitos. Ex.: candidíase submamária, oral (“sapinho”: colônia de leveduras), genital. Pode atingir os palatos duro e mole, lábios, língua, esôfago (provoca inchaço e dor ao engolir). MICOSES CUTÂNEAS PROVOCADAS POR LEVEDURAS ● Candidíase vulvovaginal: os fatores de risco são as alterações hormonais, o uso de anticoncepcionais, a gestação, a antibioticoterapia e a diabetes não controlada. - Agente principal: Candida albicans. - Formação de colônias do fungo. ● Candidíase invasiva: infecção de corrente sanguínea (candidemia) que se espalha e gera lesões cutâneas. - Origem mais frequente é endógena (microbiota do intestino). As leveduras do lúmen intestinal vão para outros locais por translocação e são disseminadas até os rins, por exemplo. A candidemia é a forma mais grave de candidíase. - Diagnóstico: sangue colhido diretamente no frasco do meio de cultura líquido. Em até dois dias, os microrganismos começam a se proliferar. → Na cultura, uso de ágar cromogênico, que permite a diferenciação das espécies pela cor. Outro método é fazer a prova bioquímica (kit de assimilação), em que o laboratorista coloca diferentes fontes de carbono e nitrogênio e vê qual gênero e espécie de levedura se desenvolve na fonte. - Outra forma de diagnóstico é fazer a raspagem de pele e de unhas, colocar na lâmina contendo KOH, aquecer e fazer o exame direto a fresco. O restante da amostra deve ser semeado em ágar Saboraud para esperar a formação de colônias. As leveduras são coradas pelo método de Gram. Obs.: o exame direto é importante para diferenciar levedura de fungo filamentoso. O exame de cultura determina a espécie. - No caso de urina → não há um “limite” para determinar se é infecção ou se é microbiota normal, por isso o diagnóstico é principalmente clínico e a interpretação do diagnóstico laboratorial é difícil. - Outra forma de diagnóstico é a biópsia (tecido renal, subcutâneo, intestinal, etc). 3. Micoses subcutâneas ● Cromoblastomicose (geralmente podal, mas também pode atingir membros superiores): lesões crônicas, verrucosas, esbranquiçadas e descamativas. - Diagnóstico: retirar um pedaço da crosta, clarificar na lâmina com KOH, observar as células que se dividem por cissiparidade na lâmina. São corpos escleróticos marrons e redondos. - Na colônia, os fungos formam vasos e árvores. Para diferenciar a espécie, deve-se fazer análise da biologia molecular (DNA). - Agentes etiológicos: cromoblastomicetos (todos melanizados). ● Esporotricose: infecção fúngica subaguda, geralmente limitada aos tecidos cutâneos, subcutâneos e linfocutâneos. Raramente se dissemina pela corrente sanguínea, pois vai principalmente pela corrente linfática e pelos linfonodos. - O fungo geralmente é inoculado por lesões traumáticas → comum em paisagistas, lenhadores, floristas, manipuladores de pescados e em caçadores de tatus, que podem se ferir e ser contaminados. - Diagnóstico: a forma leveduriforme é pouco encontrada no exame direto (raspado da lesão, pus do linfonodo), por isso não tem muito valor diagnóstico. Quando obtêm-se sucesso nessa coloração, encontra-se o agente Sporothrix spp., que apresenta formato de charuto (leveduriforme). - Outra forma de diagnóstico é semear em ágar Sabouraud (colônia). Em temperatura baixa, o fungo é filamentoso (hifas septadas e hialinas, formato de margarida); em temperatura alta, o fungo fica na forma pastosa (leveduriforme), assim como no paciente. Portanto, trata-se de um dimorfismo térmico. 4. Micoses sistêmicas endêmicas no Brasil ● Transmitidas pela inalação dos fungos dimórficos (dos conídios); - Na maior parte das vezes, ficam focos quiescentes, onde o fungo pode ficar viável por décadas no interior de granulomas. ● Paracoccidioidomicose: inicialmente na forma pulmonar, acomete gânglios linfáticos,baço, fígado, medula óssea, mucosa oral → a disseminação (e não a contração da doença) depende do quadro imunológico do paciente; - Causada por um patógeno primário; - A infecção subclínica acontece em indivíduos sadios e imunocompetentes, então a doença pode ser descoberta em uma radiografia de rotina, por exemplo, ou em uma reação intradérmica com antígenos; - A forma mais comum de sequela é a fibrose pulmonar; - Porta de entrada: principalmente por vias aéreas superiores (raramente por inoculação devido a traumatismos); - Agentes são dimórficos → no meio ambiente (temperatura menor que 32º C) estão na forma filamentosa; no corpo humano (temperatura maior que 33º C) estão na forma leveduriforme. Os agentes são Paracoccidioides brasiliensis e Paracoccidioides lutzii, que são indistinguíveis morfologicamente, por isso é necessário realizar análise de DNA; - Diagnóstico parasitológico: raspado da lesão, histopatologia (biópsia do tecido). Os agentes (gênero Paracoccidioides) têm brotamento múltiplo (pode assumir uma forma semelhante à cabeça do Mickey), as paredes ficam bastante espessas e, geralmente, o brotamento é extracelular. Se houver uma forma de “roda de leme” em biópsia ou em material obtido de gânglio, o exame é conclusivo para Paracoccidioides. - Material biológico: raspado de lesão, biópsia, escarro, lavado ou aspirado brônquico. Se for uma amostra de secreção respiratória, utiliza-se a enzima N-acetil-cisteína, que é mucolítica. - Cultura: se não aparecer no exame direto, as culturas só aparecem depois de 15 dias. A forma depende da temperatura. - Diagnóstico sorológico: imunoblots (IB), ensaios enzimáticos (ELISA), contraimunoeletroforese (CIE). ● Histoplasmose: causada por um patógeno primário. O agente no continente americano é o Histoplasma capsulatum. - A via respiratória é a mais importante na transmissão da histoplasmose, - Fungo dimórfico: na natureza, se encontra na forma filamentosa (25 a 30º C) e produz microconídios e macroconídios. No homem e em temperaturas mais elevadas, fica na forma leveduriforme (30 a 37º C). É a menor levedura formada por um fungo dimórfico; - Doença endêmica na serra do mar, porque lá há cavernas, onde tem os morcegos, cujo guano apresenta os esporos de H. capsulatum. O mesmo ocorre com galinhas e pássaros. As excretas são depositadas no meio ambiente, dissecam e se disseminam como aerossóis, especialmente os microconídios (os macroconídios não chegam aos brônquios). - A maior parte das formas de histoplasmose é assintomática. Pode ocorrer a cura espontânea e a intensidade dos sintomas depende da quantidade do inóculo instalado e da competência imunológica do paciente. - Formas da doença → Pulmonar moderada: tosse, febre, pneumonia em casos atípicos; → Pulmonar grave: alta mortalidade; → Disseminada: forma mais grave e rara, provoca 90% de mortalidade em pacientes com AIDS, com doenças hematológicas, em crianças menores de 2 anos. É rara de acontecer em indivíduos competentes. - Aspectos atuais (habitat do H. capsulatum): devido à crescente urbanização e desmatamento, é encontrado em edificações, sótãos, forros de casas, falhas nas construções, detalhes arquitetônicos, cavernas artificiais, etc. - Diagnóstico: exame direto (a fresco) é de difícil observação, pois é necessário ter uma coloração, como Giemsa. Já o mais comum é o exame histopatológico → medula óssea, gânglio, secreção do trato respiratório, raspado de lesões cutâneas, etc. → Observar células leveduriformes pequenas de brotamento único, forma esférica/oval de parede fina, cercada por halo decorrente da retração do citoplasma (não é cápsula, mas sim um artefato formado após a coloração da amostra). Em geral, os fungos são intracelulares (fagocitados por macrófagos). → Em cultura: apresenta uma forma filamentosa em temperatura baixa cujos conídios parecem um girassol. Outro fungo anemófilo (Sepedonium spp.) também pode formar esses esporos, mas a diferença é que o H. capsulatum demora 15, 20 e às vezes 40 dias para crescer. - Diagnóstico imunológico: utilização de antígenos para detectar a forma aguda ou crônica, como imunoblot e ELISA, que têm boa especificidade e sensibilidade (importantes para acompanhamento de cura também). No entanto, a sensibilidade é menor para imunossuprimidos. Por isso, um outro método é fazer a pesquisa de antígenos → procurar fragmentos de antígenos no soro ou na urina em pacientes que não possuem anticorpos.
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