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MANUAL DE ANESTESIA ODONTOLÓGICA Considerações Anatômicas O nervo trigêmeo proporciona, entre outras funções, a maioria inervação sensorial dos dentes, dos ossos e dos tecidos moles da cavidade oral. Ele é constituído de uma pequena raiz motora e de uma raiz sensorial. Raiz motora: Nervo mandibular (misto) – forame oval. Raiz sensorial: - Divisão Oftálmica (V1): Supre o globo ocular, a conjuntiva, a glândula lacrimal, mucosa do nariz e seios paranasais e pele da testa. Quando o V1 é paralisado a conjuntiva ocular se torna insensível ao tato. São eles: Nervo Nasociliar, Nervo Frontal e Nervo Lacrimal. - Divisão maxilar (V2): Sensorial. Inerva: Parte média da face, pálpebra inferior, lateral do nariz, lábio superior, nasofaringe, seio maxilar, palato mole, tonsila e palato duro, dentes e tecidos periodontais. Divide-se em Ramos Intracranianos, Ramos a Fossa Pterigopalatina, Ramos do canal infraorbital N alveolar superior médio e anterior) e Ramos para a face. - Divisão Mandibular (V3): Maior ramo do nervo trigêmeo, é um nervo misto. Divisão anterior: inervação motora dos músculos da mastigação e sensorial a bochecha e mucosa bucal de molares – nervo bucal. Divisão posterior: nervo auriculotemporal, lingual e alveolar inferior (Nervo milo-hioideo ramifica antes de entrar no canal mandibular). Técnicas Maxilares • Anestesia Infiltrativa Supraperiosteal: - Mais usada na anestesia dos dentes superiores; - Infiltração local; - Não indicado para tratar mais de 3 dentes; - Anestesia ramos do plexo dentário, periósteo vestibular, tecido conjuntivo e mucosa. TÉCNICA: Com o dedo indicador e polegar, distendemos o lábio do paciente para cima e para fora, com a finalidade de evidenciar o fundo do saco de vestíbulo. Após isso, puncionar a mucosa fazendo com que o conjunto agulha e seringa entre paralelamente ao longo eixo do dente que irá sofrer a intervenção. Penetrar até a região submucosa, junto ao periósteo, sem atingi-lo ou penetrá-lo. • Bloqueio Alveolar Superior Posterior - Eficaz para 1ᵒˢ, 2ᵒˢ e 3ᵒˢ molares (EXCETO RAIZ MÉSIO VESTIBULAR DO 1º), periodonto e mucosa vestibular, osso sobrejacente aos dentes. - Usar agulha curta TÉCNICA: Introduzir agulha (com bisel voltado para o osso) na altura da prega mucovestibular logo acima do 2º molar superior. Avançar agulha para dentro, para trás e para cima em um só movimento (45º com o plano oclusal). • Bloqueio Alveolar Superior Médio - Eficaz para Pré-molares, raiz mésio vestibular do 1º Molar superior e tecidos moles e duros vestibulares da região; - Usar agulha curta; - Indicado quando a técnica do nervo infraorbitário (ASA) não produzir anestesia pulpar distal ao canino superior. TÉCNICA: Introduzir agulha na altura da prega mucovestibular acima do 2º Pré-molar superior, “mirando” no ápice desse dente. • Bloqueio Alveolar Superior Anterior (ASA/Nervo Infra-Orbitário) - Eficaz para polpa dos incisivos centrais superiores até pré molares de uma hemiarcada, periodonto vestibular, osso sobrejacente. - Pode causar anestesia na pálpébra inferior, asa do nariz e lábio superior; - Usar agulha curta - Indicada em casos de inflamação onde a técnica supraperiosteal não funciona; TÉCNICA: Introduzir agulha na altura da prega mucovestibular sobre o 1º Pré-molar (menor trajeto), tendo como alvo o forame infraorbitário. Bloqueio do Nervo Palatino Maior - Anestesia a parte posterior do palato duro e tecidos moles sobrejacentes até o Pré-Molar no sentido posterior-anterior e até a linha média no sentido latero lateral. - Eficaz em procedimentos que envolvem tecidos moles palatinos distais ao canino. - Indicada em casos em que a anestesia dos tecidos moles do palato é necessária para o tratamento restaurador em mais de dois dentes (p. ex., em restaurações subgengivais e inserção de matriz subgengival); - Usada no controle da dor durante procedimentos periodontais ou cirúrgicos orais envolvendo os tecidos palatinos moles e duros - Menos traumático que o bloqueio do nervo nasopalatino pois os tecidos que circundam o forame palatino maior estão MENOS aderidos ao osso, assim, acomodando melhor a solução anestésica depositada. TÉCNICA: Introduzir agulha no tecido mole levemente anterior ao forame palatino maior (distal do segundo molar), também guiar-se pela junção do processo alveolar maxilar e osso palatino. Dica: Colocar um cotonete na junção do processo alveolar maxilar com o palato duro, palpar firmemente os tecidos a partir da região palatina do 1º molar superior caminhando para região mais anterior. O cotonete “cairá” na depressão formada pelo forame palatino maior. Bloqueio do Nervo Nasopalatino - PODE ser uma técnica muito traumática (não necessariamente será). - Anestesia porção anterior do palato duro (tecidos moles e duros) bilateralmente desde a face mesial do primeiro pré-molar direito à face mesial do primeiro pré-molar esquerdo (canino a canino). - Usar agulha curta TÉCNICA: Em uma injeção única introduzir agulha com o bisel voltado para os tecidos moles na mucosa palatina em um ângulo de 45º lateralmente à papila incisiva (localizada na linha média atrás dos incisivos centrais). Injetar pequenos volumes de anestésico durante todo procedimento. Avançar com a agulha lentamente em direção ao forame incisivo até que toque suavemente o osso (profundidade de penetração de aproximadamente 5mm). • Bloqueio do Nervo Maxilar (V2) - Produz anestesia profunda de uma hemimaxila; - Útil em procedimentos que envolvem quadrantes cirúrgicos extensos; - Anestesia a divisão maxilar do nervo trigêmeo. - Também é indicada em casos em que uma inflamação ou infecção tecidual impede o uso de outros bloqueios regionais (p. ex., ASP, ASA...) ou da injeção supraperiosteal. TÉCNICA 1 – Abordagem da Tuberosidade Alta: Usando uma agulha longa, introduzir na altura da prega mucopvestibular acima da face distal do segundo molar superior. Também levar como referência a tuberosidade da maxila e seu processo zigomático. TÉCNICA 2 – Abordagem do canal Palatino Maior: Usando uma agulha longa, introduzir nos tecidos moles palatinos diretamente sobre o forame palatino maior (distal do segundo molar). A área alvo é o nervo maxilar, justamente no ponto que atravessa a fossa Pterigopalatina, a agulha atravessando o canal palatino maior, alcança essa fossa. Tomar como referência o forame palatino maior e a junção do processo alveolar maxilar com o osso palatino D A – Bloqueio do nervo maxilar, abordagem da tuberosidade alta B – Bloqueio do nervo maxilar, abordagem do canal palatino maior C - Bloqueio do nervo da segunda divisão (V2), abordagem do canal palatino maior. Observar a localização da extremidade da agulha na fossa pterigopalatina (círculo). D - Bloqueio do nervo maxilar, abordagem do canal palatino maior. C B A Técnicas MANDIBULARES • Nervo Alveolar Inferior (Pterigomandibular): - Elevada taxa de insucesso; - Uma injeção proporciona uma ampla área anestesia (útil para a odontologia de quadrantes); - Falhas: Depósito do anestésico abaixo do forame mandibular, lateralmente ou anteriormente demais ao ramo. - Anestesia: 1. Dentes mandibulares até a linha média; 2. Corpo da mandíbula, parte inferior do ramo da mandíbula; 3. Mucoperiósteo bucal, membrana mucosa anteriormente ao forame mentual (nervo mentual); 4. Dois terços anteriores da língua e assoalho da cavidade oral (nervo lingual); 5. Periósteo e tecidos moles linguais (nervo lingual). TÉCNICA – Usa-se uma agulha longa. A área de inserção é na membrana mucosa do lado medial (lingual) do ramo da mandíbula, na interseção de duas linhas – uma horizontal, representando a altura de inserção da agulha, e a outra vertical, representando o plano anteroposterior de injeção - Referências: A. Incisura coronóide (concavidade maior na borda anterior do ramo da mandíbula; B. Rafe pterigomandibular (parte vertical); C. Plano oclusal dos dentes mandibulares posteriores. Penetrar 2/3 da agulha• Nervo Bucal: - Localizado imediatamente abaixo da mucosa; - Atinge Nervo Bucal (um ramo da divisão anterior de V3); - Anestesia tecidos moles adjacentes dos molares mandibulares; - É comum que o bloqueio do nervo bucal seja administrado de rotina após a Pterigomandibular; TÉCNICA – Usa-se uma agulha longa (pois é administrada logo após a o bloquei pterigomandibular). Bisel em direção ao osso durante a injeção, a área de inserção é na membrana mucosa distal e bucal em relação ao dente molar mais distal do arco. • Técnica de Gow-Gates: - Requer apenas uma injeção, um bloqueio nervoso bucal é desnecessário. - Anestesia dentes mandibulares até a linha média, mucoperiósteo e membranas mucosas bucais do lado da injeção, dois terços anteriores da língua e assoalho da cavidade oral, tecidos moles e periósteo da língua, corpo da mandíbula, parte inferior do ramo da mandíbula, pele sobre o zigoma, parte posterior da bochecha e regiões temporais. TÉCNICA – Usa-se uma agulha longa (pois é administrada logo após a o bloquei pterigomandibular). Bisel em direção ao osso durante a injeção, o local de penetração da agulha é imediatamente distal ao segundo molar maxilar, na parte alta da ponta de sua cúspide mesiolingual. Alinhar a agulha com o plano que se estende do canto da boca do lado oposto à incisura intertrágica do lado da injeção. Ela deve estar paralela ao ângulo entre o ouvido e a face. Avançar a agulha devagar até fazer contato com o osso (o osso com que se faz contato é o colo do côndilo), retirar a agulha 1mm, aspirar e, caso a aspiração seja negativa, injetar anestésico. • Técnica de Vazirani-Akinosi: - Indicada quando há presença de limitação de abertura bucal. - Anestesia os mesmos nervos da técnica de gow-gates. TÉCNICA – Colocar seu dedo indicador ou polegar esquerdo sobre a incisura coronóide, refletindo lateralmente os tecidos do aspecto medial do ramo da mandíbula. Refletir os tecidos moles auxilia na visualização do local de injeção e diminui o trauma durante a inserção da agulha. Visualizar os marcos: Junção mucogengival do terceiro ou do segundo molar maxilar e tuberosidade maxilar. Pedir ao paciente para efetuar a oclusão suavemente, com as bochechas e os músculos da mastigação relaxados. O corpo da seringa é mantido paralelo ao plano oclusal maxilar, com a agulha ao nível da junção mucogengival do terceiro (ou do segundo) molar maxilar. Dirigir a agulha posteriormente e um pouco lateralmente, de modo que ela avance numa tangente ao processo alveolar maxilar posterior e paralela ao plano oclusal maxilar. Orientar o bisel em direção oposta ao ramo mandibular; a área de inserção é a mucosa medial do ramo mandibular adjacente à tuberosidade maxilar na altura do terceiro molar maxilar. Avançar a agulha 25 mm para dentro do tecido, aspirar, caso a aspiração seja negativa, depositar anestésico. • Nervo Mentual: - Em muitos procedimentos dentários há pouquíssima indicação para o uso do bloqueio do nervo mentual. - Ele é utilizado principalmente para procedimentos nos tecidos moles bucais, como a sutura de lacerações ou biópsias. - Sua frequência de êxito se aproxima dos 100%, devido à facilidade de acesso ao nervo. - Anestesia membrana mucosa bucal, anteriormente ao forame mentual (em torno do segundo pré-molar) até a linha média e a pele do lábio inferior e do queixo. TÉCNICA – Usar agulha curta. Marcos: pré-molares mandibulares e prega mucobucal. Orientação do bisel: em direção ao osso durante a injeção. Localizar o forame mentual: Colocar seu dedo indicador na prega mucobucal e fazer pressão contra o corpo da mandíbula na área do primeiro molar, mover seu dedo devagar em sentido anterior até que o osso sob seu dedo tenha uma aparência irregular e algo côncava. Orientar a seringa com o bisel dirigido ao osso. g. Penetrar a membrana mucosa no local de injeção, no canino ou no primeiro pré-molar, dirigindo a seringa ao forame mentual. • Nervo Incisivo: - Os pré-molares, o canino e os incisivos laterais e centrais, incluindo seus tecidos moles e o osso, são anestesiados ao ser administrado um bloqueio do nervo incisivo. - Uma indicação importante do bloqueio do nervo incisivo é quando o procedimento considerado envolve tanto o lado direito da mandíbula como o esquerdo. - Sua frequência de êxito se aproxima dos 100%, devido à facilidade de acesso ao nervo. TÉCNICA – Usar agulha curta. Marcos: pré-molares mandibulares e prega mucobucal. Orientação do bisel: em direção ao osso durante a injeção. Localizar o forame mentual: Colocar seu dedo indicador na prega mucobucal e fazer pressão contra o corpo da mandíbula na área do primeiro molar, mover seu dedo devagar em sentido anterior até que o osso sob seu dedo tenha uma aparência irregular e algo côncava. O forame mentual é geralmente encontrado no ápice do segundo pré-molar. Ele pode ser encontrado, porém, anterior ou posteriormente a esse local. Orientar a seringa com o bisel dirigido ao osso. Avançar a agulha bem devagar até chegar ao forame mentual. A profundidade de penetração é de 5 a 6 mm. Não há nenhuma necessidade de se entrar no forame mentual para que o bloqueio do nervo incisivo seja bem-sucedido. Penetrar a membrana mucosa no local de injeção, no canino ou no primeiro pré-molar, dirigindo a seringa ao forame mentual.