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SISTEMA PROCESSUAL PENAL

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SISTEMA PROCESSUAL PENAL
Aula 1
Objetivo
1. Reconhecer a importância da adoção de um sistema processual penal acusatório, escoimado dos vícios inquisitivos, como única forma de se garantir um processo justo e garantista;
2. Compreender a força normativa da Constituição, assimilando a importância dessa força ao efetivo respeito do devido processo legal em um Estado Democrático de Direito.
Sistemas processuais penais
É o conjunto de regras e princípios, ou seja, um conjunto de normas, de natureza constitucional e infraconstitucional, que, coordenadas entre si, determinam as diretrizes que devem ser observadas, por cada Estado, quando da aplicação concreta das normas do direito material àqueles que as infringem. Embora cada país possa adotar diferente um sistema com peculiaridades próprias, é possível identificarmos, basicamente, três dos sistemas processuais penais existentes no mundo, ao longo da história, quais sejam:
1) Sistema acusatório
2) Sistema inquisitório ou inquisidor
3) Sistema misto, reformado, napoleônico ou acusatório formal
Sistema inquisitório ou inquisidor 
Historicamente, os soberanos absolutistas perceberam nesse tipo de processo uma arma poderosa para a manutenção e centralização de seus poderes. No sistema inquisitório, o julgador se afasta de sua posição de árbitro equidistante e imparcial, e acaba por assumir a atividade de inquisidor, atuando, desde o início, também como acusador. Como consequência, o que se verifica é que se confundem as atividades do juiz e do acusador, enquanto o acusado perde a sua condição de sujeito processual para se converter em um mero objeto da investigação.
Destacam-se, ainda, como características do sistema inquisitório, ser esse escrito, sigiloso, sem contraditório, com juízes irrecusáveis, imperava, em matéria probatória, o sistema legal de valoração das provas, reconhecendo-se a confissão como prova absoluta e, tinha-se, como regra geral, o estado de prisão do acusado durante o transcurso do processo. Justamente em razão dessa reunião de funções nas mãos do julgador, percebemos que no sistema inquisitório o juiz atua como verdadeiro gestor da prova, isto é, o magistrado se encarrega ele próprio de buscar as provas necessárias para confirmar os fatos que lhe são apresentados e, a princípio, tido como verdadeiros.
Atenção!
Vale lembrar que, no Brasil, o sistema inquisitório inspirou fortemente a elaboração de nosso Código de Processo Penal, promulgado na década de 1940, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. À guisa de exemplo, antes do advento da Constituição Federal de 1988, era admitido em nossa legislação o procedimento judicial forme em relação à apuração de todas as contravenções penais (Artigo 17 do Decreto-Lei nº 3.688/41) e homicídio e lesões corporais culposos (Lei nº 4.611/65), procedimento esse que permitia ao juiz dar início à ação penal e, ao final, ele mesmo proferir sentença. O procedimento judicial forme foi banido definitivamente de nosso ordenamento jurídico pelo Artigo 129, inciso I, da Constituição Federal de 1988, que garantiu ao Ministério Público a titularidade exclusiva para a propositura da ação penal pública.
Sistema acusatório 
As origens remontam ao Direito grego, onde se desenvolve referendado pela participação direta do povo no exercício da acusação e como julgador, apresenta-se como verdadeira antítese do sistema inquisitório, sendo sua principal característica a nítida separação entre os órgãos incumbidos de acusar e julgar, o que garante, ou pelo menos deveria garantir, a existência de um julgador imparcial, que só deve agir quando devidamente provocado (ne procedat judex ex officio). As características são:
a) A regra é a publicidade dos atos processuais, admitindo-se, contudo, em caráter excepcional, o sigilo de alguns atos ou feitos.
b) A imparcialidade do juiz, eis que este se encontra distante do conflito, e sem qualquer envolvimento com os litigantes, devendo conduzir o processo de forma equidistante, determinando as diligências consideradas necessárias à instrução do feito.
c) A gestão da prova fica a cargo das partes, devendo, neste aspecto, ser passiva a atuação do magistrado.
d) São assegurados os princípios do contraditório e da ampla defesa, que devem permear todo o processo.
e) O acusado deixa de ser um objeto de investigação apenas e passa a ser encarado como um sujeito de direitos, assegurando-lhe um rol de garantias prevista no ordenamento jurídico.
f) Adota-se, em matéria probatória, o sistema do livre convencimento motivado, ou da persuasão racional, segundo o qual garante-se ao juiz liberdade na apreciação das provas, desde que sua sentença se encontre motivada em elementos carreados aos autos.
Sistema misto ou acusatório formal 
Reúne características de ambos os sistemas acima vistos e, segundo os estudiosos, deve sua origem ao Código Napoleônico de 1808. O sistema misto possui duas fases procedimentais bem distintas, a saber:
1. Inquisitória, que é a fase da investigação preliminar, na qual o procedimento é conduzido (presidido) pelo juiz, que se encarrega de realizar as investigações, colher provas e indícios, bem como quaisquer outros elementos que possam, posteriormente dar subsídios à acusação perante o competente juízo. O juiz, nessa fase, atua com o auxílio da Polícia Judiciária, praticando todos os atos inerentes à formação de um juízo prévio que possa vir a lastrear uma acusação. Revela um procedimento secreto, escrito, sem a presença das garantias do contraditório e da ampla defesa e, mais que isso, o autor do fato é tido como mero objeto da investigação.
2. Acusatória, ou judicial, na qual são assegurados todos os direitos do acusado e a independência entre acusação, defesa e julgador, fazem-se presente o contraditório e ampla defesa, devendo ainda ser observada a publicidade dos atos processuais. Nesta segunda fase é feita a acusação propriamente dita, geralmente pelo Ministério Público, passando o acusado a ser tratado como um sujeito de direitos, titular do denominado estado de inocência, e atribuindo-se todo ônus da prova ao órgão acusador.
Paulo Rangel critica o sistema misto, pois apesar de já ser um avanço com relação ao sistema inquisitivo, ainda mantém o juiz na colheita de provas, mesmo na fase preliminar da acusação. Para o autor, a função jurisdicional deveria ser preservada, devendo o juiz não participar da fase persecutória, de forma que quem deveria controlar as diligências realizadas pela polícia judiciária seria o Ministério Público ou ainda, se necessário, realizá-las pessoalmente, formando sua opinio delicti e iniciando a ação penal.
Sistema processual penal brasileiro 
Não existe na doutrina brasileira um consenso acerca do sistema processual penal adotado pelo Brasil. É indiscutível que no Brasil existe uma nítida separação entre a função de acusar, que cabe ao Ministério Público, nas ações penais públicas, e ao particular, nas ações penais privadas, e a função de julgar, que cabe a um magistrado sem nenhuma função acusatória.
O processo penal brasileiro atual é eminentemente contraditório. Não temos a figura do juiz instrutor. A fase processual propriamente dita é precedida de uma investigação não contraditória, pela polícia judiciária, geralmente, na qual se buscam reunir elementos que evidenciem a prática de uma infração penal e de sua respectiva autoria. É a partir dessa investigação que o acusador (Ministério Público ou vítima, conforme a espécie de ação penal) instaura o processo, formulando uma denúncia ou queixa perante o juízo competente.
A instrumentalidade do processo 
O Direito, como já vimos, tem importante função no controle da paz social. Os legisladores de cada sociedade, atentos a seus valores e de acordo com seus momentos evolutivos, elaboram regras jurídicas que tendem a proteger os diversos bens jurídicos da vida e evitar o surgimento de conflitos.
O Direito Penal é o ramo do direito material que prevê as mais graves sanções (as privativas de liberdades) a serem impostas contra aqueles que violam suas normas, normas estas que tutelamrelevantíssimos bens jurídicos, entre eles a própria vida, a integridade física, a liberdade, o patrimônio etc.
Ao criar as normas materiais de Direito Penal, o legislador tipifica, no preceito primário da norma, as condutas que são genericamente vedadas a qualquer indivíduo e, no preceito secundário, comina as possíveis penas em abstrato que deverão ser aplicadas àqueles que as infrinjam.
Nasce assim, para o Estado, titular do direito de punir, o jus puniendi in abstracto. Vale observar, porém, que esse direito de punir só pode ser efetivamente dirigido contra aqueles que efetivamente praticam infrações penais, ou seja, apenas quando satisfeita tal condição surge para o Estado a pretensão punitiva concreta. Uma vez praticado um delito, o Estado reage através de uma pretensão punitiva que visa recompor a ordem jurídica perturbada pela infração.
Atenção!
Entendido que o Direito Penal não é um ramo do Direito de coação direta, e considerando-se que o próprio Estado autolimitou o seu jus puniendi, não se concebe aplicação de pena sem processo, o que torna cristalina essa característica da instrumentalidade que ora abordamos. Não é por outra razão que os princípios do nulla poena sine judice e nulla poena sine judicio foram elevados à categoria de dogmas constitucionais, e nos informam que nenhuma sanção penal poderá ser imposta senão pelo órgão jurisdicional competente, e mediante o devido processo. A abordagem deste tema exige de nós, contudo, que compreendamos o processo não única e exclusivamente como um instrumento que se presta tão somente para satisfazer a pretensão acusatória estatal. O processo penal, analisado sob o enfoque da instrumentalidade constitucional, vai muito além de um mero instrumento de concretização da sanctio juris contra aqueles que violam as normas de Direito Material.
O processo penal garantista
Indiscutivelmente, não é possível que nenhum grupamento social sobreviva sem a presença do Direito, possuindo esta função de garantidor da paz social. Não é por outra razão, que já na Roma antiga, surgiu o brocardo ubi societas ibi jus. O Direito pode ser visto como uma força criada pela própria sociedade, para organizar e fazer com que a própria sociedade o cumpra, de forma a evitar o surgimento de conflitos sociais e pacificá-los quando estes se mostrarem inevitáveis. Não é por outra razão que o sociólogo francês Émile Durkheim afirmava que a função suprema do Direito é o controle social das paixões, que as emoções humanas podem gerar.
O processo penal garantista 
Dentro dessa concepção, o Direito Penal revela-se de fundamental importância, protegendo os mais relevantes bens da vida do ser humano, e destacando-se também por ser o único que impõe medidas restritivas de liberdade àqueles que violam suas normas.
A força normativa da Constituição
Quando do surgimento da Teoria da Força Normativa da Constituição, notáveis mudanças de paradigma assinalam a hermenêutica da Constituição e de sua aplicação, resultando em um grande desenvolvimento de novos horizontes na interpretação constitucional. Uma das grandes mudanças de paradigma ocorridas foi a atribuição à norma constitucional do status de norma jurídica. Superou- se, assim, o modelo que vigorou na Europa até meados do século passado, no qual a Constituição era vista como um documento essencialmente político, um convite à atuação dos Poderes Públicos. A concretização de suas propostas ficava invariavelmente condicionada à liberdade de conformação do legislador ou à discricionariedade do administrador. Ao Judiciário não se reconhecia qualquer papel relevante na realização do conteúdo da Constituição. A formulação de direitos como na fundamentação das decisões judiciais, bem como servirão de parâmetro de validade para todas as demais normas do ordenamento jurídico, orientando sempre o intérprete e o aplicador do direito quando determinam o sentido e o alcance delas, se valendo da argumentação jurídica.
EXERCÍCIOS
1. O processo penal contemporâneo contempla três modelos de avaliação da prova: o sistema legal; o da íntima convicção; e o da persuasão racional. Sobre tais sistemas probatórios, pode-se afirmar: O que distingue o sistema da persuasão racional é a liberdade do magistrado na valoração dos elementos probatórios, que, embora, é contida pela obrigatoriedade de justificação das escolhas adotadas, diante da prova legitimamente obtida, com a explicitação do caminho percorrido até a decisão.
2. Com referência às características do sistema processual acusatório, assinale a opção correta: O sistema de provas adotado é o do livre convencimento.
3. O princípio da publicidade: É regra geral no sistema processual do tipo acusatório.
4. Rosa Margarida é uma conhecida escritora de livros de autoajuda, consolidada no mercado já há mais de 20 anos, com vendas que alcançam vários milhares de reais. Há cerca de dois meses, Rosa Margarida descobriu a existência de um sistema que oferece ao público, mediante fibra ótica, a possibilidade de o usuário realizar a seleção de uma obra sobre a qual recaem seus (de Rosa Margarida) direitos de autor, para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda. O sistema também indica um telefone de contato caso o usuário tenha problemas na execução do sistema. O marido de Rosa Margarida, Lírio Cravo instala no telefone um identificador de chamadas e descobre o número do autor do sistema que permitia a violação dos direitos autorais de Rosa Maria. De posse dessa informação, Lírio Cravo vai à Delegacia de Polícia registrar a ocorrência de suposta prática do crime previsto no Artigo 184, §3º, do Código Penal (violação de direitos autorais). O Delegado instaura inquérito e de fato consegue identificar o autor do crime. Considerando a narrativa acima, assinale a alternativa correta. O Delegado agiu incorretamente. A instauração do inquérito nesse caso depende de representação da ofendida, não podendo ser suprida por requerimento de seu marido.
5. No sistema jurídico brasileiro, não se admite, por evidente incompatibilidade com o texto da Constituição, presunção de culpa em sede processual penal. Inexiste, em consequência, no modelo que consagra o processo penal democrático, a possibilidade jurídico-constitucional de culpa por mera suspeita ou por simples presunção. - Ninguém pode ser tratado como culpado, qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja prática lhe tenha sido atribuída, sem que exista, a esse respeito, decisão judicial condenatória transitada em julgado. O princípio constitucional da presunção de inocência, em nosso sistema jurídico, consagra, além de outras relevantes consequências, uma regra de tratamento que impede o Poder Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao réu, como se estes já houvessem sido condenados, definitivamente, por sentença do Poder Judiciário. Precedentes. Precedentes. (STF, HC 93056, 16/12/2008, Ministro Celso de Mello). Da leitura dos arestos supra pode-se dizer que o Desenho Constitucional do Processo Penal brasileiro tem cariz: Finalista
6. Acerca dos princípios e garantias processuais penais fundamentais, assinale a alternativa correta: O Superior Tribunal de Justiça vem admitindo a mitigação do princípio da identidade física do juiz nos casos de convocação, licença, promoção ou de outro motivo que impeça o juiz que tiver presidido a instrução de sentenciar o feito, aplicando, por analogia, a lei processual civil.
7. O artigo 10 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em Paris, aos 10 de dezembro de 1948, consagra que toda pessoa tem direito, em condições de plena igualdade, de ser ouvida publicamente e com justiça por um tribunal independente e imparcial, para a determinação de seus direitos e obrigações ou para exame de qualquer acusação contra ela em matéria penal. O princípio do processo penal que se adequa a essa redação é o: Do juiz natural
8. Analise as proposições acerca dos princípios constitucionais que regemo processo penal:
I - A imposição de o réu se recolher ao ergástulo ou nele permanecer para poder apelar não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência se - e somente se - os argumentos sobre os quais se fundam o decreto de prisão forem de natureza cautelar.
II - Prevê o artigo 198 do Código de Processo Penal que “o silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do convencimento do juiz”. Com base no princípio do nemo tenetur se detegere e dos direitos constitucionais que dele decorrem, é correto afirmar que o dispositivo transcrito estaria em desacordo com os ditames do processo penal democrático delineado pela Constituição de 1988.
III - No âmbito da ampla defesa, distingue-se a defesa técnica da autodefesa. A primeira, irrenunciável, é exercida pelo defensor do réu, detentor do ius postulandi amplo. A segunda, renunciável, é exercida pelo próprio réu e compõe-se, em síntese, do direito de audiência e do direito de presença. No processo penal a falta de defesa constitui, em regra, nulidade insanável, porém esta somente será reconhecida se resultar em comprovado prejuízo ao réu.
IV - A iniciativa positiva do juiz no sentido de determinar a complementação de provas no curso do processo penal fere os princípios do acusatório, da imparcialidade do órgão jurisdicional e do ne procedat judex ex officio, devendo, portanto, ser evitada, restringindo-se o magistrado à análise das provas produzidas pelos sujeitos processuais e coligidas aos autos.
V - O princípio da publicidade, que norteia o processo penal, é um poderoso instrumento de fiscalização popular dos órgãos encarregados da persecutio criminis processual, conferindo transparência à atividade jurisdicional e, assim, visando à minimização de eventuais excessos e arbitrariedades. Sob esse prisma, não se admite a restrição do princípio da publicidade no contexto da ação penal, sob pena de inclinar-se o processo à inquisitoriedade desprestigiada pela ordem constitucional. As proposições I, II e III
9. Quanto aos direitos e garantias fundamentais aplicáveis ao Direito Processual Penal, pode-se AFIRMAR que: Pode-se afirmar que em virtude do contraditório, o juiz não poderá basear eventual decisão condenatória em elementos probatórios produzidos exclusivamente em fase policial.
10. Segundo De Plácido e Silva, os “princípios jurídicos, sem dúvida, significam os pontos básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio Direito. Indicam o alicerce do Direito.” (Vocabulário Jurídico. 28 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2009. p. 1091). Tendo em mira o trecho acima transcrito, mormente os seus conhecimentos sobre a matéria, julgue as proposições a seguir:
I - Decorre do princípio da presunção de inocência a imputação do ônus da prova à acusação.
II - Em razão do princípio da soberania dos veredictos, não pode o Tribunal reformar a decisão, apenas designar um novo júri.
III - O Juiz deve ser previamente designado previamente, por lei, sendo vedado o Tribunal de Exceção, conforme preleciona o princípio do Juiz Natural.
IV - De toda alegação fática ou de direito e das provas apresentadas tem o adverso o direito de se manifestar, tendo em vista o que preleciona o princípio do contraditório. As proposições I, II e III estão corretas
Aula 2
Objetivo
1. Compreender que a investigação preliminar, no modelo garantista, deve servir como verdadeiro filtro processual;
2. Reconhecer a importância da divisão de poderes em relação à investigação preliminar, de sorte a assegurar o processo penal garantista, evitando abusos por parte do Estado, ou mesmo a perda de imparcialidade por parte do julgador.
A investigação preliminar como filtro processual 
Se faz mister conceituar investigação criminal, e entender sua função como filtro processual contra-acusações infundadas, ou seja, como mais um elemento a propulsor de um sistema processual penal garantista. Investigação é atividade de busca da verdade acerca de determinado fato, é esforço para conhecimento de determinada coisa que está oculta. 
“O conjunto de atividades e diligências tomadas com o objetivo de esclarecer fatos ou situações de direito”.
A investigação criminal, portanto, é o conjunto de atividades e diligências tomadas com o objetivo de esclarecer fatos ou situações de direito relativos a supostos ilícitos criminais. É um procedimento administrativo pré-processual, de cognição sumária, cujo objetivo imediato é apurar a infração penal e sua autoria, desenvolvido no sentido de fornecendo elementos para que o titular da ação penal ajuíze o competente processo, mediante o oferecimento da exordial cabível. Assim, a investigação preliminar cumpre a “função de filtro processual contra-acusações infundadas”. 
A produção e a valoração de provas na investigação preliminar
Está a finalidade da investigação intrinsecamente ligada às provas que por meio dela são obtidas. Justamente em razão dessa reunião de funções nas mãos do julgador, percebemos que no sistema inquisitório o juiz atua como verdadeiro gestor da prova, isto é, o magistrado se encarrega ele próprio de buscar as provas necessárias para confirmar os fatos que lhe são apresentados e, a princípio, tido como verdadeiros. Constata-se, pois, que aqui as provas colhidas são utilizadas apenas para comprovar, para ratificar o pensamento já formado do julgador. Todo o processo e a gestão das provas (muitas das vezes revestidas de inconteste ilicitude) são conduzidos no sentido de trazer elementos que confirmem a convicção do juiz acerca da infração penal e do acusado, visando sempre obter a condenação do objeto da relação processual.
“No plano das garantias processuais, a sentença condenatória, em sede de modernas constituições, somente pode ser fundamentada com base nas provas colhidas na fase processual, com observância da publicidade, oralidade, imediação, contraditório e ampla defesa, o que exclui a possibilidade de que os atos de investigação sejam considerados como meios de prova e, portanto, suscetíveis a valoração no momento da sentença”.
Valorando adequadamente os atos do inquérito policial e, nas situações excepcionais, em que a repetição em juízo seja impossível, transferindo-se a estrutura dialética do processo à fase pré-processual através do incidente de produção antecipada de provas.
Atenção!
Devemos ter muito cuidado, porém, com a valoração que se atribui às provas produzidas em sede de investigação preliminar, eis que atos de investigação, em regra, se realizam de forma sistema inquisitória, representada pelo segredo, e pela ausência ou excessiva limitação do contraditório e da ampla defesa. Vale lembrar, a respeito da valoração das provas produzidas na investigação preliminar, que nosso Código de Processo Penal disciplinou a matéria quando, ao impor a adoção do princípio da persuasão racional, determinou, em seu artigo 155 (com a redação dada pela Lei nº 11.690/2008), que “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”.
Dos tipos de provas 13
Podemos, com base no próprio dispositivo legal ora referido, entender que há, em nosso sistema, duas espécies distintas de provas, a saber:
· Provas definitivas, também conhecidas como não repetíveis ou não renováveis, que são aquelas que, por sua própria essência, devem ser efetivadas no instante de sua descoberta, para que não haja prejuízo com a possibilidade de desaparecer o que se deseja perpetuar. Isso porque, seus elementos perecem ao longo do tempo, o que impossibilita a análise posterior. Na grande maioria são as provas técnicas e geralmente, são arrecadadas e analisadas em fase de inquérito policial. O que pode ocorrer no curso do processo, isso sim, são questionamentos posteriores acerca dos detalhes da produção dessa prova.
· Provas renováveis são aquelas que adquiremcapacidade de serem realizadas novamente, sob o crivo do contraditório, como por exemplo, o interrogatório, oitiva de testemunhas e do ofendido, acareações e reconhecimento. Com isso, passam a adquirir força necessária para embasar uma sentença condenatória.
A investigação preliminar e o Princípio da Separação dos Poderes 
A Polícia Federal e a Polícia Civil são os órgãos policiais instituídos constitucionalmente como órgãos de polícia judiciária e cabe a elas, a princípio, a atividade repressiva às infrações penais. Isso é o que defluímos de uma simples análise do Artigo 144, §§ 1º e 4º da Constituição Federal de 1988. A questão que merece nossa análise, nesse momento, concerne à compreensão da subsunção da investigação preliminar ao Princípio da Separação dos Poderes. Ora, a mais intensa atividade de intervenção estatal em um Estado Democrático de Direito se realiza justamente através da persecução criminal, que pode resultar na restrição do jus libertatis do indivíduo, e mesmo quando não chega a tanto já atuou em outros âmbitos da sua esfera de direitos individuais, como o direito à intimidade e à vida privada.
Atenção!
Por esse motivo, é preciso que essa função seja exercida em conformidade com o princípio da separação dos poderes, cláusula pétrea que com o seu corolário sistema de freios e contrapesos norteou o estabelecimento do Estado como o conhecemos hoje, tendo um elevado caráter democrático por se prestar a limitar e controlar o poder estatal que recai sobre os particulares, ao mesmo tempo em que é uma importante ferramenta organizacional na estrutura de qualquer país que o adote.
Princípio da Separação dos Poderes propriamente dito
De outro bordo, podemos dizer que o sistema de freios e contrapesos não é apenas uma técnica a serviço do princípio da separação de poderes, mas o próprio princípio da separação de poderes visto de outro ângulo, na medida em que a divisão das funções do poder estatal em função legislativa, função executiva e função judiciária estabelece, originariamente, um sistema de controles e contenções recíprocos, com o objetivo de evitar o abuso do poder.
Assim, essa divisão originária do poder, até o mais inferior grau de controle entre os órgãos estatais, será decorrência da adoção do princípio da separação de poderes.
1) Executivo
2) Legislativo
3) Judicial
A Polícia Judiciária e o Estado Democrático de Direito 
O Estado Democrático de Direito visa garantir ao cidadão seus direitos e garantias, tendo como medida fundamental para isso a divisão dos poderes do próprio Estado, conforme a lição de Montesquieu. O direito de punir do Estado, ou jus puniendi, tem como alicerce a referida divisão de poderes consoante as expressas disposições constitucionais. O Poder Executivo terá a missão de investigar por meio da Polícia Judiciária. Já ao Ministério Público caberá ajuizar a ação penal. A missão do Poder Judiciário será a de julgar. Essa divisão proporciona aos cidadãos a necessária segurança jurídica, inclusive àqueles que cometeram delitos, eis que assim terão a certeza de que o responsável pela investigação não se confunde com o acusador nem mesmo com aquele que julga. Conforme já mencionamos, quando abordamos o tema investigação preliminar, as provas não renováveis quando produzidas no inquérito policial não são novamente realizadas em juízo. Dessa forma, se produzidas de forma unilateral pelo Ministério Público estaríamos diante de um claro desrespeito ao devido processo legal, bem como até mesmo à própria noção de Estado Democrático de Direito.
O Estado Democrático de Direito propriamente dito
Se vê constantemente sujeito a riscos com as ações humanas, seja no meio político, com ações ditatoriais, seja pela ação de organizações criminosas. É aí que consiste no objetivo do inquérito policial, qual seja, reunir elementos e provas que da autoria e materialidade delitiva para que o Estado possa exercer o seu direito de punir ou solicitar o arquivamento dos autos. Tendo em vista se tratar do principal meio de investigação criminal, o inquérito policial também se reveste da qualidade de garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos, uma vez que, com ele, se impede que as pessoas sejam submetidas a um processo criminal sem o mínimo de fundamento.
É fundamental, portanto, que as autoridades policiais e demais operadores do direito, dentre eles destacadamente o integrantes da magistratura e do Ministério Público, compreendam que a própria razão da existência dessa função, no Brasil, escuda-se no reconhecimento de que além da investigação preliminar ser uma função tipicamente jurídica, deve, ainda, se pautar pela imparcialidade, só plenamente obtenível, por meio da existência de um Estado-investigação que não se confunda com os futuros personagens que agirão na futura persecutio criminis in juditio.
Atenção!
Ora, revela-se indiscutível que ao Delegado de Polícia incumbe, desde há muito, as funções típicas de Polícia Judiciária. Ocorre que se afigurar como um simples chefe de uma unidade policial, o que verificamos é que o delegado de polícia exerce funções e poderes que, maioria dos demais ordenamentos jurídicos, são conferidas especificamente a membros da magistratura e do Ministério Público. Daí a importância de se conferir autonomia administrativa, financeira e funcional das Polícias Judiciárias, com as mesmas garantias aos delegados que se confere aos magistrados e ao Parquet.
Dos tipos de provas 
Nesta esteira, o delegado de polícia, como titular do Estado-investigação, no Estado Democrático de Direito possui, portanto, tripla função:
1) Proteger os bens jurídicos mais importantes e ameaçados pela conduta humana.
2) Apurar as supostas práticas delituosas que lhe cheguem a conhecimento com zelo, imparcialidade e em estrita consonância com os ditames de um sistema processual de partes, portanto democrático e marcadamente acusatório.
3) Proteger o próprio suspeito/investigado/indiciado dos excessos e arbítrios outrora cometidos pelo próprio Estado, tendo em vista a sua condição de indivíduo, titular de garantias e direitos fundamentais.
EXERCÍCIOS
1. A respeito do inquérito policial, considere:
I. A Guarda Municipal pode instaurar e produzir inquéritos policiais.
II. O Prefeito Municipal não pode requisitar a instauração de inquérito policial para apurar fato supostamente delituoso ocorrido no âmbito do município.
III. O indiciado é obrigado a responder, no interrogatório, as perguntas da autoridade policial e somente em juízo pode valer-se do direito de permanecer calado.
Está correto o que consta SOMENTE em: II
2. Tripa Seca é investigado por prática de furto. Após o término das investigações, o delegado, presidente do inquérito policial, o relata, mas não indicia Tripa Seca, apesar de todas as evidências o apontarem como autor do delito. Chegando os autos ao Ministério Público, o promotor de justiça requer ao juiz de direito o retorno do inquérito policial à autoridade policial para que indicie o investigado. Assim: Não agiu corretamente o promotor de justiça, uma vez que o Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito policial à autoridade policial, senão para novas diligências indispensáveis ao oferecimento da denúncia.
3. Assinale a opção correta, acerca do inquérito policial: A notícia anônima sobre eventual prática criminosa, por si só, não é idônea para a instauração de inquérito policial, prestando-se apenas a embasar procedimentos investigatórios preliminares em busca de indícios que corroborem as informações.
4. Pode-se dizer que a função do inquérito policial é: Preparação para um processo principal 
5. O sistema processual penal brasileiro possui as seguintes espécies de provas: Definitivas e renováveis
6. Com base nos estudos sobre o tema “A Polícia Judiciária e o Estado Democrático de Direito” analise as assertivas abaixo e assinale a opção correta: É função da Polícia Judiciária, dentre outras, a manutenção do Estado de Direito através da ação repressiva contra as organizações criminosas que, atualmente, tem atuado em todas as esferasde nossa sociedade, bem como através de investigações preliminares e imparciais.
7. A respeito do inquérito policial, assinale a alternativa correta: Na visão do pretório excelso, a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial, a pedido do Ministério Público, quando o fato nele apurado for considerado atípico, produz, mais que preclusão, coisa julgada material, impedindo ulterior instauração de processo que tenha por objeto o mesmo episódio, mesmo com a existência de novas provas.
8. Um delegado de polícia recebeu uma carta apócrifa contendo acusação de que José estuprou uma menina de 12 anos em sua própria residência. Com base nessa notitia criminis, instaurou procedimento investigatório. Acerca da atitude do delegado e com base nos julgados da Suprema Corte, assinale a alternativa correta: O inquérito policial deve ser instaurado de ofício pela autoridade policial a partir do conhecimento da existência de um fato delituoso. Um procedimento investigatório também pode iniciar-se com base em notitia criminis apócrifa, desde que o documento em questão constitua o próprio corpo de delito.
9. João X procurou o Promotor de Justiça da cidade de Jejum/MG e requereu por meio de documento a instauração de um Inquérito Policial, em razão da conduta de um vizinho, na prática inveterada de crimes contra o patrimônio e, para tanto, apresentou fotos, documentos e testemunhas da prática delitiva. Em relação ao caso acima descrito, é INCORRETO dizer que:
a) Entendendo que os apontamentos são suficientes para tal, o promotor de justiça pode promover imediatamente a denúncia e propor a aplicação de medidas assecuratórias perante o judiciário.
b) O promotor de justiça pode requisitar a instauração de inquérito policial, visando aquilatar a investigação sobre os fatos e, em separado, requerer a aplicação de medidas assecuratórias perante o judiciário.
c) Caso o Juiz tome conhecimento antes do MP, deve encaminhar ao Parquet a documentação pertinente para análise e, caso seja pertinente, apresentação da denúncia.
d) O promotor, de ofício, deve encaminhar a documentação ao magistrado, que por sua vez deliberará pela instauração ou não do devido processo legal.
10. 10. Durante interrogatório, Juvenal, processado criminalmente pelo crime de furto, confessou ter praticado, também, o crime de roubo em outras oportunidades. Sabendo da notícia, o juiz que presidia a audiência expediu ofício à delegacia de polícia, requisitando a instauração de inquérito policial para apurar os delitos cometidos. Após receber a requisição judicial, Aderbal, delegado de polícia que já investigara Juvenal em outras ocasiões, instaurou o inquérito policial, determinando a oitiva de testemunhas. No dia dos testemunhos, Juvenal compareceu à delegacia, acompanhado de advogado, com o objetivo de indagar as testemunhas, o que foi indeferido pelo delegado. Em seguida, o causídico requereu vistas do inquérito policial, o que também não foi permitido pela autoridade policial. Revoltado com a atuação de seu patrono, Juvenal demitiu, ofendeu e agrediu fisicamente o advogado na frente do delegado, que entendeu por bem agir de ofício, lavrando termo circunstanciado e instaurando inquérito policial para apuração do crime de injúria, com o objetivo de apurar o conteúdo das ofensas proferidas. Verificando a ausência de suporte probatório mínimo, o MP requereu o arquivamento do inquérito policial relativo ao delito de furto, o que foi acatado pelo juízo. Posteriormente, outro membro do Parquet, reexaminando os autos, ofereceu denúncia contra Juvenal pelo crime de roubo. Juvenal procurou a DP para obter orientação jurídica sobre o caso. Com base na situação hipotética acima apresentada, assinale a opção correta a respeito do inquérito policial: O CPP proíbe a apresentação de exceção de suspeição contra a autoridade policial que preside o inquérito. Assim, não seria possível arguir a suspeição do delegado de polícia que investiga os crimes supostamente cometidos por Juvenal.
11. 
Aula 3
Objetivo
1. Analisar a possibilidade de flexibilização do princípio da obrigatoriedade da ação penal;
2. Analisar a justa causa da ação penal como importante elemento a ser considerado para avaliação de viabilidade e utilidade da propositura da ação penal.
A natureza jurídica da Ação Penal
No momento em que o Estado chamou para si a tarefa de administrar a justiça, o que se instrumentaliza por meio do processo, proibiu-se aos particulares fazer justiça com as próprias mãos (o que, inclusive, caracteriza, em nosso país, delito tipificado no Artigo 345 do Código Penal) e, em contrapartida, surgiu para estes o direito de se dirigirem ao Estado (representado pelos órgãos incumbidos de administrar a justiça) para reclamar a aplicação da sanção contra aquele que, por acaso, lhes violou o direito.
Havendo, pois, violação de qualquer direito individual, cabe ao Poder Judiciário apreciá-la, e nem mesmo a lei pode impedir que o cidadão se dirija ao Estado-Juiz para invocar a reparação a que entende fazer jus.
Atenção!
Urge destacar que a ação penal não difere da ação civil quanto à sua natureza, mas sim quanto ao seu conteúdo, que é "direito público subjetivo a um provimento do órgão jurisdicional sobre a pretensão punitiva". O que nos interessa, nesse curso, por óbvio, é o estudo específico da ação penal.
Pretensão punitiva 
Pertencendo o jus puniendi ao Estado, esse direito subjetivo de punir permanece in abstracto, enquanto não se infringe a lei penal. Com a prática da ação violadora da norma penal, antecipadamente estabelecida, aquele direito subjetivo de punir, que, indistinta e abstratamente visa aos possíveis infratores da lei penal, modifica -se em relação ao seu real infrator, transformando-se num direito efetivo, atual, concreto, de punir. Por óbvio, não se permite que o Estado, titular da pretensão punitiva, possa aplicar ele próprio, de maneira arbitrária e discricionária, o preceito sancionado do Direito Penal. Tal fato não se admite, em absoluto, em um Estado de Direito. Da mesma forma que o Estado impede o particular de fazer justiça com as próprias mãos, ele criou para si também limitações para exercer e efetivar sua pretensão punitiva, de maneira tal que somente o Estado-Juiz é que poderá aplicar a sanctio juris penal no caso concreto, em uma evidente demonstração de autolimitação estatal à executoriedade de seu direito de punir.
A autolimitação do Estado de Direito 
Como consequência da autolimitação que o próprio Estado de Direito se impõe surgem os princípios do nulla poena sine judice e nulla poena sine judicio, ambos elevados à categoria de dogmas constitucionais, e garantindo que ninguém poderá ser punido senão pela autoridade competente e por meio de um regular processo. De acordo com o eminente processualista, a ação penal é direito abstrato, que se concretiza quando há a existência do direito material – fruto da subsunção do fato à lei penal, que o torna fato típico –; autônomo, pois independe do Direito Penal para existir no plano abstrato, pelo contrário, preexiste ao Direito Penal; público, pois a ação penal sempre será pública, independentemente do titular da ação; genérico e subjetivo, pois a todos os membros da sociedade assiste o direito de ver o infrator julgado e punido pelo ilícito penal cometido. 
Flexibilização do Princípio da Obrigatoriedade da Ação Penal
O princípio da obrigatoriedade determina que o Ministério Público deve promover a ação penal pública tão só o tenha notícia do crime e não existam obstáculos que o impeçam de atuar. Impõe-se, portanto, ao Ministério Público o dever de promover a ação penal. Esse princípio funda-se no brocardo latino nec delicta maneant impunita, ou seja, nenhum crime deve ficar impune.
Conforme já tivemos oportunidade de falar em momento anterior, em nossa estrutura acusatória o processo é o único meio hábil a permitir que se eleve o ius puniendi do Estado acima do ius libertatis do indivíduo. Assim sendo, em uma primeira análise, não se justificaria que o órgão acusador pudesse afastara aplicação do Direito Penal ao seu juízo discricionário baseado em oportunidade e conveniência.
Por essa razão, a doutrina mais tradicional – e ainda majoritária –sempre sustentou que sistema acusatório deve se pautar pelo princípio da obrigatoriedade da ação penal processual por parte dos acusadores públicos.
Atenção!
O que podemos perceber é que, a princípio, a obrigatoriedade de propositura da ação penal mostra-se como uma consequência de ter o Estado assumido o monopólio do ius puninedi. A processualização do poder punitivo do Estado, consagrado na expressão nulla poena sine iudicio, confere à ação penal um caráter de função necessária e obrigatória para os órgãos públicos.
Da função do acusador público
Sustentou-se, então, por diversas décadas e de forma praticamente uníssona, que diante do poder-dever que orienta as ações dos agentes públicos, seria contraditório que o acusador público, no exercício de sua função, não estivesse sujeito aos estritos termos legais, podendo escolher arbitrariamente quais violações penais são merecedoras de perseguição ou, ainda, de predeterminar a medida da pena pactuando com o imputado. Por conseguinte, tradicionalmente, não se admitia, pudesse o membro do Ministério Público afirmar que a ação delituosa não tem relevância, que o interesse punitivo ficaria atendido diante de sua inércia, deixando de manifestar em juízo a pretensão punitiva, sob pena de afronta à separação de funções. Bem verdade que quando estudamos o tema aqui proposto de maneira mais superficial, constatamos que doutrina e a jurisprudência majoritárias no Brasil ainda afirmam que prevalece o princípio da obrigatoriedade da ação penal, e isso é reforçado nas escolas de Direito, sem muita reflexão.
A justa causa
É de fundamental importância, na presente discussão, trazermos à baila também algumas considerações acerca da justa causa. A justa causa, que hoje se encontra expressa no inciso III, de nosso CPP (com a redação que lhe deu a Lei nº 11.719/2008), é requisito essencial para o recebimento da denúncia, ou seja, ausente tal elemento não há sentido na propositura da ação penal.
Constatamos, pois, que, modernamente, a justa causa é elemento essencial para que se avalie ou não a utilidade da propositura de uma ação penal, consubstanciando-se em verdadeira expressão da razoabilidade-proporcionalidade, exigindo que analise o binômio custo-benefício da pretensão punitiva a ser exercida. A justa causa é uma cláusula de encerramento, que concretiza, no âmbito processual penal, os preceitos constitucionais da dignidade, da proporcionalidade, além de exercer todas aquelas outras funções antes referidas. Ela concretiza a legitimidade de submeter alguém a um processo criminal sob todas as perspectivas exigidas pela ordem constitucional.
Quanto à tipicidade penal, a justa causa exige mais do que se subsumir à narração fática feita na denúncia ou na queixa a um tipo penal. A tipicidade é um indício da antijuricidade, mas não é, por si só, suficiente para fazer mover a máquina persecutória estatal. Algumas vezes o fato típico não justifica a demanda penal, o que ocorre quando o desvalor da conduta imputada ao agente não implique verdadeiro proveito social em submeter-se alguém ao processo criminal. Nesse caso, quando o fato narrado puder ser tratado por outro modo menos ofensivo à dignidade da pessoa humana, e mais proveitoso socialmente, não haverá justa causa para a propositura da ação penal, considerando tratar-se o Direito Penal de última ratio para recompor o tecido social injustamente violado”.
Considerações finais
Por derradeiro, e já como conclusão deve-se observar que a flexibilização do princípio da obrigatoriedade dando ensejo à adoção do princípio da oportunidade não significa, em absoluto, como instituto de livre aplicação, mas sim com base em situações concretas com base sempre nos princípios e regras gerais de direito democrático. Destarte, a flexibilização do princípio da obrigatoriedade com a adoção, em alguns casos específicos, do princípio da oportunidade abre um campo programático de política criminal estatal, para a melhor e mais eficiente atuação do Ministério Público na qualidade de dominus litis da ação penal, para dar melhor e mais eficaz andamento às supostas ilicitudes que devam ser demandadas perante o Poder Judiciário.
Na prática, a política criminal estatal encontra-se sob o manto e a guarda do Ministério Público, está sob sua incumbência a tutela dos direitos e interesse indisponíveis individuais e coletivos (Artigo 127, caput, CF).
EXERCÍCIOS
1. A ação penal é a prerrogativa de pedir ao Estado-Juiz a aplicação das normas de direito penal ao caso concreto. A respeito da ação penal podemos afirmar, EXCETO:
a) A ação penal pode ser conceituada como o direito público subjetivo de pleitear ao Estado Juiz a aplicação do direito penal objetivo ao caso concreto.
b) Na falta de quaisquer das condições da ação penal pública, o juiz poderá rejeitar liminarmente a peça inicial.
c) Na ação penal pública condicionada à representação, a legitimidade ad causam, no polo ativo, em regra, cabe ao ofendido ou seu representante legal.
d) A ação penal não poderá ser iniciada sem novas provas quando o inquérito policial for arquivado por despacho do juiz, a requerimento do Ministério Público, em virtude de falta de provas.
2. "Direito do Estado-acusação ou da vítima de ingressar em juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto” Esse conceito é correto para: A ação penal
3. Da aplicação do princípio da indisponibilidade da ação penal decorre que: O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.
4. Antônio, empresário do ramo de construção civil, foi difamado e injuriado por José, seu vizinho. Antônio faleceu quinze dias depois do ocorrido. Para que José seja processado criminalmente pelas ofensas: A esposa de Antônio, ou seu filho, poderá oferecer queixa contra José.
5. No caso de o Promotor de Justiça requerer o arquivamento do inquérito policial por entender ausente a justa causa para a instauração da ação penal, havendo discordância do Juiz, este deverá: Remeter os autos à consideração do Procurador - Geral de Justiça.
6. Considere as afirmativas a seguir.
I – São requisitos gerais para o regular exercício do direito de ação penal: a possibilidade jurídica do pedido; o interesse de agir; a legitimidade de parte e a justa causa. As condições de procedibilidade constituem-se em requisitos específicos para o exercício da ação penal, pois têm caráter processual e se ligam somente à admissibilidade da persecução penal, como por exemplo, a representação do ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo e a requisição do Ministro da Justiça.
II – Não se tipifica crime material contra a ordem tributária antes do lançamento definitivo do tributo. Esgotada a via administrativa, constitui-se o referido lançamento numa condição objetiva de punibilidade e não em condição de procedibilidade.
III – A elaboração da denúncia deve preencher os requisitos essenciais, como a qualificação do denunciado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, e a exposição da infração penal, com todas as suas circunstâncias, sendo que na falta de ambos a inicial acusatória será considerada inapta. São requisitos não essenciais, a classificação da infração penal e o rol de testemunhas. A omissão da qualificação jurídica ou a incorreta tipificação dos fatos podem ser supridas a qualquer momento através do aditamento. Caberá ao Promotor de Justiça indicar como deseja provar a imputação, através da prova oral, ou não. Todavia, se desejar ouvir testemunhas na fase probatória da instrução criminal o momento próprio para apresentar o rol de testemunhas será o do oferecimento da denúncia, sob pena de preclusão temporal.
IV – O Código de Processo Penal adota como regra geral para fixação da competência a Teoria do Resultado, ou seja, pelo lugar em que se consumou a infração penal ou pelo lugar ondefoi praticado o último ato de execução. A competência ainda poderá ser determinada conforme o domicílio ou residência do réu; pela natureza da infração penal; pela distribuição; pela conexão ou continência; pela prevenção e pela prerrogativa de função.
Está correto o que se afirmar em: Todas
7. Relativamente ao tema ação penal, analise as afirmativas a seguir:
I. Diz-se que a parte tem interesse juridicamente tutelado para propor a ação, quando poderá obter uma melhora concreta na sua situação jurídica em decorrência do acolhimento do seu pedido (utilidade) e quando não lhe seja possível atingir tal melhora a não ser que recorra ao Judiciário (necessidade).
II. O conceito de legitimidade ativa no processo penal significa que, sendo certo que determinados crimes são processados mediante ação pública e outros mediante ação privada, somente pode ajuizar a respectiva ação aquele que tiver legitimidade (MP ou querelante).
III. A denúncia ou queixa será rejeitada quando faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Assinale: Todas
8. É crime contra o patrimônio, em que somente se procede mediante representação: O furto de coisa comum.
9. É de ação penal de iniciativa privada personalíssima do ofendido o crime de: Simulação de casamento.
10. Assinale a alternativa correta de acordo com o Código Penal: A ação de iniciativa privada pode ser utilizada nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferecer denúncia no prazo legal.
Aula 4
Objetivo
1. Identificar as teorias a respeito da natureza jurídica do processo;
2. Analisar a instrumentalidade garantista do processo penal moderno.
Natureza Jurídica do Processo: Teorias
Devemos observar que o estudo das teorias apresenta relevância tanto sob o aspecto teórico quanto sob o ponto de vista prático, visto que a concepção adotada direciona o modo de ser da ciência processual.
Destacamos, contudo, que a discussão acerca da natureza jurídica do processo, apesar de muito debatida historicamente pelos juristas, é objeto de polêmica até os dias atuais, sendo certo que a doutrina se biparte em dois grandes grupos, a saber:
· Privatista
· Publicista
Teorias Privatísticas
1. Teoria Contratualista: essa primeira teoria tem suas origens no Direito Romano, vindo a ser defendida, nos séculos XVIII e XIX. Nessa teoria, via-se no processo uma espécie de acordo entre as partes (autor e réu), de forma a aceitar aquilo que fosse decidido pelo juiz em sua sentença. Nessa concepção do processo, a relação que interliga autor e réu era vista como em tudo idêntica à que une as partes contratantes. No processo, as partes estariam ligadas pelo mesmo nexo que liga as partes no contrato. Esse contrato judiciário originava-se na chamada litiscontestatio, quando ficava perfeito e acabado. Através da litiscontestatio, entabulavam um contrato judiciário, pelo qual se obrigavam a permanecer no processo até o final e a acatar a decisão do Judiciário. A grande crítica é que ela estabelecia que o início do processo se dava independentemente da vontade do réu e, como sabemos, não há que se falar em contrato se o ato não é bilateral. Ademais, para ser um contrato, seria necessário que o réu concordasse com o pedido do autor, não exercendo seu direito de defesa.
2. Teoria do Quase Contrato: elaboradas severas críticas à primeira teoria que estudamos, evoluiu-se para a teoria do “quase contrato”. Sustentavam seus defensores que se a parte ingressava em juízo voluntariamente, consentia com a decisão judicial, favorável ou desfavorável, ocorrendo, então, um nexo entre autor e juiz, independente da adesão espontânea do réu ao debate da lide, dando ensejo a um fenômeno análogo ao contrato. A grande crítica a essa teoria é que a lei é a principal fonte de obrigações entre as pessoas, de sorte que, em não existindo lei que obrigasse o réu a aceitar o pedido do autor sem oferecer resistência, também não era correto falar-se em “quase contrato.”
· Autor
· Réu
· Juiz
Teorias Publicistas
1. O Processo como Serviço Público: não se enquadrariam no conceito de normas jurídicas aquelas que impunham o cumprimento de determinadas obrigações em face de determinados direitos, mas instruções a respeito daquilo que o Estado considerou o melhor para se alcançar a finalidade do processo. Segundo seus defensores, o processo não seria relação jurídica, onde se verifica a existência do titular do direito subjetivo, que pode exigir o cumprimento de uma prestação por parte do sujeito passivo e, por isso, não haveria obrigações dentro do processo; poderia haver encargos. Seus autores negavam a existência da relação de direito e procuravam ver no processo uma relação de fato apenas.
2. O Processo como Instituição: por volta de 1940 surgiu essa segunda teoria publicista, tendo seu nascedouro se dado fora da ciência do direito, no âmbito das ciências sociais. É primeiro necessário esboçar um conceito de instituição. De acordo, instituições são padrões de comportamento relativos a certas necessidades, ou seja, seriam formas de agir, de sentir, de pensar do homem em sociedade. Caso haja algum comportamento contrário, ensejaria uma sanção específica. Ora, tendo o Estado o papel de resolver os conflitos de interesses, parte-se do pressuposto de que havendo um conflito, têm os cidadãos que se dirigir àquele, na pessoa do juiz, adotando-se, assim, uma forma específica de comportamento, a qual elucidada pelo processo, torna-se garantia de tranquilidade e paz social, pública e, portanto, jurídica, como forma, então, de instituição. Essa teoria concebe o processo como uma instituição histórico-cultural, ou seja, como um complexo de atos, um método, um modo de ação unitário que é regulado pelo direito, para obter um fim.
3. O Processo como Relação Jurídica: como relação jurídica surge como uma crítica à teoria da relação jurídica, por volta de 1925. De acordo com o posicionamento defendido pelo citado processualista alemão, o processo representa uma situação jurídica de sujeição a um futuro comando sentencial em que se materializam as expectativas dos contendores em relação a um resultado, que pode ser favorável ou desfavorável. Com efeito, todo o direito subjetivo trazido por seu titular ao processo, como objeto de uma controvérsia a ser tratada por sentença judicial, pela simples contingência de estar sujeito ao crivo do magistrado - que, por definição, poderá negar sua existência, para aquele que se julga titular, numa simples expectativa de direito. O direito subjetivo das partes existe e é pré-processual. Ficam assim as partes, desde a instauração do processo, em tal posição diante do direito subjetivo, que tudo se resume em mera eventualidade de sua existência ou não. É uma situação, e não relação, jurídica. Não há, assim, direitos processuais, senão meras expectativas de se obter vantagem. Dessa forma, podemos afirmar que essa teoria, a única relação jurídica que existe é a de direito material que se faz valer no processo, definindo-se ao final e fazendo cessar a incerteza que com ele se instaurou. É essa posição da parte diante da sentença judicial que se espera, definindo o direito.
4. O Processo como Relação Jurídica: surge no ano de 1868, a teoria estabelece a diferenciação entre processo e procedimento. O processo é uma relação jurídica pública (vincula o Estado), que avança gradualmente e se desenvolve passo a passo. Essa relação processual não se identifica com as relações jurídicas privadas que constituem matéria do debate judicial, porque estas se apresentam totalmente concluídas, enquanto aquela se apresenta apenas no embrião. O processo, então, põe em confronto os sujeitos que dele participam – autor, juiz e réu – atribuindo-lhes direitos, poderes, faculdades e os correspondentes deveres, obrigações, sujeições e ônus. O juiz tem obrigações, mas tem igualmente poderes, direitos e obrigações. Quando postos em confronto esses sujeitos, nasce entre eles um vínculo, um liame, uma relação, que não é vista a olho nu, mas que os interliga no processo. Essa relação da qual decorremdireitos e obrigações chama-se relação jurídica processual, porque relativa ao processo. Por isso podemos dizer que a relação jurídica processual possui natureza triangular. Nela atuam o juiz, o autor e o réu, vinculando-se de modo recíproco. De acordo com essa teoria, a relação jurídico-processual existe entre juiz e autor, entre juiz e réu e entre autor e réu, vinculando-se reciprocamente.
5. O Processo como Procedimento em Contraditório: elaborada através da distinção entre processo e procedimento, distinguindo-os pelo atributo do contraditório. O provimento, ato final do procedimento, só é válido se amparado neste, pois este é o meio de sua preparação. A noção de processo, contudo, só começa a ser construída com a participação dos interessados na preparação do provimento, considerados estes como aqueles em cuja esfera particular o provimento interferirá. Em outras palavras, o processo seria tão somente uma espécie de procedimento, cuja nota característica e distintiva seria o fato de ser realizado em contraditório. Destarte, o que concluímos é que, para esta derradeira teoria, no procedimento não existe contraditório, mas meros atos, ao passo que só se efetiva o processo quando há contraditório, ou seja, a participação dos litigantes na busca pela prestação jurisdicional.
6. Teoria Constitucionalista do Processo: ao estudarmos essa sexta teoria, devemos lembrar que o estudo do processo, nas sociedades democráticas atuais, passa, necessariamente, pela Constituição, pois é esta que vai instituir o modelo procedimental garantidor do devido processo legal. O processo como instituição constitucionalizada, ou seja, “direito-garantia constitucional de construção dos provimentos e da jurisprudência”, apta a reger, em contraditório, ampla defesa e isonomia, o procedimento, como direito-garantia fundamental, revolucionou os conceitos até então existentes. Sustenta, então, essa teoria, que o movimento constitucionalista deu à instituição do Processo uma dimensão constitucional, de sorte que o processo deve obedecer a um modelo constitucionalizado que estrutura os procedimentos jurisdicionais. Em suma, essa teoria entende o processo como garantia inserta na Constituição e firmada pelos princípios do contraditório, ampla defesa e isonomia, afirmando ser necessário que os procedimentos criados pela norma infraconstitucional se amoldem às determinações presentes na Constituição.
Distinção entre Processo e Procedimento
Hodiernamente, não mais é possível que se confunda processo com procedimento. Podemos dizer que a palavra processo representa a própria jurisdição em exercício, é a própria dinâmica jurisdicional, que tem por finalidade a composição de um litígio.
Por outro lado, o procedimento é o aspecto formal do processo, ou seja, um conjunto de atos concatenados, de que se constitui o processo, esteado em disposições legais e que dizem respeito, dentre outros, à forma, à sequência, ao lugar, à oportunidade com que devem eles se desenvolverem.
O Processo Penal e sua Instrumentalidade Garantista no Estado Democrático de Direito
Após estudadas as teorias a respeito da natureza jurídica do processo, bem como a distinção entre processo e procedimento, vamos abordar tema da maior relevância, que é a análise acerca da instrumentalidade do processo no Estado Democrático de Direito. Conforme já tivemos oportunidade de abordar, tradicionalmente o processo era visto apenas como um instrumento a serviço do Estado para concretizar sua pretensão punitiva contra aqueles que desrespeitassem suas normas penais. Induvidosamente, não é mais essa a visão que prevalece na atualidade. É dentro dessa dimensão que está inserida a finalidade constitucional garantidora da máxima eficácia dos direitos e garantias fundamentais, em especial no plano das liberdades individuais.
Atenção!
Pode-se afirmar, então, que a teoria moderna do processo não mais se rende ao instrumentalismo da doutrina tradicional, que insiste em colocar o processo como mero veículo, modo ou método de atuação de uma jurisdição que age apenas no interesse da sociedade, desprezando o indivíduo, e existindo apenas com a finalidade punitiva.
Uma nova leitura constitucional
É inequívoco que, no Brasil, o principal fator que desencadeou essa mudança de paradigma foi a Constituição Federal de 1988, que, ao instituir o Estado Democrático de Direito, rompeu com a tradição do direito regulador para nos inserir em um direito promovedor e transformador. Essa nova concepção exige uma verdadeira mudança de postura do operador jurídico, uma vez que a ele caberá a função transformadora e promovedora do direito. Assim sendo, essa nova concepção passa, necessariamente, a fim de que ele seja visto como instrumento a serviço da máxima eficácia de um sistema de garantias mínimas.
EXERCÍCIOS
1. Assinale a opção correta acerca das disposições constitucionais aplicáveis ao direito processual penal: Segundo previsão expressa da Constituição Federal de 1988, assegura-se aos presos o respeito à integridade física e moral, e às presidiárias, condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação.
2. No tocante à natureza jurídica do processo, Bulow, em 1868, em seu livro “Teoria dos pressupostos processuais e das exceções dilatórias” expôs a teoria do processo como: relação jurídica processual
3. NÃO representa direito da pessoa acusada em processo criminal, estatuído no artigo 5º da Constituição da República:
a) a inviolabilidade de domicílio, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
b) permanecer calada em seu interrogatório policial ou judicial, sendo que o silêncio poderá ser interpretado em prejuízo de sua defesa.
c) a inadmissibilidade, no processo, das provas obtidas por meios ilícitos.
d) exercer o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
e) ter a sua prisão comunicada ao juiz competente e à família do preso ou pessoa por ele indicada.
4. Considerando os princípios do direito processual penal, assinale a opção correta: Ainda que seja nomeado defensor dativo pelo juiz, o denunciado deve ser intimado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto pelo MP contra a decisão que tenha rejeitado a denúncia, sob pena de nulidade.
5. No Direito pátrio, o sistema que vige no processo penal é o: acusatório.
6. Joana rompeu o relacionamento amoroso que mantivera com José por aproximadamente seis meses. Inconformado com a separação e com as recusas de Joana em reatar o namoro, José passou a ameaçá-la por telefone, dizendo que a mataria se a encontrasse com outro e, em seguida, cometeria suicídio. Sentindo-se intimidada pelo ex-namorado, Joana comunicou o fato à autoridade policial, que instaurou inquérito para apurar o crime de ameaça. Inquirido, José negou a prática do delito. Não conseguindo obter provas do crime, a autoridade policial pleiteou, então, ao Poder Judiciário a interceptação das comunicações telefônicas mantidas entre Joana e José. Nessa situação hipotética, admitindo-se que o MP oficie favoravelmente ao pleito, deve o juiz: Indeferi-lo, visto que não se admite a interceptação de comunicações telefônicas para prova do fato investigado.
7. Quanto aos direitos e garantias fundamentais aplicáveis ao Direito Processual Penal, pode-se afirmar que: Pode-se afirmar que em virtude do contraditório, o juiz não poderá basear eventual decisão condenatória em elementos probatórios produzidos exclusivamente em fase policial.
8. Assinale a opção correta quanto às prerrogativas do acusado no processo penal. O réu tem direito de se recusar a escrever o que se lhe dite para fins de comparação de padrão grafotécnico, que poderá se constituir em prova essencial do processo.
9. José, João e Luís são sócios de uma empresa. José e João redigem, assinam e divulgam entre os clientes e fornecedores da empresa uma carta aberta com afirmações desonrosas em desfavor de Luís. Após regular inquéritopolicial em que José e João são ouvidos, Luís promove queixa-crime unicamente contra José, uma vez que, por motivos pessoais, não quis processar João. Considerando que o acúmulo de acusações faça com que a demanda não seja julgada pelo rito sumaríssimo, que foi infrutífera a fase de reconciliação – o que remete o processo ao rito comum – e que não é caso de rejeição, deve o magistrado: Considerar que houve renúncia com relação a João, estender tal entendimento a José e extinguir a punibilidade de ambos.
10. Assinale a alternativa incorreta:
a) Segundo estabelece o Código de Processo Penal o prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, mesmo que haja devolução do inquérito à autoridade policial para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público recebeu pela primeira vez vista dos autos.
b) A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo.
c) O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo.
d) A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá.
Aula 5
Objetivo
1. Identificar o que são questões e processos incidentes no processo penal.
2. Estudar quais são as questões e processos incidentes no processo penal.
Os incidentes processuais: conceito e espécies
De forma bastante resumida, podemos conceituar os incidentes processuais como sendo todas aquelas controvérsias que, eventualmente, esporadicamente, podem surgir no curso de uma ação penal e que, forçosamente, deverão ser enfrentadas/decididas pelo juiz antes da causa principal. Os incidentes processuais serão aqueles eventos que provocarão necessariamente alguma alteração no trâmite do processo, ou seja, afetarão a normalidade procedimental. As questões incidentes são eventuais e não obrigatórias, ou seja, não necessariamente aparecerão em qualquer processo.
Os incidentes processuais, em nosso ordenamento jurídico, são os seguintes: as questões prejudiciais (Artigos 92 a 94 do CPP), as exceções (Artigos 95 a 111 do CPP), as incompatibilidades e impedimentos (Artigo 112 do CPP), o conflito de jurisdição (Artigos 113 a 117 do CPP), a restituição de coisas apreendidas (Artigos 118 a 124 do CPP), as medidas assecuratórias (Artigos 125 a 144 do CPP), a arguição de falsidade documental (Artigos 145 a 148 do CPP ) e a insanidade mental do imputado (Artigos 149 a 154 do CPP).
As questões prejudiciais 
São todas aquelas questões de valoração jurídica, seja de direito penal, seja extrapenal, que devem ser decididas antes da questão principal (chamada de prejudicada), cuja decisão depende a solução da questão principal posta em juízo. São características das questões prejudiciais:
a. A anterioridade, posto que a questão prejudicial deve ser julgada antes da prejudicada, isto é, da questão principal. Ela é um antecedente da prejudicada, ou “não haveria falar em prejuízo”.
b. A necessariedade, o que significa que, sem a decisão da questão prejudicial, não é possível resolver a questão principal.
c. A autonomia, isto é, seu conteúdo pode ser objeto de ação autônoma.
A primeira classificação das questões prejudiciais
A primeira classificação é quanto ao mérito ou natureza da questão. Por esta classificação, as questões prejudiciais são chamadas de homogêneas (comuns ou perfeitas) ou heterogêneas (perfeitas ou jurisdicionais).
	Homogêneas
	Heterogêneas
	São aquelas que pertencem ao mesmo ramo do direito da questão principal ou prejudicada, que é penal e, portanto, necessariamente serão decididas por um juiz criminal. Exemplo de questão prejudicial homogênea é a decisão acerca da exceção da verdade em crime de calúnia, ou a decisão acerca de um crime contra o patrimônio como antecedente do crime de receptação.
	Vinculam-se a outras áreas do direito que não o penal, devendo ser decidida por outro juízo, v.g., decisão sobre posse, na esfera cível, antes de decidir a respeito do crime de esbulho possessório. Outro exemplo seria a alegação como defesa na ação penal por crime contra a propriedade imaterial, da nulidade da patente ou do registro em que se fundar a aludida demanda.
Atenção!
A segunda classificação das questões prejudiciais que vamos estudar é quanto ao efeito e, sobre este aspecto, falaremos em questões prejudiciais obrigatórias ou necessárias e questões prejudiciais facultativas. 
Dos processos incidentes 
Seguindo as lições do eminente Eugênio Pacelli de Oliveira, podemos classificar os processos incidentes consoante se discuta:
· “Questões tipicamente preliminares (exceção de suspeição, incompatibilidade e impedimento, exceções de incompetência do juízo, de litispendência, de ilegitimidade de parte e de coisa julgada, e o conflito de jurisdição), que devem ser resolvidos antes do exame do mérito da ação penal”;
· “Questões de natureza acautelatória, de cunho patrimonial, sem maiores interferências na solução do caso penal (restituição de coisas apreendidas, medidas assecuratórias – sequestro, arresto e inscrição da hipoteca legal)”;
· “Questões tipicamente probatórias, seja no âmbito da aferição da culpabilidade (incidente de insanidade mental), seja no da materialidade do delito (incidente de falsidade documental)”.
Das exceções
Compreende o direito público subjetivo do acusado em se defender, ora combatendo diretamente a pretensão do autor, ora deduzindo matéria que impede o conhecimento do mérito, ou, ao menos, enseja a prorrogação do curso do processo. As exceções são tidas como as defesas indiretas apresentadas por qualquer das partes, como o intuito de prolongar o trâmite processual, até que uma questão processual relevante seja resolvida, bem como com a finalidade de estancar, definitivamente, o seu curso, porque processualmente incabível o prosseguimento da ação.
No processo penal brasileiro, as exceções podem ser peremptórias, que são aquelas que, quando acolhidas, põem termo à causa, extinguindo o processo (exemplos: exceções de coisa julgada e litispendência), ou dilatórias, que são aquelas que, quando acolhidas, acarretam única e exclusivamente a prorrogação no curso do processo, procrastinando-o, retardando-o ou transferindo o seu exercício (exemplos: a suspeição e a incompetência).
O rol das exceções está previsto no Artigo 95 do Código de Processo Penal: 
a) suspeição; 
b) incompetência do juízo;
c) litispendência; 
d) ilegitimidade de parte;
e) coisa julgada.
Tais exceções, que, a partir de agora, serão objeto de nosso estudo, são, em verdade, mecanismos que obstaculizam o transcurso normal do processo, paralisando-o provisoriamente ou encerrando-o por definitivo.
Espécies de exceções
EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO – Artigos 96/107 do CPP: seu fundamento é a falta de imparcialidade do juiz, ou seja, diz respeito a fatos e circunstâncias subjetivas, que, de alguma forma, poderão afetar a imparcialidade do julgador na apreciação do caso concreto.
Processo como Relação Jurídica: a teoria do processo como relação jurídica surge como uma crítica à teoria da relação jurídica, por volta de 1925. Em nosso ordenamento jurídico, considera-se o juiz suspeito nas hipóteses previstas no Artigo 254 do CPP. Devemos observar, contudo, que, embora a matéria seja de direito estrito, somente podendo ser invocadas as hipóteses previstas na lei, admite-se, tranquilamente, que o juiz criminal se dê por suspeito também por motivo de foro íntimo, muito embora esta hipótese não esteja prevista no CPP. Na verdade, para chegarmos a tal entendimento, deve ser feita uma aplicação porextensão da norma do parágrafo único do Artigo 135 do CPC, consoante regra do Artigo 3º do CPP.
Atenção!
A suspeição pode ser reconhecida de ofício pelo próprio magistrado (Artigo 97 do CPP) ou suscitada por qualquer das partes sob a forma de exceção, observando-se o procedimento previsto entre os Artigos 98 a 101 do CPP, sendo que está sempre deve preceder às demais, nos termos do Artigo 96 do CPP, salvo quando superveniente. Devemos observar que podem ser exceptos os magistrados, os membros do Parquet, os peritos, intérpretes, funcionários da justiça, serventuários e os jurados. Não se admite, entretanto, exceção de suspeição contra as autoridades policiais.
Exceção de incompetência
A exceção de incompetência (exceptio incompetentiae ou declinatoria fori), reconhecida também como defesa indireta, é aquela em que a parte pode interpor contra o juízo, alegando sua incompetência para julgar o feito, fundamentada no princípio constitucional do juiz natural. A competência pode ser absoluta ou relativa. Em se tratando de incompetência relativa, esta, se não reconhecida de ofício pelo magistrado, deve ser alegada no prazo da defesa inicial, sob pena de preclusão e prorrogação da competência. No entanto, em relação à incompetência absoluta, poderá ser arguida a qualquer tempo. O procedimento da exceção corre da seguinte forma: é oposta junto ao próprio juiz da causa; pode ser arguida verbalmente (reduzida a termo) ou por escrito; o juiz mandará autuar em apartado; o Parquet deve ser ouvido a respeito da exceção, contanto que não seja ele o proponente; posteriormente, o magistrado julga a exceção. Sendo esta julgada procedente, os autos são remetidos ao juiz competente e, sendo julgada improcedente, o magistrado continuará atuando no feito. O acolhimento da exceção, ou seja, considerando-se incompetente o juiz, propicia a qualquer das partes a utilização de recurso em sentido estrito, com base no Artigo 581, II, do CPP. A não aceitação faz com que o juiz seja mantido no processo, entendendo-se, majoritariamente cabível, nesta hipótese, a de habeas corpus, na medida que configuraria constrangimento ilegal ao réu ser julgado por magistrado incompetente. Outra solução, ao invés do habeas corpus, seria deixar a alegação para ser discutida como preliminar de futura e eventual apelação.
Exceção de litispendência
Se verifica quando duas ações estão em curso ao mesmo tempo, tratando da mesma causa de pedir e tendo mesma parte ré. A litispendência é uma exceção peremptória, extinguindo o processo sem julgamento meritório (absolvição de instância), e o ponto fundamental a ser indagado para seu reconhecimento são os fatos atribuídos ao réu, pouco importando a qualificação jurídica dada a eles. Assim, no processo penal, se verifica sempre que a imputação atribuir ao acusado, mais de uma vez, em processos diferentes, ela conduta delituosa. Fundamenta-se no princípio de que ninguém pode ser julgado duas vezes pelo mesmo fato: princípio do non bis in idem.
Podem as partes impetrar a exceção de litispendência a qualquer tempo, pois, como ocorre no caso de incompetência absoluta, a matéria não preclui, diante do interesse público envolvido.
Atenção!
Há, também, possibilidade de declaração de ofício pelo juiz, evitando-se que o réu enfrente duas ações idênticas simultaneamente. Para a escolha de qual deve prevalecer, são levados em consideração os critérios da prevenção ou da distribuição. O procedimento a ser observado na exceção de litispendência é o seguinte: em petição à parte, argui-se a exceção, podendo fazê-lo qualquer das partes, sempre determinando o juiz a oitiva da outra. Admite-se a suscitação verbalmente, também, embora seja raro. Entretanto, por configurar nítido constrangimento ilegal o andamento concomitante de duas ações penais, é cabível o habeas corpus para trancar uma delas.
Exceção de coisa julgada 
É a defesa indireta contra o processo visando à sua extinção, tendo em vista que idêntica causa já foi definitivamente julgada em outro foro. Ninguém pode ser punido ou processado duas vezes pelo mesmo fato, razão pela qual, havendo nova ação, tendo por base idêntica imputação de anterior já decidida, cabe a arguição de exceção de coisa julgada. Assim como na litispendência, seu fundamento repousa no princípio do non bis in idem. A coisa julgada, que nada mais é que a tradução da expressão latina res judicata, trata-se de uma qualidade dos efeitos da decisão final, marcada pela imutabilidade e irrecorribilidade. Podem ser diferenciadas a coisa julgada formal e a coisa julgada material. A coisa julgada formal reflete a imutabilidade da sentença no processo em que foi proferida, que encerra o processo sem julgamento do mérito; tem efeito preclusivo, impedindo nova discussão sobre o fato no mesmo processo. Na coisa julgada material, em que ocorre o julgamento do mérito, existe a imutabilidade da sentença que se projeta fora do processo, obrigando o juiz de outro processo a acatar tal decisão, ou seja, veda-se a discussão dentro e fora do processo em que foi proferida a decisão. A exceção de coisa julgada não é apropriada para pugnar pela ocorrência de coisa julgada formal. Com efeito, o objetivo da exceção é concretizar a eficácia da coisa julgada material, impedindo o seguimento de processo idêntico a outro já findo. O procedimento a ser observado na exceção de coisa julgada é o seguinte: pode ser arguida verbalmente ou por escrito, em qualquer fase do processo e em qualquer instância. O juiz deve ouvir a outra parte e o Ministério Público, caso este tenha sido o autor da alegação. Se o juiz julga procedente, a ação principal será extinta, e, desta decisão, cabe recurso em sentido estrito. Se o juiz julga improcedente, a ação principal continua, e, desta decisão, não cabe recurso específico, mas o interessado pode impetrar habeas corpus.
Atenção!
Concluímos, pois, que a exceção de ilegitimidade da parte visa retirar do polo ativo ou passivo aquele que não apresenta atribuição para tanto. Assim, a título de exemplo, podemos afirmar que seja o órgão ministerial ao atuar fora de suas funções legalmente estabelecidas, ou o réu, ao ser-lhe imputado crime nas hipóteses não cabíveis, é aplicável a exceção de ilegitimidade de parte.
As questões de natureza acautelatória 
Dividiremos o estudo das questões de natureza acautelatória em dois subtópicos: 
1. Restituição de coisas apreendidas: é uma das primeiras atribuições da autoridade policial durante o inquérito é apreender os objetos que tenham relação com o fato criminoso (Artigo 6°, II, do CPP). De outro bordo, há também, durante o processo, a medida cautelar de busca e apreensão (Artigo 240 do CPP). O objetivo desses procedimentos é, por certo, auxiliar na elucidação do crime. Todavia, uma vez apreendidos, há que analisar qual destino se dará a esses bens. Dentre as coisas apreendidas, poderão ser restituídas, antes de transitar em julgado a sentença condenatória, aqueles objetos que não interessarem ao processo. (Artigo 118 do CPP).
2. Medidas assecuratórias: são providências previstas no CPP (em algumas hipóteses, até no curso do inquérito policial), que podem objetivar, em suma:
a. assegurar o direito à indenização da vítima do crime;
b. o pagamento de eventual pena pecuniária e custas processuais;
c. evitar que o acusado obtenha lucro com a atividade criminosa.
O sequestro de imóveis ou móveis, a hipoteca legal e o arresto são medidos assecuratórias adotadas no nosso diploma processual penal. Do sequestro de imóveis, cuidam os Artigos 125 e ss. do CPP. Mesmo que tais bens se hajam transferido a terceiros, pouco importando se de boa ou má-fé, ainda assim podem ser sequestrados. 
Atenção!
Nos outros casos, a restituição se dará apenas com o trânsito em julgado da sentença (Artigo 119 do CPP), a não ser que se trate dos chamados bens confiscáveis, nos termos do Artigo 91, II, do CP, quais sejam: 
a) instrumentos do crime, cujo uso, porte ou fabricação, seja considerado ilícito;
b) produto do crime ou qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo

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