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Farmacoterapia e Insulinoterapia da Diabetes · Diabetes Mellitus Tipo 1 · Destruição de células beta (parênquima pancreático) via imunidade humoral, celular, envolve HLA, provoca uma insulite · HLAs associados (freq. positiva: B8-Bw15, A9, Cw4/freq. negativa: B7) · O predomínio genético é maior no DM2, a herança é poligênica · Há interferência do meio ambiente como gatilho · No DM1, há maior discordância entre gêmeos unizigóticos, evidenciando o papel dos fatores ambientais · Vírus, bactérias, proteínas, etc. podem deflagrar essa reação autoimune → ex: coxsackie B, caxumba, citomegalovírus (a vacina diminui a incidência de DM1) · Histologia: infiltrado de células mononucleares no tecido pancreático (insulite) que antecede a doença clínica e persiste por semanas/meses antes da destruição significativa de células beta · Diabetes Mellitus Tipo 2 · Fisiopatologia: fígado aumenta a prod. hepática de glicose; pâncreas com relativa deficiência insulínica – produz insulina, mas é incapaz de vencer a resistência periférica dos principais tecidos (músculo e gordura), havendo menor captação de glicose neles · Isso gera um aumento gradual da glicose que culminará em hiperglicemia, por isso é difícil de determinar o momento de início da DM2 · A deficiência relativa de insulina pode evoluir para a deficiência absoluta de insulina; quando se dá o diagnóstico de diabetes, acredita-se que já existe uma perda de 50-80% das células beta · O que se tenta fazer no DM2 é preservar, poupar a perda de células beta (realizado pelas medicações atuais), justamente porque a história natural do DM2 é essa progressão para a deficiência absoluta (não é possível conter a destruição) · A própria glicemia é tóxica para o pâncreas (glicotoxicidade, gera incapacidade de produzir insulina – volta a produzir quando controla a glicemia – OBS: não é assim no DM1) · O desgaste das células beta gera uma deficiência absoluta de insulina e necessidade de repor insulina OBS: algumas medicações podem, além de poupar a perda, promover a recuperação de células beta quiescentes. · O tratamento para DM2 é misto: inicialmente, pode começar com comprimidos, mas pode migrar para transição lenta de insulinização, até chegar numa insulinização plena · Hiperglucagonemia · Quando há menor atividade das células beta, há predomínio da ação das células alfa sob as células beta · Consiste em mais um mecanismo fisiopatológico da diabetes, sendo alvo terapêutico · Ao reduzir a atividade das células alfa (↓ secreção de glucagon), há liberação e melhora da função das células beta, reduzindo a secreção de glicose, principalmente, via fígado (onde atua o glucagon) · Aumento da Lipólise: “diabesidade” · Há ↑ dos ácidos graxos livres circulantes · A obesidade agrava a resistência insulínica; quando o paciente perde peso, consegue controlar a diabetes · A cirurgia da obesidade (metabólica, by-pass) diminui a população de células do tec. adiposo; a perda de peso eficaz pode ter uma chance de controlar melhor o diabetes do que as próprias medicações · Aumento da Reabsorção Renal de Glicose · A hiperglicemia é prejudicial para a filtração · Receptor do TCP no néfron (SGLT-2), responsável pela reabsorção de sódio e glicose, é hiperexpresso no diabético (por mecanismo compensatório, há 30% mais reabsorção) → alvo terapêutico: fármaco bloqueia o receptor, permitindo eliminação do sódio, água e glicose na urina que seriam reabsorvidos · A mácula densa detecta menores níveis pressóricos e ativa o SRAA, gerando maior reabsorção de sódio, contudo, quando o SGLT-2 está inibido, há menor atividade da mácula densa; o paciente melhora de um provável quadro de hipervolemia → ↓ trabalho cardíaco (↓ estiramento de fibras) · Disfunção Incretínica · GLP-1 é produzido no intestino delgado, só há liberação por alimentação via oral · Refeições mistas e alimentos mal digeridos, ao passar pelo pelo int. delgado proximal (principalmente jejuno), constituem estímulo para liberação do GLP-1, que atua: ↳ [1] no pâncreas, aumenta a secreção de insulina e reduz a secreção de glucagon; ↳ [2] no estômago, inibe o esvaziamento gástrico, aumentando a sensação de saciedade (indivíduo come menos); ↳ [3] no SNC, reduz o apetite via nervo vago, atuando nas áreas anorexígenas do hipotálamo · GLP-1 teria potencial terapêutico por estimular emagrecimento, melhorando o componente de células adiposas (“diabesidade”) · GLP-1 endógeno não é capaz de realizar isso porque é rapidamente degradado (5 minutos após o estímulo) pela dipeptilpeptidase tipo 4 (DPP-IV), tornando-o metabólito inativo OBS: por isso a cirurgia bariátrica é tida como metabólica, pelo aumento do GLP-1 endógeno de forma importante (15-20x valor basal). · Ação dos Fármacos: inibição da enzima DPP-IV ou uso de análogo do GLP-1 · Acreditava-se que só existiam 3 mecanismos (hepático, pancreático, periférico) que levavam à diabetes, mas existem, atualmente, pelo menos 8 mecanismos, (“ominus octeto”) que consistem em possíveis focos de ação dos remédios para tratar diabetes, sem contar com microbiota e epigenética (condições que o feto foi submetido na gravidez – ex: estresse, hiperglicemia, diabetes gestacional, etc). · Manifestações Clínicas do DM2 · 50% não sabem que têm a doença por serem assintomáticos/oligossintomáticos · Apresentam mais comumente sintomas inespecíficos (clássicos: poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso) · Vulvovaginite de repetição e disfunção erétil podem ser sintomas iniciais · Fatores de Risco: pacientes que já apresentam outras doenças metabólicas (HAS, obesidade, etc) · História familiar de diabetes; raça/etnia (índios Pima, ind. de ilhas do Pacífico); idade > 45 anos; tabagismo · Dislipidemia (principalmente aterogênica), diagnóstico prévio de intolerância à glicose · História de diabetes mellitus gestacional ou macrossomia fetal · Diagnóstico: só precisa de 1 das condições, uma ou a outra 1. Glicemia pós jejum de 8h ≥ 126 mg/dL 2. Glicemia ao acaso ≥ 200 mg/dL em presença de sintomas clássicos de hiperglicemia/crise hiperglicêmica 3. Glicemia após sobrecarga com teste de 75g de dextrose anidra ≥ 200 mg/dL 4. Hemoglobina glicada ≥ 6,5% · Resultado da glicemia de jejum · ≥ 126, repetir o exame, mesmo resultado (≥ 126) → diabetes · 101-125, realizar TOTG (teste oral de tolerância à glicose, curva glicêmica): < 140 a glicemia de jejum está alterada; 140-199 há tolerância diminuída à glicose (ambas condições incluídas na pré-diabetes); > 200 → DM · Pré-diabético: glicemia de jejum entre 100 e 126 ou hemoglobina glicada entre 5,7% e 6,5% · Risco maior de desenvolver complicações relacionadas à hiperglicemia, como retinopatia diabética; ou de já ter um componente cardiovascular associado OBS: hemoglobina glicada representa glicemia média em 120 dias, dá ideia do controle glicêmico a longo prazo, sendo melhor que a glicemia, que é muito volátil. · Tratamento com Insulina · Fisiologia · Em indivíduo normal, o aumento da insulina acompanha o aumento da glicemia em cada refeição · No período interprandial, a insulina é suprimida e é estimulada a liberação de glucagon: por isso, ind. normal não faz hipoglicemia (< 60) · Há uma produção contínua de glicose para manter o metabolismo celular, portanto, há 2 componentes da secreção de insulina: a secreção basal e a secreção prandial (bolus) · Moléculas de Insulina · As insulinas mimetizam a secreção num indivíduo normal · A depender do tempo de ação da insulina, ela age como basal, prandial ou bifásica · Basal: ação mais lenta; · NPH: ação intermediária, tem pico · Detemir: ação intermediária, tem pico · Glargina U100: ação longa, pico atenuado · Glargina U300: ação ultralonga, sem pico · Degludeca: ação ultralonga, sem pico · Prandial: ação mais rápida; · Humana Regular: ação curta, tem pico; semelhante à insulina humana · São insulinas ultrarrápidas, início < 15 min e pico de 2h: lispro, glulisina, asparte · Comparação dos Tratamentos · Convencional: NPH + regular em 2 picadas (manhã e noite) · Intensiva: 4 picadas de insulina (café, almoço,jantar e antes de dormir) + 3 picadas de NPH · Na terapia intensiva (ou de múltiplas doses), a insulina a ser administrada depende da glicemia capilar · O controle glicêmico dos pacientes que realizaram a terapia intensiva foi melhor, além de haver menos complicações · Para assumir a terapia intensiva, é necessário motivação, uso de tecnologias que dispensem a necessidade de furar o paciente para medir a glicemia · Metas Terapêuticas (não confundir com diagnótico) · Hemoglobina glicada: 6,5% (AACE) ou 7% (ADA) · Glicemia de jejum: < 110 mg/dL, tolerável até 130 mg/dL · Glicemia pré-prandial: < 110 mg/dL, tolerável até 130 mg/dL · Glicemia pós-prandial: < 160 mg/dL, tolerável até 180 mg/dL (pós-prandial: 2h depois de comer) · Cálculo da Necessidade de Insulina (DM1) · Imediatamente após diagnóstico (primodescompensação): 0,6 a 1,0 UI/kg/dia · Período de remissão parcial (“lua-de-mel”): 0,1 a 0,5 UI/kg/dia · Idade pré-puberal (diabetes pleno): 0,7 a 1,0 UI/kg/dia · Durante a puberdade: 1 a 2 UI/kg/dia · Adultos: 0,5 a 1,5 UI/kg/dia OBS: o período de remissão parcial ocorre quando o paciente começa a controlar a glicemia, ocorrendo liberação de estoque de insulina, fazendo com que ele passe uma fase de dose baixa de insulina com bom controle. Geralmente, dura 6 meses a 1 ano, e então volta à dose inicial ou aumenta. · Insulinoterapia · Basal: 40-50% do total · Bolus: 50-60% do total, levar em consideração a insulina basal + o que ele comeu (paciente conta carboidratos da refeição) · Hipoglicemiantes Orais · Ao diagnosticar DM2, a sequência é: [1] dieta + exercício; [2] drogas orais; [3] combinação de drogas (de mecanismos de ação diferentes); [4] insulina · Metformina: é da classe das biguanidas · Mecanismo ainda não totalmente explicado, mas acredita-se que atua no metabolismo mitocondrial via MAPK · Primeira escolha, apesar de efeitos colaterais no TGI (via carboidrato e alteração da microbiota intestinal), leve perda de peso e raramente, provoca hipoglicemia · Não tem ação no pâncreas, mas no intestino: ↑ turnover esplâncnico de glicose; fígado: ↓ débito hepático; músculo: ↓ resistência insulínica, ou seja, ↑ utilização periférica da glicose · Sulfonilureias: glibenclamida, glicazida, glimepirida · Ação no receptor SUR da célula beta, estimulando a secreção de insulina (“chicote do pâncreas”), ação 12-24h · Efeitos adversos: riscos de hipoglicemia, aumenta peso, acelera morte de células beta · Metiglinidas: nateglinida · Ação no receptor SUR da célula beta, mas ligação mais rápida (4-6h) · Não tem potencia de baixar a glicose, portanto, não é tanto utilizada · Inibidor da alfa-glicosidase: acarbose · Alfa-glicosidase é uma enzima que degrada carboidratos, ao não degradar os carb., não há absorção de glicose · Efeitos adversos: deixa carboidrato solto no intestino – ↑↑ gases – alta taxa de abandono, pouca resposta terapêutica, praticamente não é mais prescrito · Tiazolidinedionas (TZDs): pioglitazona · Atuam no link da “diabesidade” (met. lipídico c/ met. glicídico) via ativação do PPAR-gama · Melhora da sinalização insulínica pós-receptor; inibição da lipólise e ác. graxos livres circulantes; ↓ prod. hepática de glicose · Efeitos adversos: aumenta peso, retém líquido (aumenta risco de ICC, contraindicado p/ paciente que já tem) e ↑ risco de fraturas em mulheres pós-menopausa · Inibidores da DPP-IV: gliptinas; administração oral; inibem a enzima que degrada GLP-1 · Permite que o GLP-1 circule por mais tempo · ↑ secreção de insulina e ↓ secreção de glucagon · Em relação ao peso, é neutro (nem aumenta nem diminui); baixo risco de hipoglicemia, bem tolerados · Vantagem: pode ser usado em pacientes renais crônicos mediante ajuste de dose (nenhuma outra classe de drogas pode ser usada) · Inibidores do SGLT-2: glifozinas; administração oral; inibem cotransporte glicose/sódio tipo 2 no TCP · Provocam glicosúria sem consequência para o resto do néfron por ter ação pós-glomérulo, protege o rim por diminuir a hipertensão glomerular (que ocorre na hipervolemia) · Perda de peso, baixo risco de hipoglicemia · A glicosúria pode provocar infecção do trato genitourinário por fungo (cândida local) · Análogos do GLP-1: sufixo “tida”; análogo do hormônio proteico, portanto, administração intravenosa · Não sofrem degradação pela DPP-IV por não terem o sítio de ligação com a enzima (mais resistentes) · ↑ secreção de insulina e ↓ secreção de glucagon · Potentes em relação à perda de peso · Baixo risco de hipoglicemia, mas efeito colateral importante: náusea (sensação de empachamento, plenitude gástrica) · Insulinas: de “resgate”, para qualquer situação de emergência OBS: os incretínicos dependem da presença de alimento no TGI, por isso não dão hipoglicemia – “pílula inteligente”.