Buscar

Petição Inicial de dissolução de sociedade

Prévia do material em texto

Juízo da Vara de Direito Empresarial, Recuperação de Empresas e Falência do Foro Central da Comarca de Porto Alegre/RS 
Vidinha Ribeiro Alves, brasileira, solteira, inscrita no CPF número XXXX, RG número XXX, residente e domiciliada na rua Rua Jaraguá, número 347, apartamento 1003, bairro Bela Vista, município de Porto Alegre/RS 
Ação de Dissolução de Sociedade 
Em face de 
Diogo Ribeiro Alves, brasileiro, casado, inscrito no CPF número XXX e no RG número XX, residente e domiciliado na Rua Jaraguá, número 347, apartamento 1002, bairro Bela Vista, município de Porto Alegre/RS  
 Luciana Ribeiro Alves, brasileira, casada, inscrito no CPF número XXX e no RG número XX, residente e domiciliado na Rua Jaraguá, número 347, apartamento 1002, bairro Bela Vista, município de Porto Alegre/RS 
Ribeiro Alves Venture And Capital Ltda, empresa de direito privado, devidamente inscrita no CNPJ número XXX, com sede a Avenida Carlos Gomes, número 1230, conjunto 700, bairro Auxiliadora, Porto Alegre/RS
1 – Dos Fatos
A empresa ré Ribeiro Alves Venture And Capital Ltda é uma sociedade Limitada, com capital social devidamente integralizado em 6.890.000,00 (seis milhões, oitocentos e noventa mil reais), em que são sócios: a autora Vidinha com 25% das cotas sociais, os réus Diogo com 25% de cotas sociais e a ré Luciana com 50% das Cotas Sociais. 
O objeto social da empresa permite a participação em outras sociedades empresarias, além disso os sócios possuem um acordo de cotista que todos tem poder de administração.
Atualmente a sociedade empresária ré, é detentora de cotas sociais de outras empresas, distribuído conforme quadro esquematizado abaixo:
	Escola Ribeiro Alves
	50% das cotas
	Select Apartamentos e Flats Ltda
	50% das cotas
No dia 27 de fevereiro de 2021, foi realizado uma reunião de sócios, ocasião em que a autora Vidinha oficializou seu interesse em deixar a sociedade, contudo demonstrou interesse em receber o pagamento de todas as suas cotas sociais.
Desde então Vidinha aguarda que os demais acionistas realizem o balaço patrimonial especial para a apuração de haveres, o que até a presente data, não ocorreu.
2 – Do Mérito
Nas questões de mérito a parte autora passa a discorrer sobre a dissolução parcial da sociedade e a apuração de haveres.
2.1 Da Dissolução Parcial
A dissolução parcial da empresa tem como escopo o principio da preservação da empresa, com o intuito de preservar mesmo que não haja mais affectio societatis, assim como no caso concreto. 
A autora manifestou seu direito de retirada em 27 de fevereiro de 2021, contudo passado mais de 3 meses. Nesse sentido a parte autora busca seu direito de retirada, uma vez que não existe mais razão para manter-se no quadro societário da empresa ré.
Tal direito, está previsto no artigo 1.029 do Código Civil. Transcrevemos:
Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa. Parágrafo único. Nos trinta dias subseqüentes à notificação, podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade.
Corroborando o Código Civil, o código de Processo Civil, em seu artigo 599, prevê a dissolução de sociedade de forma parcial.
Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto:
I - a resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e
II - a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou
III - somente a resolução ou a apuração de haveres.
Nesse interim, uma vez que a parte autora não possui mais interesse me manter-se na sociedade, existe quebra do affectio societatis. Dessa forma, cita-se as palavras de Medina:
O sócio quando pertencente a uma sociedade simples por prazo indeterminado pode pedir a sua retirada do quadro societário com a apuração dos haveres. Ninguém pode ser compelido a pertencer a um quadro societário após a quebra da affectio societatis. Bastará a notificação dos demais sócios para que tomem conhecimento quanto ao exercício do direito recesso e deliberem sobre a continuidade da sociedade ou não.[footnoteRef:1] [1: MEDINA, Fabio Caldas de Araújo. Código Civil Comentado. 1ed. em e-book baseada na 1 ed impressa. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. Disponível em: https://proview.thomsonreuters.com/title.html?redirect=true&titleKey=rt%2Fcodigos%2F148837240%2Fv2.8&titleStage=F&titleAcct=i0adc419b0000016cb6004c4e4e176e82#sl=e&eid=33b38930f89e931c674b0c663c3e2ca5&eat=a-150065116&pg=3&psl=&nvgS=false Acesso em 19 de mai. de 2021] 
Não bastasse isso, a mais recente jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, entende que havendo quebra do affectio societatis. Transcrevemos:
Ementa: Agravo de instrumento. Dissolução e liquidação de sociedade. Antecipação de tutela. Direito de recesso. Havendo quebra da affectio societatis, é de ser acolhido o pedido de dissolução da sociedade. Possibilidade do exercício do direito de retirada, nos termos do art. 1.029 do CC. Agravante que comprova ter efetuado a devida notificação do sócio remanescente. Pedido de afastamento dos administradores e de indisponibilidade de bens. Medidas extremas que demandam fortes elementos de convicção, o que não há no caso dos autos. Necessidade de dilação probatória. Pedido de determinação de juntada de documentos. Ausência de perigo de dano irreparável. Documentos postulados que devem ser objeto da prova a ser produzida no momento oportuno. Agravo de instrumento parcialmente provido.(Agravo de Instrumento, Nº 70078849981, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em: 14-03-2019).
Da mesma forma, é pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, leia-se:
RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL. SOCIEDADE EMPRESÁRIA LIMITADA. DISSOLUÇÃO PARCIAL. SÓCIO RETIRANTE. APURAÇÃO DE HAVERES. CONTRATO SOCIAL. OMISSÃO. CRITÉRIO LEGAL. ART. 1.031 DO CCB/2002. ART. 606 DO CPC/2015. VALOR PATRIMONIAL. BALANÇO ESPECIAL DE DETERMINAÇÃO. FUNDO DE COMÉRCIO. BENS INTANGÍVEIS. METODOLOGIA. FLUXO DE CAIXA DESCONTADO. INADEQUAÇÃO. EXPECTATIVAS FUTURAS. EXCLUSÃO. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a definir se o Tribunal de origem, ao afastar a utilização da metodologia do fluxo de caixa descontado para avaliação dos bens imateriais que integram o fundo de comércio na fixação dos critérios da perícia contábil para fins de apuração de haveres na dissolução parcial de sociedade, violou o disposto nos artigos 1.031, caput, do Código Civil e 606, caput, do Código de Processo Civil de 2015. 3. O artigo 606 do Código de Processo Civil de 2015 veio reforçar o que já estava previsto no Código Civil de 2002 (artigo 1.031), tornando ainda mais nítida a opção legislativa segundo a qual, na omissão do contrato social quanto ao critério de apuração de haveres no caso de dissolução parcial de sociedade, o valor da quota do sócio retirante deve ser avaliado pelo critério patrimonial mediante balanço de determinação. 4. O legislador, ao eleger o balanço de determinação como forma adequada para a apuração de haveres, excluiu a possibilidade deaplicação conjunta da metodologia do fluxo de caixa descontado. 5. Os precedentes do Superior Tribunal de Justiça acerca do tema demonstram a preocupação desta Corte com a efetiva correspondência entre o valor da quota do sócio retirante e o real valor dos ativos da sociedade, de modo a refletir o seu verdadeiro valor patrimonial. 6. A metodologia do fluxo de caixa descontado, associada à aferição do valor econômico da sociedade, utilizada comumente como ferramenta de gestão para a tomada de decisões acerca de novos investimentos e negociações, por comportar relevantegrau de incerteza e prognose, sem total fidelidade aos valores reais dos ativos, não é aconselhável na apuração de haveres do sócio dissidente. 7. A doutrina especializada, produzida já sob a égide do Código de Processo Civil de 2015, entende que o critério legal (patrimonial) é o mais acertado e está mais afinado com o princípio da preservação da empresa, ao passo que o econômico (do qual deflui a metodologia do fluxo de caixa descontado), além de inadequado para o contexto da apuração de haveres, pode ensejar consequências perniciosas, tais como (i) desestímulo ao cumprimento dos deveres dos sócios minoritários; (ii) incentivo ao exercício do direito de retirada, em prejuízo da estabilidade das empresas, e (iii) enriquecimento indevido do sócio desligado em detrimento daqueles que permanecem na sociedade 8. Recurso especial não provido.
Destarte, considerando as razões acima expostas, resta evidente a quebra do affectio societatis, que significa a livre vontade de constituir uma sociedade e permanecer nelas juntos. Todavia, conforme a situação apresentada pela autora, está não possui mais interesse em permanecer na sociedade, possuindo então o vício de affectio societatis, sendo necessário no presente caso, afim de preservar a empresa, a Dissolução Parcial da Sociedade.
2.2 Da Liquidação e Apuração de Haveres
Como consequência da dissolução da sociedade, se faz necessário apurar os haveres por meio de liquidação, para fins de avaliar o patrimônio correspondente da parte autora.
Tal procedimento está previsto essencialmente no Código Civil, combinado com o Código de Processo Civil, procedimento que é justamente permitir a apuração de haveres.
Art. 1.031 CC. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado.
§ 1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota.
§ 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.
Destarte, os artigos 604 e 605 do Código de Processo estabelece as fixações legais e o obrigatórias para que possa chegar a apuração dos deveres devidos. Transcrevemos:
Art. 604. Para apuração dos haveres, o juiz:
I - fixará a data da resolução da sociedade;
II - definirá o critério de apuração dos haveres à vista do disposto no contrato social; e
III - nomeará o perito.
§ 1º O juiz determinará à sociedade ou aos sócios que nela permanecerem que depositem em juízo a parte incontroversa dos haveres devidos.
§ 2º O depósito poderá ser, desde logo, levantando pelo ex-sócio, pelo espólio ou pelos sucessores.
§ 3º Se o contrato social estabelecer o pagamento dos haveres, será observado o que nele se dispôs no depósito judicial da parte incontroversa.
Art. 605. A data da resolução da sociedade será:
III - no recesso, o dia do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio dissidente;
Cumpre ressaltar que no caso concreto, a data da dissolução da sociedade já está definida. Destarte, deve determinar-se a apuração de haveres estabelecendo como data da dissolução da sociedade no dia 27 de fevereiro de 2021.
3 - Do Valor da Causa:
Conforme mencionado alhures, o capital social integralizado foi de R$ 6.890.000,00 (seis milhões, oitocentos e noventa mil reais), contudo não foi realizado o balanço patrimonial especial para a apuração de haveres até o presente momento.
Razão pela qual, a autora não possui conhecimento de quanto equivale 25% das cotas sociais. Em entendimento já consolidado pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, é pacifico o entendimento de que a atribuição do valore de alçada é adequado, uma vez que não se pode calcular, no momento o benefício econômico da autora. Nesse sentido, transcrevemos:
Ementa: AGRAVO INTERNO. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE. VALOR DE ALÇADA. POSSIBILIDADE. I. Nos termos do art. 14, do CPC/2015, a norma processual não retroagirá, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Dessa forma, aplicam-se no caso as disposições constantes do CPC/1973, em vigor quando do ajuizamento da ação, da prolação da decisão de primeiro grau e da interposição deste recurso. II.Tratando-se de ação de dissolução parcial de sociedade, mostra-se adequada a atribuição do valor de alçada à lide, pois o benefício econômico buscado pelo agravado-impugnado não pode ser aferido de plano. Impossibilidade de aplicação do disposto no art. 259, V, do CPC/1973. Ademais, a pretensão do impugnado é a dissolução da sociedade com a condenação dos demandados ao pagamento do valor a ser apurado pela perícia. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.(Agravo, Nº 70068068238, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge André Pereira Gailhard, Julgado em: 30-03-2016).
Portanto, dá se o valor da causa o valor de alçada provisoriamente, de maneira que após apurado o valor das cotas sociais requer prazo para complementação do pagamento de custas judiciais.
4- Da audiência de Conciliação
Tendo em vista a natureza do direito e demonstrado espirito conciliador, a autora desde já manifesta seu interesse na audiência de conciliação, nos termos do artigo 334 do Código de Processo Civil.
5- Dos Pedidos:
ANTE O EXPOSTO, a parte autora respeitosamente postula a Vossa Excelência, o recebimento e a autuação da presente demanda, bem como a sua TOTAL PROCEDÊNCIA, para:
A) A citação da parte ré nos termos do artigo 601 do código de Processo Civil para querendo, apresentar contestação no prazo legal;
B) A TOTAL PROCEDENCIA da presente ação para fins de declarar a dissolução parcial da sociedade, com a apuração de haveres e o pagamento da autora, sócia retirante no valor equivalente a suas cotas;
C) A condenação da parte ré ao pagamento de custas processuais e honorários de sucumbência, nos termos do artigo 85 do Código de Processo Civil;
D) Postula pela produção de todos os meios de prova em direito admitido, tais como, periciais, testemunhais e documentais especialmente pelo depoimento pessoal da parte ré, que desde já requer sob pena de confissão.
Nestes termos pede deferimento
Dá-se à causa o valor de alçada
Porto Alegre/RS; 27 de maio de 2021.
Advogado
OAB/XX.XXX

Continue navegando